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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

JOSÉ MAURICIO DA SILVA

LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU,


JAPERI, QUEIMADOS, MESQUITA E BELFORD ROXO

VOLUME ÚNICO

RIO DE JANEIRO
2017
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

JOSÉ MAURICIO DA SILVA

LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU,


JAPERI, QUEIMADOS, MESQUITA E BELFORD ROXO

Orientador: Profª Drª Claudia Rodrigues-Carvalho

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa


de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Arqueologia.
Linha de pesquisa: Povoamento do território
brasileiro

Rio de Janeiro
2017
CIP - Catalogação na Publicação

S581
l
Silva, José Mauricio
LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE
NOVA IGUAÇU, JAPERI, QUEIMADOS, MESQUITA E
BELFORD ROXO / José Mauricio Silva. -- Rio de Janeiro, 2017.
182 f.

Orientadora: Claudia Carvalho Rodrigues.


Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Museu Nacional, Programa de Pós
Graduação em Arqueologia, 2017.

1. Patrimônio Cultural Arqueológico. 2. Arqueologia Urbana. 3.


Arqueologia da Paisagem. 4.Arqueologia Pública. 5. Baixada
Fluminense. I. Rodrigues, Claudia Carvalho , orient. II.
Título.

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo autor.
JOSÉ MAURICIO DA SILVA
LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE NOVA IGUAÇU, JAPERI,
QUEIMADOS, MESQUITA E BELFORD ROXO

Orientador: Profª Drª Claudia Rodrigues-Carvalho

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do


Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Arqueologia. Linha de pesquisa: Povoamento
do território brasileiro.

Rio de Janeiro, 05/10/2017

Banca Examinadora:

Presidente, Professora Doutora Claudia Carvalho Rodrigues, Museu Nacional/UFRJ


Orientadora

Professor, Doutor Ondemar Ferreira Dias Junior - Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB

Professor, Doutor Marcos André Torres de Souza - Museu Nacional/UFRJ


AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe e aos meus irmãos, pelo apoio recebido durante à realização desse
estudo, sem o qual, certamente as dificuldades teriam sido maiores, especialmente à Maria
Inês pelos livros com que fui presenteado e à Sônia Gondim pelos socorros à gramática da
língua portuguesa.
Agradeço ao meu amigo Levi Corrêa pela disposição em me acompanhar no campo para a
localização de sítios arqueológicos.
E à minha orientadora pela aceitação como orientando e pela paciência que teve durante a
realização desse estudo.
RESUMO

SILVA, José Mauricio da. Levantamento do Patrimônio Arqueológico de Nova Iguaçu,


Japeri, Queimados, Mesquita E Belford Roxo. Dissertação (Mestrado em Arqueologia),
Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 2017.

O trabalho proposto visa a descrição do processo de ocupação sociocultural na região


referenciada pelos Rios Iguaçu, Guandu e Santana e os Maciços do Tinguá e Mendanha,
verificar a percepção da sociedade sobre o patrimônio cultural arqueológico, a partir do olhar
de um segmento social específico e buscar despertar, na sociedade ou sociedades, que ocupam
o território estudado, o interesse pelo seu patrimônio cultural arqueológico, fazendo difundir
uma ideia de patrimônio, enquanto matéria-prima da indústria turística, valorizando seu
potencial socioeconômico e cultural, numa categoria que ao ser reutilizada, será capaz de
promover o desenvolvimento sustentável. Nessa região fisiográfica assentam-se os municípios
de Nova Iguaçu e seus dissidentes Japeri, Queimados, Mesquita e Belford Roxo e uma
pequena parcela do Município de Miguel Pereira que margeia o Rio Santana, limite histórico
da Sesmaria que deu origem ao Município de Japeri. Este conjunto forma um território com
divisão político-administrativa específica, cujo processo de ocupação humana estende-se do
período pré-colonial aos dias de hoje. Aborda-se o patrimônio arqueológico sob a ótica dos
fundamentos teóricos sobre o patrimônio cultural, a arqueologia da paisagem, a arqueologia
urbana e a arqueologia pública. O grupo tupiguarani, segundo se conhece hoje, caracteriza as
culturas nativas, da região descrita, no período Pré-Colonial, conforme apontam trabalhos de
Arqueologia executados na área. O Período Colonial inicia pela entrada do europeu,
representado pelos portugueses, através do Rio Iguaçu no recôncavo da Baia de Guanabara. A
área, ainda hoje, se molda pela dinâmica do processo de urbanização e metropolização da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro que cresce e altera a paisagem local. Saber onde
estão os sítios arqueológicos, como se encontram e como se deu esse processo de apropriação
do meio pelas sociedades que atuaram na região é o principal propósito desse projeto.

Palavras-chaves: Sítio arqueológico, Rio Iguaçu, Rio Santana, Tinguá e Mendanha.


SUMMARY
SILVA, José Mauricio da. Levantamento do Patrimônio Arqueológico de Nova Iguaçu,
Japeri, Queimados, Mesquita E Belford Roxo. Dissertação (Mestrado em Arqueologia),
Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 2017.
The proposed work aims to survey the archaeological cultural heritage inserted in the region
referenced by the Iguaçu, Guandu and Santana Rivers and the Tinguá and Mendanha Massifs,
to verify the society's perception of the archaeological cultural heritage, from the perspective
of a specific social segment and to seek to awaken in the society or societies that occupy the
studied territory, the interest for its archaeological cultural heritage, spreading an idea of
heritage, as a raw material for the tourism industry, valuing its socioeconomic and cultural
potential, in a category that, when reused, will be able to promote sustainable development. In
this physiographic region, the municipalities of Nova Iguaçu and their dissidents Japeri,
Queimados, Mesquita and Belford Roxo are based, and a small part of the Municipality of
Miguel Pereira that borders Rio Santana, the historical boundary of Sesmaria that gave origin
to the Municipality of Japeri, that Together they form a territory with specific political-
administrative division, whose process of human occupation extends from the pre-colonial
period to the present day. It addresses the archaeological heritage from the perspective of the
theoretical foundations on the theme of cultural heritage, preservation and location (local),
whose search was initiated in the CNSA of IPHAN, followed by the bibliographical survey
carried out in the public archives. Documentary information on the process of space
occupation and field surveys through walking and interviews with residents and farmers. The
Tupiguarani group, as it is known today, characterizes the native cultures of the region in
comment in the Pre-Colonial period, as they point out works of Archeology executed in the
area. The Colonial Period begins with the entry of the European, represented by the
Portuguese, through the Iguaçu River in the Guanabara Bay Recôncavo. The Area is still
shaped by the dynamics of the process of urbanization and metropolization of the
Metropolitan Region of Rio de Janeiro that grows and changes the local landscape. Knowing
where the archaeological sites are, how they are and how this process of appropriation of the
environment took place by the societies that acted in the region is the main purpose of this
projec.

Keywords: Archaeological site, Rio Iguaçu, Rio Santana, Tinguá and Mendanha.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9
2 A BAIXADA FLUMINENSE, BREVE PANORAMA 13
3 OS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O ESPAÇO DO ESTUDO 17
3.1 MUNICÍPIO DE JAPERI 17
3.2 MUNICÍPIO QUEIMADOS 28
3.3 MUNICÍPIO DE MESQUITA 30
3.4 MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU 32
3.5 MUNICÍPIO DE BELFORD ROXO 35
4 MATERIAL E MÉTODOS 36
5 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO 45
6 ARQUEOLOGIA URBANA 57
7 O PATRIMÔNIO CULTURAL ARQUEOLÓGICO 66
7.1 ESTADO DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICOS 68
8 A ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM 100
9 ARQUEOLOGIA PÚBLICA 121
10 CONCLUSÃO 148
11 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 150
ANEXO 1 168
ANEXO 2 186
9

1 INTRODUÇÃO

A idéia de levantar o patrimônio arqueológico de Nova Iguaçu e arredores surgiu em


1987 quando foi criado o Núcleo de Estudos Arqueológicos - NEA 1 que logo depois foi
transformado em Instituto Fluminense de Arqueologia - IFA. Desde cedo percebeu-se a carência
de trabalhos voltados ao desvendamento dos períodos pré-colonial e histórico na sociedade local.
Embora trabalhos arqueológicos venham sendo executados, não são suficientes para a difusão e
proteção do valioso acervo da categoria existente na região.
Como primeira proposta prática, foi apresentado, na Associação de Moradores e
Amigos de Japeri - AMOR-JAP, em 1988, a ideia de fazer a comemoração de fundação do então,
6º Distrito de Nova Iguaçu: Japeri, como parte de resgate de sua identidade cultural, visto que se
buscava à época combater a falta de interesse e desprezo das pessoas pelo seu local de moradia.
Sendo a ideia, aceita, partiu-se para a prática de campo, buscando documentos e representantes
físicos sobre a origem do Distrito.

1
Em 1987 um grupo de estudantes orientados pelo Professor Agenor Rodrigues Pinheiro Valle, da Faculdade de
Arqueologia da Universidade Estácio de Sá, criaram uma equipe interdisciplinar constituída por alunos de
Arqueologia, Museologia, Comunicação Social, Economia, Geografia e História para estudar a memória cultural de
Nova Iguaçu e defender a regulamentação da profissão de arqueólogo. O grupo nomeou essa equipe de Núcleo de
Estudos Arqueológico - NEA.
10

Figura 1. O mapa mostra os municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e Mesquita no contexto
da região Metropolitana e Unidade Federativa do Rio de Janeiro. Fonte: CEPERJ.

Não precisou ir longe para tomar conhecimento da falta de informações sobre a História
das localidades. As dificuldades conduziram à criação de um grupo de trabalho - GT, destinado à
organização e execução do evento. Foi elaborado um plano de trabalho com atividades
específicas para cada participante do GT. Entre tais atividades, o trabalho foi dividido em duas
frentes chamadas de: 1) levantamento e análise de documentos - documentação escrita,
arquivos de igreja, cartórios, contos e lendas, traços comportamentais que pudessem sobressair
demonstrando importância e gerasse a valorização da história local. e; 2) prática - entrevistas
com pessoas antigas, sítios arqueológicos, fotografias, objetos que pudessem representar, de
alguma maneira, o processo de ocupação do espaço territorial de Japeri. O trabalho deveria ser o
primeiro de uma série que adquiriria uma tradição. Foi um sucesso, atraiu a atenção da imprensa
local e foi bastante divulgado, mas não teve sequência, uma vez que a maioria dos militantes da
associação era vinculada aos partidos de esquerda e tensões político-partidária inviabilizaram a
realização de outros eventos. Mas o levantamento ganhou força e fez perceber que várias
pessoas, de forma isolada, faziam estudos sem uma sistematização, sobre a história do Município
de Nova Iguaçu. Havia um problema sério, caracterizado pelo fato dessas pessoas guardarem
para si o conhecimento adquirido com seus estudos e houve muita resistência em relação à
11

proposta de disponibilização dos documentos e fontes pesquisadas. A importância estava no fato


de serem vistas como os "detentores do conhecimento" e quem quisesse saber alguma coisa teria
que ir a eles. Esse era o charme e quebrá-lo foi impossível. Apenas dois, liberaram informações
que puderam ajudar no trabalho: Francisco Costa, conhecido como Costinha que veio a ser o
primeiro Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Japeri, quando o Distrito foi
emancipado e pai do primeiro Prefeito e o Professor Afrânio Peixoto, que sempre se dedicou ao
estudo da História regional.
Outro aspecto observado, prende-se à origem "histórica" dos municípios da Baixada
Fluminense de uma maneira geral e, neste caso, especialmente de Nova Iguaçu e seus distritos
dissidentes e, começa, a partir do século XVI, quando a estrutura política do território se fazia
representar pelo tipo de organização tribal que, se constituía, em muitos gentios distribuídos pelo
perímetro delimitador da área em comento. Isso, de uma forma geral, nos reportou a uma
pergunta, até hoje, sem resposta: "e os nativos, onde se encontram nesse novo período,
caracterizado pela invasão dos europeus e domínio de uma população que vinha numa sequência
sociocultural e político-econômica por milhares de anos"? Não havia, até 2009, qualquer
disponibilização, ao público em geral, de informações sobre os nativos da região e que tipo de
herança se faz presente, hoje, representando nossa descendência na miscigenação desse povo,
com o invasor europeu e o africano, introduzido de forma forçada para o serviço escravo.
Tampouco, há uma consciência sobre, costumes e práticas, herdadas do africano que foi o
grande responsável pela construção da nova paisagem na região. Então, questões de memória,
identidade e patrimônio, foram surgindo de formas tímidas, mas que foram aos poucos se
estruturando e ganhando foco.
O presente trabalho pretende a realização do levantamento do patrimônio arqueológico
e descrição do panorama da ocupação sociocultural da região referenciada entre os rios Iguaçu,
Guandu e Santana e os maciços do Tinguá e Mendanha.
Tratar o patrimônio arqueológico, enquanto um importante acervo "ferramental" capaz
de alicerçar as bases socioculturais da sociedade, com forte ênfase no potencial econômico, está
entre os propósitos, deste estudo.
Ainda é perspectiva dessa pesquisa, verificar a percepção da sociedade regional sobre o
acervo arqueológico do território estudado, através do olhar específico de determinados
segmentos sociais, como profissionais da educação e da área cultural. Desta forma, buscar
despertar, na sociedade ou sociedades que ocupam o território estudado, o interesse pelo seu
patrimônio cultural arqueológico, fazendo difundir uma ideia de patrimônio enquanto matéria-
prima da indústria turística, valorizando seu potencial socioeconômico e cultural, numa categoria
12

que, ao ser reutilizada, será capaz de promover o desenvolvimento sustentável. Nessa linha,
provocar o interesse em órgãos governamentais, como prefeitura, autarquias, e também nas
empresas privadas, a importância desse acervo dentro das atribuições que lhe compete a lei. Um
exemplo que pode ser citado, é o do Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro
- ITERJ, que ao reestruturar seu Regimento Interno, incluiu o acervo arqueológico como
proposta de avaliação nos projetos de sua jurisdição, e neste momento, tudo indica será
aprovado.
13

2 A BAIXADA FLUMINENSE, BREVE PANORAMA


Na perspectiva Geomorfológica, com caráter amplo, a Baixada Fluminense é a faixa de
terra, que forma as planícies costeiras, compreendidas por superfícies planas e de baixa altitude
que estendem-se desde a linha de costa até as falésias dos Tabuleiros e as encostas da Colinas e
Maciços Costeiros, além de acompanharem os vales fluviais que penetram muitos quilômetros
para o interior e formam o litoral do Estado do Rio de Janeiro. Na perspectiva Geopolítica e, com
caráter estrito, é definida como uma "microrregião" especificada quanto à organização do
espaço, com referência à estrutura de produção, agropecuária, parque industrial, extrativismo
mineral e pesca, aspectos socioculturais, compreendida por treze municípios, que se tornam
distintos e inseridos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A Baixada Fluminense era, em
grandes trechos de sua parte, emersa e muito pantanosa, antes da vinda do europeu (BELTRÃO,
2014, 2ª ed. p. 182), o que pode ser confirmado pelo Dicionário Geográfico do Brasil em sua 3ª
edição em 1894 2, quando conceitua Belém, atual Município de Japeri, e pela declaração do
governador Manuel de Matos Duarte Silva exaltando a região em apreço em 1930 (SILVA,
1930, p. 31). Foi intensamente ocupada pelo grupo tupiguarani, denominados tupinambá, pelos
franceses e tamoios, pelos portugueses que, à época da invasão europeia, ocupava do Cabo de
São Tomé, no norte do RJ a Angra dos Reis, passando pelo Vale do Rio Paraíba do Sul, uma das
vias de penetração por ele utilizada (BUARQUE, 2000, p. 310). Se a perspectiva de Gaspar
(2004, p. 42) para assentamentos de grupos litorâneos puder ser estendida para assentamentos
interioranos da região do atual Estado do Rio de Janeiro, especialmente na área estudada, onde
predominaram os terrenos alagadiços e pantanosos, seria possível esperar a presença humana em
“[...] áreas de inserção ambiental, próximos de enseada, canal, rio, laguna, manguezal e floresta".
Dessa forma podemos deduzir que muitos sítios arqueológicos pré-coloniais, poderão ser
descobertos, pois além dos rios e florestas que delimitam a ação desta proposta, muitos outros
encontram-se no interior do espaço territorial por ele abrangido. A população nativa é, ainda
hoje, negada e subestimada nas páginas da História oficial, conforme pode ser observado no
artigo do Professor Gênesis Torres 3, publicado na Coluna História da Baixada no Portal
baixafacil.com.br, onde narra a expulsão dos franceses, a criação da Cidade do Rio de Janeiro em
1565, a distribuição de sesmarias e o consequente aniquilamento dos índios Tupinambá, ficando
as terras liberadas à penetração pelos principais rios e livres dos perigos oferecidos pelas

2
Alfredo Moreira Pinto no " Dicionário Geográfico do Brasil", página 243, 3ª edição, 1894, conceitua cinco
localidades no Rio de Janeiro com o topônimo Belém. O atual Município de Japeri era uma delas.
3
Gênesis Torres é professor e pesquisador de História, Presidente do Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e
de Ciências Sociais da Baixada Fluminense, Coordenador do Fórum Cultural da Baixada e foi Subsecretário de
Cultura de São João de Meriti.
14

comunidades indígenas. Iniciativas provocadas pela Lei de Diretrizes e Base da Educação


Nacional nº 11.645 de 10 de março de 2008 começam a forçar mudanças no currículo escolar
inserindo os temas indígena e africano nas atividades pedagógicas. Um fato importante, porque a
História oficial dos municípios, também não aborda a importância da presença da população
negra, cuja chegada na região se deu de forma forçada e criminosa, porém incorporada e ativa na
construção das paisagens verificadas ao logo do tempo histórico com uma contribuição que
precisa ser exaltada no espaço e evidenciada no patrimônio cultural arqueológico, cuja
apropriação do meio, pelos conquistadores, teve início na segunda metade do Século XVI,
segundo o professor Afrânio Peixoto 4 em, entrevista pessoal (1988). Durante muito tempo, as
terras da área proposta para estudo, ficaram abandonadas até que, com seus rios desembocando
na Baía de Guanabara, foram aos poucos penetradas pelos colonos. As primeiras sesmarias
datam de 1568, como a cedida a Brás Cuba com 3000 braças de testada pela costa do mar e 9000
de fundos, pelo Rio Meriti, passando pela aldeia do índios Jacutinga (PEREIRA, 1997, p. 11).
Esse processo desencadeou uma nova estrutura histórica na região, superando um sistema
societário tribal e instaurando um sistema socioeconômico adverso do nativo e resultando em
alterações na paisagem que mudaram radicalmente a estrutura sociocultural local fazendo surgir
povoados, vilas, "estradas e produção voltada ao mercado exportador onde antes havia apenas
uma produção voltada à subsistência. A Sesmaria cedida a Inácio Dias Velho, em 1743, tendo o
Caminho Novo das Minas como testada, e os rios Santana e Guandu como confrontantes, teve
seu perímetro ocupado por uma estrutura rural, hoje expressa nas ruínas de povoados, engenhos,
caminhos, e até, foi sugerido a hipótese de um morgado, o Morgado de Belém, que faz parte,
inclusive do hino municipal de Japeri e temas de carnaval local. Porém, a existência desse
morgado não foi confirmado por este estudo, mas colabora na demonstração de como se deu a
formação da História no espaço considerado.
A Baixada Fluminense adquiriu nova configuração geopolítica oficial a partir do início
da década de 1990, conforme pode ser constatado no Programa de Ação Integrada da Baixada
Fluminense – PAI, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional – SEDUR,
de maio de 1990. Estendeu o conceito de Baixada Fluminense a, além, dos municípios de Nova
Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti, incorporando os que se formaram
pelos plebiscitos que emanciparam vários distritos, como Japeri, Queimados, Belford Roxo,
Mesquita, Guapimirim, Seropédica e outros municípios da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, como Magé, Itaguaí e Paracambi.

4
Professor Afrânio Peixoto foi um historiador que empenhou-se no estudo da História de Nova Iguaçu, cabendo-lhe
a autoria de " Imagens Iguaçuanas", descrevendo a História de Nova Iguaçu.
15

O mapa a seguir, mostra a região de estudo com os municípios de Japeri, Queimados,


Nova Iguaçu, Mesquita e Belford Roxo, a serem tratados aqui, que formam um território com
área de 796,016 km², ocupado por uma população estimada pelo, IBGE, para 2016 de 1.707,683
habitantes.

Figura 2 – Municípios do estudo e seus confrontantes representados na Região Metropolitana do Rio e Janeiro,
conforme Lei Complementar nº 158, de 26 de dezembro de 2013, altera o Artigo 1º da Lei Complementar nº. 87, de
16 de dezembro de 1997, com a nova redação dada pela Lei Complementar nº. 97, de 2 de outubro de 2001, a Lei
Complementar nº 105, de 4 de julho de 2002, a Lei Complementar nº 130, de 21 de outubro de 2009, e a Lei
Complementar nº 133, de 15 de dezembro de 2009. Fonte: CEPERJ-2014.

A composição da Baixada Fluminense está vinculada à história de ocupação, através da


conquista da terra e da evolução social e econômica do chamado Recôncavo da Guanabara, que
fez crescer sua população, principalmente após o Estado Novo que promoveu a industrialização
do Brasil, cuja consequência na área comentada, foi o fim do Ciclo Econômico da Laranja e a
recepção de grandes massas de população pobre provenientes de várias regiões, ocasionando,
nestes municípios, um crescimento demográfico acelerado a partir, principalmente, da década de
1950. No entanto, este crescimento se deu sem as necessárias condições de saúde, educação,
saneamento, moradia e infraestrutura urbana e com forte dependência do mercado de trabalho
concentrado na Cidade do Rio de Janeiro, gerando um movimento pendular diário entre a
metrópole e seu entorno, tendo sido, por isto, denominados “municípios dormitórios”.
Em 2005, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento da Baixada e Região Metropolitana - SEDEBREM, considerava como Baixada
16

Fluminense os seguintes municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí,


Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e
Seropédica.
Tomando como referência a bibliografia levantada durante a execução desse estudo,
conclui-se que a ocupação do território no período histórico, formado pelo polígono constituído
nos limites referenciados entre os rios Iguaçu, Guandu e Santana e os maciços do Tinguá e
Mendanha, deu-se em duas vias principais de acesso, a primeira: a) formada pelo Rio Iguaçu,
que alcançou parte de Nova Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo e; b) formada pelo Rio Guandu 5,
tendo como referência de difusão a Fazenda de Santa Cruz, que foi confrontante com os
municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Mesquita e Queimados.

Figura 3- Mapa de 1892 mostrando a região com micro bacias


direcionadas à Baia de Sepetiba (Rio Guandu) e Baia da Guanabara (Rio
Iguaçu). Fonte: memória757.bloot.com

5
Isso pode ser observado com mais detalhes na "Planta Corográfica de Huma Parte da Provincia do Rio de Janeiro
na qual se inclue a Imperial Fazenda de Santa cruz de 1848".
17

3 OS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O ESPAÇO DO ESTUDO


Nesse capítulo apresento as principais características dos municípios inseridos no
perímetro do espaço territorial estudado e tem caráter apenas informativo, com exceção de
Japeri, em que me aprofundei mais na evolução da história de formação do mesmo, chegando a
levantar fontes primárias, confirmadas pelo registro arqueológico que juntos, contrariam a
história oficial em muitos aspectos. Talvez o último e único levantamento de dados históricos
tenha se dado por determinação do Decreto-Lei 311 de 02 de março de 1938, já citado
anteriormente, quando o Estado Novo ordenou o território nacional. Consultar esse material,
hoje, é um grande problema, uma vez que a documentação produzida em 1938 e 1939, em
conformidade com as normas estabelecidas para o recebimento, aprovação e exposição dos
mapas municipais que as prefeituras apresentaram até o dia 31 de dezembro de 1939, conforme
Portaria 60, de 22 de junho de 1939 do Conselho Nacional de Geografia, até agora não foi
localizado. Isso confirma o descaso com a História local e da História para com o local, uma vez
que esses dados são citado pela História, assim como o é o advento da ferrovia, como um fato de
importância nacional, mas que em nenhum momento é visto na especificidade localizada em
cada unidade política.
3.1 MUNICÍPIO DE JAPERI

Figura 4 - Mapa do Município de Japeri. Fonte: Prefeitura Municipal de Japeri.


18

Das tribos Tupiguarani que ocuparam e interagiram com o espaço, até o momento dos
primeiros contatos com o invasor europeu, começam a surgir as primeiras evidências
arqueológicas com informações que certamente fornecerão, em breve, um novo texto sobre a
História local. Após o contato, veio a nova demarcação da terra com a sesmaria, que deu origem
ao povoado, evoluído a distrito e, deste, à categoria de Município, o que transcorreram-se, com
referência ao ano de 2017, 274 anos de reocupação do espaço territorial que, conforme, vê-se na
bibliografia que começa ser resgatada, segue um protocolo observável no ambiente ecológico
criado pelos antigos moradores do Município. Durante esse grande período histórico-social de
existência, surgido de uma Carta de Sesmaria doada em 13 de agosto de 1743 a Inácio Dias
Velho, filho de Garcia Rodrigues Paes, que abriu a picada da estrada, hoje, conhecida como
Real, ou Caminho Novo do Tinguá e neto de Fernão Dias, o Caçador de Esmeraldas, como
símbolo de reconhecimento dos serviços prestados pela Família Paes Leme à Coroa Portuguesa,
Tratava-se a Carta de doação de duas léguas de Sesmarias em Nome de Sua Majestade e tinha
como limites o Caminho Novo das Minas até a passagem pelo Rio Santana que a limitava ao
norte, o Rio Santo Antonio e as terras da Real Fazenda de Santa Cruz. Segundo o Professor Rui
Afrânio Peixoto, essas terras vieram a formar o "Morgado de Belém", extinto após a morte de
Pedro Dias Paes Leme, sobrinho de Ignácio Dias Velho, passando as terras a constituir a Fazenda
Belém, com atividades econômicas voltadas ao fabrico de açúcar e aguardente, moinho e
engenho de mandioca e de serra, casa de vivenda, teatro, igreja, lavoura, gado vacum, cavalar e
mular. Um vasto acervo em ruínas no meio da serra, talvez possa provar as informações
prestadas pelo Professor Afrânio Peixoto como as ruínas de um engenho localizado na Serra do
Tinguá em sua porção conhecida como Serra da Viúva, na divisa entre Miguel Pereira e Nova
Iguaçu. Japeri percorreu a História a partir da segunda metade do Século XVIII, sendo sempre
privilegiado em função de obras de grandes vultos que o colocou na confluências das grandes
vias nacionais, começando pelo Caminho Novo do Tinguá que ligava o Rio de Janeiro a Minas
Gerais e que fazia a testada de seus limites ao Leste. Depois veio a Estrada da Polícia que cortou
seu território ao meio, seguido pela Estrada de Ferro D. Pedro II, a estrada de “Presidente
Pedreira”, a construção de duas casas de custódias que redefiniram a paisagem urbana,
sobretudo, no Bairro Belo Horizonte, onde estão assentados, cuja favelização do entorno e a
imigração de parentes de presos para outros bairros do Município, fez um novo retrato da Cidade
e, atualmente, o Arco Metropolitano que, de certa maneira, já impactou a estrutura demográfica
mostrando um rumo incerto da situação dessa Cidade, cujos hábitos foram alterados e, que
demonstra ainda, não estar preparada para gerenciar esse novo contexto. Este conjunto de
19

elementos vem condicionando seu espaço e criando as estruturas de urbanização, embora não
tenha alcançado um status compatível com essas possibilidades oferecidas indiretamente. Cada
estrutura dessa trouxe conseqüências que colocaram o Município em evidência, envolvido num
potencial jamais reconhecido. Cada fato definiu momentos históricos que se caracterizam em
função das atividades econômicas exploradas ao longo do seu desenvolvimento social e cultural
como a cana, a cafeicultura, o rami, a seda, provavelmente em conseqüência da Fábrica Têxtil de
Paracambi e depois a laranja que fizeram refletir uma economia agrícola exportadora que se fez
presente até 1950, no Século XX , configurando mudanças espaciais do território da Cidade de
hoje.
No entanto, as pesquisas que avançam no espaço do Município, executadas,
principalmente, pelo Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, vem revelando um período pré-
colonial com forte atuação na paisagem local e regional, até então desconhecido. São sítios
arqueológicos que remontam ao contato do invasor europeu, e talvez, já brasileiros, visto a
possibilidade de terem alcançado essa parte periférica do Recôncavo da Baia da Guanabara,
algum tempo depois de terem iniciado a faixa marginal e de mais fácil acesso. O Município
dispõe de três sítios do período anterior à chegada e domínio forçado pelos europeus, que
afirmam a necessidade de conhecer melhor a ocupação sociocultural do espaço da unidade
política, considerando o Rio Guandu como importante via favorável de acesso, conforme vem
sendo confirmado nas pesquisas do IAB.
Como todo município, Japeri é uma organização social, politicamente independente,
emancipado de Nova Iguaçu através de um plebiscito, reconhecido pela Lei Estadual nº 1.920 de
02-12-1991. É constituído por dois centros urbanos, densamente povoados, que polarizam 30
bairros, sendo 27 urbanos e 03 rurais, resultado da ocupação coletiva de um espaço
compartilhado e segregado em variadas formas de relacionamento humano e atividades
econômicas gerando um aglomerado sócio-cultural administrado pela política representada pela
Comarca, Prefeitura e Câmara de Vereadores. Está inserida no contexto de urbanização da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro e reflete as conseqüências desse processo iniciado na
década de 40 do Século XX quando mudou o nome de Belém.
Localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro entre as Coordenadas
Geográficas de 22º 38`35`` L.S. e 43º 39`12`` L.O. Sua geomorfologia se caracteriza por uma
planície costeira com 30 metros de altitude de acumulação fluvial constituído de gnaisses
dominantemente tonalíticos, gnaisses granitóides, metatexitos, migmatitos, kinzigitos e de areias,
cascalho e argilas inconsolidados, limitada por colinas e pelo Maciço do Tinguá. Possui um
território formado por uma área de 82,9 km2 e faz divisa política com Paracambi, Seropédica,
20

Queimados, Miguel Pereira e Nova Iguaçu. Junto com Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis, D.
Caxias e São João de Meriti e Nova Iguaçu forma a Baixada Fluminense politicamente
reconhecida.
Segundo o IBGE, sua população, com base no censo de 2010 é de 95.492 com
estimativa para 2016 de 100.562 pessoas, distribuídas em 28.424 famílias, que se utilizam de um
sistema de transporte precário onde 100% dos domicílios têm, no trem, o principal meio de
locomoção. É acessado por duas rodovias estaduais, a RJ 093 e a RJ 125, duas ferrovias que
estabelecem ligação com MG e SP, uma desativada absurdamente, e uma série de vicinais que
cortam o seu território.
A produção econômica e a renda do Município são provenientes de pequenas indústrias,
comércio, dos convênios e repasses, royalty do petróleo e da agropecuária, desconsiderada,
embora exerça importância econômica na região com destaque para a produção da mandioca
(principal produto), quiabo e goiaba, gado bovino e aves.
O Rio de Janeiro exerce grande influência cultural na localidade, mas algumas marcas
se sobressaem como o forró, o artesanato e o patrimônio cultural "material", onde a estação
ferroviária inaugurada em 1858 constitui o símbolo do brasão municipal, embora sua integridade
física esteja ameaçada pela falta de cuidados básicos pelas autoridades “competentes”. Essa
influência no modo de vida do Município de Japeri, principalmente pela facilidade de acesso,
estigmatizou sua função sócio-econômica de “Cidade Dormitório”. Apesar da emancipação,
continua nas mesmas condições de que quando era distrito iguaçuano.
Passou por um intenso processo político administrativo que condicionou sua estrutura
espacial que, por vez, marcou sua situação fundiária ao longo de sua história até que a Lei nº
1472 de 28 de abril de 1952, elaborada a partir do Projeto nº 513 de 1951 criou o 5º e o 6º
distritos de Nova Iguaçu, representados respectivamente por Mesquita e Japeri. O Município de
Japeri sofre as consequências do, ainda hoje, conceito de desenvolvimento vinculado ao acúmulo
monetário.
Embora seja unânime que, em sua trajetória histórica, tenha alcançado o status de
morgado ou morgadio que é uma forma de organização familiar que cria uma linhagem, bem
como um código para designar os seus sucessores, estatutos e comportamentos, até agora,
nenhuma evidência documental escrita, confirma essa informação. Por outro lado, a
documentação gerada pelo registro arqueológico desconstrói essa hipótese. Analisando a
configuração da evolução fundiária da sesmaria, apresento a hipótese formulada a partir de uma
comparação entre o documento escrito e o vestígio arqueológico de que, um morgado não tenha
sido um marco na trajetória histórica do Município, pois não consta em nenhuma relação de
21

morgadio visto até o momento. Para essa hipótese também foi considerada a forma como
sucedeu a partilha do território da sesmaria doada a Inácio Dias Velho, clara no registro
arqueológico, que contradiz a legislação vigente referente ao tema à época do Brasil colonial e,
apresenta várias parcelas de terras desmembradas da unidade sesmeira e com destino a
proprietários com nomes diferentes do donatário. Contudo, o acervo arqueológico localizado até
o momento, tem mostrado uma estrutura fundiária fortalecida e desenvolvida, uma vez
observados o tipo e o tamanho de ruínas localizadas. Revela uma composição geoeconômica
bastante estruturada, mas que permite supor que estivessem interligadas, mais uma vez, com
referência ao registro arqueológico, neste caso, representado pela rede viária que colocava a
linha sucessória da Sesmaria em comento, num território caracterizado por uma cadeia produtiva
alinhada com uma ideia de interligação e adequação à política econômica da época, porém
mostra, também, uma ruptura territorial que perdura até hoje. Acredito que dessa peculiaridade,
levou suas características ao enquadramento no conceito de morgado, estabelecido na legislação
portuguesa sobre o assunto, conforme instrumento legal de 03 de agosto de 1770.
As primeiras instituições de morgadio, em Portugal, datam do início do século XIV e
por duzentos anos, não existiu qualquer tradição escrita sobre a sua vinculação. Mas, em
03/08/1770, a Lei Pombalina, regulamentou definitivamente os morgadios ou morgados. Não
podia vincular bens quem queria, mas sim quem o Rei autorizava, dentro de exigências bem
definidas. Por outro lado, a sucessão dos morgados fazia-se quase sempre em linha reta e só em
alguns casos, por extinção da descendência, por linha transversal. Essa prática não se verificou
apenas para a conservação de um sobrenome, mas sim para a manutenção da nobreza do filho
primogênito e seus descendentes. Mas para vendê-lo ou trocar parte desses bens vinculados, ou
mesmo à extinção do morgadio era preciso à expressa autorização real. de que faziam parte, ao
longo de sucessivas gerações.
Esta instituição 6 vincular, tem origem na legislação castelhana, no Reino de Castela,
onde era conhecido como mayorazgo e fez parte das leis daquele reino desde 1505 (Leyes de
Toro) até à Ley Desvinculadora de 1820 e, embora seja adotada pelo reino de Portugal antes, só
entra na legislação portuguesa com as Ordenações Filipinas de 1603. Por extensão, o
termo morgado é também utilizado para designar o possuidor do morgadio em questão. O
morgadio consistia num vínculo de terras, rendas ou outros utensílios provenientes de uma
determinada profissão, feito pelo respectivo instituidor. Estes bens assim vinculados não podiam
ser vendidos nem de outra forma alienados, cabendo ao respectivo administrador (o morgado) o
6
Conforme visto no sitio https://edittip.net/2013/12/28/morgadio, citando os trabalhos de Clavero (1974); Monteiro
(2002); Motta (2011); Rosa (1995).
22

cumprimento das determinações do instituidor, o usufruto do morgadio e o gozo dos rendimentos


proporcionados pelos bens vinculados. Só com expressa autorização real era possível vender ou
trocar parte desses bens vinculados, ou mesmo a extinção do morgadio. Mas era possível
acrescentar bens ao morgadio e, por vezes, a instituição do vínculo obrigava, mesmo que, cada
administrador lhe acrescentasse a sua terça.
A instituição de morgadios estava normalmente associada à instituição de capelas e ao
cumprimento dos chamados “bens de alma” definidos pelo instituidor, sendo esta também uma
razão para a sua difusão.
Existiram, no entanto, outro tipo de morgadio, associado a determinadas profissões,
nomeadamente na distribuição do correio e também a algumas profissões mecânicas ou
artesanais. O morgadio difundiu-se na idade média como uma forma de contrariar o
empobrecimento das famílias ricas devido às sucessivas partilhas, servindo, assim, como um
vínculo entre um pai e sua descendência no qual seus bens são transmitidos ao filho primogênito,
mantendo, desta forma, o seu ramo principal com o suficiente estatuto econômico-social.
No regime de morgadio os domínios senhoriais eram inalienáveis, indivisíveis e
insusceptíveis de partilha por morte do seu titular, transmitindo-se nas mesmas condições ao
descendente varão primogênito. Assim, o conjunto dos bens de um morgado constituía
um vínculo, uma vez que esses bens estavam vinculados à perpetuação do poder econômico da
família. As regras de sucessão na administração do morgadio eram definidas pela respectiva
instituição. Em geral, sucedia o filho homem mais velho e, à falta de filhos, o parente mais
próximo. O filho primogênito na sua maioria das vezes recebia o nome do pai completo, seguido
da palavra Filho, Neto. Os outros filhos(as) tinham somente o nome e o sobrenome do pai: a
família da mãe (esposa) não existia. O intuito era manter a árvore genealógica. Os demais filhos
caíam na desgraça e muitas vezes sujeitos a um primogênito, insensato e carregado de vícios. É
certo que o morgado contrariava o princípio da igualdade na partilha dos bens entre os filhos,
privilegiando o mais velho e o homem em relação à mulher. Mas, por outro lado, criava
obrigações ao primogênito em relação aos irmãos, e muitas vezes estes recebiam os bens móveis
livres de foros, vínculos ou ônus dos pais. O direito de herança das filhas era tratado de forma
categórica na letra da lei: (...) e concorrendo na sucessão dos Morgados irmão varão e fêmea
ordenamos que sempre o irmão varão suceda no morgadio e bens vinculados, e preceda a sua
irmã, posto que seja mais velha. E mesmo será nos outros parentes em igual grau mais chegado
ao ultimo possuidor, porque sempre o varão precederá na sucessão à fêmea posto que ela seja
mais velha. Ainda menos comum do que o morgadio, a exclusão da filha do rol de herdeiros
podia ser uma outra forma de a sociedade impedir as mulheres de ter acesso aos bens da família,
23

caso o comportamento da filha afrontasse a autoridade patriarcal. Devido ao empobrecimento


dos filhos não primogênitos, o Parlamento brasileiro proibiu a instituição do morgadio em 1835,
sendo extinto definitivamente em 1837. Em Portugal só foi extinto no reinado de D. Luís I por
Carta de Lei de 19/05/1863, subsistindo, no entanto o vínculo da Casa de Bragança, o qual se
destinava ao herdeiro da Coroa. Este último morgadio viria a perdurar até 1910.
No Brasil existiram vários morgadios, entre eles o do Cabo de Santo
Agostinho, em Pernambuco, fundado por João Paes Velho Barreto citado aqui, pela semelhança
do sobrenome com o de Ignácio Dias Velho, que era um Paes Leme, posto que existem citações
do sobrenome Velho a Inácio Dias Velho Paes, buscando alguma relação da dita sesmaria com
morgado ou morgadio. Entre os municípios estudados a referência de morgado até aqui
confirmada é o Morgado do Marapicu, que deu origem a Queimados, cuja o espaço do meso
deve ser melhor estudado, pela arqueologia a fim de conhecer sua evolução histórica. Enfim,
pelas considerações conhecidas sobre o morgadio, sinto-me seguro em afirmar que Japeri nunca
foi um morgado, uma vez que, desde de cedo teve suas terras, antes sesmaria, partilhadas e
vendidas, de forma diferente da que estabelecia a legislação da época, sobre o assunto.
Documentos com referência a Japeri são fragmentados e estão dispersos em arquivos
oficiais, mas sem catálogo específico, ou em coleções privadas, sob a guarda de alguém que,
toma para si, o registro histórico, acarretando em dificuldade, o acesso a essas fontes, quase um
obstáculo à descrição por, via escrita, levando ao foco no registro arqueológico histórico, a
perspectiva de criação de uma rede vertical de informação, mostrando os fatos que nortearam a
evolução sociocultural do Município. Mesmo assim, já se conseguiu bastantes dados
bibliográficos com o levantamento realizado em arquivos e bibliotecas públicos. Como exemplo,
cito a compra de uma cachoeira em Belém em 1904 pela Estrada de Ferro Central do Brasil,
cujos trâmites documentais tiveram início em 1903, conforme o Ofício 1578 de 104, emitido
pela Diretoria Geral de Obras e Viação, autorizando a Estrada de Ferro Central do Brasil a
comprar uma cachoeira chamada "Cachoeira Grande", situada em terras da Fazenda de Belém e
do terreno necessário à canalização da água, pertencentes à Cia Industrial de Seda e Rami e ao
Dr. Pedro Dias Gordilho Paes Leme a uma respectiva despesas de 60:000$000 (sessenta milhões
contos de Reis), que deveria ocorrer por conta da consignação do orçamento do atual exercício
(ano de 1904): Material 5ª Divisão e Via Permanente e Edifício Obras Novas. Fica assim
satisfeita a ordem constante do Ofício Nº 8 de 16 de março de 1904.O documento cita duas
plantas do terreno que deveriam acompanhar a escritura, mas não veio neste arquivo, inclusive
acompanharam o Aviso Nº 473 do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. de 13 de
abril de 1904. O documento, faz referência à compra de cachoeira em que cujas margens do
24

riacho que a forma, assenta o Sítio Morgado de Belém. Uma data próxima, mas com efeito
sensitivo tão longe que impossibilita saber o tamanho do terreno comprado e se quando foi
comprado, as ruínas ali existente já se encontravam naquele estado ou fora comprada juntas e
funcionando, tendo sido desativada com a aquisição pela Companhia estatal. Uma resposta
demandada para complementando a informação. Na Carta topográfica do Rio de Janeiro feita
pelo Côde de Cunha (Conde da Cunha), Capital General e Vice Rei do Estado do Brasil, em
1767, mostra o Engenho de Pedro Dias, conforme mostra cópia feita do origina,l em 1911, por
Manoel Vieira Leão exibida na Figura 04. Esse mapa esclarece e confirma algumas questões
importantes como a hipótese sugerida para a primeira construção da sesmaria ter sido às margens
do Caminho Novo. Esta hipótese não contava à época, com informações fornecida pela
cartografia histórica, que vem mostrando uma rede viária importante no processo de ocupação
sociocultural, provavelmente, desde a época dos tupiguarani. E também, fortalece a ideia de não
existência de um morgado, uma vez que, em 24 anos da emissão da carta de doação de sesmaria,
ao então Inácio Dias Velho, um outro Paes Leme já ocupava os fundos da sesmaria. A sugestão
de uma construção na parte Leste, frontal da sesmaria, com testada para o Caminho Novo,
depende de confirmação através do registro arqueológico, o que para tanto, requer um projeto de
pesquisa específico a esse fim. A hipótese não está descartada e conta com informações
interessantes como cumprimento de uma ordem de colonização de um espaço, anteriormente,
ocupado por sociedades tribais. Então, sugiro, aqui que, embora o Caminho Novo tenha sido
utilizado como referência para testada da sesmaria e tenha sido considerada sua importância
como via de mobilização nacional, outras vias de acesso facilitaram a ocupação do terreno
sesmeiro por membros da Família Paes Leme nos limites dessas outras vias. Isso coloca o
desenvolvimento histórico de Japeri, vinculado à expansão das grandes vias de circulação
nacional ou regional.
Já no século XX, no ano de 1911, um Ofício assinado pelo Sr. Albino Alves Ribeiro de
nº 81 de 05/09/1911, emitido pela Estrada de Ferro Central do Brasil, enviado pelo Ministério de
Viação e Obras Públicas, através da Diretoria Geral de Viação e Obras Públicas, solicitando que
seja lavrada na Diretoria do Contencioso do Tesouro Nacional a escritura definitiva de compra
de parte do prédio nº 87 em frente à Estação Belém, necessário à Estrada de Ferro Central do
Brasil. No documento seguinte, definido pelo Ofício emitido pelo Ministério dos Negócio da
fazenda, nº 304 de 16 de julho de 1918, devolve ao Ministro o processo com o aviso do Referido
Ministério nº 1.958 de 29 de setembro de 1911 e a que se referem o de nº 1.916 de 23 de julho de
1912 e 3.856 de 27 de outubro de 1913, relativo à aquisição de parte do prédio em frente à
Estação Belém, citando como proprietário o Sr. Albino Alves Ribeiro, por um preço de 5:000$
25

(cinco mil conto de Reis). Este documento solicita ao Ministro de Estado da Viação e Obras
Públicas esclarecimento de dúvida de que trata o parecer da Diretoria do Patrimônio exarado à
Fls. 56 e 57 do referido processo. O documento mostra, ainda, o processo de ocupação do espaço
japeriense pouco tempo depois da edição do Dicionário Geográfico do Brasil que caracteriza
Belém como área anecúmena, imprópria à ocupação, considerando que esse prédio foi
implantado na parte baixa da Sesmaria.
A aquisição da parte do prédio se deu pelo ajuste entre a Estrada de Ferro e o
proprietário aos vinte e um dia do mês de agosto de 1911, quando estiveram presentes na
Secretaria da Diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil, como outorgante vendedor o Sr.
Albino Alves Ribeiro, representado por seu procurador Dr. Octavio Gonçalves Guimarães, e
como outorgada compradora a Estrada de Ferro Central do Brasil, representada por seu Diretor
Dr. André Gustavo Paulo de Frontin, pelo outorgante foi dito que como legítimo senhor e
possuidor do prédio nº 87, situado em frente ao syphon superior do pátio da estação de Belém,
Município de Vassouras, 7º Distrito de Paz, transmite à outorgada pela
"cláusula constituti todo o domínio e posse que tem sobre uma parte do referido prédio
demarcado na planta que faz parte integrante deste termo com as letras A-B-C-D
medindo a área de 133,6425m² e limitando por dois lados com terrenos da outorgada e
pelos dois outros lados com terrenos do outorgante, pela quantia já especificada acima.
e vem assim que autoriza a outorgante a assinar perante a Diretoria do Patrimônio
Nacional a escritura definitiva da presente cessão e a apresentar por essa ocasião todos
os títulos e documentos que provem a sua propriedade, de modo a ficar a venda boa,
firme, valiosa, livre e desembaraçada de qualquer onus judicial ou extrajudicial.
Pela outorgada, representada por seu Diretor, foi dito que aceita a presente cessão em
todas as condições, devendo ser efetuado no Tesouro Nacional o pagamento do preço
estipulado, quando ali celebrada a respectiva escritura, correndo a despesa por conta da
sub-consignação do orçamento do atual exercício de 1911: material - 5ª Divisão - Via
Permanente Edifício - Obras Novas.
E para constar lavrou-se o presente termo, que assignam com as testemunhas. Secretaria
da diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil, Rio de Janeiro Capital Federal, 21 de
agosto de 1911. (Assinados) Dr. André Gustavo Paulo de Frontin, PP. Octavio
Gonçalves Guimarães. Testemunhas - Bernardo Rodrigues Gomes, 1º Escriturário -
Morato Ignacio de Soyza Valente Amanuense.

Ainda em referencia a esta situação, buscando entender como se deu o processo de


ocupação, tem-se a Carta de arrematação emitida pelo Juízo Municipal da Comarca de
Vassouras, em 21 de junho de 1897, extraída dos autos de inventário a que se procede por
falecimento Francisco de Paula Rangel, passada a favor de Albino Alves Ribeiro, o Dr.
Guilherme de Almeida Magalhães, Juiz Municipal na cidade de Vassouras, etc. a todos os
senhores Doutores, Desembargadores, Juízes de Direito Municipais, Comerciais de Órfão e de
Paz e bem assim mais todas as pessoas de Justiça desta República dos Estados Unidos do Brasil
a quem o conhecimento desta haja e devo de pertencer em suas respectivas comarcas e
jurisdição. Faz saber que este juízo e cartório do escrivão que esta subscreve em seus devidos
26

termos uns autos de inventário que está procedendo pelo falecimento de Francisco de Paula
Rangel de quem é inventariante Donato Rangel, pai de Francisco. O falecido, solteiro, deixou
uma filha menor de nome Januária, reconhecida por escritura pública. No termo de espécie de
bens, o inventariante, disse mais que os bens do espólio consta de efeitos comerciais na
Povoação de Belém e um prédio onde está estabelecido o negócio. O Doutor Guilherme de
Almeida Magalhães manda aos peritos nomeados e afirmados Silvério de Medeiros Torres e
Aníbal Julião Soeiro que em cumprimento dessa, proceder a avaliação e balanço da casa
comercial deixado pelo inventariado citado e a avaliação e balanço dos bens deixados por
Francisco de Paula Rangel mostra um consumo de "armarinho" variado que ia de Garrafa de óleo
de rícino, garrafas de amêndoas doce, vidros de óleo de babosa, vidros de óleo de máquina,
vidros de tintura, vidro de anilina, vidros de pelulas catharticas, vidro de extrato, vidro de raspa
de veado, vidros de bryovica, vidros de nectranda amara, vidros de água de quinisso, vidros de
xarope de alcatrão, vidro de permanganato de potássio, vidro de xarope de vermífugo, vidros de
capsulas de taurinas, vidros de pílulas do Doutor Hallan, vidros de extrato Mauá, dúzias de
carreteis de linha, Guarnições, dúzias de botões de massa para colete ,dúzia de botões de massa
para paletó, guarnições de louça, dúzias de botões de jasper, grosa de botões de mão de pérola,
caixa de botões diversos, metros de liga, dúzia de pente preto de alisar, dúzia de dita, pentes
transparentes, dúzias de pentes para caspa, pentes para barba, baralhos de cartas, pares de meias,
pares de meias de cor, dúzia de pares de meias, pares de sapatinho de lã, peças de fitas de
nobreza, caixa de fita de papel, gravatas pretas, gravatas de cor, caixa com diversas peças de
enfeite, caixa de renda, porção de cadarço e trancelim, bonecas de louça entre outras muitas
coisa do gênero, listadas no inventário que narra o tipo de consumo que havia no final do século
XIX e início do XX em Japeri. A importância desse inventário está ligada às transformações
provocadas pela implantação e desenvolvimento da ferrovia no território trabalhado, uma vez
que junto com fotos antigas que começam a ser recuperadas, está sendo possível compreender a
atual paisagem do Município. Esta estrutura fundiária mostra uma casa comercial com oferta de
produtos variados e destinado ao consumo doméstico, num momento pós edição de um
dicionário técnico oficial que desabona o local para moradia. Parte da estrutura, como visto na
documentação, foi adquirida pela Estrada de Ferro para expansão de seu pátio que cresceu pelo
lado esquerdo de quem chega na estação, vindo da Central. Essa estrutura precisa ser localizada e
isso só será possível pela escavação no extremo do pátio ferroviário, onde hoje existe uma
grande ocupação irregular.
Em uma observação do balanço dos bens classificados como de armarinho, deixados
por Francisco de Paula Rangel em seu armazém em Belém, podemos ter uma noção do tipo de
27

produto consumido pela população do povoado que crescia nas margens da Estradas de Ferro
Central do Brasil no início do século XX.
A aquisição desse prédio mudou, mais uma vez, a paisagem local da antiga sesmaria, e
condicionou o espaço à ocupação social. Ainda não está definido, de qual lado foi, uma vez que
a estação teve seu espaço ampliado pelos dois lados ao longo dos anos. Do lado direito de quem
chega, havia a estrada que abastecia o trem com produtos vindos do interior e vice-versa.
Conforme a Procuração na Pública Forma, carimbada pelo Consulado do Brasil no
Porto, Imposto do selo no valor de cem Réis, foi estabelecido que:

saibam quantos esse público instrumento de procuração virem, que no ano de


nascimento de Nosso Senhor Jesus Crhisto de mil, nocentos e dez aos dez de setembro,
nesta Vila da Feira e cartório do quarto ofício, a cargo do escrivão notarial José Vieira
de Souza, esteve presente o Sr. Albino Alves Ribeiro e esposa Dona Amélia Ferreira
Ribeiro, proprietários do lugar do Ferreiro da Freguesis do Sanguedo, desta Comarca,
que fizeram como procurador o Senho Celestino Betleder, viúvo, negociante , morador
na rua Coronel Pedro Alves, número trezentos e um (301), na Cidade do rio de Janeiro,
Estados Unidos doBrasil, a quem dão poderes, inclusives os de substabelecer, para em
nome dos outorgantes, fazer arrendamentos das propriedades que eles possuem nos
mesmos Estados Unidos do Brasil, despedindo, quando assim o entenda, os caseiros e
admitindo outros, recebendo as respectivas rendas das mesms propriedades, passando os
necessários recibos. E, ainda lhe dão poderes, para, em nome deles outorgantes, vender
a propriedade que possuem em Belém, Estado doRio de Janeiro, formada de casas
terreas e terrenos juntos, para a Estrada de Ferro Central do Brasil, ou vender para outro
qualquer fim, ou mesmo vender somente a parte da mesma propriedade que for
necessária para a dita estrada de ferro; vendendo a mesma propriedade, ou a parte d`ela
pelo preço que puder juntar, que receberá e de que passará quitação, assinando, todos
os documentos e escrituras precisas, com as condições que estão entender necessária,
dando-lhe ainda todos os poderes forenses, para poder demandar qualquer devedores ou
para outro qualquer fim. Sendo testemunhas presentes Eugenio Machado Adillon e João
Ayres Ferreira, ambos solteiros, maiores, caixeiros, moradores na rua , desta vila. O
Cônsul Geral da República dos Estados Unidos do Brasil na Cidade do Porto, etc.
Nicoláo Pinto da Silva Valle reconheceu verdadeira a assinatura retro de Domingos
Curado, notário público, nesta cidade, exarada no precedente documento constante de
duas folhas pelo Cônsul, rubricadas com a a rubrica N. Valle no Consulado do Brasil na
Cidade do Porto em 10 de setembro de 1910. O documento pode ser validado na
Secretaria de Estado das Relações Exteriores, na Inspetoria da Alfândega ou na
Delegacia Fiscal do Estado do Rio de Janeiro. Foi publicada na Cidade do Rio de
Janeiro em 01 de fevereiro de 1911.
Esse documento mostra um português com posse de propriedade de terras em Belém,
que provavelmente veio para o lugar atraído pela construção da Estrada de Ferro para o trabalho
de construção da Estrada de Ferro.
A Sesmaria doada a Ignácio Dias Velho em 1743, com um perímetro que abrangia uma
área homogênea já está, nessa época, dividida em dois municípios: Vassouras e Nova Iguaçu. A
Lei nº 750 de 15 de outubro de 1906 reúne em um só distrito de paz, sob a denominação de 2º, os
atuais 2º e 3º do Município de Vassouras. E a Lei n 881 de 11 de setembro de 1909 restabeleceu
todos os distritos de paz do Município de Vassouras, com os limites, sede e denominações
estaduais no Decreto nº I A, de 04 de junho de 1892 que por sua vez havia retificado o Decreto
28

nº I de 08 de maio de 1892. e a Lei 1056 de 31 de dezembro de 1943 Belém passa a integrar o 2º


Distrito de Nova Iguaçu - Queimados e pela Lei 1472 de 28 de abril de 1952 promulgada a partir
do Projeto nº 513/51 cria no Município de Nova Iguaçu os distritos de Mesquita - 5º e Japeri -
6º, com os limites estabelecidos nos termos da resolução que a Câmara Municipal adotou na
Sessão de 29 de março do corrente ano. Com isso Belém caminhou em direção ao processo de
urbanização fazendo surgiu como condicionante sócio- espacial fundamental a ferrovia que foi
capaz de adaptar a baixada insalubre no novo espaço de ocupação do antigo povoado, ao invés
de adaptar o novo ocupante à baixada insalubre.
Foi dessa forma que Japeri se inseriu no contexto das grandes vias de circulação,
criando uma vocação que, a meu ver, pode ser chamada de ferroviária. O desenvolvimento
sociocultural pelo qual passou o espaço que convergiu no território municipal, no período
histórico mostra que o fator fundamental que ocasionou a saído de Belém da Serra e ocupasse a
baixada foi a ferrovia. Ainda hoje o Município sofre as consequências da desativação da
dinâmica ferroviária que havia até a década de 1979. a considerar que o espaço urbano de um
município capitalista constitui-se, em um primeiro momento, de sua apreensão, no conjunto de
diferentes usos da terra justapostos entre si. É simultaneamente fragmentado e articulado o que o
faz reflexo da sociedade, consequentemente mutável e condicionante dessa mesma sociedade
(CORRÊA, R. L. 1995).
3.2 MUNICÍPIO DE QUEIMADOS

Figura 5 - Mapa do Município de Queimados. Fonte: IBGE-@Cidades.


29

Se por um lado, a lei do morgado serviu para sugerir o desenquadramento de Japeri do


status de morgadio, por outro, Queimados foi instituído enquanto tal, conforme documento de
vínculo de morgado emitido pelo Ministério da Justiça e Negócio Interiores datado de 06 de
janeiro de 1772.
Com uma população estimada para 2015 de 143.632 habitantes, segundo o IBGE,
Queimados tem uma área de 75,695 km² e uma densidade populacional de 1.822,60 habitantes
por km² tem suas origens históricas no Morgado do Marapicu, ainda no século XVIII, porém
podemos sugerir que sua História precisa ser melhor estudada, tendo em vista a falta de clareza
nos dados históricos. Alguns confirmam e vinculam o Município ao Morgado de Marapicu
como o que descreve a solicitação do "Desembargador Procurador da Coroa João Pereira Ramos
de Azeredo Coutinho, pede ao Tabelião Manoel Freira Ribeiro por Certidão o teor de uma
escritura a mais do suplicante e seus irmãos, fizeram dando consentimento para de todos os seus
bens se instituísse um morgado e se vincularem nele todos os ditos bens, sendo administrados
dele o suplicante e por que para isso carece de despacho. Pede que seja mandado". O Tabelião
toma conhecimento do pedido e cita Manoel Freire Ribeiro, Tabelião público do Judicial e Notas
na Cidade do Rio de Janeiro. Certifica que revendo o livro de notas nº 99 daquele cartório fl. 177
à fl.186 se acham escritas a referida petição, procuração e inventário, respectivamente a
escritura. A escritura reza do ano de 06-01-1772. Na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição
de Marapicu. No Engenho em que assiste Elena de Andrade Souto Maior Coutinho, viúva do
Capitão Mor Manoel Pereira Ramos de Lemos e Faria.
Segundo o histórico do Município, disponível no IBGE, existem três versões, mais
prováveis, para o nome "Queimados". A primeira diz que, quando o imperador Dom Pedro I
passou por aquela região, na ocasião da inauguração da estação de trem e teria visto uma grande
queimada que estava sendo feita nos laranjais dos morros e chamou o lugar de "Morro dos
Queimados". A segunda versão diz que o nome é referente aos corpos de leprosos queimados,
aos montes, que morriam em um leprosário que ali existia, onde hoje fica a Estrada do Lazareto,
uma das principais vias do município. Há ainda uma terceira versão, que afirma que o nome da
cidade provém dos escravos fugidos das fazendas, que eram mortos e tinham seus corpos
queimados pelos seus senhores.
Enquanto Distrito, foi criado com a denominação de Queimados, pelos Decretos
Estaduais n.ºs 1, de 08-05-1892 e 1-A de 30-06-1892, subordinado ao Município de Iguaçu.
Pela Lei Estadual n.º 1.028, de 03-11-1892, ou 1.008, de 11-10-1911 o distrito de
Queimados passou a ser grafado Queimado. E pela divisão administrativa referente ao ano de
1911, o distrito de Queimado figura no Município de Iguaçu. Sua antiga sede foi restabelecida
30

pela Lei Estadual n.º 1.634, de 18-11-1919, voltando a grafia para Queimados pela Lei Estadual
n.º 1.799, de 09-01-1924. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de
Queimados figura no Município de Iguaçu. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas
de 31-08-1936 e 31-12-1937.
Pelo Decreto-Lei Estadual n.º 392-A, de 31-03-1938, o Município de Iguaçu passou a
denominar-se Nova Iguaçu. O distrito de Queimados figura no Município de Nova Iguaçu (ex-
Iguaçu). No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o Distrito de Queimados
figura no Município de Nova Iguaçu. Pelo Decreto-Lei Estadual n.º 1.056, de 31-12-1943, foi
anexado ao distrito de Queimados, uma pequena faixa de território do distrito de Tairetá, do
município de Vassouras (zona da estação de Belém). Um fato que precisa ser revisto. Em divisão
territorial datada de 1-07-1960, o Distrito de Queimados permanece no município de Nova
Iguaçu. Elevado a categoria de Município com a denominação de Queimados, pela Lei Estadual
n.º 1.773, de 21-12-1990, desmembrado de Nova Iguaçu e constituído do distrito sede e
instalado em 01-01-1993.
A situação de Queimados em relação ao patrimônio cultural, em especial, o
arqueológico, talvez seja a pior, uma vez que o Município é atingido pelos altos impactos do
processo de urbanização que alcança áreas, até então, vazias ou ocupadas por atividades
agrícolas e que sustentava de forma espontânea, esse acervo. No terreno onde há 27 anos ainda
havia as ruínas de um casarão no centro da Cidade de Queimado foi implantado um condomínio
residencial destruindo o que havia sem nenhuma preocupação com o bem que se quer era
considerado. Uma situação lastimável, considerando a existência de uma legislação e dois órgãos
públicos nas esferas federal e estadual, respectivamente, cuja a função de cada um é também a
preservação do patrimônio arqueológico. IPHAN e INEPAC, não conseguiram, até hoje,
estender suas atribuições a essas terras, ou quando fazem, é de forma específica e mediante a
algum tipo de denúncia, mesmo assim, com bastante falhas.
Outra questão é a falta de previsão desse acervo, na gestão municipal, cuja preocupação
é com o desenvolvimento econômico tradicional, onde o que importa é a geração de dinheiro
para o "cofre público" e a preservação patrimonial não é o tipo de empreendimento que, na visão
dos dirigentes, possa gerar esse tipo de recurso.
3.3 MUNICÍPIO DE MESQUITA
31

Figura 6 - Mapa do Município de Mesquita. Fonte: Mapa do


Rio de Janeiro/mapa-dos-municipios/municipio-mesquita

O Município de Mesquita, no Estado do Rio de Janeiro, possui uma área territorial de


41,471 km², formado no antigo Distrito de Nova Iguaçu, criado com a denominação de Mesquita
(ex-povoado), pela Lei Estadual n.º 1.472, de 28-04-1952, permanecendo nesta condição após a
divisão territorial datada de 1-07-1960, tendo alcançado a emancipação, através de um plebiscito
autorizado pela Lei Estadual n.º 3.253, de 25 de setembro de 1999, e instalado em 01 de janeiro
de 2001. Com uma população de 168.403 habitantes, segundo senso de 2010, com estimativa
para 171,020 habitantes em 2016, de acordo com o IBGE, e uma densidade de 4.310,48
hab./km². Percebo, em sua História, uma demanda de intensas pesquisas em fontes diversas para
elencar o processo de ocupação sociocultural. Os portais oficiais (Prefeitura e IBGE) carecem de
maiores informações, porém é notório, que os primeiros grupos sociais da área onde está
assentado o Município foram os índios Jacutinga (SILVA, 2007, p. 68). Que segundo o Portal da
Prefeitura Municipal de Mesquita, dos "índios, infelizmente, sobrou apenas o nome de um dos
bairros da cidade: Jacutinga", e descreve que a localização, farta de mananciais de água que
desciam do Gericinó, proporcionava a formação de belíssimas cachoeiras e ricas florestas.
Segundo o Sítio oficial na Internet, nos locais baixos, as águas produziam uma bacia hidrográfica
e desciam em direção ao Rio Sarapuí. Para o IBGE 7, o Município teve origem a partir das terras
do Engenho da Caxueira, que ficava as margens do rio de mesmo nome – atual canal Dona
Eugênia – ao pé do Maciço de Gericinó. Nos arredores deste engenho, cresceu um arraial para
fazer frente à demanda de tropeiros e carroceiros que por ali passavam e abasteciam-se na
cachoeira que havia nos arredores. Com a expansão do sistema ferroviário, foram implantadas
várias estações sendo que uma delas ficou localizada no centro do antigo arraial da Cachoeira, o

7
Segundo está descrito no Portal IBGE- @Cidades- trata-se de uma informação que precisa ser confirmada.
32

qual logo mudou de nome para Jerônymo de Mesquita e posteriormente simplificado para
Mesquita 8. O nome é uma referência ao Barão de Mesquita, proprietário das fazendas que hoje
compõem a região central do município. Para o IBGE, a observação dos primeiros habitantes
resultou na transformação do barro das regiões alagadas em tijolos e telhas, servindo de base
para a instalação da Companhia Material de Construção Ludolf & Ludolf, junto à margem direita
da estação de Mesquita, uma história que precisa ser melhor contada.
Quanto à margem esquerda, mais precisamente ao longo da rua da Cachoeira, algumas
pessoas se estabeleciam, mas o destaque estava no entroncamento das vias que ligavam
Cachoeira com a Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga (atual Prata), e com Maxambomba
(atual Nova Iguaçu), onde cada vez mais pessoas fixavam residência.
O desenvolvimento da região deveu-se à implementação da ferrovia e ao declínio da
citricultura, o que permitiu o aparecimento de loteamentos, pondo fim aos grandes vazios
resultantes da Fazenda da Caxueira e da Companhia Ludolf & Ludolf.
3.4 MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU

Figura 7 - Mapa de Nova Iguaçu. Fonte: IBGE, @Cidades.

O Município de Nova Iguaçu com população definida em 796.257 habitantes segundo


senso de 2010 e com estimativa de 797.435 habitantes, para 2016, segundo o IBGE, com
densidade demográfica de 1.527,60 hab./km² tem um espaço territorial formado por uma área de
517,995 km².

8
Maiores informações podem ser obtidas no Livro Das terras de Mutambó ao Município de Mesquita - RJ -
Memórias da Emancipação nas Vozes da Cidade da Professora Maria Fatiam de Souza Silva, de 2007.
33

Segundo o Portal do IBGE @Cidades e a Prefeitura Municipal, Nova Iguaçu foi elevado
à categoria de vila com sua sede instalada às margens do Rio Iguaçu, que serviu de inspiração
para o nome dado pelo Decreto de 15 de janeiro de 1833, período em que, Pereira 9 (1997, p.13)
atenta para uma séries de problemas que tumultuavam a sociedade brasileira, desde a Corte aos
extremos do País. Foi desmembrado dos termos de Niterói de Vassouras e Magé tendo sido
constituído por seis distritos: Jacutinga, Queimados, Nossa Senhora da Piedade de Iguassu,
Mereti, Palmeiras e Pilar, instalado em 27-07-1833. Pela Lei Provincial n.º 14, de 13-04-1835, a
vila foi extinta e em seguida, elevada novamente à categoria de vila com a denominação de
Iguaçu, pela Lei n.º 57 de 01-12-1836. Pelo Decreto Provincial n.º 813, de 06-10-1855 e
Decretos Estaduais n.º s 01, de 08-05-1892 e de 01-A, de 03-06-1892, é criado o distrito de
Santana das Palmeiras e anexado à Vila de Iguaçu. Em 1858, com a inauguração da Estrada de
Ferro Dom Pedro II, iniciou-se o crescimento do Arraial de Maxambomba. Por conta disso, foi
realizada a transferência da sede do município para um novo centro econômico. Pelo Decreto
Estadual n.º 204, de 01-05-1891, transferiu a sede do município de Iguaçu para a povoação de
Maxambomba. Pelos Decretos Estaduais n.ºs 01 de 08-05-1892 e 01-A, de 03-06-1892, são
criados os distritos de Piedade de Iguaçu, Queimados e São João de Meriti e anexados à Vila de
Maxambomba. Esta foi elevado à condição de cidade e distrito com a denominação de
Maxambomba, pelo Decreto Estadual n.º 263, de 19-06-1891 e Lei Estadual n.º 1.634, de 18-11-
1919. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município se denomina Iguaçu e se
compunha de 6 distritos: Jacutinga, Queimados, Nossa Senhora da Piedade de Iguassu (ex-
Piedade de Iguaçu), São João de Meriti, Santana das Palmeiras e Pilar. Pela Lei Estadual n.º
1.331, de 09-11-1916, a sede do município passou a denominar-se Nova Iguaçu. O distrito criado
com a denominação de São Mateus pelas Leis Estaduais n.ºs 1.332, de 09-11-1916 e 1.634, de
18-11-1919 e anexado ao município de Nova Iguaçu, foi transformado em Nilópolis pela Lei
Estadual n.º 1.705, de 06-10-1921. Pela Lei Estadual n.º 1.528, de 25-11-1918, o distrito de Pilar
passou a denominar-se Xerém. Pela Lei Estadual n.º 1.634, de 18-11-1919, o distrito de Santana
das Palmeiras passou a denominar-se Santa Branca, São João de Meriti a denominar-se Pavuna e
Xerém para Estação João Pinto. Pela Lei Estadual n.º 1.799, de 08-01-1924, o distrito de Santa
Branca passou a denominar-se Bonfim e Cava (ex-Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu) a
denominar-se Estação José Bulhões. Pelo Decreto Estadual n.º 2.559, 14-03-1931, é criado o
distrito de Caxias é anexado ao município de Iguaçu. Pelo Decreto Estadual n.º 2.595, de 28-05-
1931, o distrito de Estação João Pinto voltou a denominar-se Pilar. Pelo Decreto Estadual n.º

Waldick Pereira foi um historiador do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu - IHGNI que se dedicou à
História do Município de Nova Iguaçu.
34

2.601, de 28-05-1931, é criado o distrito de Estrela e anexado ao município de Iguaçu, distrito


formado com parte do distrito de Pilar. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o
município é constituído 9 distritos: Nova Iguaçu, Bonfim (ex-Palmeiras), Caxias, Estação José
Bulhões (ex-Nossa Senhora da Piedade de Iguassu e ex-Cava), Estrela, Nilópolis, Pilar (ex-
Xerém e ex-Estação João Pinto), Queimados e São João de Meriti (ex-Meriti). Assim
permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 3 31-XII-1937. Só que o distrito
de São João de Meriti se denomina simplesmente Meriti. Pelo Decreto -Lei Estadual n.º 392-A,
de 31-03-1938, altera a denominação de Iguaçu para Nova Iguaçu. Pelo Decreto Estadual n.º
641, de 15-12-1938, é criado o distrito de Belford Roxo e anexado ao município de Nova Iguaçu.
Sob o mesmo Decreto é extinto o distrito de Pilar, sendo seu território anexado ao distrito de
Estrela do mesmo município de Nova Iguaçu.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 9
distritos: Nova Iguaçu, Belford Roxo, Bonfim, Cava, Caxias, Estrela, Meriti, Nilópolis e
Queimados. Pelo Decreto-lei Estadual n.º 1.055, de 31-12-1943, confirmado pelo Decreto-lei
Estadual n.º 1.056, de 31-12-1943, desmembra do município de Nova Iguaçu os distritos de
Caxias, Meriti, Bonfim e Imbariê (ex-Estrela) alterado pelas mesmas leis acima citadas, para
formar o novo município com a denominação de Duque de Caxias. No quadro fixado para
vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de 5 distritos: Nova Iguaçu, Belford
Roxo, Cava, Nilópolis e Queimados. Pela Lei Estadual n.º 6, de 11de agosto de 1947,
desmembra do município de Nova Iguaçu o distrito de Nilópolis. Elevado à categoria de
cidade. Pela Lei Estadual n.º 1472 de 28-04-1952, são criados os distritos de Mesquita e Japeri e
anexados ao município de Nova Iguaçu. Em divisão territorial datada de 1 de julho de 1955, o
município de Nova Iguaçu é constituído de 6 distritos: Nova Iguaçu, Belford Roxo, Cava, Japeri,
Mesquita e Queimados. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1 de julho de
1960.
35

3.5 MUNICÍPIO DE BELFORD ROXO

Figura 8 - Mapa de Belford Roxo. Fonte: Secretaria Municipal de


Ciência e Tecnologia-Prefeitura

Com uma população formada por 469.332 habitantes segundo dados do senso 2010,
com estimativa de 494.141 habitantes para 2016 segundo o IBGE, com densidade demográfica
2010 de 6.031,38 hab./km² inseridos numa área de 78,987 km²
Segundo dados no Portal IBGE, o Município teve origem na Fazenda do Brejo, onde
havia um engenho de açúcar no início do século XVII. Em1729 havia um porto no Rio Sarapuí
por onde se processava o transporte de mercadorias entre a Corte e as fazendas. Entre as várias
soluções apresentadas ao governo para solucionar o problema de abastecimento de água, estava a
proposta do Engenheiro Paulo de Frontin, que teve como colaborador o Inspetor Geral de Obras
Públicas, Raymundo Teixeira Belford Roxo, foi a de, em apenas seis dias, captar 15 milhões de
litros de água para a Corte.
Belford Roxo foi criado como distrito de Nova Iguaçu pelo Decreto Lei estadual 641 de
15 de dezembro de 1938. e elevado à categoria de Município através de plebiscito respaldado
pela Lei 1640 de 03 de abril de 1990 e instalado em 01 de janeiro de 1993
36

4 MATERIAL E MÉTODO
Essa pesquisa utilizou-se de uma abordagem teórico-metodológica alicerçada num tripé
argumentado nas correntes da arqueologia urbana, considerando a rápida expansão urbana pela
qual passa a região; da arqueologia da paisagem, enquanto método que permite, além de inferir
sobre a escala da unidade, propor, para as estruturas localizadas no espaço, um correspondente
temporal e, compreender a apropriação do meio a partir das transformações identificadas e da
arqueologia pública, que apresenta sua importância diante de um público formado por uma
população que tem sua origem em diversas regiões do Brasil, o que por esse motivo, já demanda
informações sobre o local. A Arqueologia Pública, ainda tem a função de buscar mobilizar os
diversos tipos de recursos voltados a atrair a atenção dos diversos atores que agem nos locais e
provocar a discussão com vistas a um plano de gestão do patrimônio cultural arqueológico
evidenciado, garantindo sua preservação.
Os principais aspectos da metodologia estão compreendidos em quatro processos
descritos em métodos e materiais constituídos por um levantamento bibliográfico, entendido
como o mapeamento da informação produzida e preservada pelos grupos do passado e
contemporâneo, organizando um conjunto de textos históricos e atuais distribuídos em fontes
primárias e fontes secundárias que, além de fornecerem o conteúdo para esse trabalho serão
disponibilizados ao público interessado, possibilitando novas análises dos materiais levantados e
avaliação desta pesquisa. Desta forma, as fontes primárias se caracterizam por textos
manuscritos ou em raros casos, datilografados, mapas e plantas topográficas e fotografias,
versando e retratando o espaço em referência no período que se estende do século XVIII ao XX,
cujo conteúdo informacional, foi selecionado em função do tema e objetivo do estudo. Foram
localizadas nas bases de dados da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional e do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, tendo sido consultados também, o Arquivo da Cúria
de Nova Iguaçu, o Serviço Geográfico do Exército, o Arquivo Histórico do Exército e o Arquivo
Público do Estado do Rio de Janeiro. As fontes secundárias constituem publicações de
pesquisadores que atuaram e/ou atuam na área, abordando algum tema relacionado com esta
pesquisa e potencializaram, intelectualmente, o estudo com o conhecimento coletivo produzidos,
através de um conjunto de artigos e livros que poderão ser consultados por outros que vierem a
ter acesso a esse trabalho. Também foram consultados os bancos de dados do IPHAN, do IBGE
e do Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB.
O levantamento bibliográfico muniu o trabalho com uma perspectiva a médio e longo
prazos, capaz de gerar novos estudos arqueológicos sobre o território em comento e trazer novas
informações sobre o período histórico, até aqui, historiografado em fatos pontuados com datas
37

específicas e isoladas sem uma cadeia temporal constituída de causas e consequências. O


material bibliográfico apurado foi capaz de mostrar o processo de ocupação do território
abrangido pelos limites físicos estabelecidos acima e fornecer base para que se compreenda, em
detalhes, etapas que podem ser definidas em período de tempo. Com esse procedimento, foi
recuperada uma cartografia histórica com grande conteúdo informativo sobre o espaço, capaz de,
por si só, esclarecer dúvidas e fornecer informações sobre a área estudada. Pela cartografia
histórica foi possível identificar espaços que, hoje, constituem-se em sítios arqueológicos
históricos a serem localizados e fortalecem a hipótese de que muitos caminhos históricos da
região em apreço, foram sobrepostos a uma rede viária construída no período pré-colonial. O
mapa foi inserido, no estudo, como uma categoria dentro das fontes iconográficas, pois carregam
junto de si, além de informações de localização e descrição do meio, razões que passam
despercebidas para a maioria dos leitores, mas que, inseridas no processo histórico das relações
entre classes socioeconômicas distintas, imprimem e marcam nos sujeitos em cada período
histórico a perspectiva da classe dominante (Scalzitti, 2011, p. 62). Os mapas ocupam um
importante lugar entre os recursos de que a civilização moderna pode lançar mão (Rosa, 2004, p.
04). A produção cartográfica analisada sob uma ótica histórico-geográfica, apresenta traços
culturais oriundos do pensar e do agir de seus criadores (Scalzitti, 2011, p. 60). Gomes (2004, p.
67) ao citar Jacob 10 (1998) aborda o mapa, considerando a dimensão antropológica, atenta à
especificidade dos contextos culturais, e teórica, que reflita sobre a sua natureza de objeto e os
seus poderes intelectuais e imaginários na história da cartografia. Souza (2002, p. 174) considera
a cartografia histórica, além de um exercício metodológico interdisciplinar pelo fato da mesma
cumprir uma função de relevância comunitária porque aumenta o conhecimento sobre os
territórios.
Outro documento localizado com potencial de informação foram os inventários,
constituídos por intensas demonstrações do tipo de consumo doméstico praticado e as
características dos bens pessoais na área de abrangência desse estudo. Ainda no item
levantamento, os decretos e leis publicados, principalmente na segunda metade do século XIX e
primeira do XX forneceram conhecimentos sobre os limites do espaço de estudo, antes
desconhecido das autoridades locais e do público em geral.
A entrevista foi outro recurso utilizado para observar a percepção dos envolvidos na
preservação do patrimônio arqueológico no espaço estudado, após ser aprovada pelo Comitê de
Ética, através da Plataforma Brasil, conforme comprovante nº 045019/2016, versão: 1, CAAE:

10
JACOB, Christian. “Book review of Mapping an empire”. Imago Mundi, v.50, p.213-214, 1998 .
38

56219316.1.0000.5582, e aplicada a partir de duas abordagens, onde a primeira foi caracterizada


por um conjunto de perguntas feitas, diretamente ao entrevistado, tendo como referência a
atuação do mesmo na área ou entorno dela e visou acrescentar a sua visão, em relação à
ocupação do espaço, desde o período pré-colonial. A segunda, feita através de um formulário,
cuja cópia encontra-se, anexada, tendo sido eleito como público alvo, profissionais que atuaram
e/ou atuam na área da educação, cultura e ambiente com exercício no espaço. Essa etapa teve a
função de buscar informações sobre como é percebido o patrimônio arqueológico entre esses
grupos e de que maneira entendem a preservação do mesmo. As questões se basearam em três
itens básicos, com a finalidade de provocar o discurso do entrevistado sobre o patrimônio
arqueológico. Foi considerado o princípio, em função do qual, o questionário é um instrumento
de pesquisa constituído por uma série de questões que abordam um determinado tema, definiu-se
o mesmo como uma técnica de pesquisa a ser utilizada nesse estudo, considerando sua utilidade
na obtenção de informações sobre opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas,
situações vivenciadas ou ainda para descrever as características e medir determinadas variáveis
(VIEIRA, 2009, p. 118). Teve como categoria o patrimônio cultural arqueológico, inserido na
perspectiva de patrimônio cultural e optou-se por um conjunto ordenado de questões abertas,
apresentado e respondido por escrito. Procurou-se direcionar a informação desejada em
perguntas específicas que fossem padrão, porém flexíveis o bastante para serem adequadas a
cada entrevistado, visto que o tema abordado tem um amplo alcance de atividades, e buscou a
elaboração do mesmo de maneira a minimizar os erros nas respostas. Dessa forma, chegou-se
num formulário base, cuja função foi orientar a abordagem a cada entrevistado ou grupo de
entrevistados, considerando que, cada um ou tipo, foi questionado na relação que seu trabalho
estabelece com o patrimônio arqueológico. Desta forma, um (a) professor (a) de educação física
que desenvolve atividades culturais alicerçadas no patrimônio cultural teve sua entrevista
executada a partir do formulário padrão, porém reorganizado de forma específica ao trabalho
verificado e buscando saber se o patrimônio cultural arqueológico estava presente no
planejamento daquelas atividades ou se era usado de forma inconsciente, ou seja, usava o bem
sem saber da importância. Se estava disposta ou disposto a incluir o patrimônio em suas
atividades.
Visto que, as entrevistas não estruturadas, na qual o entrevistador não possui um
conjunto especificado de questões e nem as questões são perguntadas numa ordem específica
dando, ao mesmo, grande liberdade de ação para incursionar por vários assuntos e testar várias
hipóteses durante o curso da entrevista (OLIVEIRA, 2011, p. 36; LAVILLE e DIONNE, 1999,
p. 186-188), optou-se por essa forma de aplicação do formulário. As questões abertas foram
39

escolhidas por não sugerirem qualquer tipo de resposta e são dadas pelas palavras do
respondente e admitirem respostas diferentes entre os pesquisados, em função de sua experiência
e opinião e deixar o entrevistado pesquisado à vontade para responder livremente às perguntas
(OLIVEIRA, 2011, p. 35-36), o que permitiu conhecer mais a fundo, ações desenvolvidas pelos
agentes pesquisados. Embora, possibilite a obtenção de informações de um grande número de
pessoas, mesmo que estejam dispersas numa área geográfica extensa, a proposta do questionário
foi alcançar, apenas, os profissionais que atuassem na campo educacional, cultural e ambiental,
e decidiu-se, apenas direcionar aos que, de alguma forma, abordassem o patrimônio cultural e
não teve fim estatístico. O formulário foi elaborado usando palavras simples e comuns que
estejam de acordo com o perfil do vocabulário técnico do entrevistado, evitando complexidade e
visando conhecer a identidade e o trabalho do entrevistado. Foi pensado um formulário para
permitir liberdade ao desenvolvimento da entrevista em cada situação, desta forma, evitando a
possibilidade do entrevistado ser influenciado, de maneira consciente ou não, pelo entrevistador.
Selecionou-se dois grupos de pesquisa, um formado por profissionais que atuam na área
e outra por instituições que agregam as atividades desenvolvidas pelos profissionais. Assim a
educação, a cultura e o ambiente foram escolhidas como instituições e os profissionais
associados a elas em função da atividade de cada um. A um grupo de entrevistados foi aplicado
diretamente e, a outro, indiretamente, através do envio do formulário que foi respondido sem a
interferência do entrevistador evitando a exposição do entrevistado à influência das opiniões e
intervenções do entrevistador. Mas, ao mesmo tempo, esse aspecto implica a ausência de ajuda
do pesquisador para o entendimento das questões. Os resultados preliminares desta abordagem
revelaram o grande potencial da mesma e ao mesmo tempo a necessidade de uma análise mais
profunda do que a inicialmente prevista. Dessa forma, optou-se por dar continuidade e maior
profundidade a esta atividade em outra pesquisa, motivo pelo qual os resultados iniciais serão
apenas brevemente comentados.
Uma terceira linha de ação foi executada pelas vistorias realizadas no campo que
envolveram a visita, descrição e documentação visual, quando "possível", do patrimônio
arqueológico e seu entorno. Foram percorridas todas as áreas do território, sendo algumas
dificultadas pelas ações do tráfico de drogas, que atuam criando barreiras de entrada.
Para a realização deste trabalho, a agricultura, que de um lado, é uma das atividades de
risco ao patrimônio arqueológico, de outro, serviu de apoio à sua preservação, quando as técnicas
agrícolas puderam ser compartilhadas com a observação arqueológica. Isso foi possível quando
percebi que as atividades agrárias poderiam ser utilizadas pelo trabalho arqueológico através de
duas maneiras. Uma, através da utilização das intervenções que as técnicas agrícolas fazem no
40

solo na execução de seus projetos. A outra, através do acompanhamento do produtor rural no


seu dia a dia e a utilização desta relação para o estabelecimento de um diálogo voltado ao
patrimônio arqueológico, em muitas vezes, presente, no meio de suas plantações ou quintal de
sua casa. Esse discurso favorece a transferência de conhecimento em duas vias, pois leva
informação e traz informações importantes sobre sítios arqueológicos, visto que embora não
tenham conhecimento técnico sobre o tema, sabem onde se encontram as estruturas. Nesse
momento, as histórias de assombração e outras como "eu sei onde tem mandioca com sementes",
sempre levam a um sítio arqueológico. No que tange à técnica agrícola, propriamente dita, a
primeira atividade que cito é o teste de infiltração da água no solo, cujo propósito é a irrigação
agrícola, através de observações feitas para avaliação simples, sem aparelhos. Tal procedimento
envolve a abertura de frinchas; pequenos retângulos, de 40/50cm de comprimento, por 15/20 cm
de largura, por 20/30 de profundidade, onde é depositada a água e observada a velocidade de
infiltração da mesma no solo. Esse recurso, favorece a procura de vestígio arqueológico, uma
vez que nesse processo é possível encontrar o estrato contendo o registro arqueológico pela
observação do solo a cada 5 cm, por exemplo.
Outro procedimento agrícola compatibilizado com a arqueologia é a abertura de covas
para cercamento de área, onde são abertos buracos em torno de 15/25 cm de diâmetro conforme
o propósito, por 60/70 cm de profundidade, destinado à implantação de mourões. Nessa
atividade é verificado cada estrato de 10 cm visualizado, em busca de vestígio arqueológico.
Com esse procedimento, foi possível observar manchas isoladas no solo que sugerem alterações
pela ação humana em duas formas, uma positiva, onde o tipo de solo é condicionado à
edafogênese, ou seja à rocha matriz, com características peculiares distintas do seu entorno,
sugerindo uma técnica agrícola pretérita adequada, e outra negativa, onde as características
superficiais do solo são claramente atribuídas às técnicas agrícolas inadequadas, resultando em
sua destruição. Esse procedimento foi utilizado em três área dentro do espaço do estudo: na
Fazenda São Pedro (Nova Iguaçu), Fazenda Normandia (Japeri), no Projeto de Assentamento
Mutirão da Fé (Queimados/Japeri) e Fazenda Paes Leme (Japeri/Miguel Pereira), onde o
procedimento teve por fim a localização de sítios arqueológicos do período pré-colonial.
Foi considerada, também, a abertura de buracos para construções e instalações rurais
destinadas às sapatas de concreto que alcançam 1¹/² (um metro e meio) largura por 1¹/² de
comprimento por 2 de profundidade, conforme o caso. Nesse momento, tais atividades, são
acompanhadas, rigorosamente, buscando identificar estratos de 15/20 cm em busca de vestígios
arqueológicos. Considero importante abordar as observações feitas na abertura de cavas para
construção de residências e instalações rurais, como currais e pocilgas, entre outras, nos
41

municípios citados. Desta forma, a terraplanagem destinada às residências e instalações rurais,


são visitadas com o objetivo de verificar a presença de artefatos. Essa prática é utilizada,
também, para observar a abertura de estradas e caminhos, seja por parte dos produtores rurais,
seja por parte do Serviço Público.

Fotos 1 e 2. Sítio Fazenda Paes Leme I - Abertura de um buraco de sapata para alicerce de casa sobre o sítio,
descobriu a cerâmica histórica utilizada na arquitetura local. Fonte: José Mauricio.

Esse tipo de procedimento é comum em sítios arqueológicos históricos, na região, e


exibe o grau de destruição do sítio, que trouxe à tona informações importantes sobre a
arquitetura histórica local.

Fotos 3- 4- Sítio Fazenda Paes Leme I - Cerâmica descoberta a partir de uma sapata para construção de casa sobre o
sítio. Fonte: José Mauricio.
O caso acima, foi uma construção no Lote 63 A-B da Fazenda Paes Leme 11 onde se
encontra o sítio histórico Fazenda Paes Leme I.

11
A Fazenda Paes Leme é um próprio do Estado do Rio de Janeiro, dividida em 68 lotes, destinada ao Programa
Nacional de Reforma Agrária e implantação da Agricultura Familiar e, se localiza entre os kilômetros 13 e 19,5 da
RJ 125, que liga a Rodovia Presidente Dutra a Miguel Pereira e Paty do Alferes.
42

Outro exemplo dessa natureza pode ser citado pela construção do galpão multiuso da
Fazenda Normandia 12, destinado à sede daquela unidade fundiária onde se encontram dois sítios
arqueológicos.

Foto 5-6 - Construção do Galpão Multi Uso da Fazenda Normandia. Fonte: José Mauricio.

A área de construção do Galpão Normandia foi até a década de 1980, espaço de cultivo
do arroz irrigado e o acompanhamento das obras foi feito com o intuito de localizar sítios
arqueológicos do período pré colonial.
A metodologia de trabalho contou, ainda, um sistema de caminhamento, caracterizado
por caminhadas orientadas em faixas lineares de aproximadamente 50 metros de largura (25
metros de raio) para percorrer os espaços com cobertura vegetal intensa, o que dificulta a
visualização de estruturas arqueológicas na superfície do terreno.
As caminhadas foram usadas também, nas margens dos corpos d`água existentes o que
favoreceu a localização de sítios arqueológicos históricos. Um exemplo pode ser citado na
Fazenda Paes Leme, que ao vistoriar mananciais hídricos, localizou-se sítios arqueológicos
históricos, fora do perímetro da Fazenda, acima da chamada Cota 100 (100 metros de altitude).
Outras caminhadas estão previstas subindo o Rio D`Ouro, onde pela observação da cartografia
histórica levantada, sítios arqueológicos históricos serão encontrados.
Outro recurso utilizado, foi o questionamento junto a produtores rurais sobre alguma
"coisa" encontrada no solo, durante o trabalho agrícola. Essa prática resultou na localização de
uma localidade chamada Santa Tereza, e um marco topográfico, retirado durante os trabalhos de
implantação das Linhas de Transmissão Elétrica de Furnas, quando atuou na região. Esse
exemplo foi acontecido no Lote 46 A-B, localizado na Estrada Jaceruba/Japeri, parcela agrária

12
A Fazenda Normandia é um próprio do Estado do Rio de Janeiro, dividida em 27 lotes, destinada ao Programa
Nacional de Reforma Agrária e implantação da Agricultura Familiar, localizada na Estrada das Jaqueiras, Lote 15,
Santa Inês, Japeri, RJ. Foi atravessada pelo Arco Metropolitano em 4 de seus lotes, reduzindo seu tamanho e área de
cultivo e confronta-se com o Rio São Pedro até a confluência com o Rio Guandu.
43

da Fazenda São Pedro, Município de Nova Iguaçu. Essa localidade, ainda não teve um registro
arqueológico associado a ela.
As caminhadas orientadas, definidas a partir de hipótese elaboradas, com referência na
previsão da ocupação sociocultural local, considerando um marco histórico, pode ser
exemplificadas pela sesmaria doada a Inacio Dias Velho em 1743, e que tinha o Caminho Novo
do Tinguá como testada a Leste, ainda não resultaram na localização da primeira construção
edificada em Japeri. No entanto é sugerido que tal construção, daquela unidade fundiária, esteja
nas margens do Caminho das Minas, próximo ao Rio Santo Antonio. A área é densamente
coberta com vegetação tropical e requer incursões intensas de no mínimo três dias no interior da
floresta, o que para o momento, não foi possível executar. A presença de sítios arqueológicos nas
vertentes dos rios São Pedro e Santana em direção ao Guandu, confirmam essa ideia.
A cartografia histórica, encontrada no levantamento bibliográfico, tem sido outra aliada
na localização de sítios arqueológicos históricos. Através de caminhadas orientadas a partir
daquela documentação, foi possível identificar a ocupação do espaço em áreas, antes
desconsideradas no campo arqueológico e foram testadas em dois lugares, indicados na "Planta
Corográfica de Huma Parte da Provincia do Rio de Janeiro na qual se inclue a Imperial
Fazenda de Santa cruz de 1848". Uma, em Campo Alegre, Queimados/Nova Iguaçu e, outra no
Rio Santo Antonio, Japeri. Campo Alegre é situado na Bacia do Rio Guandu e conforme a planta
histórica, em referência, se apresenta, em uma parte, com terras baixas, inundáveis e outra parte,
mais elevada em colinas em forma de "meia laranja" onde existiu um engenho com esse nome.
Até o momento não foi possível localizar tal estrutura arqueológica em suas terras que formam
um projeto de assentamento agrário, desde 1984, voltado ao Programa Nacional de Reforma
Agrária, que já teve uma área com 3000 ha. O local sofre uma grande pressão da urbanização
manifestada pela criação de espaços de condomínios residencias de diversos tipos, condomínio
industrial, no Município de Queimados e área de lazer. Em várias incursões de campo, tentou-se
localizar as ruínas do Engenho Campo Alegre, mas até o momento não foi possível. A maioria
dos moradores do assentamento rural são recentes e não portam informações antigas sobre a
área, o que dificulta a localização. Apontam para uma olaria, como sendo uma construção antiga,
mas trata-se de uma área de difícil acesso, considerando o alto grau de violência provocado por
ações do tráfico de drogas. O poder político local faz pressão para a retirada de moradores
visando a implantação de indústrias. Cumpre lembrar que essa informação sobre a área é de
grande valia, principalmente no processo de regularização fundiária do Assentamento Rural de
Campo Alegre, conhecido como Mutirão de Campo Alegre, onde o Estado do Rio de Janeiro,
44

considera o loteamento da década de 1940 como referência documental para a unidade agrária. O
loteamento não mostra a cadeia de propriedade das terras no tempo.
Outra referência importante visto na cartografia histórica é a indicação do Morgado do
Marapicu, facilitando um local de busca, porém trata-se de uma área que apresenta dificuldades
para as caminhadas em função dos motivos já apresentados.

Figura 9 - Planta Corographica da Provincia do rio de Janeiro - Imperial Fazenda de Santa Cruz .
Biblioteca nacional - Setor de Cartografia - ARC 025, 07, 16. Fonte: Amauri Telles.
45

5 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO

Foto 7- Igreja de Nossa Senhora da Piedade. Autor desconhecido e sem referência de data. Sugiro que
sua construção tenha se dado sobre uma aldeia. Fonte: Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Tinguá
e Amigos do Patrimônio.

A História de ocupação do espaço em destaque está diretamente ligada à ocupação do


território sobre o qual se criou o Brasil, especificamente, à faixa litorânea.
Trata-se de um ambiente tropical formado sobre um trecho de uma extensa e alongada
baixada litorânea e de amplas superfícies aplainadas apresentando áreas de relevo mais
movimentado cortada por rios e limitadas por serras íngremes que, por si só, formam
uma paisagem que deve ser levada em consideração no estudo das ocupações na área do
Rio de Janeiro (BELTRÃO, 2ª ed. 2015, p. 65 citando MAGALHÕES, 1974).

Esse espaço está inserido na Planície Fluviomarinha (Baixada) que compõe o litoral
fluminense, palco de diversas ocorrências culturais por milhares de anos. Essa planície tem um
ecossistema diversificado, onde a restinga e o mangue, são exaltados em função da importância
que tiveram para as populações do período pré-colonial. A restinga é uma planície arenosa
costeira, de origem marinha, incluindo a praia, cordões arenosos, depressões entre-cordões,
dunas e margem de lagunas, com vegetação adaptada às condições ambientais (CAMPOS, 2017,
p. 01). Com feição linear subparalela à linha de praia, formada pelo acúmulo de sedimentos
decorrente da ação de processos marinhos, constitui-se num tipo de barreira costeira que se
restringe apenas ao cordão litorâneo que fecha parcialmente as embocaduras de rios, as angras,
baías ou pequenas lagunas. Ocorre nas planícies litorâneas de contorno irregular, nas
proximidades de desembocaduras de rios e falésias que possam fornecer sedimentos arenosos
(IBGE, Manual Técnico de Geomorfologia, 2009).
46

Esse meio favorece um aspecto importante no cotidiano de grupos do período pré-


colonial referente à obtenção de sua dieta alimentar. Para Prous (1992, p. 199):
As culturas litorâneas, apresentam uma certa unidade em razão da adaptação a um meio
ambiente muito particular e do aparente isolamento em relação às terras interioranas,
das quais são separadas por uma barreira montanhosa quase contínua. Em consequência
de uma geologia e de uma ecologia homogêneas, a economia e a tecnologia básicas
evidenciam numerosos pontos de convergência, o que não impede que fácies culturais
diversas tenham se desenvolvido no espaço e no tempo.

A ocupação foi iniciada pelos sambaquieiros que costumavam se instalar na restinga,


nas proximidades de outras formações vegetais, especialmente o mangue e as florestas costeiras (
SCHEEL-YBERT, 2003, p. 02). O mangue esta localizado na sua linha da costa, que sobe alguns
kilômetros desde a boca dos rios até a altura em que as águas salgadas do mar deixam de invadir
as águas doces dos rios (Heredia e Beltrão, 1979, p. 04). É o principal ecossistema da fisiografia
regional onde assentam os sambaquis. O Manguezal é um ecossistema costeiro, de transição
entre os ambientes terrestres e marinho, sujeito ao regime de marés. Pode ser definido como
exposto em "Registro de mangue em um sambaqui de pequeno porte do litoral sul de Santa
Catarina, Brasil, a cerca de 4.900 anos cal BP, e considerações sobre o processo de ocupação do
sítio Encantada III" (SCHEEL-YBERT, BIANCHINI e DE BLASIS, 2009, p. 104; e
SCHAEFFER-NOVELLI, 2000, p. 562):
Uma floresta de árvores xerófilas adaptadas a um substrato lamoso constantemente
úmido, pouco oxigenado, com forte taxa de salinidade e periodicamente inundado, que
ocorrem em regiões costeiras abrigadas e apresenta condições propícias para
alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo justamente isto o
que o torna tão importante para diversas populações humanas.
Atualmente os manguezais se distribuem essencialmente na zona intertropical. Nas
costas orientais da América, sua área de ocorrência se estende das ilhas Bermudas (32º
25' de latitude norte) a Laguna, no Estado de Santa Catarina (28º 30' de latitude sul).
As principais espécies de mangue pertencem aos gêneros Rhizophora, Avicennia e
Laguncularia.

Se o litoral do Rio de Janeiro foi ocupado pelos sambaquieiros há milhares de anos, com
datas que remontam há 4.250 anos BP (GASPAR; KLOKLER; SCHEEL-YBERT; BIANCHINI,
2013 p. 11, citando PINTO, 2009) para o Sítio Amourins, localizado a 5 km do fundo Baia da
Guanabara, na Fazenda Santa Rita de Cássia, na margem esquerda do rio Guapimirim (SOUZA,
LIRYO, BIANCHINI e GASPAR, 2012, p. 86), ainda há que se estabelecer uma data para o
início da ocupação da região fisiográfica referenciada no polígono formado pelos rios Iguaçu,
Santana, Guandu e os maciços do Tinguá e Mendanha. Não é minha pretensão discutir o
sambaqui, mas reconhecê-lo, enquanto um bem patrimonial arqueológico e descrevê-lo com base
nos resultados das pesquisas que vêm sendo feitas, e que trazem cada vez mais, informações que
tornam esse patrimônio comparável a todos os outros existentes no mundo, até mesmo com as
47

pirâmides do Egito. Entre os sambaquis próximos, e pesquisados recentemente, retorno ao


sambaqui do Amourins, cujo estudo inicial se deu final da década de 1970 e à época foi
interpretado como um acúmulo de refugos alimentícios, tendo recebido pouca atenção na
associação entre sepultamentos e artefatos ósseos e líticos (GASPAR, KLOKLER, SCHEEL-
YBERT e BIANCHINI, 2013, p.07). Em 2010 iniciou novas pesquisas de campo, comparando
os resultados com os dados levantados em 1980, percebendo a ocorrência de um padrão
construtivo relacionado ao tratamento dos mortos que confere grande semelhança com os
monumentais sambaquis do sul do Brasil (GASPAR, KLOKLER, SCHEEL-YBERT e
BIANCHINI, 2013, p.17). O estudo do sambaqui do Amourins integra o projeto de pesquisa
"Sambaquis médios, grandes e monumentais: estudo sobre dimensões dos sítios arqueológicos e
seu significado social" - Sambaquis MGM, (SOUZA; LIRYO; BIANCHINI e GASPAR, 2012,
p. 86). Outros sítios do tipo sambaqui na região do recôncavo da Baia da Guanabara já vêm
sendo estudados desde as décadas de 1980 e 1990, como o Sernambetiba, Vale das Pedrinha,
Arapuan e Saracuruna (SOUZA, LIRYO, BIANCHINI e GASPAR, 2012, p. 86). Trata-se de
sítios vizinhos à área desse estudo que apresenta, até agora, apenas um sambaqui, identificado
como fluvial, considerando que estes sítios, podem ocorrer, também, nas margens de rios,
embora de proporções menores, compostos por conchas de gastrópodes terrestres do gênero
Megalobulimus spp. (PLENS, 2013, p. 03-04). Temos um localizado em Belford Roxo,
pesquisado na década de 1970, porém, a exemplo do Amourins, precisa ser pesquisado com a
ótica que se tem hoje sobre esses monumentos arqueológicos.
Não descarto a possibilidade de ocupação do espaço por parte desses povos caçadores-
coletores-pescadores, porém a depredação ambiental provocada pela urbanização da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, sobretudo, nas últimas décadas, destruiu grandes extensões da
camada superficial e sub superficial do solo, destinadas à construção civil, o que pode ter levado
à destruição desses sítios arqueológicos. Sem dizer da própria ação de ocupação do espaço pelos
europeus a partir do período histórico. Acredito que a intensificação dos estudos na área aqui
tratada, será capaz de produzir maiores informações sobre o período pré-colonial nesse espaço
físico. Silveira (2001, p. 6), chama a atenção sobre a preservação desse patrimônio arqueológico,
no Rio de Janeiro, onde a especulação imobiliária tem sido uma das principais causas de
destruição dos sítios arqueológicos, principalmente por se situarem no litoral com forte apelo
turístico. A região não guarda, praticamente nada, na memória de sua população sobre esse
primeiro processo de apropriação do meio por parte dos grupos sociais. Os sambaquis não são
conhecidos da grande maioria da população que não tem como dimensionar seu valor em função
desse desconhecimento. Por outro lado, as pesquisas têm mostrado que a vegetação teve peso,
48

muito importante, na economia daqueles povos, tendo sido a coleta de produtos vegetais muito
mais importante para a alimentação dos sambaquieiros do que o considerado até o final da
década de 1990 (SCHEEL-YBERT, 1999, p. 56), o que considero, em função da proximidade, o
espaço compreendido pelos rios Iguaçu, Santana e Guandu e os maciços do Tinguá e Mendanha,
no mínimo, como palco de exploração vegetal por aquela gente.

Desde o final do século XIX os sambaquis têm despertado grande interesse e gerado
muita discussão sobre seu papel, como indicadores de flutuações do nível médio do
mar, pois seu posicionamento no litoral, potencialmente, permitiria uma correlação com
antigas linhas de costa, de onde foram coletados os moluscos que os compões
(SCHEEL-YBERT; AFONSO; BARBOSA-GUIMARÃES; GASPAR; YBERT, 2009,
p. 3).
O meio ambiente no qual viviam as populações pré-históricas e sua dieta sempre
estiveram entre as principais preocupações dos arqueólogos, mas a má conservação dos restos
vegetais na maioria dos sítios arqueológicos não permitia uma abordagem direta destes aspectos
(SCHEEL-YBERT, 2003, p. 01). Os homens dos sambaquis, do mesmo modo que outros povos
caçadores-coletores, viveram em comunhão com seu ambiente e possuíam uma percepção aguda
(e vital) dos recursos naturais em uma interação dinâmica com seu meio (FIGUTI, 1993, p. 67).
No Brasil os vestígios vegetais eram pouco considerados junto à pesquisa arqueológica, até
1990:

A possibilidade de uso dos recursos vegetais no cotidiano de grupos pré-históricos era


deduzida indiretamente de inferências baseadas em artefatos líticos funcionalmente
associados ao processamento de vegetais (BIANCHINI, SCHEEL-YBERT E GASPAR,
2007, p. 224).

Coquinhos, sementes e fragmentos de tubérculos estão entre os vestígios encontrados.


Todos os tubérculos são de monocotiledôneas e embora não sejam abundantes, ocorrem em
todos os sítios pesquisados (SCHEEL-YBERT; EGGERS; WESOLOWSKI; PETRONILHO;
BOYADJIAN; DEBLASIS; BARBOSA-GUIMARÃES; GASPAR, 2003, p. 119). Conforme
SCHEEL-YBERT (2003, p. 04, 05):
A grande diversidade de tubérculos encontrada, os solos pobres da restinga e a ausência
de indícios claros da existência de plantas domesticadas nos incitam a excluir a hipótese
de uma agricultura bem estabelecida na sociedade sambaquieira. No entanto, os dados
atuais são coerentes com a prática de manejo ou de horticultura. A verificação destas
hipóteses depende de um maior investimento em pesquisas arqueobotânicas. Somente
um aprofundamento das análises antracológicas e de macro-restos vegetais, e
especialmente o estudo de grãos de amido e fitólitos, poderia fornecer dados suficientes
para esclarecer esta questão.

É cada vez mais admitido que as plantas tiveram grande importância na dieta dos
sambaquieiros, (SCHEEL-YBERT, 2013, p.64-65), também o uso de madeira, seja para as
atividades cotidianas, seja para o fogo, considerando a importância que esse elemento tinha para
esses povos.
49

A principal atividade de subsistência dos sambaquieiros era a pesca, complementada


pela coleta de vegetais e moluscos, sendo o cuidado com os mortos um aspecto da vida social de
suma importância (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO E ESCÓRCIO, 2007, p. 170).
A Antracologia é a especialidade científica que tem como objeto de estudo os restos
vegetais carbonizados e conservados no sedimento, cuja importância se faz pela capacidade de
reconstituição da paisagem do entorno de áreas de habitação, do paleoambiente e da área de
captação de recursos (SCHEEL-YBERT, 2013, p. 195). Conforme diz SCHEEL-YBERT (1999,
p. 43):
A antracologia foi aplicada pela primeira vez à arqueologia brasileira no estudo de sete
sambaquis do litoral sudeste do Estado do Rio de Janeiro. Nossos objetivos principais
foram: 1) a reconstituição da evolução paleoambiental e paleoclimática da região e a
avaliação das interrelações entre ocupação humana e meio ambiente, procurando uma
eventual influência antrópica sobre o meio e/ou uma possível influência do ambiente
sobre populações; e 2) a obtenção de informações paleoetnológicas referentes à
utilização de vegetais pelos sambaquieiros.

Pelos estudos antracológicos desenvolvidos no litoral brasileiro, em especial no


fluminense, concluo que a apropriação do meio pelas populações humanas decorre de longas
datas e que o domínio do cultivo não se deu na ruptura de um sistema sociocultural por outro,
mas através de um aprendizado conquistado durante milhares de anos e transferido entre as
gerações e populações.
Assim, as pesquisas que vêm sendo executadas na faixa de terra litorânea podem
colaborar na elaboração de hipóteses para o espaço territorial deste estudo. Considerando a
bibliografia lida sobre o tema, posso dizer que o sambaqui é um monumento arqueológico, cuja
base construtiva é a concha de moluscos, o que implica no fato de que as diversas camadas que o
compõem, representam, não apenas ocupações sucessivas do local (GASPAR; DE BLASIS,
1992, p. 813), que tradicionalmente foram considerados vestígios da alimentação de grupos
humanos, mas que, atualmente, são considerados edificações intencionalmente construídas e de
forma monumental. Tratam-se de estruturas coliniformes, apresentando-se, semi-esféricos,
cônicos, alongados, achatados (LIMA, 1999/2000, p. 271), de dimensões variadas, tendo em
média de dois a três metros de altura mas, podendo alcançar até trinta metros de altura por 400
de comprimento (Silveira, 2001, p.05), cujo sedimento apresenta mais de 80 por cento de seu
conteúdo composto por conchas de moluscos bivalves (FIGUTI, 1993, p. 67, citando GARCIA,
1972), podendo ter areia ou terra em sua composição. A origem da palavra é tupi-guarani: tamba
- conchas e qui - monte. Tem como sinônimo o termo Sernambi, que significa, segundo o autor,
casqueiro, ostreiro, (SOUZA, 1997).
50

Barbosa (2000, p. 205) considerou que os grupos de caçadores-coletores-pescadores tivessem


sua própria maneira de pensar e ordenar o espaço desde o residencial até o ambiental, o que para
a autora, seria um marcador cultural, distinguindo-os enquanto sistema sociocultural.

Durante tempo foram considerados similares aos sítios dinamarqueses denominados


kökkenmöddingers, tidos, inicialmente, como formados naturalmente, mas que após
escavações ficou constatada a ação antrópica naquele tipo de sítio, o que teria levado
Peter Lund, no Brasil, declarar evidente que as acumulações de conchas existentes no
litoral brasileiro serem produzidos pela presença humana ( LANGER, 2001, p. 36).

Até as décadas de 1970 e 1980 eram interpretados como consequência do descarte


alimentar, particularmente, conchas e os povos que os formavam tratados como grupos coletores
de moluscos, pescadores e caçadores secundários que formaram, através do tempo, montículos
com os refugos de comida, particularmente, conchas (HEREDIA e BELTRÃO, 1979, p. 01).
Nessa concepção de causalidade, reside a ideia de desordem espacial, de empilhamento a partir
de um processo de descarte, onde sambaqui é sinônimo de lixo, primordialmente de rejeito de
restos alimentares, sujo, desordenado e unifuncional (GUIMARÃES, 2003, p. 03).
Posteriormente, foram utilizadas novas abordagens embasadas por teorias provenientes da
Ecologia Cultural e da Antropologia que possibilitaram a elaboração de outros modelos
interpretativos para entender o povoamento do litoral brasileiro (TENÓRIO, 2004, p. 169). Os
sambaquis passam a ser interpretados não mais como, apenas acúmulo casual de restos
arqueológicos, mas como resultado de um processo intencional de construção de uma estrutura,
para a qual podemos perceber múltiplos usos (GASPAR; DE BLASIS, 1992, p. 811). A ideia de
que o sítio seja consequência acidental de atividade humana sem considerá-lo em si mesmo,
como produto da ação cultural, foi descartada e o sambaqui passa a ser pensado enquanto um
artefato, construído paulatinamente pelos indivíduos que o ocuparam (GASPAR e DE BLASIS,
1992, p. 813). Para Silveira (2001, p. 5), a cultura sambaquieira no Brasil não se constitui em
fenômeno isolado, visto que testemunhos semelhantes são encontrados também em diversas
partes do mundo como Europa, Ásia, América, África e Austrália. O projeto de construção de
sambaquis estava intrinsecamente relacionado com o ritual funerário. Para o mortos foi criado
local especial que se destaca na paisagem e distingue de todos os outros (GASPAR; BUARQUE;
CORDEIRO E ESCÓRCIO, 2007, p. 177). Segundo Mendonça (2010, p. 163), baseado em
evidências arqueológicas:
Os montes de conchas brasileiros (sambaquis) foram, geralmente pensados para
representar uma transição demográfica que se seguiu à expansão da população
pescadora-coletora ao longo da costa, depois do Holoceno Médio, movendo-se em
direção a uma pré-agricultura de subsistência e mais sedentária. Segundo a autora,
alternativamente, isto pode ser considerado como o resultado, tanto do aumento da
visibilidade proporcionada por este tipo de montículo de sepultamento, como pela
preservação proporcionada pela matriz das conchas.
51

O sambaqui representa uma tradição cultural pré-histórica bem sucedida da costa sul-
sudeste brasileira que durou milênios (MENDONÇA, 2010, p. 163). A prática de sepultar o
morto entre restos de conchas e cinzas, ajuda a preservação de centenas de esqueletos humanos.
Segundo Madu Gaspar (2004, p.p. 09-11):

Os sambaquis são construídos basicamente com restos faunísticos como conchas,


caranguejos, ouriços, ossos de peixe e mamíferos e artefatos diversos feitos de ossos,
pedras e conchas, como pontas de flechas, dentes perfurados machados de pedra,
martelos, lascas de pedras, entre outros objetos feitos para a facilitação do cotidiano dos
grupos. Ocorrem também frutos e sementes, tipo coquinhos, sendo que determinadas
áreas dos sítios foram espaços dedicados ao ritual funerário e lá foram sepultados
homens, mulheres e crianças de diferentes idades. Contam, segundo a autora, com
inúmeros artefatos de pedra e de osso, marcas de estacas e manchas de fogueira, que
compõem uma intricada estratigrafia. Os restos que mais sobressaem na composição
dos sambaquis são as conchas de berbigão ou vôngole, cujo nome científico
Anomalocardia brasiliana, diferentes espécies de ostras, a almejoa ou Lucina pectinata e
os mariscos. Os Sambaquis são as evidência do modo de vida da população caçadora,
coletora e pescadora que os produziu. Os sambaquieiros foram o grupo que deixou a
maior quantidade e diversidade de testemunhos de sua permanência no território
brasileiro. Os materiais estão bem preservados porque, diferentemente de alguns grupos
que estavam sempre mudando de um lugar para outro ou limpando, sistematicamente o
local de moradia, os sambaquieiros habitavam durante muito tempo o mesmo local e
tinham o hábito de acumular os restos faunísticos.

Os estudos sobre a morfologia craniana, desenvolvida entre os anos de 1960 e 1980 do


século passado, foram responsáveis pelos principais resultados na reconstrução dos sambaquis e
na reconstituição física dos povos sambaquieiros (CARVALHO, LESSA, SOUZA, 2009, p. 16).
Os homens e as mulheres sambaquieiros foram baixos, mas com braços e penas fortes e
inserções musculares marcadas. As pesquisas mostram que os homens eram, pelo menos, sete
cm mais altos que as mulheres (CARVALHO, LESSA, SOUZA, 2009, p. 16).
Mudanças na estratigrafia de alguns sambaquis, com a presença de matriz terrosa, de
cor marrom escura e poucas conchas de moluscos que se sobrepõe a uma matriz conchífera
começam a ser observadas por vários pesquisadores (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e
ESCÓRCIO, 2007, p. 173). Segundo os autores, por volta de 2000 anos BP, a mudança no hábito
de construir sambaquis começam a ocorrer, período em que uma ebulição cultural ocorreu na
região Amazônica, o que teria levado a deslocamentos populacionais na Amazônia e Brasil
Central, ocasionando um rearranjo dos grupos sociais no território que veio a ser o Brasil, o que
trouxe forte impacto na vida dos sambaquieiros (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e
ESCÓRCIO, 2007, p. 171, 173). O espaço territorial formado pelo litoral fluminense, foi, então,
ocupado e dominado pelos Tupi e Macro-Jê (Idem, p. 169). Segundo Gaspar; Buarque; Cordeiro
e Escórcio, (2007, p. 170):
O Rio Paraíba do Sul, uma das rotas de acesso privilegiadas, posteriormente, pelos
ceramistas para sua dispersão pelo território fluminense, parece ter funcionado como
uma barreira natural para os caçadores que iniciaram a colonização do Brasil, embora
52

haja cadastro de alguns poucos sítios líticos que ainda não foram objeto de escavação e
que podem estar associados aos caçadores ou aos grupos ceramistas.

O Tronco Tupi é eminentemente amazônico, estando nove das famílias integrantes


localizadas na Amazônia, ao sul do Rio Amazonas e apenas a Família Tupi Guarani, estende-se
para fora desses limites [...], alcançando a costa brasileira (CORRÊA-DA-SILVA, 2010, p.63) e
outras áreas. O avanço das pesquisas vem demonstrando uma nova realidade para o período pré
colonial brasileiro, visto que Buarque (2000, p.312), atentou para o número limitado de datações
radiocarbônicas que impedia que tivéssemos dados mais consistentes quanto às primeiras
manifestações no atual Estado do Rio de Janeiro. Uma datação de Carbono 14, conseguida a
partir de uma mostra de carvão, para a Aldeia da subtradição Tupinambá de Morro Grande 13, deu
um resultado de 1.740 ± 90 anos AP. Porém, em 2008, a mesma autora publica em conjunto com
outros, novas datações para o mesmo sítio, com alcance de 3000 BP (SCHEEL-YBERT;
MACARIO; BUARQUE; ANJOS; BEAUCLAIR, 2008, p. 765), período em que o Sítio
Amourins estava em atividade, conforme datação radiocarbônica calibrada feito por Pinto em
2009 (4250-3970) e Mendonça e Godoy em 2004 (3610-3260), (GASPAR, KLOKLER,
SCHEEL-YBERT e BIANCHINI, 2013, p.11), isso mostra a ocupação do espaço litorâneo por
um outro sistema sociocultural que fez sua manifestação em todos os aspectos inerentes a uma
sociedade, dentro do território. Os Tupinambá eram populações agricultoras e ceramistas
(GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 181) e filiada ao Tronco
linguístico Tupi, conforme classificação proposta por Rodrigues (RODRIGUES, 1964 p.p. 101-
103).
O modo de ser Tupi baseia-se numa organização social flexível, um poder político
baseado no prestígio e na importância religiosa do indivíduo, e que compartilham um
mundo espiritual e ritual onde o xamanismo, a guerra e o canibalismo são noções
extremamente importantes para a construção de sua identidade. 14 A guerra, o
canibalismo e características tecnológicas inovadoras parecem ter sido elementos
decisivos na invasão e controle do território sambaquieiro (Gaspar; Buarque; Cordeiro e
Escórcio, 2007, p. 175, 181, citando Silva, 2004).

A ocupação Tupiguarani foi extremamente densa em certas regiões, como a Baia de


Guanabara, de onde tinham expulsado ou absorvido as populações anteriores (PROUS, 2007,
cap. 5, p. 98). A guerra, a captura do inimigo e o posterior festim canibal não se davam em
virtude de saciar a fome, mas para vingar os familiares e amigos mortos por outro grupo
(GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e ESCÓRCIO, 2007, p. 179). No Programa Funerário dos

13
O sítio arqueológico Morro Grande esta situado em Araruama, Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro.
9
SILVA, Andréa Fabíola; NEVES, Eduardo Góes; BLASIS, Paulo Antonio Dantas de; et al. Brasil Tupi: beleza,
rigor e dignidade : a cultura material tupi no tempo e no espaço [catálogo de exposição]. [S.l: s.n.], 2004.
53

Tupinambá em Araruama, RJ - Sítio Bananeiras (BUARQUE, CARVALHO-RODRIGUES e


SILVA, 2003, p. 40) descrevem que:
A principal evidência arqueológica desse grupo é uma cerâmica com decoração
geométrica e policrômica, ou com motivos plásticos, com variados tipos de tigelas e
urnas que serviam a funções cotidianas coletivas, como preparo e armazenagem de
alimentos, estando vinculadas também a atividades específicas relacionadas a rituais ou
troca de bens.

Cabe lembrar que, embora, constituída de elementos naturais, a cerâmica, exige, para o
seu fabrico, a existência de argila apropriadas e elementos para, nelas, serem adicionados, com
vistas a aumentar a resistência ou a plasticidade (ONDEMAR DIAS, 1998, p. 418).
No entanto, se as datações já alcançam 3000 anos para assentamentos tupi guarani, a
defesa de que essas mudanças iniciaram no começo da era cristã, precisa ser revista.
A ocupação do território dos pescadores-coletores-caçadores por volta do início da era
Cristã, a diferença tecnológica dos agricultores-ceramistas, a organização social destes
grupos com forte valorização da guerra, a prática do canibalismo e o modo de vida dos
Sambaquieiros, que não parece ter privilegiado o combate corporal para resolver os seus
conflitos, são aspectos que formaram um contexto social que tornou inviável a
manutenção do hábito de construir sambaquis (GASPAR; BUARQUE; CORDEIRO e
ESCÓRCIO, 2007, p. 182).

Os Tupinambá e Goitacá apoiavam a sua expansão na conquista do "outro" sendo a


guerra e o canibalismo a melhor expressão desse modo de vida [...] (GASPAR; BUARQUE;
CORDEIRO E ESCÓRCIO, 2007, p. 184). O Professor Ondemar Dias Junior (12-07-2017), em
exposição pessoal, atentou, para o fato de que os Goitacá não faziam guerra, mas a usavam para
a defesa do território localizado no norte fluminense. No entanto ao falar de canibalismo, entre
os Tupinambá, é importante diferenciar o tratamento dado aos de dentro do grupo, daquele
oferecido ao inimigo, cujo processo se daria no domínio simbólico, ou seja, a ingestão do
inimigo (GASPAR et al., 2007, p. 184). Em "Evidências Arqueológicas para a Origem dos Tupi-
Guarani no Leste da Amazônia, Almeida e Neves (2015, p. 503), abordando a citação de
Métraux15, expõem que a economia desse grupo era baseada na agricultura e que a mandioca era
a principal planta cultivada. Chamando a atenção para os grandes pratos planos para assar
mandioca de base diferente das demais que apresentam essa parte do vasilhame de forma
convexa ou ovalada. A mandioca, Manihot esculenta Crantz, é cultivada em todo o território
nacional (EMBRAPA, 2016) e, é a quarta mais importante cultura de produção de alimentos do
mundo e a principal na região tropical, sendo consumida por mais de 800 milhões de pessoas,
segundo a FAO (NASSAR, 2006, p. 31). Constitui-se na principal cultura agrícola explorada no
espaço estudado, com forte peso na economia doméstica, seguida pelo cultivo da batata doce, do

15
MÉTRAUX, Alfred. Migration historiques des Tupi-Guarani. Journal de la Société des Américanistes, nº 19, p. 1-
45 1927.
54

inhame e do quiabo, herdado dos africanos trazidos forçados e submetidos à escravidão. Estudos
apontam a origem da mandioca na Região Amazônica brasileira. A domesticação de plantas e
animais constituiu um dos mais importantes passos dados pela humanidade (DIAS JUNIOR,
1998, p. 411). Os Tupinambá, também se especificavam no tratamento aos mortos, sempre
associado, embora de formas diferentes, à cerâmica (RIZZARDO e SCHMITZ, 2015p. 140). A
habitação se caracterizava, conforme bibliografia histórica, consultada, especialmente, Staden
(1557, p. 135-139), pela edificação de uma cabana de mais ou menos 14 pés de altura (4 metros)
por mais ou menos 150 pés de comprimento, (45,72 metros), conforme o número de pessoas,
possui três portas, uma em cada extremidade, coberta com folhas de palmeiras e não apresenta
divisão interna. Essas cabanas, num número, raramente, superior a sete, formam uma aldeia.
Entre essa deixam pátio livre, fazem em volta das choças (cabanas) uma cerca que funciona
como fortificação. Tal cerca é feita de estacas de tronco de palmeiras rachados, cada estaca tem
mais ou menos uma braça e meia de altura. É tão cerrado (a cerca) que nenhuma flecha pode
atravessar. Porém aí existem pequenos buracos por onde atiram. Em torno dessa estacada existe
ainda outra cerca. Uma paliçada de paus grossos e compridos. Não os colocam, entretanto, junto
um do outro, mas a uma distância pela qual não pode passar um homem. Pesquisas feitas pelo
Instituto de Arqueologia Brasileira, entre 2007 e 2016, sob a coordenação do Professor Ondemar
Dias, vem mostrando que a ocupação do território estudado, também se deu pelo Rio Guandu,
provavelmente através de sua vinculação à Bacia do Rio Paraíba do Sul.
Do exposto, defendo que a ocupação do território da chamada Baixada Fluminense,
onde está incluída a área deste estudo, se deu pela apropriação e adequação ao ambiente natural,
desde a chegada dos primeiros povos, o que certamente levou à construção de paisagens que
foram sobrepostas por outros grupos que continuaram a se apropriar do ambiente e convertê-lo
em meio de vivência.
A área de estudo tem um potencial arqueológico representado pela existência de
estruturas arquitetônicas do passado local que, só no período colonial, representa uma grandeza
quantitativa que certamente resultará em outra, de mesma intensidade, qualitativa. Esse propósito
poderá constituir novas etapas de pesquisas, focalizadas em um espaço e tempo específicos, o
que pode ser exemplificado pela ideia de um levantamento arqueológico intenso na sesmaria
doada a Ignácio Dias Velho em 1743.
Analisando os sítios arqueológicos cadastrados no IPHAN, os sítios que estão para ser
cadastrados e os que poderão ser localizados a partir da documentação histórica levantada, tem-
se uma visão do processo de apropriação do meio e adaptação, pelas sociedades, ao ambiente
regional, sobretudo, no período histórico, provocando o surgimento dos traços de várias culturas
55

que, fizeram chegar, até os dias atuais, sua produção material que precisa ser resgatada,
interpretada e visualizada entre a população que ocupa, de forma complexa, o local iniciado há
milhares de anos atrás, conforme tem mostrada as pesquisa atuais.
Os trabalhos bibliográficos que fazem referência ao desenvolvimento local, no período
colonial, partem de três etapas econômicas, constituídas pela cana, café e laranja e restritas a
documentos que tratam o assunto de forma genérica, omitindo as diversas maneiras de
manifestações socioculturais, dessas etapas no espaço e no tempo, como pode ser visto em
Waldick Pereira, em seu trabalho intitulado Cana, Café e Laranja de 1977. Nesses trabalhos,
pouco ou nada falam sobre o tempo pré-colonial, deixando de fora, processos de ocupação, que
dominaram o espaço por milhares de anos. Em que pese a importância dos trabalhos, a ênfase é
dada a uma elite que não representa a grande maioria da população que agia sobre os lugares,
criando os testemunhos das atividades cotidianas que ocasionaram os artefatos e os sítios
arqueológicos, que nos dias atuais, buscamos descobrir, no espaço descrito, e que muitos, já
foram destruídos e, outros encontram-se, ameaçados. Esse vasto acervo forma um patrimônio
que precisa ser localizado, identificado e reconhecido por moradores e autoridades, com vistas à
sua valorização, estabelecendo um sistema eficaz de proteção coletiva desse conjunto de bens
culturais, de excepcional valor local, regional e, até nacional, organizado de modo permanente e
segundo métodos científicos e modernos, conforme estabelece a Convenção para a Proteção do
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, organizada pela Conferência Geral da Organização das
Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Paris, em 17 de outubro de
1972.
Dando sequência à ocupação, vieram os europeus, como invasores do território que já
possuía grupos sociais organizados e trouxeram a seguir, de forma forçada, os africanos, que
embora contrariados, se adaptaram ao espaço e agiram sobre ele, introduzindo um novo cenário à
paisagem sociocultural até então formada pelos nativos que moldaram o ambiente natural à sua
própria ideologia.
O Professor Ondemar Dias Jr. (2014), em entrevista pessoal, informou que trabalhos de
salvamento na área do Arco Metropolitano, recuperaram material cerâmico no território
japeriense que remontam à chegada dos europeus no Brasil. Acervo que ainda está em análise e
que merecem ser pesquisados intensivamente, disse.
A partir da década de 1960 foram realizadas pesquisas na região dando início ao
desvendamento das épocas Pré-Colonial e Histórica colonial. Após 1986, com a edição da
Resolução CONAMA 01/86, os empreendimentos passaram a ter obrigatoriedade na execução
do estudos e relatórios de impactos ambientais (EIA/RIMA), cujo resultado foi a descoberta e o
56

registro no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológico - CNSA de um acervo relevante, mas que
representa, apenas uma pequena parte do processo de ocupação territorial em comento,
totalizando 41 sítios identificados em levantamento prévio nos arquivos do IPHAN em quatro
dos cinco municípios a serem estudados. Mesquita não tem sítios arqueológicos registrados em
seu território.
Os municípios que margeiam o Arco Metropolitano encontram-se no meio de dois pólos
importantes para o desenvolvimento regional e até nacional: o Pólo Petroquímico de Itaboraí e o
Porto de Itaguaí. Em consequência disso é uma região em intenso processo de metropolização e
urbanização aceleradas. Nesse contexto, o acervo arqueológico precisa ser visto com outra ótica
preservacionista, valendo-se, principalmente da fiscalização intensa e efetiva. Outros inúmeros
sítios serão descobertos nos próximos anos e precisarão de atenção especial. Em Japeri, observa-
se no Bairro Vila Conceição a construção de 800 unidades habitacionais sem nenhuma referência
ao estudo arqueológico. Saber onde estão os remanescentes da pré-história e história é antes de
um objetivo, um direito de cidadania. Em Queimados, no Centro da Cidade, um sítio
arqueológico histórico foi destruído sem nenhum escrúpulo para dar lugar a um condomínio
residencial. Com o avanço da urbanização e industrialização da região, centenas de outros sítios
estão ameaçados, o que pode ser observado diariamente nos municípios abordados aqui e seus
vizinhos limítrofes.
Por um lado, percebo que o ambiente sobre o qual os grupos sociais assentaram, foi
alterado ao longo de sua chegada e permanência, o que modificou bastante a fisiografia local.
Como referência paisagística, criada e transformada, os caminhos serão tomados como exemplos
de transformação antrópica com grande potencial de ocupação e mudanças na natureza, e serão
abordados na linha da arqueologia da paisagem. Por outro lado, o processo de ocupação urbana
absorvendo o espaço rural e transformando-o em ruas, asfalto, prédio e outras edificações típicas
da cidade numa velocidade impressionante, marca uma etapa importante no consumo negativo
do patrimônio arqueológico e será visto na ótica da arqueologia urbana. Desta forma, pretendo
compreender o processo que envolve o acervo arqueológico e apresentar uma proposta que possa
colaborar e até mesmo, desencadear sua preservação. Um exemplo a ser exposto, é o Projeto
Corredor Cultural Paes Leme, cujo propósito é associar à questão agrária, o acervo arqueológico
levantado, atribuindo-lhe uma função social, econômica e cultural, capaz de gerar renda e como
efeito, a preservação. A proposta, embrionária, envolve, a comunidade rural, a Prefeitura de
Miguel Pereira e o ITERJ, e chegou a ser discutido com o Instituto da Biodiversidade Chico
Mendes, mas as mudanças inferidas pelo golpe parlamentar, impediram o avanço das discussões
com aquele órgão.
57

6 ARQUEOLOGIA URBANA
O espaço territorial onde ocorre esse estudo, inserido na Baixada Fluminense, que
considero uma micro região dentro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sofre a
intervenção de várias obras, de interesses diversos, criando impactos de diversas categorias, entre
os quais encontra-se os que incidem sobre o patrimônio cultural arqueológico. Importante
considerar que, se por um lado não há observância da legislação pertinente, por outro, onde as
leis são aplicadas, essas obras têm trazidos à tona um número grande de descoberta de sítios
arqueológicos, através dos estudos de impactos ambientais que, embora mostrem a riqueza do
acervo, não garantem, a proteção do patrimônio arqueológico deixado no campo, após a
conclusão do Relatório de Impacto Ambiental. Nessa linha, entra uma grande quantidade de
obras de infra-estruturais urbanas, principalmente destinadas à habitação, como prédios,
condomínios residencias e até industriais, estradas, que revolvem o solo, sem nenhum cuidado
com o com sítios e materiais arqueológicos. Venho verificando isso em diverso pontos dos
municípios abrangidos por esta pesquisa, o que me leva a dar importância a um estudo mais
aprofundado, que ultrapasse os limites de domínios das obras em execução. Até porque,
considerando que a degradação ou o desaparecimento de um bem cultural e natural acarreta o
empobrecimento irresistível do patrimônio de todos os povos do mundo (UNESCO, 1972). A
Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural em seu Artigo quarto
estabelece que cada Estado-parte da Convenção reconhece que lhe compete identificar, proteger,
conservar, valorizar e transmitir às gerações futuras o patrimônio cultural e natural situado em
seu território.
A urbanização acelerada vem comprometendo intensamente o patrimônio cultural da
Região, em especial o arqueológico, que nem sempre é visível na superfície, o que facilita
bastante sua destruição, considerando apenas, o objetivo da obra que leva em conta, o fator
econômico como justificativa para tolerar qualquer impacto negativo. Aliás, esse impacto
negativo não é considerado diante do volume de dinheiro gerado pela obras em execução. Por
uma questão conceitual, a urbanização está entendida, nesse estudo, como um processo
intergovernamental, direcionado à promoção das vocações da cidade, principalmente à moradia,
com seus equipamentos comunitários de apoio, às atividades comerciais, industriais, agrícolas e
turísticas, sem prejuízo de outras que podem ser consideradas e provocadas, aproveitando de
forma racional a potencialidade do município e garantindo qualidade de vida para a população
residente e população ocasional. Ainda que os municípios não possuam um planejamento,
embora alguns já têm um plano diretor, está em curso alterações no direcionamento das políticas
públicas que, acredito, resultarão a médio prazo, na aplicação de condutas que possam impactar
58

positivamente a proteção do patrimônio em discussão. Talvez, no sentido em que, a prática


política se manifestou até aqui, a urbanização tenha se confundido com saneamento e definido
um modo de vida pretendido, uma vez que, morar numa cidade significa ter acessos facilitados
pela tecnologia e novidades.
O processo de urbanização é uma realidade constatada em todo o mundo e tem ocorrido
de forma intensa, modificando rapidamente a dinâmica das cidades (ABIKO; MORAES, 2009,
P. 06) e o espaço agrícola tem cedido, cada vez mais, à construção civil, parcelas de seu território
voltadas à construção de moradias, indústria e comércio, conforme pode ser observado na área
em estudo. Por urbanização podemos chamar o fenômeno de ocupação do espaço da cidade e da
agricultura por um grande contingente populacional no seu território. Nesse fenômeno há um
processo de afastamento das características rurais de uma localidade ou região, para
características urbanas, ou seja, a disponibilização das zonas rurais para assentamentos urbanos,
motivadas pelo desenvolvimento da civilização e da tecnologia, e isto pode ser observado em
vários pontos dos municípios abordados e, em especial no Município vizinho de Seropédica,
onde o espaço da Fazenda Nacional de Santa Cruz foi cortado pelo Arco Metropolitano do Rio
de Janeiro e as unidade fundiárias rurais cederam o espaço para a construção de galpões
logísticos voltado ao comércio internacional em função do Porto de Itaguaí.
A urbanização ligada à Primeira Revolução Industrial e inserida no desenvolvimento do
tipo de produção capitalista é um processo de organização do espaço que repousa sobre dois
conjuntos de fatos fundamentais (CASTELL, 1995, p. 45):
1) A decomposição prévia das estruturas sociais agrárias e a emigração da
população para centros urbanos já existentes, fornecendo a força de trabalho essencial à
industrialização;
2) A passagem de uma economia agrária para uma economia de fábrica o que quer
dizer ao mesmo tempo concentração de mão-de-obra, criação de um mercado e
constituição de meio industrial.

Os municípios de Japeri, Mesquita, Nova Iguaçu, Queimados e Belford Roxo integram


a Região Metropolitana do Rio de Janeiro e segundo Louis Wirth (1967, p. 89), a característica
marcante do modo de vida do homem na idade moderna é a sua concentração em agregados
gigantescos em torno dos quais está aglomerado um número menor de centros e de onde irradiam
as idéias e as práticas que chamamos de civilização.
À medida que as grandes cidades e seus entornos ofereciam um trabalho garantido pela
CLT, os agricultores e seus descendentes abandonaram o FUNRURAL e buscaram no sítio
urbano o novo espaço de assento familiar. Paralelo a isso, o transporte ferroviário de passageiro,
principal meio de mobilidade nacional, sobretudo no interior do Rio de Janeiro, era suprimido
pelos efeitos do lobby e clientelismo políticos das empresas rodoviárias, que não atendiam as
59

necessidades dos moradores rurais próximos e distantes que buscavam emprego na cidade e
passavam a ocupar, o que os promotores imobiliários, conjunto de agentes que realizam parcial
ou totalmente a incorporação das terras, o financiamento do terreno, o estudo técnico da área, a
construção e a comercialização dos terrenos, ofereciam (CORRÊA, 1995, p. 19), porém
indiretamente. Nesse tempo, ocorreu a decadência do Ciclo da Laranja e os laranjais da Baixada
Fluminense acabaram. Os sítios e granjas foram sendo transformados em vários loteamentos
implantados na região, muitos de forma clandestinas. Isso, ainda hoje, traz problemas de ordem
fundiária para todas as cidades metropolitanas, em especial Japeri. O Estado, que também atua
na organização espacial da cidade de forma complexa e variável, refletindo a dinâmica da
sociedade da qual é parte constituinte (CORRÊA, 1995, p. 24), nada fez para impedir seu
crescimento desordenado e orientar uma proposta através da urbanização. Em Japeri, o
densamento demográfico provocado pela imigração da família rural de cidades vizinhas e
distantes fez surgir bairros formados, quase que, exclusivamente, por moradores desses
municípios e, todos de zonas rurais. Segundo Rolnik (1994, p.27) a organização da produção
baseada na divisão do trabalho entre campo e cidade e entre diferentes cidades, cria-se a
economia urbana. A Cidade tem um crescimento endógeno manifestado de quatro maneiras: a)
pela ocupação do próprio terreno familiar, no chamado “puxadinho”; b) pela ocupação de áreas
destinadas ao uso comum, como margem de ferrovias, espaços livres nos centros urbanos, áreas
de aptidão à preservação, beiras de rios, entorno de presídios; c) pela ocupação de terrenos em
loteamentos mal feitos no passado e; d) pela construção em terrenos comprados pelos poucos
que podem pagar.
Em Japeri, um impulso a ser considerado ao crescimento imigratório se deu com a
implantação do Complexo Penitenciário Estadual, em 2006, constituído por três unidade
prisionais, sendo uma cadeia pública, uma penitenciária e um presídio, que atraem parentes de
presos para próximo deles, inserindo-os no contexto da Cidade de várias formas, onde a mais
comum é buscar assentamento em lugar indicado por algum amigo do detento.
A população foi contra, uma vez que não foram considerados os impactos sócio-
culturais provenientes dessas implantações e nada foi feito para o controle da situação, ou seja,
não teve um projeto de urbanização enquanto cuidados arquitetônicos e de saneamento no
desenho do bairro sobre o qual foram assentados os presídios e tão pouco enquanto modo de
vida, considerando os aspectos morais de quem já estava e os de quem estavam chegando.
Observa-se um choque entre as duas maneiras de comportamento urbano. É comum ouvir dizer
que Japeri é uma Cidade de transição rural-urbana. Segundo Kingsley Davis (1972, p. 15), a
urbanização e o crescimento das cidades ocorrem conjuntamente, o que ocasiona certa confusão.
60

Uma questão comum é definir um índice conveniente de urbanização, isto é, um número X de


habitantes vivendo nas cidades. Ainda considerando como exemplo Japeri, que nasceu do rural,
é, apenas urbano, segundo o IBGE, porém tem uma considerável produção agrícola, conforme
pode ser visto no próprio órgão (@Cidade), e confirmado com dados oficiais da Prefeitura,
EMATER-RJ e ITERJ que contestam a afirmação do IBGE, e mostram o Município com uma
agricultura de peso na economia doméstica e forte tradição agrícola, com intensa resistência à
urbanização.
Para Louis Wirth (1967, p. 92) a urbanização já não denota meramente o processo pelo
qual as pessoas são atraídas a uma localidade intitulada cidade e incorporadas em seu sistema de
vida. Ela se refere, também, àquela acentuação cumulativa das características que distinguem o
modo de vida associado com as mudanças de sentido dos modos de vida reconhecidos como
urbanos que são aparentes entre povos, sejam eles quais forem que tenham ficado sob o
encantamento das influências que a cidade exerce por meio do poder de suas instituições e
personalidades através dos meios de comunicação e transporte.
Segundo Castells, (2000, p.39) podemos distinguir nitidamente dois sentidos
extremamente distintos do termo urbanização. O primeiro trata-se da concentração espacial de
uma população, a partir de certos limites de dimensão e de densidade e o Segundo, da difusão do
sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado “cultura urbana”. Analisando a
caracterização da urbanização por H. T. Eldridge 16, como um processo de concentração da
população em dois níveis, onde o primeiro é a proliferação de pontos de concentração e o
segundo é o aumento do tamanho de cada um destes pontos, diz que urbano designaria uma
forma especial de ocupação do espaço por uma população, a saber, o aglomerado resultante de
uma forte concentração e de uma densidade relativamente alta, tendo como correlato previsível
uma diferenciação funcional e social maior. Mas, a partir de que nível de dimensão e de
densidade uma unidade espacial pode ser considerada como urbana? A fórmula mais maleável
para responder consiste em classificar as unidades espaciais de cada país segundo várias
dimensões e vários níveis e em estabelecer entre eles relações empíricas teoricamente
significativas, ou seja, distinguir a importância quantitativa dos aglomerados, sua hierarquia
funcional, sua importância administrativa, combinando, em seguida, várias destas características
para atingir tipos diferentes de ocupação do espaço. Assim a dicotomia rural/urbano perderia
toda sua significação e na visão dele poderíamos opor urbano a metropolitano e parar de pensar

16
ELDRIDGE, H.T. ‘The process of urbanization’, in Social forces. Vol. 20, nº 3, 1942.
61

em termos de passagem contínua de um pólo a outro, para estabelecer um sistema de ligações


entre as diferentes formas espaciais historicamente dadas. Para Kingsley Davis (1972, p.15), a
diferença entre um vilarejo e uma comunidade urbana é evidentemente, condicional e seria
arbitrária uma distinção precisa, uma vez que ela varia de acordo com o país. Uma vez que existe
dados disponíveis de comunidades de diversas dimensões, um ponto de referência deverá ser
adotado Acrescenta, o problema mais difícil não é determinar a área urbana, mas delinear os
limites urbanos. Já para Corrêa (1995, p.11), o espaço da cidade ou urbano, fragmentado,
articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas é um produto
social, resultado de ações acumuladas através do tempo e engendrado por agentes que produzem
e consomem espaço.
Louis Wirth (1973, p. 92), quando diz que a urbanização não corresponde a uma atração
à cidade, defende que a urbanização:
se refere, também, àquela acentuação cumulativa das características que distinguem o
modo de vida associado com as mudanças de sentido dos modos de vida reconhecidos
como urbanos que são aparentes entre povos, sejam eles quais forem que tenham ficado
sob o encantamento das influências que a cidade exerce por meio do poder de suas
instituições e personalidades através dos meios de comunicação e transporte.

O processo de atração que envolve as pessoas e as cidades são vinculadas a uma ideia
de prosperidade, isto é, as pessoas mudam considerando que nesse novo lugar as coisa serão
melhores. A partir de sua chegada, não deixam vínculos com seu espaço de origem, nada trás
para o seguinte, onde chegam sem nada encontrar, vinculando, o presente ao passado. Esse
processo gera uma massa sem referência de identidade, solta no espaço e sem nenhuma memória
no tempo. Observamos isso, em Japeri, quando o Município passou por um processo de
transformação sociocultural intenso a partir da construção do Arco Metropolitano do Rio de
Janeiro. As pessoas chegaram para trabalhar, conheceram outras, acasalaram e muitos já tem
filhos, mas a obra acabou, deixando como legado uma população aumentada e desvinculada de
sua própria história, sem falar da acessibilidade móvel, observada e utilizada pelo tráfico, que
junto a outros fatores, alteraram completamente o estilo e o rítmo de vida municipal. A
identidade cultural é a consequência do vínculo entre o patrimônio cultural, o que ele representa
e a população que o envolve. Esse processo é de extrema importância na criação e manutenção
de uma outra dimensão, a memória, que ao ser isolada no passado deixar de deixa de exercer
uma força viva no presente. O registro arqueológico estático, nada vai poder fazer para recuperar
a dinâmica do passado, num processo de construção do tempo antigo.
Com base em Wirth (1967, p. 90), podemos observar que o crescimento das cidades e a
urbanização do mundo é um dos fatos mais notáveis dos tempos modernos, e isso requer uma
62

diferenciação entre o que é urbano e o que é rural. O rural no Brasil, vem desde 1930, sofrendo a
saída de pessoas em busca de melhores condições de vida na cidade. Japeri é um exemplo desse
processo. Até 1940, a agricultura caracterizava o espaço territorial, mas com o declínio dos
laranjais, último ciclo econômico da Região, passou por intenso parcelamento de suas terras por
loteamentos, reconhecidos como criminosos, mas que significou na época uma grande fonte de
renda para substituir a falência da laranja. Em vários municípios da Baixada Fluminense, essa
ocupação se deu de forma não prevista, no planejamento dos apropriadores do espaço, como
exemplo os diversos loteamentos urbanos executados e falidos, após o declínio da citricultura e
posterior reocupação do solo por pessoas do interior que ao chegarem, tomavam posse dos lotes
e retornavam com as atividades agrícolas. Nesse contexto, observando Corrêa (1995, p.12),
podemos definir como agentes produtores e consumidores do espaço urbano: a) os proprietários
dos meios de produção; b) os proprietários fundiários; c) os promotores imobiliários; d) o Estado
e; e) os grupos sociais excluídos. Esses agentes agem dentro de um marco jurídico que regula a
atuação deles e denominadores que os unem a exemplo da renda da terra, suas ações servem
também à reprodução das relações de produção, implicando na continuidade do processo de
acumulação e a tentativa de minimizar os conflitos de classes, cabendo esse aspecto ao Estado.
Desta forma, o processo de urbanização consume grande parte do acervo arqueológico
pela destruição e se coloca como principal risco ao patrimônio arqueológico na região
trabalhada. Como solução está a obrigatoriedade do desenvolvimento de trabalho arqueológico
no espaço a ser transformado por qualquer empreendimento econômico e que leve em
consideração a sensibilização da sociedade diante do acervo arqueológico contido no subsolo e a
importância do estudo sobre esses bens, ainda que essa importância não seja compartilhada por
todos os agentes entorno do tema. Considerando a arqueologia urbana enquanto uma disciplina
arqueológica habilitada a procedimentos de intervenção através da elaboração de uma
programação de investigação e promoção de um diagnóstico arqueológico urbano com vistas à
preservação do acervo comentado, há uma clara e urgente demanda para institucionalizar o
profissional arqueólogo, enquanto um profissional indispensável nessas atividades, assim como
são o engenheiro e o pedreiro.
Segundo o arqueólogo estadunidense Edward Staski, (1982, p. 97), citado em Dode
(2015, p.2) a Arqueologia Urbana pode ser definida como “O estudo das relações entre cultura
material, comportamento humano e cognição num assentamento urbano”. Para Dode:
Antes de ser entendida como o emprego de técnicas arqueológicas na cidade, podemos
pensar a Arqueologia Urbana como uma Arqueologia da Cidade, onde o arqueólogo
questiona-se justamente sobre os processos de urbanização e suas consequências na vida
em sociedade. Nenhum local ou vestígio pode ser pensado isoladamente.
63

Este tipo de Arqueologia é capaz de trazer à tona indícios da complexidade de


construção de uma cidade, onde diferentes etnias, grupos socioeconômicos, políticos e
religiosos, onde diferentes ideias e ideais conviveram ao longo do tempo. É, assim,
capaz de despertar nos indivíduos que habitam a cidade uma reapropriação de sua
própria história e de seu patrimônio, proporcionando uma nova relação com espaços
cotidianos.

A arqueologia urbana é capaz de complementar o conceito de cidade difundido, entre os


urbanistas, que se debruçam ao estudo dessa forma de organização sócio-política em uma
perspectiva atual envolvida com problemas que atingem milhares e até, milhões de pessoas, sem
contudo, considerar que estes problemas podem e quase sempre estão ligados a fato genéticos do
espaço urbano que segundo Silva (2012, p. 3) pode ser:
[...] (entendida como casco urbano antigo integrado num Centro Histórico) deve ser, no
plano gestão, o ponto de partida, já que é o laboratório das experiências, no tempo
presente, de gestão, reabilitação, recuperação e revitalização. O “Ponto de Partida:
Conhecimento da Cidade Pretérita”, é justificado pelo facto de precisamente ser nosso
entendimento que o conhecimento que temos da cidade é a base de todos os trabalhos
científicos que queremos desenvolver nela, e o termo “pretérito” pode, na nossa
perspectiva, ser entendido como um passado que não está fechado em si mesmo e que
com frequência está ligado ao nosso presente, uma vez que estes núcleos são habitados
no tempo atual.

A arqueologia urbana pode introduzir, ao conceito de cidade, a noção de um composto


formado por estratos (camadas) culturais que são alterados pela dinâmica da sociedade alicerçada
nele, onde o primeiro é o assento atual sobre o qual ocorrem a centralização das instituições
políticas e administrativas, importantes espaços de culto ou com cargas simbólicas, economias
complexas com especialização do trabalho e estratificação social e esta disciplina arqueológica
pode recuperar informações sobre estes e outros aspectos das comunidades passadas através de
métodos de trabalho de campo e de laboratório cada vez mais em crescente especialização e
desenvolvimento (Madeira, 2011, p.5).
Para Lemos & Martin (1992, p.148) a arqueologia urbana implica na aplicação de
métodos próprios que derivam da complexidade dos subsolos e outros aspectos das cidades
históricas, onde os sucessivos níveis de ocupação sobrepõem-se, recortam-se, formando um
"puzzle" complexo, que exige registros muito rigorosos e um conhecimento profundo dos
materiais de diferentes épocas. Os autores atentam para a distinção feita por Fabião (1994, p.148)
ao abordar a Arqueologia no processo da urbanização em Portugal:
[...] Arqueologia Urbana, isto é, a investigação das cidades que se sobrepõem e
interpenetram no sítio onde hoje se encontra Lisboa (o aglomerado pré-romano, o
romano, o da «antiguidade tardia», o medieval muçulmano, o medieval cristão, o
moderno, os contemporâneos), e Arqueologia e Espaços Urbanizados, ou seja, o estudo
das realidades humanas que utilizaram este espaço em épocas anteriores ao fenómeno
urbano e as áreas habitadas nas proximidades das antigas cidades e com elas
estreitamente relacionadas.
64

O estudo e conhecimento do avanço da urbanização e do próprio sítio arqueológico


da cidade, constitui um vetor fundamental do processo de desenvolvimento da sociedade
atual, devido ao crescimento exponencial dos centros urbanos que torna indispensável uma
reflexão sobre o seu passado e evolução presente e uma compreensão aprofundada sobre os
elementos dinâmicos que podem assegurar a sua continuidade futura em termos
harmoniosos (MARTINS & RIBEIRO, 2009/2010, p.149). A forma como esta sendo
conduzida a expansão do espaço urbano, na área dessa pesquisa, esta desvinculando, ainda
mais, o cidadão de sua identidade cultural, estabelecida pelo patrimônio, numa relação
simbólica a que é sobreposto obras de interesses restritos, com um número mínino de
beneficiários diretos, que detém os lucros do empreendimento. Isso deixa de fora o grande
contingente demográfico que situa no espaço e age numa reprodução de impactos negativos
sobre bens de grandes valores culturais, porém em estado despercebido.
Despertar, numa classe, economicamente dominante, que vê nos empreendimentos,
uma forma de multiplicar lucros e gerar acúmulo de riqueza, não é uma tarefa fácil,
principalmente, considerando que, para essa classe, o dinheiro não tem fronteira, e tão pouco
nacionalidade, e o que dizer de municipalidade ou localidade? No entanto, se observarmos
os países europeus que, embora acordassem tarde, para o reconhecimento da importância da
arqueologia na recuperação do potencial informativo das suas cidades históricas, datando,
apenas dos anos 60 do século XX, as primeiras experiências consequentes de intervenção
arqueológica, que fizeram nascer a arqueologia urbana. Neste âmbito cabe destacar o
protagonismo inglês no estabelecimento das bases teóricas e do modelo de gestão da
arqueologia urbana, bem como na introdução de novos métodos de escavação, de registro e
de representação da complexa sedimentação dos solos urbanos (MARTINS & RIBEIRO,
2009/2011, p.150).
Essa função deve pautar as iniciativas de outro segmento importante da
Arqueologia, a Arqueologia Pública a ser tratada no capítulo seguinte.
Todos os municípios aqui abordados, estão sofrendo a intervenção de obras urbanas
que aglomerarão mais pessoas dentro desse espaço que se torna cada vez mais denso e
despreparado para recepcionar tanta gente. Os conjuntos habitacionais, já citados antes, e os
galpões de entrepostos comerciais, estão entre os mais difundidos geradores de riscos e
causadores de destruição. Não havia nenhuma informação sobre a execução de trabalhos
arqueológicos nessa categoria de empreendimento.
Como dito antes, alguns municípios começam a mostrar preocupação com a
questão, mas ainda em fase embrionária, consequência, apenas de um quadro qualificado de
65

funcionários conscientes e ativistas. Assim, atribuo à arqueologia urbana, a definição de ser


uma corrente teórico-metodológica da Arqueologia, cujo propósito é intervir no processo da
urbanização e metropolização das sociedades, garantindo-lhes o vínculo entre o presente e o
passado através do acervo arqueológico contido na estratigrafia localizada.
66

7 O PATRIMÔNIO CULTURAL ARQUEOLÓGICO


O conjunto de bens constituído por vestígios de ocupações pré-coloniais, estruturas
arquitetônicas históricas, objetos fabricados a partir das mais variadas matérias-primas, que
retratam as ações de grupos sociais no ambiente, transformando-o em paisagens e alterando-as
em função de novas atividades acionadas, num processo dinâmico e contínuo no território
estudado, compreendem o acervo arqueológico na ótica deste trabalho.
Foi iniciado com o levantamento no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos -
CNSA do IPHAN com a finalidade de saber o que já havia localizado até a data da proposta
deste estudo, considerando a execução de obras de grandes vultos, como são as linhas de
transmissão elétrica, gasodutos e rodovias. O cadastro do IPHAN, mostra que a quantidade de
sítios não é coerente ou proporcional com o tempo de ocupação do espaço territorial em apreço.
Abaixo, estão listados os sítios registrados até 2014, os que foram registrados entre
2015/2016 e uma lista de sítios que serão registrados após a realização dessa pesquisa e os que
podem ser localizados com base na documentação histórica inventariada, principalmente a
cartografia histórica que se mostrou de grande valia à arqueologia histórica e mesmo pré-
colonial, visto que indica locais onde viviam "índios bravos". É apenas uma amostragem do que
se percebe ao tomar conhecimento sobre o local ou locais. O cadastramento terá que ser em
caráter efetivo sem data de conclusão, pois a cada momento um novo sítio pode surgir e em
função de uma atividade qualquer que o evidencia. Trata-se de uma área de grande potencial
arqueológico, onde o histórico se confunde com o pré-colonial numa clara visão ou sugestão de
sobreposição.
Merecem ser citados, embora não estejam evidenciados, conforme lembrou o Professor
Marcos André Torres de Souza (12-07-2017), em exposição pessoal, os sítios arqueológicos
consequentes das ações da população afro descendente, responsável pela construção de uma
nova era no Brasil, em especial na região estudada. Porém, a evidenciação desse grupo, presente
no espaço trabalho, evolveriam intervenções no solo, o que não foram previstas aqui. No entanto,
essa preocupação está reconhecida e caberá numa etapa futura da pesquisa arqueológica em curto
prazo. Desta forma, quilombos, senzalas e as ações que resultaram, ou na criação de uma
paisagem, ou na alteração de outras, poderão ser conhecidas e interpretadas na ótica de sua
importância para a região.
Contudo, muito importante se torna a observação feita pelo Professor Ondemar Dias
(12-07-2017) sobre o conceito de sítio arqueológico, sobretudo o histórico, uma vez que ainda
não existe uma definição compartilhada universal, clara e objetiva sobre o que é arqueologia
histórica ou o que é sítio arqueológico histórico (SOARES, BASTOS, COIMBRA,
67

OOSTERBEEK, 2010, p. 321). Os autores atentam para as discussões no Congresso da


Sociedade de Arqueologia Brasileira nos anos de 1999 e 2001, cujo objetivo principal era definir
sítio arqueológico histórico e/ou discutir a importância ou não, dessa conceituação,
especialmente para a preservação patrimonial.
O sítio arqueológico é unidade fundiária que contém as evidências das atividades do
comportamento humano ocorridas no passado, representadas principalmente por artefatos,
monumentos e restos ambientais envolvidos num contexto, ou seja numa perspectiva de espaço-
tempo-objeto. Considerando o objeto a coisa material que pode ser percebida pelos sentidos.
Artefatos e monumentos, definidos por Jones (1996, p. 01), respectivamente, como qualquer
objeto portátil feito e/ou usado por humanos e como evidências não portáteis do
comportamento, da atividade e da tecnologia produzida por grupos sociais, são os dois tipos de
evidências que indicam um sítio arqueológico. Já os restos ambientais podem ser os vestígios ou
os próprios recursos naturais produzidos pelos sujeitos sociais que assentaram no terreno e ali se
desenvolveram. Desta forma, sementes queimadas, carvão, estaca de madeira, uma espécie
vegetal introduzida para fins agrícolas e que permaneceu e se adaptou ao local, sendo útil ainda
hoje, compõem essa fonte ambiental capaz de produzir informações sobre o passado. Como
exemplo cito a mandioca, o quiabo e a mangueira na Baixada Fluminense.
Numa classificação cronológica dos sítios arqueológicos, encontro três momentos
importantes para a região desse estudo: um período pré-colonial, em que os sítios são
caracterizados pelas evidências do nativo (DIAS e NETO, 2017, p. 104), o momento do contato
estabelecido entre o invasor europeu e o nativo, onde as evidências se caracterizam por um
conteúdo misto entre o período anterior e o momento da chegada do novo povo que impõe sua
presença com a força e, para fechar, tem-se momento em que a miscigenação inicia e acrescenta-
se, mais um grupo étnico, nesse caso o negro, introduzido de forma cruel e criminosa, mas que
somou, potentemente, à da Nação Brasileira, e estende-se aos dias de hoje, denominando período
histórico em que, o sítio arqueológico correspondente, se caracteriza por um acervo constituído
por material colonial ou recente. Os sítios arqueológicos históricos é aqui entendido como a
unidade fundiária que traz evidências da ocupação sóciocultural a partir da criação do Brasil,
enquanto colônia portuguesa. São estruturas de diversas características físicas que perderam a
função inicial para a qual foram construídas, conforme exposição do Professor Ondemar Dias
(12-07-2017). Desta forma, como exemplo, um conjunto de vestígios de ocupação de um grupo
de colonos agrícolas de uma fazenda no período histórico, compreendido, entre 1960/1975, que
possibilite o estudo do comportamento dos agricultores, naquela faixa de tempo, constitui sítios
arqueológicos históricos.
68

7.1 O ESTADO DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICOS

O patrimônio arqueológico situado nos Municípios da área de estudo sofre alto impacto
ocasionado pela urbanização, em consequência de obras civis, onde áreas rurais foram ocupadas
por condomínios e loteamentos residenciais, industriais, comerciais e rodovias, principalmente.
Esse fato concentrou os sítios arqueológicos em duas áreas no território de cada município, uma
agrária e outra urbana. Os sítios localizados na área urbana estão sob riscos intensos em função
da rápida transformação do espaço, provocada pela financeirização do solo. Os sítios localizados
em áreas rurais, embora sob riscos, se apresentam em menor intensidade e são caracterizados,
principalmente, pelo aproveitamento de uma estrutura histórica, ou parte dela, para construção de
uma nova. Pedras e alicerces são os mais visados para este tipo de construtor que, ou retiram as
pedras de uma estrutura histórica, ou constroem sobre uma base pré-existente.
A principal força, de impacto negativo, que age sobre os sítios arqueológicos é
provocada pela inexistência de uma política pública de preservação que envolva a fiscalização
efetiva e a educação patrimonial. Essa ausência torna o risco ao patrimônio, mais ou menos
ameaçador. Trata-se dos diversos interesses que caracterizam a intenção humana e se projetam
no espaço transformando-o, seja através da implantação material da ideia, no ambiente natural,
seja através da sobreposição à paisagem construída pelos antepassados. Esses interesses com
repercussão sobre o patrimônio arqueológico, podem ser classificados em dois grupos principais:
1) o sujeito empreendedor que se manifesta de várias formas, como imobiliário, agricultura,
residencial, incluindo nesse grupo o morador que quer, simplesmente, ampliar sua casa, o Estado
e; 2) o sujeito preservador, que se faz representar pelos pesquisadores, organizados ou não em
pessoa jurídica, as associações de moradores, quando têm consciência sobre o sítio arqueológico,
grupos formados por pessoas interessadas na preservação e instituições estatais.
Parto do princípio de que, o patrimônio arqueológico, enquanto uma categoria de
patrimônio cultural, é um bem resultante da materialidade ideológica em formas e funções
específicas no tempo e no espaço, na constituição do qual, está investida a memória social, é o
reflexo das atividades de nossos antepassados, em uma dada época, ocupando um determinado
ambiente. Define-se na expressão do trabalho realizado por grupos sociais ao longo dos tempos,
determinando a dinâmica da cultura, quando atores sociais, se apropriam e transformam a
natureza em algo que satisfaça suas necessidades, num constante processo de aperfeiçoamento,
que deixa no espaço o registro de seu comportamento. Como participante ativo em um ambiente,
expressa esta dinâmica através da transfiguração observada no curso de sua existência,
caracterizada por, pensamentos e ideias comuns, em diferentes períodos.
69

As origens da concepção de patrimônio possuem inúmeras raízes e todas se firmam na


idéia de preservação da memória coletiva por critérios valorativos, estéticos, históricos, culturais,
sempre em atenção aos riscos que a modernidade impões às tradições (PAES, 2009, p.2).
O conceito de patrimônio cultural na forma como conhecemos hoje surge na aurora da
Revolução Industrial, ao final do século XVIII, no bojo da Revolução Francesa, instituidora de
uma nova ordem política, jurídica, social e econômica, que consolida o conceito de nação e de
nacionalidade e reconhece os direitos fundamentais do homem (TORELLY, 2012, p. 65). O
significado de patrimônio cultural é diversificado, incluindo produtos do sentir, do pensar e do
agir humanos. O termo vem da palavra latina, patrimonium, que quer dizer, tudo que pertence ao
pai, pater familias, ou seja, pai de família e a família compreendia tudo que estava sob o domínio
do senhor, inclusive mulher e filhos, escravos, os bens móveis e imóveis e animais (CARLAN e
FUNARI, 2010, p.16). A palavra patrimônio tem vários usos e significados (Brusadin, 2015, p.
2). O Mais comum é o conjunto de bens que uma pessoa ou entidade possuem, mas que,
transportado a um território, o patrimônio passa a ser o conjunto de bens que está dentro de seus
limites de competência administrativa. Em outro sentido, o patrimônio pode ser classificado em
duas grandes divisões: natureza e cultura (BRUSADIN, 2015, p. 66). Para Choay (1999, p. 11) a
palavra patrimônio é muito antiga e ligada às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de
uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo. Surgiu na Europa, com referência ao
patrimônio histórico, mas adquiriu dinâmica que lhe atribuiu uma requalificação a partir de
diversos adjetivos como genético, natural, histórico, etc. fazendo, hoje um percurso diferente e
notório (CHOAY, 1999 p. 11). Segundo Brusadin (2015, p. 67) a conceitualização de patrimônio
cultural no Brasil, é de data recente. O desenvolvimento do conceito se envolve com fatos
políticos e culturais marcantes da História do Pais, tais como, a Semana de Arte Moderna de
1922, o Estado Novo e a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico - SPHAN em
1937 (Brusadin, 2015, p.67).
Segundo Tomaz (2010, p. 3), o patrimônio cultural compreende três grandes categorias
que englobam elementos pertencentes à natureza, conhecimento e as coisas construídas,
resultantes da relação entre o homem e meio ambiente. E, a concepção de patrimônio em um
progressivo deslocamento da ideia de patrimônio formado, apenas por bens históricos e
artísticos, conduz na totalidade de um conceito mais completo e amplo e, apesar de sua
aproximação com a indústria cultural, com a fragmentação das identidades dentro das tendências
globais da vida moderna, sua função coesa permanece (TEIXEIRA e VIEIRA, 2007, p. 302).
70

A noção de patrimônio confunde-se com a de propriedade [...], mas esses bens nem
sempre possuem atributos estritamente utilitários, servem a propósitos práticos, mas possuem,
significados mágico-religiosos e sociais (GONÇALVES, 2003, p.23).
A categoria patrimônio cultural evoluiu do patrimônio histórico, e o próprio termo
patrimônio tem sua evolução marcada pela dinâmica do conceito de cultura. Para Tomaz (2010,
p.7), o chamado patrimônio cultural, entendido como conjunto dos bens culturais, referentes às
identidades coletivas, enriqueceu a noção de patrimônio:
[...] englobando sob a mesma perspectiva as múltiplas paisagens, arquiteturas, tradições,
particularidades gastronômicas, expressões de arte, documentos e sítios arqueológicos,
os quais passaram, a partir daí, a ser valorizados pelas comunidades e organismos
governamentais nas esferas local, estadual, nacional e até mesmo internacional.

A partir dessa contextualização do termo patrimônio, buscou-se adequar o seu conceito


à realidade da região estudada a fim de inserir nesse conceito, tanto os sítios arqueológicos do
período pré-colonial, como os históricos e as demais expressões oriundas do comportamento dos
povos pretéritos. Assim o conceito de patrimônio utilizado foi buscado na origem do termo
latino, na Europa do século XVIII, no Brasil do início do século XX e os dias de hoje,
aproveitando-se da dinâmica do próprio termo para adequá-lo ao espaço trabalhado. Nessa ótica,
o patrimônio é abordado considerando a definição estabelecida pelo Artigo 1 da Convenção para
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural de 1972:

1- os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas monumentais, objetos ou


estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do ponto
de vista da história, a arte ou da ciência;

2- os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura, unidade
ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte
ou da ciência;

3- os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como áreas,
que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de vista histórico,
estético, etnológico ou antropológico.
Através do patrimônio cultural arqueológico é possível conscientizar os indivíduos,
proporcionando aos mesmos, a aquisição de conhecimentos para a compreensão da história local,
adequando-os à sua própria história. Daí a sua importância para a região constituída pelos
municípios citados nesse trabalho. É nessa perspectiva que o vasto acervo arqueológico
conhecido na região, no entanto, ainda desprovido de um sentimento de pertencimento, por parte
das comunidades que o cercam e ausente na pauta política, fatos que impedem a sua
71

configuração em um inventário de bens culturais, que o insira e faça demandar a execução do


que está estabelecido no Artigo 4, da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural, onde cada Estado-parte da referida Convenção, reconhece que lhe compete
identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às gerações futuras o patrimônio cultural e
natural situado em seu território.
Dessa forma entendo que, o levantamento do patrimônio arqueológico do espaço
abordado, não será, apenas um instrumento de estudo, mas também de preservação e
compreensão do processo de ocupação local e regional, produzindo conhecimento e divulgando
informações a respeito dele.
A questão do patrimônio cultural, em especial o arqueológico, nos remete à ideia de
memória coletiva, constituindo, esta, num dos fenômenos culturais e políticos mais
surpreendentes dos anos recentes, colocando-a, como uma das preocupações culturais e políticas
centrais das sociedades ocidentais (HUYSSEN, 2000, p. 09). Percebo esse trâmite como um
processo, pelo qual os povos se conhecem no presente, estudando o passado, cabendo à memória
cultural, oferecer o conteúdo deste conhecimento. Esta é, também, responsável pela identidade
cultural de uma população, enquanto povo, bando, organização social, tribo, nação, aqui
entendida como um “corpo” constituído por uma origem, desenvolvimento e objetivo. Isto faz
com que a população atual se sinta constituída por partes identificadas, onde a representação
material, carregada de significados, que desencadeia o sentimento de pertencimento, passa a ter
um grande valor e função, digno de proteção, pois se apresenta como parte integrante de uma
nação organizada. Se o passado é permanente, por não podermos alterar o que, realmente
aconteceu, e mutável, por adequarmos o que realmente aconteceu, conforme as ansiedades do
presente (PERALTA, 2007, p. 17.), o patrimônio cultural arqueológico surge como um bem,
inserido na teia cultural, regulador, limitante da instrumentalização do passado, manifestada na
ideia de um passado construído e/ou de sua manipulação político-ideológica (PERALTA, 2007,
p. 17) em função de algum grupo de interesse. O patrimônio cultural arqueológico é, talvez, o
principal vínculo físico entre as pessoas de uma comunidade ou sociedade e sua trajetória dos
tempos pretéritos aos dias atuais. A memória é sempre transitória, notoriamente não confiável e
passível de esquecimento, ou seja, ela é humana e social (HUYSSEN, 2000, p. 37).
[...] a cultura da memória preenche uma função importante nas transformações atuais da
experiência temporal, no rastro do impacto da nova mídia na percepção e na
sensibilidade humanas.

Segundo Choay (1999, p.22), todo artefato humano pode ser deliberadamente investido
de uma função de memória e que as diferentes relações que os monumentos e monumentos
72

históricos mantém, respectivamente, com o tempo, a memória e o saber, impõem uma diferença
maior relativa à sua conservação. Essa hipótese é confirmada, no Município de Japeri,
constituído de dois centros urbanos e uma área rural. Em um dos centros Urbanos: Japeri,
conseguiu-se preservar patrimônios culturais arqueológicos e arquitetônicos históricos com o
saber e a legislação incidentes sobre eles. A ruptura com a memória faz com que o próprio
patrimônio seja esquecido e desvinculado do cotidiano do cidadão ou cidadã, levando essas
pessoas a agirem como atores da depredação patrimonial, a partir de diversas ações conhecidas.
Considerando que, ao desvincular-se de sua Memória Cultural, uma população, perde
também, os elementos básicos necessários para o seu auto conhecimento ou promoção,
desnorteando sua identidade, perdendo a noção de seu valor, seu objetivo e, consequentemente,
passa a se auto destruir, seja através dos artifícios criados pelas culturas ou através da destruição
do seu patrimônio, o que caracteriza a busca de uma identificação através de atos de irreverência,
vandalismo, etc. Não tem consciência de seu papel e responsabilidades sociais. Nesse sentido,
atento para a importância do acervo arqueológico à preservação e resgate da Memória Coletiva.
Para tanto, esse projeto se volta à valorização do referido acervo nos municípios de Nova Iguaçu,
Belford Roxo, Queimados e Japeri, onde a população perdeu o contato com seu passado,
enfraquecendo o presente e comprometendo o futuro, somando-se às pesquisas e ações
implementadas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, desde o final da década de 1950.
As pesquisas executadas pelo IAB, na região vem evidenciando uma grande história que remonta
aos diversos povos nativos que primeiro, ocuparam e exploraram o espaço, seguidos dos
europeus, que invadiram o território e os povos africanos, trazidos de forma cruel, submetidos à
escravidão, mas com firme propósito na resistência e luta pela liberdade, servindo-se do lugar
para ações de diversas naturezas que resultaram em traços, que hoje caracterizam o
comportamento das pessoas do cultivo de plantas como o quiabo até a existência de quilombos
que precisam ser localizados, resgatados e divulgados e comunidades quilombolas que, ainda
hoje, lutam pelo seu espaço e direitos. Se observarmos a população desse território nos últimos
50 (cinquenta) anos é fácil perceber que, com a implantação do Estado do Bem Estar Social, ou
pelo menos, com a adesão a algumas de suas instituições, direcionado apenas, ao povo da cidade,
a população rural, que em 1930 constituía mais de 70% dos habitantes do País, migrou para as
cidades. A Baixada Fluminense foi um grande receptor dessas levas migratórias que tiveram o
fluxo impulsionado por obras de vulto como a ponte Rio Niterói e o Metro Rio. Chegaram num
espaço empobrecido pela desatenção política e com um intenso processo de capitalização do solo
rural, cultivado pela citricultura, em decadência e transformado em loteamentos urbanos falidos
durante as décadas de 1940 e 1960.
73

O patrimônio cultural arqueológico dos municípios abrangidos por este trabalho,


constituído por remanescentes pré-coloniais e históricos está, cada vez mais, sob o risco de ficar
distante da população a quem deveria interessar. Esse acervo arqueológico vem ampliado
conhecido, seja por novos sítios arqueológicos descobertos na superfície, seja por trabalhos de
escavação implementados na área de estudo pela arqueologia de contrato que tem evidenciado
estruturas de assentamentos pré-coloniais nos quais foram encontrados artefatos como ruínas de
igrejas, fazendas, vilas, residências, quilombos, sítios pré-coloniais, tachos, diversos utensílios
cerâmicos, como urnas funerárias, tigelas, vasos e outros utensílios típicos das populações
nativas, como também, por estruturas de pedras alinhadas em perímetros e formas que
representam desde uma residência, até um engenho de grandes proporções, caminhos e objetos
domésticos e industriais compatíveis como o período histórico. Esse conjunto de bens
patrimoniais, precisa ser, além de localizado, cadastrado, identificado, inventariado, processado,
inserido numa perspectiva de convivência pública, como a criação de áreas de visitação, opção
de lazer e aprendizagem para a população dessas unidades políticas, para que desta forma, seja
preservado às gerações futuras numa relação de função social. Cabe lembrar que trata-se de um
trabalho contínuo e com demanda efetiva, onde uma localização de sítio arqueológico implica na
descoberta de outros. Isso reforça o patrimônio, enquanto um termo dinâmico, que designa um
bem, classificado em diversas categorias em que o cultural denomina artefatos decodificados em
edificações, monumentos com diversas características arquitetônicas e peças inteiras ou em
fragmentos, comportamentos humanos típicos, repetidos, cultivos milenares de vegetais
domesticados, como o aipim, quiabo, a batata doce, entre outros, que trazem impregnados em
suas estruturas a expressão da criação humana.
Os grupos sociais que agregam os atores ou sujeitos das ações no meio, não são os
mesmos sempre, e isto pode ser visto nas transformações que realizam no “habitat” que
compartilham. Mudam sua maneira de ser, agir e reagir e projeta isso em sua literatura, arte,
religião, educação, arquitetura, enfim, em tudo quanto constitui sua cultura material. Neste
contexto, cultura está conceituada, aqui, por simplesmente, a transformação do real e expressão
do mecanismo pelo qual o homem se caracteriza como ser social, sobrevive na natureza,
perpetuando-se no tempo. O homem, enquanto um ser social, e portador de cultura, se organiza
em grupos que tomam diversas dimensões, como bandos, tribos, cidades, países, associações,
sindicatos, etc. Gera ideias e as concretiza nos objetos de sua criação que vão constituir os de
estudo da Arqueologia. Muni-o numa perspectiva de povo, sociedade e nação, com atributos
específicos que promovem a identidade, também específica.
74

No Município de Belford Roxo as pesquisas em Belford Roxo tiveram início


sistemático a partir de 1960, evidenciando vários sítios arqueológicos, a exemplo, do Sítio D.
Laura - RJ- LP - 43 descoberto acidentalmente, no momento em que o proprietário do terreno,
localizado na Rua Belo Horizonte, 160 no bairro Vilar Novo, Belford Roxo, ao cavar o morro
com vistas à construção de uma escada, evidenciou um sítio tupiguarani. Este sítio arqueológico,
cujo salvamento e análise do material foi realizado pelo Instituto de Arqueologia Brasileira -
IAB, sob a coordenação do Professor Ondemar Dias, foi vistoriado por José Neto do IAB em
2016, que conversou com os atuais moradores que não mantinham nenhuma informação sobre o
mesmo. O sítio Túnel I, situado no Bairro Shangrilá Rosa, constituí um túnel construído na base
de uma colina, bem desenhado, indicando que havia em sua entrada, uma estrutura,
provavelmente de madeira com a função de um portal. Havia no entorno um poço d`água tipo
cacimba, hoje aterrado. Descoberto pela equipe em 1995, através da Jornalista Claudia Maria,
que desenvolve trabalho de educação patrimonial na região e fez uma matéria sobre o local,
publicada no Jornal O Dia. A boca do túnel, na época tinha uma abertura maior, suficiente para
passar uma pessoa. O interior foi acessado até o local onde havia um desmoronamento, que
indicou riscos para prosseguir na busca de uma história com muitas versões. Para Salvador
Alegria Pontes, 61 anos, conhecido no Bairro, por Dodô, residente e domiciliado no Caminho da
Glória, o túnel foi feito na época da II Guerra para fuga dos combatentes. Uma informação que
pode estar associada ao golpe de 1964, quando a Baixada Fluminense foi ponto de resistência à
Ditadura e o túnel, já existente, pode ter sido usado como esconderijo. Já Wellington Rogério,
39 anos, criado no Bairro, sugere que foi construído pelos escravos, informação essa
compartilhada por outros.
Embora, enriqueçam a História e a paisagem locais, ainda não refletem sua importância
na pauta política do Município, numa clara manifestação de ausência total do Estado sobre o
bem. O Município sedia um dos maiores laboratórios de arqueologia do Brasil, porém esse fato é
pouco explorado pelo Poder público local. O Instituto Arqueologia Brasileira - IAB, vem
estabelecendo contato com o Município de Belford Roxo, buscando essa inserção, numa
mudança de rumo no tratamento concedido a esse bem patrimonial. A unidade política passa por
intenso processo de urbanização e, ainda, sofre a ação da violência pública que reflete sobre o
estado de preservação dos sítios, uma vez que a organização criminosa constitui-se em uma
barreira de acesso ao local de assento do patrimônio arqueológico. Fato confirmado em todos os
municípios que compõem a área de estudo. Contudo em algumas áreas do Município, ainda se
conservam lugares que, mesmo com a expansão urbana, permanecem com os aspectos
verificados na década de 1990. O Município de Nova Iguaçu, também sinaliza alteração no
75

tratamento concedido às manifestações culturais. Japeri vem realizando evento significativos na


forma de agir sobre o patrimônio cultural.

Foto 8 - Entrada do Sítio Túnel I, bastante assoreada em função da erosão, e coberta pela vegetação. Fonte: José
Mauricio.
Foto 9 - Vista frontal do terreno onde está o Sítio Túnel I, no Bairro Shangrilá Rosa, Belford Roxo. Fonte: José
Mauricio.

O conjunto de vias de comunicação terrestre e fluvial como as estradas do Comércio,


Polícia, de Belém/Cacarias, do Aljezus, do Daniel, entre outras, constitui por si só, um acervo
que teve grande importância, enquanto condicionante sócio espacial, pela facilitação do acesso
aos lugares, o que favoreceu a expansão da ocupação. Cumpre lembrar que, apesar de
constituírem em sítios arqueológicos, não constavam no Cadastro Nacional de Sítios
Arqueológicos - CNSA/IPHAN até 2016. A meu ver, esse cadastro deveria ser direto na Rede de
Computadores com posterior oficialização pelo IPHAN, após confirmação de campo por sua
equipe de fiscalização.
O Caminho Novo do Tinguá, que constitui parte da titulada Estrada Real, cuja picada de
abertura é creditada a Garcia Rodrigues Paes, filho Fernão Dias Paes em 1567 e que teve um
atalho construído para Iguaçu (Porto) pode ter percorrido um caminho preexistente no período
pré-colonial, não foi possível, até agora, localizar evidencias arqueológicas do seu trecho inicial,
em Pilar, conforme Mapa de 1767 mandada fazer pelo Conde Cunha Capitram. Teve seu curso
ligeiramente modificado por Conrado Jacob Niemeyer (Peixoto, 1988, p.16). Ribeiro e Telles
(2016) fizeram uma sobreposição do mapa histórico ao atual demonstrando o seu trajeto do
ponto zero. Convidei os dois pesquisadores para uma caminhada de localização, do ponto zero
do Caminho Novo, mas até setembro de 2017 não foi possível ir ao campo com esse propósito.
Já a Estrada do Comércio, inicialmente, Caminho do Comércio, por ter sido construído
por sugestão da Real Junta do Comércio, partia da planície de Iguaçu, passando pela Vila
Santana das Palmeiras no alto da Serra do Tinguá até alcançar o Rio Paraíba do Sul em direção a
Ubá. Com calçamento de pedras, encontra na entrada da Reserva Biológica do Tinguá, o trecho
mais preservado. Porém à medida que avança para o interior da Rebio Tinguá deparamos com o
76

lastimável estado de preservação da via histórica, cujo calçamento, está se soltando e, aos
poucos, dominado pela vegetação. O acesso é difícil até mesmo por carros tracionados, onde há
29 anos, a Petrobras fazia a manutenção da via por cortar a Reserva com um oleoduto/gasoduto.
Tem obras de contenção voltadas à proteção da tubulação. Essa estrada precisa ser discutida em
relação à sua importância arqueológica.

Figura 10 - Mapa de Manoel Vieira Leão - Cópia feita do original em 1911. Fonte: Biblioteca Nacional - Setor de
Iconografia - BNDigital.

A Estrada da Polícia, mandada fazer pela Intendência Geral da Polícia em 1814 e


concluída em 1827, após várias interrupções, tem seu trajeto, hoje desconhecido e ao que tudo
indica, já o era em 1902 quando a Secretaria de Obras Públicas do Rio de Janeiro publicou um
relatório descrevendo seu curso. Com vários paredões que foram construídos para servirem de
contenção de barreiras formam um patrimônio ameaçado pelo avanço da urbanização e
ignorância dos moradores vizinhos que acabam se utilizando de sua pedras para alicerçarem suas
casas. Alguns trechos, ainda são utilizados hoje, como é o caso do que confronta a Fazenda São
Pedro com a Fazenda Saudade, chamada de Normandia II, cuja propriedade é reclamada pelas
Fazendas Reunidas Normandia, por conta de um processo administrativo de
desapropriação/regularização fundiária, que se arrasta desde 1963. Ela liga a Fazenda São Pedro
na vertente do Rio São Pedro à Fazenda Paes Leme, na vertente do Rio Santana. É utilizada por
grupo de motociclistas que percorrem trechos do seu percurso na mata. É um importante
77

patrimônio que ainda não consta no CNSA do IPHAN e pode ser convertido num projeto
visando a integração do patrimônio arqueológico num projeto público de gestão patrimonial.
Importante citar a observação do Professor Ondemar Dias (12-07-2017) sobre a
utilização dessas vias por grupos de motocicletas para fins de eventos desportivos, o que torna
urgente, observar qual a percepção e responsabilidade que essas pessoas têm sobre o patrimônio.
O Porto de Iguaçu com a Vila do mesmo nome que originou Nova Iguaçu está se
perdendo no meio de uma explosão demográfica expandida pela metropolização desenfreada do
Rio de Janeiro, que tem como consequência o apagamento da história pela destruição do
patrimônio cultural arqueológico que estabelece vínculo entre as comunidades que ali existem e
seu meio, através do tempo e o espaço socialmente ocupado. Existe uma informação de que há
um barco do período de exploração do Rio Iguaçu com uma hidrovia, enterrado em seu leito.
Essa possibilidade existe, como também a intenção de uma incursão para comprovar tão versão
popular. A Fazenda São Bernardino de 1875 que se tornou símbolo na Baixada Fluminense e foi
até elaborado um parque cultural para sua sede e adjacência está em lamentável estado de
conservação ao lado da Vila e Porto de Iguaçu. Recentemente, uma operação da CEDAE, retirou
parte de uma das paredes do prédio para tampar um buraco de vazamentos. Embora tenha
ocorrido denúncia por parte de grupos de defesa do patrimônio cultural, até março de2017
nenhuma consequência foi conhecida.
O Morgado do Marapicu do Século XVIII, no Mendanha e a Sesmaria doada a Inácio
Dias Velho Paes, neto de Fernão Dias Paes e filho de Garcia Rodrigues Paes, em 13 de agosto de
1743, nas margens do Caminho das Minas, tendo como limites os rios Santana e Santo Antonio,
no interior da qual surgiram vários engenhos, que constituiu um parque industrial que ocasionou
uma ocupação com perfil próprio, representam dois dos fatos que nortearam a História da região
em apreço e hoje encontram-se em franco processo de ruínas perdidas ou ameaçadas por
atividades econômicas. As ruínas da sede do Morgado do Marapicu, representado na cartografia
histórica, ainda não foram localizadas, mas a busca continua.
78

Figura 11 - Planta Hydro-Topographica da Estrada do Comércio entre os rios Iguassú


e Parahiba. Fonte: Biblioteca Nacional- Setor de Cartografia- CART 534304-
BNDigital.

Foto 10 - Estrada do Comércio na entrada da Rebio-Tinguá, em Nova Iguaçu. Fonte:


Instituto Amigos do Patrimônio - IAPAC.

O Estado Novo, instaurado em 1930, trouxe alterações territoriais que reconfiguraram o


espaço político administrativo local, provocado pelo Decreto Lei 311 de 02 de março de 1938,
que dispõe sobre a divisão territorial do país e chegou a editar mais de 60 (sessenta) resoluções,
normatizando o trabalho. Hoje, o acesso aos mapas produzidos pelos municípios, em
decorrência, daquele instituto legal, conforme Portaria 60, emitida em 22 de julho de 1939, pelo
Conselho Nacional de Geografia, seria depositado na Secretaria do Diretório Regional de
Geografia, até o dia 31 de dezembro de 1939, não foi, ainda, possível, em função do IBGE, não
saber onde se encontra esse material elaborado, ou seja, esse material está perdido ou destruído.
A partir deste marco, principalmente a toponímia local, teve mudanças consideráveis,
importantes à compreensão da história dos lugares, hoje.
79

Em 1964 com a Ditadura Civil-Militar implantada através de um golpe à Sociedade


brasileira, fez surgir em algumas regiões da Baixada Fluminense focos de resistência, com
destaque para os fatos ocorridos em Japeri, provocados pelo movimento de reforma agrária
existente em Pedra Lisa, Bairro Rural do Município. A área havia passado por várias
desapropriações, por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1958. Foi criada
uma comunidade rural, hoje, conhecida por Comunidade Tradicional, que foi, duramente,
atacada pela ditadura, cujos vestígios do conflito, apagados dos registros escritos, encontram-se,
supostamente, depositados sob o solo da região que aliados à morte dos que participaram e
testemunharam o fato, ameaçam a memória e a história. São vestígios de um episódio social que
pode ser recuperado e confirmado pela Arqueologia. A relação ditadura civil-militar/sociedade
rural japeriense está sendo publicada em vários trabalhos que começam a surgir na Região.
Ainda temos alguns sobreviventes desse período que narram o que lembram em descrições
constituída por ações de horror, praticadas pelo Exército Brasileiro, onde a queima de casas de
taipa e sapê dos produtores rurais, constitui um fato memorizado por todos, que viveram na
época. Josimar Fausto, filho de um produtor rural daquele período, luta pela regularização
fundiária, até hoje e afirma que existe um túnel construído para esconderijo de guerrilheiros. No
entanto, não lembra exatamente onde é, mas essa história me reporta a Belford Roxo, quando o
Sr. Dodô, fala que o túnel de lá serviu de esconderijo.

Fotos 11 e 12 - Sítio São Pedro 73 - Fazenda São Pedro - ITERJ. Fonte: José Mauricio.
Estas ruínas são grandes e testemunham o momento de expansão da Sesmaria que originou o
Município de Japeri em cumprimento das obrigações legais sobre o povoamento da área. A
80

Fazenda São Pedro 17 dispõe de várias ruínas dentro do seu perímetros e estão localizadas nas
partes mais altas da área, na base da Serra de Santana, na localidade rural de Jaceruba, nas
margens do Rio São Pedro, que nasce na Serra do Tinguá.
O Sítio Arqueológico São Pedro - 83 corresponde à parcela do Lote 83 da Fazenda São
Pedro já mencionada acima. Fica próximo à área do Sítio Arqueológico São Pedro- 71, na
mesma unidade fundiária. As ruínas são parecidas, porém com sugestão de função diferente,
provavelmente uma estrutura dentro da mesma unidade produtiva da Sesmaria em períodos de
tempo diferentes. Essa área é cortada pela Estrada da Polícia, através da qual se comunica com a
Fazenda Paes Leme, abaixo da chamada "Vila Tereza Cristina", atravessada pelo Estrada do
Comércio no Tinguá.

Fotos 13 e 14 - Sítio São Pedro 71- Fazenda São Pedro - ITERJ. Fonte: José Mauricio.

Um pouco acima dessa área, na margem esquerda do Rio São Pedro, tem-se um abrigo
que esta sendo considerado o Sítio Abrigo 001, em função de ser o primeiro de uma série que
sabemos existir na área de estudo.
Trata-se de afloramentos rochosos sobrepostos que formam uma estrutura com
capacidade para abrigo.
O Sítio São Pedro Abrigo I, que tem aproximadamente 4 X 5 metros, está localizado na
Reserva Biológica do Tinguá, acima da área de coleta e água pela CEDAE, nas vertente do Rio
São Pedro no meio da Serra. Existem relatos de objetos encontrados no interior, mas não foi
possível visualizar nenhum e fica indicado uma escavação arqueológica futura para esse sítio.

17
A Fazenda São Pedro é um próprio do Estado do Rio de Janeiro, localizada no território de dois municípios:
Japeri e Nova Iguaçu. Foi adquirida pelo Decreto 7.214 de 02 de dezembro de 1960 e da Carta de Sentença extraída
dos Autos da Ação de Desapropriação, proferida pelo Juízo da Vara dos Feitos da Fazenda Pública de Niterói,
Registro nº 7.681, Livro 07, fls. 06, publicada no Diário Oficial em 23 de janeiro de 1971 e reconhecida pelo
INCRA, através da Portaria 35, de 16 de setembro de 2005. Esta dividida em 100 Lotes destinados ao Programa
Nacional de Reforma Agrária.
81

Fotos 15 e 16 - Sítio São Pedro Abrigo I - localizado na vertente do Rio São Pedro dentro da Rebio - Tinguá. Fonte:
Eduardo Paiva.

Partindo para o outro lado da serra, mais próximo do topo ainda na Micro Bacia
Hidrográfica do Rio São Pedro, na encosta do morro da Serra de Santana ou Bandeira, como
preferem alguns, tem-se uma ruína, que segundo os mais antigos chama, "Vila Tereza Cristina"
e, até o momento, não foi localizado nenhum documento com referência a essa estrutura
representada por alicerceis de pedras sobrepostas, escadas de pedra, ferro e telhas de barro e
outras estruturas arquitetônicas mostrando um conjunto de obras pretéritas com referência ao
período Histórico do Município de Japeri. Trata-se de uma área grande construída na encosta do
morro dentro da Reserva Biológica do Tinguá, com acesso através de uma trilha que parte do
Sítio do Dr. Luiz Paes Leme em Jaceruba, ou pela Estrada da Polícia, por um trajeto mais longo
e difícil. Fica próxima ao local conhecido como Terra Fria. Na superfície, encontra-se com
facilidade, frascos de vidro em diversos tamanho e forma, despertando a ideia de uma casa
comercial chamada de "venda" que comercializava, entre outros gêneros, algum tipo de tônico
ou remédio, por conta do tipo de frasco encontrado em grande quantidade. Outra característica
que chama a tenção são os amontoados de pedras em canteiros regulares, simetricamente
elaborados, que ora reporta à limpeza do terreno para fins agrícola, ora deixa dúvidas sobre essa
prática, que é observada em outro ponto da região da pesquisa, já na Serra de Madureira
(Mendanha), subindo pelo Cruzeiro de Nova Iguaçu em direção à Gleba Modesto Leal, próxima
ao "Gericinó". Outro fato importante dessa estrutura trata-se do reforço à ideia de que Japeri teve
sua origem na serra.
82

Foto 17 - Escada indicando acesso à estrutura superior, na vertente do Rio São Pedro - Rebio Tinguá - Jaceruba.
Fonte Marcos Torres.
Foto 18 - Amontoado de pedras alinhados, comuns na área e arredores e em outras regiões. Fonte Marcos Torres

Estão num contexto que lembra um conjunto arquitetônico que teria funcionado até a
seca que atingiu a Capital do Império na segunda metade do século XIX e com base na
referência bibliográfica histórica apurada, mais especificamente a Planta Geral dos rios São
Pedro, Santo Antonio e D`Ouro, de 1889, indicando terrenos para desapropriação no local a
partir de estudos que reconheciam o Tinguá como fonte de recursos hídricos para o
abastecimento do Rio de Janeiro. Foram feitas várias obras, algumas inacabadas e como
principal legado desse processo foi a Floresta Protetora da União que em 1989, se tornou
Reserva Biológica do Tinguá que guarda um valioso acervo arqueológico.
Num primeiro momento, a indicação de uso do solo é para o cultivo agrícola canavieiro,
considerando os achados de superfície, constituídos de tachos, ferragens e restos de moendas,
principalmente. Cumpre mencionar, que a escavação não faz parte dos objetivos desse trabalho
que pretende conhecer o acervo patrimonial arqueológico visando seu inventariamento e
caracterização.
O Material abaixo encontrado disperso na superfície do terreno é constantemente
revirado por pessoas que moram na redondeza e passam por ali, através de trilhas no interior do
mato. O fundo branco é o reflexo da camisa de um dos pesquisadores, para facilitar visualização.
Após as fotos o material mostrado foi deixado no mesmo lugar.
83

Foto 19 - Telhas de cerâmica dispostas em grande quantidade na superfície - após as fotos o material foi deixado no
local. Vertente do Rio São Pedro, Rebio Tinguá, Jaceruba. Fonte: Marcos Torres.

Foto 20 - Frascos de vidro encontrados na superfície em abundância. Vertente do rio São Pedro, Rebio Tinguá,
Jaceruba. Fonte: Marcos Torres.

Passando para o outro lado da Serra de Santana, tem-se a vertente do Rio Santana, onde
são encontradas diversas ruínas, semelhantes às já apresentadas anteriormente. Esses ruínas
mostram um complexo de sítios arqueológicos do período Colonial/Imperial. O tamanho e forma
das ruínas nos reportam à função operacional que tiveram no passado e somadas às existentes na
vertente do Rio São Pedro, sugerem a existência de um complexo agroindustrial de peso na
economia da época. A primeira informação a considerar é a sumptuosidade das construções,
feitas com requintes o que demonstra o poder aquisitivo dos antigos proprietários e a valorização
que davam aos edifícios, que eram ostentados com material de excelente qualidade. O tamanho
das construções, também impressionam, pelas técnicas de sobreposição das pedra, rigorosamente
alinhadas e muito bem assentadas.
84

Figura 12 - Planta Geral dos rios São Pedro, Santo Antonio e Ouro indicando terrenos para desapropriação. Existem
várias ruínas nesse polígono. Fonte: GIFI 4B401 - MT- Maço 231-A - Arquivo Nacional

As ruínas da vertente do Rio Santana estão sob a influência do Assentamento da


Fazenda Paes Leme 18, instituído em 1988 pelo movimento da reforma agrária, o que provocou o

18
O Assentamento da Fazenda Paes Leme, reconhecido pelo INCRA em 30 de setembro de 1998, é formado pelo
conjunto de produtores rurais familiares e foi instituída a partir das terras remanescentes de duas outras fazendas na
área onde está situada: a Fazenda Pedras Azuis e a Fazenda Marimbas, conforme consta nos Decretos 16.276 de 01
de fevereiro de 1991, alterado pelo Decreto 16.394 de 05 de março de 1991 e 16.277 de 01 de fevereiro de 1991, que
declararam as terras descritas acima de utilidade para fins de desapropriação destinada à instalação de um projeto de
fazenda experimental do Estado, cuja tramitação se deu em função do Processo Administrativo E-28/3296/90.
85

repovoamento da área, antes ocupadas por poucas famílias descendentes dos antigos empregados
das fazendas do local.
Isso ampliou os riscos a que está submetido o patrimônio na área, despertando a
necessidade, urgente do exercício de ações destinadas à capacitação das pessoas do lugar em
lidar com esse bem compartilhado com elas no espaço e alcançar, um estágio que garanta sua
preservação. Esse tema será melhor abordado no capítulo sobre arqueologia pública, onde será
detalhado o plano de ação sobre esse local.
Tomando por referência Rubino (1996, p. 97), quando escreveu que, em 1961, após
quase três décadas à frente do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco
de Andrade, afirmou não ser o Brasil constituído, apenas de seu território, de sua configuração
no mapa do Hemisfério Sul. Para identificarmos a nação brasileira, dizia, teríamos de considerar
a obra da civilização realizada no país: a produção material e espiritual que herdamos.
Associando isso ao município em destaque, podemos reproduzir e aplicar as palavras de Rodrigo
Melo Franco de Andrade quando o município só é visto pelo seu território e arrecadação
fazendária. As necessidades da população, na ótica da gestão política, se restringe ao
"atendimento imediato" de dois direitos: "educação e saúde" e assim mesmo oferecidos de
forma bastante precários. A cultura só serve para negociar acordos de apoio a campanhas
eleitorais e também é vista com bastante restrição, direcionada a eventos de apresentações de
artistas de fora da cidade como cantores, a quem pagam fortunas, em festas comemorativas.
Como disse Harvey (2001, p. 221), não se pode negar que a cultura se transformou em algum
gênero de mercadoria e que, há a crença, muito difundida de que algo muito especial envolve os
produtos e os eventos culturais, estejam eles nas artes plásticas, no teatro, na música, no cinema,
na arquitetura, ou mais amplamente, em modos localizados de vida, no patrimônio, nas
memórias coletivas e nas comunhões afetivas, sendo, portanto, preciso pô-los à parte das
mercadorias normais, como camisas e sapatos. O patrimônio citado aqui, que representa o
território num ciclo de produção econômica de abrangência nacional - o ciclo da cana-de-açúcar,
passa despercebido diante dos olhos das autoridades e sociedade, sejam do local, seja do
regional. Mostra que a criação do SPHAN em 1937, embora tenha representado, para uma
pequena parcela da população, constituída de funcionários e correligionários, uma ruptura em
relação a uma tradição anterior que consideravam amadora no trato de assuntos relativos ao
passado tradicional brasileiro, para o grande público brasileiro, isso não significou nenhum
avanço. A prova está aqui, nos limites da atuação desse levantamento. Se por um lado houve um
descobrimento do país que se inventou e inventariou um Brasil histórico e artístico, etnográfico,
arqueológico e geográfico (RUBINO, 1996, p. 97), por outro lado, ficou de fora, um Brasil que
86

se encontrava além dos limites físicos de uma elite de intelectuais bem intencionados, mas
restritos a uma pequena realidade.

Foto 21 - Parte de uma moenda feita de ferro fundido, encontrada no alto da Serra de Santana sobre uma
estrutura de pedra em forma de muro de arrimo. Fonte: Ivo Almico.

Foto 22 - Parte da moenda encontrada na Serra de Santana na vertente do Rio Santana, acima da Fazenda Paes
Leme. Fonte: Ivo Almico.

A peça nas fotos 19 e 20, retratam uma moenda de cana, feita de ferro fundida, bastante
pesada, localizada junto com outros objetos de ferro e vidro. Foram encontradas sobre uma
estrutura terraplanada arrimada com pedras num alinhamento retangular em 1997. Após as
fotos, as peças foram deixadas no local. Alguns anos depois, ao retornar ao local, soube que a
mesma havia desaparecido. A área é bastante circulada por moradores e, em alguns casos, isso
tem convergido em risco ao patrimônio cultural arqueológico.
Essas ruínas sugerem pertencer à Fazenda Santana, cuja propriedade foi de um dos
herdeiros de Ignácio Dias Velho, no cumprimento das determinações da legislação de Sesmaria.
87

Foto 23 - Barragem de pedras arrimadas em alinhamento retangular cercando o terreno terraplanado


sobre o qual estava a parte da moenda. Fonte: Ivo Almico.
Foto 24 - Detalhes de uma pedra cortada e furada encontrada no espaço do terreno. Fonte: Ivo
Almico.

As fotos 21 e 22 detalham o terreno sobre o qual foi encontrada a peça da moenda de cana
localizado nas margens da Estrada da Polícia, na virada do topo da Serra de Santana, quando a
Estrada sai da vertente do Rio São Pedro, alcançando e atravessando o Vale do Rio Santana na
localidade de Paes Leme 19.

Foto 25 - Barragem localizada na Serra de Santana, acima da Fazenda Paes Leme. Fonte: José Mauricio.
Foto 26 - A saída de água da barragem localizada na Serra de Santana, vertente do Rio Santana. Fonte: José
Mauricio.

Situada no contexto da Sesmaria doada a Inacio Dias Velho, esta barragem construída
com pedras sobrepostas e cortadas propositadamente a esse fim, cuja afirmação tem origem na
simetria dos blocos, e destinada à captação de água de um córrego, hoje, com vazão, bastante

19
Não confundir a Localidade de Paes Leme, com a Fazenda Paes Leme, ambas situadas no Distrito de Conrado no
Município de Miguel Pereira-RJ, com acesso pela RJ 125, que liga a Rodovia Presidente Dutra a Paty do Alferes.
88

reduzida, chegando, praticamente, secar em janeiro de 2013, com a estiagem imprevista daquele
ano e agravada no local em função do desmatamento e práticas agrícolas impróprias. Foi
encontrada quando, em função do abastecimento de água para os produtores rurais, consequência
da seca comentada, foi iniciada uma vistoria nos mananciais hídricos da área de abrangência da
Fazenda Paes Leme. Quando seguia o curso de um dos córregos, deparou-se com essa estrutra de
pedra, desconhecida dos sitiantes.
Até maio de 2017, não foi possível compreender a função dessa barragem de captação
de água, uma vez que não foi localizada, ainda, uma ruína que pudesse indicar beneficiamento de
algum produto agrícola, ou mesmo abastecimento doméstico com a água captada por ela.
Percorreu os produtores próximos para entender a origem da água consumida por eles, mas
ninguém sabia informar sobre a existência de tal estrutura e, tão pouco, tinham informações
sobre alguma ruína (construção da época dos escravos), maneira como entende o registro
arqueológicos. As fontes d'água que abastecem os produtores rurais são as mesmas que
abasteciam a barragem localizada, porém, a captação é feita abaixo. Em Junho de 2017, um
Produtor Rural assentado no Lote 07 da Fazenda Paes Leme, informou conhecer as ruínas de um
engenho de farinha abaixo da barragem e se comprometeu em acompanhar até o local. As
estruturas abaixo mostram o conjunto de sítios arqueológicos situados na Serra de Santana, na
vertente do Rio Santana e exibe um caminho interno, ainda com seus pontos de origem e destino
desconhecidos.

Foto 27 - Mostra uma ruína na Serra de Santana com as mesmas características das demais. Fonte: José
Mauricio.

Foto 28 - Muro de arrimo num caminho localizado próximo à ruína exibida na foto 25, apresentando vários
trechos arrimado. Fonte José Mauricio.
A

direção que tomou indica o topo da Serra com virada para Japeri. No entanto, sugere a existência
de uma rede viária, que pudesse ligar as diversas estruturas do local à Estrada da Polícia, um
pouco acima e mais tarde à estrada construída a partir do Decreto 1018 de 22 de outubro de 1857
para ligar a do Comércio, na Serra da Viúva à Estação de Belém, e esta a Cacarias, em Piraí.
89

Foto 29 - Mostra o trecho do Vale do Rio Santana, visto da serra do mesmo nome. Fonte: José Mauricio.

Ainda nesse espaço, entre os rios São Pedro e Santana, com referência ao material
bibliográfico apurado pelo estudo, em especial o Relatório do Presidente da Província do Rio de
Janeiro, em virtude da Lei do orçamento provincial nº 2.095 de 24 de dezembro de 1871, que
entre outras determinações, fundou em Belém e Macacos (Paracambi), 2º Distrito da Freguesia
de Sacra Família do Tinguá, Município de Vassouras, uma sociedade denominada - Amante da
Instrucção- com o fim de fornecer roupas e calçados aos meninos pobres de ambos sexos para
poderem frequentar as escolas existentes naquelas localidades. A importância dessa informação
está relacionada ao fato de não se saber onde foi implantada essa sociedade e, possivelmente,
está na parte alta da Serra de Santana em situação de ruínas. Essa estrutura deve ser localizada e
incluída no acervo do patrimônio cultural arqueológico do Município. Outra informação extraída
do relatório é a que comunica a existência de duas barreiras em Belém, sendo uma filial, que
arrecadou 2:800$000 (dois Contos e oitocentos mil Reis) e tinha como coletor o Sr. Sabino
Antonio Damasceno. A localização e o cadastramento desses sítios será importante ao
enriquecimento do conteúdo da memória do Município de Japeri.
Na confluência do Rio Santana com o Ribeirão das Lajes, nasce o Rio Guandu, no
Município de Japeri, sempre tido como limites entre a sesmaria de Inacio Dias Velho e a
90

Fazenda de Santa Cruz, dos Jesuítas, hoje conhecida como Fazenda Nacional de Santa Cruz. A
bibliografia levantada sobre a região, mostra que os rumos topográficos das terras dos padres
atravessavam o Rio Guandu e vinham confrontar as do Engenho de Fernando Dias, na Fazenda
Belém, hoje em ruínas, registrada no IPHAN como Morgado de Belém, no pé da pedreira no
Bairro Chacrinha. Hoje, a área do sítio, pertence à Pedreira e é cercada por um muro construído
com tijolos de blocos de cimento e a entrada é restrita aos proprietários. No capítulo Arqueologia
Pública serão abordados os detalhes da transferência da propriedade do Sítio Morgado de Belém,
no início da década de 1990, mais precisamente, 1991.
A planta abaixo, mostra os limites da Fazenda de Santa Cruz, e como se configurava
em Japeri.

Figura 13 - Planta da Fazenda Santa Cruz. Fonte: Biblioteca Nacional-Setor de Cartografia -


CART 1330583- BNDigital
91

O Rio Guandu, além da linha de limite do estudo, serviu de base para diversos
assentamentos sociais, desde a época pré-colonial, em função de um espaço favorável à
ocupação sociocultural. Trata-se de uma extensa área formada por terras baixas alagáveis, mas
com elevações de colinas que tiram uma considerável faixa de terra da linha de inundação,
favorecendo a ocupação sociocultural, num perímetro fundiário com facilidade de caça, pesca e
coleta. Nesse território, dividido entre os municípios de Nova Iguaçu e Queimados, tem-se o
projeto de assentamento rural destinado ao Programa Nacional de Reforma Agrária conhecido
por Mutirão de Campo Alegre, onde foram descobertos, no início da década de 1980, pelo
Instituto de Arqueologia Brasileira - IAB, dois sítios arqueológicos tupiguarani, denominados de
Campo Alegre e Bosque, que somados às informações bibliográficas levantadas, potencializa o
lugar com a expectativa da localização dos sítios arqueológicos referentes aos engenhos de
Campo Alegre e Marapicu, entre outras estruturas mencionadas nas cartas históricas. O Rio
Guandu mostra ter sido uma via de penetração territorial, no período histórico, atraindo os
ocupantes da Baia de Sepetiba para o interior.
Embora o Mutirão Campo Alegre já tenha sido percorrido desde 1984, quando a área se
tornou bastante difundida pela ocupação do MST, nunca foi localizada nenhuma estrutura que
possa reportar ao engenho descrito na cartografia histórica. Outro fato ocorrido recentemente
nas margens do Rio Guandu, são as pesquisas arqueológicas em decorrência das grandes obras
de infraestrutura civil, a serem tratadas na parte Arqueologia urbana e que tem aumentando a
quantidade de evidências sobre a presença de grupos sociais no local, desde longas datas.
Seguindo os rumos do Rio Quebra-Coco, atravessado pela Estrada Velha de Aljezus, na
divisa do Município de Queimados e Japeri, tem-se os testemunhos de um período histórico,
muito importante para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Refiro-me ao Ciclo da Laranja,
cujos os sítios arqueológicos que representam esse período, estão cada vez mais ameaçados pela
urbanização. Os vestígios desse, importante ciclo econômico, são, principalmente, representados
por um sítio agrícola, onde está sendo implantado um "porto seco" pela Concessionária
ferroviária MRS Logística S.A. confrontado pelo Mutirão da Fé 20 e a Estrada Rio D`Ouro, a casa
sede do Mutirão da Fé e a conhecida sede da Fazenda Fanschem, registrada no IPHAN, mas que
foi, na verdade, o último projeto de uma casa de embalagem de laranja, a ser implantada em
Queimados e não chegou a ser concluída.

20
Projeto de Assentamento Rural criado em 1988 e reconhecido pelo ITERJ em 2015, localizado nos municípios de
Queimados e Japeri, atravessado pelo Rio Quebra-Coco, e cortado pela Estrada velha de Aljezus e D`Ouro.
92

Fotos 30 e 31 - Retratam o tipo de porto (atracadouro) existente no Rio Iguaçu. Fonte:


historiabaixadablogspot.com

O Rio Iguaçu, referência de limite físico desse estudo, igualmente ao Rio Guandu, corta
uma larga faixa de terras baixas limitadas por colinas ora mais elevadas, ora mais baixas, onde
tiveram início a ocupação colonial através dessa unidade hidrográfica e, esse processo está
representado, principalmente pelo atracadouro do Rio Iguaçu, conhecido como Porto de Iguaçu e
a Vila de Iguaçu, o sítio histórico de Nova Iguaçu, conhecido por Iguaçu Velho. Em função das
características ambientais, apresentada por uma hidrografia com capacidade de navegação e
fornecimento de alimentos que serviu de via de comunicação com a Baia de Guanabara,
considero que este conjunto esteja sobreposto a um sítio arqueológico do período pré-colonial,
uma vez que está localizado nas margens do Rio Iguaçu, principal rio desse rede hidrográfica.
Existem histórias contadas no local e bastante difundida entre os pesquisadores que conhecem o
espaço, sobre um barco enterrado no canal aberto para ligar o Rio Iguaçu ao atracadouro, no
período histórico, mas ainda não confirmado, embora a ideia de localizá-lo seja compartilhada
por vários profissionais que atuam ali.
O Porto e a Vila de Iguaçu junto com a Fazenda São Bernardino, de 1875, formam um
perímetro fundiário para o qual foi elaborado um parque cultural com o propósito de preservação
e lazer e acabou caindo no esquecimento, estão em lamentável estado de conservação e se
perdendo no meio de uma explosão demográfica expandida pela metropolização desenfreada do
Rio de Janeiro, apagando e isolando a memória no passado e destruindo o patrimônio cultural
que estabelece vínculo entre o grupo social e seu meio através do tempo, no espaço
culturalmente ocupado, quando poderia contribuir com o presente, numa perspectiva de
desenvolvimento local.
93

O transporte do café mineiro, bem como outras mercadorias em direção ao porto de


embarque do Rio de Janeiro exigia longo, cansativo e perigoso percurso pela Serra do Mar,
margeando precipícios onde, de vez em quando, a tropa assustada por qualquer motivo caía, com
prejuízo total dos animais e carga. Principalmente na descida, em tempo chuvoso, as pedras
molhadas da Estrada do Comércio, que era seu mais importante meio de comunicação com a
corte e nascia na Vila de Iguaçu, eram repetidos perigos para as mulas que transportavam uma
média de oito arrobas de café. O atracadouro de Iguaçu junto com o de Estrela era dos mais
importantes. Cumpre lembrar, o que diz o Professor Paulo Leopoldo, em entrevista pessoal
(2015), sobre o canal onde está o porto: _ "é antrópico e não comportava grandes embarcações,
portanto, tratando, apenas de atracador para pequenas embarcações que abasteciam as grandes".
A Vila de Iguaçu (abaixo), cujos restos são representados por uma torre sineira e um
cemitério, foi tombada provisoriamente, em 08 de abril de 1983, quando o Diário Oficial do

Figura 14 - "Vila de Iguaçu" levantada pelo Coronel Engenheiro Conrado Jacob Niemeyer
no ano de 1837. Fonte: Professor Afrânio Peixoto.

1- Morro da Cadeia; 10- Largo dos Ferreiros 19- Moro Demetriano

2- Caminho da Serra; 11- Armazém Soares Melo 20- Brejo Cambambé

3- Porto do Pinto; 12- Porto de Iguaçu 21- Marambaia

4- Porto do Viana; 13- Morro da Pessoa 22- Caminho dos Velhacos

5- Porto Soares Melo; 14- Morro do Marinho 23- Para Tinguá

6- Porto de Passageiros; 15- Morro do Vítor 24- Estrada do Comércio

7- Porto dos Saveiros; 16- Largo Lava-Pés 25- Estrada do Cambambé


94

8- Câmara Municipal; 17- Igreja N. S. Piedade 26- Córrego Mangangá

9- Cadeia; 18- Morro M. Lima 27- Estrada da Olaria

Estado do Rio de Janeiro, publicou na página 24, parte II o Edital de Tombamento editado pelo
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, autuado no Processo Administrativo E-
03/02453/78, nos termos do Decreto 5.808 de 13 de julho de 1982, Artigo 5º, Inciso II e descreve
também, a área onde se insere, às folhas 32 e fixada em mapa às folhas 34 do P.A. citado,
conforme copiado abaixo:

_ " a partir do canal Tinguá com o canal Iguaçu, continuando por este por cerca de 430 ,
40 metros até encontrar o limite da Fazenda Barão de guandu; descendo em linha reta
por sobre os morros Lavrado, M. Lima, até encontrar a estrada da Grama no local do
marco da Grama; segue pela Estrada da Grama por cerca de 140,00 metros; deste ponto
sobre uma reta com cerca de 682,00 metros até atingir a Estrada do Cambambé no local
do marco do monumento próximo aos bambus; prossegue o perímetro pela Estrada do
Cambambé até atingir um largo, onde existiu a Igreja de Nossa Senhora da Piedade e
doiscemitérios. deste ponto segue umma Estrada sem nome entre o morro do Vitor e
Morro Marinho até atingir o Largo do Lava Pés, que fica junto à atual estrada federal
para Tinguá; do Largo segue a antiga Estrada do Comércio passando pelo largo dos
Ferreiros continuando pela estrada até atingir o canal de Iguaçu, a 261,10 metros do seu
encontro com o canal Tinguá, ponto inicial, fechando assim o perímetro".

As fotos abaixo, mostram a situação do cemitério, em péssimo estado de conservação, e


é utilizado por religiosos do candomblé para cultos. Existe um cemitério acima, ainda utilizado,
cujos coveiros fazem a manutenção do antigo.

Foto 32 - Cemitério de Iguaçu datado de 1875. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural.

Foto 33 - O Cemitério de Iguaçu em 2016, mostra que todas as cercas e portão foram arrancados. Fonte: José
95

Como descrito antes, dentro desse contexto, encontra a Fazenda São Bernardino que se
tornou símbolo da Baixada Fluminense demonstrando em sua arquitetura o apogeu do período
cafeicultor e marcando a época de um ciclo econômico que atingiu o Brasil inteiro e deixando na
região em estudo, as sequelas daquele período, cujas consequências sofremos ainda hoje, mas
que, está cada vez mais, esquecido na memória da população.

Foto 34 - A Fazenda São Bernardino vista da estrada principal cercada por palmeiras. Fonte:
fotografiabarragem.com.br

Foto 35 - A Fazenda São Bernardino no ano 2000, após vários incêndios e atos de
vandalismo. Fonte: fotografiabarragem.com.br

Construída pelo Comendador Bernardino José de Souza e Melo, em 1875, para o


engenho e fabrico de polvilho, constitui-se no conjunto arquitetônico da Fazenda São
Bernardino, composto por casa grande, senzala e engenho, representa um exemplo de construção
neoclássica na região. Na década de 1980, vários incêndios arruinaram o que restava da
propriedade, que já havia sido saqueada e abandonada por seus últimos donos. Foi tombada pelo
IPHAN em 26 de fevereiro de 1951 através do Processo 432T, e inserida, juntamente com o
acervo descrito anteriormente, na proposta do Parque Metropolitano de Múltiplo Uso São
Bernardino pela Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro -
FUNDREM em 1975.
Esse projeto, hoje, faz-se extremamente necessário, num momento em que se confirma
o que já se dizia em 1988, quando da primeira proposta de estudo dessa região (Silva e Lemos,
1988, p.p. 04), "o patrimônio arqueológico dos municípios abordados por este Projeto, passa
despercebido diante da sua população e autoridades, seja qual for o nível cultural ou
escolaridade. Isso acarreta sua depredação desenfreada, descaracterizando a cultura local através
96

do corte do vínculo com sua história, pelo bem destruído, pois a população não o reconhece,
enquanto parte do seu passado."
Muitos conhecimentos populares estão perdidos ou esquecido ou, ainda, limitados à
memória de alguns, que embora tenham o interesse e a consciência, não dispõem dos recursos
demandados à execução de um trabalho intensivo. Esses recursos são de ordem política, social e
financeiro que somados a uma série de fenômenos, onde o avanço do neo pentecostalismo, a
urbanização e a metropolização do Rio de Janeiro configuram como os principais fatores
limitadores da preservação cultural, especialmente o patrimônio arqueológico na região.
Hoje, pouco ou nada se conhece sobre a população nativa nos municípios base desse
estudo. Restos que expressam as atividades cotidianas dos grupos pré-coloniais, estão perdidos e
precisam ser encontrados para uma melhor compreensão da atual sociedade regional. Um bom
resultado tem sido alcançado com a arqueologia de contrato, que ao desenvolver pesquisa de
salvamento no espaço, tem contribuído com a produção desse conhecimento. Essa pesquisa
encontrou dificuldade para localizar sítios arqueológicos pré-coloniais, uma vez que, estão fora
do alcance das vistas e sua localização exigiu intervenções no solo para as quais não estava
autorizado. A localização de sítios desse período foi feito por trabalhos de terceiros.
O levantamento do patrimônio arqueológico propiciará, mediante estudos e
planejamento, o surgimento de áreas turísticas pela sua importância histórica e social,
favorecendo assim o desenvolvimento de opções de lazer e divertimento, bem como o
surgimento de “unidades econômicas”. Daí a defesa para resgatar o projeto da Fazenda São
Bernardino e reavaliá-lo, o que com certeza será capaz de gerar preservação, renda e emprego e
principalmente, desenvolvimento humano.
A seguir, tem Santana das Palmeiras nas margens da Estrada do Comércio, na Serra do
Tinguá, que segundo o Professor Afrânio Peixoto, em entrevista pessoal em 27-07-1989, foi um
povoado próspero, que em 1881 teve restabelecida a escola para meninas, fundada em 1869 e
tinha como professores, em 1876 Leoldino Honorato Lopes e Luzia Maria de Lima Rabelo. E
que em 1857 foi instalada uma agência postal considerando o desenvolvimento socioeconômico
do povoado que chegou até o século XXI representado por documentos e as ruínas da igreja.
97

Foto 36 - Mostra a lateral da Igreja de Santa das Palmeiras, na Serra do Tinguá, margens da Estrada do Comércio.
Fonte historiabaixadablogspot.com

Foto 37 - Mostra a parte frontal da mesma Igreja. Fonte: historiabaixadablogspot.com

Figuras 15 e 16 - Folha de rosto e folha de registro de um livro de batismo em Santana das Palmeiras. O
Original está na Diocese de Nova Iguaçu. Fonte: historiabaixadablogspot.com

O antigo povoado se localiza no meio da Reserva Biológica do Tinguá, criada em 23 de


maio de 1989, pelo Decreto 97.780, com 26. 260 hectares, o que lhe garante proteção de um
lado, mas de outro, não há nenhum programa que aborde o acervo arqueológica existente.
98

Figura 17 - Mostra a parte frontal da Igreja de Santana das Palmeiras no alto da Serra do Tinguá. Fonte:
historiabaixadablogspot.com

Foto 38 - Ruína da torre da Igreja de Santana, exibindo o resto da parte frontal mostrada na figura 11. Fonte: José
Mauricio.
99

Foto 39 - Parte lateral da Igreja de Santana em janeiro de 2016. Fonte José Mauricio.
Foto 40 - Coluna do portão do cemitério localizado na parte de trás da Igreja de Santana. Fonte: José
Mauricio.
100

8 A ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM

Diante do extenso tratamento dado ao tema, julguei oportuno antes de abordar a


Arqueologia da Paisagem, considerar a trajetória e os diversos conceitos de paisagem, definida,
por alguns, como o espaço da ação humana, seja através da atividade física, seja pela concepção
mental atribuída ao meio, dando lhe significados e valores, o que Mataloto (2007, p. 123)
"entende como o resultado da interação estreita e unificadora entre a componente natural e o
elemento humano, numa dimensão material e imaterial, essencialmente perceptiva e conceitual,
numa dinâmica constante de interação e vivência". Com posição diferente, Ingold (1993, pp.
154, 156), considera a paisagem qualitativa e heterogênea distinguindo-a dos aspectos
fisiográficos, enquanto natureza, que é quantitativa e homogênea. Para o autor, o conceito de
paisagem, coloca ênfase sobre a forma, da mesma maneira que o conceito de corpo, enfatiza a
forma ao invés da função da vida de uma criatura e, é sempre produto da ação cultural. Já Valera
(2000, p.114), diz que paisagem é a realidade englobante, resultado da interação orgânica entre o
todo social e o meio ambiente.
Incluída na diversidade conceitual da questão, Sousa (2004, p. 67), ao citar Rubertone 21
(1989), faz uma análise das paisagens nos anos 80, até então, vistas como configurações
resultantes apenas de mudanças ou eventos aleatórios, desprovidos de qualquer significado
ideológico e atributos de participação ativa, passaram a ser entendidas "como uma força ativa na
criação da ordem social, legítimando-a e causando-lhe mudança". Já para Salgueiro (2001, p.37),
a paisagem surge na pintura em consequência da ruptura com a visão teológica medieval,
integrando-se numa série de acontecimentos que vão dar corpo ao projeto da Modernidade.
Ainda considerando Salgueiro (2001, p. 38), onde a autora diz que, até o século VXIII, a
paisagem era sinônimo de pintura e foi nessa mediação com a arte, que o sítio ou lugar adquiriu
estatuto de paisagem, o que a fez atribuir ênfase na:
Fruição da natureza como espetáculo estético, implícita à invenção da paisagem,
implica o afastamento entre o sujeito e o objeto de contemplação (a natureza), a
mobilização dos sentidos e a aprendizagem de códigos de seleção, apreciação e
valorização, os quais fazem parte de um modelo cultural, pois a paisagem é uma
maneira de ver o mundo e só se vê o que se tem na cabeça (Piveteau, 1989)... ... que a
nova relação da sociedade com seu espaço não é portanto, um dado mas, um produto
construído por um processo cultural e social. Requer aprendizagem. É necessário
preparar o olhar para descobrir a beleza da natureza através de um processo cultural de
aprendizagem de códigos e modelos a que Roger (1989 e 1991) chama articulação in
vitu que consiste na inscrição do código artístico na materialidade do lugar, na sua
transformação de modo a torná-lo belo [...]

21
RUBERTONE, Patrícia. 1989. Landscape as Artifact. Comments on "The Archaeological use of Landscape
Treatment in Social, Economic and ideological Analysis." In Historical Archaeology, 23 (1): 50.4
101

Como diz Mataloto (2007, p. 123), a paisagem, enquanto resultado da interação homem-
natureza, surge-nos, hoje, como um verdadeiro repositório de existências e vivências que se
desenrolaram ao longo de milhares de anos. É esta paisagem construída, trabalhada,
conceitualizada que, ainda hoje, nos acompanha pejada de simbolismos, códigos e significações,
que procuramos decifrar com a atividade arqueológica, numa ânsia de criação/preservação da
memória coletiva:
A paisagem é, no fundo, a percepção cognitiva da envolvente exterior pelo elemento
humano,constituindo a memória a tomada de consciência da ação cognoscente. Assim,
na realidade, paisagem e memória resultam num binômio inseparável, de total
complementaridade, cuja construção corre em paralelo. Por outro lado, julgo ser da
construção e partilha de uma paisagem, e logo de uma memória, pelo grupo ou pelo
indivíduo, que surge a noção de identidade, enquanto sentimento de inclusão/pertença;
isto é, a identidade é a partilha de uma memória coletiva.
Deste modo, a construção da paisagem faz-se não apenas pela adição ou transformação
de um conjunto de realidades fisiográfica e arquitetônicas, mas igualmente, e
principalmente, pela inclusão, muitas vezes ritualizada, de novas conceitualizações, que
geram uma nova semântica da paisagem. Assim, a sua profunda transformação poderá
ser gerada sem uma alteração radical do contexto físico e material das pré-existências,
“apenas” com a sua reconceitualização.
Será entre este binômio, paisagem e identidade, que acabará por se desenrolar o
conjunto de reflexões que se pretende desenvolver em seguida, através de um “fio
condutor”articularmente marcante nos horizontes alentejanos, o Megalitismo, aqui
entendido em largo espectro, e logo funerário e não-funerário. Por outro lado, o
Megalitismo pode também ser entendido como o conjunto das práticas funerárias
próprias do IV/III milênio a.C. (Gonçalves, 1992), afastando-se de um entendimento
exclusivamente arquitetônico, justificando então o subtítulo utilizado.

Para Corrêa (1995, p.p. 03, 04), a paisagem articula o saber sobre a natureza com o
saber sobre o homem, sendo de um lado o resultado de uma dada cultura que a moldou e, de
outro, constitui-se em uma matriz cultural. Lino (2012, p. 60) aborda o aspecto imaginado,
simbólico, cognitivo, que também deve ser considerado, para além da materialidade, que eu
considero mais importante de todos, pois é onde se manifesta o processo educativo da sociedade
como um todo, e na brasileira, não somos preparado para perceber o valor o patrimônio cultural
arqueológico. Para Branton (2009, p. 51), as paisagens são espaços limitados nos quais se
manifestam o comportamento humano, indo além de uma questão de escala e alcançando a
natureza e o contexto do espaço e o comportamento humano desencadeado.
Com a exposição anterior, busquei mostrar as diversas abordagens relacionadas ao tema
paisagem sem que, contudo, haja qualquer exclusão entre elas. A meu ver são pensamentos
diferentes sobre a mesma coisa que se somam trazendo contribuições de alguma forma. Chamam
atenção no momento em que direcionam o conceito de paisagem ao trabalho que está sendo
relatado, através de uma definição. Nessa linha, as abordagens ganham foco com a apresentação
de palavras que nominam, de forma específica, o que está sendo coberto aqui. Assim a expressão
paisagem cultural, se aproxima do tema tratado, sem negar que as demais formas não sejam
102

importantes ou apontar divergências entre elas, mas apenas dar ênfase à transformação
desencadeada pelos grupos sociais no meio e possíveis de serem observadas no espaço.
Nessa direção tomo Costa e Gastal (2010, p. 2) 22, quando abordam o conceito de
Paisagem Cultural, atribuindo-lhe uma trajetória ao mostrarem que o mesmo se afirma na Escola
de Berkeley, na Califórnia (EUA), no início do século XX. Segundo as autoras a adoção do
conceito de Paisagem Cultural por órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio em nível
nacional e internacional é recente, evidenciando uma nova lógica em relação ao patrimônio
cultural e, nesta fala, acrescento, em especial ao arqueológico. Para Corrêa (1995, p. 4),
paisagem cultural é constituída pelo conjunto de formas dispostas e articuladas entre si no espaço
como os campos, as cercas vivas, os caminhos, a casa, a igreja, entre outras, com seus estilos e
cores, resultante da ação transformadora do homem sobre a natureza. Assim, a paisagem é
direcionada aos interesses desse estudo que, diante das diversas considerações apresentadas e,
outras tantas podem ser enumeradas usarei, por adesão, o conceito de paisagem proposto por
George Bertrand (1971, 2004, p. 141), citado por Schier (2003, p. 80), como uma porção do
espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e
antropológicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto único e indissociável, em perpétua evolução.
Não vejo, nas exposições sobre os conceitos de paisagem, incompatibilidade entre si,
mas complementação que tornaram possíveis estabelecer uma definição e atribuição para a
Arqueologia da Paisagem tendo como referência teórica Honorato (2009, p. 127), que a define,
enquanto uma linha de pesquisa que considera, não apenas, os artefatos arqueológicos
encontrados nos sítios arqueológicos, mas também todo um contexto ambiental, utilizando os
geoindicadores arqueológicos, que podem fornecer uma série de informações e de evidências
sobre as ocupações pré-coloniais:
A arqueologia da paisagem possui como estratégia de pesquisa, a mínima intervenção
no registro arqueológico, na tentativa de inferir sobre o modo de ocupação das
populações que habitaram o território onde se insere o sítio arqueológico, analisando,
além de artefatos arqueológicos, os vestígios e intervenções encontrados no entorno do
sítio.

A Arqueologia da Paisagem propõe um modelo alternativo para a abordagem da relação


Homem/Espaço, cujos fundamentos filosóficos são centrais na evolução das ciências sociais
(VALERA, 2000, p. 116).

22
Trabalho publicado no Anais do VI Seminário de Pesquisa em turismo do MERCOSUL, Saberes e fazeres no
turismo: Interfaces, nos dias 9 e 10 de julho de 2010. Neste trabalho, as autoras citam o artigo "A Morfologia da
Paisagem", escrito pelo geógrafo estadunidense Carl Ortwin Sauer, em 1925, que segundo elas, viria a se tornar um
dos maiores expoentes na defesa do caráter científico da paisagem dentro da Geografia.
103

Na arqueologia, a paisagem é o espaço visível pelo pesquisador, onde ele concentra seus
estudos na busca de entender as sucessivas ocupações humanas em uma mesma paisagem e
como ocorreu essa transformação (HONORATO 2009, p. 147). Para Copé ( 2012, p.p. 92-121)
trata-se da:
Orientação teórica metodológica de médio alcance aplicada ao estudo de sociedades
pretéritas e contemporâneas dentro do contexto de suas interações no ambiente natural e
social em que habitam. A origem do uso desta abordagem na arqueologia remonta às
décadas de 1950 e 1960 quando começam as preocupações com estudos de âmbito
regional. O conceito de paisagem, assim como, a utilização desta abordagem na
interpretação do registro arqueológico evoluiu muito no decurso do século passado. A
paisagem foi, e é, considerada por muitos como sinônimo de meio ambiente físico. Ao
longo do século XX, percebemos basicamente três linhas mestras de interpretação da
relação Homem versus Ambiente: 1. o ambiente como condicionador ou como mero
cenário das ações humanas, 2. a interação entre homem e natureza (necessitando
métodos de mensuração dos níveis de adaptação) e 3. o homem construindo,
economicamente, socialmente, simbolicamente, o seu espaço.

Para José Luiz de Morais (2007, p. 102), a abordagem da paisagem ou dos entornos de
ambientação de sítios e locais de interesse arqueológico vem se firmando cada vez mais com o
uso das tecnologias hoje disponíveis: sistema de sensoriamento remoto (imagens de satélites,
fotografias aéreas e fotografias terrestres), sistema de informação geográfica, sistema de
posicionamento global, sistema de gerenciamento de bancos de dados, tecnologias não invasivas
de terreno e construções, etc. O autor define a arqueologia da paisagem como:
a linha de pesquisa que melhor sustenta os estudos de arqueologia preventiva. Enquanto
subcampo, ela estuda o processo de artificialização do meio, na perspectiva dos
sistemas regionais de povoamento. Seu tema central é a reconstrução dos cenários das
ocupações humanas, com foco na dispersão das populações pelo ecúmeno, episódio que
gerou paisagens específicas.

Pode-se observar isso com muita facilidade no espaço territorial dos municípios aqui
tratados, o que nos leva a concordar com Diniz (2000, p. 21) quando diz:
que a ocupação do espaço geográfico brasileiro e a formação do espaço econômico
passaram por várias etapas que foram, fundamentalmente guiadas pelas possibilidades
de cada região se inserir no comércio internacional, a exemplo do açúcar no Nordeste,
do ouro em Minas Gerais e Goiás, a borracha no Norte, do café no Sudeste, da pecuária
no Sul, etc. A infra-estrutura era muito limitada, resumindo-se a um precário sistema de
transportes ligando as regiões produtoras aos portos de exportação, em torno dos quais
se formaram as mais importantes cidades.

Segundo Torres (2007, pp.77), a Arqueologia da Paisagem é hoje um componente


importante dos estudos realizados por arqueólogos para a compreensão dos povos e culturas do
passado:
[...] a paisagem tem sido analisada por uma variedade de abordagens que têm se
colocado além da ideia de que ela constitui-se apenas em um recurso para abrigo,
aquisição de matéria-prima e práticas de subsistência.
104

Esse discurso me chamou a atenção, uma vez que o patrimônio arqueológico faz parte
da natureza do lugar, logo da paisagem e, enquanto povo, não estamos treinados a vê-lo.
As diversas transformações pelas quais passou a Baixada Fluminense, em especial os
municípios de Nova Iguaçu, Queimados, Mesquita, Belford Roxo e Japeri, principalmente com a
criação das diversas vias de acesso, construção de diques para represamento de água, instalação
de tubulações para o abastecimento da Capital do Império e um sistema de dragagem que drenou
os pântanos que afloravam no meio físico local, me reportou ao conceito de paisagem e
consequentemente me levou a uma abordagem arqueológica paisagística. Tais transformações
ocorridas nas paisagens da região, ganharam um novo elemento, localizado e caracterizado pelas
ondas migratórias que fizeram crescer a sua população num ritmo muito acelerado que, por si só,
foram suficientes para criar uma paisagem urbana característica e com peso para impactar a zona
rural que ainda existe. Nessa direção, considerar o espaço territorial constituído por uma área de
796,016 km², parcelada em cinco municípios, ocupados por uma população estimada pelo,
IBGE, para 2016 de 1.707,683 habitantes, como já mencionado anteriormente, provocando a
artificialização do meio, de forma, nunca visto antes, e colocando-se, como fundamental e
urgente, na pauta das discussões e propostas de trabalhos arqueológicos, uma vez que esse
contingente age sobre a paisagem confirmando sua dinâmica, posto que, o ser humano, não só
vive no lugar, mas cria e recria o seu próprio lugar de viver.
Vejo no crescimento demográfico, desordenado, uma situação agravada, por exemplo,
em uma comunidade, onde o cidadão comum, que vive as mais diversas experiências cotidianas,
relacionadas com a integridade física ameaçada pelos problemas de moradia, segurança pública,
saúde, emprego e renda, entre outros, forma o conjunto habitacional que entorna o patrimônio
cultural arqueológico. É comum ouvir como argumento de um morador que destruiu parte ou
toda a ruína em pedras, a alegação de que precisa construir sua casa. Me reporto também à
experiência com as escolas da rede particular, que em sua maioria, com poucas exceções,
treinam seus alunos à uma visão de mundo além das fronteiras locais, regionais e, até nacionais,
na qual o lugar de vivência, não é mostrado ou, tratado pelo seu potencial e consequente
tratamento recebido por parte do poder público, lhe atribuindo características, que "neste
momento", apresenta-se com aspecto bastante maltratado e considerado feio, consequência da
ausência de uma política de atuação efetiva. Outro fator a considerar é a urbanização na vertente
da capitalização do solo urbano onde o espaço se transforma numa fantástica fonte de capital e o
patrimônio arqueológico ali existente é visto como entulho a ser retirado ou aproveitado no
aterro da terraplanagem para construção de casas ou outras instalações, que serão vendidas a
105

preços enriquecedores. Esse assunto será abordado com mais detalhes no Capítulo Arqueologia
Urbana.
O processo de ocupação do território em apreço, se tornou viável a partir do momento
em que os grupos sociais se apropriam do meio e o adequaram às suas pretensões. Tal processo
teve um papel importante nas alterações locais definindo espaços e lugares que se tornam nítidos
pelas mudanças efetuadas. Essas alterações se dão num plano amplo ou reduzido, isto é, um
simples objeto inserido num contexto sociocultural, ou um caminho formado por um longo
percurso com função de mobilidade.
Quando teve início a produção industrial brasileira, na segunda metade do século XIX,
ela se realizou de forma descentralizada e fortemente vinculada aos mercados regionais,
conforme diz Furtado (2009, p.p.159-163 ), citado em Diniz (2000, p. 21). Isto certamente
ocasionou transformações que reestruturaram a paisagem do setor produtivo nos locais,
retratando um patrimônio cultural arqueológico com características próprias vinculadas a essa
nova fase. Essa fase pode ser identificada, tanto na representação da Fazenda São Bernardino,
como na estrutura do registro arqueológico histórico nos domínios da Sesmaria doada a Inacio
Dias Velho, onde podemos identificar um acervo arqueológico que sugere um parque
agroindustrial com forte marca na paisagem do passado. Isso demanda o uso da Arqueologia da
Paisagem enquanto um método que permite ampliar a escala da unidade arqueológica para uma
perspectiva de conjunto e até região. Desta forma, percebo a utilidade da arqueologia da
paisagem como suporte para lidar com vários sítios arqueológicos disposto em contexto (tempo,
espaço, artefato-monumento) formando uma unidade. Isto lhe atribui uma visão holística pela
qual o cientista pode ser levado a ter em mente várias escalas de análise espaciais e temporais,
conforme visto em Clark e Scheiber (2008, p.p. 03 a 09).
Ao falar do patrimônio cultural do espaço territorial limitado pelos municípios
abordados, é importante observar o que disse Lago (2000, p.207) em que faz referência às
transformações observadas à partir de 1980:
[...] os impactos sociais e espaciais da crise e da reestruturação econômica, no qual a
ideia de dualidade alcançou relativa hegemonia, seja no âmbito da estrutura social, seja
no da nova desigualdade espacial ou, mesmo, por novas formas de segregação...
... as macrotendências econômicas, vistas através das mudanças nos perfis
socioocupacionais das diferentes área que conformam o espaço metropolitano e as
microtendências da dinâmica urbana, marcadas pelo comportamento dos submercados
imobiliários, pela ação do poder público sobre o espaço construído e pela mobilidade
residencial dos diferentes segmentos sociais no interior da metrópole [...]

Hoje, observamos no local, e mesmo na região, uma associação entre o poder público
nas diversas esferas, o que entendo no que Lagos (2000, p. 208) chamou de submercado,
processo no qual verifica uma expansão criminosa da ocupação e capitalização do solo urbano e
106

rural comprometendo entre outras coisas ali inserido, e de forma especial, o patrimônio
arqueológico. Esse manejo político-criminoso, altera a paisagem local, numa velocidade quase
impossível de conter, pelos interesses da preservação e valorização dos traços culturais
característicos. Verificando o que disse Filho (1998, p. 02), as questões ambientais, em geral,
extrapolam as áreas de atuação de várias ciências, posto que a compreensão das relações do meio
ambiente e sua dinâmica requer uma visão integrada de ambos os aspectos físicos e ecológicos
de sistemas naturais e de suas interações com os fatores sócio econômicos e políticos.
Nesse trabalho que visa o estudo do processo de ocupação do território correspondentes
ao espaço referenciado pelos rios Iguaçu, Santana e Guandu e os maciços do Tinguá e
Mendanha, a partir do levantamento do patrimônio arqueológico que corresponde ao testemunho
da presença humana na área desde o primeiro momento da chegado dos primeiros grupos sociais,
condiz com as etapas de ocupação e desenvolvimento das atividades antrópicas que alteraram o
meio natural e condicionaram o espaço. Isso nos remete à ideologia, que segundo Leone (1984,
p. 371), arqueólogos históricos tem buscado no campo da teoria da ecologia cultural e padrão de
assentamentos dados para o estudo de regiões remanescentes do período colonial, o que é o caso
deste projeto.
Diz que a ideologia não constitui, nem uma visão de mundo e, tão pouco um tipo de
crença, mas ideias sobre a natureza, causas, tempo, e pessoas ou aquelas coisas tomadas
por uma sociedade como "dadas certas" e que estas ideias servem para naturalizar e,
portanto, mascarar as desigualdades na ordem social, onde ideias, como a noção de
pessoas, quando acriticamente, aceitas, servem para reproduzir a ordem social.

Com isso, busco entender se, de alguma maneira, o espaço transformado na atual
paisagem parte, antes, de um planejamento, ainda que inconsciente dos ocupantes de certa época
e se isso pode ser visualizado através do acervo arqueológico.
A partir deste momento a paisagem começa a ter um significado diferenciado, deixando
de ser apenas uma referência espacial ou um objeto de observação. Ela se coloca num contexto
cultural e discursivo, principalmente nos discursos das artes e, pouco depois, nas abordagens
científicas que rompem com a ideia da Idade Média de que, o mundo inteiro, seja a criação de
Deus e por isso santificado e indecifrável (SCHIER, 2003, p. 81).
Nessa corrente, temos como representante arqueológico, os caminhos, entendidos, aqui,
como as vias de acesso destinadas ao deslocamento humano, seja dentro do lugar de
assentamento, neste caso traçados de curto percurso, seja para interligar assentamentos diferentes
e regiões, onde os traçados são para percorrer médias e longas distâncias, respectivamente. Pela
área da pesquisa pode se ser verificada uma rede viária de alcance nacional, regional e local, que
possivelmente, muitos de seus caminhos, remontam ao período pré-colonial, tendo sido
107

originado pelos nativos que se utilizariam deles para a dinâmica do dia a dia e apropriação do
território. Necessitam de maiores investigações, com prospecção e escavação em locais
específicos a fim de confirmar tal hipótese.
Entre os caminhos merece destaque aqui, o Caminho Novo, cuja picada é creditada a
Garcia Rodrigues Paes, neto de Fernão Dias, o caçador de Esmeraldas.

Figura 18 - Fachada da Igreja Santana das Palmeiras que


se localiza nas margens da estrada do Comércio, no interior
da Rebio-Tinguá - Nova Iguaçu-RJ. Fonte: Amigos do Patrimônio.

Os caminhos foram condicionantes sócio espaciais para a implantação de sesmarias,


como as que foram doadas a Inácio Dias Velho, em especial, a de 13 de agosto 1743, cuja
principal vantagem foi ter como testada a Leste, o Caminho das Minas. Isto, certamente, colocou
o Donatário em posição privilegiada diante da ocupação territorial. Sugeri, num primeiro
momento, que a primeira construção desta unidade fundiária, tivesse sido erguida nas margens
dessa via de circulação nacional e sua exploração nos limites estabelecidos pela carta de doação,
tivesse se dado a partir desta estrada de acesso de importância nacional e pelo facão das serras da
Viúva e da Bandeira, principalmente, considerando que a baixada era inundada, inundável e tida
por anecúmena. No entanto, novas informações decorrentes dessa pesquisa, apontam uma outra
possibilidade de ocupação, pela existência de outras vias, já existente naquela dada. Teve como
desdobramento final, o Município de Japeri, após vários ordenamentos do seu território. Cabe
ressaltar que a localização de sítios arqueológicos nesse trecho vem confirmando tal hipótese.
Os caminhos foram, também, responsáveis pelo surgimento de diversas formas de
ocupação às suas margens, com funções que variavam de roças, onde se cultivavam produtos
agrícolas para o fornecimento de alimentos destinados à alimentação humana e animal. Nestas
roças, além da plantação de milho, cana, batata doce, feijão, abóbora, cará, arroz, mandioca,
inhame, legumes, algodão e da criação de bois, cavalos e porcos, foram erguidos engenhos de
108

açúcar e engenhocas de aguardente. Várias roças foram estabelecidas entre os rios Preto,
Paraibuna, Paraíba e Piabanha que se transformaram posteriormente em povoações. Outra forma
de ocupação do espaço ao longo das passagens, foi a implantação de ranchos com estalagens
para os tropeiros, além de postos de fiscalização do ouro. Santana das Palmeiras, hoje em ruínas,
foi uma vila próspera, que se localiza às margens do caminho Novo do Tinguá, de frente às terras
da sesmaria doada a Inácio Dias Velho. A fachada da Igreja de Santana das Palmeiras simboliza
essa prosperidade verificada no topo da "Serra" do Tinguá. Vários caminhos podem ser
identificados no espaço citado, sem que ainda tenhamos uma definição sobre sua função. Muitos
foram utilizados até a década de 1970, para o transporte de banana e outros produtos agrícolas
secundários, como o inhame, batata doce e arroz, que era feito por tração animal onde o burro era
a principal força motora. Insisto na ideia de que os principais caminhos tenham sido construídos
sobre antigas vias pré-coloniais, utilizadas pelos nativos para a exploração territorial.
Muitos nomes foram localizados, convertendo trechos dessas vias em uma apropriação
local face sua utilização, fazendo com que parecessem caminhos diferentes. Foi o caso, durante
muito tempo, na localidade de Mário Belo, hoje, bairro rural do Município de Paracambi, onde
um trecho de uma variante da Estrada do Rodeio que liga esta à Estrada da Polícia, foi chamado
de Estrada do Boqueirão. Hoje, a Estrada do Boqueirão é lembrada, apenas, pelos moradores
mais antigos, ou o Caminho/Estrada do Ronco, na mesma localidade, fazendo referência a outro
segmento daquela variante da Estrada do Rodeio.
De acordo com o percurso e destino do caminho, tornava-se uma via de intenso fluxo de
pessoas e animais, que geravam demandas de apoio logístico, fazendo com que muitos
moradores, ao perceberem nessas demandas um negócio a ser explorado, empreendessem-se em
uma atividade fim.
Estes caminhos foram responsáveis por profundas alterações na paisagem marginal e
arredores dessas vias, confirmando estas unidades culturais, enquanto artefatos vetores de
relações sociais e econômicas (SOUSA, 2004, p. 69). Os caminhos que levavam a Minas Gerais,
por exemplo, chegaram a ser responsáveis por crise de abastecimento no Rio de Janeiro, ao
mesmo tempo em que causavam "desenvolvimento" de atividades econômicas locais, atuando
como propulsores no processo de expansão territorial conforme diz Novaes (2004, p. 53):
Parte significativa da história de nossa colonização foi escrita ao longo e através desses
caminhos e, quando sobre eles nos debruçamos, trazemos à tona acontecimentos que
abrangem desde a expulsão dos índios nativos de suas terras, ao transporte do ouro e o
abastecimento das Minas Gerais, chegando ao estabelecimento da cultura do café, ao
surgimento e enriquecimento das famílias dos “barões do café”, e às modificações
socioeconômicas e culturais por que passou esta região, e o país como um todo, nesse
período de tempo que é objeto de nosso estudo.
109

Saber o grau de desenvolvimento experimentado pelo espaço formado pelos municípios


em destaque a partir desses caminhos é um desafio que pode classificar a história local em
seguimentos temporais com reflexos no registro material.
Os caminhos que cortam o território estudado, devem ser avaliados à luz da Toponímia,
que embora não seja objeto desse trabalho, se mostra bastante importante no seu contexto
histórico, uma vez que ajudará esclarecer dúvidas ocasionadas pelos nomes de lugares, como é o
caso de Japeri, sobreposto a Belém, mas que, até aqui, ninguém soube explicar a origem e
significado desse nome. Originado do Engenho de Pedro Dias Paes, cujas ruínas são registradas
como Morgado de Belém, desenvolveu-se na serra e veio para a baixada trazido pela estrada de
ferro, outro caminho que atuou como condicionante sócio-espacial importante para a Região
Metropolitana, em especial a Baixada Fluminense, onde encontram-se inserido os municípios
tratados aqui. A ferrovia foi responsável pela mudança de sedes de localidades para suas
margens, como foram os casos de Nova Iguaçu e Japeri. O primeiro à margem do Rio Iguaçu e o
segundo na Serra da Bandeira.
O processo de implantação da ferrovia oficial, teve início com o Decreto Imperial 101
de 31 de outubro de 1835 que autorizou o governo imperial a conceder a uma ou mais
companhias, que fizerem uma estrada de ferro da Capital do Império, para as de Minas Gerais,
Rio Grande do Sul e Bahia, com carta de privilégio exclusivo por espaço de 40 anos, para o uso
de carros para transporte de gêneros e passageiros, sob as condições que se estabelecem. As
companhias tiveram um prazo de dois anos para o início das obras.
Na verdade, isso foi o início de um processo de ocupação do espaço que se estendeu por
longo tempo e conflito entre o Governo Imperial e as companhias, até à inauguração. A questão
que chegou, inclusive a comprometer a inauguração da estrada foi a que se caracterizou entre
Cristiano Benedito Ottoni e o representante da Companhia inglesa contratadora das obras da
estrada no trecho Queimado a Belém, Samuel Bayliss, conforme a carta enviada ao Marques de
Olinda, por ocasião da entrega da referida obra, em 1857, pelo Presidente da Diretoria da Estrada
de Ferro D. Pedro II, o próprio Cristiano Ottoni. O fato, que teve grande repercussão na imprensa
da época, foi responsável pela edição do Regulamento 1930 de 28 de abril de 1857, que narra a
desavença entre os dois citados. O representante da companhia inglesa reclama não ter recebido
a quantia de 12000 libras esterlinas para a conclusão das obras do trecho. O Governo Imperial
afirmou ter concluído contrato firmado legalmente. Em represaria ao Governo imperial
brasileiro, Bayliss destruiu uma ponte em Caramujo e colocou obstáculos à passagem do trem até
Belém. Caramujo é, hoje, Engenheiro Pedreira, Bairro de Japeri. e a única ponte na localidade é
a que corta o Rio dos Poços, formado pela confluência dos Rio Santo Antonio e D`Ouro, a pouca
110

distância da ponte. Esse conflito atrasou a inauguração da Estrada de ferro, que em Belém
ocorreu em 08 de novembro de 1858, com duas partidas de trem, uma às 6:00 horas e outra, às
15:50 com o ponto de encontro em Machambomba (Nova Iguaçu).
Uma carta de Cristiano Benedito Ottoni, enviada ao Marques de Olinda, aborda um
acidente envolvendo duas locomotivas que se chocaram sem fazer vítimas fatais. Passageiros,
tiveram apenas ferimentos leves. Fala que abriu um inquérito para apuração dos fatos, e justifica
o fato de ainda não ter sido enviado o relatório:

[...] foi que sendo muito crônica (?) a partir do Inspetor geral do tráfego, a Diretoria
mandou proceder a um inquérito, de que não recebeu, ainda o resultado. Posso, por ora,
affirmar a V. Sa. 1º que nosso trem tinha sido retardado por foça maior; 2º que Bayliss o
soube em Queimados e reconheceo o perigo de partir para a cidade com o seo trem de
modo que expedio adiante um empregado, a cavalo, com uma bandeirola encarnada,
signal de perigo; 3º que alcançando um caminho esse empregado, dispensou-o do
serviço: sendo este a falta que em verdade causou o abalroamento. Houve alguma
contensões, pelo choque das cabeças dos viajantes contra os carros e, não me consta que
se desse ferimentos graves.

Ainda na construção da Estrada de Ferro D. Pedro II, nos limites de Belém, após a
travessia do Rio Santana uma carta de 24 de junho de 1858, Cristiano Otoni ao Marques de
Olinda, dizendo que:
"[...] na data de ontem (23-06-1858), o Engenheiro em Chefe, informou que 300
trabalhadores estão parados na Fazenda do Machado, pertencente a uma sobrinha do
Desembargador Venancio José Lisboas, porque o feitor lhes nega licença de se servirem
do caminho particular, que dá acesso ao lugar do serviço, não podendo ir pela linha do
traço por causa de brejos profundos e falta de ponte sobre o Rio Sant`Anna. Queixa-se o
desembargador de estragos feitos em plantações e beifeitorias, estragos que a existirem
serão pagos, mas que precisam verificar, partindo eu para esse fim no dia 29, mas sendo
no entanto um grave prejuízo sustentarem os empreiteiros 300 homens em ócio, recorro
à benevolência de V. Exa, pedindo a interção do seu valimento, para que o
desembargador dê ordem que se deixem trabalhar os nossos homens, embora tomando
todas as cautelas contra danos possíveis e mandando comigo uma pessoa de sua
confiança para avaliar as plantações destruídas, que serão pagas logo depois. Eu sou
testemunha do exemplo com que os engenheiros da Companhia evitãodannosinuteis, e
quanto aos empreiteiros, tenho dados para crer que são immensamente exageradas as
notícias a que se refere o desembargador. Em todo caso a intervenção de V. Exa. a vista
do exposto julgará da urgência do caso."

Essa área é, hoje, onde tem-se um viaduto da Estrada de Ferro logo depois que atravessa
a Estrada Belém/Cacarias. A Fazenda do Machado, localizada no Município de Paracambi,
constitui-se em outra unidade fundiária, que explora gado bovino de corte, dela restando as
ruínas que mostram o tamanho da casa e provavelmente tem muita informação a fornecer para o
processo de ocupação do espaço no período histórico e ainda não foi registrado no IPHAN.
Existem os caminhos de importância local, mas com grande capacidade integrativa, a
exemplo da planta da Fazenda Santa Barbara, de 1876 que mostra as estruturas rurais unidas e o
111

tipo de utilização feita naquela via, vinculada entre dois caminhos de importância regional e/ou
nacional.
A questão dos caminhos também exige uma reavaliação por parte dos pesquisadores
que se dedicam ao assunto, uma vez que, considero as mesmas, coisas tratadas de formas
diferentes.
O mapa abaixo foi extraído do trabalho de Adriano Novaes, denominado "Os Caminhos
Antigos no Território Fluminense", uma iniciativa muito importante, mas que mostra uma
questão igualmente importante ligada à Toponímia. Vários nomes foram alterados no curto
espaço de tempo histórico de 100/150 anos.

Figura 19 - Os Caminhos Antigos do Território Fluminense - PRESERVALE. Fonte: Adriano Novaes.


112

Outro importante patrimônio arqueológico, hoje despercebido da população em geral,


até mesmo, daquela parcela que, em alguns curtos trechos, ainda se utiliza da chamada "Estrada
da Polícia" como principal via de acesso. Essa estrada, foi iniciada no Período Colonial e
concluída no Imperial. Consumiu um grande volume de recursos do tesouro e teve pouca
duração, deixando como legado um rico acervo impregnado de fatos que marcaram a sua
trajetória no espaço. Cortou a Sesmaria de Ignácio Dias Velho ao meio, promovendo alterações
na paisagem, trazendo mudanças no espaço sóciocultural e econômico da região, que até a
presente data, não foram interpretados.
Trata-se de uma estrada, cujo projeto partiu da Real Junta do Comércio, sendo
inicialmente chamada de Estrada do Rio Preto, cujo início se deu em 11 de junho de 1812 por
aviso da Secretaria
"d`Estado de 11 do mes ... e continuou athe 31-10-1821. Foi uma estrada que levou
muito tempo para ser construída. O documento de 08-10-1814 encaminha três mapas
mensais da Estrada do Rio Preto e ofícios originais do Engenheiro (Sargento Mor-
Francisco Jose de Souza Soares de Andrêa datado de 2-10-1814 falando das instruções
necessárias relativas à largura que deve ter a Estrada nos seus diferentes lugares em
consequência da Portaria "deste" Regio tribunal de 14-12-1813 q. manda nos lugares
planos (?) tenha trinta palmos, vinte nas cavas (?) das serras e morros e vinte e cinco
nos ângulos das subidas.
O Sargento Mor diz em seu documento que vinte palmos não são bastantes para se
encontrarem duas quesquermachinas em sentidos opostos sem se embaraçarem nas
rodas ou sem o perigo de se precipitarem.
[...]Diz ainda que nas voltas ou reitrantes não será praticável adoptar humaso medida
devendo regular-se o trabalho à fução do terreno que exige sem dúvida maior largura
nos reitrances formados por angulos mais agudos.
Fala ainda que já ian principiar os paredões e que portanto, devia V. Alteza determinar o
salário que devem vencer os pedreiros não faltando nos que servirem de mestres ... Este
documento foi assinado pelo Sargento Mor Francisco José de Souza Soares d`Andrêa
no Quartel do Tinguá. Ele foi nomeado a partir de um comunicado de José Pedro
Francisco Leme solicitando a nomeação de um novo diretor para a Estrada do Rio Preto
à Corte em função do atual ter pedido demissão a pretexto de doença.
Com a ordem doe pagamento de 17-10-1812 paga em 21-10-1812 a Antonio José de
Mattos Nogueiras pela compra de vestuário de vinte escravos para a Real Estrada do
Rio Preto.
Em 30-09-1814 foi pago a quantia de 252$000(duzentos e cinquenta e dois Contos de
Reis), conforme dados do segundoContador Francisco Dias das Chagas, foi para pagar a
folha dos vencimentos do Sargento Mor Engº Francisco José de Souza Soares de Adrêa,
encarregado de examinar o terreno para a abertura da Estrada do Rio Preto à Corte,
desde o dia 09-05-1814 athe o de 30 de setembro de 1814 acima, em conformidade da
immediata Resolução da Consulta de 27-11-1811 ou 1812."

Através de um documento emitido em 18-06-1816 é comunicado à V. Alteza a fuga de


nove pretos da Real Junta do Comércio em trabalhos na Estrada Real do Rio Preto por se
queixarem de dureza e maus tratamento dos feitores a que estavam entregues. Se recolheram no
armazém donde estão outros pretos que também pertencem à Junta do Comércio. O documento
solicita o que fazer e contém a carta do Diretor da Estrada que repassa o comunicado do Capitão
Manoel d`Azevedo Mattos datado do dia 10-06-1816.
113

No registro de Portaria expedida pela Secretaria de Estado dos Negócios do Império em


18 de dezembro de 1828 pela qual o Intendente Geral da Polícia, se dirigiu ao Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda dando parte de se achar concluída a Estrada, que
pela dita Intendência se mandou fazer desde o:
Porto de Iguassú athé a Ponte do Presídio do Rio Preto e pedindo providências para não
somente se poder conservar sempre em bom estado a mesma Estrada, mas para ser
continuada athe chegar aos Campos da Província de Minas Gerais.
O Parágrafo. 4º do documento determina que "Para Comodidade dos viajantes se fação
ranchos em toda a extensão da Estrada de três em três légoas e tenhão cento e secenta
palmos de cumprimento e quarenta de largura,cobertos de telhas. Que estes ranchos
sejão feitos pelos proprietários das terras, e, em prazos determinados, ou pela
Intendência Geral da Polícia em cazo de repugnância do produto da contribuição da
passagem do Rio Parahiba, entendendo-se o Intendente Geral com os donos dos terrenos
para justa indenização não só da parte destinada para os ranchos, como tão bem da
necessária para pasto dos animais dos viajantes e condutores.

O "Aviso" de 18-02-1826, manda entregar as ferramentas usadas na construção da


Estrada Real do Rio Preto.
Os documentos trazem informações importantes que podem ajudar na identificação de
estruturas às margens da Estrada da Polícia no seu trecho nos Municípios de Nova Iguaçu e
Japeri, visto que sua origem é na Vila de Iguaçu, conhecido, hoje, por Iguaçu Velho. No Tinguá
ficava o Quartel Geral do comando da construção da Estrada em local, ainda não identificado.
Talvez, essa estrada tivesse o mesmo percurso da Estrada Real até Tinguá, de onde se bifurcou
em outra direção.
Já o Decreto nº 1,018 de 22 de outubro de 1857, Antonio Nicoláo Tolentino, do
Conselho de Sua Majestade, o Imperador, oficial da ordem da Rosa, cavaleiro da de Cristo e
presidente da Província do Rio de Janeiro, publicou este decreto autorizando a construção de
uma estrada que, partindo do Alto da Serra da Viúva, na Estrada do Comércio, vá encontrar a de
Presidente Pedreira, o mais perto possível da estação terminal da Estrada de Ferro de D. Pedro II,
em Belém. Em seu parágrafo segundo, estabelece que a abertura ou melhoramento de travessias
que, começando nas estradas do Comércio, Presidente, Fazendeiros e outras próximas da referida
estação, façam convergir para este ponto o tráfego dos gêneros e produtos do Interior;
precedendo as explorações e exames precisos para a execução de tais trabalhos. Essa estrada
ficou conhecida, como a Estrada para Cacarias.
Esta estrada tem um trecho, em Japeri, ainda muito utilizado, porém as pessoas que se
beneficiam dele não têm ideia do que significa. A escola não informa, a biblioteca pública
municipal, não oferece nada sobre o assunto que merece ser tratado de forma especial no
capítulo que aborda a arqueologia pública.
114

Foto 41 - Estrada do Cruzeiro, construída por determinação do Decreto 1.018 de 1857, ligando Belém
(Japeri) a Cacaria (Piraí). Fonte: José Mauricio.
Esta foto mostra parte da Serra da Bandeira, próxima à da Viúva por onde a estrada em
referência passa. Do outro lado do facão da serra, por onde ela desce para atravessar o Rio
Santana, uma obra do DER, consumiu parte do seu traçado, que era nítido. O Objetivo foi a
extração de saibro para aterro e terraplanagem de uma rotatória e melhorias na RJ 125. Nenhum
trabalho de levantamento visando a preservação do patrimônio foi feito. De Belém fazia a
conexão com Cacarias em Piraí, conforme acusa na Balancete de Despesas e Receitas da
Província nº 06 de 1974 despesas com a manutenção da Estrada de Belém a Cacarias .
NATUREZA DA DESPESA PAGA POR PAGAR TOTAL
Reparos dos aterrados e obras de arte 4:658$086 ------------- 4:658$086
da Estrada de Belém a Cacarias
Conservação da Estrada de Belém a 2:950$000 -------------- 2:950$000
Cacarias
Conservação da Estrada de Belém a 208$424 -------------- 208$424
cacaria
Conservação da Estrada de Belém a 855$978 ------------- 855$978
Cacaria
Pagamento a Matheus Soares 4:014$001 -------------- 4:014$001
Cordeiro, proponente à arrematação
de obras de arte da Estrada de Belém
a Cacarias
Tabela 1 - Gastos para preservação de estradas no período imperial. Fonte: Relatório do Presidente da Província,
1873, Tabela 28 APERJ.
115

Isso mostra a importância da Estrada e confirma o que venho dizendo há tempo sobre a
importância das vias de circulação para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de Japeri.
Outras vias de circulação foram implantadas no espaço em referência, sendo elas as
linhas de transmissão de eletricidade de Furnas, os dutos da PETROBRAS e da CEG, que
alteraram a paisagem dos municípios, revelaram sítios arqueológicos diminuíram o espaço rural
e contribuíram com a urbanização.
As desapropriações de terras voltadas para o abastecimento de água da Capital do
Império, na segunda metade do século XIX e as grandes obras de dragagem das áreas alagadas
da região mudaram, bastante, os aspectos ecológicos e geomorfológicos do espaço estudado,
com alterações feitas nos cursos de rios, como o Santana e o Guandu, o São Pedro, o Canal
Normandia e o Canal do Arroz. Constituíram em um outro fator condicionante da paisagem no
território abordado, a partir da transformação das unidades fundiárias até então articuladas e
interadas na Serra do Tinguá em uma Floresta Protetora dos mananciais hídricos, hoje, Reserva
Biológica do Tinguá - Rebio-Tinguá. As represas, cujas construções deixaram um legado
constituído por registro arqueológico do período histórico, ainda coletam água para o Rio de
Janeiro e constituem a principal fonte de Japeri.

Fotos 42 e 43 - Mostram a época de construção do Complexo Mantiquira, sistema para o abastecimento de


água para o Rio de Janeiro. Fonte: Biblioteca Nacional - Setor de Iconografia - BNDigital

No interior da Reserva, nas margens do Rio São Pedro, tem-se uma rede de canais que
foram abertos por Francisco Bicalho, como consta na inscrições as rochas do local e não
chegaram a ser concluídas. Documentos revelam que durante a seca em meados do século XIX,
ao lado do aumento populacional da Capital do Império, resultando em demanda cada vez maior
de água, os rios da região, entre outros, foram mapeados e estudados como fonte de recursos
hídricos e captados num complexo chamado Mantiquira, constituído por Xerém, Tinguá,
116

Adrianópolis, Rio D`Ouro e São Pedro, onde foram construídas barragens de captação e
implantação de tubulação para o transporte da água até o Rio de Janeiro. Como consequência, foi
deixada uma rede ferroviária que ficou conhecida como Estrada de Ferro Rio D`Ouro, hoje
extinta. A implantação dessa rede de captação interviu na paisagem alterando a estrutura sócio-
espacial local resultando na remodelação territorial e ainda utilizada. Foi, sem dúvida um
condicionador sócio-espacial com capacidade para provocar, ao lado da ferrovia, a ocupação de
uma área, antes considerada inóspita.
A escritura lavrada no ano de 1877, constitui-se numa documentação cartorial que
mostra como a Sesmaria de Ignácio Dias Velho já se desmembrava em fazenda menores, como a
que foi negociada pela escritura de compra e venda de terrenos e águas que fazem o Dr. Luiz
José de Carvalho e Mathos e sua mulher e outros à Fazenda Nacional, que na folha 2 e verso, cita
o:
[...] Comendador Alberto Vasco de Souza Prito e a mulher daquele como cessionários
da parte da que tem na dita área ao Outorgante Luis Leme Betim, a qual possuem livre
de encargos tanto judiciais como extra judiciais de qualquer espécie como proverão,
assim como o domínio que na mesma tem com os documentos que apresentarão no
Tesouro Nacional, onde ficam arquivados, fazendo parte dela compreendida entre si
digo entre os rios de Santo Antonio e de São Pedro, o Morgado do Marapicu, cuja posse
foi adquirida para o Estado do Rio de Janeiro, pelo mesmo motivo, a Cachoeira das
Limeiras, a Estrada da Polícia e o Morro da Saudade, fecham o polígono da área da
Fazenda Limeira necessária ao Governo a fim de serem derivadas as águas dos mesmos
e do Ouro para abastecimento desta Capital, parte essa serem derivadas as digo que tem
as seguintes extensão e confrontações conforme descrição datada de 16 de agosto de
1877 assinada pelo Inspetor das Obras Públicas e planta levantada pela mesma
Repartição, as quais ficam também arquivadas no Tesouro Nacional [...]

Nas margens do Rio Santo Antônio, verifica-se a existência de estruturas de pedras que
num primeiro momento lembra ruínas de uma casa, mas examinando com mais cuidados essa
ideia é descartada em função da simetria e do tamanho. Trata-se de uma estrutura quadrada de
aproximadamente 2 metros por dois metros (2 X 2) e que se repetem ao longo da margem.
Podem ser, talvez um tipo de guarita que servia para guardar os limites das terras desapropriadas
para a aquisição da água, que por sua vez não foi tão pacífico. Em Xerém um Senhor conhecido
por Sr. Zé, há 73 anos na área informou que alcançou uma época que havia guardas florestais na
antiga unidade. A planta abaixo é a do polígono da Fazenda Limeira, desapropriada pelo
Governo para fins de coleta da água.
117

Figura 20 - Perímetro da Fazenda Limeira nas margens da Estrada da Polícia entre os rios São Pedro
e Santo Antonio. Fonte: ITERJ

A figura 12, na página 77, ilustra com detalhes as desapropriações feitas para a captação
de água com vistas ao suprimento da Capital do Império e que deixou como legado uma Reserva
Biológica e uma quantitativo de sítios arqueológicos que descrevem a apropriação do local pelos
ocupantes que criaram as primeiras paisagens a partir das ações antrópicas perpetradas. A
paisagem, criada e alterada por movimentos demográficos, forçados, que à vista da
documentação histórica levantada, foi conflitante, gerando disputas administrativas ainda nas
primeiras décadas do século XX, conforme visto no requerimento de Pedro Pinheiro Paes Leme
118

datado de 18-09-1912, pedindo restituição de títulos referentes à sua propriedade à margem


direita do Rio São Pedro ao Ministério da Viação e Obras Públicas, no departamento Geral de
Obras Públicas.

Foto 44 - Antigo leito do Rio Santana, desviado para obras de saneamento e dragagem em 1919,
no Km 18 da RJ 125. Fonte: José Mauricio.

O Relatório nº 11237 elaborado pela Comissão nomeada para o reconhecimento da


Bacia Superior dos Rios Santana e Pilar para o abastecimento de água à Capital iniciado ano de
1889 e autuado em 1890, descreve a avaliação do governo sobre a expansão do sistema de
suprimento de água e a preocupação do mesmo com a utilização da água pretendida no Rio de
Janeiro, pelos moradores das margens dos rios.
A foto 44, acima mostra o antigo leito do Rio Santana, desviado a partir de uma obra de
saneamento (dragagem) no início do século XX, hoje utilizado para fins agrícola, alternando
entre os cultivos de pastagem e olerícolas, e está incluído nos exemplos que mostram a
apropriação do meio pela sociedade, através de ações do homem sobre a natureza, resultando na
paisagem que vivenciamos hoje.
Abaixo, uma foto de 1875, retrata um trem passando sobre o Rio Santana e a existência
de uma casa, nas margens da estrada, cujo traçado, em evidência, mostra que era uma via larga e
bastante utilizada, devido a clareza como é percebida. A foto não exibe a outra construção, hoje
em ruínas, que se localiza no pé do morro defronte à casa, que provavelmente, assentava sobre o
atual leito do rio, aberto no início do século XX.
A foto da ponte da Estrada de Ferro D. Pedro II sobre o Rio Santana de 1875 nos
permite constatar três condicionantes sócio-espaciais do território tratado: 1) a Estrada de Ferro
119

D. Pedro II, 2) Estrada de Belém a Cacaria, 3) a obra de saneamento que alterou o curso do Rio
Santana.

Foto 45 - Ponte da Estrada de Ferro D. Pedro II sobre o Rio Santana em Belém (Japeri). Fonte: Carlos M. Linde,
1873, icon326381_08.htm. Biblioteca Nacional, Setor de Iconografia, BNDigital.

O local é hoje o Bairro denominado Beira Rio ou Amaralina, no Município de Japeri.


Confirma a importância da fotografia histórica para a Arqueologia da Paisagem, conforme cita
Deetz, (1977), em "In Small Thing Forgotten, (Pequenas Coisas Esquecidas) no capítulo
"Relembrando as Coisas Esquecidas: arqueologia e o artefato estadunidense".

Fotos 46 e 47 - Retratam o lugar onde foi feita a foto 44, porém em ângulos diferentes, considerando as
dificuldades de acesso ao local em função de moradias. Fonte: José Mauricio.
120

Na foto original, existente no Setor de Iconografia da Biblioteca Nacional, é nítida a


imagem do homem à cavalo, vestindo um chapéu, provavelmente de couro e uma capa sobre o
ombro e o lombo do cavalo. Nos permite uma ampla abordagem sobre a paisagem histórica do
local, provocando uma interpretação sobre a ecologia humana na área com fortes tendência à
transformação de um espaço considerado como anecúmeno, ainda em 1894, quando da última
edição do Dicionário Geográfico Brasileiro em seu conceito sobre Belém:
" povoação do Estado do Rio de Janeiro na Freguesia do Tinguá e Município de
Vassouras, entre os rios Sant`Anna e São Pedro, cercada de pântanos, que o tornam
muito insalubre, ligada a Paty do Alferes por uma estrada. Tem uma escola pública de
instrução primária, creada por Lei Provincial nº 1707 de 30 de outubro de 1872. Ali fica
uma estação da Estrada de Ferro Central do Brasil. É ligada a Macacos por um ramal
dessa Estrada, construído por uma empreza em virtude do contrato celebrado em 17 de
setembro de 1860, contribuindo o Estado com a quantia de pouco mais de 61:000$
(sessenta e um conto de Reis), importância de terrenos, trilhos e estação. Passou esse
ramal para o domínio do Estado por cessão que fizeram seus proprietários (Decreto
3512 de 06 de setembro de 1865), o Decreto nº 1805 de 27 de dezembro de 1872
sancionou a Resolução da Assembléia Provincial autorizando a concessão de um
privilégio exclusivo por 50 annos para construção de uma ferrovia, por tração animada
ou a vapor, desde essa povoação até à freguesia do Paty do Alferes.
Fica a estação a 61.675 kilômetros da Capital Federal e a 30.217 metros sobre o nível
do mar, entre as estações de Queimados e Belém (13.465 Km) foi inaugurada em 08 de
novembro de 1858 e a de Belém a Bifurcação (ramal de Macacos) com 3.398 metros a
1º de agosto de 1861."

Demonstra a intervenção no leito do Rio Santana, conforme, mostrado na foto, era do


outro lado do morro, onde hoje passa estrada RJ 093 que liga Japeri a Paracambi. A casa
mostrada na foto, situava exatamente onde hoje é o leito do rio em comento e o traçado da
estrada para Cacarias, mostra que era uma via larga e bastante utilizada, devido a clareza como é
percebida.

Fotos 48 e 49 - Antigo leito do Rio Santana, desviado pelas obras de dragagem e drenagem do local. Fonte:
José Mauricio.

A Arqueologia da Paisagem firmou-se num suporte teórico na compreensão do processo


de ocupação sociocultural da região estudada e conquistou atenção especial sobre o estudo dos
caminhos, grandes responsáveis pela interiorização dos grupos que tomaram posse do território
em apreço.
121

9 ARQUEOLOGIA PÚBLICA
Esse capítulo será iniciado com o trabalho de Gabriel Moshesnska (2010, p. 01), a partir
da avaliaçao que fez dos dez anos que se seguiram ao esboço editado por Schadla-Hall em 1999
sobre Arqueologia Pública, que para o autor, tornou-se firmemente estabelecida através da
publicação de livros, cursos universitários, pesquisa acadêmica e revistas dedicadas ao assunto.
Uma posição alcançada e confirmada por Akira Matsuda (2004, p. 66), quando disse que a
Arqueologia Pública cresceu gradualmente e de forma constante, desde a década de 1970, e
apresenta como resultado, o surgimento de várias instituições acadêmicas que oferecem cursos
de graduação e pós-graduação, cursos especializados nesta área, uma literatura ampla associada e
até mesmo um periódico intitulado Public Archaeology (Arqueologia Pública). Esse crescimento
não resultou numa igual compreensão e entendimento, entre os arqueólogos, quanto aos
objetivos e metodologia da Arqueologia Pública, o que pode ser explicado, em parte, pela ampla
abrangência da disciplina, mas talvez, principalmente, pelo fato da Arqueologia Pública não ter
articulado, à época, o que se entende por "público" (MATSUDA, 2004, p. 66). No entanto, essa
situação é confirmada por Moshesnka (2010, p. 01), quando diz que, ainda existe um grau de
incerteza quanto à definição e delimitação precisa do que vem a ser Arqueologia Pública, ou
seja, um conceito que possa ser compartilhado por todos. Matsuda (2004, p.66) busca abordar
profundamente os diferentes conceitos de "público" empregados pela arqueologia pública,
considerando seus objetivos. A autora considera que ao definir uma base teórica para a
arqueologia pública, seja possível explorar formas pelas quais o conceito de esfera pública possa
ser aplicado na prática. Já Moshesnka (2010, p. 01), foca na produção e no consumo da
disciplina no que ele chama de "commodities" (mercadorias?) arqueológicas, que eu adequei
para bens arqueológicos. Os bens (mercadorias) arqueológicos, nas palavras de Moshesnka
(2010, p. 01), são as coisas que possuem valores, existem em uma variedade de formas, mas que
podem ser agrupadas em um pequeno conjunto de tipos distintos. Apresenta e descreve uma
tipologia de bens (que ele chama de produtos) arqueológicos e examina brevemente algumas das
suas implicações para a arqueologia em geral e a arqueologia pública em particular. Então, na
defesa do autor, existem cinco tipos de bens (mercadorias/commodities) arqueológicos
identificados por ele:
1. Materiais arqueológicos - abrange os resultados materiais da pesquisa arqueológica, incluindo
artefatos individuais e sítios arqueológicos inteiros. O controle, o movimento e o tratamento
desses materiais são freqüentemente regulados por lei ou convenção.
2. conhecimentos e habilidades arqueológicos - são os aspectos intelectuais do trabalho
arqueológico: conhecimento adquirido pelo trabalho de campo ou pesquisa, bem como as
122

habilidades necessárias para fazer o trabalho em primeiro lugar. O conhecimento arqueológico


tem valor como resultado de contratos comerciais e como produto da educação, treinamento e
experiência.
3. Trabalho arqueológico - são as formas de trabalho realizadas pelos arqueólogos. Em alguns
casos, eles são pagos por seu trabalho, em outros casos, como experiência de trabalho, não são
remunerados e, em alguns casos, como escolas de campo, eles pagam o privilégio de fazer o
trabalho.
4. Experiências arqueológicas - são encontros de pessoas com processos e produtos
arqueológicos, como visitas a museus ou sítios arqueológicos, cursos educacionais e várias
formas de turismo histórico organizado.
5. Imagens arqueológicas - são os temas e imagens arqueológicos reconhecíveis que
caracterizam as representações da cultura popular do passado; Em publicidade, arquitetura,
cinema, arte e em outros lugares.
Na visão do autor, a relevância desta tipologia para a compreensão da arqueologia
pública de uma forma geral, pode ser observada no trabalho do Arqueólogo Robert Eric
Mortimer Wheeler (1890-1976), considerando a compreensão instintiva dele sobre o valor dos
bens (mercadorias) arqueológicos, nunca, igualada e que contribuiu, consideravelmente, para
sua fama e sucesso. Matsuda (2004, p. 66), desloca seu propósito para os conceitos de "público",
dos quais dois são especificamente discutidos: o público como o estado autoridade e o público
como pessoa e, desta forma, concentra sua discussão focada em como configurar uma esfera
pública da arqueologia.
Já Gould (2016, p.01) atenta para uma necessária discussão, entorno da metodologia de
pesquisa na arqueologia pública e comunitária, e propõe isso, através de estudos de casos, sob a
alegação de que, esses trabalhos, permitem a exploração de situações que, pela sua natureza, não
são facilmente reduzidos a dados estatísticos. O autor alega que essa necessidade possa ser
consequência, de uma possível e ampla negligência na literatura de como os debates
epistemológicos e práticos sobre os métodos e interpretação na arqueologia tenham conduzido
os arqueólogos teóricos, na era pós-processual, em suas análises críticas sobre a metodologia
utilizada na interação deles com o público.
Existem diversas e intensas abordagens sobre a arqueologia pública e seu crescimento
como uma disciplina distinta na prática arqueológica, o que pode ser observado no encontro
anual da Associação Europeia de Arqueólogos em 2013, especificamente na mesa redonda sobre
arqueologia pública. Porém o foco desse trabalho restringe-se na utilização dessa corrente
arqueológica na sua área de atuação, considerando sua extensão territorial e densidade
123

demográfica. Isso demanda um conceito de arqueologia pública capaz de absorver o público, o


patrimônio cultural arqueológico e os atores inseridos em atividades correlatas e específicas, no
espaço desse estudo, formado pelos municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Mesquita e
Belford Roxo.
A região constitui-se num território com forte potencial arqueológico, confirmado a
cada pesquisa empreendida, principalmente no campo da arqueologia de contrato, em função das
obras já mencionadas anteriormente. Isso permite a abordagem de um capital social em
formação, integrado de um lado, pelo acervo arqueológico em si, por outro, pelas pessoas que
começam a se utilizar dele, enquanto matéria-prima de uma atividade industrial do campo
turístico. Esse grupo pode ser caracterizado em função de sua constituição, que vai do
organizador, que pode ser um professor fazendo a prática de sua disciplina ao "consumidor" ou
beneficiário da atividade, que por sua vez pode ser do aluno no exercício de suas atividades
pedagógicas à dona de casa em busca de uma atividade de lazer num fim de semana ou ao
produtor rural que desperte para a importância do patrimônio arqueológico em sua propriedade e
queira desenvolver alguma atividade para oferecer à dona de casa, citada na linha anterior, por
exemplo. Embora essas atividades, ainda não estejam bem definidas ou inseridas num
planejamento municipal, já existem de forma contínua e bem organizadas, restando acrescentar o
bem arqueológico. No entanto, isso não equivale à consciência de seus responsáveis sobre o
patrimônio cultural arqueológico que apresenta, como desafio, a necessidade de ser melhor
trabalhado junto a esses pro-ativistas locais, munindo-os com informações técnicas fundamentais
com o propósito de gestão do acervo arqueológico onde exploração e preservação sejam
compatíveis em uma prática cotidiana.
Essa função é atribuição reconhecida através do trabalho de extensão realizado pela
Educação Patrimonial, que surge, na Região, como uma importante iniciativa inserida no
contexto da Arqueologia Pública, mas que se desdobra em várias abordagens no campo do
patrimônio cultural. A Educação Patrimonial, no âmbito dos interesses da Arqueologia, é
trabalhada, principalmente, por Jandira Neto e Claudia Maria que se firmam como protagonistas
de um conjunto de atividades, onde a primeira ilustrou no livro "Na Arqueologia, o que é
Educação Patrimonial?", publicado em 2017, com forte aceitação entre as pessoas que passam a
conhecê-lo e, se vêm atraídas por uma linguagem simples, de fácil acesso, mas com rico
conteúdo para os que não são arqueólogos e a segunda numa série de reportagens em jornais
impressos que circularam e circulam na região e atividades pedagógicas voltadas para alunos do
ensino fundamental e médio. Nessas atividades encontram a divulgação de informações sobre o
bem arqueológico, até então desconhecido, os treinamentos de profissionais da educação e outros
124

que se capacitam na multiplicação das ideias preservacionistas e agregação de valares ao bem


patrimonial arqueológicos, num constante processo de apreensão da informação transmitida e
compreensão do conteúdo informado.
Esse trabalho iniciado no sentido de formar atores capacitados à multiplicação da noção
de patrimônio cultural arqueológico, deve assumir a pretensão de ser suficiente para despertar na
comunidade o sentimento de pertencimento do legado arqueológico, através do reconhecimento
de cada trabalho desenvolvido, cadastramento e caracterização dos responsáveis pela
organização, o fomento a encontros para discussão e interação, oficinas e encaminhamentos de
propostas.
Vou utilizar o exemplo da Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER, que
desenvolve dois conjuntos de trabalhos, abordados de formas diferentes, mas complementares,
destinados à capacitação de produtores rurais e os agricultores às pretensões da agropecuária. E,
com base nessa experiência, proponho resultados positivos a partir da efetivação de atividades
que envolvam a presença de um técnico permanente na área, abordando o assunto de forma
circular e continuada em um acompanhamento intenso e regular que possa alterar o método de
abordagem, em relação ao seu conteúdo, em função de cada situação deparada. Uma iniciativa
dessa natureza foi o Programa de Extensão Arqueológica - PEA, elaborado pelo Instituto
Fluminense de Arqueologia - IFA, em 1996 com o objetivo de difundir entre as escolas, e outras
instituições, o valor do patrimônio cultural arqueológico. Num primeiro momento, sugeriu-se
que a escola particular estivesse melhor preparada para o trabalho, considerando o poder
aquisitivo das famílias de seus alunos, como fator de equivalência de conhecimento. Para
surpresa, as escolas particulares visitadas, rejeitaram a proposta, formalizada num roteiro de
visita aos sítios arqueológicos para tomada de ciência sobre o estado de conservação e
tratamento dispensado ao bem. Como se encontravam em estado lastimável, foram vistos como
"coisa feia", imprópria aos olhos dos alunos treinados para conhecer e valorizar o que era bonito
e bem tratado, porém fora do seu contexto. Tratavam-se de crianças de uma elite que viajava, até
para o exterior, e desta forma, o aluno não era preparado para lidar e trabalhar com as questões
locais. Várias foram as críticas, indo da metodologia aplicada ao ônibus sem ar condicionado,
mesmo tendo sido contratado com ar, mas considerando o estado de conservação das vias de
acesso, a empresa mandava ônibus menos confortáveis.
Já na escola pública foi visto o contrário, dizer ao aluno e seus familiares que aquele
bem mal tratado, sujo, "perdido" era algo de valor, importante e poderia se tornar bonito e até em
fonte de renda, despertou o interesse na coisa apresentada. Os professores da rede pública foram
mais atentos e sensíveis à abordagem do patrimônio cultural arqueológico local.
125

Figura 21 - Atividade envolvendo uma escola particular em 1999, na


Fazenda São Bernardino. Fonte: Jornal O Dia, encarte o Dia Baixada.

A experiência permitiu verificar no campo, que a preservação do patrimônio


arqueológico, sofre das mesmas causas que atingem a questão ambiental, ou seja, os diversos
interesses de quem os rodeiam. Desta forma, acrescenta-se, naquele conjunto, o interesse na
preservação do bem arqueológico, formado pelo propósito de reverter, à sociedade, a atenção ao
patrimônio que exerce um papel histórico em relação ao conceito de nação, sendo um elemento
que serve para construir ou para fundar o vínculo social (VIEIRA e TEIXEIRA, 2005, p. 19). E
transcrevendo para o local trabalhado aqui, o que disseram Vieira e Teixeira (2005, p.19) em seu
artigo "Campos dos Goytacazes e o IPHAN nos anos de 1930: Identidade Nacional e
Preservação do Patrimônio", "o que se prioriza nesse momento é o valor regional ou
microrregional, fazendo brotar o sentimento de pertencimento a uma comunidade, neste caso, o
município ou a cidade, dependendo do caso, ou simplesmente um bairro". O que ocorreu em
Campos dos Goytacazes, conforme demonstrado por Teixeira e Vieira em 2005, repete-se em
Nova Iguaçu em 1988, e intensifica-se muito, a partir de 2003, quando os prédios que
representavam a trajetória histórica do município, fossem no perímetro urbano, fossem no espaço
rural, eram cada vez menor e estavam cedendo lugar a novas construções que vinham atender as
necessidades de um município que buscava o sucesso através do progresso, entendido como uma
126

tramitação incompatível com as estruturas patrimoniais e o passado desvinculado do presente, ou


um presente que surgia do agora e sobreposto ao passado cada vez mais distante e separado. De
um lado, pequenos grupos isolados e sem comunicação entre si, buscavam a preservação e de
outro, grupos mostravam-se aliviados no fato de velhos e grandes casarões que ocupavam o
centro e a periferia estavam desaparecendo (TEIXEIRA e VIEIRA, 2005, p. 22). Isto, depois de
uma iniciativa importante tomada na década de 1980 (1988), quando um morador de Nova
Iguaçu, foi vice-governador do Estado do Rio de Janeiro e promoveu o tombamento de vários
prédios da Baixada Fluminense e, em especial do Município de Nova Iguaçu. O trabalho foi
organizado pelo Grupo de Trabalho para a Preservação do Patrimônio Natural e Cultural,
vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento - SEMPLA, que fez um inventário de bens
culturais do Município.
É preciso um trabalho intensivo e permanente que envolva a obrigatoriedade do monitoramento
pelos órgãos com jurisdição sobre a propriedade onde se encontram os sítios. Vários órgãos e
empresas, detém acervo arqueológico, sem que, contudo, tenham qualquer responsabilidade
sobre ele, embora pese a questão da objetividade estatutária, saber onde e, como está o bem, já
exige ações efetivas que somarão à preservação no exercício de uma questão legal e tratado
internacional, e portanto, uma obrigação de todos. Isso será possível, quando forem contatados e
alertados, em conjunto, ou isoladamente, informando-os da importância do acervo e da
necessidade do profissional especializado no seu quadro de pessoal, através de um plano de
abordagem voltado aos dirigentes das instituições, capacitando-os a verem o potencial do bem
arqueológico. Um passo importante foi dado pelo Instituto de Terras e Cartografia do Estado do
Estado do Rio de Janeiro - ITERJ, quando instituiu no seu Regimento Interno, a previsão do
acervo arqueológico e abriu discussão sobre a necessidade de conhecê-lo e inseri-lo na
programação agrária de suas fazendas. Hoje, observa-se que o interesse em preservar o
patrimônio cultural local advém de uma parcela muito pequena da população que institui, ou
tenta instituir, na grande maioria, o sentimento de valor agregado ao bem existente e considerado
importante, num processo que pode ser associado ao discurso de Santos (1996, p. 90), quando
diz que o patrimônio é sempre visto como testemunho de um processo histórico, e não como
imagem de uma nação idealizada, neste caso, um município ou uma cidade idealizada. Cabe
destacar que mudanças positivas têm sido sinalizadas nos municípios abrangidos por este estudo.
Nova Iguaçu dispõe de um grupo de servidores públicos municipais que vem agindo sobre o
patrimônio cultural edificado e participando de discussões pautadas por esses bens. O Município
editou o Decreto 11.074/2017 de 15 de setembro de 2017, que delegada no seu Art. 2º, à
Superintendência de Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico - SEMIF a competência para
127

produzir, aprovar e gerenciar projetos e ações relativas aos sítios arqueológicos e patrimônios
edificados considerados monumentos históricos e arquitetônicos. E o inciso II do Artigo 3º,
autoriza a SEMIF representar o Município junto aos órgãos de pesquisa, públicos e privados,
com experiência comprovada na área de arqueologia e patrimônio. No entanto, e o arqueólogo,
onde está? O passo é importante, mas ainda tem um longo percurso a fazer até alcançar as metas,
pois outra questão a ser apontada é a falta de pessoal, tecnicamente, qualificado para impulsionar
e abastecer a tramitação das propostas levantadas e processos demandados. Queimados, na
gestão passada, iniciou discussões importante a nível de governo municipal que canalizaram para
a intenção de implantar o Museu da Laranja. Na atual gestão essa discussão terminou, mas o
servidor que a provocou pertence ao quadro efetivo e, embora tenha sido transferido para outra
secretaria, manifesta interesse em continuar. Belford Roxo se sobressai com o Projeto de
Revitalização da Fazenda do Brejo já tendo ocorrido uma audiência pública com esse fim.
Mesquita se posicionou favorável ao desenvolvimento de projetos que contemple o patrimônio
cultural arqueológico, como foi colocado pelo Secretário de Cultura, Esporte, Turismo e Lazer
em entrevista pessoal realizada em 5 de fevereiro de 2017, embora reconheça na urbanização um
processo forte e quase invencível diante da valorização de um bem cultural. Do ponto de vista
político, Japeri continua tímido, mas do ponto de vista ativo, se sobressai com grupos de defesa
do patrimônio cultural que interfere nas decisões da Prefeitura.
O cenário favorável às ideias de preservação não garante, ainda, uma mudança no
paradigma político regional, como dito acima, são iniciativas de grupos de defesa da questão, e
em alguns casos, os membros são nomeados em cargos comissionados dos governos locais e
passam a abordar o assunto no contexto do poder local, ou por conselhos oficiais, legalmente,
constituídos. O fator negativo é a mudança de governo que altera de forma considerável a
estrutura do quadro de pessoal podendo levar ao retrocesso. Importante ressaltar que essas
iniciativas não fazem parte da pauta de discussões no programa de governo, proposto, durante a
campanha eleitoral, até porque, é comum a ausência desse programa. Conforme dito,
anteriormente, não é possível, hoje, mensurar, em dados estatísticos, o grau de percepção da
sociedade, enquanto um conjunto complexo de relações humanas, distribuído em camadas
sociais, sobre esse acervo arqueológico, contudo, já é possível observar mudanças no
comportamento das pessoas em relação ao patrimônio cultural, com base nos poucos trabalhos já
executados. Abaixo, as fotos mostram uma família iguaçuana utilizando as ruínas da Fazenda
São Bernardino como cenário temático para o aniversário de 15 anos da filha. Ao ser perguntada
sobre o motivo que a levou a escolher o lugar, a mãe da menina respondeu que a escolha foi em
função "do ser histórico, bonito e importante" e declarou ter tomado conhecimento do bem pela
128

Internet. Trabalhar essa percepção e alterações no modelo encontrado, deve formatar um trabalho
seguinte a esse e alcançar as diversas parcelas da sociedade que já manifestam algum tipo de
visão sobre o bem arqueológico.

Fotos 50-51: Família iguaçuana fazendo fotos para a comemoração do aniversário de 15 anos da filha. Fonte: José
Mauricio.

É possível dizer que o número de pessoas que se utilizam do patrimônio cultural, em


especial o arqueológico, é maior do que se supunha, mesmo que, ainda seja muito baixa, uma
percepção de valor agregado ao sentimento de pertencimento e importância para o
desenvolvimento sociocultural, o que não contribui com a preservação do acervo arqueológico,
principalmente quando o monumento/artefato encontra-se no território domiciliar do cidadão ou
cidadã e se opõe ao interesse dele ou dela. Isso é válido e confirmado para o cidadão ou cidadã
que concorre a cargo eletivo e passa a ter mandato político, fazendo refletir no campo das
políticas públicas a ausência de um planejamento voltado à proteção deste bem de valor
incalculável. O levantamento feito através da aplicação do formulário de entrevista, mostrou-se
complexo e relevante, desta forma, restringi-lo, ao que inicialmente foi proposto, deixaria de
contemplá-lo com a observação de um processo em curso pelas ações, até agora empreendidas,
por agentes que agem e reagem sobre a questão patrimônio cultural e, neste caso, o arqueológico.
Estender o trabalho ao campo que se abriu, mudaria o foco do estudo apresentado,
redirecionando-o. Contudo, foi possível acessar e conhecer o olhar de um segmento social
específico formado por atores sociais que desenvolvem atividades correlacionadas com o
patrimônio cultural arqueológico nos municípios abrangidos por esta pesquisa, revelando que um
contingente considerável de pessoas não tem consciência sobre a existência e necessidade de
preservação do bem arqueológico na área abordada, mas afirmam reconhecer que o patrimônio
arqueológico de uma forma geral é importante. Em entrevista com o Coordenador da Diretoria
Regional Pedagógico-Administrativa da Secretaria de Estado de Educação - Metropolitana I,
Professor Robson Lage, o mesmo disse haver uma grande dificuldade em se introduzir fatos
novos no currículo escolar, em função da resistência exercida pelos professores. Essa afirmação
129

é compartilhada pela Professora da Rede Pública Estadual do Rio de Janeiro, Sonia Gondim, que
descreve a resistência dos professores como um obstáculo a ser rompido para se alcançar o
desenvolvimento de atividades inovadoras nas escolas da rede pública. Foi possível acompanhar,
num encontro de professores no Município de Mesquita, do 4º Grupo de Estudos, Produção,
Extensão e Formação - GEPEF de Ciências Humanas, organizado pela Coordenadora de História
e Geografia dos Anos Finais, Rejane Corrêa, para a discussão do currículo de ensino oficial
daquele Município que, por determinação da Lei Federal 11.645 de 10 de março de 2008, que
altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, em seu Artigo 26 - A, modificada pela Lei
no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. O evento constituído por uma atividade mensal
desenvolvida pela Secretaria Municipal de Educação, e que, por sugestão minha, foi apresentado,
no encontro de junho de 2017, o sambaqui, como referência de patrimônio arqueológico
vinculado ao nativo da região, antes dos tupiguarani, por uma questão de proximidade com os
sambaquis do entorno da Baia de Guanabara e o da Marquesa, em Belford Roxo. Teve uma
pauta formada pela apresentação deste trabalho e dois eixos temáticos: Eixo 1 - Culturas Nativas
do Período Pré-Colonial (povos sambaquieiros e os tupiguarani na Baixada) e Eixo 2 - Povos
Afro-Descendentes Locais. A ideia despertou interesse em um grupo de professores, mas um
outro, se mostrou desinteressado por razões de desconfiança política, chegando a expor na
discussão que a ação poderia ser uma imposição do governo municipal. A Professora Rejane fez
uma pesquisa sobre sambaqui, tupiguarani e africanos na Baixada Fluminense e apresentou aos
professores como sugestão de atividades pedagógicas poderia ser desenvolvidas em classe e eu
assumi o compromisso de revisar o trabalho final. Atento para a importância desse tipo de
atividade, principalmente no tocante à possibilidade de introdução de proposta para discussão.
Nesse processo confirmei a existência de resistência por parte de um grupo de professores, que
realmente impossibilita, ou no mínimo, dificulta, as alterações propostas. Segundo a
Coordenadora da Diretoria Regional Pedagógico-Administrativa - Metropolitana VII - da
Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Professora Vanderlea Barreto, é possível
apresentar propostas de eventos à Secretaria, mediante encaminhamento de um projeto detalhado
sobre o que se pretende, cuja aprovação estará condicionada à relevância do conteúdo. Pela
educação oficial, percebo um canal de comunicação importante para difundir a arqueologia de
um modo geral, e em especial o patrimônio cultural arqueológico existente em cada unidade
política nacional. Essa realidade confirma a necessidade e importância do desenvolvimento de
métodos de abordagens capazes de abrir e estabelecer diálogos com os profissionais de
130

educação, posto que podem se constituir em barreiras à tramitação das propostas em função da
resistência a alterações em atividades engessadas num modelo tradicional. Nessa direção, atento
para o trabalho de Neto (2017), já apresentado aqui e aplicado no Município de Seropédica,
como iniciativa que precisa ser efetivada e estendida ao maior número de profissionais com
propostas específicas sugerida pela comunidade escolar.
Abaixo, o registro de atividade desenvolvida na área pela Professora Fátima Muniz da
Rede Pública Municipal de Queimados.

Fotos 52- 53 - Sítio arqueológico histórico de Queimados, registrado no IPHAN como Fazenda Fanschem, mas
que se trata de um projeto de casa de embalagem de laranja. fonte: Professora Fátima Muniz

O Projeto de Lei Nº 1801 de 17 de maio de 2016, que transforma o Sítio Arqueológico


Histórico registrado no IPHAN como Fazenda Roseira no Bairro Fanschem, que na verdade se
localiza na Vila Central ou Nossa Senhora da Conceição e trata-se de um projeto de casa de
embalagem de laranja do período do Ciclo da Citricultura, que não chegou a ser concluído. O
Projeto de Lei argumenta que as ruínas do velho leprosário localizada no Bairro Nossa Senhora
da Conceição, no Município de Queimados que se trata de uma estrutura física construída na
época do Império de grande relevância histórica e cultural não só para população Queimadense,
mas para toda população do Estado do Rio de Janeiro. Reza na justificativa que, segundo
historiadores a sua construção se confunde com a própria história do Município de Queimados,
isso porque há três versões mais prováveis para a origem do nome do município. Defende que,
independente de que qual versão é a mais próxima da realidade, a história da região começa a ser
valorizada quando são criadas ações afirmativas em prol da cultura e da sociedade. Como diz
Edson Ribeiro, pesquisador especializado em Cartografia Histórica, em exposição pessoal, no
dia 22 de julho de 2017, quando em reunião do Grupo Amigos do Patrimônio, "não há indícios
de leprosário em Queimado e mesmo a Estrada do Lazareto pode estar ligada a alguma capela
vinculada à Nossa Senhora do Lazareto".
131

Figura 22 -Projeto de Lei de 2016 declarando a ruína em Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do
Rio de Janeiro. Fonte: ALERJ.

Foto 54 - Ruínas de um projeto de casa de embalagem de laranja, utilizado para aulas práticas. Fonte:
Professora Fátima Muniz.

Em que pese a iniciativa, não passou pelo clivo da discussão junto à comunidade local,
cada vez maior, apresentando um crescimento acelerado que certamente aumentará o risco sobre
o patrimônio que já tem em fase embrionária a origem de uma discussão em torno de um museu
da laranja que possa ser auto sustentável a partir da função exercida junto à sociedade. Tal
proposta se constitui de uma entidade que possa resgatar a história da citricultura na Baixada
Fluminense, em especial, Queimados, recuperar e preservar artefatos relacionados ao período e
atividades, levantar os remanescentes arquitetônicos do ciclo da laranja na região, servir de área
de convivência social, proporcionando lazer, estrutura de aprendizado, difusão tecnológica
agrícolas, através de um horto de citros, cujo cultivo já vem sendo reiniciado com sucesso na
área. Essa discussão foi iniciada no governo municipal passado, porém não deu continuidade no
atual, mas caberá à sociedade organizada tomar ciência e levar à frente tal proposta. A ruína está
localizada nas margens de uma faixa de domínio de uma linha de transmissão de eletricidade de
Furnas Centrais Elétricas S. A, e de vários loteamentos novos que estão transformando o espaço
organizado, até então em pequenas chácaras em pequenos lotes que cedem o espaço a diversas
casas separadas por arruamento urbano. Isso é produto, principalmente, da capitalização do solo
municipal, alinhados a ações políticas que refletem o interesse de grupos específicos que
controlam o Poder local, em que muitas vezes, moradores de lugares rurais na mira desses
interessados, são pressionados, inclusive sob ameaças, para venderem suas posses ou
propriedade.
Outra estrutura a ser considerada no espaço desse estudo é o Parque Municipal de Nova
Iguaçu, que segundo o Plano de Manejo editado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio
132

Ambiente da Cidade de Nova Iguaçu - SEMUAM - RJ, 2001, é uma unidade de conservação
ambiental, com 1.100 hectares e alcançando 956 metros de altitude, criada pelo Decreto nº 6.001,
de 5 de junho de 1998, visando não somente à proteção da fauna e flora existentes, mas também,
formalizar uma aprazível opção de lazer para a população local, situada numa área conhecida
como Gleba Modesto Leal, na Serra do Gericinó-Mendanha. Ainda com respaldo no Plano de
Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu, em 1941, grande parte das terras devolutas do
topo das serras do Gericinó, Madureira e Mendanha foram agrupadas e declaradas como Floresta
Protetora da União. A principal razão daquele decreto era proteger os recursos hídricos que
abasteciam as regiões circunvizinhas, mas, ao mesmo tempo, ajudou a preservar uma exuberante
reserva florestal (de quase 8 mil hectares) e uma fauna variada, bem como importantes áreas de
lazer e de contato com a natureza. Baseado nessas premissas, em 1988, foi autorizada a criação
da Área de Proteção Ambiental (APA), acima da cota altimétrica de 100 m, através da Lei
Estadual nº 1.331. Cerca de um ano depois, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro aprovou a
Lei nº 1.483, fixando a cota de 80 metros como limite de uma APA Municipal, na vertente da
serra voltada para o município do Rio de Janeiro, e autorizando o Poder Público Municipal a
criar o Parque do Mendanha. É uma área territorial com forte potencial arqueológico que
remonta ao período pré-colonial e palco das manifestações africanas na baixada Fluminense.
Possui um estrutura edificada capaz de se tornar sustentável com propósitos de vivencia a partir
da exploração turística compartilhada à preservação ambiental e arqueológica.

Foto 55 - Gleba Modesto Leal - foi sede de um assentamento rural para fins de reforma agrária - Fonte:
Plano de Manejo do Parque Municipal de Nova Iguaçu.
Foto 56 - Atual estado da casa da Gleba Modesto Leal - Fonte: José Mauricio.

A atual gestão do Parque tem uma proposta consistente e coerente com essa ideia, parte
dela já planejada graficamente. Outras precisam ser amadurecidas, através de discussões
133

específicas para cada atividade. A proposta que já se encontra definida é a que trata da
recuperação da casa e sua utilização como espaço administrativo e recepção pública.

Fotos 57 - 58 - Entre os atrativos naturais do Parque Municipal, estão as quedas d`água, procuradas pela
comunidade, principalmente, jovens e adolescentes. Fonte: José Mauricio.

O Potencial do Parque é constituído por um acervo natural e cultural que se bem


organizado garantirá sustentabilidade para as atividades pretendidas e especificamente
vinculadas aos tipos as estruturas existentes como exemplificado abaixo.

Fotos 58 - 59 - Retratam parte de um acervo histórico-arqueológico-arquitetônico com discussão para


reutilização e exploração turística - Fonte: José Mauricio.
A ideia discutida para esse acervo, em especial, foi a criação de um restaurante típico e
alternativo que possa aproveitar entre outras coisa, os recursos alimentares da própria floresta,
que apresenta-se com espécies nativas e exóticas, como a jaca, verificada em grande quantidade.
Esse acervo é um complexo edificado no início do século XX e funciona como um posto de
monitoramento do Parque. É formada por vários prédios e uma piscina de grande porte, em
condições de uso.
A Vila de Iguaçu e a Fazenda São Bernardino são outro complexo que tem provocado
grandes discussões em torno de sua utilização. Existem várias propostas e uma delas foi
elaborada pela extinta Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro - FUNDREM, na fim das décadas de 1970 e início de 1980.
134

Defendo que a Vila de Iguaçu, sítio arqueológico histórico de Nova Iguaçu, foi instalada
sobre um assentamento pré-colonial tupiguarani, e para tanto, precisa ser pesquisada com esse
olhar. Várias atividades têm considerado a preservação desse complexo, já tratado nos capítulos
anteriores.

Foto 60 - Área do Complexo São Bernardino-Iguaçu Velho-Porto de Iguaçu. Fonte: Google Earth.

Fotos 61 - 62 - Fazenda São Bernardino nas décadas de 1950/60 e 2017. Fonte: Amigos do Patrimônio
Cultural.
135

A Fazenda São Bernardino toma pauta em várias discussões em diversos grupos, onde o
Amigos do Patrimônio Cultural se destaca em maioria e diversidade de ideias.

Foto 63 -- Cemitério de Iguaçu Velho sem data. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural.
Foto 64 - O mesmo cemitério em 2017,mostrando o descaso com o patrimônio e a forma de uso pela comunidade
circundante. Fonte: José Mauricio.

Figuras 23 e 24 - Reportagem sobre o achado de um barco no Porto de Iguaçu no Porto de Iguaçu. Uma lenda
confirmada. Fonte: Amigos do Patrimônio Cultural.

O Porto de Iguaçu é um lugar de estrema importância na inserção do patrimônio cultural


arqueológico numa perspectiva de desenvolvimento local, com vista à sua sustentabilidade
136

alicerçada em dois pilares, um socioeconômico e outro cultural. Trata-se de um espaço, cujo


processo de ocupação remonta ao período pré-colonial e tem como demanda um programa de
gestão desse patrimônio que ainda não foi investigado de forma sistemática.
Embora já tenha sido tratado no capítulo Patrimônio Cultural Arqueológico, o Porto
merece um destaque diante os riscos a que está submetido, praticamente dentro da faixa de
domínio de uma linha de transmissão de eletricidade das Furnas Centrais Elétricas, uma área de
assentamento rural do INCRA e dentro dos limites da Área de Preservação Ambiental do Alto
Iguaçu, criada pelo Decreto Estadual 44.032 de 15 de janeiro de 2013 e abrange os municípios
de Belford Roxo, Duque de Caxias e nova Iguaçu. A parcela fundiária rural dispõe de uma
infraestrutura construída que pode ser utilizada para fins recreativo, não fosse a construção sem o
devido planejamento e cuidados com o patrimônio cultural arqueológico histórico. Do local
partem as estradas da Polícia e Comércio. Se comparar as fotos 30 e 31 na página 92, verifica-se
as alterações na estrutura construída sobre o espaço do Porto de Iguaçu.

Fotos 65 - 66 - Porto de Iguaçu. Aos fundos da foto 66 tem-se um galpão tipo bar que serviria para recepção
turística. Fonte: José Mauricio.

Figura 25 - APA do Alto Iguaçu , mostrando os municípios


abrangidos por essa unidade de conservação ambiental
com alto potencial arqueológico - Fonte: INEA.
137

Outro local importante para a Arqueologia, uma vez que guarda um acervo patrimonial
arqueológico bastante diversificado está no Maciço do Tinguá e no seu entorno, cujo Plano de
Manejo da Reserva Biológica do Tinguá, editado em junho de 2006, define a Unidade de
Conservação Federal, com 26.260 hectares, criada pelo Decreto 97.780 de 23.05.89 e, portanto,
seu gerenciamento é feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA, por meio da Gerência Executiva no Estado do Rio de Janeiro, órgãos
também responsáveis pelo planejamento da Rebio.

Figura 26 - Planta da Rebio-Tingua. Fonte: www.mochileiros.com/reserva-biologica-de-tingua-t32589.html

Foto 67 - Estrada do Comércio no interior da Rebio-Tinguá. Fonte: José Mauricio.

A Rebio-Tinguá contém um conjunto de estruturas históricas do período colonial, ruínas


de igreja, residência e até caminhos que assumiram importância nacional, como o Caminho
Novo do Tinguá, cujo percurso, defendo ter sido aproveitado de uma via pré-colonial. Conforme
Plano de Manejo em seu encarte 2 páginas 3 e 4, a Zona de amortecimento (ZA) da Rebio-
Tinguá abrange parte dos territórios dos Municípios de Miguel Pereira, Japeri, Nova Iguaçu,
Duque de Caxias, Petrópolis e Queimados, conforme pode ser visualizado na Figura 17. É o
resultado de uma sugestão inicial que foi elaborada em conjunto pela equipe de planejamento em
março de 2003 após um sobrevôo e um reconhecimento da área, detalhando o traçado que
favoreceu a demarcação dos limites da Zona de Amortecimento (rios, limites municipais). A
Zona de Amortecimento (ZA) da Reserva Biológica do Tinguá possui um perímetro de 159,26
km e uma área de 72.705 ha, dos quais 30,42%, a maior parte, situa-se no Município de Nova
Iguaçu, 30,12% no Município de Miguel Pereira, sendo que o município menos representativo é
o de Queimados, com apenas 0,56% da área da ZA dentro de seu território.
Essa Zona de Amortecimento é importante, pois é onde se insere grande parte do acervo
arqueológico deste estudo, sobretudo os que dizem respeito ao Municípios de Nova Iguaçu e
Japeri e a parcela de Miguel Pereira, representada pela bacia hidrográfica do Rio Santana que
integra esse trabalho. É o caso da área remanescente da Sesmaria de Inacio Dias Velho, que teria
138

dado origem a Japeri. O Projeto Corredor Cultural da Fazenda Paes Leme, em fase de
elaboração, tem por meta ser implantado na área de alcance dessa zona de amortecimento,
especificamente, no espaço de influência do Assentamento da Fazenda Paes Leme, criado para
fins do Programa Nacional de Reforma Agrária, já descrito anteriormente.

Figura 27 - Ilustração da localização e dos limites da Região da Rebio do Tinguá.


Fonte: IBGE, 2000 e Plano de Manejo da Rebio Tinguá.

O Plano de Recuperação do Assentamento da Fazenda Paes Leme - PRA elaborado a


partir do contrato nº 007/2007, firmado entre o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio
de Janeiro - ITERJ e a Cooperativa de Consultoria, Projetos e Serviços em desenvolvimento
Sustentável Ltda. - CEDRO, em 01 de agosto 2007, a exemplos de outros, anteriores, tratou a
comunidade assentada em 68 lotes em que está parcelada a Fazenda em comento, apenas como
uma estrutura de produção agrícola, restringindo o trabalho a um diagnóstico do solo, da aptidão
agrícola e as principais características fisiográficas e socioeconômicas. Deixou de fora, até como
modelo do Programa Nacional de Reforma Agrária, até então em vigor, outros fatores de
relevância ao desenvolvimento da comunidade enquanto uma estrutura agrária, inserida no
contexto da zuna rural do Município de Miguel Pereira. Assim, deixou de contemplar o cidadão
e a cidadã existente no espaço, compartilhado por, além de solos, rios, riachos, vegetação,
técnicas agrícolas, comercialização, pessoas com ambições pretendidas, necessidades de grupos
de interesses formados por famílias de produtores rurais nas diversas faixas etárias verificadas,
visão de mundo, patrimônio, memória e identidade culturais, capital social e vocação da
comunidade para o desenvolvimento local. Dessa forma, pesa sobre o antigo projeto de reforma
139

agrária a culpa por não inserir o sujeito da agricultura numa perspectiva de avanço e condições
de fixação e vivência no campo agrário em oposição ao urbano, destino certo e pretendido
principalmente dos jovens, quando atingem a idade economicamente ativa e partem em busca de
"melhores condições de vida". Com a atualização do PRA- Fazenda Paes Leme, iniciado em
2012, percebeu que a comunidade rural resiste ao processo de urbanização, caracterizado por
diversos fatores onde a apropriação da posse da terras pela especulação imobiliária, se tornou o
mais grave conflito de terra verificado a ponto de ocasionar óbitos e buscava, ainda que forma
não organizada, uma solução para esse problema. Como primeira medida, foi feito um
reconhecimento geográfico e administrativo da Fazenda. Um segundo momento, foi
caracterizado pelo agrupamento dos diversos assentados em atores das atividades agrárias. Um
terceiro momento em desenvolvimento, pelo planejamento das atividades e inserção do mesmo
no Projeto Corredor Cultural Paes Leme, cujo principal objetivo é a integração das atividades
agrícolas numa perspectiva agrária, onde o agrário se estende na percepção do trabalhador e
trabalhadora rural enquanto cidadãos portadores de aspectos culturais específicos que o
distinguem dos cidadãos urbanos.
A Fazenda dispõe, em sua área e no entorno, de um potencial arqueológico, confirmado
a cada incursão feita no local, sobretudo, histórico, com registro de sítios arqueológicos e sua
inclusão no planejamento das ações do projeto descrito, prevendo atividades correlacionadas à
sua existência numa perspectiva de preservação e gestão.
140

Figura 28 - Perímetro georreferenciado da Fazenda Paes Leme. Fonte: ITERJ.

O maior legado é a aceitação da comunidade, verificada nas discussões ocorridas e na


participação em caminhadas destinadas à localização e registro de sítios e indicação de áreas
novas, encontradas por algum dos produtores.

Foto 68 - Produtor rural participa do reconhecimento arqueológico em um sítio da Fazenda Paes Leme. Fonte: José
Mauricio.

Foto 69 - Participação da comunidade em caminhadas para vistoria dos mananciais hídricos e reconhecimento
arqueológico. Na foto estão um Produtor Rural e a Presidente da Associação de Produtores da Fazenda Paes Leme.
Fonte: José Mauricio.

Abaixo, uma construção de taipa, confrontante da Fazenda Paes Leme, construída sobre
uma terreno terraplanado e arrimado com pedras sobrepostas. A construção encontra-se na Zona
de Amortecimento da Rebio-Tinguá e integra um conjunto de ocupações irregulares para a área.
141

Foto 70 - Casa de taipa construída sobre um sítio arqueológico histórico confrontante da Fazenda Paes Leme.
Fonte: José Mauricio.

De uma forma geral, o patrimônio arqueológico é ignorado enquanto coisa objetificada


com agregação de valor, investido na função de memória e com propósito simbólico. A grande
maioria das pessoas que margeiam o patrimônio arqueológico, são atores que agem sobre esse
acervo, mas sempre com impactos negativos. Observa-se como causa a ausência do sentimento
de pertencimento da coisa vista, mas sequer percebida. A questão está ligada ao processo de
aprendizagem, pois no momento em que o sujeito da ação passa conhecer o patrimônio em voga,
cria-se, num primeiro momento, o confronto ocasionado pelo interesse dos lados envolvidos, o
que pode ser exemplificado por um produtor rural que se utiliza das pedras de uma estrutura de
contenção de encosta de uma estrada do período imperial e é abordado, com um discurso
informativo sobre o que está sendo desmanchado. Essa ação é entendida como censura ao que
ele pretende fazer e gera o discurso antagônico, que só será revertido no momento em que se
consegue atribuir ao acervo uma função econômica, capaz de gerar renda. Nesse momento
estabelece um diálogo entre o agressor ao bem e o defensor da sua preservação o que resulta
compreensão do objeto enquanto algo de valor.
Na busca de uma justificativa para essa situação caracterizada pela relação antagônica
estabelecida entre o cidadão o patrimônio cultural arqueológico, onde a demanda um se opõe aos
interesses do outro, encontra referência em Rubino (1996, p. 97), quando escreveu que em 1961,
após quase três décadas à frente do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo
Franco de Andrade:
afirmou não ser Brasil constituído apenas de seu território, de sua configuração no mapa
do Hemisfério Sul. Para identificarmos a nação brasileira, dizia, teríamos de considerar
a obra da civilização realizada no país: a produção material e espiritual que herdamos.
142

Associando esse discurso ao local em destaque, podemos reproduzir e aplicar as


palavras de Rodrigo Melo Franco de Andrade quando o município do local descrito, só é visto
pelo seu território e arrecadação. As necessidades da população, na ótica da gestão política, se
restringe ao atendimento imediato de alguns dois direitos: "educação e saúde" e, assim mesmo,
oferecidos de forma bastante precários. A cultura só serve para negociar acordos de apoio a
campanhas eleitorais e também é vista com bastante restrição direcionada a eventos de
apresentações de artistas de fora da cidade como cantores em festas comemorativas, com altos
custos ao cofre público. Como disse Harvey (2001, p. 221):
não se pode negar que a cultura se transformou em algum gênero de mercadoria e que
há a crença muito difundida de que algo muito especial envolve os produtos e os
eventos culturais, (estejam eles nas artes plásticas, no teatro, na música, no cinema, na
arquitetura, ou mais amplamente, em modos localizados de vida, no patrimônio, nas
memórias coletivas e nas comunhões afetivas), sendo, portanto, preciso pô-los à parte
das mercadorias normais, como camisas e sapatos.

Um patrimônio cultural arqueológico como o registrado na Fazenda Paes Leme,


representa o município em vários momento de sua trajetória histórica, reportando sua origem ao
período pré-colonial, muito pouco conhecido e à presença do africano, cuja atuação no espaço
começa a ser lida em documentos encontrados no levantamento bibliográfico efetuado e
contradiz uma versão pacífica de escravidão. Embora citados na História oficial, esta não
aprofunda em detalhes ricos que começam a ser relidos no registro arqueológico. A criação do
SPHAN em 1937, embora tenha representado para uma pequena parcela da população
constituída de funcionários e correligionários uma ruptura em relação a uma tradição anterior
que consideravam amadora no trato de assuntos relativos ao passado tradicional brasileiro, para o
grande público brasileiro, isso não significou nenhum avanço (RUBINO, 1996, p. 97). A prova
está aqui, nos limites da atuação desse levantamento. Se por um lado ouve um descobrimento do
país que se inventou e inventariou um Brasil histórico e artístico, etnográfico, arqueológico e
geográfico (RUBINO, 1996, p. 97), por outro lado, ficou de fora, um Brasil que se encontrava
além dos limites físicos de uma elite de intelectuais bem intencionados, mas restritos a uma
pequena realidade.
Falar de preservação sem o envolvimento da comunidade, é mera expectativa de estar
discutindo a proteção de bem cultural arqueológico. Um exemplo experimentado foi o Sítio
Arqueológico Morgado de Belém, situado na RJ 093, descoberto e redescoberto em 1988,
quando a Associação de Amigos e Moradores de Japeri - AMOR-JA iniciou os preparativos da
comemoração dos 243 anos do então 6º Distrito de Nova Iguaçu, Japeri. As ruínas já eram
velhas conhecidas, mas a comunidade nunca havia atentado para sua importância e significado
que ganhou notoriedade a partir de então. Até o início da década de 1990 era um sítio de posse
143

de uma Senhora de nome Catarina, que gostou da ideia de ter um sítio arqueológico dentro de
sua propriedade, que passou a ser visitada por escolas em aulas práticas de Geografia e História,
até que uma mineradora local, comprou a área e resolveu murá-la com sérios prejuízos à História
e Patrimônio Arqueológico do então Distrito de Nova Iguaçu. A comunidade se mobilizou, o
IPHAN e a imprensa foram chamados e conseguiu impedir o avanço da destruição, mas o muro
foi, infelizmente, construído. Os moradores vizinhos sempre procuravam a equipe para falar de
uns achados que teriam sido descoberto pelos tratores. Falavam se tratar de "dois tachos cheios
de tesouros". Em seguida, vários acontecimentos coincidiram no pátio operacional da pedreira o
que levou ao surgimento de uma lenda. Que os arqueólogos eram bruxos e que jogaram praga e
que foi castigo por terem perturbado a casa que era mal assombrada e por ai foi até que o
plebiscito promoveu seu primeiro prefeito, que tinha como pai, o primeiro presidente da Câmara
de Vereadores. Na nova administração, as observações da comunidade se confirmaram e dois
tachos feitos de ferro fundido para o fabrico de aguardente que haviam sido recuperados de
forma irregular pelos tratores que abriram espaço para o muro, foram entregues à Prefeitura que
se implantava. Foram expostos na frente da Prefeitura, até que percebeu-se que eram usados
como lixeira e depósitos para acúmulo de água e reprodução de mosquitos. Após denúncia, os
tachos, foram retirados de lá e, colocados na porta da Prefeitura Municipal, onde permaneceram
sem cuidados até 2008, quando foram retirados por estarem acumulando água e servindo de
incubadores para o mosquito, principalmente os do gênero Aedes. Hoje, não se sabe onde estão.
A reportagem abaixo dá uma ideia da repercussão que teve a ação da pedreira ao ameaçar o sítio
arqueológico de Japeri, mas também mantém viva a questão que pergunta o que fazer para
garantir o preservação desse patrimônio que retrata o desenvolvimento sociocultural do
Município que, até o momento, não mostrou interesse na criação de uma política de preservação
de seu acervo. Se for considerado que a política do patrimônio, constitui a função orçamentária
mais importante da política cultural francesa, dando conta de quase 30% do conjunto das
despesas públicas com atividades definidas como culturais (MICELE, 2001, p. 364). Podemos
esperar pouco dos agentes políticos brasileiros, sobretudo os de Japeri, uma vez que só
conseguem perceber despesas desnecessária ao direcionar recursos ao bem cultural. Nesse
discurso ainda é utilizado como argumento, a necessidade em saúde e educação, porém em
condições cada vez piores. Ou seja, nem investe "nas meninas dos olhos" e tampouco, no
"patinho feio". Os parágrafos 4º e 6º do Artigo 169 no Capítulo II da Lei Orgânica Municipal,
preveem o patrimônio cultural arqueológico e histórico, mas sequer há previsão orçamentária
para o que está previsto. O Município dispõe de um acervo arqueológico importante, que pode
144

contribuir com o desenvolvimento socioeconômico, mas necessita de um plano de gestão


próprio.

Figura 29 - Uma das divulgações do evento provocado pela pedreira. Fonte: Jornal O Dia, Caderno O Dia Baixada,
1991.

Esse episódio deixa claro a noção que as autoridades e a elite financeira local têm sobro
o patrimônio e sua função. Isso nos remete ao capítulo Arqueologia Urbana, considerando
Tocchetto e Thiesen (2007, p. 178) quando disseram que espaço, tempo e destruição foram o
maeström (turbilhão, confusão, conflito) que fez surgir aquela importante corrente da
arqueologia. Como disse Castells (2009, p. 57):
a região metropolitana, enquanto forma central de organização do espaço do capitalismo
avançado, diminui a importância do ambiente físico na determinação do sistema de
relações funcionais e sociais, anula a distinção rural e urbana e coloca em primeiro
plano da dinâmica espaço/sociedade, a conjuntura histórica das relações sociais que
constituem sua base.

As preocupações com o acervo patrimonial cultural em nada contribuiu com o avanço


da gestão pública desencadeada pelo plebiscito que, vinte e cinco anos depois, Japeri se mantém
nas mesmas condições de que quando era distrito do Município-Mãe. A institucionalização de
uma política federal de preservação, iniciada em 1937 (FONSECA, 1996, p.154), não foi
145

suficiente para garantir, em 2017, que o avanço da metropolização do Rio de Janeiro sobre o
espaço territorial fluminense, fosse compatível com a localização, identificação, mapeamento,
fiscalização efetiva e ostensiva e funcionalidade do acervo patrimonial cultural inserido em seu
contexto. Tampouco de promover a extensão do "Projeto Interação entre a educação básica e os
diferentes contextos culturais existentes no país" que, conforme disse Fonseca (1996, p. 157):
se propunha a apoiar e acompanhar projetos propostos por grupos e organizações da
sociedade, calcado nos pressupostos da pluralidade cultural e da eficácia da gestão
descentralizada e participativa. Tratava-se de aproximar os processos educativos do
contexto cultural dos alunos, visando não apenas aprimorar a dinâmica da aprendizagem
como também a conferir estatuto de "cultura" às experiências que o aluno trazia para a
escola.

Seja como for, o sítio arqueológico, em comento, está no mesmo lugar, correndo os
mesmos riscos e se distanciando cada vez mais da sociedade, uma vez que não foi mais utilizado
para aulas práticas e nenhuma outra atividade, ainda que de fiscalização.
Seria bom que os municípios incluíssem, pelo menos 2% de sua receita orçamentária
para a política do patrimônio cultural numa demonstração de reconhecimento da importância do
bem cultural a exemplo do valor dado pela França, conforme abordado em Micele (2001, p.p.
364 e 365), que expõe:
No limite, a política francesa do patrimônio foi dilatando a tal ponto as fronteiras de sua
jurisdição que passou a abarcar quaisquer modalidade de expressão cultural, associadas
a quaisquer suportes, buscando assim "solucionar" o desafio da seleção dos estoques a
serem preservados pela avassaladora "universalidade" da jurisdição institucional que
vem se delineando.

Podemos dizer que a ruína em comento é um patrimônio cultural deixado ao acaso até
os dias de hoje e as autoridades municipais, se é que tem, não dispõem de nenhum planejamento
voltado à sua valorização e reconhecimento desse acervo como um conjunto de bens do
Município que têm muito a dizer sobre a evolução da população no espaço.
Talvez seja interessante observar que, no início do século XX, a Estrada de Ferro Central
do Brasil, comprou a cachoeira nas terras da Fazenda Belém, cujas ruínas formam o sítio
mencionado. Rever os limites fundiários do perímetro comprado pelo Governo Federal, possa ser
uma saída à garantia da preservação e disponibilização do patrimônio ao público em geral,
facilitando o acesso e o desenvolvimento de projetos de pesquisa e gestão. Isso reforça a ideia de
que a reflexão sobre o patrimônio e as políticas de preservação do ponto de vista do exercício da
cidadania é, no momento atual, do maior interesse teórico e prático, por vários motivos
(FONSECA, 1996, p. 153), porém a questão é como fazer com que esse ideal alcance a
localidade. A foto abaixo, exibe a cicatriz geológica aberta pela mineradora em propriedade da
qual, encontra-se o Sítio Arqueológico Morgado de Belém.
146

Foto 71 - Serra da Bandeira, onde situa a mineradora que detém a posse do espaço onde assenta o Sítio
Arqueológico Morgado de Belém. Fonte: José Mauricio.

Segundo Fonseca (1996, p. 153) nas últimas décadas, tendo como referência, 1996,
vinha ocorrendo, em escala, mundial o desenvolvimento de uma consciência preservacionista,
impulsionada principalmente pela questão ecológica, mas que abrangem, também os bens
culturais.
Os programas federal e estadual das políticas de patrimônio não conseguiram alcançar a
escala municipal, transformando em ação o discurso acadêmico impresso nos artigos científicos.
O distanciamento entre a demanda de políticas públicas voltadas à preservação do patrimônio e a
sociedade alcançou proporções alarmantes a ponto de não ser esse, um tema a ser discutido em
assuntos gerais e espontâneos, como são o futebol e a religião. O fato é que nenhum partido
político local, aborda a questão cultural, em especial patrimônio, sobretudo, o arqueológico,
como programa de governo que deve ser pautado no plano diretor municipal. A orientação dos
marqueteiros, não é discutir programa político, mas imagem do candidato a ser vendida como
produto eleitoral.
Na visão de Tamaso (2005, p. 13), a crescente velocidade com a qual se espalharam
mundialmente as obsessões com o passado e, sobretudo, com o que nós costumamos chamar de
147

patrimônio direcionaram as atenções para as raízes e as coleções que tomaram conta do


Ocidente, fazendo surgir museus e sítios históricos, sobretudo no pós-guerra. Canclini (1994,
p.98), confirma essa observação, quando diz que a expansão demográfica, a urbanização
descontrolada e a depredação ecológica suscitam movimentos sociais preocupados em
recuperar bairros e edifícios ou em manter o espaço urbano habitável. Lowenthal (1998,
p. 64) A consciência do passado é, por inúmeras razões, essencial ao nosso bem-estar. Para o
autor, toda consciência atual se funda em percepções e atitudes do passado e o acontecido
também é parte integral de nossa própria existência. No entanto, para Tamaso (2005, p. 13), a
nostalgia pelas "coisas velhas", em muitos lugares, suplanta o desejo pelo progresso e pelo
desenvolvimento e:
A onda universalizante da UNESCO" torna-se cada vez mais um valor para inúmeras
cidades (municípios) que agora percebem que "moderno é ser antigo". O
desenvolvimento pode ser buscado por causa do patrimônio. Se antes o patrimônio
funcionava como obstáculo do desenvolvimento, agora ele é fundamento deste.
Se antes, o patrimônio cultural, era rejeitado, agora percebo, que, de um lado permanece
nessa condição, de outro, tolerado e, de um outro lado, bem menor, compreendido por uma
parcela da população componente da sociedade municipal, que vem aumentando as ações sobre a
proposta preservacionista, embora esbarre na questão política que detém o Poder das decisões.
Talvez isso possa ser explicado por Canclini (1994, p. 92) quando afirma que o patrimônio
cultural expressa a solidariedade que une os que compartilham um conjunto de bens e
práticas que os identifica, mas também costuma ser lugar de cumplicidade social.
O patrimônio cultural arqueológico, inserido no contexto da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro, em especial, os que estão sob a jurisdição dos municípios trabalhados nessa
pesquisa, encontra-se diante de uma situação abordada na Declaração de Caracas - ICOM,
(1992, p. 248) quando proclama ser lamentável a carência de uma política cultural coerente que
transcenda a temporalidade e garanta a continuidade das ações. Por outro lado, a tendência que
prevalece no momento atual, à privatização e a confiar à sociedade civil responsabilidades que
normalmente cabiam ao Estado, pode acarretar riscos em relação ao patrimônio cultural. O
Estado não pode abandonar seu papel de gerenciador do acervo patrimonial de nossos povos, e
deve intervir, sempre, para garantir sua conservação e integridade como o organismo mais
idôneo.
148

10 CONCLUSÃO
Abordar a preservação do patrimônio cultural, em especial o arqueológico, numa
conjuntura caracterizada por um crescimento cada vez mais rápido das cidades dentro dos
perímetros territoriais dos municípios, quando assistimos a sobreposição das camadas do solo
por prédios e estruturas novas que só levam em consideração o lucro monetário como resultado
importante a considerar nesse processo, torna-se fundamental à garantia do acervo arqueológico
às gerações futuras. Considerar o patrimônio cultural arqueológico além de um item de despesa,
no orçamento municipal, compreendendo-o, enquanto uma matéria-prima capaz promover a sua
própria sustentabilidade seja pela geração direta de recursos financeiros, seja pela
conscientização da comunidade que o envolve, coloco como um desafio a ser superado em uma
velocidade com aceleração positiva e crescente. Assim, aponto o turismo local e regional como
exemplo de uma proposta a ser testada e aliada na busca de um caminho que nos leve à
preservação do acervo tratado. Nessa direção, inserir o patrimônio cultural arqueológico numa
perspectiva de desenvolvimento local e regional, ultrapassando o conceito de desenvolvimento
portado pela engenharia, economia e consequentemente, pelas empresas que financiam os
candidatos a cargos eletivos, constitui uma proposta idealizada a ser apresentada em sequência a
este estudo. A arqueologia pública é capaz de promover a percepção de valores do espaço
territorial a partir da diversidade de recursos existentes que vão dos mananciais hídricos,
estruturas agrárias familiares, patrimônio arqueológico a grupos de pessoas com forte potencial
criativo, necessitando, apenas, do conhecimento básico específico e do acompanhamento
necessário para o impulso inicial. Sem dúvida, isso, no mínimo levará a um novo estágio de
abordagem diante do acervo arqueológico, criando obstáculo aos que veem o espaço já ocupado,
como estrutura a ser transformada em outra expressão paisagística urbana capaz de gerar
dinheiro de uma única forma. O sítio arqueológico, que na ótica do mercantilismo urbano, não
passa de um obstáculo que a lei manda guardar estará garantido no momento em que for parte
pertencente da comunidade que o cerca, exercendo, além de outras, as funções de memória
coletiva e a identidade cultural da sociedade.
A comunidade e o público em geral, uma vez preparados, poderão tornar-se os
responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio cultural arqueológico dentro da área
trabalhada. A comunidade ao tomar ciência do patrimônio cultural arqueológico, enquanto um
artefato de valor e que agrega valores, desperta o interesse pelo mesmo e passar a pensá-lo sob a
ótica de um novo olhar. Essa conclusão esta entre as observações possíveis de fazer onde o
trabalho alcançou um estágio avançado de atividades efetivadas por associações entre um sítio
arqueológico e a aptidão comunitária. Isso, porque o acervo arqueológico pode ser incluído no
149

conjunto de atividades socioeconômicas que uma comunidade pode programar em função do seu
desenvolvimento. Nesse campo, a arqueologia pública é o principal meio na proposta de
despertar a consciência para o patrimônio cultural arqueológico, capaz de munir, treinar as
pessoas com informações e técnicas de exploração do bem arqueológico em conformidade com a
legislação e os interesses da arqueologia.
Com a realização desse trabalho foi possível visitar, cadastrar alguns sítios, avaliar e
reunir condições para propor um plano de gestão para o acervo arqueológico inserido no
contexto territorial dos municípios de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e
Mesquita. Foi possível, também localizar grupos e pessoas que agem sobre o patrimônio cultural,
ainda que não especificamente sobre o arqueológico, e com o contato estabelecido, firmar
discussões que, somadas, fortalecerão a demanda de uma política pública para o patrimônio
cultural, nesse caso, com ênfase ao arqueológico.
Foi possível levantar informações que possibilitam mensurar o grau de risco a que está
exposto o conjunto de bens arqueológicos, pelo intenso processo de urbanização porque passa o
espaço citado. Com os resultados alcançados, será possível apontar direções a serem seguidas,
como medidas experimentais, para a real proteção do bem arqueológico.
150

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168

ANEXO I
LISTA DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS REGISTRADOS NA ÁREA EM ESTUDO REGISTRADOS CNSA/ IPHAN - 2014
Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICAS
01 Belford Roxo: Sambaqui da Pré-Colonial Localizado em terreno arruado e espólio da Família Ferreira. Quase totalmente
Vila Marquesa de Marquesa arrasados em praça pública, no loteamento Santa Tereza. Composição
Santos RJ-LP-40 predominante de ostreá . Material arqueológico constituído de lascas de quartzo
sem retoques. Área: 10X5 metros espessura 1.5 metro. Pesquisado em 10-10-
1971 e dezembro de 1976.
02 Belford Roxo: Redentor Histórico Situado ao pé de morro laterítico a poucos metros da estrada para o Calundu.
Parque São José RJ-LP-6 Material arqueológico constituído de cacos neo-brasileiro e coloniais. Pesquisado
(Jardim Redentor) em dezembro de 1976.
03 Belford Roxo: Vacaria Pré-Colonial Localizado na estrada que liga a Automóvel Clube à Belford Roxo. Material
Fazenda Vacaria RJ-LP-4 arqueológico constituído de artefatos líticos e cerâmicos. Pesquisado em
dezembro de 1976.
04 Belford Roxo: Baixada Pré-Colonial Localizado na Estrada da Cruz Vermelha. Material arqueológico constituído de
Antiga Fazenda RJ-LP-3 artefatos líticos e cerâmicos da fase Guaratiba. Pesquisado em dezembro de 1976.
Calundu
05 Belford Roxo: Cruzeiro Pré-Colonial e Localizado na antiga Fazenda Calundu, na Estrada Conceição. Material
Loteamento Santa RJ-LP-2 Histórico arqueológico constituído de artefatos líticos e farta cacaria colonial da Fase
Tereza Calundu. Pesquisado em dezembro de 1976.
06 Belford Roxo: Madame Picucha Histórico Localizado na antiga Fazenda Calundu. Material arqueológico constituído de
Loteamento Santa RJ-LP-1 farta cacaria colonial e neo-brasileira. Fase Calundu e vestígios de fossas
169

Tereza culinárias.
07 Belford Roxo: Dona Laura Pré-Colonial Localizado em um terreno residencial, descoberto ao acaso quando do corte de
Vilar Novo RJ-LP-43 um barranco. Material arqueológico constituído, principalmente, de artefato
cerâmico caracterizado por urna carenada, com decoração corrugado-espatulado
e hiperbólica com cerca de 70 cm de altura (encontrada vazia)e retirada
praticamente inteira. Tigela decorada. Tigela carenada-corrugada. Tigelas
retangulares de fundo plano, tipo alguidar, algumas pintadas. Fase Sernambitiba e
Tradição Tupiguarani. Pesquisado em 20 e 28 de setembro de 1980.

01 Queimados: Fazenda Roseira Histórico Localizada a poucos metros da Estrada de ferro no Ramal Japeri e do Rio
Fanschem Sarandi. Material arqueológico constituído de monumentos formados por
edificação de sede de fazenda com arcos construídos com tijolos dois furos e
fundação de pedra e fragmentos de cerâmica na superfície. Pesquisado em 08-10-
2004
02 Queimados: Aldeia Roseira Pré-Colonial Localizado em área pública nas margens da estrada de ferro da Linha Auxiliar.
Santa Amélia Material arqueológico constituído de artefatos líticos lascados, cerâmico e
carvão. Fase Tupiguarani. Pesquisado em 08-10-2004
01 Nova Iguaçu: Rio Morto Histórico Localizado em meia encosta durante o processo de monitoramento das obras
Rio D`Ouro/ Arco Metropolitano (BR493) entre as estacas 1468 a 1476. Material arqueológico
Mantiqueira constituído por restos de habitação.
02 Nova Iguaçu: Fábrica de Histórico Localizado em terreno do DER para construção do Arco Metropolitana (BR493)
170

Austin/Carlos Pólvora entre as estacas 1193 e 1195, com acesso pela Estrada que vai para Carlos
Sampaio Sampaio na Bacia Hidrográfico do Rio Iguaçu. Material arqueológico constituído
de variedades de louças, vidros, cerâmica colonial e neo-brasileira e metais com
vestígio de edificações.
03 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio II Histórico Situado em área de morro nas proximidades do Arco Metropolitano (BR493) em
Austin/Carlos função do qual foi descoberto entre as estacas 1221 e 1223. Material
Sampaio arqueológico constituído de louças, vidros, cerâmica neo-brasileira e metais.
Assenta-se num trecho que servirá de jazida para terraplanagem.
04 Nova Iguaçu: Engenho do Alto Histórico Assenta-se num trecho que servirá de jazida para terraplanagem. Material
Austin/Carlos arqueológico constituído de Louças, vidros, cerâmica neo-brasileira e metais.
Sampaio
05 Nova Iguaçu: Vale Verde Histórico Situado em área colinar tendo como referência a estaca 1328 do Eixo Central da
Austin/Carlos BR 493 9 Arco Metropolitano), dispõe de material arqueológico constituído de
Sampaio louças, vidros, cerâmica colonial e metais. Apresenta parte de uma estrutura de
alicerce com base de pedras e tijolos maciços.
06 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio Histórico Situado em área colinar apresenta material arqueológico constituído de louças,
Austin/Carlos IV vidros, cerâmica colonial e metais. Apresenta parte de uma estrutura de alicerce
Sampaio com base de pedra e tijolos maciços.
07 Nova Iguaçu: Cacuia Histórico Situado próximo à base de um morro com evidências de um baldrame que forma
Austin/Carlos um platô retangular com limite no talude do morro. O material arqueológico é
Sampaio constituído de cacos de telhas, louças dos séculos XVIII e XIX e metal.
171

08 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio V Histórico Semelhante ao Sítio Cacuia situa-se próximo à estaca 1328 e da casa do Sr.
Austin/Carlos Sebastião Lima. Apresenta a mesma composição arqueológica.
Sampaio
09 Nova Iguaçu: Palmeiras Histórico Situa-se na Gleba 5 do Núcleo Colonial São Bento, Lote 420 do INCRA. O
Adrianópolis/Bar material arqueológico é constituído de fragmentos de cerâmica, louças, telhas e
ão do Guandu tijolos.
10 Nova Iguaçu: Fazenda São Histórico Localiza-se nas margens da estrada entre Vila de Cava e Tinguá. Construída em
Iguaçu Velho Bernardino 1875 foi símbolo da opulência cafeeira na região. Vítima de incêndio criminoso
na década de 1980 encontra-se em ruínas. Foi saqueado e atacada várias vezes
por caçadores de tesouros. Tombada pelo IPHAN Processo nº 432-T , Inscrição
30 Livro de Belas Artes Fls. 76, 1951. O material arqueológico é constituído de
louças, vidros, metais. Apresenta um monumento arquitetônico feito em tijolos e
pedra.
11 Nova Iguaçu: Vila de Iguaçu Histórico É o sítio histórico de Nova Iguaçu. Situa-se nas margens do Rio Iguaçu possui
Iguaçu Velho um acervo arqueológico constituído de cemitério, porto (atracadouro), ruínas da
Igreja de Nossa Senhora da Piedade, trecho do atalho da Estrada do Comercio
calçada e o início da Estrada da Polícia. Tem um barco enterrado no porto.
12 Nova Iguaçu: Santa Rita Histórico Propriedade do DER possui um ocupante chamado Sr.Pino,situa na margem
Santa Rita esquerda da Estrada Santa Perciliana em frente ao Condomínio Village santa
Rita. O material arqueológico é constituído de cerâmica localizada numa camada
arqueológica de coloração marrom de aproximadamente 30 cm.
172

13 Nova Iguaçu: Bambus Histórico Situado em propriedade do DER com acesso pela Estrada das Canas. O material
Vila de Cava arqueológico é constituído de estrutura de fazenda.
14 Nova Iguaçu: Vale das Histórico O acesso se dá pela RJ 111 (Vila de Cava X Tinguá) e fica próximo do GASJAP
Barão de Guandu Pindobas ER 202 e o Rio Iguaçu. O material arqueológico é constituído cerâmica, louças,
(?) metal, lítico e tijolos.
15 Nova Iguaçu: Barão de Iguaçu Histórico Encontra-se próximo à estaca 617 do lote 1 do Arco Metropolitano. O material
Barão de Iguaçu arqueológico é constituído de cerâmica, louças, matais, lítico, tijolos, telhas,
vidros e fragmento de cachimbo.
16 Nova Iguaçu: Carlos Sampaio Histórico Situado entre as estacas 1193 e 1195 do Arco Metropolitano esta territorizado em
Austin/Carlos III propriedade do DER. O material arqueológico é constituído de cerâmica colonial
Sampaio e neo-brasileira e metais.
17 Nova Iguaçu: Amaral Histórico Com acesso pela Estrada de Adrianópolis, 4502 é de propriedade do DER. O
Amaral material arqueológico é composto de cerâmica, louça, vidro e ferro.
18 Nova Iguaçu: Paineiras I Histórico Localiza-se próximo à Escola Municipalizada em Adrianópolis e já foi sede de
Adrianópolis RJ-LP-64 fazenda e indústria ( olaria, azulejo, pólvora e brinquedos de metal). O material
arqueológico é composto de um acervo diversificado que pode remontar ao
Século XVIII, constituído de louças decoradas e cerâmica indígena neo-
brasileira, fragmentos de metal, fragmentos de cachimbo e outros quase inteiros e
fragmentos de stoneware.
19 Nova Iguaçu: Paineiras II Histórico O acesso se dá pela Estrada de Adrianópolis e a Praça do Cata Vento. Está
São Judas destruído e o material arqueológico é constituído de fragmentos de louças e
173

Tadeu/Cata Vento cerâmica. É atravessado por uma estrada calçada com pedras (pé de moleque).
01 Japeri: Aldeia de Pré-Colonial Localizado na margem esquerda do Rio Guandu, na Estrada do Daniel, 220. O
Santa Terezinha Itaguaçu II material é composto de cerâmica, combustão e alinhamento de pedra. Tradição
Tupiguarani.
02 Japeri: Normandia Pré-Colonial Localizado na fazenda Normandia de propriedade do Instituto de Terras e
Normandia Cartografia do Estado do Rio de Janeiro- ITERJ, situa-se numa colina. O material
arqueológico é constituído de fragmentos de cerâmica tupi (?).
03 Japeri: Aldeia Itaguaçu I Pré-Colonial Localizado na mesma propriedade do Aldeia Itaguaçu II o material arqueológico
Santa Terezinha é constituído de cerâmica tupiguarani.
04 Japeri: Ary Schiavo Histórico Situado em área elevada é constituído de material arqueológico formado de
diversidade de louças, vidros, metais e cerâmica neo-brasileira.
05 Japeri: Santa Amélia I Histórico Localizado em área campestre com acesso pela estrada principal de Santa
Santa Amélia Amélia, próximo à Escola Joanna de Angel. O material arqueológico é
constituído de louças, vidros, cerâmica colonial e metais. Apresenta parte de uma
estrutura em sub-superfície. A propriedade é do DER.
06 Japeri: Dois Irmãos Histórico Localizado em uma área de alagamento, dentro da faixa de domínio do GASJAP
Amapá RJ-LP-68 da Petrobrás na confluência com a Estrada da Saudade e que apresenta dois
bolsões seco onde encontra-se o sítio, cujo material arqueológico é formado de
louça branca decorada, fragmento de cerâmica neo-brasileira e stoneware, vidros
e metais.
07 Japeri: Rio D`Ouro Histórico Localizado na divisa dos municípios de Nova Iguaçu e Japeri no alto de um
174

Rio D`Oouro morro nas margens do Rio D`Ouro. O material arqueológico é caracterizado pela
ocorrência de cerâmica tupiguarani e neo-brasileira. Apresenta características
semelhantes às do sítio Santo Antonio II distante a 2.5 km. A diferença está na
ausência de fragmentos de louças e metal neste último.
08 Japeri: Aldeia de Pré-Colonial Localizado no alto de um morro na margem esquerda do Rio Guandu, na Estrada
Santa Terezinha Itaguaçu do Daniel, 220. O material arqueológico é constituído de cerâmica e lítico (sílex)
da Tradição Tupiguarani.
09 Japeri: Areal II Histórico Localizado próximo à Olaria com acesso pela Estrada Rio D`Ouro, encontra-se
Rio D`Ouro parcialmente destruído. O material arqueológico é constituído de louça, cerâmica
e vidro.
10 Japeri: Santo Antonio I Histórico Localizado próximo à cachoeira de Santo Antonio em uma baixada a 100 metros
Santo Antonio do Rio. O material arqueológico é formado de fragmento de louça branca e
decorada e cerâmica neo-brasileiro.
11 Japeri: Santo Antonio II Histórico Localizado na margem direita do Rio Santo Antonio encontra-se parcialmente
Santo Antonio RJ-LP-67 destruído. A área arqueológica estende-se por 100 metros ao longo da faixa de
domínio do gasoduto Japeri/REDUC. Apresenta material arqueológico disperso
na superfície que é constituído de fragmentos de cerâmica tupiguarani, neo-
brasileira, louças brancas ou decoradas, metal, botões e cachimbos cerâmicos.
Está dividido em duas partes: uma, na parte alta do terreno, onde se encontram os
fragmentos de cerâmica tupiguarani em avançado estagio de destruição e outra
com maior concentração de fragmentos de louça, cerâmica neo-brasileira e metal
175

em melhor estado de conservação.


12 Japeri: Viaduto Histórico Com acesso pela estrada de Adrianópolis, 4502. O material arqueológico é
Queimados constituído de cerâmica, louça, vidro, telha, azulejo e ferro.
13 Japeri: Morgado de Histórico Localizado dentro do terreno de uma Pedreira nas margens da Estrada Ary
Chacrinha Belém Schiavo. Sabe-se hoje que se trata das ruínas do Engenho de Pedro Dias . Quando
a Pedreira comprou o sítio tentou destruir para construção de um muro, mas foi
impedida pelo grupo do IFA que fez ampla mobilização pela preservação. O
material arqueológico é constituído de monumentos e fragmentos. Como
monumentos tem-se as ruínas de pedras que representam paredes e contenção
feita em tijolos de barro (adobe), caldeirões de ferro fundido tipo aguardente,
vidros, louças, ferro entre outros artefatos que não puderam ser trabalhados. Os
caldeirões foram recuperados e entregues à Prefeitura que os expunham em sua
sede sem nenhum tratamento de conservação. Foram retirados e não se sabe onde
estão.

5.2 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS A SEREM REGISTRADOS ENTRE 2015/2016 NO CNSA/IPHAN - POR ESSA PESQUISA
Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICAS
01 BELFORD Túnel I Histórico Trata-se de um túnel construído em dois momentos, onde o primeiro caracteriza
ROXO Shangrila Rosa pela escavação de com um buraco com aproximadamente 2 metros de largura,
por mais ou menos 3 metros de profundidade no pé do morro. Daí partia a
abertura de um túnel em linha reta, os sinais de enxadão utilizado como
176

ferramenta é facilmente verificável nas paredes. Após uns 6 metros de


comprimento, um desmoronamento interno dificultava a continuidade até ao
fundo. Segundo moradores do local, havia um portão de ferro no interior, fato
nunca foi confirmado.
Vistoriado em 06/01/2017, o local continua desocupado confrontado de frente
pelos fundos do terreno do Sr. Salvador Alegria Pontes, conhecido por Dodô,
residente e domiciliado no Caminho da Glória.
02 NOVA IGUAÇU Túnel II Histórico Localizado no Bairro Santa Rita, no terreno da Escola Municipal Santa Rita, tem
um uma cava de 60 cm por 15 metros e termina numa câmara. As marcas das
ferramentas estão na parede do terreno. A câmara apresenta desmoronamento.
03 NOVA IGUAÇU Casa do Modesto Histórico Situado no atual Parque Municipal de Nova Iguaçu no Maciço do Mendanha, com
Leal acesso por Juscelino Kubitschek, Bairro do Município de Mesquita. A casa que já
foi a sede da Gleba Modesto Leal, um assentamento rural, na década de
1980/1990, foi transformada em uma Área de Preservação ambiental.
Encontra em péssimo estado de conservação, porém há o interesse da Direção da
Parque na restauração do prédio para estabelecimento da sede.
É feita em taipa, pedra, telhas de cerâmica e madeiras que se encontram
amontoados pelo desabamento. Tem um murado de pedras sobre postas,
semelhante ao que temos em Paes Leme I e um caminho cortado no barranco,
sustentado com um muro de arrimo em pedras que leva até um poço natural onde
tem-se duas estruturas de ferro cravadas na rocha onde se acredita ter sido um
177

engenho.

03 NOVA IGUAÇU Estrada do Casarão Histórico Trata-se da estrada de acesso ao Parque e que o corta até o Clube, outro sítio
arqueológico histórico. A estrada tem duas pontes em pedra e ferro. Na altura do
Casarão tem uma capela de pedra sobre uma rocha.
04 NOVA IGUAÇU Gruta APA I Pré Colonial Trata-se de uma gruta constituída por rochas sobre postas, naturalmente, comum
na região, semelhante às que encontra no Tinguá, utilizada como abrigo. Foi
encontrado no seu interior um vaso de cerâmica repassado ao IPHAN/IAB, que
em, função da informação obtida, é faz parte de um utensílio Tupiguarani.
NOVA IGUAÇU Gruta Tinguá I Pré Colonial Estrutura formada pro rochas naturais que facilitam o abrigo, ainda hoje utilizado
Histórico por moradores que passam pelo local. Quando foi localizada, em 1992, estava
chuvoso e pode constatar que o interior é bem protegido das águas das chuvas.
Moradores afirmam ter encontrado utensílios de cozinha no interior. Não havia
material de superfície.
178

05 NOVA IGUAÇU São Pedro 72 Histórico Estrutura de pedras sobrepostas formando paredes acompanhando alicerce, nas
margens do Rio São Pedro. Fica na parcela 72 doa Fazenda São Pedro, concedido
a Pedro Martins da Rocha.
06 NOVA IGUAÇU São Pedro 83 Histórico Estrutura de pedras sobrepostas formando paredes acima de um terreno
terraplanado cercado por um muro de arrimo na base da Serra do Tinguá, margem
esquerda do Rio São Pedro. Está localizado na parcelo 83 da Fazenda São Pedro,
concedida a Luis Manoel Cardoso Fernandes.
07 NOVA IGUAÇU Barragem de Histórico Barragem de captação de água, desativada, construída em pedras, com definição
Captação Tinguá de compartimento para decantação bem estabelecido, com aqueduto para o
transporte d`água. Fica localizada nas margens da Estrada do Comércio, lado
esquerdo de quem entra na Rebio Tinguá, próxima à sede da Reserva Biológica do
Tinguá.
08 NOVA IGUAÇU Casa do Histórico Ruínas em pedra com escadas e degraus bem definidos, localizada nas margens da
Administrador Estrada do Comércio, lado oposto ao sítio Barragem de Captação Tinguá, de
fundos para um riacho da Bacia do Rio Iguaçu. Trata-se de uma estrutura grande
que os funcionários da Rebio Tinguá atribuem à primeira casa da administração
na época do Império.
09 NOVA IGUAÇU Cemitério Histórico Trata-se de uma ruína construída em pedras sobrepostas nas margens da Estrada
do Comércio, lado direito de quem entra na Rebio Tinguá. Fica num plano mais
elevado com uma via de acesso definida, partindo da Estrada do Comércio. É
chamada de cemitério, mas certamente nunca foi. Possivelmente um rancho da
179

Estrada do Comércio. Foi atravessado pela Petrobras na construção do


Oleoduto/gasoduto, destruindo parte significativa do sítio.
10 NOVA IGUAÇU Estrada da Polícia I Histórico Trata-se de uma ruína à margem da Estrada da Polícia, após o Porto (atracadouro)
de Iguaçu, distante deste, mais ou menos 800 metros. Constituído de pedras
sobrepostas e tijolos maciços com farto material de superfície em pedra polida
para fins decorativo.
10 MIGUEL Paes Leme I Histórico Estrutura de pedra sobre posta localizada no Lote 63 da Fazenda Paes Leme. Tem
PEREIRA um murado em pedras de tamanho considerado que perfaz um polígono de
aproximadamente 200 metros, semelhante ao verificado no Sítio Casa do Modesto
Leal, em Nova Iguaçu. A altura varia e, em alguns trechos, o muro caiu, ficando
as pedras amontoadas. A ruína é composta de uma parede em pedras com uma
abertura sugerindo uma janela. Essa parede fica sobre um platô terraplanado, onde
o produtor rural está com intenção de construir uma nova casa.
No entorno desse sítio tem um caminho, com muro de arrimo e barragem para
captação de água, cujo trajeto não está bem claro. Esse sítio está na base da Serra
de Santana, abaixo da Estrada da Polícia e do Sítio Paes Leme I, distante 800
metros mais ou menos.
11 MIGUEL Paes Leme II Histórico Estrutura em pedra sobre postas localizada no Lote 34 da Fazenda Paes Leme.
PEREIRA Segue o mesmo padrão dos demais, inclusive na localização próxima a um curso
de água. São paredes de pedras que sugerem construção agroindustrial histórica.
12 MIGUEL Paes Leme III Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado, com pedras alinhadas sobre
180

PEREIRA postas, pedra isoladas com furos, em pontos extremos do terreno, pedras
colocadas em forma de escada, muro de arrumo, frascos de vidro na superfície,
utensílio de ferro, tipo panela e ferro de passar roupa. Pedaços de uma engenhoca
de ferro fundido, também fazem parte do material de superfície encontrado. Esse
sítio fica nas margens da Estrada da Polícia, na cume da Serra de Santana, onde a
Estrada sai da vertente do São Pedro e entre na vertente do Rio Santana.
Esse sítio foi localizado em 1996 e depois desse evento, o pedaço da engenhoca
foi retirado do local e até dezembro de 2016 não fora encontrado.
13 MIGUEL Paes Leme IV Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado, com alicerce de pedras
PEREIRA sobrepostas com restos de objeto de ferro tipo utensílio de cozinha na superfície.
Como os demais, fica próximo a um curso d'água no meio da serra que tem um
declive superior 45%, o que confirma alteração do ambiente natural para
implantação da construção. A jaqueira é uma fruta presente em todas as estruturas
desse tipo.

14 MIGUEL Paes Leme V Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado, com alicerce de pedras
PEREIRA sobrepostas com restos de objeto de ferro tipo utensílio de cozinha na superfície.
Como os demais, fica próximo a um curso d'água no meio da serra que tem um
declive superior 45%, o que confirma alteração do ambiente natural para
implantação da construção. A jaqueira é uma fruta presente em todas as estruturas
desse tipo.
181

Esta estrutura fica acima da anterior, distantes mais ou menos 50 metros e


apresenta as mesmas características, inseridos numa capoeira próximo a um corpo
d'água.
15 MIGUEL Paes Leme VI Histórico Caminho, cujo início é no Lote 29 da Fazenda Paes Leme, possivelmente
PEREIRA construído, após a abertura da estrada entre Belém/Paty e se ligava ao, outro
caminho, que certamente formava um elo viário entre a Estrada do Polícia e esta
e outras estruturas no local. Através dele tem-se acesso a várias estruturas no meio
e alto da Serra Santana. Sugere que sua função foi facilitar o acesso à Serra após a
abertura da estrada, no século XIX.
16 MIGUEL Paes Leme VII Histórico Estrutura formada um terreno terraplanado, limitado por um alicerce de pedras
PEREIRA sobrepostas e que em alguns trechos, formam partes que desabaram e formam
amontoados de pedras característicos. Esse alicerce confunde com um muro de
arrimo pelo lado direito do terreno considerando a parte que testa o caminha como
frontal e uma barragem de terraço e pedras indicando represamento da água. Essa
estrutura esta a mais de um 1 km do Sítio Paes Leme I. Localiza-se no meio da
Serra do Santana, nas margens de um corpo d'água, semelhante às demais e no
interior de uma capoeira. A parede tem um comprimento de aproximadamente 30
metros por 15 ou 20 de largura.
17 MIGUEL Paes Leme VIII Histórico Acompanhando o caminho, subindo a Serra, lado direito, 30 metros de distância,
PEREIRA tem-se outra estrutura semelhante à anterior, porém menor e com bastante cacos
de telhas canaletas dispersas na superfície.
182

18 MIGUEL Paes Leme XIX Histórico À frente pelo caminho, tem uma outra estrutura com as mesmas características.
PEREIRA Alinhamento de pedras na superfície, com predomínio de jaqueiras e árvores
nativas do tipo pioneiras como carrapeteiras e um curso d'água. No lado de cima
uma casa de produtor rural atual foi sobreposta em parte do terreno. O caminho é
a via de acesso. Cacos de azulejos e telhas são comuns na superfície. Foram
encontrados dentro do leito do riacho, inclusive uma soleira de mármore,
indicando antiguidade em função da decoração dos cacos.
19 MIGUEL Paes Leme X Histórico Barragem em pedras sobrepostas com uma estrutura de barramento de 2 metros de
PEREIRA largura, com saídas de água muito bem estruturada, próxima ao caminho iniciado
na Estrada da Polícia, porém a mais de 3 km de distância. Não foi localizada outra
estrutura abaixo que pudesse receber a água dessa barragem. Moradores antigos
como Dona Georgina no Lote 7 da Fazenda Paes Leme e a Sra. Celina do Lote 11,
com 96 e 86 anos respectivamente, conhecem a estrutura. O Sr. Manoel Araújo,
Lote 40, falecido em 2016, com 86 anos, sabia da existência da estrutura. Todos
ou nascidos ou criados na área. Outros como o Sr. José Ribeiro, também criado na
Fazenda, nunca soube da existência da barragem. Possivelmente integra uma outra
estrutura ainda não localizada. Talvez um engenho de aguardente.
20 MIGUEL Santana das Histórico Sítio arqueológico representado por uma igreja em ruínas, constituída de uma
PEREIRA Palmeiras torre, paredes laterais em arcos. Divisões internas em ruínas. Um cemitério
constituído pelo muro e dois pilastras de portão. Ruínas no entorno da igreja e
cemitério.
183

21 JAPERI, Estrada da Polícia Histórico Com projeto elaborado e executado pela Intendência Geral da Polícia, com início
NOVA IGUAÇU, em 1814 e concluído em 1827 ligando Iguaçu a Rio Preto. Corta, além dos
MIGUEL municípios citados, outros do território fluminense. Seu percurso interligou vários
PEREIRA povoados e possibilitou a construção de caminhos para acessos a áreas de moradia
e produção.
Tem várias pontes, muros de arrimo, formados por paredões de pedras
sobrepostas. Em alguns trechos ainda é utilizada, como é o caso de Japeri, onde
ela atende vários produtores rurais da Fazenda São Pedro e do Assentamento
Normandia II
Sugiro um levantamento arqueológico específico para esta Estrada.
22 JAPERI, Estrada do Cruzeiro Histórico Estrada construída a partir da autorização de despesa estabelecida pelo Decreto
PARACAMBI, 1.018 de 22 de outubro de 1857, quando Antonio Nicoláo Tolentino, era
PIRAI governador da Província do Rio de Janeiro. A função era ligar a Estrada do
Comércio e a do Presidente Pedreira à Estação de Belém, atual Japeri. Esta
estrada a exemplo da Estrada da Polícia é constituída por pontes, muros de arrimo,
paredões formada pela dinamitação da rocha, e em alguns trechos como o
Cruzeiro em Japeri, ainda é utilizada. Sugiro um levantamento arqueológico
específico para esta Estrada. Tem várias ruínas em suas margens.
23 JAPERI Santana I Histórico Estrutura formada por um terreno terraplanado com alicerce de pedras e muro de
arrimo, localizada na margem direita da Estrada do Cruzeiro, na margem direita
do Rio Santana, onde é atravessado pela estrada de ferro da RFFSA que inclusive
184

atravessa a estrada através de um pontilhão. É mostrada por uma foto de 1875,


retratando a ponte da Estrada de Ferro D. Pedro II sobre o Rio Santana. Em
função da alteração do curso do rio, está hoje, no território de Paracambi.
24 JAPERI Santana II Histórico Estrutura formada por terreno terraplanado e cercado por alicerce de pedras
sobrepostas e com outros platôs próximo, sugerindo um sítio agrário, com a uma
estrutura de pedra, sendo a residência e, as demais, as de produção tipo,
galinheiro, chiqueiro entre outros. O terreno foi bastante alterado em 2015/2016
em função de obras na RJ 125. O Sitio arqueológico fica dentro do sítio rural do
Cristiano, conhecido por Crioulo e seu pai Vicente.
25 JAPERI Estrada Velha de Histórico Esta Estrada é marcada em mapas do século XIX e é apontada como uma via para
QUEIMADOS Aljezus ligar à propriedade do Conde de Aljezus, no Tinguá, desapropriado para
implantação da Floresta Protetora, cuja finalidade era o abastecimento de água na
Corte. O trecho entre o Rio Quebra Coco e a Estrada Padre Anchieta, cortando o
Mutirão da Fé e a Vila Laranjal, ainda é utilizada por produtores rurais. Merece
ser melhor estudada.
26 JAPERI Normandia II Histórico Estrutura de pedras com paredes e escadas, muros de arrimo, destruído pelas
máquina que executaram a ampliação do gasoduto da CEG, na Fazenda
Normandia. Esta localizada na Estrada da Jaqueira no Lote 19. Parte de sua
estrutura está no Lote 20, sob uma construção nova, ainda utilizada pelo produtor
rural.
27 JAPERI Normandia III Histórico Estrutura construída pelo técnica/estilo enxaimel , ficou em pé até a década de
185

1980. Provavelmente sofreu influência da Estação Ferroviária de Japeri construída


nesse estilo. Os alicerceis ainda estão presente. Está ruína fica próxima à Estrada
Daniel, separas, hoje pela estrada de ferro, nas margens do Rio Guandu. Está no
território da chamada Normandia II, terras que pertenciam às Fazendas Reunidas
Normandia. A questão fundiária não está clara. Tem caminhos de acesso pela
Fazenda Normandia. A área foi explorada pela citricultura.
28 JAPERI Vila Tereza Cristina Histórico Estrutura de pedras formando um alicerce, com divisões que nos reportam à ideia
de uma residência com algum tipo de comércio, considerando a quantidade de
frascos de vidros encontrados na superfície. Tem escadas de pedras e vários
amontoados de pedras no entorno. Outros estruturas estão localizadas no entorno
dessa maior. Não encontrou referência sobre esse nome nas mapas da época da
desapropriação. Mas encontra referências de proprietários. Está dentro do
perímetro definido para a Floresta Protetora. O acesso é possível por Jaceruba,
antiga São Pedro, pela Fazenda do Dr. Luiz Paes Leme ou pela Estrada do
Cruzeiro.
29 JAPERI Laranja Histórico Estrutura formada por várias casas do período do Cilclo da Laranja, com estilo
arquitetônico diferenciado e construída por tijolo maciço com sobreposição de
tijolos mais recentes. O alicerce é de pedras e indica construção sobreposta a uma
estrutura existente. No entorno tem-se outras estruturas como alicerceis, poços,
canais com muros de arrimo, pomar com mangueiras. Está localizada entre a
Estrado do Rio D'Ouro e o Rio Quebra Coco, na margem da estrada velha de
186

Aljezus.

5.3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS COM ALTERAÇÕES NO NOME EM FUNÇÃO DO LEVANTAMENTO ENTRE 2014 E 2016.
Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICAS
01 NOVA Carlos Sampaio Histórico Ficou constatado que se trata do mesmo sítio arqueológico - Carlos Sampaio III
IGUAÇU III permaneceu no registro.
Fabrica de
Pólvora
02 NOVA Vale Verde Histórico Permaneceu o registro de Vale Verde
IGUAÇU Carlos Sampaio
IV
03 NOVA Cacuia Histórico Permanece enquanto Cacuia
IGUAÇU Carlos Sampaio V

5.4 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS REGISTRADOS ENTRE 2014 E 2016


Nº MUNICÍPIO SÍTIO TIPO CARACTERÍSTICA
01 NOVA IGUAÇU Litau 31 Pré Colonial Localizado no vértice do seccionamento Angra- São José e no seccionamento
Zona Oeste- Grajaú em Terraço Fluvial.
02 NOVA IGUAÇU Litau 38 Pré Colonial Sítio localizado no vértice B do seccionamento Zona Oeste - Grajaú em Terraço
Fluvial.
Estrutura de lascamento e lítico lascado.
187

Linha de transmissão 500 KW Taubaté - Nova Iguaçu (SP/RJ).


03 NOVA IGUAÇU Litau 39 Pré Colonial Sítio localizado no vértice 7 de seccionamento Adrianópolis - Jacarepaguá em
Topo de Interflúvio. Estrutura de lascamento e lítico lascado.
188

ANEXO II

PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA


MESTRADO EM ARQUEOLOGIA
FORMULÁRIO BÁSICO DE ENTREVISTA

Levantamento do Patrimônio Arqueológico de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford Roxo e


Mesquita

Nome: ____________________________________________________________
Área de atuação profissional: __________________________________________
Telefone: __________________________________________________________
e-mail: ____________________________________________________________

01- Conhece o patrimônio cultural arqueológico de Nova Iguaçu, Japeri, Queimados, Belford
Roxo e Mesquita?

02- Pode citar um exemplo de patrimônio cultural arqueológico no território do seu município?

03- Que importância atribui ao patrimônio cultural arqueológico?

04- Considera a possibilidade de inserir o patrimônio cultural arqueológico em suas atividades?

05- De que maneira um profissional da educação/cultura/meio ambiente pode contribuir com a


preservação do patrimônio arqueológico?

06- Você é um professor (a) que atua na área cultural do município de ... . Você aborda o
patrimônio cultural arqueológico?

07-Você acredita que o patrimônio cultural arqueológico possa contribuir com o


desenvolvimento socioeconômico?
189

08- Existe um patrimônio cultural arqueológico entre os municípios de Nova Iguaçu, Japeri,
Queimados, Belford Roxo e Mesquita que te chame a atenção? Por quê?

09- Considera a possibilidade de um encontro de professores de História e Geografia para


discutir o patrimônio cultural arqueológico?

10- Já participou de algum evento relacionado ao patrimônio cultural arqueológico?

11- Que ações considera que o Poder público deveria desencadear para a proteção do patrimônio
cultural arqueológico?

12- Você visita o patrimônio cultural arqueológico do seu município?

13- Como professor (a), você inseriria o patrimônio cultural arqueológico no seu planejamento
pedagógico? E com qual objetivo?

14- Já considerou trabalhar o patrimônio arqueológico e desistiu em função de alguma


dificuldade? Qual?

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