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PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO E MEDITERRÂNEO

ESTUDOS APLICADOS E PRÁTICAS PROFISSIONAIS

Nome: Fábio Vinicius dos Reis Marques RA: 190982

ESTUDO DIRIGIDO
A) Orientações:

Realize a leitura do livro (e-book) disponível na Biblioteca do UNASP:

FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. Editora Contexto. Ebook Pearson. Disponível em:
https://middleware-bv.am4.com.br/SSO/unasp/9788572442510.

B) Responda as seguintes questões:

1. Como o autor define Arqueologia, quais foram os desafios enfrentados por essa ciência e como
ela tem alargado seu campo de ação na atualidade? (p. 9-18)

O autor define Arqueologia como a ciência que estuda, diretamente, a totalidade material que se
relacione com a vida humana, como parte de uma cultura total, sem limitações de caráter cronológico.
Talvez o maior desafio enfrentado pela Arqueologia foi ser reconhecida amplamente como ciência! E
não como uma mera técnica de campo ou área de especialização ou ainda área complementar da
história e qualquer outra ciência social.
Apesar de alguns pesquisadores terem limitado seu objeto de estudo aos restos materiais de
atividades exercidas no passado, a Arqueologia tem alargado seu campo de ação estudando a cultura
material e imaterial de qualquer época.

2. Quais as áreas de atuação da Arqueologia e como elas foram se desenvolvendo? (p. 23-25)

Segundo Funari (2003), primeiramente distingue-se a “Arqueologia dos Estados Unidos” da


“Arqueologia europeia”. A primeira, seria encarregada de estudar somente os vestígios dos nativos
(ameríndios) mortos a priori, mas no decorrer do século XX passou a tratar da própria sociedade euro-
americana e assim se desenvolveu a arqueologia histórica. A arqueologia americana era muito tolhida
pela antropologia que desde os primórdios de sua caraterização, consolidou-se como área composta
de linguística, etnologia e dedicada a observar a vida dos ameríndios em tempo presente. Na Europa,
a arqueologia surgiu derivada da filosofia e da história. O foco era estudar os vestígios materiais da
civilização ocidental. Logo no início do século XIX, surge a arqueologia clássica, voltada ao estudo das
civilizações grega e romana da Antiguidade. Este nome advém dos cursos de estudos clássicos
centrados em línguas e literaturas clássicas que continham em si disciplinas como história antiga,
história da arte antiga, estudo das moedas, epigrafia, entre outras. Para estudar as civilizações
precursoras das ditas clássicas, surgiram as arqueologias egípcia, bíblica e mesopotâmica. Estas,
também foram implementadas nos Estados Unidos. Ainda sobre o século XIX na Europa, sabe-se que
foi um período de grande afirmação dos estados nacionais e ideologias nacionalistas, e esse momento
se refletiu no que chamamos de arqueologia medial europeia, que era voltada a estudar os primórdios
das nacionalidades.
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Com o avanço de teorias de tempos mais longos propostos por Charles Darwin e também os estudos
dos períodos geológicos em meados do século XIX, despertou-se o interesse em estudar as origens de
modo geral e nesse ambiente surgiu a arqueologia pré-histórica. As duas tradições arqueológicas,
europeia e norte-americana sempre tiveram suas diferenças, mas de certa forma as duas mutuamente
se influenciaram e ambas agregaram conhecimento e tiveram grande impacto na constituição da
arqueologia da América Latina e de outros lugares de modo geral. Além do livro em questão, temos
nos dias atuais uma gama enorme de áreas novas que a arqueologia tem se desenvolvido.

3. Como se dá o trabalho do arqueólogo? (p. 29-32)

Primeiramente com acesso a informações. Estas podem ser obtidas através de documentos antigos,
testemunhos de pessoas, fotos, pinturas ou qualquer outro tipo de meio que traga o conhecimento
sobre possíveis locais de ocupações antigas. Em posse dessas informações, averígua-se a possibilidade
de se fazer um reconhecimento do terreno através de uma prospecção. Achando-se conveniente,
determina-se a região a ser escavada. Após esse processo, há de lembrar também que em meio a esses
processos existe a burocracia de cada região, e então, inicia-se o trabalho de campo – a escavação
propriamente dita. Para isto, utilizam-se pás, picaretas, colher-de-pedreiro, pincéis, baldes, peneiras,
cordas, fitas métricas, cadernetas para notas de campo, câmaras fotográficas, entre outros.
O arqueólogo focará primeiramente em definir os estratos, pois cada um representa uma ação
humana. Os estratos podem ser definidos por uma ação natural ou pela composição de material
correspondente à atividade humana. O arqueólogo deve registrar os artefatos encontrados através de
anotações, desenhos de perfil estratigráfico e de formas que ele tenha facilidade em entender e
reconstruir o que está na seção estratigráfica. Por meio da leitura do registro arqueológico, deve-se
chegar à reconstrução das atividades e ações que levaram ao estado atual do material encontrado.

4. Como o arqueólogo interpreta os artefatos e seu contexto cultural? (p. 32-40)

Os artefatos são produtos feitos pelo homem, sendo assim, apresentam pelo menos duas
funcionalidades: uma utilização prática (função primária) e um simbolismo (função secundária). Por
exemplo, a bacia de bronze que os hebreus fizeram para utilização no Tabernáculo (Êxodo 30.17-21).
Esta tinha a função primária de armazenar água para que Arão e seus filhos lavassem as mãos e pés,
mas não era uma simples ação, era um rito de purificação que caso não fizessem, poderiam morrer.
Tudo isto, colabora para a interpretação do arqueólogo, que para entender o valor do utensílio para
aquele povo, também estuda concomitantemente os outros povos vizinhos com seus hábitos e
crenças, além da própria tecnologia da época, no que diz respeito a fundição de artefatos com
materiais diferentes. Os artefatos são interpretados por semelhanças e diferenças com relação a
outros e deve-se observar sua distribuição em diversos lugares, bem como suas mudanças com o
decorrer do tempo – isto demonstra avanço tecnológico e necessidades novas ou melhor supridas.

5. Apresente e explique as principais teorias arqueológicas: (p. 48- 53)

- O modelo histórico-cultural
É a teoria mais difundida. Sua base parte do pressuposto que cada nação é composta de um povo,
um território delimitado e uma cultura, ou seja, as nações são formadas por um grupo definido
biologicamente (etnia) em um espaço geográfico específico, possuindo tradições e língua específica;
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assim formou-se o conceito de cultura arqueológica. Essa seria um conjunto de


artefatos semelhantes, em época específica, que representa um povo, com uma cultura que ocupava
um espaço demarcado.
O modelo histórico-cultural parte da suposição de que as pessoas compartilham de forma
homogênea, os traços culturais e que as tradições passam de geração a geração. Todos os indivíduos
de um referido grupo compartilhariam as mesmas idéias e a mesma cultura material. Esse modelo,
ainda que tenha sofrido críticas por suas generalizações da realidade, continua a ser amplamente
utilizado em arqueologia.

- A arqueologia processual
Esta teoria iniciou com o slogan: “a arqueologia é antropologia ou não é nada” e teve seu principal
defensor e difusor o arqueólogo norte-americano Lewis Binford. Por essa visão, entende-se que a
história estaria em busca de novos eventos e das culturas singulares, enquanto a antropologia
americana ressaltava que haveria regularidades no comportamento humano. Então o foco era buscar
elementos universais de comportamento humano, que não se limitariam a um ou outro povo. Isto foi
uma contraposição direta do caráter histórico da arqueologia histórico-cultural, pois pensando-se
desta maneira, pouco importância teriam as características históricas específicas dos povos, ou seja,
independente do lugar ou história vivida por uma sociedade, todos os homens sempre procuram ao
longo da história os mesmos objetivos, que seriam maximizar os resultados e minimizar os custos. A
arqueologia processual continua bastante difundida, mas em menor grau nos meios acadêmicos que
o modelo histórico-cultural.

- Críticas e novas propostas


A partir da década de 1980, com o crescimento do pós-modernismo e os debates sobre a verdade
científica, o processualismo foi amplamente criticado arguindo-se que, esta idéia refletia apenas uma
visão capitalista do passado, privilegiando uma interpretação materialista que desvalorizava as
diversidades culturais, como se todos os homens sempre agissem do mesmo jeito em todo lugar.
Em 1987, os arqueólogos britânicos Michael Shanks e Christopher Tilley publicaram a Re-
Constructing Archaeology, e esta publicação foi um marco no processo de reconstrução da arqueologia
sob uma nova dinâmica, criticaram-se tanto o modelo histórico-cultural quanto o processual. Aquele
foi criticado por considerar de modo ingênuo que todas as pessoas compartilhavam os mesmos
valores, em determinada sociedade e que cada sociedade se distingue das outras por esses mesmo
valores. Concluíram que é o oposto, as sociedades são distintas e no interior de cada uma há grande
variação – podemos ver isso claramente na pluralidade brasileira e na divergência de opinião política
que temos vivido nesses últimos cinco ou seis anos.
A nova proposta, a arqueologia pós-processual, inseriu a disciplina na sociedade ao levar em
consideração os interesses e inserções sociais da arqueologia e dos arqueólogos, no passado e no
presente. Por isso, também é conhecida como, contextual, pois toma por base o contesto histórico e
social da produção de conhecimento, com a subjetividade e comprometimento do arqueólogo com os
grupos sociais. Desta proposta derivam, por exemplo, a arqueologia feminista (ligada ao movimento
feminista) e a arqueologia da etnicidade (preocupada com os movimentos de afirmação étnica e
racial).
Nesse contexto surgiu o Congresso Mundial de Arqueologia, em 1986, que congregou estudiosos,
políticos e grupos sociais com interesses particulares que somaram sobre o ideal da arqueologia, até
mesmo o significado do nome “arque”, passando a entender que significa “poder” e a partir disso, na
década de 1990, esse comprometimento público da arqueologia corroborou para que surgisse a
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arqueologia pública (entendida como a pletora de implicações públicas da disciplina, do


cuidado pelo patrimônio à defesa dos direitos humanos).
Por fim, conclui-se que as diferentes teorias contribuem de modo benéfico e fortalecem as
características da arqueologia na atualidade, mesmo levando-se em conta às contradições entre elas.

6. Apresente e explique as etapas do trabalho arqueológico: (p. 56-61)

Primeiramente, tem-se uma ideia sobre o tipo de trabalho a se fazer, por exemplo: obtenção de
artefatos, recuperação de restos materiais, entre outros. Tendo-se em mente o objetivo, o trabalho
pode ser dividido em quatro etapas: (1) trabalho de campo, (2) processamento em laboratório, (3)
estudo e (4) publicação.
Na primeira etapa, escolhe-se um sítio a ser trabalhado de acordo com os objetivos propostos. De
modo geral, nessa fase que ocorre a escavação, que envolve um trabalho com os estratos do solo, com
as estruturas pretéritas e artefatos móveis – tudo que é encontrado é catalogado nas fichas ou
cadernetas de campo. Logo após, seleciona-se o material a ser transportado ao laboratório. Nessa fase,
todo o material é devidamente cadastrado e classificado para que se mantenha a relação do mesmo
com o sítio arqueológico, assim são anotados os dados contextuais, físicos e bibliográficos de cada
artefato; nesta etapa também cada peça recebe um tratamento adequado para melhor conservação.
O estudo do material pode incluir: a comparação dos registros do sítio escavado com os registros
oriundos de outros sítios da mesma região ou cultura; uma série de procedimentos analíticos, como
datação e identificação da composição químico-mineralógica; além disso, o estudo pode envolver a
utilização de técnicas específicas de análise visando à delimitação de áreas de atividade. A última etapa
é a publicação em periódico, que deve conter um catálogo de artefatos, seções estratigráficas e uma
descrição geral da escavação.

7. Quais os procedimentos para o desenterramento dos artefatos? (p. 64-68)

Existem duas técnicas básicas para o desenterramento: trincheiras e sondagens. As trincheiras são
escavações estreitas e longas, como de um metro de largura por dez de comprimento, e se destinam
a descobrir a orientação geral das estruturas fixas a serem desenterradas, facilitando, devido à simetria
das plantas, a suposição da localização dos muros e principais estruturas. No caso das sondagens, são
escavações menores, como um quadrado de um metro por um metro, e permitem saber a
profundidade do sítio e, em caso de sucessivos pavimentos sobrepostos, escolher aquele que, por sua
densidade ou pelo interesse na atualidade, deve ser atingido pelo desenterramento.
As duas ferramentas mais comumente utilizadas para o desenterramento são a pá e a picareta, mas
existem aprimoramentos técnicos que tem acelerado o desenterramento, como a utilização de
explosivos e meios mecânicos de esburacamento do solo.

8. Explique a metodologia da estratigrafia e como foi o seu desenvolvimento: (p. 68-79)

Para se entender a estratigrafia, estudamos as leis de Steno ou também conhecidas como os três
princípios da estratigrafia. A saber: (1) Princípio da superposição – estabelece em uma sequência de
camadas (estratos), a mais antiga ocorre abaixo da mais nova, pois foi depositada primeiro e
posteriormente houve a deposição da mais nova. (2) Princípio da horizontalidade original – baseia-se
no fato que os sedimentos se depositam originalmente em camadas horizontais, portanto, se houver
algum tipo de alteração na forma da deposição, como inclinações, elas foram deformadas, após sua
deposição. (3) Princípio da continuidade originária (lateral) – entende que as camadas são
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horizontalmente contínuas, se estendendo até suas margens e afinando-se


lateralmente; caso tenha margens expostas, estas são resultados prováveis de erosão e/ou
intemperismo ou ainda movimentação de massa por força externa.
Os arqueólogos preocupados em datar o que encontravam nas escavações procuravam fazer a
datação relativa, já empregada na geologia. Então, Sir Flinders Petrie com base nessa preocupação
com a deposição arqueológica, formulou os princípios básicos da datação relativa dos artefatos
escavados. Então a estratificação arqueológica abrangeu não somente os estudos da Pré-história e a
datação relativa, bem como foi desenvolvido a datação pelo estabelecimento de níveis ou fases de
ocupação de cada terreno (os estratos agrupados em uma fase, eram considerados como pertencentes
a um povo dominador/específico). O que incentivou o avanço da estratigrafia arqueológica foram
principalmente os interesses de determinadas nações em justificar que seus antepassados tinham o
direito legal sobre o lugar e obviamente a supremacia racial, por isso, não era estranho os arqueólogos
serem oficiais militares.
Na década de 1930, o uso da estratigrafia vertical foi uma importante inovação na arqueologia.
Ainda se tinha o objetivo de entender/confirmar a sucessão de povos conquistados principalmente
pelas grandes potências desta época. Uma importante técnica que surgiu derivada da estratigrafia
vertical foi o método de escavação por quadrículas. Outro grande avanço na utilização da estratigrafia,
foi o sistema de notação de estratos, conhecido como matriz de Harris, que consiste em numerar, da
superfície para baixo, a ordem de deposição dos estratos.
De 1930 a 1960 a escavação estratigráfica vertical foi preponderante para época, pois atendia os
interesses principalmente políticos. Em 1950, Lamboglia pregava a eliminação dos testemunhos e a
escavação contínua de toda a superfície como um modo de poder melhor entender como se vivia em
determinado momento histórico. Vemos assim a contribuição da estratigrafia, que fez com as camadas
(estratos) fossem vistos e valorizados, assim, dependendo do sítio arqueológico e do interesse da
pesquisa há possibilidades diferentes de se escavar (vertical e horizontal) para se extrair a maior
quantidade de informações possíveis da camada.

9. Que relações de poder podem ser observadas na Arqueologia? (p. 101-108)

A arqueologia está relacionada intrinsicamente com a criação, defesa ou valorização histórico-


cultural de povos. Assim, através desta ciência, governos e grupos de poder de maneira geral, tentam
legitimar ações e ocupações territoriais com base naquilo que interpretam (por vezes
tendenciosamente) de achados arqueológicos. Há também aqueles que querem justificar o
predomínio sobre outros povos através da arqueologia. Há relatos que mostram como a referida
ciência foi utilizada com fins partidários, outros querendo justificar interesses de exploração
econômica em determinadas regiões – nos dias de hoje, temos assuntos controversos sobre artefatos
orientais em museus europeus, assunto delicado sobre geopolítica e quem realmente teria direito de
guarda dos artefatos.
A arqueologia é sempre cercada por fatores político-ideológicos, sociológicos, acadêmicos,
religiosos, entre outros. Esses fatores são motrizes de desentendimentos entre os seres humanos e
por vezes estopins de guerras. Embora inicialmente tenha sido amplamente utilizada para confirmar
ambições imperialistas de domínio, hoje tem-se mudado e tem servido para o pensamento crítico,
para a diminuição das desigualdades e para respeito à diversidade étnica e cultural. Hoje a arqueologia
de modo geral, tem contribuído para que possamos enxergar os diferentes de nós, sob a ótica dos
diferentes de nós.

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