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2010312021 Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina: Desatios Contempordineos TERRAS INDIGENAS E ETNOARQUEOLOGIA EM SANTA CATARINA: DESAFIOS CONTEMPORANEOS Rodrigues da Siva - RC 6208 - 07/0220 OL Sse ANTICO NDA NAO POSSLI DOI SILVA, Bruno Labrador Racrigues da (1) SILVA, Bruno Labrador Rocrigues da. Terras Indigenas e Etnoarqueologia em Santa Catarina: Desafios Contemporaneos. Revista Cientifica Multidisciolinar Nucleo do Conhecimento. Ano 2, Vol. 15. pp 30-43 Janeiro de 2017 ISSN:2448-0959 Contents (hie) RESUMO INTRODUGAO ~ ETNOARQUEOLOGIA E 0 PAPEL DA ARQUEOLOGIA CONTEMPORANEA CONTEXTO ARQUEOLOGICO DA REGIAO SUL DO BRASIL CTERRAS INDIGENAS EM SANTA CATARINA CONSIDERAGOES FINAIS REFERENCIAS ANEXOS RESUMO Reflexes sobre o papel da arqueologia no mundo contemporéneo vém proporcionando uma discussao mais centrada sobre ética, neutralidade cientifica e demandas socials, A etnoarqueologia toma parte neste processo ao discutir aspectos da histéria recente, trabalhar a multivocalidade, & 10 considerar apenas os interesses cientificos, mas também aqueles socials e politicos, como elementos fundamentais para 2 pratica arqueolégica. A partir de um levantamento das Terras Indigenas em Santa Catarina, tem-se como objetivo, demonstrar a situacSo de conflito encontrada fem algumas comunidades, e como as questdes territoriais podem constituir um campo fértil para o desenvolvimento de pesquisas que Incorporem estes elementos e tenham um posicionamento ‘mals consciente sobre seu papel social. Palavras-chave: Etnoarqueologia, Histéria Indigena, Arqueologia de Santa Catarina INTRODUGAO — ETNOARQUEOLOGIA E O PAPEL DA ARQUEOLOGIA CONTEMPORANEA 0 papel da erqueologia no mundo contemporéneo é um tema que ganhou maior relevancia nas Ultimas décadas. Reflexes sobre ética, neutralidade cientifica, posicionamento politico € demandas sociais estiveram em pauta na agenda. A partir dessas reflexes ocorreu um maior amadurecimento na concepeo de que os arqueslogos, bern como outros pesquisadores, so produtos da culture, da histéria e também da experiéncia individual. 0 arquedlogo deve considerar as ciferentes escalas em que suas pesquisas estdo inseridas, reconhecer que seus interesses esto vinculados ao seu contexto, que é pessoal, local, ¢ global 20 mesmo tempo, ¢ ainda compreender © cardter plurissemantico de seu objeto de estudo (POLITIS, 2015; PYBURN, 2009; HAMILAKIS, 2009). Para Pyburn (2009) a arqueologie deve sempre estar atrelada & construcéo de um mundo mais democratico, em que as repercussbes e os resultados das pesquisas possam ser vistos e sentidos numa escala comunitéria, local. A autora defende a posicdo de que a arqueoloaia pode ajudar hitpstiwmw nucleadaconnecimento.com briistarallerras-indigenae-e-etnoarqueclagia sno 2010312021 Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina: Desatios Contempordineos muitas pessoas, contanto que haja entre os arquedlogos um posicionamento politico declaredo.. Esta posicdo difere daquela por vezes aciamiada por alguns arqueélagos processualistas que adotavam uma proposta mais cientificista para a pratica arqueolégica, colocando-se como um observacor distante e alheio as demandas dos povos que estudavam, uma vez que focavam a objetividade. Propostes mais democraticas propdem que os objetivos da erqueologia se vinculem & possibilidade de tecer projetos que incorporem interesses cientificos, socials e politicos. A articulagao destes interesses proporciona um carater mais responsével e ético, principalmente perante as populacées historicamente silenciadas. Esta articulacdo representa um importante passo para a construco de uma prétice arqueoldgica mais consciente de seu papel perante 2 sociedade (COLWELL CHANTHAPHONH, 2009; SILLIMAN, 2008). Embora no amplamente reconhecida, 2 etnoarqueologia possuiu um papel central no desenvolvimento da arqueologia contempordnea. Ela no sé proporcionau avancos 8 compreenséo do comportamento humano, mas também & teoria arqueolégica. Dentre os temas discutidos pelos etnoarquedlogos pode-se destacar a mitigacéo do etnocentrismo e a interpretagao de processos. humanos na longa duracao. Ao refletir sobre a etnoarqueoloaia contemporénea Politi (2015, p. 2) sumariza em quatro pontos suas contribuigées: 1 - producao de referéncias analigicas que ossam ser aplicadas & interpretaco arqueolégica; 2 ~ desenvolvimento e teste de hipéteses; 3 ~ construcéo de teoria arqueolégica; 4 - avanco na compreensao das sociedades tradicionais nao ocidentais, no presente e no passedo. O Interesse da etnoarqueolagia por questies éticas aprofundou a discussio sobre a representacio 2 moralidade de se estudar 0 "outro". A proposta colonialista de se estudar determinados povos com o tinico propésito de construir analogias fol duramente criticada. Sabe-se que o uso de analagias etnagréficas diretas geraram resultados simplistas e generalizantes, os quals contribuiram para a justificag3o da dominacao colonial (COLWELL-CHANTHAPHONH, 2009; SILVA, 2032; SILVA, 2009). Influenciada pelo movimento desenvolvido a partir da década de 1980, a critica colonial na arqueologia gerau uma revisio histérica da disciplina. O debate ocorrido desde lento provacou uma reconsideragae no modo de se interpretar o passado. Recorrau-se a uma ética néo-colonialista, evidenciando-se assimetrias nas relagées de poder e assumindo-se a necessidade de incorporacdo de epistemologias nativas na construcdo do conhecimento (SILVA 2012). Ademais, grande interesse passou a ser dado ao contexto atual das comunidades estudadas, abordando-se aspectos de sua histéria recente, seus problemas politicos, territorials e a sua participagio em programas de desenvolvimento econémico (LANE, 2006; RUIBAL, 2009; HAMILAKIS, 2009). Com 0 objetivo de descolonizar a pratica arqueolégica foram desenvolvidos projetos colaboratives que pudessem integrar as diferentes partes interessadas nas pesquisas arqueolégicas. Um abjetivo ne escopo destes projetos é tornar as comunidades mais influentes no processo de tomada de decisbes e na interpretacdo do registro arqueolégico. & proposta a construco de parcerlas, baseadas no didlogo ¢ na tentativa de se buscar uma maior simetria. Esta abordagem tornou-se conhecida come arqueologla indigena ou colaborativa (LIGHTFOOT, 2012). Silva (2011 p. 6) sintetiza que estas parcerias "so realizadas com, para e/oU pelos poves Indigenas, sendo que 0 foco da pesquisa esté direcionade para a produgo de conhecimenta para e pelos indigenas fe nBo apenas sobre estes povos”. © Impacto destas parcerias val além dos limites tradiclonais da arqueologla e reavalla os abjetives de pesquisa, a elaboragSo de agendas e os métodos de aquisigdo de dades. As incorporacies de rmiltiplas linhas de evidéncias, come a tradicdo oral, os dados histéricos e linguisticos, e as valorizagdes de distintas perspectivas epistemolégicas, acabam contribuindo para uma prética arqueolégica mais inclusiva e multivocal, que incorpora diferentes visdes sobre o passado e sobre 0 usufruto do patriménio arqueolégico (LIGHTFOOT, 2012; COLWELL-CHANTHAPHONH, 2009) Segundo Silva (2012, p.30) projetos relacionadas a arqueslogias indigenas podem ser divididos fem cinco grandes campos: 1) pesquisas arqueolégicas e etnoarquealdgicas que visam a construc de uma histéria indigena de longa duragdo (p.ex. Wust, 1991; Eremites de Oliveira, 1996, 2002; Heckenberger, 1996; hitpstiwmw nucleadaconnecimento.com briistarallerras-indigenae-e-etnoarqueclagia 2n0 2010312021 Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina: Desatios Contempordineos Neves, 1998; Rodrigues, 2007); 2) pesquisas etnoarqueolégicas que tern come foco 0 tentendimento da relagao entre comportamento humano e cultura material (p.ex. Rodrigues, 2007; Silva, 2000, 2008, 2009a, 2009b, 2010, 2012; Silva e Stuchi, 2010); 3) pesquisas relacionadas & demarcacéo, manutengio ou relvindicacéo de territérios tradicionais por parte dos coletivos indigenas (p.ex. Eremites de Oliveira, 2005, 2010; Eremites de Oliveira e Pereira, 2009); 4) Pesquisas relacionadas a empreendimentos que demandam trabalhos de arqueclogia preventiva e etnoarqueclogia (p.ex. Funari e Robrahn-Gonzélez, 2007; Moi, 2003); 5) pesquisas de arqueciogia piblica (p.ex. Funari, Oliveira e Tamanini, 2005; Robrahn-Gonzélez, 2005) As pesquisas de Fabiola Andréa Silva em terras indigenas da regido central do Brasil ilustram este cenério, A arquedioga coordenou dois projetos (2) em colaboracio com os povos da Aldeia Lalima, com os Kayabi (Terra Indigena TI Kaiabi), e com os Asurini (TT. Kuatinemu). Para os trés povos @ questo territorial é no minimo delicada, Os Kayabi lutam contra invasées de posseiros, sgarimpeiros, fezendeiros, comerciantes e empresas, além de terem de lidar com as demandas desenvolvimentistas que almejam 2 construgéo de hidrelétricas no rio Teles Pires. Na Aldeia Lalima, hé disputes pela ampliagéo do territério, por uma maior sustentebilidede, e pelo fechamento de fazendas ilegais instaladas eu suas terras. Conforme Silva (2012) a identificaco de vestigios arqueolégicos na TI Kaiabi, e na aldela Aldela Lalima serviu aos seus moradares como um argumento legitimo pare suas reivindicacies de manutencio, ampliacdo e recuperacéo de terras. Na TI Kuatinemu, os Asurini também ceram suas préprias interpretagSes sobre os materials arqueolégicos encontrados em seu territério, Para eles 0s achados eram testemunhos da presenca de seus ancestrais e dos personagens miticos que compdem a sua cosmologia, CONTEXTO ARQUEOLOGICO DA REGIAO SUL DO BRASIL Os primeiros indicios de ocupacdo humana da regio sul do Brasil estdo datados de pelo menos 12,000 AP, relacionados a grupos de cacadores-coletores que habitavam o planalto. No literal, opulacées de pescadores e coletores se distribulam por estudrios, canais, mangues e baias, onstruindo sambaquis num periodo que se estende de 7.000 até 1.000 AP (NOELLI, 1999-2000; SCHMITZ, 2013; DEBLASIS, 2007). Uma ocupacdo mals recente é atribuida a grupos ancestrals da familia linguistica Macro-Jé que migraram da regléo central do Brasil e se estabeleceram no sul a partir de 2,000 AP (SCHMITZ et. al. 1999, 2009, 2010; ARAUIO 2001; NOELLI 1999-2000). Nos séculos posteriores a acupacio dos és meridionals se expandlu por praticamente todo o planalto sul e por regiées do Itoral. Estes ‘grupos eram portadores da cultura material relacionada as tradicées arqueolégicas Taquara/Itararé. Estudos arqueolégicos, etno-histéricos e linguisticos destes povos demonstram uma continuldade histérica com os Kaingang e Xokleng (BEBER, 2004; URBAN, 1992; WIESEMANN, 1978; ARAUJO, 2001; NOELLI, 1999-2000; CORTELETTI, 2012) A Giltima ocupacdo pré-colonial da regio Sul é atribuida aos grupos indigenas Guarani. Ela é bem estabelecida nas bacias do Paranapanema, do Parané, do Urugual ¢ do Jacui a0 redar de 2.000- 1500 AP. Como agricultores, os vestigios arqueolégicos de suas ocupacées remetem a artefatos utlizados para o cultivo, a caca e outras utlidades domésticas. Entre eles se destaca a cerdmica, abundante e variada em acabamento, tamanho e uso (SCHMITZ, 2013). Dentre as populacoes Ingigenas do Sul os estudes sobre os Guarani séo os mals aprofundados, seja em termos arqueolégicos, etnogréficos, histéricos ou linguisticos. Sua distribuico no periado de contato com 0 europeus abrangia amplas éreas do vale do rio Urugual e a planicie costelra atléntica. (NOELLI, 1999-2000; NOELLI, 1993; BROCHADO, 1984) No momento de contato com os europeus, os 3 meridionais ¢ os Guarani haviam assimilado ou reduzido drasticamente outros grupos existentes. No inicio do perlodo colonial, as Guarani sentiram maior impacto das frentes europeias. A escravido, epidemias e o aldeamento em rmissées Jesulticas reduziu consideravelmente seu territério, restande poucas comunidades Isoladas em alguns locals do interlor. © contato europeu com os Jé meridionais fol menos intenso hitpstiwmw nucleadaconnecimento.com briistarallerras-indigenae-e-etnoarqueclagia ano 2010312021 Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina: Desatios Contempordineos 1no inicio do periodo, sendo mais frequente a partir da segunda metade do século XVII, ou mesmo. até 0 principio do sécule XX, quando os povos Kaingang e Xokleng tornaram-se a maior oposigo {a0 avango colonial (NOELLI, 1999-2000; SCHMITZ, 2013). Este periodo foi mercado por uma reducdo da densidade populacional que deixou éreas manejadas abandonadas, porém, com recursos disponive's. Lidando com a desarticulacéo social promovide por este context, grupos resistentes aumentaram sua mobilidade e estabeleceram constantes jogos de aliancas com na Indios. A alta mobilidade causou a false impressio de nomadismo "quando, de fato, os grupos derrotados nas guerras de resisténcia fugiam para éreas que ja conheciam gracas as redes de Interc&mbio e aos lacos de parentesco ou alianga” (NOELLI 1999-2000 p. 246). TERRAS INDIGENAS EM SANTA CATARINA A trajetéria de lute das populacées indigenas continuou durante todo periodo histérico @ ainda & presente no cenério atual. Frente 8 ocupacdo de suas terras tradicionais e a resisténcia para ‘manter suas tradigdes os indigenas reagem & situagio de conflito em civersos locais da regiéo. [As Tis do sul do Brasil s8o caracterizadas pela pequena extensdo territorial e pela alta densidade demogréfica, fatores que fazem com que a qualidade de vida dessas populagées seja seriamente prejudicada, 0 IBGE em seu titimo censo realizado em 2010 divulgou que a populacde indigena de Santa Catarina somava 16,041 pessoas, sendo 10,369 em Tis e 5.672 em zonas urbanas. Entre os habitantes de Tis os Kaingang so maioria, com uma populagéo de 6.543 pessoas, os Xokleng somam 2.169 @ os Guarani 1,657. Em Senta Catarina hé 28 Tis habitadas por povos Guareni, Kaingang e Xokleng (Figura 1- Anexo 4), Segundo @ Funai, das 28 TIs, quatro encontram-se em fase de estudos, dez esto declaradas, uma encaminhada como reserva indigena e treze encontram-se regularizadas (Tabela 1). Destas, 20 so habitadas por Guaranis dos subgrupos landeva e Mbya, seja exclusivamente, ou em coabitacdo com os Kaingang e Xokleng; sete so exclusivemente Kaingang; ¢ uma exclusivamente Xokleng (FUNAI). O litoral, 0 extremo oeste @ 0 norte do estado so as regides com maior concentracdo de aldeias Guarani, Em trés aldeias os Guarani partitham terras com comunidades Kaingang (Aldeia Limeira ‘na TI Xapecé) © Xokleng (Aldelas Toldo e Bugio na TI Ibirama Lakléno). Uma comunidade Guarani (Aracal) localiza-se entre os municipios de Saudades e Cunha Pord, no extremo oeste. As demais aldelas localizam-se na faixa litoranea, desde os municipios de Imarul ao sul, & Garuva, ao norte, Destas Tis, cinco so Reservas adquiridas para os Guaranl, Entre as terras tradicionalmente ocupadas pelos Guarani apenas uma esté regularizada, a TI M’biguacu. As demais aguardam providéncias. (FUNAL; BRIGHENTI, 2012). Algumas comunidades enfrentam situagéo de conflito com pessoas que se dizem proprietérias eno admitem a presenca indigena, enquanto outras vivem de ‘favor’ em terras ‘alheias’ hitpstiwmw nucleadaconnecimento.com briistarallerras-indigenae-e-etnoarqueclagia ano 201037202" Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina Desatios Contempordineos ge cre | corm | tore ws a ‘a | Come a Pasastca nay] coi oa ae a al tet * teoteiat | trent ie cee eer ene 7. — | a a a mir | sem [tone | Eons, | came | tei | Mtematemte ed semanas |G Tar | sine emi | 7808 crate Taian ie | corms — . rene | an ~~ |_| : i ow | come | ome | | Se | mneina | ood = aaam | mova | mera tome Se = ee a | -— — — | rosy | coatings STREETS) can vane | mo | te = ao [ee [SS = ot vr = ia ‘anrein |g von | mam | meta | Toot | cea PFE aee —_ er ome —— | fees ont mam | ee | Tene | heme mare | tm — | ee ve | ce |e Oe | ee | Pres emace| cavncranng | sitatcswns | uo vn | Tone a = . — Tabala 4 Taras Indiganas em Santa Catarina, base de dads da FUNAL. Fonte: Fundepte Nacional do fnao ~ FUN Dentre as comunidades que apresentam situago de conflito, a TI Morro dos Cavalos é a que possul contexto mais complexo, Trata-se de ume rea tracicionalmente ocupada pelos Guarani, localizada as margens da BR-101 no municipio de Palhoca. A disputa envolve ONGs, a Funal, os Guarani, 2 ABA [3], 0 DNIT [4], empresérios, organizacdes de balrros do entorno e a imprensa catarinense, Apesar da demarcacdo de 1.988 hectares ter sido realizada em 2010, o terreno ainda ‘do foi homologado. Em recente dossié, inttulado Terra Contestada, a midia divulgou documentos, relatérios e laudos técnicos que apontam irregularidades no processo de demarcacao fe contestam a ocupacdo tradicional Guarani (DIARIO CATARINENSE, 2015). A versio apresentada ‘do oferece voz aos atuals habitantes do Marro dos Cavalos e descansidera os estudos histéricas antropolégicos que discutem as redes de sociabilidade e parentesco, os movimentos migratérios circulares, e as concepgBes mitolégicas e fronteiricas dos Guarani. (BRIGHENTI, 2012; NOELLI, 1999-2000; NOELLI, 1993). Questées relacionadas a mobilidade também so usadas para hitpstiwmw nucleadaconnecimento.com briistarallerras-indigenae-e-etnoarqueclagia sno 2010312021 Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina: Desatios Contempordineos descaracterizar a ocupagéo tradicional na TI Aracai, enquanto no norte do Estado as Ts Tarumé, Morro Alto, Pirai e Pindoty, enfrentam resisténcia da Aspi [5] para serem regularizadas. {As comunidades Kaingang esto distribuidas em cinco Tis e uma reserva. As Tis Toldo Chimbangue, Palmas, Pinhal e Xapecé esto regularizadas, a Aldeia Kondé, os Toldos Imou & Pinhal, ¢ a uma drea adjacente a TI Xapecé (Pinhalzinho-Canhado) apresentam pendéncias, seja por conta de demarcagio, homolagagéo ou desintrusio (Funai). © caso mais éelicado € vivenciado pela comunidade localizada no municipio de Fraiburgo, que sequer possui terras identificadas (BRIGHENTI, 2012). Todos estes terrtérios vém sendo historicamente contestados por segmentos da sociedade nao indigena, sendo que boa parte das TIs foi parciaimente espoliada por maceireiras ou teve terras llegalmente vendidas a pequenos agricultores. Lino (2013) ressalta que fem sua maioria, as Ts do oeste catarinense so impréprias para a producdo agricola, estéo muito desmatadas e seus rios esto poluides, ou seja, as dificuldades para a sobrevivéncia 2 partir dos recursos préprios & desafiadora, Os Xokleng em Santa Catarina habitam duas Tis: a Tbirama Lakléno, localizada entre os municipios de José Boiteux, Vitor Meireles, Or. Pedrinhe e Itaidpolis; e a TI Rio dos Pardos, localizada no municipio de Porto Unido. Ambas esto regularizadas, mas hé demandas para 0 aumento das terras na TI Ibirama Laklano em processo, Habitantes da TI Tbirama Lakléno atualmente desenvolvem projeto colaborative com a arquedlog2 Juliana Salles Machado, De acordo com artigo publicado em 2013, Machado relata que alguns Xokleng que realizavam o curso de Licenciatura Intercultural Inaigena do Sul de Mata Atlantica na Universidade Federal de Santa Catarina, tivera como parte de sua atividade curricular aulas de arqueologia. A disciplina chamou especial atengéo dos Xokleng por debater questdes relativas & Identificagao da cultura material, pela possibllidade de discutir 0 passado Xokleng na academia e pelo desenvolvimento de uma pesquisa arqueolégica sobre seu passedo neste territério. Um projeto fol elaborado a partir das abordagens da arqueologla colaborativa, com intengao de tenvolver 0 coletivo Xokleng na construgio dos temas de pesquisa, na aplicaco pratica (cronograma, métodos e técnicas) e na interpretagdo dos cados arqueolégicos. Conforme argumenta a autora, os indigenas tém buscado parcerias a fim de validar seu conhecimento tradicional perante termos clentificos. Isto se deve, em grande parte, & dificuldade que estes, ‘grupos enfrentam na manutencdo de seu territério tradicional (MACHADO, 2013). CONSIDERAGOES FINAIS O levantamento das Tis de Santa Caterina proporcionou uma reflexéo sobre sua distribuicéo geogréfica. Como exposto no contexto erqueoligico, todas as regiées do Estado foram ocupadas Por povos indigenas no passado. Contudo, percebe-se que nem todas as regiGes atualmente ossuem Tis. A regiéo na qual desenvolvo pesquisa, no planalto sul de Santa Catarina, é uma destas, Apesar de existirem dados arqueolégicos que evidenciam claramente uma ocupacao pré- colonial pelos povos Jé meridionais, 2 continuidade histérica destes povos no transcorrer do periodo colonial no foi suficientemente explorada para que possamos, neste momento, compreender a auséncia de comunidades indigenas na regio. Poderia se supor que migracdes, doencas e ataques dos brancos, com consequentes perdas territoriais, seriam motivos para a configuracéo atual, mas tal interpretacdo seria demasiadamente leviana. Os dados histéricos que remetem a esta regio geralmente relatam a ocupacdo europela relacionada a fezendas de criacdo de gado e muares nas pastagens naturals, o caminho das tropas entre o Rio Grande do Sul e Séo Paulo e 2 ataques indigenas ocasionais. 0 conhecimento sobre o Brasil meridional muitas vezes fica restrito a poucas éreas, como o sertéo de Guarapuava, litoral catarinense, interior de So Paulo, norte do Rio Grande do Sul e outras microrregides, mas Isto ndo quer dizer que dreas vazias de informacdo fossem efetivamente desabitadas. Ademais, procurel expor as dificuldades relacionadas a questées territorials que as populacées Ingigenas enfrentam em Santa Catarina e como as abordagens desenvolvidas no selo da etnearqueologia podem cantribuir com suas reinvindicacées de manutenco, ampliacio e recuperaco de terras. Esta proposta pode ser muito mais promissora quando incorporada a ‘miltiplas linhas de evidéncias e valorizadas as distintas perspectivas epistemoldgicas. Neste sentido, 2 construgio de parcerias mals simétricas e baseadas no didlogo, come proposto pelas hitpstiwmw nucleadaconnecimento.com briistarallerras-indigenae-e-etnoarqueclagia eno 2010312021 Terra Indigenas e Etnoarqueolagia em Santa Catarina: Desatios Contempordineos arqueologias indigenas, permitem uma maior flexibilidade na pesquisa arqueolégica, expondo @ diversidade de ideias sabre o passado ¢ produzindo um discurso que néo necessariamente & homogéneo, mas certamente menos etnocéntrico © mais ético. E importante ressaltar que trabalhos inicialmente relacionados a demandas territoriais podem construir relacées entre arqueélogos e indigenas que sirvam de base para pesquisas mais, profundas sobre a histéria cultural de cada povo, além de fomentar o didlogo sobre conhecimento tradicional, a atualizagao de mitos e a revitalizacdo da meméria, promovendo @ consolidacéo de Identidades sociais e étnicas. Acredita-se que 0 engajamento em questdes territorials constitul um campo fértil para 0 desenvolvimento de pesquisas, um campo que val além do cardter clentifico, pols se compromete com interasses socials e politicos que permitem a construcéo de conhecimento para os povos Incigenas. A articulacdo destes interesses propicia um carter mais responsdvel perante populacées historicamente silenciadas, cria novos tipos de relagdes entre pesquisadores e comunidades locais, e promove praticas arqueolégicas mais inclusivas e conscientes de seu papel social. REFERENCIAS ARAUIO, A. G. M, Teoria e Método em Arqueologia Regional: Em estudo de Caso no Alto Paranapanema, Estado de So Paulo, 2001. 365 p. Tese de Doutorado, USP, Séo Paulo. BEBER, M. V. O sistema do assentamento dos grupos ceramistas do planalto sul brasileiro: 0 caso dda Tradigéo Taquera/Itararé. Tese (doutorado), UNISINOS, 2004 BRIGHENTI, C, A, Povos indigenas em Santa Catarina. In: NOTZOLD, A. L. V.; ROSA, H. A.; BRINGMANN, S. 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