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PUC-RIO

Estudos Sócio-antropológicos – SOC1139 Turma 28A Arquitetura/Direito

G1 – Trabalho em Dupla Nomes: Isabela Barreto e Thallia Souza

A categoria “cidade”, pela sua complexidade, pode ser analisada por diversos enfoques sócio-
antropológicos. Destaque e comente pelo menos duas abordagens discutidas pela bibliografia
utilizada no curso.

No texto “O Direito à Cidade” de David Harvey, a cidade é retratada como um organismo, ou


seja, ela funciona baseada no coletivo. Ela é associada pelo autor a um aspecto do direito
humano, pois nela são consideradas as relações sociais, estilos de vida, valores étnicos, estéticos
e culturais, ou seja, tudo que envolve o humano em relação a viver em sociedade. O texto dá a
impressão de que a urbanização se perdeu com o tempo e que a cidade, que deveria ser um
órgão coletivo, deu lugar ao egoísmo a medida que o capitalismo se estabelece, mas como em
todo sistema há falhas, as crises tornam-se constantes em determinada fase, por isso, é
necessário uma renovação. Tomando essas crises como fonte de esperança a um novo sistema
operacional e político, onde a cidade possa ser realmente a urbe que o significado expressa “um
aglomerado”.

No texto de Adriana Facina, a cidade contemporânea é fruto de uma individualização das


pessoas. Essa cidade reflete as diversas personalidades dos seus habitantes. Nessas cidades há
uma grande heterogeneidade dos indivíduos, porque a cidade permite que as pessoas tenham a
liberdade de serem o que quiserem e há uma intelectualidade e racionalidade de forma a
preservar a vida subjetiva, intensificando o anonimato e a privacidade. O Estado é laico e
permite a liberdade, em todos os âmbitos, do indivíduo. Em Durkheim, por outro lado, na
divisão social do trabalho, há uma organização social contraditória, pois com a sociedade
religiosa não há espaço para o indivíduo, há um controle de suas ações, ele não possui liberdade,
o Estado Religioso o priva de suas ações. Isso acaba quando há um aumento no número de
indivíduos, o que permite uma complexidade da sociedade, formando a cidade contemporânea.
Para David Harvey, “o compasso e a escala, surpreendentes, de urbanização dos últimos cem
anos contribuíram para o bem-estar humano”? Por quê?

Seletivamente sim, para poucos. Mas, como o próprio autor explicou em seu texto que cidade
é um coletivo, considera-se que não, pois a grande massa não está sendo contemplada com os
benefícios da urbanização. Harvey lista os diversos tipos de direitos que existem, como os
direitos humanos, os direitos políticos, entre outros, porém sinaliza que todos esses outros estão
sendo sobrepostos pelos direitos de propriedade privada e taxa de lucro que vem a ser,
justamente, ao contrário dos ideais de direito à cidade. O autor reforça em todo o artigo que a
cidade é coletiva, devido ao fato de a mesma surgir da concentração social e geográfica do
produto excedente e ser o morar de centenas/milhares de pessoas, portanto, não se faz
urbanização ou alguma mudança sozinha, é necessário o poder coletivo agir. Com esse
pensamento, David Harvey caracteriza a urbanização como um fenômeno de classe onde seu
excedente encontra-se por responsabilidade a grande massa e seu controle em poucas mãos, o
que gera a má distribuição, fatores esses que compõem o capitalismo e consequentemente gera
a mais-valia. Ou seja, todo o processo de urbanização tornou-se uma incansável busca pelo
lucro, a cidade, agora, é resumida no poder aquisitivo dos indivíduos e, consequentemente, a
qualidade de vida torna-se uma oportunidade lucrativa, em outras palavras, uma mercadoria.
Tendo em vista a desvalorização do bem-estar humano e a grande questão de que se pode tudo,
desde que você possua dinheiro. A partir disso, fica visível que as massas não possuem direito
à cidade, o autor cita “Progressivamente, vemos o direito à cidade cair em mãos privadas”, o
qual só reforça que o privado sobrepõe o público, tendo até citado exemplos de desapropriação
de lugares onde se concentra os mais desvalorizados. Em suma, fica claro que a urbanização
gera benefícios, porém, são voltados a um bem-estar seletivo e que as crises do sistema são
geradas pela mesma, não tendo contribuído para o direito humano e sim, financeiro.

Antônio Miguel Lopes de Souza, em seu texto, “Para os estudos e práticas urbanas: um olhar
sobre Max Weber”, ao explicar o tipo ideal descrito por Weber a respeito da cidade medieval,
pergunta ao leitor, na página 10, se é plausível aplicar a máscara da dominação não-legítima
sobre a realidade contemporânea, especialmente sobre o ambiente urbano contemporâneo.
Desenvolva.

Na dominação não-legitima, pode-se dizer que há uma auto-organização no que se diz respeito
aos três tipos de dominação legítima. Para Weber, existe um tipo ideal, que é um instrumento
de medida para se compreender as cidades. Para ele, este tipo ideal são as cidades medievais
ocidentais. Para se ter uma compreensão da relação entre este tipo ideal e a cidade
contemporânea deve-se compará-las, de forma a expor as semelhanças do que é semelhante e
as diferenças do que é diferente. Dentro desta perspectiva, percebe-se que as semelhanças entre
estas cidades são justamente os que as caracterizam como cidades, ou seja, o que fazem delas
cidades, que seria a existência de um mercado, sua autonomia e poder jurídico e as atividades
de defesa dos indivíduos que a coabitam. A principal diferença entre elas é o comportamento
dos indivíduos na cidade e seus direitos. Com a modernidade e o aumento da complexidade da
cidade isso reflete nela mesma e na sociedade. É aí que observamos o desaparecimento do
pluralismo nas sociedades onde o Estado surge, diferente das cidades medievais e a figura do
Rei. Teoricamente, as cidades contemporâneas poderiam ter a máscara da dominação não-
legítima, já que a cidade medieval é apenas o tipo ideal da dominação legítima, e não o único
tipo, mas existe a institucionalização do Estado na contemporaneidade que pode significar
justamente a falta de legitimidade.

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