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A ARQUEOLOGIA DE FLORIANÓPOLIS

“Não podemos saber o que ganhamos em


adquirir civilização enquanto não soubermos
o que perdemos” (Sevice,1971:11)

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ROSSANO LOPES BASTOS
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ADRIANA TEIXEIRA

A Ilha de Santa Catarina caracteriza-se por intensa ocupação Pré-Histórica


e Histórica, com variados tipos de Sítios Arqueológicos, tais como Sambaquis,
Aldeias, Acampamentos e Paradeiros (Guarani e Itararé), Inscrições Rupestres
(petroglifos, arte rupestre), Oficinas Líticas e Sítios Históricos. São estes sítios
caracterizados por atributos variados que indicam, de acordo com seu tipo, as
atividades exercidas pelas populações pretéritas e históricas que aqui habitavam
há milhares de anos. Em Florianópolis, os grupos pré-históricos se utilizaram de
vários elementos e se valeram de vários aspectos do ambiente como recursos
naturais e ocuparam de forma continua e distribuída a região que hoje
denominamos este município. Esta afirmação é atestada pelos elementos de sua
cultura, cujos restos são encontrados em sítios arqueológicos, conforme o mapa
em anexo.
Os sítios arqueológicos são peças fundamentais para o conhecimento
antropológico, porque são as únicas fontes fidedignas capazes de restabelecer a
relação entre natureza e cultura no passado pré-histórico.
O patrimônio arqueológico, segundo Mendonça de Souza e Souza(1983:5)
é: caracterizado como o conjunto de locais em que habitaram as populações pré-
historicas, bem como toda e qualquer evidencia das atividades culturais destes
grupos pretéritos e inclusive seus restos biológicos.O patrimônio arqueológico é
assim integrado não só por bens matérias(artefatos de pedra, osso, cerâmica,

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Arqueólogo Consultor do IPHAN.
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Assistente do Setor de Arqueologia da 11ª SR/IPHAN/SC.
restos de habitação, vestígios de sepultamentos funerários), mas também e
principalmente pela informações deles dedutíveis a partir , por exemplo da sua
própria disposição locacional, das formas adotadas para ocupação do espaço e
dos contextos ecológicos selecionados para tal.
Esse conjunto de tipos de sítios aqui descritos como sendo do município de
Florianópolis é parte integrante da formação do nosso rico Patrimônio
arqueológico.
A recente dinâmica da arqueologia brasileira tem apontado para uma
tendência crescente dos trabalhos de arqueologia preventiva(Arqueologia que
antecede qualquer impacto ou possível impacto), ligados em sua esmagadora
maioria a necessidade de licenciamento ambiental de empreendimentos de
qualquer natureza, potencialmente causadores de danos ao patrimônio
arqueológico.Diante deste imperativo legal, técnico e político, é que se coloca a
incorporação das variáveis arqueológicas no escopo deste Atlas do município de
Florianópolis.
O presente trabalho visa de forma concisa e clara oferecer a população de
Florianópolis e em geral a qualquer interessado uma idéia da magnitude e dos
tipos de sítios arqueologicos até agora encontrados e registrados no cadastro
nacional de sítios arqueológicos do Instituto do Patrimônio histórico e Artístico
nacional, que é a órgão nacional responsável pela proteção, identificação,
documentação e valorização do Patrimônio arqueológico.
Sendo assim, as informações aqui contidas tem o objetivo de contribuir e
chamar à atenção da comunidade para a publicização dos bens arqueológicos,
que são bens de alcance social de uso e domínio comum do povo.

SAMBAQUIS:

São sítios arqueológicos encontrados em regiões costeiras nas


proximidades do mar, mangue e desembocadura de rios. Construídos
provavelmente por bandos de caçadores-coletores-pescadores que viviam no
litoral. Caracterizam-se pelo acúmulo de carapaças de moluscos, restos de peixes,
onde são encontrados fogões (circulares feitos de pedra), artefatos líticos,
sepultamentos, além de adornos e Zoólitos, que são esculturas feitas em
pequenos blocos de rocha, representando figuras de animais.Recentes
interpretações apontam os sambaquis também para uma formação cerimonial,
onde a sua construção intencional estaria ligada a ritos grupos e intergrupais.
Dentre os sítios mais antigos, os sambaquis são os exemplares mais
significativos: Sambaqui do Rio Vermelho, datação de 5.020 A.P.( antes do
presente)(De Masi), Sambaqui do Pântano do Sul 4.500 A .P. (Rohr), Sambaqui
da Ponta das Almas, 4.230 A .P(Hurt).

ALDEIAS, ACAMPAMENTOS E PARADEIROS:

São sítios arqueológicos que se caracterizam por manchas escuras no solo


com carvão, objetos de pedra e cerâmica, restos de construções, existência de
postes. O solo costuma estar muito firme e compactado. São elevações no solo de
forma circular e variam de 20 a 100 metros de diâmetro. As formas circulares
menores e com pouca profundidade, normalmente com ausência de material
cerâmico, são chamadas de acampamentos. Quando as evidencias arqueológicas
são menores ainda que o acampamento, muito superficiais, de pouco densidade,
chamamos de paradeiro.

INSCRIÇÕES RUPESTRES (petroglifos, arte rupestre):

Gravuras deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (parede de


abrigos, grutas, matacões, etc...). A palavra rupestre vem do latim rupe-is
(rochedo). A arte rupestre é bem representada na Ilha de santa Catarina, tendo a
Ilha do Campeche o maior acervo e representatividade desta arte deixada pelo
homem pré-histórico. As inscrições são parte do mundo simbólico das populações
pré-historicas e tem representações variadas, com diversos tipos de formas. A
arqueologia brasileira define as inscrições existentes em Florianópolis e no nosso
litoral como de estilo geométrico, pela sua característica marcadamente ligada a
símbolos geométricos (círculos, quadrados, triângulos, linhas retas, curvas,
pontuadas, além de alguns motivos estilizados de seres humanos).

OFICINAS LÍTICAS (estações líticas, afiadores e bacias de polimento):

São lugares onde populações pré-históricas preparavam e aperfeiçoavam


suas ferramentas e instrumentos de caça, pesca e coleta. As estações ou oficinas
líticas são encontrados com freqüência no litoral, confeccionados normalmente em
pedra muito dura (diabásio). São formações de depressões na rocha: sulcos,
frisos, pratos, bacias que serviam para amolar, afiar e polir as ferramentas e
instrumentos. As evidências circulares contidas nas rochas são interpretadas
como marcas resultantes do trabalho para a definição da forma dos artefatos( por
exemplo: a preparação de um machado de pedra). Os sulcos menos profundos
em forma de riscos são resultado da preparação do gume de machados e outros
objetos cortantes. Os sulcos mais profundos e estreitos que aparecem nas rochas
são provavelmente resultado de um aperfeiçoamento do gume, onde é produzido
o fio.

SÍTIOS HISTÓRICOS:

São remanescentes de estruturas históricas, caracterizadas no município,


principalmente pelas estruturas arquitetônicas e seu entorno. A arqueologia
histórica prevê o estudo dos aspectos materiais, históricos, culturais e sociais
concretos do período colonial até a atualidade. Os exemplares mais significantes
deste período são as estruturas remanescentes do sistema defensivo, que
originalmente contavam com onze estruturas entre fortalezas e fortins.Em
Florianópolis podemos destacar a Fortaleza São José da Ponta Grossa,na praia
do forte em Jurerê, Fortaleza de Santo Antônio dos Ratones, na ilha de Ratones
Grande, Fortaleza Santa Bárbara junto ao terminal Cidade de Florianópolis no
centro, Fortaleza Santana, embaixo da ponte Hercílio Luz, que abriga hoje o
museu da Polícia militar de Santa Catarina, estruturas de ruínas do Forte São
João podem ser observadas na parte continental de Florianópolis no estreito.
O exemplo mais importante de sitio histórico como monumento que fica
isolado na cidade é sem dúvida a Ponte Hercílio Luz. Destaca-se pela sua beleza
cênica, técnica construtiva, e exemplaridade.

Muitos autores se dedicaram ao tema de estudar o Patrimônio arqueológico


de Florianópolis, o material bibliográfico disponível que trata de alguma forma este
tema, abrange os levantamentos arqueológicos, registros de sítios, inventários e
pesquisas sistemáticas realizadas nos últimos 40 anos. Alguns destes trabalhos
podem ser encontrados em ROHR, J. A .
(1959.1960,1961,1962,1966,1967,1968,1969,1974,1975); BECK, A . (1968,1972 &
1978); DUARTE, G. M. (1971); PIAZZA, W. (1965,1966); HURT, W. (1974 &
1984); PROUS, A & PIAZZA, W (1977); SCHMITZ (1984); NEVES(1984);
FOSSARI,T & BASTOS, R. L. (1987,1988,1989); DE MAIS,M. A. N.(2003) dentre
outros.
A localização dos sítios arqueológicos é um dos elementos que colaboram
muito no entendimento da utilização dos recursos naturais e no modo de vida das
populações pré-histórica e históricas, uma vez que identificada a área de
localização podemos observar as condições da ocupação ou assentamento dos
grupos humanos em relação ao ambiente natural e seu modo de vida.
Muito embora o ambiente possa ter se modificado ou alterado, torna-se
importante a sua conservação no local da descoberta, pois com a observação do
cenário atual e as pistas encontradas nos sitos arqueológicos podemos obter
subsídios para analisar e colaborar na construção do conhecimento dos grupos
humanos pretéritos.
Referências Bibliográficas:

BASTOS, ROSSANO L. ARQUEOLOGIA PÚBLICA: FORMAS DE


INCLUSÃO.Resumos do XII Congresso de Arqueologia da Sociedade de
Arqueologia Brasileira: Arqueologias da América Latina. São Paulo. 2003
A utilização dos recursos naturais pelo Homem
Pré-Histórico na Ilha de Santa Catarina. Dissertação de mestrado em
geografia.Centro de filosofia e ciências humanas. UNIVERSIDADE DE SANTA
CATARINA. 1994

MINISTÉRIO DA CULTURA/ IPHAN. Manual de Gerenciamento do Patrimônio


Arqueológico. Circulação Interna. Brasília, 1993.
MENDONÇA DE SOUZA , A. A. C. & SOUZA. O PATRIMÔNIO
ARQUEOLOGICO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO.
ISCB. Rio de janeiro, 1981.

SCHMITZ, Pedro I. O Patrimônio Arqueológico Brasileiro. Revista de


Arqueologia. 1988. Vol. 5, pp.11-18.
SERVICE, E. R. OS CAÇADORES. Zahar editores, Rio de Janeiro, 1971

ROHR, João Alfredo. Anais do Museu de Antropologia. UFSC. Florianópolis,


1984.

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