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OS SAMBAQUIS BRASILEIROS
COMO
ESTRATÉGIA DE OCUPAÇÃO DO
LITORAL
Rio de Janeiro
jan./mar. 2010
Os sambaquis brasileiros como estratégia de ocupação do litoral
Resumo: Abstract:
A ciência arqueológica brasileira, ainda em The brazilian archaeological science, which is
construção, tem sua trajetória marcada por in- still undergoing construction, has its trajectory
certezas e dificuldades que impedem a formula- marked by uncertainties as well as difficulties
ção de uma síntese da pré-história brasileira. Os which prevent the formulation of a brazilian
estudos realizados nos sambaquis do Município pre-history synthesis. The studies conducted at
de Guapimirim demonstraram que os sítios ar- the shell middens of the municipal district of
queológicos do tipo sambaqui fazem parte de Guapimirim demonstrate that the archaeolo-
um mesmo complexo cultural, que começou gical sites of shell middens kind belong to the
a ser construído a partir de uma estratégia de same cultural complex. Furthermore, this cul-
ocupação que privilegiava o território a ser ex- tural complex’s construction began under the
plorado. light of an occupation strategy which favored
the territory chosen for exploiting.
Palavras-chave: Sambaquis; Pré-História; Keywords: Sambaquis; Prehistory; Guapimi-
Guapimirim; Arqueologia Brasileira. rim; Brazilian Archaeology.
Pressupostos conceituais
A Arqueologia é aqui entendida como uma ciência do comporta-
mento, com métodos e teorias próprias e não uma técnica de escavação
para interpretação de dados. Hoje seu campo de estudo não se finda mais
pelo surgimento da escrita, já que a Arqueologia Histórica se volta para
a investigação das diversas sociedades que surgiram e desapareceram no
período histórico.
os obrigou a descer para o sul até onde pudessem fazer a passagem para a
costa. É importante, no entanto, notar que em ambos os casos a referência
aos grupos do interior é hipotética.
3 – Lembra Lamego (1963) que, em meados do séc. XVIII, quando as cidades mineiras
nascidas com a mineração floresciam, toda a bacia serrana do Paraíba na zona mineira e na
fluminense estava mergulhada em mato bravo e os índios Coroado, Puri e de outras tribos,
a fauna e a flora afrontavam a penetração do colonizador. A verdadeira barreira, portanto,
não seria a serra, mas sim a floresta.
E acrescenta que
a) b)
da baía com o oceano funciona como um filtro regulador das trocas entre
os dois ambientes. Os perfis de temperatura e salinidade revelam que a
descarga dos rios faz os valores de salinidade decrescer em direção ao
interior da baía e que os de temperatura tendem a apresentar um pequeno
aumento nesta mesma direção.
Os cenários paleoambientais
Amador (op. cit.), após vários anos de estudo da região da Bacia da
Guanabara, propõe que quatro faciologias são apresentadas pelos depósi-
tos do Pleistoceno Superior (Wisconsin 125.000 A.P. a 10.000 A.P.) que
caracterizam a Formação Caceribu. Estas documentariam que durante a
última glaciação condições climáticas mais secas seriam responsáveis por
intensa denudação das encostas e formação de aplainamentos incipientes
ao longo dos fundos de vales, dando origem às formas de rampas (Meis,
1977). No último máximo glacial da América do Sul, que teria ocorrido
entre 20.000 e 18.000 anos A. P., o clima teria se tornado frio e seco e o
nível do mar se situaria abaixo do atual em cerca de 120 metros. A Mata
Atlântica da região sudeste teria recuado, enquanto savanas, caatingas,
campos cerrados e florestas de araucária teriam se expandido.
Tomando por base os resultados que vêm sendo obtidos pelas pes-
quisas arqueológicas desenvolvidas em diferentes regiões das Américas
e em especial por aquelas realizadas na Bahia, Rio de Janeiro (Itaboraí)
e São Paulo, que sinalizam datas acima de 40.000 anos, podendo chegar
a 1 milhão de anos para a entrada do homem no Continente Americano,
Amador (1997) acredita que a esta época o homem já ocupava a região
do Vale da Guanabara. O afogamento marinho da plataforma continental
e do Vale, que vai se dar durante o Holoceno, mais precisamente nos
últimos 12.000 anos, indisponibilizou registros importantes não só sobre
essa fase da ocupação humana, mas também sobre os mamíferos hoje
extintos.
Portanto, este evento que, sem dúvida, possui uma enorme impor-
tância paleoambiental indicaria uma estabilização do nível do mar entre
40 e 50 metros abaixo do atual no período entre 10.000 e 8.000 anos A. P.
Nesta época, já havia se instalado um sistema de drenagem, possivelmen-
te meandrante, condicionado pela instalação de clima úmido, pós-glacial,
que permitia a recolonização florestal das encostas. A Baía de Guanabara
nesta fase estaria limitada a um estuário (Fig. 5). Provavelmente algumas
lagoas e brejos poderiam ter se instalado na Baixada ao mesmo tempo
em que os manguezais se desenvolveriam no estuário. Esta estabilização
seria seguida pela construção de um cordão de restinga, cujos remanes-
centes compostos por arenitos cimentados, os beach rocks, podem ser
observados dispostos paralelos à linha de costa.
Embora o atual nível do mar tenha sido atingido, pela primeira vez,
há cerca de 7.000 anos A. P., em decorrência da Transgressão Guanaba-
rina iniciada no limite do Pleistoceno-Holoceno, o máximo transgressivo
holocênico só foi atingido durante o chamado “ótimo climático” (Fair-
bridge, 1962 e Bigarella, 1971), ou seja, entre 6.000 e 5.000 anos A. P.,
quando o nível do mar atingiu uma posição entre 4 e 3 metros acima do
atual.
Entre 3.800 e 3.600 A.P. uma nova fase transgressiva eleva o nível
do mar em cerca de 1,5 - 2,0 metros, acima do atual, produzindo uma
nova linha de litoral agora mais recuado, e um sistema de praias fós-
seis (Amador, 1974). Algumas restingas são retrabalhadas, ou destruídas
ou recuam. Lagunas costeiras em processo de fechamento pelo cordão
de restinga regressivo são abertas ou desaparecem devido ao recuo das
restingas e tornam-se, outra vez, enseadas. Novas superfícies erosivas e
falésias são construídas. O trabalho abrasivo do mar, junto aos pontões,
rochosos se acentua. O afogamento marinho faz recuar a faixa de man-
guezais e interiorizar o alcance das marés.
Conclusão
A coleta de moluscos e/ou a pesca são atividades que estão condi-
cionadas e condicionam quem delas vive ao ambiente aquático. Como
vimos, a partir dos cenários propostos por Amador, pelo menos a porção
do litoral brasileiro que corresponde ao recôncavo da Baía de Guanabara,
toda essa região, foi caracterizada por uma grande quantidade de rios que
formavam vias em meio a região altamente afetada por constantes subi-
das e descidas do mar, isto é, marés e transgressões.
1995.
PEREZ, R. A. R.; SÃO PEDRO, M. F. A.; BELTRÃO, M. C. M. C. e LEMOS,
M. L. Elementos Interpretativos para a Reconstituição Paleoambiental e Cultural
do Sambaqui de Sernambetiba/Guapimirim, Estado do Rio de Janeiro.1996.
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