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BARROS, Luiz Antonio Recamán. Forma sem utopia.

Arquitetura
moderna brasileira. Tradução . London: Phaidon, 2004.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Doutor em Filosofia (2002), graduado em Ciências Sociais (1987) e em


Arquitetura e Urbanismo (1983), Recaman é professor da FAU-USP. Suas principais
pesquisas tratam da Estética da Arquitetura, Crítica de Arquitetura, Arquitetura
Moderna Brasileira e da relação entre Habitação Social e desenvolvimento urbano.
É co-autor dos livros "Brazil's Modern Architecture" (Phaidon, 2004) e "Vilanova
Artigas: Habitação e cidade na modernização Brasileira" (Unicamp, 2013).

TEMA

O texto explora a ligação entre o contexto político/social brasileiro no período


de 1936-1960 e a arquitetura brasileira produzida nesse contexto. Trata, assim, da
formação, do amadurecimento e do colapso da arquitetura moderna brasileira;
finalizando com uma reflexão sobre para onde o Brasil após a falência da
arquitetura moderna.

RESUMO

O texto é dividido em 7 partes, com 6 subtítulos onde o autor destrincha sua


análise com enfoques; são eles: “O Brasil do Modernismo” (análise política), “Cidade
e Plano” (nascimento da arquitetura moderna no Brasil), “Pampulha”, “Pedregulho”,
"Brasília" e “São Paulo, a cidade do futuro”.
O autor ressalta o formalismo e a negligência da questão social, fatos
presentes na arquitetura moderna brasileira desde sua concepção, explicando como
esse foi o calcanhar de Aquiles desse modo de produzir espaços que se desliga
totalmente do entorno e, por consequência direta, das cidades. Por fim, Recaman
tratará de analisar o cenário urbano contemporâneo à produção do texto (2004).
ESTRUTURA ARGUMENTATIVA

No Brasil do século XX ocorreu um acelerado desenvolvimento industrial


similar ao que aconteceu na Europa um século antes. No entanto, essa
industrialização brasileira consolidou-se sobre uma base colonial, isto é, um cenário
totalmente diferente da Europa do século XIX com a revolução burguesa e as
grandes reformas urbanas que serviram de pano de fundo para a industrialização.
As cidades brasileiras, coloniais, são resultado de um processo espontâneo e
desregulamentado de produção de cidades que visava a acumulação econômica
como principal objetivo.

● O Brasil do modernismo

No que é conhecido como Estado Novo, o Brasil passa por uma forte
centralização desenvolvimentista e conservadora. Baseado na construção política e
ideológica de um Estado Nacional, o período de 1930-1970 é marcado por grandes
investimentos de infraestrutura e políticas sociais repressivas e excludentes.
A arquitetura moderna no Brasil é um projeto. É um dos instrumentos desse
Estado que luta para construir sua imagem e consolidar-se enquanto Nação. É,
portanto, uma arquitetura moderna que precede a modernidade.

● Cidade e Plano

A arquitetura moderna internacional tem Le Corbusier como um de seus


representantes mais significativos. Os princípios Corbusianos transpassam a
produção arquitetônica moderna mundo afora e o Brasil não é exceção. Entretanto,
o conflito entre o potencial social da forma moderna e a dimensão comunicativa de
linguagem, dialética da modernidade, resulta em uma exacerbação moderna no
país.
Croqui do Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro por Lúcio Costa.

O autor coloca o Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro como a


primeira obra moderna brasileira e aproveita para ressaltar que o próprio Le
Corbusier, consultado para a locação do projeto, não concordou com as escolhas
que foram feitas. Recaman fala de uma deturpação adaptadora dos princípios
corbusianos que nada tem a ver com adaptação climática ou cultural, mas sim com
escolhas econômicas. A escolha não moderna do sítio ignora completamente a
relação da volumetria com o plano, que é um dos cinco pontos corbusianos, e ainda
dão ao Ministério um tom anti-social e anti urbano.

● Pampulha

Croqui dos edifícios do Conjunto Arquitetônico Pampulha por Oscar Niemeyer.


O autor marca a construção da Pampulha em 1940 como a consolidação da
arquitetura moderna no país. Um conjunto de prédios que não eram capazes de
cumprir a função social a que se comprometeram. Nas palavras do autor, a
Pampulha era um “lago orbitado por exemplares exóticos e inúteis”.
Indo na contramão do programa heróico moderno europeu que visava a
cidade nova e a habitação popular, a Pampulha é a concretização do programa
arquitetônico moderno brasileiro. É um projeto de uma burguesia que projeta seus
desejos de grandeza, de uma burguesia que dá as costas para cidade e se isola em
seus castelos. É uma arquitetura sem passado e sem futuro, o que o autor chama
de uma modernização conservadora.
A arquitetura moderna brasileira, portanto, se caracteriza pela criação de
objetos únicos e afuncionais.

● Pedregulho

Por conta dessa arquitetura que não abarcava o social, a questão


habitacional no país foi obliterada por uma década. Enquanto isso, os núcleos
urbanos brasileiros cresciam cada vez mais num processo de periferização das
cidades.

Croqui do Projeto Parque Guinle.

O Projeto Parque Guinle traduz a forma que a arquitetura moderna dá de


atender a uma certa demanda habitacional. É um projeto voltado à classe alta, com
plantas de apartamentos de mais de 200m², implantado em uma ilha urbana. São
“edifícios que orbitam o vazio”.
Com a forte crítica internacional à essa arquitetura, o conjunto Pedregulho
aparece como fragmento de utopia. É uma tentativa de juntar a forma moderna com
o social.

Modelo feito por Affonso Reidy do Conjunto Habitacional Pedregulho.

No entanto, o projeto caiu nas mesmas armadilhas que todos os outros


projetos modernos: ilhas urbanas, ruptura entre cidade e espaço construído, criação
de espaços segregados.
Com a criação das COHABS o problema apenas se intensificou. Voltado à
classe baixa, começa aí uma produção habitacional de mega-implantações com
precariedade construtiva em desertos urbanos. O autor trata as COHABS como
“imensos tumores sem solução”, desertos sociais e urbanos.
A habitação vira produto em vez de projeto.

● Brasília

Chamada pelo autor de “simulacro de cidade”, Brasília é o lugar que se


constrói nessa lógica anti-urbana. Regida pelo Plano Piloto, é a “mais abstrata e
anti-sociais das elaborações das formas”. O projeto de Niemeyer calcifica a cidade,
espaço que é geralmente marcado pela mudança e pela transformação.
O modernismo que se mostrava nos edifícios em nada refletia a realidade
social do país, ou sequer dos espaços que ficavam fora das áreas de intervenção
desses megaprojetos.
“Em 25 anos (1936-1960) a arquitetura moderna brasileira realiza
impressionante processo: sua formação, seu amadurecimento e seu colapso
ideológico (seguido de sua falência disciplinar).”

● São Paulo, cidade do futuro

Após a triplicação da população no século XX, São Paulo passa por um


processo que Recaman chama de implosão das cidades. O número de favelas
cresce (assim como as favelas crescem em tamanho), os centros urbanos são
realocados para suprir as necessidades do capitalismo financeiro e o espaço urbano
se reconfigura de acordo com que função urbana elementar (descritas pelo autor
como “o dormir, o trabalhar e o circular de ricos e pobres”) cada porção do território
desempenha.
Essa transformação da estrutura social e espacial é produto das ações do
mercado imobiliário combinado com a segregação social, regulados pela lógica
burguesa vigente. Como resultado, não há ordenação parcial ou geral desta cidade
que implode nos anos 60. Surgem então áreas de severa regulamentação e áreas
“extra-legais”.
A produção dessa cidade desigual é enclausurante à própria burguesia que a
criou, uma vez que esta é forçada a fortificar seus condomínios para escapar da
violência que a segregação causou. É um espaço de conflitos constantes e, nas
palavras do autor, um “espaço urbano desolador”.
Apesar de tudo isso, São Paulo se estabelece como uma cidade global. Ou
melhor, é por tudo isso que São Paulo se estabelece como uma cidade global.

CONCLUSÃO

(não tive tempo pra fazer ainda)

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