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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Caroline Amaral

RA00147062

ART-MA2

PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA

SÃO PAULO

2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Caroline Amaral

RA00147062

ART-MA2

PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA

Trabalho de conclusão da disciplina


Introdução aos Estudos Patrimoniais,
apresentado ao Prof. Álvaro Allegrette
como requisito para a obtenção da nota
final.

SÃO PAULO
2014

ESTUDO ANALÍTICO E CRÍTICO SOBRE O


PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA

O Parque Nacional da Serra da Capivara e seu entorno possui a maior


concentração de sítios arqueológicos do país. Localizado na caatinga, no
sudeste do estado do Piauí, o parque ocupa uma área de 129 mil hectares,
distribuídos entre os munícipios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo
do Piauí e Coronel José Dias. Atualmente 406 sítios estão cadastrados,
número que não é definitivo pois constantemente novos sítios são descobertos
na região, destes cerca de 360 apresentam pinturas rupestres.

Desde 1973 a área que hoje constitui o Parque já era objeto de pesquisa
arqueológica, em 1978 as pesquisas foram intensificadas pela formação da
Missão Franco-Brasileira do Piauí, coordenada pela arqueóloga paulista Niède
Guidon, que até hoje estuda a região. Esta mesma equipe conseguiu que, em
junho de 1979, através do Decreto de nº 83.548, a área fosse constituída como
Parque Nacional da Serra da Capivara, com a finalidade de proteger os sítios
arqueológicos.

Inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO (Organização das Nações


Unidas para a Educação e Cultura) em dezembro de 1991, com o critério que
estabelece que o patrimônio cultural deve conter “sítios arqueológicos
conjugando as obras do homem e da natureza cujo valor é universal e
excepcional do ponto de vista histórico e antropológico, único e extremamente
raro, e que remontam à antiguidade” (TIRAPELI, 2001, pg. 10) e que define
que o bem cultural é de valor excepcional quando “apresenta uma realização
artística única, uma obra-prima do gênio criativo humano” e “representa um
testemunho especial ou no mínimo excepcional de uma civilização ou tradição
cultural desaparecida” (SILVA, pg. 93 – 94)

Incluso em setembro de 1993 no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e


Paisagístico do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),
na categoria de área com conjuntos de sítios pré-coloniais de arte rupestre.
A Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) foi criada em 1986, na
cidade de São Raimundo Nonato pelos pesquisadores da Missão Franco-
Brasileira do Piauí. A Fundação se declara como uma entidade cientifica, sem
fins lucrativos, de utilidade pública estadual e federal e é cadastrada no
Conselho Nacional de Assistência Social. O tema que foi definido como foco
das pesquisas é “O homem no sudeste do Piauí: da Pré-história aos dias
atuais”. A FUMDHAM também é responsável pela defesa e manutenção
técnico-científica da Unidade de Conservação.

Os trabalhos de preservação do Parque em geral consistem no esforço


conjunto entre a FUMDHAM, o IBAMA, o IPHAN e o ICMBIO (Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade). No plano federal, a aplicação do
plano de manejo do Parque se dá pela parceria, por contrato assinado, entre a
FUMDHAM e o ICMBIO.

As descobertas feitas ali são de extrema importância para a história da


humanidade, os vestígios de Homo Sapiens Sapiens datam cerca de 50 mil
anos e ameaçam a teoria aceita por mais de meio século de que os primeiros
Homo Sapiens Sapiens teriam chegado ao continente americano entre 12 e 15
mil anos atrás, atravessado o Estreito de Behring a pé e se espalhado pelo
continente. A nova teoria não foi amplamente aceita pois uma quantidade
considerável de cientistas, a maior parte norte-americanos, consideram as
evidências encontradas insuficientes, já que a datação se deu por restos de
fogueiras, e não por fragmentos humanos.

A conservação dos artefatos arqueológicos está diretamente ligada ao


equilíbrio dos ecossistemas locais, a consciência deste fator orientou o
zoneamento, a gestão e o uso do Parque pelo poder público. A fauna e a flora
locais também são objeto de estudo arqueológico. A equipe de Niède Guidon
encontrou fósseis de diversos animais pré-históricos, como o Tigre Dentes de
Sabre e uma Preguiça Gigante de mais de 5 toneladas.

Os órgãos públicos responsáveis pela proteção do Parque também se


esforçam para conservar o ecossistema atual. Algumas espécies presentes no
Parque se encontram em ameaça de extinção, a onça pintada, por exemplo. A
fiscalização das medidas de proteção ambiental é feita por meio de patrulhas
do IBAMA que percorrem as estradas e trilhas a procura de caçadores e
pessoas não-autorizadas.

As pinturas rupestres são a manifestação mais abundante encontrada no


Parque. Os temas refletem o cotidiano dessas populações pré-históricas e a
partir delas é possível deduzir sua organização social, suas tradições, seus
rituais religiosos, etc. O conjunto gráfico encontrado no Parque foi realizado
gradativamente e sua narratividade nos permite diversas leituras. Essas
pinturas apresentam um perfil típico, único da região e se diferenciam pelos
tipos de grafismo, os de Tradição Nordeste, mais antigos, são mais
sofisticados, narrativos e contém muita representação de movimento, os mais
recentes, de Tradição Agreste são mais estáticos, com traços geometrizados e
bem maiores que os do outro estilo.

Foram encontrados também objetos feitos por estas populações, como


cerâmicas e instrumentos de caça, a partir destes objetos é possível determinar
a tecnologia desenvolvida por eles.

Toda essa riqueza é constantemente ameaçada por diversos fatores, os


naturais, já que o solo ácido não permitiu, ao longo dos séculos, a preservação
dos restos ósseos mais antigos ou o clima semiárido que nos períodos mais
secos oferece grande risco de incêndio, entre outros, o risco humano, que se
constitui principalmente na caça predatória, no desmatamento, na criação de
gado solto e no tráfico de animais silvestres. O principal fator, no entanto, é a
dificuldade de financiamento.

O Parque conta com orçamento fixo do ICMBIO e com repasses esporádicos e


eventuais parcerias entre a FUNDHAM e outras instituições. Essa dificuldade
acarreta em queda na qualidade do serviço de proteção do Parque como um
todo. A Fundação tem tentado por meio de cartas e apelos aos órgãos
competentes conseguir apoio financeiro regular para intensificar o turismo no
Parque.

Uma das formas encontradas para conseguir verba para a preservação e


proteção, e para dar visibilidade aos estudos ali realizados foi a abertura do
Parque Nacional Serra da Capivara para visitação turística. São 128 sítios
abertos para turismo, 16 deles oferecem serviços de acesso a pessoas com
dificuldade de locomoção.

Além das trilhas, sítios arqueológicos e monumentos geológicos, é possível


visitar o Museu do Homem Americano, no qual são expostos os resultados das
pesquisas realizadas no parque desde a década de 70.

A dificuldade em atrair turistas se dá pela dificuldade de acesso ao local, que


está localizado a 540km de Teresina, capital do Piauí, e a 300km de Petrolina,
em Pernambuco, isto é, muito distante dos aeroportos e a qualidade das
estradas ao redor é precária.

Foi aprovado um projeto para a construção de um aeroporto em São Raimundo


Nonato, mas a obra, que começou em 1998 ainda não foi concluída. Só o
aeroporto ainda não resolveria o problema, é preciso haver toda uma estrutura
para receber os turistas. O parque tem estrutura para receber muito mais
visitantes que os atuais 20mil ao ano, mas as cidades ao redor precisariam de
investimento para a construção de hotéis, restaurantes e outras demandas
turísticas.

Em 2012, apenas 11.655 visitaram o Parque, a maioria estudantes da região.


De fora do Nordeste vieram cerca de 1.500 visitantes, apenas. Em
comparação, o sítio arqueológico de Tulum, no México, recebeu 1,2 milhão de
visitantes no mesmo período.

Dentre as determinações do Plano de Manejo do Parque Nacional Serra da


Capivara, está a preservação das comunidades circunvizinhas, que inclui um
projeto de desenvolvimento econômico e social que visa erradicar a miséria e a
fome, preparando-as para participar do mercado de trabalho que o Parque tem
criado na região: obras de infraestrutura, prestação de serviços, recepção,
segurança e turismo ecológico e cultural.

Também estão inclusos programas de Educação Patrimonial para que haja


engajamento da população local sobre a proteção do Parque e manter a
“relação de pertencimento” que na década de 70, quando o Parque estava
sendo delimitado, gerou descontentamento nas comunidades que foram
retiradas da área de conservação.
Um bom exemplo do resultado dessas ações com a comunidade local é a
produção de cerâmica com a marca da Serra de Capivara, a fábrica funciona
no povoado de Barreirinho, vizinho ao Parque, e garante renda a cerca de 30
famílias. Os produtos são feitos com a argila presente na região e são
decorados com pinturas rupestres semelhantes às presentes no Parque.
CONCLUSÃO

O conjunto arqueológico do Parque Nacional Serra da Capivara por seu valor


interdisciplinar contribui com diversas áreas de pesquisa, que só enriquecem a
compreensão do território brasileiro. Porém, estas riquezas esbarram em
questões ideológicas, como por exemplo a negação de tantos cientistas norte-
americanos em aceitar as novas evidencias sobre a Teoria de Povoamento das
Américas. Aceitar que o povoamento do continente não se deu somente por
territórios ao norte, contesta a postura ideológica de superioridade assumida
em inúmeros aspectos pelos norte-americanos.

O modelo de arrecadação de renda para o parque está longe do ideal. Os


governos federal e estadual deveriam investir mais recursos na preservação do
Parque, uma vez que os existentes não têm sido suficientes. Sem verba, os
órgãos responsáveis não conseguem fornecer os devidos cuidados de
preservação, proteção e pesquisa, e a própria existência do Parque fica
ameaçada. É um absurdo que não haja repasse regular de verbas federais.

A perda do Parque Nacional Serra da Capivara significaria uma perda do


potencial de construção de nossa própria historicidade.
BIBLIOGRAFIA

TIRAPELI, Percival. Conhecendo os Patrimônios da Humanidade no Brasil.


São Paulo: Metalivros, 2001.

SILVA, Fernando Fernandes da. As Cidades Brasileiras e o Patrimônio Cultural


da Humanidade. São Paulo: Peirópolis; Edusp, 2003.

SÁ, Ericka de. Parque no Piauí sofre para preservar sítios arqueológicos.
Disponível em < http://www.dw.de/parque-no-piau%C3%AD-sofre-para-
preservar-s%C3%ADtios-arqueol%C3%B3gicos/a-17197072 >. Acesso em
Novembro de 2014.

MOSNA, Rafael. No Piauí, serra da Capivara guarda o maior tesouro


arqueológico do Brasil. Disponível em <
http://www1.folha.uol.com.br/turismo/2013/05/1275141-no-piaui-serra-da-
capivara-guarda-o-maior-tesouro-arqueologico-do-brasil.shtml >. Acesso em
Novembro de 2014.

LEVETATTO, Yuri. O enigma de Pedra Furada. Entrevista com a arqueóloga


Niède Guidon. Disponível em < http://yurileveratto.com/po/articolo.php?Id=154
>. Acesso em Novembro de 2014.

SILVA, Daniel. Missão franco-brasileira completa 40 anos no estado do Piauí.


Disponível em < http://180graus.com/noticias/missao-francobrasileira-completa-
40-anos-no-estado-do-piaui >. Acesso em Novembro de 2014.

Portal da FUNDHAM. Diversas páginas. Disponível em <


http://www.fumdham.org.br/ >. Acesso em Novembro de 2014.

Portal IPHAN. Diversas páginas. Disponível em < http://www.iphan.gov.br >.


Acesso em Novembro de 2014.
Portal do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Disponível em < http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que-fazemos/visitacao/ucs-
abertas-a-visitacao/199-parque-nacional-da-serra-da-capivara.html >. Acesso
em Novembro de 2014.

ANEXOS

(1) Boqueirão da Pedra Furada, cartão postal da Serra da Capivara. Foto de Nelson
Yoneda.
(2) Área rochosa. Foto de Nelson Yoneda.
(3) Pinturas rupestres. Foto de Nelson Yoneda.
(4) Objetos de cerâmica de cerca de 9 mil anos. Foto de Ericka de Sá.

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