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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Grupo de Estudos e Pesquisas em Arqueologia, Etnologia e História Indígena

DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DOS ACERVOS ARQUEOLÓGICOS DA UHE


NOVA PONTE E UHE MIRANDA A PARTIR DO MAPEAMENTO DE
INFORMAÇÕES, ANÁLISE DA DOCUMENTAÇÃO E DO ESTADO DE
CONSERVAÇÃO.

Para descrever o diagnóstico em tela a partir das pesquisas


arqueológicas realizadas nas áreas de impacto da UHE Miranda e UHE Nova
Ponta, atualmente sob a responsabilidade das empresas ENGIE Brasil e
Companhia Energética de Minas Gerais-CEMIG, respectivamente, que
geraram os acervos arqueológicos em questão e depositados nas
dependências do Museu da CEMIG, no município de Nova Ponte, foram
utilizados como referências os relatórios disponibilizados pela CEMIG, sendo
estes os seguintes documentos:

 CHMYZ, Igor et all (Org.). Relação do Material Arqueológico da UHE


Miranda. Depósito 1. CEPA-UFPR. CEMIG. Belo Horizonte. MG. 2001.

 IESA ENGENHARIA. Programa de Salvamento Arqueológico da UHE


Miranda. Atividades do Centro de Estudos e Pesquisas
Arqueológicas, Universidade Federal do Paraná. Relatório Final.
Estudos Ambientais. IESA/CEMIG. Belo Horizonte. MG. 2001.

 LEME ENGENHARIA. Manual de Operação. Acervo e Mostra


Arqueológicos. Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG -
Usina Hidrelétrica de Nova Ponte. Leme Engenharia. Belo Horizonte.
MG. 1995.

 LEME ENGENHARIA. Programa de salvamento arqueológico da UHE


Nova Ponte situação atual. Companhia Energética de Minas Gerais -
CEMIG - Usina Hidrelétrica de Nova Ponte. Leme Engenharia. Belo
Horizonte. MG. 1993.

 LEME ENGENHARIA. Programa de Salvamento Arqueológico da


UHE Nova Ponte – atividades do Museu de História Natural da
Universidade Federal de Minas Gerais. Relatório Final - Estudos
Ambientais. Companhia Energética de Minas Gerais. Usina Hidrelétrica
de Nova Ponte. Belo Horizonte. MG. 1995.

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 LEME ENGENHARIA. Programa de Salvamento Arqueológico da


UHE Nova Ponte – atividades do Centro de Estudos e Pesquisas
Arqueológicas – CEPA - da Universidade Federal do Paraná.
Relatório Final - Estudos Ambientais. Companhia Energética de Minas
Gerais. Usina Hidrelétrica de Nova Ponte. Belo Horizonte. MG. 1995.

 LEME ENGENHARIA. Projeto Executivo: Patrimônio Arqueológico.


Relatório Final - Estudos Ambientais. Companhia Energética de Minas
Gerais. Usina Hidrelétrica de Novo Ponte. Leme Engenharia. Belo
Horizonte. MG. 1990.

 SOUZA, Letícia M. S. de. Relatório de Vistoria Técnica: acervo


arqueológico da UHE Nova Ponte – CEMIG, Nova Ponte/MG.
Superintendência do IPHAN no Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Agosto de 2018.

1. BREVE HISTÓRICO DAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS

1.1. Programa de Salvamento Arqueológico da UHE Nova Ponte

As pesquisas arqueológicas realizadas no contexto da proteção


ambiental para instalação da UHE Nova Ponte foram executadas em duas
etapas de acordo com as fases de desenvolvimento do licenciamento
ambiental da mesma e ainda num momento das mudanças legais que estavam
em curso na história da preservação ambiental brasileira, principalmente a
partir da criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) por meio
da Lei nº 6.938 em 31 de agosto de 1981, que possui a função de formulação
de diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente. Para isso estabeleceu, por
meio da Resolução 001 de 23 de janeiro de 1986, as definições das
responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e
implementação de Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos
da política ambiental.
Para tanto, a primeira etapa ocorreu entre 1987 e 1988. Neste ano, com
o desvio do rio Araguari, começou a construção da usina e, no ano seguinte,

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também execução de seu projeto executivo, incluindo as obras de engenharia


civil e o cumprimento das exigências ambientais. Os estudos de impacto
ambiental (EIA/RIMA) efetuados na área da UHE Nova Ponte, em obediência à
Resolução 001/1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, detectaram,
após sua finalização em 1988, a ocorrência de 13 sítios arqueológicos,
principalmente nos municípios de Nova Ponte e Perdizes.
Essa etapa foi executada por uma equipe da Fundação Centro
Tecnológico de Minas Gerais-CETEC, realizando o levantamento do patrimônio
arqueológico dentro do escopo dos estudos ambientais. E, apesar das
recomendações de se dar continuidade às pesquisas de campo, estas só
vieram há acontecer 4 anos depois.
Por conta dessa situação se organiza uma segunda etapa, agora sendo
definido como Programa de Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica de
Nova Ponte, que foi realizado no período de 1992 a 1995.
Com a formação do reservatório da UHE submergiu porções marginais
dos rios Araguari e Quebra-Anzol, e parcelas de terrenos nos municípios de
Nova Ponte, Sacramento, Pedrinópolis, Santa Juliana, Perdizes, Iraí de Minas,
Patrocínio e Serra do Salitre.
Por esta ocasião, equipes de pesquisadores ligadas respectivamente à
Universidade Federal de Minas Gerais - Setor de Arqueologia do Museu de
História Natural e Jardim Botânico - MHNJB-UFMG e à Universidade Federal
do Paraná – Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas - CEPA/UFPR,
foram convidadas a participar do Programa. Por questões operacionais, a área
do reservatório foi subdividida em 8 setores, cabendo a cada grupo de
pesquisadores um determinado número de setores. Para fins da pesquisa de
campo na área do reservatório a equipe da UFPR ficou com os setores I, V e
VI, e os setores II, III, IV, VII e VIII a cargo da equipe da UFMG.
Nesse momento da história da ocupação humana regional, a região era
praticamente desconhecida do ponto de vista arqueológico. Como referência se
conhecia uma monografia de autoria da arqueóloga Márcia Angelina Alves, do
Instituto de Pré-História da Universidade de São Paulo, sobre um sítio lito-

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cerâmico pesquisado no município de Perdizes e o relatório do CETEC, já


citado anteriormente.
Cada grupo de pesquisa produziu seus respectivos relatórios. Os
levantamentos, estudos e conclusões efetuadas pelo Setor de Arqueologia do
Museu de História Natural da UFMG, nas áreas que lhe coube pesquisar,
geraram como resultados a localização de 81 sítios arqueológicos, 29
ocorrências1 e 3 sítios históricos, nas 10 campanhas realizadas entre julho de
1992 e abril de 1994. Nos setores pesquisados pelo CEPA-UFPR foram
identificados 37 sítios arqueológicos e 30 locais com indícios de sítios.
Do acervo total as pesquisas geraram a formação de 180 coleções
líticas, cerâmicas, metálicas, etc., constituídas por 32.463 peças. Durante a
curadoria e análise foram rejeitadas outras 2.154 peças, representadas por
pequenos fragmentos de cerâmica erodida e seixos-rolados. Após a conclusão
o acervo reduziu-se a 30.309 peças. Um resumo das informações pode ser
observado na Tabela 01.
As peças do acervo arqueológico entregue ao Museu da CEMIG
provenientes dos sítios arqueológicos resgatados durante as pesquisas de
campo foram acondicionadas em sacos plásticos ou de pano e depositadas em
caixas plásticas vazadas tipo hortifrúti ou agrícola. Cada caixa recebeu uma
numeração e informações sobre o sítio ou indício, a denominação de cada uma
dessas referências e a informação sobre a tipologia dos objetos, bem como da
constituição dos conjuntos de peças.
No que diz respeito ao resultado final da curadoria do acervo
arqueológico e que constam da lista de referência das caixas contendo material
arqueológico coletado no salvamento na área da UHE Nova Ponte, temos que
as informações do setor de Arqueologia do Museu de História Natural –
MHNJB/UFMG foram organizadas a partir da sigla do sítio e sua denominação,

1
Como as referências e metodologias das respectivas universidades eram divergentes alguns termos
aparecem, como a referência de ocorrências arqueológica e não indícios. Este primeiro termo está
associado a localização de elementos materiais fortuitos e sem contexto definido. Já o termo indício
acaba sendo mais amplo, pois envolve conjuntos de elementos materiais em contexto, mas desprovidos
de estruturas ou mesmo que sofreram descaracterizações antrópicas, porém não se caracterizando
como um sítio arqueológico.

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bem como referências de suas tipologias: líticos, cerâmicos e históricos. Cada


caixa recebeu um número sequencial de 001 a 180, além de informações sobre
os sítios arqueológicos e a quantidade de sacos utilizados para embalar o
acervo do referido sítio. O material de um único sítio, dependendo de seu
volume, pode estar em mais de uma caixa vazada.
As informações de referência das caixas contendo material arqueológico
coletado no salvamento realizado pela equipe de arqueologia do Centro de
Estudos e Pesquisas Arqueológicas – CEPA/UFPR identificam as caixas que
armazenam o material dos sítios arqueológicos grafando a sigla e o nome do
sítio. A numeração das caixas vai de 181 a 228. Sobre a organização dos
materiais a partir da divisão das caixas estas identificam o conteúdo a partir
dos sítios arqueológicos ou indícios arqueológicos cerâmicos e líticos.
O acervo, além das peças arqueológicas, conta também com os
documentos gerados pelas pesquisas, a saber: os relatórios finais de
pesquisas, arquivos das fichas de registros de sítios arqueológicos; mapas de
restituição topográfica e ortofotografia em escala 1:5.000 e 1:10.000; e relatório
fotográfico.

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Tabela 01: Quadro resumo das informações do acervo gerado pelo salvamento arqueológico da UHE Nova Ponte
SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO UHE NOVA PONTE
RESUMO DAS INFORMAÇÕES HISTÓRICAS
Denominação Referência
Pesquisas de campo: Prospecção e Primeira etapa: entre 1987 e 1988.
salvamento: Segunda Etapa: entre 1992 a 1995.
Primeira etapa: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais-
CETEC
Segunda etapa: Universidade Federal de Minas Gerais - Setor de
Equipes das pesquisas de campo
Arqueologia do Museu de História Natural e Jardim Botânico -
MHNJB-UFMG e Universidade Federal do Paraná – Centro de
Estudos e Pesquisas Arqueológicas - CEPA/UFPR
Nova Ponte, Sacramento, Pedrinópolis, Santa Juliana, Perdizes,
Municípios envolvidos
Irai de Minas, Patrocínio e Serra do Salitre.
Registros de campo 193 ocupações humanas
Sítios Primeira etapa: 13 sítios arqueológicos
Segunda Etapa:
Registros de campo
84 sítios arqueológicos - MHNJB-UFMG
37 sítios arqueológicos - CEPA-UFPR
29 ocorrências arqueológicas - MHNJB-UFMG
Registros de campo
30 indícios arqueológicos - CEPA-UFPR
Registros de campo Resgate de 32.463 peças
Curadoria e análise do acervo arqueológico: CEPA-UFPR e MHNJB-UFMG - Encerrando em 2001
Registros de Laboratório Organização de 180 coleções
Registros de Laboratório Após a curadoria, o acervo reduziu-se a 30.309 peças
Registros de Laboratório Armazenamento em 229 caixas vazadas tipo Hortifrúti ou agrícola

1.2. Programa de Salvamento Arqueológico da UHE Miranda

O Programa de Salvamento Arqueológico da UHE Miranda foi executado


pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas – CEPA, da Universidade
Federal do Paraná-UFPR, sendo que o período das pesquisas de campo
ocorreu entre os meses de março de 1995 a junho de 1997, envolvendo os
municípios de Uberlândia, Uberaba, Indianópolis e Nova Ponte.
Já os trabalhos de curadoria e análise do acervo arqueológico gerado
com as pesquisas ocorreram nas dependências do Laboratório do
CEPA/UFPR, em Curitiba, se encerrando em 2001 com a entrega do acervo ao
Museu da CEMIG.

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O CEPA/UFPR também foi responsável pelo planejamento e montagem


da exposição no Museu de Arqueologia mantido pela CEMIG no município de
Nova Ponte. Em sua proposta expográfica foram utilizados painéis informativos
e peças selecionadas do acervo reunido pelo projeto de pesquisa. Na reserva
técnica do Museu da CEMIG, após a conclusão das análises laboratoriais,
foram depositadas as demais peças do acervo.
Durante a pesquisa de campo o CEPA-UFPR identificou, registrou e
mapeou sítios e indícios arqueológicos que foram arrolados no salvamento dos
mesmos. Estes sítios e indícios arqueológicos registrados pelo Projeto na área
da UHE Miranda relacionam-se, principalmente, a grupos sociais pré-cerâmicos
e cerâmicos, bem como se associam ao período histórico, envolvendo
assentamentos coloniais, pós-coloniais e modernos de acordo com a
classificação definida pela equipe de pesquisa a partir da categoria de Tradição
Arqueológica ou Tradição Tecnológica2.
Além da classificação em Tradições Arqueológicas, conforme as
características apresentadas, os sítios e indícios foram agrupados em fases
culturais. Duas delas, bem representadas, foram denominadas formalmente no
contexto do projeto. As demais, apesar de apresentarem elementos que
permitiram o seu agrupamento, foram denominadas provisoriamente.
As pesquisas de campo proporcionaram o registro de vestígios
associados a 244 ocupações humanas. 50 deles foram considerados como
sítios arqueológicos, por apresentarem áreas definidas, estruturas e volume de
traços arqueológicos condizentes com implantações mais prolongadas. O
restante, 194 evidências, foram registrados como indícios resultantes das
2
Na Arqueologia brasileira, para classificar as informações oriundas de pesquisas, criou-se um modelo
definido a partir da categoria denominada Tradições Tecnológicas, também conhecidas como Tradições
Arqueológicas. Este categoria foi definida pelo primeiro grande projeto de pesquisa arqueológica
desenvolvido no Brasil, nos anos de 1960, e conhecido como Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas – PRONAPA. Trata-se, portanto, de um modelo de classificação que leva em consideração
os diferentes aspectos tecnológicos utilizados pelos grupos humanos que ocuparam os ambientes em
diferentes momentos históricos para confeccionar seus utensílios, bem como o próprio resultado de sua
produção, isto é as características dos artefatos. Esses grupos humanos também são conhecidos como
povos caçadores-coletores e povos agricultores do período pré-colonial, sendo que as principais
referências materiais estão associadas a confecção de objetos líticos e cerâmicos. Para os períodos
coloniais e pós-coloniais este programa de pesquisas também utilizou a mesma categoria para classificar
os vestígios arqueológicos encontrados nas pesquisas desenvolvidas no território brasileiro.

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diversas atividades periféricas desenvolvidas pelas populações pretéritas. Dos


194 indícios registrados, 96 foram representados por artefatos líticos e/ou
resíduos de lascamento e 98 por fragmentos de recipientes cerâmicos.
O material arqueológico resgatado durante as várias etapas de campo
foi embalado e despachado para Curitiba, por transporte rodoviário.
Totalizando 151 coleções. O material, no fim de cada etapa de campo, era
imediatamente higienizado e demarcado, iniciando-se então o trabalho de
curadoria com preparação, restauração, preservação e análise. Foram
manuseadas 52.239 peças oriundas de campo. Após a curadoria, o acervo
reduziu-se a 48.395 peças. Um resumo das informações pode ser observado
na Tabela 02.
Paralelamente, desenvolveram-se as tarefas ligadas ao ordenamento da
documentação, sendo estas as fichas de campo, documentação fotográfica,
elaboração de plantas de sítios e de detalhes de escavação, e a redação de
relatórios parciais e finais.
As peças do acervo entregues ao Museu da CEMIG foram
acondicionadas em sacos plásticos ou de pano e depositadas em caixas
plásticas vazadas tipo hortifrúti ou agrícola. Cada caixa recebeu uma
numeração e informações sobre o sítio ou indício, a denominação de cada uma
dessas referências e a informação sobre a tipologia dos objetos, bem como da
constituição dos conjuntos de peças.

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Tabela 02: Quadro resumo das informações do acervo gerado pelo salvamento arqueológico da UHE Miranda
SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO UHE MIRANDA
RESUMO DAS INFORMAÇÕES HISTÓRICAS
Denominação Referência
Pesquisas de campo: Prospecção e
De março de 1995 a junho de 1997
salvamento
Municípios envolvidos Uberlândia, Uberaba, Indianópolis e Nova Ponte.
Registros de campo 244 ocupações humanas
Registros de campo 50 foram considerados como sítios arqueológicos
194 indícios arqueológicos, sendo 96 representados por artefatos
Registros de campo líticos e/ou resíduos de lascamento e 98 por fragmentos de
recipientes cerâmicos.
Registros de campo Resgate de 52.239 peças
Curadoria e análise do acervo arqueológico:
Encerrando em 2001
CEPA-UFPR
Registros de Laboratório Organização de 151 coleções
Registros de Laboratório Após a curadoria, o acervo reduziu-se a 48.395 peças.
Registros de Laboratório Armazenamento em 36 caixas vazadas tipo Hortifrúti ou agrícola

2. SITUAÇÃO DO ACERVO NA FASE DE PRIVATIZAÇÃO DA UHE


MIRANDA

O Consórcio Engie Brasil assume a UHE Miranda no leilão da Agência


Nacional de Energia Elétrica-ANEEL promovido em 27 de Setembro de 2017.
Antes, porém, a convite dos técnicos responsáveis pela guarda dos acervos
arqueológicos nas dependências do Museu da UHE Nova Ponte, que foi
construído especialmente para salvaguardar a coleção arqueológica
proveniente das pesquisas arqueológicas desenvolvidas nas áreas de
influência das UHEs, o Prof. Dr. Robson Rodrigues, arqueólogo, da UFU,
realiza visita técnica para conhecer o acervo e as condições de sua guarda no
dia 04 de setembro de 2017, bem como participar de reunião cujo assunto foi a
possibilidade de transferência do acervo para outra instituição de guarda.
Nessa visita constatou-se que a reserva técnica abrigava os acervos
oriundos das pesquisas arqueológicas das UHE Miranda e UHE Nova Ponte,
sendo que a reserva técnica se encontrava de acordo com as orientações

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definidas pela curadoria do acervo, mantendo-se uma divisão entre os acervos


pertencentes a cada uma das UHEs.
Dentre as orientações apresentadas a principal preocupação foi a de
realização de movimentação dos acervos para deslocamentos e transferências
para outros ambientes sem os devidos cuidados, tendo em vista que, devido ao
tempo de deposição e sem renovação da curadoria, os materiais utilizados
para embalagem já apresentavam degradação.
A principal orientação foi quanto a aplicação da Portaria IPHAN
196/2016 que Dispõe sobre a conservação de bens arqueológicos móveis, cria
o Cadastro Nacional de Instituições de Guarda e Pesquisa, o Termo de
Recebimento de Coleções Arqueológicas e a Ficha de Cadastro de Bem
Arqueológico Móvel, indicando que todo o acervo arqueológico e sua
documentação deveria ser designado para uma Instituição de Guarda e
Pesquisa que seja indicada pelo IPHAN e que tenha capacidade de conservar,
proteger, estudar e promover a extroversão dos bens arqueológicos, atendendo
ao trinômio pesquisa, conservação e socialização, conforme definido na
referida Portaria, tendo em vista a preocupação com o envio dos acervos para
instituições fora da região de origem. Com a venda da UHE Miranda o
respectivo acervo foi enviado para as dependências da mesma.
Nova vistoria técnica ao acervo arqueológico da UHE Nova Ponte, nas
dependências do Museu da CEMIG, é realizada dia 13 junho de 2018 pela
técnica analista em Arqueologia da Superintendência do IPHAN no Estado de
Minas Gerais, que apresentou relatório de vistoria.
A partir da observação de amostragem aleatória a analista do IPHAN
verificou que o material passou por curadoria e interpretação dada pelas
equipes de pesquisa, porém anotou que alguns procedimentos definidos no
manual de operação não foram executados.
Durante sua vistoria constata que, apesar do manual de operação do
acervo e da exposição indicar o armazenamento de materiais frágeis recolhidos
durante a pesquisa de campo em local apropriado, o mesmo não ocorreu.
Outro problema identificado diz respeito ao empilhamento das caixas plásticas

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vazadas, que ela denomina de contêineres, bem como percebe desgastes e


sobreposição indevida com a possibilidade de comprometimento da coleção.
Além disso, as embalagens plásticas estão desgastadas e os quadros
explicativos da exposição estão desbotados.
A técnica do IPHAN constata, também, que como acervo arqueológico
dessa instituição constava 36 caixas de materiais, bem como quadro
informativos no ambiente da exposição referentes a UHE Miranda, entretanto, o
mesmo fora transferido para a empresa Consórcio Engie Brasil.
Em sua análise define que o acervo arqueológico depositado nas
dependências do museu da CEMIG necessita da continuidade na curadoria da
coleção, tendo em vista que o material corre riscos de deterioração, portanto
são necessárias medidas urgentes que visem assegurar a preservação das
informações resgatadas durante as pesquisas de campo da década de 1990
em diversos sítios arqueológicos, de modo a adequar a metodologia de
registro, inventário, curadoria e salvaguarda às exigências da portaria IPHAN
196 de 2016.
Além disso, sugere que seja elaborado um plano museológico, que
inclua a modernização do Museu com novo mobiliário (prateleiras, armários,
etc.), da restauração ou substituição dos móveis da exposição, de novos
equipamentos de climatização e medidores de umidade e temperatura, entre
outros. Mas a primeira medida a ser tomada deverá ser a reorganização do
acervo, substituindo os sacos plásticos antigos por novos e as caixas plásticas
vazadas por caixas de polietileno com tampas e empilháveis,
preferencialmente, de tamanhos menores, para facilitar o manuseio;
reformulando o inventário conforme “ficha de cadastro de bem arqueológico
móvel” anexo II da referida portaria, de modo a produzir um registro organizado
e de fácil acesso, disponível em meio físico e digital.
O acervo deve ser readequado, substituindo os saquinhos plásticos
antigos por novos, identificado por novas fichas do material padronizadas,
porém sem descarte das fichas originais (escritas à mão). O ideal é que a
informação seja escrita em grafite, pois as informações escritas com canetas

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esferográficas em geral tem menor durabilidade, ou que seja impressa e


plastificada, conforme o planejamento do manual de operação.
Também se recomenda para a readequação da exposição com a
inclusão de expografia; inclusão de recurso audiovisual com imagens dos sítios
arqueológicos relacionando-os aos materiais encontrados, bem como mapas e
imagens atuais, após a construção da represa; inclusão de informações sobre
as comunidades e fazendas que existiam na área de construção da represa e
dos resultados dos estudos socioeconômicos, incluindo informações sobre o
patrimônio imaterial; integração das informações geradas nos estudos
ambientais de modo a promover a extroversão das pesquisas desenvolvidas,
numa perspectiva histórica da região, antes e depois da instalação da UHE
Nova Ponte; além de capacitar uma equipe para acompanhar e guiar os
visitantes e a contratação de equipe de arqueologia para a realização das
adequações solicitadas.
Nesse aspecto, a análise da técnica do IPHAN aponta para o risco que a
coleção está sofrendo por conta das irregularidades observadas.

3. SITUAÇÃO DO ACERVO NA ATUALIDADE

Para atender aos acordos definidos em reunião do dia 06 de setembro


de 2019, mediada pela Procuradoria da República no município de Uberlândia,
Ministério Público Federal, referente ao Inquérito Civil Público n.
1.22.003.0000314/2018-05, quanto a elaboração de projeto a ser submetido à
aprovação do Programa de Incentivo a Cultura para captação de recursos,
conforme Lei 8.213/1991, a partir da necessidade de atualização da vistoria
técnica para elaboração do diagnóstico da situação atual do acervo
arqueológico, procedeu-se nova visita técnica nas dependências do Museu da
CEMIG, no município de Nova Ponte, realizada pelo Prof. Dr. Aurelino Ferreira
Filho, historiador, da UFU, no dia 27 de março de 2020.

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Dessa visita se constatou que o acervo arqueológico da UHE Miranda se


encontra novamente nas dependências da reserva técnica da instituição, em
conjunto com o acervo arqueológico da UHE Nova Ponte. Os referidos acervos
estão acondicionados nas mesmas caixas plásticas vazadas, sendo divididas
por cores: 229 caixas pretas do acervo da UHE Nova Ponte e 36 caixas azuis
do acervo da UHE Miranda.
Observa-se que o local conta com o material coletado nas pesquisas e
que constituiu os acervos arqueológicos, conforme previsto originalmente, bem
como com uma mostra expositiva arqueológica permanente, com painéis
explicativos e objetos que sintetizam os resultados alcançados pela pesquisa.
Esses elementos se encontram da mesma forma e conforme definido no
período de deposição do acervo nas dependências da instituição, entre os anos
de 2000 e 2001, sem uma devida atualização.
O ambiente museal precisa se adequar a Lei n. 11.904 de 14 de janeiro
de 2009, denominada Estatuto dos Museus e a organização de seu acervo
deve seguir as recomendações da Portaria n°. 196, de 18 de maio de 2016 do
IPHAN.
O documento que orienta a referida instituição museal é o Manual de
Operação que define as condições de operação com os cuidados necessários
à manutenção da reserva técnica e de todo o seu acervo, curadoria da coleção,
instituições e técnicos a serem acionados em caso de possíveis impactos,
nota-se nesse documento a indicação de acondicionamento no ambiente da
reserva técnica de materiais frágeis de modo separado, porém se observa que
as orientações não estão sendo cumpridas e o acervo está sofrendo
constantes impactos, bem como não se observou a guarda de materiais mais
frágeis conforme orientação do manual, mas sim uma referência de material
frágil dentro de uma caixa plástica vazada.
Na análise a respeito do estado de conservação, observa-se que o
acervo está em risco tendo em vista que os suportes que atualmente guardam
os conjuntos artefatuais se encontram em desacordo com especificações
técnicas. Nota-se um processo de deterioração nas embalagens, bem como o

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atual ambiente em que se encontra depositado o acervo, ou seja, a reserva


técnica, está inadequada e não oferece condições para essa recepção tendo
em vista que não se encontra no local os equipamentos necessários para dar o
suporte adequado como mobiliário, climatizador, controle de temperatura e
umidade, dentre outros.
A divisão do espaço da reserva técnica está organizada por
armazenamento dos acervos de cada projeto de salvamento. Para cada acervo
uma lona preta recobre todas as caixas. Ao retirá-la atenta-se para um
empilhamento de caixas em pequeno pedestal de concreto com sobreposição
de 3 caixas para cada coluna. A divisão dos lotes se encontra afixado nas
paredes. As caixas são identificadas com referência a procedência dos
materiais a partir dos sítios arqueológicos, de acordo com o que foi
especificado pela curadoria do acervo ainda da fase de conclusão do projeto.
Nota-se que algumas caixas já se encontram deformadas e com problemas no
empilhamento.
Os conjuntos de peças arqueológicas estão armazenados em
embalagens plásticas ou de pano, em alguns casos também em embalagens
de papelão, sendo identificadas a partir de etiquetas contendo as referências
dos objetos. As embalagens plásticas que revestem os conjuntos de peças já
estão em processo de deterioração e se decompondo. Alguns sacos plásticos
mais resistentes ainda se mantêm. Nessa situação tanto as etiquetas de
identificação quanto as peças começam a se misturar no interior das caixas.
Algumas caixas já apresentam peças soltas, sem embalagem e identificação.
Estas informações podem ser conferidas no registro fotográfico, Tabela
03.

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Tabela 03: Registro fotográfico do acervo arqueológico depositado nas dependências do Museu da CEMIG em
Nova Ponte em 27/03/2020

Forma de acondicionamento do acervo arqueológico da UHE Nova Ponte contando com empilhamento em
Acervo da UHE Nova Ponte
colunas de três caixas, suporte em pedestal de concreto, demarcação do acervo na face externa da caixa e
revestido com lona plástica preta
embalagens em sacos plásticos no interior.

Forma de acondicionamento do acervo arqueológico da UHE Nova Ponte contando com empilhamento de caixas vazadas pretas, em colunas de três
caixas, suporte em pedestal de concreto, demarcação do acervo na face externa da caixa e embalagens em sacos plásticos na face interna.

Identificação em fichas das caixas a partir dos lotes com fixação nas Deformação das caixas plásticas vazadas com acondicionamento
paredes da reserva técnica deficitário e dificuldade de empilhamento do acervo da UHE Nova Ponte

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Deformação das caixas plásticas e impactos no empilhamento. Sacos plásticos internos em processo de degradação

Caixa vazada vazia e com embalagem de conjuntos arqueológicos em caixas de papelão que estão se Acervo da UHE Miranda revestido
deteriorando e expondo as peças do acervo da UHE Nova Ponte. com lona plástica preta

Forma de acondicionamento do
acervo arqueológico da UHE Caixa vazada com embalagem de
Miranda. Empilhamento de caixas Detalhe das embalagens em sacos Detalhe das embalagens em papel conjuntos arqueológicos em caixas
vazadas azuis, em colunas de três de pano do acervo da UHE do acervo da UHE Miranda de papelão que estão se
caixas, demarcação na face Miranda contendo acervo frágil. deteriorando e expondo as peças
externa e embalagens em sacos de do acervo da UHE Miranda.
pano no interior.

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Peças do acervo da UHE Miranda Apresentação da mostra


Detalhe de expositor com Expositor com vasilhame cerâmico
fora das embalagens e já expográfica no ambiente do
fragmentos cerâmicos reconstituído
misturadas. museu da CEMIG

Detalhe de expositor com Detalhe do painel informativo


Expositor com vasilhame cerâmico reconstituído
fragmentos líticos utilizado nas mostra expográfica

4. PROCEDIMENTOS PARA INVENTÁRIO E CURADORIA DOS


ACERVOS ARQUEOLÓGICOS

A realização da curadoria dos materiais arqueológicos é uma das etapas


do processo de preservação das informações advindas do campo, conservação
do estado físico dos artefatos e formação de registro. Este trabalho permite a
conservação do patrimônio e de sua documentação, facilitando os processos
de salvaguarda, análise e pesquisa.
A partir da implantação de um Programa de Gestão e Curadoria do
Patrimônio Arqueológico, será desenvolvimento um plano de conservação e

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curadoria de acervos arqueológicos, contando com uma avaliação das


condições atuais das coleções a serem salvaguardadas a partir de um
diagnóstico dos conjuntos artefatuais, quantitativamente e qualitativamente,
bem como a elaboração de um inventário geral de todos os acervos a serem
incorporados na Reserva Técnica, com o intuito de definir as ações pertinentes
para a adequada preservação do patrimônio arqueológico. Para tanto, será
definido uma política de gerenciamento do acervo que contemple os processos
curatoriais de documentação, conservação, restauração e guarda das
coleções.
A rotina de documentação e higienização das peças constituem etapas
complexas e decisivas para um adequado estudo e conservação do acervo.
Após essa etapa, cada objeto deverá ser acondicionado de acordo com suas
características materiais e tipológicas e deverá ter seu local de armazenagem
assegurado na área de Reserva Técnica.
No plano de salvaguarda dos acervos arqueológicos daremos especial
atenção ao tratamento dos materiais com ênfase a métodos de estabilização e
conservação passiva, por ser a resposta mais eficiente para o tratamento
conjunto de grandes coleções e estar de acordo com os princípios
internacionais de conservação.
A fragmentação característica de acervos arqueológicos, geralmente,
impõe a necessidade de estudos específicos da coleção com o intuito de
localizar os objetos que tenham potencial para sua reconstrução.
As ações de conservação preventiva têm por objetivo estabilizar os
processos de alteração e/ou degradação que atuam sobre uma coleção,
procurando modificar o mínimo possível às características de seus materiais
constitutivos, através de um conjunto de operações que visa prolongar a vida
de cada objeto.
O ambiente é um dos principais agentes de deterioração de bens
culturais. Os efeitos produzidos pela luz, pela variação de temperatura e
umidade e pela contaminação atmosférica, isoladamente ou associados, são
identificados como os principais agentes de deterioração. As condições

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microclimáticas de um ambiente relacionadas à matéria-prima constituinte das


diversas coleções definem em que grau cada um desses elementos interfere
em sua conservação.
Para o inventário dos acervos a serem salvaguardados, identificar e
qualificar um artefato ou seus conjuntos, definir elementos como a época de
sua confecção, origem e procedência, possibilita a catalogação destes de
forma completa, exigindo estruturas técnicas e adoções de critérios específicos
da curadoria de acervos para o desenvolvimento da intervenção, pois após a
análise do estado de conservação em que o acervo se encontra é possível
detectar os pontos de fragilidade, permitindo a escolha mais adequada no
tratamento dos acervos.
Dentre as etapas e processos adotados ao longo do trabalho a ser
executado para a realização do inventário e curadoria do acervo da UHE Nova
Ponte e UHE Miranda, o primeiro passo será avaliar as condições físicas do
material armazenado e que está embalado em sacos e em caixas plásticas,
procurando observar as informações de todos os sítios arqueológicos
resgatados, e se ainda foram preservados informações a respeito dos
conjuntos de peças, as condições do acondicionamento, estado de
conservação, etiquetas com informações: nome do sítio, número individual e a
coordenada de localização, etc.
Esta ação será fundamental para o entendimento da atual situação de
preservação dos acervos arqueológicos, tendo em vista que, segundo consta
no Relatório do Programa de Salvamento Arqueológico da UHE Nova Ponte:
Situação Atual, elaborado por Leme Engenharia, em novembro de 1993, a
numeração adotada para as evidências arqueológicas em laboratório foi
provisória e observamos uma informação grafada manualmente de uma
pendência a respeito deste quesito.

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Imagem 01: Informação identificada na página 12 do Relatório do Programa de Salvamento


Arqueológico da UHE Nova Ponte: Situação Atual, elaborado por Leme Engenharia, em novembro de
1993.

Findado este primeiro passo, a próxima etapa consistirá em organizar o


material na bancada de acordo com os sítios arqueológicos, e esses separados
pelos lotes; em seguida será realizada nova higienização contando com
limpeza a seco ou lavagem com água e uso de escova de dente de cerdas
macias. Após a higienização, as peças que tiveram contato com água serão
dispostas em peneiras para o primeiro processo de secagem, em seguida
serão organizadas na bancada para secar em temperatura ambiente, evitando
assim a proliferação de fungos ou qualquer tipo de microrganismo que venham
modificar as características do material.
Após a secagem, o material passará por uma triagem, na qual serão
checadas e identificadas as informações e suas características tipológicas e
morfológicas, organizadas segundo a ordem: cerâmica (borda, base,
decoração, parede), lítico, cerâmica histórica, osteomalacológico, dentre outros
objetos. Desta forma, todos os lotes seguirão a mesma organização dentro do
novo modelo de curadoria que será desenvolvido.

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Findada a triagem, cada fragmento sofrerá uma análise para identificar a


situação do código de registro e identificação individual (numeração) que tenha
sido realizado pelas equipes de arqueologia que executaram os procedimentos
curatoriais iniciais. Logo em seguida, será dado início ao preenchimento e
elaboração das fichas de curadoria para cada sítio e ocorrência arqueológica,
identificada como “Controle Curatorial de Acervos”, onde constarão os dados
de proveniência, tais como: coordenada, número do lote, número individual,
tipologia e número individual. Também procederemos a elaboração de novas
etiquetas onde constarão: nome do sítio, nível, número do lote, coordenada,
data e número individual. Ainda, como procedimento curatorial, também será
feito uma comparação das informações de campo, oriundas da leitura dos
relatórios de pesquisa, com as informações geradas no laboratório para
compatibilização das informações.
Estas ações são importantes para que não se percam informações
referentes ao material e que podem auxiliar na etapa de análise futura.
Concomitante a estes procedimentos realizaremos a elaboração das Fichas de
Cadastro de Bem Arqueológico Móvel, conforme recomendação do IPHAN a
partir da Portaria 196/2016, de modo a produzir um registro organizado e de
fácil acesso, disponível em meio físico e digital. Todo o material arqueológico
será novamente fotografado por lote para atualização do registro documental.
A próxima medida a ser tomada deverá ser a reorganização do acervo,
substituindo os sacos plásticos antigos por novos e os contêineres (caixas de
plástico vazadas tipo hortifrúti) por caixas de polietileno com tampas e
empilháveis, preferencialmente de tamanhos menores, para facilitar o
manuseio e mais adequadas para armazenamento e futuros transportes.
No âmbito do transporte e armazenamento de acervos arqueológicos
nas instituições de guarda tem-se adotado este tipo de embalagem em
detrimento das que estão sendo utilizadas, pelo fato de se minimizar a atuação
de agentes contaminantes que se deslocam e proliferam com na poeira, na
umidade, dentre outros fatores, pois são embalagens fechadas. Além disso,
também são resistentes aos deslocamentos de acervos e de fácil manuseio e

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armazenamento nas dependências da futura reserva técnica que irá receber o


acervo.
O acervo deve ser readequado, substituindo as embalagens plásticas
antigas, identificado por novas fichas do material padronizadas, porém sem
descarte das fichas originais, escritas à mão, que serão incorporados a
documentação dos acervos. A informação será repassada para novas fichas e
etiquetas que serão impressas e plastificadas.
Todo o acervo arqueológico e sua documentação será designada para a
Instituição de Guarda e Pesquisa nas dependências da Universidade Federal
de Uberlândia que terá capacidade de conservar, proteger, estudar e promover
a extroversão dos bens arqueológicos, atendendo ao trinômio pesquisa,
conservação e socialização, conforme definido pelo IPHAN na Portaria
196/2016.
Periodicamente serão elaborados relatórios técnicos e encaminhados ao
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para
acompanhamento.
Por fim, também será realizada a elaboração de um novo projeto
expográfico com utilização de suportes de comunicação museal e inclusão de
recurso audiovisual com imagens e informações dos sítios arqueológicos e
seus processos de pesquisa tendo com elemento fundamental o sujeito
histórico produtor dos artefatos, bem como mapas e imagens atuais, após a
construção da represa; inclusão de informações sobre as comunidades,
fazendas que existiam na área de construção da represa e das dinâmicas
socioculturais e ambientais, de modo a promover a extroversão das pesquisas
desenvolvidas, numa perspectiva cultural da região, antes e depois da
instalação da UHE Nova Ponte e UHE Miranda; além de capacitar uma equipe
para acompanhar e mediar a comunicação entre o ambiente expositivo e os
visitantes.

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Prof. Dr. Robson Rodrigues


Arqueólogo
INCIS-PPGCS-GEPAEHI
robson_arqueo@yahoo.com.br

Prof. Dr. Marcel Mano


Antropólogo
INCIS-PPGCS-PPGHI-GEPAEHI
marcelmano@ufu.br

Prof. Dr. Aurelino José Ferreira Filho


Historiador
ICHPO-PPGCS-GEPAEHI
aurelino.ufu@gmail.com

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