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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

CAMPUS SERRA DA CAPIVARA


COLEGIADO DE ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL

RELATÓRIO DA IV CAMPANHA DE ESCAVAÇÃO DA TOCA DA INVENÇÃO


1° A 19 DE ABRIL DE 2013

SÃO RAIMUNDO NONATO, 2013


UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
IV CAMPANHA DE ESCAVAÇÃO DA TOCA DA INVENÇÃO
COORDENAÇÃO: MAURO FARIA E GISELE DALTRINI

EQUIPE: AUGUSTO MIRANDA, CAREM SANTANA, CARLOS RIO, CÍCERO OLIVEIRA, DALVELINI
BARROS, DIEGO MONTEIRO, FELIPE, IANTHE SILVA, IGOR ALVES, JAQUELINE AMORIN, LEONARDO
LEAL, LORIANE ROCHA, MARIANA BEATRIZ, MORGANA RIBEIRO, TAMIRES DE JESUS, RAFAELA
FONSECA, REGIANA SOUSA.

Relatório de campo que


compõe a segunda
avaliação da disciplina
Métodos e Técnicas
Arqueológicas II.

IANTHE SANTOS SILVA


“Sleplendor of ended day loaing and illing me,
Hour propheic, hour resuming the past,
Inlaing my throat, you divine average,
You earth and life ill the last ray gleams I sing.

Open mouth of my soul utering gladness,


Eyes of my soul seeing perfecion,
Natural life of me faithfuly praising things
corroboraing forever triumph of things (…)”
(Walt Whitman)
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 1
QUADRO DE REFERÊNCIA 1
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESCAVADA 5
OBJETIVOS 6
METODOLOGIA 6
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES 18
RESULTADOS 19
CONCLUSÕES 19
1

APRESENTAÇÃO
O presente relatório diz respeito a IV campanha de escavação realizada entre 1° e 19
de abril de 2013 no síio arqueológico Toca da Invenção, dentro do que é hoje área
pertencente à FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano. A escavação foi
realizada pelos alunos de Métodos e Técnicas Arqueológicas II da Universidade Federal do
Vale do São Francisco sob a orientação do Prof. Dr. Mauro Farias e Profª. Draª. Gisele Daltrini.
Dentro do peril curricular do curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da UNIVASF, a
disciplina de Métodos e Técnicas Arqueológicas II faz parte das aividades práicas de campo
e se foca nos métodos e técnicas de escavações de síios arqueológicos pré-históricos.

QUADRO DE REFEÊNCIA
NORMAS E GERENCIAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO
Dentro do programa da disciplina de Métodos e Técnicas Arqueológicas II para o
semestre em curso, foram primadas as normas e gerenciamento do patrimônio arqueológico
tendo em vista a recorrência de alunos formados na UNIVASF que hoje atuam na
“arqueologia de contrato”. Sendo assim, foram analisadas, em sala de aula, a Portaria SPHAN
n° 007/88 e a Portaria IPHAN n° 230/02, referente ao licenciamento ambiental de
empreendimentos e aividades outras potencialmente causadoras de impacto ambiental.
A Portaria IPHAN n° 230 de dezembro de 2002 versa sobre os procedimentos
necessários para obtenção de licenças ambientais em empreendimentos potencialmente
capazes de afetar o patrimônio arqueológico. Tais licenças se dividem em licença prévia,
licença de instalação e licença de operação.
Durante a fase de obtenção de licença prévia cabe ao pesquisador/arqueólogo
efetuar um levantamento de dados secundários e arqueológicos de campo que buscam a
contextualização arqueológica e etno histórica da área afetada. O resultado desta ação é
apresentado em um relatório Diagnósico que avalia a situação do patrimônio arqueológico
da área de estudo e a parir do qual deverão ser elaborados os Programas de Prospecção e
de Resgate que garanirão a integridade do patrimônio cultural.
Na fase de obtenção de licença de instalação deve ser implantado o Programa de
Prospecção na área de inluência direta do empreendimento com maior potencial
arqueológico e nos locais que receberão impactos indiretos, contudo, lesivos ao patrimônio
arqueológico. Nesta fase, deve-se esimar a quanidade de síios arqueológicos, bem como a
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diversidade cultural, extensão, profundidade e grau de preservação dos depósitos


arqueológicos para ins de detalhamento do Programa de Resgate Arqueológico a ser
implantado na fase seguinte.
Na fase de obtenção de licença de operação deve ser efetuado o Programa de
Resgate Arqueológico onde serão realizados o salvamento arqueológico dos síios elencados
na fase anterior por meio de escavações, registro detalhado de cada síio e coleta da cultura
material. Ao inal destas aividades, deve ser produzido um relatório que especiique as
aividades de campo e laboratório, apresentando também os resultados cieníicos no que
diz respeito a produção de conhecimento sobre a arqueologia da área estudada.
Os projetos elaborados em cada fase de licenciamento devem ser avaliados junto ao
IPHAN, sendo que a execução de qualquer programa por parte do arqueólogo deve ocorrer
somente quando da liberação de portaria pelo IPHAN. Tais projetos ou quaisquer outros que
intentam o desenvolvimento de pesquisas de campo e escavações arqueológicas no Brasil,
devem ser elaborados de acordo com as diretrizes expostas na Portaria SPHAN n° 007/88.

ESCAVAÇÃO
O objeivo de qualquer escavação arqueológica é entender o que pode ter acontecido
em um local no passado escavando cuidadosamente a cultura material que compõem o síio.
Escavar requer tanto cuidado quanto paciência, pois para ser capaz de entender a sequência
de aividades em um local, o arqueólogo deve despir-se cuidadosamente de cada camada de
solo em sucessão.
Enquanto busca obter o maior número de informações possíveis durante uma
escavação, é importante ressaltar que o arqueólogo concomitantemente destrói o síio
arqueológico. Uma vez escavado, um síio só exisirá nos cadernos de campo, fotograias,
desenhos, publicações, relatórios. Por esta razão se faz mister conduzir qualquer escavação
com a maior precisão e controle possíveis. Como ressalta Burke ‘At the end of the day a well
excavated, well recorded, fully published 1 x 1 m unit does considerably less harm than a
huge, badly controlled, unpublished . . . excavaion.’ (Drewet 1999: 97 apud Burke).
De maneira geral o trabalho em campo referente a uma escavação arqueológica (não
faremos aqui referência ao planejamento, gestão pessoal, inanceira e logísica de uma
escavação) engloba a topograia do síio – curvas de nível, alimetria, planimetria, limite do
síio, da área escavada e etc.; organização e designação de quadrículas; escavação;
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peneiramento de sedimento; fotograia; desenhos; eiquetagem do material arqueológico e


acondicionamento em laboratório.
Segundo Bahn, boa parte da metodologia aplicada a uma escavação parte da
disinção entre seguimentos de tempo horizontais, e sequencias vericais, já que as
aividades humanas se dão de forma horizontal no espaço, enquanto suas alterações se dão
vericalmente no tempo. Na dimensão horizontal o arqueólogo pode conirmar as aividades
que se produziram no mesmo tempo, veriicando mediante a escavação, se os artefatos e
estruturas se encontram associados e em um contexto similar. Já com a dimensão verical, os
arqueólogos observam as mudanças temporais mediante o estudo da estraigraia, ao
analisar a superposição de camadas, princípio este uilizado por arqueólogos que assume
que depósitos de sedimento mais recentes icam sobre depósitos de sedimentos mais
anigos.
A uilização de determinado método de escavação, vai depender tanto dos objeivos
da pesquisa como da natureza do síio arqueológico.
Bahn divide as técnicas de escavação entre as que se centram na dimensão verical
mediante a escavação de depósitos profundos que revelem a estraiicação do síio, e
aquelas que se centram na dimensão horizontal com a abertura de amplas áreas que
intentam evidenciar as relações espaciais entre artefato e as estruturas de um determinado
estrato.
Tais técnicas são ainda denominadas por Burke com sistema “de trincheiras” e
sistema “de área aberta”. O sistema de trincheiras visa a obtenção de uma seção transversal
e escava profundamente porções relaivamente estreitas. É um sistema adequado para
responder questões referentes à cronologia de um síio bem como a sua muliplicidade
estraigráica. Já o sistema de “área aberta” foi desenvolvido em resposta a necessidade de
informação no senindo da extensão de um síio, muitas vezes a uma profundidade rasa. Este
é um sistema eicaz para revelar informações sobre as diferentes áreas de aividade em um
síio, porém não muito eicaz no estabelecimento de uma sequência cronológica.
Evidentemente, cada sistema pode ser uilizado de forma a se complementarem, ou ainda
em conjunto com outros métodos.
Segundo Bicho, o método tradicional de escavação em síios pré-históricos implica na
consituição de unidades de mesma dimensão – quadrículas -- com 1 ou 2 metros de lado,
podendo variar de acordo com a necessidade da escavação. A implantação das quadrículas é
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feita com o auxílio de instrumentos topográicos como o teodolito ou a estação total, ou


ainda manualmente seguindo a metodologia que tem sua base de cálculo no Teorema de
Pitágoras: em um triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado
da hipotenusa (a² + b² = c²). Logo, uma quadrícula de 1 metro de lado terá sua hipotenusa
com valor igual a 1,41m.
Uma quadrícula pode ou não ter sua área total escavada. Em alguns casos,
principalmente em síios arqueológicos de grande extensão e áreas abertas, é deixado um
testemunho estraigráico a parir do qual o arqueólogo pode fazer correlações entre
diferentes áreas dentro de um mesmo síio arqueológico – método Wheeler. Bahn airma
que este método saisfaz tanto as exigências horizontais quanto vericais de análise de um
síio arqueológico.
A organização e designação das unidades de escavação vai depender das
caracterísicas de cada síio e, de maneira geral, servem para determinar a localização
relaiva de uma unidade além de melhorar a eicácia da eiquetagem e marcação de
artefatos. Bicho aponta algumas formas de designação e organização das quadrículas:

1) designação através de um sistema alfanumérico, que permite o aumento de quadrículas


em direções variadas e facilita sua localização;
2) designação baseada na distância real do datum;
3) organização do espaço uilizando o método de quadrantes, no qual a escavação acontece
em quadrantes opostos – SO e NE, NO e SE. Tal organização oferece uma perspeciva
estraigráica completa do síio arqueológico e
4) organização do espaço baseado na unidade arquitetural, onde cada um dos espaços
arquiteturais serve como unidade de escavação.

A escavação se dá por níveis naturais ou ariiciais. Os níveis ariiciais são melhor


empregados quando não é possível disinguir diferenças estraigráicas. Sendo assim a
espessura das camadas escavadas, chamadas de decapagem – controlam a quanidade de
sedimento removido - pode variar, sendo as mais comuns de 5 e 10 cm. Uma escavação que
prima as camadas naturais possibilita um maior controle da diversidade verical do síio.
Existem vários aspectos que devem ser observados de forma consistente com os
avanços da escavação. Dentre eles, Burke aponta a descrição dos depósitos em cada nível,
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descrição de caracterísicas culturais e descrição do processo de escavação.


O material arqueológico evidenciado durante a escavação deve permanecer in situ,
mas nem sempre isto é possível. Sendo assim, todo sedimento removido durante a
escavação deve ir para uma área onde são instaladas peneiras com malhas de diferentes
diâmetros. Nestas peneiras são despejados todo o sedimento das quadrículas escavadas, e
qualquer material que passou desapercebido durante a escavação, é recuperado na peneira.
Todo material arqueológico encontrado ao longo da escavação, seja nas quadrículas,
nas peneiras, ou ainda na superície do síio é eiquetado, guardado, e posteriormente
levado a um laboratório onde é analisado e acondicionado. As informações conidas na
eiqueta devem localizar o material arqueológico no síio bem como indicar sua natureza.
As etapas e todo trabalho efetuado durante a escavação é registrado em cadernos de
campo, formulários, ichas topográicas, eiquetas e através de fotograias. Estas são feitas
com a uilização de escalas apropriadas e o Norte.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESCAVADA


A área escolhida para a aividade práica da escavação dos alunos de Métodos e
Técnicas Arqueológicas II foi o síio Toca da Invenção (N°39 – CNSA PI00579) localizado no
município Coronel José dias. Este é um síio escola do qual dispõem os alunos da UNIVASF
para aividades práicas de campo.
A Toca da Invenção é um síio arqueológico caracterizado como “abrigo sob rocha”.
Este ipo de síio, formado a parir de uma cavidade rochosa, oferece abrigo contra
intempéries, sendo uilizado pelo homem em tempos pré-históricos e históricos. Tanto isto é
verdade que a Toca da Invenção é caracterizada ainda como um síio “mulicomponencial”
em que são encontrados indícios de ocupação histórica - anigo forno uilizado por
maniçobeiros – e pré-histórica – pinturas rupestres. As pinturas rupestres do síio estão
descritas no Cadastro Nacional de Síios Arqueológicos como “degradadas”, mas ainda
podem-se perceber as iguras de antropomorfos e zoomorfos com predominância das cores
vermelho e branco. Tais pinturas encontram-se próximas a um dos dois caldeirões de água
disponíveis no síio.
A área escolhida para a escavação respeitou a consituição alimétrica do síio que
apresenta declividades na face leste e oeste, favorecendo deste modo o escoamento de água
em ambos os lados. Sendo assim, a área escavada é a que menor apresenta a probabilidade
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de ter sofrido perturbações pelo escoamento de água, rochas e outros ao longo dos anos.
Nesta área há também um maior recobrimento do paredão rochoso.

Fig. 1 Área de escavação

OBJETIVOS
Ampliar a área de escavação tendo em vista a degradação dos peris oeste e sul.
Aprofundar o nível da escavação alcançado nas campanhas anteriores de forma a
corroborar e ir além da datação de 6000BP, a maior obida até o momento.
Entender como se deu a ocupação do síio em períodos pré-históricos e históricos.
Aprender as etapas do trabalho do arqueólogo em campo, no que diz respeito à
práica de escavação.

METODOLOGIA
LIMPEZA DE SUPERFÍCIE
A primeira aividade desenvolvida em campo foi a limpeza da área de escavação, que
se encontrava com uma quanidade considerável de sedimento e folhas acumulados ao
longo dos meses, além de telhas, tábuas de medeira e pedras uilizadas em campanha
anterior para a proteção da área de escavação e contenção dos peris estraigráicos. De
maneira geral, a limpeza de superície durante uma escavação visa a exposição da área a ser
escavada, da qual são reirados componentes como plantas, entulho, rochas e etc.
A limpeza foi feita com uso do pincel para que não houvesse aprofundamento
irregular das áreas já escavadas. Todo o sedimento reirado, foi peneirado em duas peneiras
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com diâmetros de malha diferentes, um maior e um menor, e o material encontrado, em sua


grande maioria microfauna, foi eiquetado e guardado.

Fig. Fig. 3
2 Área
da

Limpeza da área de escavação


peneira

AMPLIAÇÃO DA ÁREA DE ESCAVAÇÃO


Tendo em vista a degradação dos peris oeste e sul, que sofreram pequenos
desmoronamentos devido à intempéries, icou acordado que seria feito a ampliação da área
de escavação com a abertura de novas unidades ao longo de todo o peril oeste compondo
assim as quadrículas 27A, 27B, 27C, 27D, 27E, 27F e 27G, e ao longo do peril sul, com as
quadrículas 28G, 29G, 30G. Para tanto, foi uilizado um teodolito eletrônico da marca FOIF
(montado na Est. 1) e uma trena de 30m possibilitando assim maior precisão na demarcação
dos limites das quadrículas a serem abertas, todas com a medida de 1m x 1m.
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Fig. 4 Visão geral da malha do síio

Fig 5. Área de escavação sendo ampliada e quadrículas delimitadas

Nesta etapa também foi refeita a delimitação das quadrículas já existentes que se
encontravam sem demarcação aparente. Para tal, foi uilizado o teodolito que guiou as áreas
onde os piquetes seriam inseridos para posterior adição de barbante, demarcando assim
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todo o limite da escavação e limite de quadrículas.

ESCAVAÇÃO
A escavação no síio Toca da Invenção se deu maneira a ampliar a área de escavação
tanto horizontalmente – a princípio com a abertura das quadrículas 27A, 27B, 27C, 27D, 27E,
27F, 27G, 28G, 29G, 30G – como vericalmente. As decapagens foram feitas obedecendo
tanto a declividade natural do terreno quanto os diferentes níveis estraigráicos. Sendo
assim, a profundidade das decapagens não chegava aos 5cm e era controlada observando-se
o peril estraigráico que fora evidenciado em escavações anteriores. O controle das
decapagens também foi feito através de um método ensinado pela Profª. Drª. Gisele Daltrini,
em que cada quadrícula era subdividida em partes menores, e cada parte aprofundada
separadamente. O aprofundamento da primeira parte – por exemplo, o quadrante superior
esquerdo da quadrícula - em até 3 cm acabava por ser guia para as outras partes a serem
aprofundadas em seguida – por exemplo, o quadrante inferior esquerdo. Sendo assim, uma
diferença de nível era sempre visível e guiava a profundidade da decapagem.

Fig. 6 Representação do método de controle de decapagens

Fig. 7 Diferentes níveis guia para controle da decapagem


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Para a escavação foram uilizados o pincel grande, pincel médio, pincel pequeno,
colher de pedreiro, espátulas, pá de plásico e baldes. Nas áreas em que o sedimento se
apresentava mais compactado, era uilizada a colher de pedreiro. Quando do sedimento
mais ino, ou na presença de material arqueológico, eram uilizados os diferentes ipos de
pincéis.

PENEIRAMENTO
Todo sedimento reirado da escavação das quadrículas era levado em baldes para a
área da peneira. Como mencionado alhures, tal procedimento evita que material
arqueológico que não foi percebido durante a escavação seja descartado com o sedimento.
O material arqueológico evidenciado durante a escavação permanecia in situ para posterior
detalhamento de sua posição.
Na peneira, o material encontrado era separado de acordo com a quadrícula e a
decapagem da qual foi reirado, eiquetado, colocado em um saco plásico e guardado para
posterior transporte para a UNIVASF.

REGISTRO NO CADERNO DE CAMPO


As informações referentes a escavação eram registradas no caderno de campo, onde
cada aluno fazia as anotações que consideravam perinentes. Não foram uilizadas ichas de
decapagens ou fotográicas.

ETIQUETAGEM
Todo o material arqueológico encontrado no síio, seja durante a escavação, seja na
peneira ou na superície do síio e de áreas próximas, era recolhido e eiquetado. Tal
procedimento é de fundamental importância, pois localiza o material arqueológico no síio.
As eiquetas eram numeradas e contem as seguintes informações: nome do síio, setor, nível,
ipo de vesígio, data e pesquisador. Quaisquer outras informações relevantes eram
acrescentadas na eiqueta – como por exemplo, o ponto topográico do material eiquetado,
quando encontrado durante a escavação ou em superície.
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Fig. 8 Material arqueológico sendo guardado após eiquetamento

FOTOGRAFIA
O registro através de fotograias foi feito ao longo de toda a escavação. Nestas foram
registradas a área total do síio antes, durante e depois da escavação, as quadrículas a cada
decapagem, detalhes do material encontrado naquelas, além dos peris estraigráicos. Para
as fotograias eram uilizados escalas de tamanhos diversos (10cm, 50cm, 1m) com
graduações em vermelho, branco e preto, a mira estadimétrica além do Norte.
Para o registro da área de escavação, foram reiradas fotos de toda a extensão da
área escavada em diferentes orientações – leste, oeste e sul – com a uilização de uma escala
de 1m e a mira estadimétrica.
Após cada decapagem, as quadrículas eram fotografadas individualmente com a
uilização da escala de 50cm e o Norte. Quaisquer materiais arqueológicos evidenciados
durante as decapagens, eram fotografados em detalhe com a uilização de escala de 10cm, o
Norte e a câmera apoiada em um tripé.

TOPOGRAFIA
Os procedimentos topográicos necessários em uma escavação se voltam para a
demarcação de síios e pontos que referenciem os diversos achados arqueológicos
(cerâmica, ferramentas líicas e etc.) em uma carta topográica. Para tanto, é necessário
colher informações relacionadas à alimetria e planimetria do síio, às curvas de nível, aos
pontos de delimitação da área escavada e pontos referentes ao material arqueológico.
O registro topográico foi feito com o auxílio de um teodolito de marca FOIF montado
na Est. 1, da mira estadimétrica e do nível de madeira. O teodolito possibilita a medição dos
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ângulos horizontal e verical uilizados para, por exemplo, calcular distâncias e o


posicionamento de detalhes necessários aos levantamentos. O ângulo horizontal é formado
por dois planos vericais contendo o ponto ocupado e os pontos visados. Já o ângulo verical
é formado entre a linha visada e a linha do horizonte medido no plano verical que contém
os pontos. Tem-se ainda o ângulo zenital, formado entre a linha visada e a verical do zênite.
A mira estadimétrica é uma régua graduada que permite a leitura de metros,
decímetros, cenímetros e milímetros. Os milímetros são obidos através de uma esimaiva.
Os demais, pela leitura direta de valores indicados na mira. A uilização do nível permite que
a mira estadimétrica seja posicionada de forma a compensar os desníveis do solo.
Os procedimentos topográicos desta campanha, além da demarcação das
quadrículas, consisiram na reirada do ponto central de todas as quadrículas ao im de cada
decapagem, na plotagem de material arqueológico encontrado em cada quadrícula, bem
como na reirada de pontos de limites de mancha e blocos. Todo o material plotado recebia
na icha topográica a indicação de sua eiqueta, e na eiqueta a ideniicação do ponto
topográico. Também foram reirados pontos do material arqueológico encontrado em
superície.
A icha topográica uilizada em campo coninha as seguintes informações: síio,
código, responsável, marca do instrumento, altura do instrumento, data, ponto, leitura do io
médio, distância, ângulo horizontal, ângulo verical, vesígio, eiqueta, nível, decapagem,
quadrícula e observações.

COLETA DE CARVÃO
Durante a escavação foram evidenciadas estruturas de fogueiras com grande
quanidade de carvão. Sendo assim a maior quanidade possível de carvão a cada
decapagem fora coletada para posterior análise de um especialista em antracologia. Logo,
após a reirada dos pontos topográicos de cada quadrícula, era feita a coleta dos carvões
que estavam na base da área escavada. A coleta era feita com o auxílio de pinças, de forma a
não contaminar as amostras.
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Fig. 9 Coleta de carvão

COLETA DE SEDIMENTO
Após a coleta de carvão era feita a coleta de sedimento de cada quadrícula. O
sedimento era coletado com o auxílio de pincel ou colher de pedreiro em uma quanidade
que variava entre 500gr a 1kg. Na eiqueta do sedimento era anotada, dentre as informações
mencionadas alhures, o ponto topográico referente ao ponto central da quadrícula.
Quaisquer sedimentos associados ao material arqueológico, ou que apresentassem
coloração diferente do sedimento geral da quadrícula também era coletado e outro ponto
topográico era reirado para cada sedimento diferenciado.

Fig. 10 Sedimento diferenciado

AMOSTRAGEM PARA DATAÇÃO


Durante a plotagem do material arqueológico encontrado nas quadrículas, algumas
amostras foram separadas para datação. Dentre elas, amostras de carvões e seixos. Estas
foram devidamente recolhidas, eiquetadas e indicadas na icha topográica e eiquetas
como “bom para datar”.
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DESENHO DE PERFIS E QUADRÍCULAS


Em algumas escavações é comum fazer um croqui de cada decapagem em que
material arqueológico ou estrutura são evidenciados. Tal desenho é feito em escala
adequada, 1:20, 1:10 e etc., e localiza o material arqueológico na quadrícula através do
método de triangulação ou a parir da uilização dos eixos cartesianos x e y. Nesta escavação,
foram desenhadas as quadrículas 27D, 27F, 27G, 27H, 28G, 28H, 29G, 29H, 30G e 30H em sua
sexta decapagem, além dos peris leste e oeste da área total da escavação e o peril da
quadrícula 27A. As quadrículas 27G, 27H, 28G, 28H, 29G, 29H, 30G e 30H correspondem as
da estrutura de fogueira, e junto ao seu desenho foram acrescentados o ponto topográico
do limite da estrutura, blocos e etc. Informações referentes à coloração do sedimento das
camadas também aparecem nos desenhos. Para tanto, foi uilizado a tabela de cores
Munsell, um sistema de ordenamento de cores baseado nos conceitos de maiz, pureza e
luminosidade. A ideniicação da cor foi feita com o sedimento seco.

Quadrícula Decapagem Munsell Tipo de vesígio


27D 6 7.5YR 6/4 light brown , 7.5YR 7/4 pink Blocos
27F 6 7.5YR 5/4 brown, 7.5YR 4/3 brown Blocos

Peril oeste Munsell


Nível 1 10YR 3/2 Brown, 5YR 3/1 Very Dark Gray, 10YR 5/3 Brown
Nível 2 5YR 5/4 Reddish drown, 10YR 4/2 Dark Grayish Brown, 2.5Y 4/2 Dark Grayish
Brown, 10YR 4/4 Dark Yellowish Brown, 10YR 7/4 Very Pale Brown
Nível 3 7.5YR 3/1 Very Dark Gray, 10YR 4/1 Dark Gray, 5YR 3/2 Dark Reddish Brown, 10R
4/1 Dark Reddish Gray, 10R 7/4 Pale Red
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Fig. 11 Peril oeste – Quadrícula 27E

QUADRÍCULAS ESCAVADAS
A princípio as quadriculas escavadas seriam aquelas ampliadas no primeiro dia de
escavação: 27A, 27B, 27C, 27D, 27E, 27F, 27G, 27H,28G, 29G, 30G. Mas tendo em vista a
evidenciação de uma grande estrutura de fogueira nas quadrículas 28G, 29G e 30G durante a
sexta decapagem, foi decidido ampliar ainda mais a área de escavação, sendo então abertas
as quadrículas 27H, 28H, 29H e 30H.

Fig. 12 Quadrículas 27H, 28H, 29H e 30H delimitadas

A seguir temos um quadro esquemáico do material encontrado em cada quadrícula,


bem como fotos em detalhe que exempliicam o ipo de material arqueológico evidenciado.
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QUAD Carvão Microfauna Líico Vítreo Orgânico Malacológico Ocre Maior


frequência
27A x x x x Dec 21
27B x x x x x x Dec 19
27C x x x x x Dec 18
27D x x x x x Dec 19 e 21
27E x x x x Dec 8
27F x x x x Dec 22
27G x x x x Dec 8 e 9
27H x x x Dec 8
28G x x x x Dec 6
29G x x x x x Dec 6
30G x x x x x x Dec 6 e 16
28H x x x Dec 15
29H x x x x x Dec 14 e 16
30H x x x x Dec 6 e 16

Quadrícula 27 A: Lascas de quartzo e sílex

Quadrículas 27B e 27C: material vítreo e mancha


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Quadrícula 27F e 27H: material líico e material orgânico não ideniicado

Quadrícula 28 G e 29G: estrutura de fogueira

Quadrícula 29 H: terceira decapagem


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Quadrícula 30H: mancha de carvão

Quadrícula 27F: microauna

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Eiquetas uilizadas na escavação:

Bloco 37 204501 - 204600


Bloco 38 204601 - 204700
Bloco 39 204701 - 204800
Bloco 40 204801 - 204900
Bloco 41 204901 - 205000
Bloco 42 205001 - 205100
Bloco 43 205101 - 205200
Bloco 50 205801 - 205900
Bloco 51 205901 - 206000
Bloco 52 206001 - 206100
Bloco 53 206101 - 206200
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Bloco 54 206201 - 206300


Bloco 55 206301 - 206307

Pontos topográicos: 3104 a 4595

RESULTADOS
De maneira geral os resultados da escavação foram saisfatórios no que diz respeito a
paricipação dos alunos em cada etapa do trabalho de campo. O objeivo especíico
referente ao aprofundamento do nível da escavação em relação ao das campanhas
anteriores, no entanto, não foi alcançado. Em média forma feitas duas decapagens por dia,
quando não apenas uma – tendo em vista a necessidade de se fazer desenhos de
quadrículas, ou a quanidade de pontos topográicos em decapagens que evidenciaram
grande quanidade de material arqueológico.
No que diz respeito a cultura material, foram encontrados em quanidade
considerável o carvão, devido a estrutura de fogueira evidenciada nas quadrículas 28G, 29G,
30G, 27H, 28H, 29H e 30H. Em seguida, no que se refere a quanidade, temos a microfauna,
encontrada tanto em associação com carvão, quanto em áreas mais afastadas, como a
quadrícula 27A. O material líico começou a aparecer em maior quanidade e em um maior
número de quadrículas nos úlimos dias da escavação - decapagens 21 e 22. Tal material era
composto em sua grande maioria por lascas de quartzo e sílex, sendo este úlimo, material
exógeno. Nas primeiras decapagens, foram evidenciadas ainda sementes variadas.

CONLUSÕES
Pela observação do peril estraigráico oeste, no qual se destacam três camadas
principais, hora interrompidas por, ou intercaladas com lentes de carvão e material orgânico
como madeira, pudemos perceber que as ocupações do síio não foram muito longas –
mesmo que a Toca da Invenção fosse um local privilegiado em termos de abrigo e recursos
hídricos.
A área foi claramente uilizada para aividades que faziam uso do fogo. Tendo em
vista o carvão associado a microfauna, podemos inferir que aividades que envolviam
alimentação tomaram lugar no síio. É possível que no local também tenha ocorrido a
produção de instrumentos líico, mas a quanidade deste material ainda é pequena para se
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chegar a maiores conclusões. Sabe-se no entanto que parte do material líico foi trazido para
o local, já que são feitos a parir de matéria-prima que não se encontra à disposição nas
imediações.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BASTOS, Rossano; SOUZA, Marise. Normas e gerenciamento do patrimônio arqueológico. Ed


3. São Paulo: Superintendência do IPHAN, 2010

BICHO, Nuno Ferreira. Manual de arqueologia Pré-Histórica. Portugal: Edições 70, Ltda.,
2006.

BURKE, Heather; SMITH, Claire. The archaeologist's ield handbook. Allen&Uinen: Australia,
2004.

RENFREW, Colin; BAHN, Paul. Arqueología, teoria, métodos y praica. Madrid: Ediciones
AKAL, 2004.

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