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Cortiços e Espaços Degradados – A influência modernista na produção

de HIS

A questão da habitação voltada para as classes menos favorecidas-entende se por elas as


chamadas minorias" na atual sociedade, negros e pobres- sempre foi um problema desde que
o homem se viu numa posição de superioridade em relação a cor da sua pele e o acúmulo de
bens materiais, mediados pelo capital. Mas, nem sempre a qualidade da moradia dessas
classes importava à classe dominante, a ponto de não serem feitas nenhuma modificação ou
melhorias no espaço, como era o caso das senzalas durante o período escravocrata no Brasil. A
burguesia e o Estado, principalmente após a urbanização das cidades através do
desenvolvimento económico industrial, entre os séculos XIX e meados do XX, trataram a
questão da habitação popular com negligencia, a, afastando de si a responsabilidade de
encontrarem uma solução adequada e viável financeiramente às classes pobres (VILLAÇA,
1986, np)

Uma das primeiras manifestações em relação às condições precárias em que se viram 0s


operários na cidade industrial surgiram na Europa em meados do século XIX, a partir de três
críticos intitulados "Socialistas Utópicos. Segundo Villaça (1986), 0 pensadores Saint Simon,
Fourier e Owen, representavam uma parcela da sociedade que se via indignada com a miséria
urbana, consequência do capitalismo predatório. As péssimas condições de trabalho nas
fabricas em jornadas exaustivas e mal remuneradas; os cortiços e as ruas como destino e não
opção de moradia para classe empobrecida; além das epidemias que se alastravam
principalmente por Londres e Paris; para os críticos representavam o mal e que somente seria
combatido de uma forma: quando as ações humanas fossem guiadas pela razão e
conscientização social. "Nas palavras de Engels: Para todos eles, o socialismo 6a expressão da
verdade absoluta, da razão e da justiça, e bastante revela-lo para, graças a sua virtude,
conquistar o mundo" (VILLAÇA, 1968)

As vilas operárias que a partir da Lei 315 de 1897, surgem em São Paulo como alternativa de
moradia digna às precárias condições dos cortiços e casas de cômodo existentes no centro da
cidade (PICCINI, 2004, p.32) - originaram-se do que são considerados como os primeiros
modelos urbanos e, sob um mesmo contexto higienistas que tinha como partido as
necessidades da burguesia. Classificados como "pré-urbanistas progressistas" por Françoise
Choay (1979 apud JATOBA, 2017), Simon, Fourier e Owen, tinham como objetivo a partir da
criação de uma cidade do zero, instaurar uma ordem social sobre o caos urbano da cidade
industrial. Um dos exemplos, é o Falanstério de Charles Fourier, onde o ideário e uma vida
social mais "humana" No geral, as propostas já antecipavam alguns fundamentos que mais
tarde, no século XX, estariam presentes na arquitetura moderna, como a 'separação das
funções urbanas, a valorização dos espaços verdes e funcionalismo que Le Corbusier
consagraria nos seus projetos" (ATOBA, 2017). Mais do que tópicas - já que algumas não
saíram do papel, como a cidade ideal de Fourier, as propostas não foram suficientes para
causarem o impacto que se invaginara na sociedade. Os projetos aléns de serrem pontuais,
eram limitados a capacidade de no máximo 2 mil habitantes, o que não atendia totalmente a
demanda da época e nem mesmo a que viria nos anos seguintes com as guerras mundiais.

A partir de 1930, com a realização dos CIAM's Congressos Internacionais de Arquitetura


Moderna), problemas sociais e urbanos quase acentuaram com o acelerado crescimento das
cidades americanas e europeias primeiras guerras, começaram a ser discutidos por
profissionais. O objetivo desses encontros era debater possíveis soluções a partir da produção
arquitetônica moderna em 4 esferas da vida urbana: habitação, trabalho, lazer e circulação. A
temática da habitação esteve presente logo nos dois primeiros encontros: I CIAM em Frankfurt
(1929) e o l CAM em Bruxelas (1930), e que tiveram como principal linha de raciocínio a
habitação mínima e o desenvolvimento racional do lote, respectivamente (CARMAGNANI,
2013), defendidos como meios de viabilizar a produção de moradia em massa com qualidade e
a custos reduzidos outros aspectos como o respeito à junto as diversidades e à escala humana,
também entraram em debate, incluídos posteriormente na produção da Carta de Atenas,
baseada na análise de 3 cidades de diversas localidades, e finalizada no IV CIAM (em Atenas,
1933) com o intuito de orientar em escala universal, o planejamento, recuperação e
construção de espaços urbanos (IRAZABAL, 2011)

No entanto, a partir dos anos 70, a revisão do ideário do urbanismo moderno defendido pelos
CIAMs, já com base na avaliação do projetos concebidos sob sua influência, geraram diversas
críticas tanto sobre a forma urbana quanto no seu impacto social, como a criação de "espaços
de ninguém, a monotonia da paisagem, monumentalidade dimensional(projetos fora da escala
do pedestre, quantificação exagerada das necessidades do homem, o descaso com o histórico
dos centros e seu património construído, a dispersão social, forma urbana pouco atrativa e
estética excludente (BRAZE SLVA, 2010)

AS VILAS REPRESENTAM 0 MODELO DE MORADIA POPULAR, DEFENDIDA PELO PODER


POBLICO A SUA REPLICAÇAO: ERA SALUBRE, DIGNA E UNIFAMILIAR, E CONTRARIAVAM 05
CORTIÇOS: INSALUBRES, DESUMANOS E LANDESTINOS. AINDA OUE POR UM DESCUIDO,
AMBOS PUDESSEM SE CONFUNDIR LEITE, G. F. T, 2019).

Sob um contexto de avanço industrial e do declínio de ações relacionadas à Revolução


Francesa quanto a busca pela justiça social Charles Fourier ve em seu projeto, a formação de
uma sociedade igualitária a justa, ondo ricos e pobres estariam unidas por um único ideal
socialista. Mas, diferentemente do que aconteceu com Robert Owen, que fundou colônias
tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, Fourier viu o seu projeto ficar no imaginária,
uma utopia que não encontrou seu fundador.

O projeto de unidades sociais seria dedicado a minimizar a desigualdade, tendo a Harmonia


como um novo patamar a ser alcançado pelo homem, em substituição à Civilização - ápice da
sociedade industrial. Para isso, Fourier havia sistematizado todas as relações entre seus exatos
1620 moradores (810 de cada sexo), desde a diversidade de seus amores e prazeres, até os
detalhes dos botões de trajes comuns, o que em tese "impediria o estabelecimento dos
padrões individualistas e egoístas (BARROS, 2016, p.231).

Quanto a Sua arquitetura, o Falanstério seria um palácio de muitas alas, compreendo "galerias
envidraçadas, pátios internos, jardins, galpões, salas comunais, oficinas, hospedarias, áreas
lúdicas que incluiriam um teatro, e até mesmo uma igreja. Cada ala teria apartamentos de
preços diferentes (20 tipos de preço)" (ibid., p.232), sendo que cada proprietário teria a
limitação de possuir até 3 unidades. O Falanstério seria como uma cidade autossustentável,
baseando sua economia na agricultura e na manufatura, em contraponto ao trabalho
mecanizado e repetitivo nas indústrias, retomando às atividades romantizadas em período
anterior à implantação do sistema capitalista.

Requalificação Urbana através da Habitação de Interesse Social | TFG1 |


FAU UFRJ
Existente há pouco mais de um século no Brasil, a produção de habitação social dos diferentes
períodos provocou avanços, mas não chegou a dar conta, até o momento, da demanda por
habitação das classes mais pobres. A implementação começou no final do século XX e início do
século XX, quando são realizadas as grandes intervenções urbanas, exclusivas às cidades
portuárias e às "cidades grandes", sendo marcado também pelo processo de substituição de
mão-de-obra escrava pelo trabalho livre. A partir disso, pessoas sentem-se estimuladas a sair
da zona rural e ir para área urbana em busca de emprego e melhores condições de moradias,
dado o poder de atração que as cidades começam a ganhar. Porém, essa busca desordenada
por sobrevivência, faz com que um crescimento inesperado cause um descompasso entre o
acesso a moradia e o crescimento da população, levando a carência da infraestrutura urbana.
(BONDUKI, 2017)

0 acesso informal ao solo e consequentemente à moradia é um dos maiores problemas das


últimas décadas, fortemente agravado pela falta (intencional) de políticas habitacionais
adequadas para atender a população mais carente. Tanto as reformas urbanas da primeira
metade do século XX quanto o urbanismo moderno surgem como adaptação da dualidade
entre a visão liberal, segundo a qual a urbanização deveria ser realizada por companhias
urbanizadoras, e a visão pública de urbanização, em que o Estado é o principal agente
urbanizador. Devido à grande especulação imobiliária capitalista, baixos salários, falta de
políticas públicas e desigualdade social, juntamente aos preceitos sanitaristas e a polícia do
Estado que excluem da organização da cidade parcela significativa de seus moradores
(SEVCENKO, 2001; ROLNIK, 1993; BONDUKI, 1998), impossibilitaram o acess0 a moradia para
uma boa parcela da população, assim viabilizando a segregação, degradação ambiental, má
qualidade de vida, causando um descompasso entre o acesso à moradia e o crescimento
populacional (Holz&Monteiro, 2008)

“A urgente necessidade de alojar a grande massa de imigrantes, fez com quase edificassem
diferentes tipos de estalagem, cortiços e habitações operarias, quase todas elas de construção
apressada e precária." (Bonduki, 2017)

Ainda que atualmente tenham se constituído linhas de financiamento e programas que apoiam
a produção social da moradia, a produção capitalista de mercado voltada ao mercado da
habitação se renova e sua hegemonia se mantém. Quanto aos programas de produção social
da moradia, estes se sucedem rapidamente, trazendo dúvidas quanto à sustentabilidade deste
eixo da política habitacional.

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