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ÂNIMA EDUCAÇÃO

PROJETO DE PESQUISA “ARQUITETURA HOSTIL:


TIPOS, FUNÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PROIBITIVAS”

Abril de 2023

Karoline Dantas de Freitas


Fichamento

Referência:
PETTY, James. The London Spikes Controversy: Homelessness, Urban Securitisation
and the Question of ‘Hostile Architecture’, Austrália, 2016.

O autor começa o texto falando sobre um tweet viral de 2014, que possuía a imagem
de espetos no chão na cidade de Londres, com a legenda chamando aquilo de “pregos
anti-moradores de rua”. Essa postagem recebeu vários compartilhamentos e a arquitetura
hostil foi debatida, ao ponto que uma semana após o ocorrido, aqueles espetos foram
retirados do local.
Adiante, são citados mais exemplos de instalações da chamada arquitetura hostil,
onde Petty fala também sobre câmeras de segurança em locais públicos e luzes ultravioleta
em banheiros, que servem para impedir que usuários de drogas injetáveis encontrem a veia no
braço para fazer a aplicação. No texto, essas intervenções são chamadas de controle social,
pois todas são feitas no intuito de exercer algum tipo de controle nos grupos frequentadores
desses espaços. Assim, existem diferenças entre as instalações de arquitetura hostil, e as
instalações de controle social no geral.
Vemos também como a capitalização da cidade e a privatização dos espaços públicos
geram essas reações de “proteção” contra os pobres. Visando categorizar os públicos que se
incomodaram com o tweet, o autor nos propõe uma análise sobre quem criou o movimento
online.

The Punitive Turn


Nessa parte, vemos como o entendimento social de meritocracia e indivíduo próprio
acabam criando distorções para se viver em comunidade. A partir do momento em que
culpamos uma pessoa em situação de rua por estar naquela posição, ignoramos todas as
problemáticas que estão em volta disso, como pobreza, educação e oportunidades. (citado na
página 70).

Poverty in the revanchist city


Aqui, lemos sobre o desejo da alta sociedade em se destacar da pobreza. Em um
espaço onde se encontram prédios e lojas luxuosas, consideram que moradores de rua não
cabem naquele espaço, o que leva os proprietários a tomarem iniciativas hostis que vão
expulsar aquela “estética" de pobreza no local.
Essa análise nos leva ao termo “cidade empreendedora”, que se trata justamente da
cidade que segue modelos neoliberais, e as pessoas passam a se cegarem dos reais problemas
existentes (desigualdade social, privação de oportunidades, insegurança pública) e resumem a
solução dos problemas em colocar aparelhos urbanos que hostilizam pessoas na cidade.
Outras questões levantadas é que, além de hostilizar a cidade para pessoas pobres,
também resumem seu uso ao uso comercial e capitalista, ao invés de resgatar a vivência
urbana e o aproveitamento do mundo social.

Urban and public space


Vindo do ponto de vista da sociedade neoliberal, nota-se o desejo da elite em se
destacar a criar a segregação entre eles e pessoas de classe social inferior. Esse desejo gera
uma segregação no espaço público, tendo em vista que, na tentativa de criar o sentimento de
exclusividade, espaços que antes eram públicos, acabam sendo privatizados e
comercializados.
Existe o desejo em tornar privado o que é de uso comum, para criar justamente a
idealização do que é “vip” e único.

Homelessness and rough sleeping


Aqui, Petty fala sobre pessoas em situação de rua que dormem na cidade. Apesar de
não serem a maior parcela de pessoas que não possuem casa, elas acabam ficando no grande
alvo daqueles que rejeitam a pobreza. Isso porque, muitas vezes, a violência e insegurança
nas cidades são associadas a eles.

Hostile architecture
Lemos sobre como o autor descreve a arquitetura hostil, que são instalações feitas em
espaços públicos e também nos limites dos espaços privados para os públicos.
No entanto, essas estruturas são apenas uma parte de todos os apetrechos utilizados
para controle social, sendo assim, existem coisas muito maiores como caminhos para
pedestres e acesso à ônibus. Dessa forma, entendemos como a arquitetura hostil consegue ir
além do que se vê de imediato em pequenas colocações.

A mediated controversy
Nesta seção, Petty comentou diretamente sobre o tweet usado como base para o
artigo. Ele destaca a posição do espectador dentro das normas sociais e a ambivalência
pública em relação à falta de moradia, sugerindo que a controvérsia dos pinos não deve ser
interpretada como uma resistência pública genuína aos regimes socioespaciais mais amplos,
mas sim como uma manifestação específica de repúdio à securitização urbana.

Urban aesthetics
Citando a fala do antigo prefeito de Londres, Petty destaca que o primeiro comentário
do político sobre os pinos instalados foi sobre a estética deles: feios, estúpidos e
autodestrutivos.
Essa fala chama atenção por um problema tão considerável ser resumido apenas a
uma mancha nas ruas londrinas, apenas um desconforto visual. Isso, segundo o autor, resume
o problema maior a coisas fúteis, como aparência, ao ponto que a própria situação dos
sem-teto é colocada como uma preocupação menor do que a beleza da cidade.

The spikes
Fazendo uma análise direta dos pinos da foto, o autor defende que ele pode ter
causado muito alvoroço justamente por deixar muito explícita sua intenção. Enquanto outras
instalações são mais discretas, os pinos servem única e exclusivamente para tornar aquele
espaço inabitável. Dessa forma, a própria população (não-alvo) cria consciência daquela
hostilidade e se sente ofendida por ela também.
A instalação acaba criando um tipo de paradoxo, já que afasta os sem teto do local, ao
mesmo tempo que está sempre lembrando os frequentadores desses espaços de que pessoas
em situações vulneráveis existem.

Social‐physical space
Aqui se discute a relação entre espaço e identidade, utilizando os espinhos de Londres
como exemplo de "arquitetura hostil". O autor destaca a importância simbólica desses
espinhos ao desafiar o significado do espaço público e ressalta a necessidade de incluir os
desabrigados de forma legítima em nossa compreensão da cidade e do público.
Petty destaca que o espaço não está separado da identidade, mas está intrinsecamente
ligado a ela. O autor analisa os espinhos instalados em Londres como exemplo de
"arquitetura hostil" que visava afastar os desabrigados, e destaca a importância simbólica
desses espinhos ao desafiar o significado do espaço público. Ele ressalta a necessidade de
considerar outras dimensões sociais, culturais e políticas, além de destacar a importância de
incluir os desabrigados legitimamente em nossa compreensão da cidade e do público.

Conclusão
No fim, o autor conclui que muito além de os pregos serem uma instalação hostil, eles
refletem uma sociedade em ruptura que já está cheia de falhas e tenta se corrigir em pequena
escala, ignorando o contexto maior. Enquanto a rejeição pública e eles, vem de uma culpa
social que existe quando paramos para questionar quem está sendo prejudicado por aquilo.

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