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Sergio Abrahão O Espaço Público Urbano como Espaço Público Político

O ESPAÇO PÚBLICO URBANO COMO


ESPAÇO PÚBLICO POLÍTICO

Sergio Abrahão1

A questão central desse trabalho é debater, no âmbito do urbanismo, o processo que nas últimas
décadas, conferiu aos espaços públicos urbanos o significado de espaço cultural e político.

Sustento aqui, que tal processo iniciou-se nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna-
CIAM do pós-guerra, notadamente no 8º encontro, realizado em 1951, na cidade de
Hoddesdon/Inglaterra.

Com o tema The Heart of the City (Coração da Cidade), o 8º encontro teve como seus principais
idealizadores o arquiteto catalão José Luis Sert e o historiador tcheco Siegfried Giedion, duas das
figuras mais importantes da história do CIAM.

Sert e Giedion buscavam lançar novas bases para que a arquitetura moderna, apoiada nas
experiências da tradição clássica e no interesse em reconstruir a urbanidade nas cidades do
século XX, pudesse recentralizar as cidades e resgatar através da possibilidade do encontro e da
troca de idéias nesses centros, um tipo de vida cívica e social coletiva que, a seu ver, estava se
perdendo com a suburbanização crescente das cidades norte-americanas e a invasão progressiva
dos automóveis nos locais de convivência, sobretudo nas cidades européias.

Propunham, portanto, a construção de novos centros urbanos de uso comum, destinados


exclusivamente aos pedestres, definidos por boa e unificada arquitetura e dinamizados através de
filmes, alto-falantes, telas de televisão, além de obras de arte com o propósito de fazer ressurgir
formas ideais de sociabilidade e civilidade democráticas.

De fato, com o texto The Human Scale in the City Planning, escrito em 1943 e publicado em 1947
no livro New Architecture and City Planning organizado por Paul Zucker, José Luís Sert já se
ocupava em demonstrar que a vitória da democracia na 2ª Grande Guerra e a recorrente
instauração de um modo de vida democrático, pressupunha um planejamento voltado
exclusivamente para os cidadãos e para as comunidades, cujo resultado seria a humanização das
velhas e novas cidades e, consequentemente, a relativização do processo de suburbanização.

1
Secretaria Municipal da Cultura SMC/ PMSP.
e-mail: mbaffi@webcable.com.br

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Para Sert, os Corações de Cidade deveriam funcionar como os lugares de definição da ‘urbe’ e da
‘polis’, nos moldes como foram a Ágora para as cidades da Grécia Clássica e o Fórum Romano
para as cidades da República Romana. Lembramos aqui, que a polis representava a
materialização espacial da política dos homens livres. Nesta perspectiva Sert afirmava que, dentro
de uma estrutura política, social e econômica de natureza democrática os Corações serviriam
para consolidar esse governo democrático, e que contrariamente, a ausência desses centros, com
o fato recorrente de que os cidadãos iriam depender de fontes de informação controladas (mídia),
os fariam mais facilmente governáveis pela vontade de poucos.

A intenção de Sert e Giedion em recentralizar as cidades e, com isso, obter cidades físicas e
socialmente orgânicas e politicamente democráticas, como representavam na opinião de Oriol
Bohigas, as cidades projetadas por Sert para a América Latina (Brasil, Peru, Colômbia, dentre
outras), esboçava também um precedente crítico à morte da rua corredor e do surgimento dos
espaços comuns sem limites previstos anos antes por Le Corbusier na planta de sua Cité
Contemporaine de 1922, em que os grandes quarteirões dos Immeubles-Villas se interligavam por
passarelas que formavam uma rede contínua de ruas no ar, permitindo que seus habitantes
passassem de um edifício a outro sem descer ao térreo; em seu artigo de 29 de maio de 1929,
para o jornal L’Intransigeant; ratificado na forma de palestra em sua 9ª. Conferência proferida na
cidade de Buenos Aires em 18 de outubro de 1929 e em sua Ville Radieuse, apresentada no IV
CIAM, em 1930.

Com Ville Radieuse, Le Corbusier jogou uma pá de cal no modelo urbano centralizado em favor
de um conceito teoricamente iimitado de cidade (Frampton, 1997, p. 217), composto de prédios de
15 a 20 andares de alta densidade elevadas sob pilotis possibilitando liberar toda a superfície do
terreno num parque continuo, livre para o pedestre circular a vontade, hierarquizou um sistema de
vias (escavadas ou elevadas), de modo a assegurar, graças ao automóvel, a inter-relação entre
as megaestruturas e a ligação dessas com o território..

Em sua leitura sobre a Ville Radieuse, Françoise Choay (1996, pg.14) observou que Le Corbusier
havia reduzido a vida urbana a quatro tipos de atividades: o habitar, o trabalhar, o circular e o
lazer, que reunidas na Carta de Atenas passaram a ser norteadoras tanto do planejamento de
novas cidades quanto da readequação das cidades existentes.

A Carta de Atenas condenou de forma definitiva a rua corredor da cidade tradicional, separou de
forma radical os pedestres dos carros e liberou a superfície dos terrenos para uma área verde
ilimitada.

A preocupação presente em Sert e Giedion em estabelecer um espaço físico comum, em que


direito ao domínio público do pedestre estivesse garantido, possibilitando dessa forma resgatar a

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relação entre indivíduo e coletividade, se desdobrou, alguns anos mais tarde na destinação de
muitas vias das áreas centrais de cidades norte-americanas, seguidas de européias e brasileiras,
ao uso exclusivo dos pedestres e nas propostas teóricas e concretas do grupo Team X,
constituído por integrantes oriundos do interior do próprio CIAM, que no início dos anos 50 se
rebelaram com as definições e métodos de trabalho ditados pelo CIAM.

Dentre os pioneiros a propor a pedestrianização de áreas centrais, se destaca o arquiteto


austríaco, com forte atuação em Los Angeles, Victor Gruen que em 1955 elaborou um plano sem
automóveis para o centro Fort Worth, voltado unicamente para a coletividade social. Em linhas
gerais, o plano de Fort Worth consistiu em isolar 2,5 quilômetros quadrados de sua área, por uma
via perimetral. Essa área, por sua vez foi subdividida em áreas para 6 garagens com capacidade
para 10 mil carros e o restante em área exclusiva para uso dos pedestres. Um sistema de túneis
subterrâneos para táxis e caminhões procurava dar conta do atendimento dos serviços da
superfície de uso comercial, residencial, institucional e de serviços.

As propostas do Grupo Team X, liderado inicialmente por Peter e Alison Smithson, Jacob
Bakema, Georges Candilis, Aldo Van Eyck, Shadrach Woods, John Voelcker e William e Jill
Howell, pressupunham a cidade como um espaço onde se manifestavam as diversas
possibilidades de associação das comunidades com seus locais e entre as pessoas pertencentes
a essas comunidades e não simplesmente um objeto constituído de elementos funcionais, nos
moldes ditados pela Carta de Atenas. Nesta perspectiva, aquele grupo se propôs a investigar os
princípios estruturais do desenvolvimento urbano e as unidades significativas acima da célula
familiar, através da observação do comportamento, das atividades e vínculos estabelecidos com
os espaços existentes e as maneiras de engendrar a identidade e apropriar de determinados
lugares. Enfim, buscavam encontrar uma relação precisa, entre forma física e as necessidades
sócio-psicológicas a serem atendidas em qualquer espaço de concentração de pessoas.

Daí a importância que os arquitetos integrantes do Team X passaram a dar aos espaços comuns
surgidos a partir do sentimento de pertencimento do morador com sua casa, com sua rua, com
seu bairro, com sua cidade, para a formação da identidade e das associações que se
estabelecem a partir dessa formação. Os valores humanos dos arquitetos do Team X não se
traduziam, segundo verificou Ana Barone (2002, pg 61) em atributos e necessidades genéricas
para um tipo universal, mas constituíam-se historicamente em função de características locais e
culturais.

As primeiras tentativas de espacializar as idéias veiculadas pelo Team X ocorreu antes mesmo do
grupo ser constituído oficialmente, através do projeto Golden Lane Housing (1951-1952), de Peter
e Alison Smithson. Segundo Keneth Frampton (1997, pg 330) foi a partir das experiências do
fotografo Nigel Henderson em registrar a vida nas ruas de Londres e da influência do

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existencialismo parisiense que dominava aquela cidade naquele período que os Smithsons
extraíram suas primeiras noções de identidade e associação. Munford (2002 pg.235)
acrescentaria também a influência da antropologia, através da antropóloga Judith Stephen, com
quem os Smithson mantinham calorosas discussões.

O Golden Lane Housing era um projeto de cidade de múltiplos níveis: grandes blocos interligados
por ruas aéreas, uma sobre as outras, com o propósito de serem mais do que simples acesso,
mas o lugar do encontro, da reunião, o lugar em que se estabelecesse um novo padrão de
associação para a comunidade de habitantes do conjunto, uma verdadeira entidade social. Sobre
elas diziam Alison. e Peter. Smithson (1975, pg.04):

A rua suspensa, cada uma com suas características próprias, é uma entidade social (...) são
lugares, não corredores ou varandas. Nessas passagens se pode encontrar pequenas lojas,
cabines telefônicas, caixas de correios (...). Viver verticalizadamente se tornou uma
realidade (...) Está claro que a rua suspensa já estava presente em Corbusier, mas a
contribuição que traz Golden Lane é de se considerar essa rua no lugar da rede de ruas no
solo e oferecer novas possibilidades de caminhada.2

Sem dúvida, um novo modo de reconfigurar a cidade e sua vida social, através de lugares comuns
apartados do solo.

Durante o X CIAM ocorrido em Dubrovinik em 1956, o Team X, que num encontro preparatório na
localidade de Doorn (1954), já havia demonstrado sua rejeição à Carta de Atenas e o papel da rua
e de seus usuários como os principais estruturadores do espaço urbano, reivindicou a
continuidade do habitat através de vínculos a serem estabelecidos entre o viver tradicional e
futuro, manifestando desta forma sua vontade em estudar os problemas numa escala micro, ou
seja, ao nível da ligação entre a casa e a rua, o que significou colocar em pauta a cidade existente
e suas possibilidades de associações.

A partir dos anos 60, as questões apontadas pelo Team X, se desdobraram sobretudo, entre
aqueles que se contrapunham aos princípios funcionalistas. As ruas e as praças das cidades
historicamente produzidas passam a ser um dos principais elementos de contraposição a aqueles
princípios. Para os propósitos desse trabalho vamos destacar a teoria urbana de Aldo Rossi,
publicada em 1966 com o título de A arquitetura da cidade, o trabalho de Jane Jacobs publicado
sob o título de Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas, em 1961 e um artigo escrito por
Henri Lefebvre em 1967, para a revista L’Architecture D’Aujourd’Hui, intitulado Propositions.

2
A citação a Le Corbusier refere-se às “quadras residenciais” que ele havia projetado em 1920 e no projeto para Paris de 1937, as
quais segundo Munford (2002, pg.235) apresentavam-se menos orgânicas e mais geométricas do que a proposta pelos Smithsons.

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A relevância do trabalho de Aldo Rossi deve-se, dentre outros, pelo fato de declaradamente ter
transposto da sociologia a concepção de esfera pública e esfera privada para o interior de sua
teoria urbana em que enfatizava a cidade tradicional, marcadamente européia, com suas ruas,
praças monumento e demais lugares construídos para e pela coletividade ao longo do tempo,
simultaneamente produtos da condição humana e dos elementos determinantes da estrutura
morfológica das cidades. Em Rossi a rua é uma das representações direta da esfera pública e
uma das catalizadoras do processo de urbanização das cidades. Nesse seu trabalho Rossi
atribuiu, também, grande importância ao valor dos monumentos e, recorrentemente, ao valor da
fundação da cidade, da transmissão das idéias na realidade urbana e ao significado desse valor
na dinâmica urbana. As referências modelares adotadas por Rossi para a compreensão do
significado de tais valores foram as cidades antigas de Roma e Atenas.

Para Rossi a cidade era identificada na forma e no espaço, como uma grande obra, como uma
arquitetura, nascida de numerosos e diversos momentos de formação. Nesta perspectiva, dizia
ser possível apreende-la apenas através de seus trechos, de seus diversos momentos,
fundamentando, assim, seu foco na relação binária entre a tipologia edificatória e a morfologia
urbana e fundamentava sua repulsa à classificação das cidades por função, visto que, a seu ver,
ela impedia que se estudassem as formas e se conhecesse o mundo da arquitetura segundo suas
verdadeiras leis.

Em seu trabalho Aldo Rossi atribuiu grande importância ao trabalho do arquiteto austríaco do final
do século XIX, Camillo Sitte, pelo seu empenho em procurar na construção da cidade leis que
prescindissem de meros fatos técnicos e que nos possibilitassem ver plenamente a beleza do
esquema urbano, ainda que ressaltasse não concordar com ele em sua apresentação da cidade
como obra de arte redutível a um episódio artístico e não à sua experiência concreta.

De fato, em seus estudos Sitte se propôs a analisar, sob o ponto de vista puramente técnico e
artístico, as cidades antigas (conjuntos urbanos e disposição dos monumentos da Renascença e
do Barroco) e entender o motivo de suas composições, de modo a encontrar, empiricamente, uma
saída para os sistemas modernos de blocos de edifícios e bloquear a tendência de aniquilamento
das belas cidades antigas. Para ele, o aniquilamento das cidades antigas estava refletido na perda
do sentido original das praças fechadas e de sua necessidade em expressar beleza. Como pano
de fundo Sitte apontava a interiorização da vida nas cidades modernas e a tendência das
metrópoles em adquirir dimensões gigantescas, como responsáveis em promover o rompimento
de todos os limites das antigas formas artísticas.

Sitte não poupou criticas às cidades modernas, por acreditar terem invertido a relação, até então
existentes, entre espaços vazios e construídos, ao isolar os edifícios e distribuí-los de modo
regular no solo e, simplesmente transformar os espaços residuais resultantes dessa implantação

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em ruas retilíneas e praças desproporcionais capazes de, a seu ver, de despertar uma doença
nervosa diagnosticada naqueles tempos: a agorafobia (Sitte, 1992, pg. 61). Nesta perspectiva,
interessante observar que em Sitte que as praças das cidades européias tradicionais reforçavam o
efeito coeso do conjunto urbano, despertavam pelo seu fechamento e ornamentação o espírito
cívico dos cidadãos e possibilitavam o crescimento de sentimentos grandes e nobres.

Com “Vida e Morte das Grandes Cidades Americanas” Jane Jacobs atribuiu à rua, o lugar da vida
pública informal, o papel de catalisadora da diversidade de usos e, neste sentido, como um dos
principais elementos de contraposição ao planejamento urbano moderno.

A tese central de Jacobs (2000, pg.13) era a existência de um princípio onipresente comum a
todas as cidades reais que se catalisado e nutrido pela ciência do planejamento urbano e pelo
pela arte do desenho urbano, possibilitaria que se tornassem e se mantivessem sempre vivas.
Esse princípio foi por ela definido como as relações funcionais, de sustentação mútua e constante
tanto em termos econômicos quanto sociais, que se estabelecem na cidade a partir da sua
diversidade de usos.

Com efeito, em Jane Jacobs, a rua assume o status de uma das principais protagonistas no
desenvolvimento (positivo) da cidade, pelo seu papel de articuladora de uma rede de usos
combinados e complexos, responsável por manter a diversidade e a vitalidade urbana, assim
como e, por isso mesmo, assume nas argumentações da autora, a condição de um dos principais
elementos contra a fragmentação e a segregação sócio-espacial resultantes, a seu ver, do
planejamento urbano e da reurbanização modernos então praticados nas cidades norte-
americanas.

Para Jane Jacobs o planejamento e a reurbanização modernos eram, mesmo que não
intencionalmente, indutores de fatores negativos para o crescimento da diversidade e da vitalidade
das cidades, ao promoverem a constante alteração e deslocamento dos centros urbanos, a
flutuação populacional, a aplicação de uma grande quantidade de recursos financeiros, públicos e
privados, que acabam por superalimentar e subalimentar o desenvolvimento e a mudança, além
de promoverem o incremento de elementos isolados em seu território.

Segundo Jacobs, os fundamentos desse planejamento urbano e reurbanização modernos tinha


suas raízes no movimento City Beautiful do final do século XIX, cuja meta era a Cidade
Monumental e nos planejadores regionais ou descentralizadores representados por Patrick
Geddes, Lewis Munford, Clarence Stein, Henry Wright e Catherine Bauer. Tanto um quanto o
outro eram, a seu ver, inspirados no City Garden de Ebenezer Howard.

Para ela, os planejadores regionais ou descentralizadores haviam difundido a idéia da rua,


enquanto lugar indesejável para os seres humanos e, sob tal pretexto haviam mudado a unidade

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básica do traçado urbano, que da rua passou a ser a quadra e a super quadra, separado o
comércio das residências e das áreas verdes e martelado na tecla do desprezo às cidades
antigas, para intensificar a necessidade de uma nova ordem. Jacobs tinha para si que os
resultados práticos da aplicação de tais pressupostos foram absolutamente desastrosos em
termos da vitalidade socioeconômica das cidades: grandes conjuntos habitacionais inóspitos,
centros cívicos evitados por todos, passeios públicos que vão do nada a lugar nenhum, centros
comerciais fracassados, vias expressas que recortaram a cidade toda.

Seis anos após Jane Jacobs ter publicado seu livro nos Estados Unidos, Henri Lefebvre, ainda no
primeiro ano de sua permanência de sete anos em Nanterre, quando então dirigia uma equipe de
sociólogos urbanos que investigavam os grandes conjuntos habitacionais, publicou o artigo
Propositions, para a Revista L’Architecture D’Aujourd’Hui. Seu propósito foi o de evidenciar
sociologicamente e filosoficamente o significado dessa enorme experiência de escala mundial, a
seu ver, absolutamente negativa, que eram os grandes conjuntos habitacionais urbanos.

Neste artigo destacou a importância das ruas das cidades historicamente construídas, não só pela
integralidade de suas funções, mas, sobretudo pelo seu caráter transfuncional, isto é, estético e
simbólico

Com efeito, em seu texto Lefebvre também destacou a subtração da rua nos conjuntos
habitacionais modernos, como um dos principais fatores que resultou na perda de sociabilidade
humana e na ausência de vida social espontânea e orgânica, nos grandes conjuntos habitacionais
urbanos. A seu ver, o urbanismo devia reconhecer a rua não só pela integralidade de suas
funções, mas, sobretudo pelo seu caráter transfuncional, isto é, estético e simbólico.

Segundo Lefebvre, nos conjuntos modernos privilegiaram-se as ruas, enquanto via de passagem,
dissimulando seu valor social, de teatro espontâneo, de terreno das atividades sem regras
precisas, de lugar de encontros e solicitações múltiplas, materiais, culturais, espirituais, lugar do
convívio e da sociabilidade. Em sua opinião, aquilo que certos sociólogos chamavam de campo
semântico, composto tanto de símbolos quanto de signos diversos e de sinais, devia ser recriado
de modo consciente pois, a seu ver, nos grandes conjuntos de inspiração funcionalista o campo
semântico, considerado como um conjunto de significações, se reduziu a sinais indutores de
condicionamentos e de comportamentos, deteriorando, negligenciando e até mesmo destruindo o
elemento lúdico (a surpresa, o imprevisto, a informação) inerente à vida social espontânea.

Embora não atrelado especificamente ao campo do urbanismo, mas sim ao da psicologia social,
não há como deixar de citar o trabalho de Richard Sennet, O Declínio do Homem Publico,
publicado em meados dos anos 70. Nesta obra Sennet procurou demonstrar que, a partir do
século XIX, teve inicio um progressivo estreitamento da esfera pública, com conseqüências para a

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vida pública e para as cidades, motivada pelo alargamento e interiorização da vida privada,
desfigurada como intimidade narcisista (Otilia, 1995, pg.114).

A análise de Sennet articulou, para Devillard e Jannière, a formação do espaço público à


manifestação da vida pública, estigmatizou através de dois exemplos (Lever House e La Defense)
a arquitetura dita de estilo internacional e, também, o urbanismo viário que, desde os anos 60, se
tornaram reveladores do desaparecimento do espaço público tradicional a favor de ‘um espaço
público derivado do movimento’ (Devillard e Jannière, 1997, pg 20). Segundo essas autoras, em
Sennet o espaço público estava reduzido a uma função, a da mobilidade ligada aos transportes; a
rua passou a se constituir num lugar de passagem obrigatória entre os transportes e suporte para
domicílios ou escritórios, perdendo toda sua significação social.

Seus argumentos apoiavam-se na desaparição de uma geografia e de uma expressão pública


especifica, que observou terem acontecido em 1840 e em 1890. Neste sentido, Sennet recorreu a
uma teoria de expressão em público que segundo Adrián (2001, pg 61), era nutrida pelo vínculo
analógico entre teatro e vida pública nas grandes urbes.

Ao referir-se às análises de Sennet, Otilia Arantes ressaltou o vínculo que ele estabeleceu entre a
idolatria intimista da comunidade e a degradação simultânea da arquitetura urbana e da vida em
público: a luta contra a impessoalidade moderna se voltava contra a metrópole, buscando na
vizinhança dos corações transparentes um contato imediato, protegido do conflito político público,
pela nova construção. Segundo Otilia Arantes (1995, pg 118), Sennet não escondia sua confiança
no re-nascimento do homem público e, consequentemente na transformação da cidade moderna,
que voltaria a ser um lugar da vida social ativa, um lugar que se pudesse revelar e reviver todas
as possibilidades humanas: enfim, a mesma fé que guiou Arendt.

No Brasil observamos que a tentativa de se restabelecer relações orgânicas entre o homem e


seus centros simbólicos ou como defendia Jaime Lerner, com sua comunidade, através da
qualificação de suas ruas e praças deu-se , a partir dos anos 60, durante a ditadura militar,
através dos debates e programas públicos que conduziram, nos anos 70, à pedestrianização das
áreas centrais, com vistas a bloquear sua deterioração Neste aspecto, as ruas de pedestres
tornaram-se, nos discursos oficiais, elementos decisivos para a humanização das cidades e, nesta
direção, foram qualificadas como lugares de recreação, de pontos de encontro, de resgate dos
valores tradicionais e de retomada da escala humana das cidades.

Bem mais modesto que o plano para Fort Worth, em 1978, a Empresa Municipal de Urbanização
de São Paulo-EMURB, entrega 60 mil m² de ruas de sua área central para o domínio total de seus
pedestres. Essa intervenção foi oficialmente divulgada como uma ação, cujo objetivo era o de

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tornar a cidade mais humana, através da recuperação, valorização e enriquecimento dos locais
públicos, edifícios e a própria paisagem da cidade.

Foi, porém, através do olhar antropológico do arquiteto-urbanista Carlos Nelson Ferreira dos
Santos, cuja trajetória profissional esteve compreendida no período mais negro da ditadura militar
até aos primeiros anos de abertura democrática, que se evidenciou no Brasil uma grande
preocupação em constituir e espacializar arquitetonicamente, um espaço publico político e em
apontar a plausibilidade das ruas dos bairros tradicionais da cidade do Rio de Janeiro em ser essa
caixa de ressonância desde que preservadas dos princípios que norteavam o planejamento
racionalista progressista. Em Carlos Nelson a existência do lugar comum urbano é determinante
para que o homem político (ator) pudesse se manifestar e estabelecer relações com a
comunidade, ressignificando-o como lugar político.

De fato, nele estão presentes as preocupações de Giedion com a apropriação dos espaços
comuns urbanos pelo automóvel, as preocupações de Sert, do Team X e de Lefebvre relativas à
construção, através do lugar comum urbano, de uma estrutura social orgânica e espontânea, a
defesa da cidade produzida historicamente evidenciada em Rossi e as várias questões trazidas
por Jane Jacobs em sua defesa da rua enquanto lugar ideal para uma vida pública informal capaz
de se interpor entre as associações públicas formais (o Estado) e a privacidade da população
urbana (o espaço privado) e como o elemento urbano chave para a articulação da diversidade
social e de usos. Em comum a todos: claras preocupações de caráter humanista.

O interesse de Carlos Nelson na construção de espaços públicos políticos nas camadas mais
carentes estava na possibilidade de, através desses espaços de conscientização e reivindicação
de direitos, resgatar a cidadania e modelar novos valores que contribuísse para criar nova relação
do homem com seu espaço, bloqueando assim o processo de privatização dos espaços comuns
das cidades. Neste aspecto, Carlos Nelson tinha como exemplo modelar a polis grega, para ele o
modelo ideal de relações sociais, com suas assembléias representativas e equalizadoras.

Carlos Nelson entendeu a dificuldade de se instalar no Brasil um espaço público político,


sobretudo entre os mais pobres, como uma questão cultural modelada ao longo dos anos por
imposições política (autoritarismo) e econômica (modelo capitalista de desenvolvimento) - mesmo
argumento adotado por Chauí, alguns anos mais tarde – e respaldadas, no âmbito do urbano, pela
adoção dos princípios racionalistas progressistas ou culturalistas como meios de produzir bairros
e moradias segregadas sócio-espacialmente no território e pela não assistência a uma grande
parcela população que, abandonada pelo Estado, se apropriou de morros e áreas periféricas, para
resolver seus problemas de moradia. Para ele, essa era a questão central pelo desinteresse que
suas propostas de construção de espaços de reuniões coletivas provocaram entre as populações
mais pobres com quem trabalhou.

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Não obstante, foi no Bairro do Catumbi, que Carlos Nelson, com a participação de seu amigo do
IBAM Arno Vogel, parece ter encontrado a perfeita correspondência entre o espaço público
político e o lugar comum urbano marcado, a seu ver, pela total simbiose entre o espaço construído
e espaço social (a idéia da identidade pelo sentimento de pertencimento, de inclusão). Como ele
demonstrou, no Catumbi as regras de uso dos espaços comuns, em especial as ruas, estavam
permanentemente em construção e ao fazê-lo, a sociedade estava também construindo um
conjunto de relações sociais úteis a seus interpretes. Cabe ressaltar aqui, que em Carlos Nelson,
o Estado só intervinha nas regras de uso, quando acionado pela comunidade.

Com efeito, Carlos Nelson interpretou as ruas do Catumbi como lugares fundamentais de
elaboração da cidadania e da civilidade, espaços políticos, bases da vida ativa pública e social
(discurso e ação), aqui numa expressa referência a Hannah Arendt. Em sentido contrário,
apontava o surgimento de conjuntos habitacionais como o Selva de Pedra que enfatizavam o
indivíduo, sua privacidade e sua autonomia e que alguns anos depois evoluiria para os
condomínios exclusivos, com seus espaços comuns totalmente privatizados e suas regras e
práticas reificadas nos regulamentos, sem a mediação das comunidades nas ruas.

No mesmo período em que Carlos Nelson se ocupava no Brasil com o sentido das ruas e praças
num horizonte democrático e, neste sentido, já apontava para os perigos que representava, para a
vida pública de nossa sociedade, a privatização de áreas urbanas, observamos também que
aparecia no seio das sociedades democráticas dos países centrais, uma série de investigações
voltadas para o sentido daqueles elementos urbanos- que passaram a ser genericamente
identificados como espaços públicos (urbanos)- frente aos dilemas sociais e à crise de valores,
decorrentes da consolidação de uma reestruturação econômica de perfil neoliberal, articulada em
seus principais países, a partir dos anos 70.

No Brasil, essas questões tornaram-se objeto de preocupação e debates crescentes, a partir dos
anos 90, ainda que, conforme constatou Marilena Chauí, nossa sociedade sequer tivesse chegado
aos princípios liberais de igualdade formal e das liberdades, e muito menos aos ideais socialistas
de igualdade social e econômica e de liberdade política e de pensamento.

Observamos que a maioria dos trabalhos publicados por urbanistas com tais preocupações, o
debate se dá em torno da tese de um progressivo processo de esvaziamento da vida pública nos
espaços públicos urbanos tradicionais. Como exemplo, autores como Gilles Lipovetsky, os
integrantes do New Urbanism, James Holston e Michael Sorkin que propunham o resgate do pólo
público de nossas cidades, a partir do resgate das ruas e praças das cidades tradicionais,
destruídas pela ação do urbanismo moderno e autores como Rosalyn Deutsche, Sharon Zuckin,
Diane Ghirardo que, numa postura mais analítica que propositiva, se ocuparam em avaliar os
modos e as conseqüências da apropriação dos espaços públicos urbanos por interesses privados.

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Lipovetsky, Sorkin, os seguidores do New Urbanism e Holston defendiam o resgate da


sociabilidade e, consequentemente, do espaço público político, através da reconstituição das ruas,
praças das cidades tradicionais, relevando, neste sentido, o papel limitado da arquitetura em criar
o domínio público. No caso de Lipovetsky, Sorkin e dos seguidores do New Urbanism ao tentarem
conectar o espaço público urbano à vida pública ativa, propunham claramente a criação de novas
cidades espelhadas nos centros das cidades, nas praças públicas e nas ruas comerciais
tradicionais de cidades democráticas, o que nos parece ser ressonâncias dos princípios
recentralizadores presentes nos Corações de Cidades de Sert e Giedion.

Ainda com relação a esses autores, observamos finalmente que, ao idealizarem o tradicional
espaço urbano como um espaço essencial às políticas democráticas, evitaram a reconstituição da
produção histórica desse espaço e a possibilidade de sua transformação e passaram a considerar
o afastamento aos arranjos espaciais estabelecidos, em favor dos subúrbios, shopping centers,
meios de comunicação de massa e espaço eletrônico, um sinal do fim do espaço público.
Lembremos que as cidades projetadas pelos News Urbanists são, segundo Eric Munford,
empreendimentos acessíveis apenas para compradores de poder aquisitivo alto, o que as tornam
espaços segregados e indiferenciados dos ambientes super controlados dos parques temáticos e
dos shoppings malls, evidenciando-se, desta forma, o seu pseudo caráter público.

No tocante ao grupo de autores constituídos por Sharon Zuckin, Rosalyn Deutsche e Diane
Ghirardo, que apontavam a redução da vida pública pelas formas de apropriação dos espaços
públicos urbanos por interesses privados, pudemos observar que a partir da análise das formas de
gestão privada de alguns parques nova-iorquinos, Zuckin demonstrou como a realização da vida
pública democrática estava condicionada ao sentido dos investimentos aplicados nos espaços
públicos urbanos, bem como ao direto e a condição de se poder estar naqueles espaços e
Rosalyn Deutsche demonstrou como a utilização do discurso democrático em direção autoritária
dos que falavam em nome de significados absolutos do social (como por exemplo, liberdade e
igualdade) justificavam novas formas de subordinação, que tornavam incontestes processos de
gentrification, nos espaços públicos urbanos. Como saída Rosalyn Deutsche sugeria que os
conflitos socioeconômicos específicos que produziam os sem teto e os espaços públicos urbanos
gentrificados não fossem simplesmente aceitos como evidência da inevitabilidade do conflito, mas,
ao contrário, que fossem politizados, abertos à contestação como social e, portanto, como
mutáveis relações de opressão.

A lógica de gestão dos espaços públicos urbanos que, sobretudo em Zuckin, subtraía a vida
pública naqueles espaços, eram em Diane Ghirardo, recorrentes do modelo de controle social
explicitados nos megaprojetos (parques temáticos, shopping malls, dentre outros) que se
disseminaram pelos Estados Unidos, desde os anos 50. A argumentação central de Ghirardo era

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que os tipos de controle social presentes naqueles megaempreendimentos estavam redefinindo


privadamente os espaços público das cidades norte-americanas.

Do conjunto de publicações de autores brasileiros podemos também observar a crença no


esvaziamento progressivo das funções e papéis das ruas da cidade de São Paulo. Desses
destacamos os arquitetos Regina Meyer e Eduardo Yazigi, o antropólogo Heitor Frúgoli Jr e o
geógrafo Paulo César da Costa Gomes.

Para o antropólogo Frúgoli Jr e a arquiteta Regina Meyer esse esvaziamento deve-se à


disseminação em São Paulo de grandes empreendimentos, do tipo Shoppings Centers, Centros
Empresariais, Condomínios Fechados que, em última análise vem se tornando, segundo aqueles
autores, os maiores responsáveis por uma nova organização física das atividades urbanas que
desinveste a rua de suas funções e papéis e fez surgir as ruas abrigadas e protegidas, todas
correspondendo a uma nova concepção de cidade e de vida urbana. Em Frúgoli, a conjugação de
um capitalismo centrado na produção de bens de consumo e no crescimento do setor terciário na
base econômica e da disseminação daqueles empreendimentos estabeleceu uma relação de
causa e efeito com a cultura urbana, que em ultima instância permitiu determinadas formas de
apropriação de nossos espaços públicos urbanos tradicionais, esvaziando em termos públicos a
significação da vida urbana da cidade de São Paulo.

Com relação ao arquiteto Eduardo Yazigi e ao geógrafo Paulo César da Costa Gomes
observamos que procuraram estabelecer uma correspondência biunívoca entre os espaços
públicos urbanos e espaços políticos - com fortes referências, no segundo, à concepção de esfera
pública burguesa modelada por Habermas. Eduardo Yazigi defendeu a idéia de um novo
urbanismo capaz de incorporar a calçada enquanto um bem preservável, de modo a permitir que
ela pudesse cumprir permanentemente seu papel de elemento fundamental de elaboração de
cidadania e civilidade. Yazigi localizava na gestão pública o maior responsável pela redução do
papel político a ser desenvolvido nas calçadas da cidade São Paulo, bem como pelos problemas
ligados à unidade estética, à ordenação espacial, à manutenção e adequação a deficientes
físicos, visuais e idosos. Daí também sua proposta de incorporar nos planos e políticas públicas
municipais e metropolitanas os direitos que envolviam o cidadão no acesso e uso dos espaços
públicos urbanos. Já Paulo Gomes da Costa se ocupou em associar o espaço público político com
um correspondente espaço público urbano, que do seu ponto de vista podia ser (a praça, a rua, o
shopping, a praia) desde que não houvesse obstáculo à possibilidade de acesso e participação de
qualquer tipo de pessoa. Como Yazigi esse espaço era o lócus da lei, geral, uniforme e
democrática, onde as diferenças deviam estar submetidas às regras de civilidade

Finalmente, vamos o trabalho do antropólogo Antônio Arantes que, através de ensaios publicados,
procurou mostrar que no centro da cidade de São Paulo, haviam espaços públicos urbanos que

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eram espaços políticos, por ele identificados como sendo aqueles que foram projetados para
impor ou preservar uma unidade e ordem no solo ou para levar a efeito um planejamento de longa
duração e ampla escala que, ao serem permanentemente desafiados por processos sociais
(manifestações políticas, as crianças abandonadas, sem teto, prostitutas, michês,
trombadinhas,etc), eram continuamente ressingularizados e repolitizados. Nesse sentido, a
permanente tensão existentes nos espaços públicos urbanos da área central da cidade de São
Paulo, dotados de significações e de visibilidade pública e a ordem pública ritualizada pelo
policiamento ostensivo e às inúmeras categorias sociais nele contrastadas a tornava, do ponto de
vista de Arantes, o lugar político, por excelência. Não obstante, Arantes também se ocupou em
demonstrar como, de um lado, a incorporação de condomínios residenciais, centros comerciais e
empresariais e de outro, a requalificação de áreas urbanas de valor histórico e cultural, passaram
a reconfigurar o espaço público como lugar político, a partir de enfrentamentos e de pactos, muito
mais na diferença do que do tradicional esfumaçamento publicitário de fronteiras simbólicas e
políticas.

Finalizamos, assim, essa apresentação, com a pretensão de termos conseguido mostrar como, no
campo do urbanismo, a idéia dos arquitetos e urbanistas dos anos 50 em materializar no urbano
(centros cívicos) e na arquitetura (ruas aéreas) o espaço político das sociedades democráticas se
estendeu, nos anos 60 e 70, para as ruas e praças das cidades tradicionais, expandindo-se, a
partir dos anos 80 para todos os espaços públicos urbanos que, sob as mais diversas
abordagens, passaram a ser qualificados com atributos de concepções de espaços públicos
modelados no campo da filosofia política e das ciências sociais.

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