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Rev. do Museu de A rqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 3: 87-101, 1999.

A TEORIA DE REDE E A ARQUEOLOGIA DA


HISTÓRIA MODERNA*

Charles E. Orser Jr.**

Introdução tre as várias que podem ser selecionadas ou desen­


volvidas, que tenha suas raízes mais profundas na
Em meu livro A Historical Archaeology ofthe análise de rede desenvolvida a partir da Antropo­
Modem World (Orser 1996), esbocei, de maneira logia e da Sociologia contemporâneas, assim como
geral, uma perspectiva de abordagem que buscava da Geografia. O propósito deste artigo é apresentar
dar forma a uma possível Arqueologia Histórica um esboço dessa abordagem, argumentando em fa­
global. O foco de meu argumento era que, por vol­ vor de suas possibilidades e potencialidades inter­
ta do ano 1500 d.C., agentes conscientes do colo­ pretativas. O uso de tal abordagem, como creio,
nialismo, do capitalismo, do eurocentrismo e da possibilitará aos estudiosos da Arqueologia His­
modernidade haviam criado uma série de elos com­ tórica coletar, avaliar e interpretar seus dados de
plexos e multidimensionais que uniam diversos novas e profícuas maneiras. Como parte de minha
povos ao redor do globo. Argumentava, de maneira argumentação, apresento, também, um breve exem­
sucinta, que se devia à interação desses diversos plo do Brasil do século XVII, mais especificamente
povos as várias manifestações históricas do mundo do reino escravo de Palmares.
moderno - mundo o qual habitamos. A idéia de
que homens e mulheres, no decurso de suas vidas
quotidianas, criam e mantêm determinadas cone­ Um princípio central e suas implicações
xões que tanto promovem a mudança quanto legi­
timam a continuidade cultural ao longo do tempo, Um pressuposto central da espécie de análise
era central para minha argumentação. que proponho repousa sobre a proposta de que
Defendi naquela ocasião, então, que a Arqueo­ homens e mulheres mantêm-se unidos socialmente
logia Histórica, para ter um lugar significativo na por meio de uma série de complexas inter-relações
produção acadêmica cotidiana, deveria levar em que podem ser modeladas como uma teia. Esta
consideração a questão das interligações globais, compreensão da sociedade humana tem uma lon­
fornecendo estudos empíricos que demonstrassem a ga genealogia no pensamento antropológico. Por
origem e os desenvolvimentos ulteriores da globa­ exemplo, no início do século XX, o cientista social
lização, da modernização e da expansão colonialis­ Emile Durkheim (1915: 426) propôs que as unida­
ta. Ainda acredito na validade essencial de meu pro­ des sociais, usualmente identificadas pelos analis­
grama geral de pesquisa (Orser 1998c, a ser publi­ tas como sendo estreitamente limitadas, ou como
cado), mas, tendo então esboçado apenas uma abor­ entidades isoladas, eram, na verdade, unidades
dagem geral dele, é agora apropriado desenvolver amplas e de longo alcance. Como ele mesmo afir­
uma estrutura concreta que guie a espécie de estu­ mou: “Não existe pessoa ou estado que não seja parte
dos arqueológicos que eu defendo. Acredito que de outra sociedade, mais ou menos ilimitada, que
meus objetivos de pesquisa podem lograr melho­ abarque todas as pessoas e todos os estados com
res resultados ao optar-se por uma abordagem, en­ os quais ela inicialmente tomou contato, seja dire­
ta ou indiretamente” O tema da interligação foi
posteriormente adotado tanto pelo antropólogo
(*) Traduzido por Fábio Adriano Hering e revisado por britânico A. R. Radcliffe-Brown (1940) quanto
Pedro Paulo A. Funari. pelo antropólogo americano Alexander Lesser
(**) Antropologia, Universidade Estadual de Illinois, EUA. (1961). Ambos seguiram as idéias de Durkheim,

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centrando suas atenções na noção de rede social. na Arqueologia Histórica. Os arqueológos que es­
Radcliffe-Brown (1940: 3) escreveu que todo indi­ tudam o colonialismo posterior a Colombo têm
víduo era parte de “uma imensa rede de relações incorporado paradigmas culturalistas graças à apa­
sociais, na qual estavam envolvidas várias outras rente capacidade que tais paradigmas têm de ex­
pessoas”, e Lesser (1961: 42) argumentou que os plicar a transferência de uma cultura de um lugar
grupos humanos estavam “inextrincavelmente en­ para outro. De acordo com essa perspectiva, James
volvidos com outros agregados, próximos e distan­ Deetz, um reconhecido profissional da área, tem
tes, em associações que se assemelham a redes ou concedido a essa perspectiva um lugar de proemi-
teias”. Ao longo desse período, outros cientistas so­ nência no aparato interpretativo da Arqueologia
ciais adotaram o conceito de teia social para desen­ Histórica. Conseqüentemente, para ele, uma “pai­
volver uma explícita “análise de rede social” Na sagem cultural” é “aquela parte do terreno que é
Antropologia, J. A. Bames (1954) e J. C. Mitchell modificada de acordo com um grupo de planos
(1974) foram pioneiros no desenvolvimento de tais culturais” (Deetz 1990: 2). Dentro dessa compreen­
abordagens, e, hoje, um campo francamente aberto são, paisagens construídas pelo homem parecem
à análise de rede social existe tanto na Antropologia ser como são por causa da cultura. As pessoas dão
quanto na Sociologia (Wasserman e Faust 1994). forma a suas paisagens materiais de acordo com o
Mais recentemente, o antropólogo Michael Carri- que as toma confortáveis para elas. Em situações
thers (1992:11) tem usado o termo mutualismo para coloniais, então, a transferência da cultura, de uma
se referir à idéia de que as relações sociais são “o parte do mundo para outra, tem sido interpretada,
material básico da vida humana” literalmente, a partir de uma perspectiva que pro­
Seguindo a trilha aberta pelo estudo pioneiro põe que: “Na extremidade meridional do continen­
de Bames (1954), no qual esse autor estuda as re­ te africano, tem-se um pequeno pedaço da Inglater­
des sociais criadas e em atividade em uma peque­ ra” (Deetz 1990: 1). Dado que os homens e as mu­
na vila pesqueira norueguesa, um número de pes­ lheres que viajam pelo globo carregam consigo
quisadores refinou e ampliou a idéia de rede soci­ suas culturas, tem sentido o fato de que tais pesso­
al, tentando descobrir: como redes operam; como as construirão meio-ambientes que se encaixem
redes são construídas; como homens e mulheres - com seus modelos cognitivos, de acordo com o
assim como outros grupos sociais coletivos - pro­ que elas compreendem como certo e errado. Des­
duzem e reproduzem os elos que os unem. Pesqui­ sa maneira, a perspectiva culturalista explica, a
sas posteriores têm mostrado, por exemplo, que partir da comparação com uma rede, por que exis­
tais ligações podem incluir uma ampla variedade tem estruturas similares em diferentes partes do
de fatores: laços de família, lealdades e percep­ mundo. O Fort Orange (Forte Orange), no estado
ções de classe, percepcções ambientais, estratégi­ de Nova Iorque, por exemplo, assemelha-se à For­
as econômicas, relações de poder e percepções cog­ taleza de Santa Cruz do Itamaracá, no nordeste do
nitivas (Knole e Kuklinski 1982:15; Schweizer 1997; Brasil, pois foi a Coroa holandesa que construiu
Wolf 1982, 1984). ambas as fortificações. Os construtores e engenheiros
Uma das implicações de se adotar uma pers­ de ambos os fortes, obviamente, erigiram estrutu­
pectiva de rede é que ela permite ao investigador ras que, de acordo com suas compreensões cultu­
atenuar os misteriosos efeitos da cultura. Em um rais, representavam apropriadamente um lugar for­
ponto de vista puramente “culturalista”, os indiví­ tificado. Outra maneira de dizer isso é que os cons­
duos fazem coisas por causa de sua cultura. A cul­ trutores dos fortes, com efeito, viviam sob uma
tura parece flutuar por sobre eles como uma nu­ influência difusa de sua cultura; um fato que os
vem etérea, invisível ainda que presente, ineluta- objetos materiais por eles construídos parecem re­
velmente exercendo seu poder por sobre tudo o que fletir extremamente bem.
as pessoas fazem. A perspectiva culturalista ajuda A concepção culturalista da paisagem cultu­
a explicar, por exemplo, como os colonizadores po­ ral parece fazer bastante sentido e muitos estudio­
dem mover-se de uma parte a outra do mundo e criar sos da Arqueologia Histórica têm usado esse mo­
uma imagem de sua terra natal, em um diferente delo em suas pesquisas {vide, por exemplo, os ar­
meio ambiente. tigos em Kelso e Most 1990, e Yamin e Metheny
Explicações culturalistas têm sido particular­ 1996). Muitos arqueólogos, treinados na tradição
mente dominantes na Arqueologia, especialmente antropológica, sentem-se à vontade em usar a cul-

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tura como a explicação final para compreender as isto “simbolizava a terra natal da Alemanha, da
maneiras através das quais o mundo funciona. O qual eles foram forçados a fugir” (De Cunzo et al.
meio ambiente construído, como quase todo o res­ 1996:111). Enquanto que nenhum arqueólogo, des­
to, reflete a cultura. Essa conclusão é, talvez, em considerando o interesse particular de cada um, é
alguma medida, adequada, mas será suficiente? desatento èm relação à mudança diacrônica, a pers­
Mesmo Deetz (1991: 8) disse que a Arqueologia pectiva culturalista, por outra parte, toma possí­
Histórica deveria com freqüência refutar a Espada vel, e até fácil, aceitar algum grau de sincronicida-
de Occam,1querendo dizer, é claro, que a explica­ de. Os alemães criaram uma pequena Alemanha na
ção mais simples pode não ser sempre a melhor. Tal Pennsylvania, como que parada no tempo. Esta
é o caso com a explicação culturalista. afirmação é, em alguma medida, verdadeira. Entre­
A opção culturalista tem, sem dúvida, encon­ tanto, de maneira geral, é difícil modelar interna­
trado uma audiência atenta entre vários profissio­ mente a mudança cultural de uma paisagem, quan­
nais da Arqueologia Histórica, mas ela apresenta do ela, como um todo, é vista como uma criação cul­
dois problemas que não podem ser ignorados. Em tural.
primeiro lugar, tal opção incorpora uma vaga no­ Uma abordagem de rede rejeita de maneira
ção de cultura, dando-lhe poder explicativo. Mui­ franca a posição culturalista e propõe, em seu lugar,
tos arqueólogos são, sem dúvida, acadêmicos cuida­ que paisagens sejam compreendidas como criações
dosos, mas a opção culturalista toma muito fácil conscientes, baseadas não estritamente na cultura
concluir uma investigação de maneira simplista, mas nas interações e associações de agentes mas­
por meio de uma “explicação” culturalista do tipo: culinos e femininos. As associações e relações de
“Sua cultura fez com que eles fizessem isso”. Em um indivíduo são criações conscientes que estão
outras palavras, o ponto de vista culturalista propõe livres para mudar de acordo com a situação. Em se
explicações e interpretações por demais simplistas tratando de um lugar físico, material, ao invés de
para dar conta, por exemplo, de situações históri­ uma paisagem cultural - um espaço criado pelos
cas extremamente complexas. A apresentação de caprichos da cultura - , a abordagem de rede en­
interpretações simplistas não contribui para a pro­ tende que as criações físicas, materiais, requerem,
fissão arqueológica, especialmente em uma época para que se as compreenda, um íntimo conheci­
na qual os financiamentos para projetos arqueoló­ mento do tempo e do espaço. Para que tal conhe­
gicos correm o risco de serem reduzidos ou de de­ cimento seja construído, deve-se levar em consi­
saparecerem por completo. A segunda deficiência deração duas dimensões interconexas, as estrutu­
da perspectiva culturalista é que ela tende a des­ ras sócio-históricas e sócio-ambientais. Essas es­
prezar ou mesmo esconder relações sociais truturas são compostas de relações “ser humano
mutáveis, históricas, criando nesse vazio pinturas para com ser humano” e “ser humano para com
aparentemente sincrónicas do passado. Dessa ma­ meio ambiente”. Se quisermos, podemos nos refe­
neira, um culturalista pode pretender que uma pai­ rir a essas estruturas como culturais, mas apenas
sagem construída pelo homem represente um dis­ de uma forma denominativa; o uso de “cultura” nes­
tintivo cultural, enquanto, de fato, tal paisagem re­ se exemplo, entretanto, não tem qualquer finali­
pousa por muitos anos como que congelada no tem­ dade e potencialidade explicativas.
po. Da mesma maneira, quando os membros da
sociedade utópica Harmony Society criaram sua
“paisagem cultural” em Economy, Pennsylvania, Análises de rede no passado da Arqueologia

O interesse nos usos que o passado fez do es­


(1) A Espada de Occam é um princípio lógico, freqüente­ paço não é novo na Arqueologia. Começando com
mente denominado de princípio da parcimônia, atribuído os estudos de assentamentos pioneiros de Willey
a Guilherme de Occam. Tal princípio sustenta que, ao se (1953), no Peru, os arqueólogos têm considerado
analisar uma questão, não se deve fazer mais pressuposi­ e avaliado onde antigas pessoas construíram seus
ções do que o mínimo necessário. Desde a Idade Média, esse
sítios e monumentos; muitos arqueólogos, nesse
princípio tem desempenhado um papel de destaque, ser­
vindo a teóricos e lógicos que buscam eliminar elementos sentido, têm desenvolvido análises espaciais ou
fictícios ou desnecessários de suas explicações e de suas locacionais, na tentativa de explicar antigas distri­
argumentações (n.t.). buições de sítios (vide, por exemplo, Clarke 1977a;

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Hodder e Orton 1976; Kent 1984; Zimmerman 1977). O uso sensivelmente datado que Clarke faz
Tem emergido desses estudos, assim como daque­ das estruturas totalizadoras dos níveis micro (den­
les desenvolvidos por acadêmicos de outros cam­ tro das estruturas) e macro (entre sítios) pode ser
pos, a noção de que o lugar onde as coisas não desculpado, mas sua compreensão básica é, de for­
estão é tão importante como aquele onde elas estão. ma geral, coerente com a abordagem de rede que
Embora os arqueólogos, necessariamente, centrem defendo. Clarke explicitamente compreendeu a
suas escavações nos lugares singulares onde as diferença entre “Arquelogia espacial” - como uma
atividades do passado ocorreram - onde as coisas tentativa de compreender a relevância de lugares
estão - eles também compreendem a importância e espaços - e uma Arqueologia de assentamento -
do lugar onde as coisas não estão. Um exemplo compreendida como uma Arqueologia que estuda
clássico pode ser encontrado na Esfera de Interação lugares com vida humana. Uma Arqueologia que
Hopewell, um modelo que propõe que os indiví­ busque compreender as redes do passado tem mui­
duos das comunidades pré-históricas do Meio- tas similaridades com a Arqueologia espacial de
Oeste dos Estados Unidos (de aproximadamente Clarke, com a exceção de que a minha abordagem
100 a.C. a 300-350 d.C.) desenvolveram atividades dá muito mais ênfase à teoria social de rede, um
econômicas em uma série de extensas redes. As assunto não tão bem formulado vinte anos atrás
redes em operação incluíam manifestações intra- como é hoje. Embora Clarke não tenha feito ne­
locais e interlocais, intra-regionais e inter-regio- nhum uso detalhado da teoria de rede, mesmo
nais, e mesmo manifestações trans-regionais, que, quando ela foi então formulada (Haggett e Chorley
eventualmente, ligavam sítios separados entre si 1969), ele, entretanto, tinha um surpreendente in­
por centenas de quilômetros (Struever 1964; Strue- teresse em compreender as redes na pesquisa ar­
ver e Houart 1972). Esse modelo foi criado para queológica (Clarke 1968: 469-72).
dar uma explicação para a presença de artefatos Exemplos que mostrem a importância das re­
similares, que foram encontrados separados entre des sociais nas análises da Arqueologia Histórica
si por grandes distâncias. Entretanto, os criadores não são predominantes, mas eles de fato existem
desse modelo tinham uma compreensão intuitiva (Orser 1998b). Dois estudos derivados de pesqui­
de que tais objetos se moviam através do espaço sas recentes em Annapolis, Maryland, demonstram
com o propósito de que fossem depositados no isso (Shackel, Mullins e Warner 1998). No pri­
lugar onde eles foram encontrados. Em outras pa­ meiro exemplo, Mark Warner (1998) investiga
lavras, com o propósito de alcançar seu lugar de duas casas habitadas por famílias afro-americanas,
repouso definitivo, os artefatos tinham, necessari­ no final do século XIX e começo do XX. Exami­
amente, de ter ocupado uma série de diferentes nando a posição social e sua identificação com os
posições ao longo de sua rota. artefatos - um tópico recorrente em Arqueologia
A necessidade que os arqueólogos têm de en­ Histórica - Warner observa que as comunidades
tender as interligações entre espaço e lugar foi afro-americanas não representavam uma comuni­
percebida, de maneira explícita, alguns anos atrás, dade monolítica. Ao contrário, os moradores da
por David Clarke (1977b), que descreveu o que comunidade pareciam fazer escolhas conscientes
ele denominou “Arqueologia espacial” Como ele a partir do que lhes era cobrado socialmente e do
a definiu, Arqueologia espacial é: que era significativo de acordo com a situação. Os
“(...) a retirada de informação das rela­ indivíduos, nessa perspectiva, tomam certas atitu­
ções arqueológicas espaciais e o estudo das des dentro de suas comunidades, não porque suas
conseqüências espaciais dos padrões de ativi­ culturas façam-nos agir dessa maneira, mas por­
dade dos antigos hominídios dentro e entre que algumas oportunidades determinadas pela si­
estruturas, assim como as articulações de tais tuação se apresentaram a eles naquele momento.
informações, dentro dos sítios, dos sistemas Warner usa o consumo de chá como um exemplo,
de sítio e dos seus meio ambientes: o estudo mostrando como alguns afro-americanos, de ma­
do fluxo e integração de atividades dentro e neira consciente, assimilaram o hábito de beber chá
entre as estruturas e os espaços de recurso a como uma estratégia para produzir benefícios so­
partir de uma escala micro para escalas semi ciais diretos. Homens e mulheres bebiam chá, não
micro e macro de agregação” (Clarke 1977: 9; porque beber chá fosse alguma espécie de marca
ênfase do autor). cultural, mas porque seu consumo promovia e man­

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tinha certos relacionamentos; relacionamentos que Situando as análises de


os consumidores de chá consideravam de grande rede no pensamento arqueológico
valia em situações específicas. O chá, em essência,
então, ajudava a criar e manter certas ligações so­ Logicamente, para que a teoria de rede se tor­
ciais pretendidas. Na Annapolis histórica, então, ne uma ferramenta útil para a interpretação arqueo­
existiram diferentes redes de consumidores de chá. lógica, os arqueólogos devem desenvolver quadros
Uma das implicações dessa descoberta é que a pre­ interpretativos que tenham alguma relevância ar­
sença de chicaras e pires de chá nos sítios, associa­ queológica direta. Embora tentativas anteriores, por
dos com os afro-americanos, serviu não para indi­ parte dos estudiosos da Pré-História, de adotar abor­
car a operação de alguma norma cultural, mas uma dagens de rede em suas pesquisas, tenham sido de­
possível estratégia social de homens e mulheres senvolvidas amplamente a partir de modelos oriun­
reais que viveram naquela época e naquele lugar. dos da Geografia, o uso do registro escrito e do tes­
Em outro estudo, Christopher Matthews (1998) temunho oral pelos estudiosos da Arqueologia His­
mostra que um dos estilos arquitetônicos mais im­ tórica tem tornado possível aplicar algumas das
portantes da elite de Annapolis eram aqueles ins­ abordagens da teoria de rede social para os estudos
pirados por Andrea Palladio. Matthews argumen­ da História posterior a Colombo.
ta que, levando-se em consideração o fato de ele As relações em atividade em um local sócio-
ter exercido um importante papel como criador, histórico - englobando tanto relações “ser huma­
promovendo significativas intervenções no meio- no para com ser humano” quanto relações “ser hu­
ambiente da cidade de Chesapeake, devemos com­ mano para com meio ambiente” - pressupõem a
preender o homem Palladio antes de começarmos existência de redes. Redes são facilmente concei­
a compreender seu estilo arquitetônico. Como parte tuadas como gráficos compostos de pontos conec­
dessa com preensão, devemos reconhecer que tados por linhas. Em uma análise de rede formal,
Palladio e outros arquitetos proeminentes projeta­ os pontos são denominados de “nós” ou “vértices”
ram construções que, em uma certa medida, eram e as linhas que os conectam são denominadas
idiossincráticas. Embora possamos supor que as “elos” ou “limites” (Haggett e Chorley 1969: 5;
construções fossem idiossincráticas de maneiras Wasserman e Faust 1994: 93). O trabalho do ar­
não muito culturalmente embaraçosas, é difícil ar­ queólogo é descobrir a natureza e a composição
gumentar que os arquitetos produziram constru­ dessas relações, aprender como elas foram expres­
ções simplesmente como produtos de sua cultura. sas em termos materiais, e compreender essas ex­
A arquitetura palladiana é claramente européia na pressões através do tempo. A primeira tarefa do
forma, mas o uso da perspectiva culturalista aqui, arqueólogo é desenvolver uma compreensão con­
como uma ferramenta explicativa, de fato é satisfa­ ceituai dessas espécies de relações, reconhecendo
tório? Ao contrário, parece muito mais interessan­ o significado de suas manifestações históricas, e
te e potencialmente muito mais esclarecedor argu­ aceitando que uma estrutura criada para um local
mentar que as construções projetadas pelos arqui­ sócio-histórico não tem uma aplicação universal.
tetos acadêmicos buscavam tanto simbolizar, cri­ Para a análise arqueológica, é importante lem­
ar e manter relações sociais entre pessoas, quanto brar que relações “ser humano para com ser huma­
criar fronteiras entre indivíduos (vide também no” assim como relações “ser humano para com
Leone 1995; Leone, Stabler e Burlaga 1998). Co­ meio ambiente” são, ao mesmo tempo, sociais e
mo objetos de grande dimensão que buscam co­ espaciais. E necessário também compreender que
municar mensagens complexas, as construções - muitas das relações que os arqueólogos estudam
e os criadores por detrás delas - são elementos in­ deverão, de alguma forma, incorporar a noção de
tegrais das redes sociais. Eles buscam criar uma poder. Esta compreensão é particularmente perti­
distância física e social entre homens e mulheres nente para os estudiosos da Arqueologia Histórica
reais. Em ambos os exemplos, então, uma inter­ pois as sociedades que eles estudam são, usualmen­
pretação culturalista tanto não fornecerá explica­ te, de natureza capitalista, ou, ao menos, têm algum
ções satisfatórias quanto não promoverá uma com­ envolvimento (voluntário ou involuntário) com o
preensão histórica. Creio que interpretações muito empreendimento capitalista.
mais interessantes e profícuas serão obtidas a partir As relações capitalistas, necessariamente, pres­
da adoção de uma explícita perspectiva de rede. supõem relações de poder. Embora possa ser mais

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fácil conceituar a ação das relações de poder entre tas em ação e mantidas dentro de uma complexa
indivíduos, podemos também observar, de nosso teia de interação.
posto avançado de observação no século XX - em Relações sociais, relações de poder e a cons­
vista da destruição de diversas comunidades de trução de ideologias são importantes tópicos ar­
seres vivos - que o poder é também exercido pelos queológicos, pois cada um deles sempre está asso­
seres humanos sobre comunidades animais e ve­ ciado a um lugar particular e a um certo tempo his­
getais (Mander 1996). Conseqüentemente, tanto tórico. Dada a natureza da pesquisa arqueológica,
em relações “ser humano para com ser humano” as manifestações históricas de tais relações podem
como “ser humano para com meio ambiente”, de­ ser avaliadas através do tempo. Porém, antes que
vemos aceitar a afirmação de Foucault de que “o possamos levar a termo tais estudos diacrônicos,
espaço é fundamental em qualquer exercício de devemos definir um método e uma terminologia
poder” (Rabinow 1984: 252). Onde existe espaço, para compreender as características sincrónicas das
particularmente em um contexto capitalista, exis­ próprias análises de rede. Tais análises de rede,
te também poder. Assim, a conduta própria do ca­ teoricamente modeladas, devem ter relações pro­
pitalismo é, necessariamente, tanto uma busca por fundas com as realidades sociais e históricas do
espaço quanto um empreendimento social e eco­ contexto a ser investigado.
nômico (Scott 1998; Sheppard e Barnes 1990). Como um primeiro passo, podemos dizer que
Ao se introduzir as relações de poder, surge, os lugares onde se dá expressão às ligações so­
necessariamente, a questão da ideologia. A ideolo­ ciais são “lugares”, enquanto que a distância entre
gia tem sido, e muito provavelmente continuará esses lugares são “espaços” Em linguagem de
sendo, um tópico acaloradamente debatido pelos rede, lugares são nós ou vértices, enquanto espaços
estudiosos. Para o propósito deste artigo - dado são elos ou limites. Lugares e espaços podem ser
que não é minha intenção levantar uma longa dis­ tanto entidades efetivas, físicas - jardins de palá­
cussão a respeito da ideologia - será suficiente cios, estradas, casas - como podem ser estruturas
utilizar a compreensão clássica de ideologia, como cognitivas - laços de família, associações de clu­
algo que serve tanto para representar de maneira be, e muitos outros. Em ambos os casos, os luga­
equivocada quanto para esconder as diversas rela­ res definidos pelo homem e os espaços “espacial­
ções entre homens e mulheres, compreendidos seja mente” representados, tem-se uma paisagem sócio-
individual ou coletivamente. Ao invés de consti­ física conscientemente criada. A espacialidade,
tuir uma força imutável exercida por uma classe conseqüentemente, não é um fenômeno que ocorre
sobre outra, os analistas mais sofisticados imagi­ naturalmente, ou um lugar onde uma cultura vive.
nam que as ideologias estão constantemente sen­ Pelo contrário, é uma “objetividade constituída,
do redefinidas, tanto de acordo com o contexto his­ uma realidade 'viva’” (Soja 1989: 79). A espaciali­
tórico quanto de acordo com a localização, pelos dade é, finalmente, “a respeito da ordenação das
reais atores históricos. Muitos acadêmicos, hoje, relações entre as pessoas”, em um espaço e em um
também aceitam que ideologias não são criadas lugar (Hillier e Hanson 1984: 2).
unicamente pelas elites sociais, preferindo, em con­ A espacialidade pode ser a expressão da ideo­
trapartida, argumentar que toda unidade social é logia impressa na superfície da terra, mostrando
livre para construir e promover suas próprias ideo­ que os humanos “não são tão conscientes de si mes­
logias. Dada esta realidade, é pertinente considerar mos quanto conscientes de si e para além de si”
as características e as conseqüências do choque de (Carrithers 1992: 60). O que isso significa é que a
ideologias dentro de uma sociedade. Para os estu­ construção das paisagens modernas é uma função
diosos da Arqueologia Histórica, esse choque, usu­ das redes de relação que as pessoas mantêm tanto
almente, ocorre dentro de uma sociedade capita­ entre si mesmas quanto com o meio ambiente que
lista, ou em situações onde o capitalismo está sen­ as circunda. Ao construir estas paisagens, homens
do introduzido e ativamente promovido, esteja sen­ e mulheres não são apenas agentes de sua cultura,
do aceito ou sofrendo resistência (Orser 1996:160- eles são conscientes de si e para além de si. Homens
78). Desta maneira, compreender o choque de ideo­ e mulheres criam relações sociais e ambientais,
logias historicamente construídas em contextos ca­ dentro de uma complexa série de redes interliga­
pitalistas, necessariamente incorpora algum conhe­ das, cada uma das quais com um significado histó­
cimento de como relações de poder são criadas, pos­ rico específico. Por isso, somada à idéia de que es­

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tradas antigas e vias de transporte eram “laços que coletar dados em extensas regiões, pois tal coleta
uniam” (Hassig 1991), podemos também dizer que tomaria vários anos de pesquisa. Como um exem­
ligações sociais representadas por estradas também plo, o estudo de Struever da Esfera de Interação
unem homens e mulheres entre si. Os laços soci­ Hopewell, citado acima, só foi possível depois de
ais e os elos físicos trabalham em conjunto. ter sido precedido por, pelo menos, duas décadas
de um sério trabalho arqueológico. Os arqueólogos
têm sempre deparado com problemas referentes a
Princípios básicos da análise de uma adequada coleta de dados e tal problema tem
rede para a Arqueologia Histórica sérias implicações para análise de rede, mesmo que
tal análise seja conduzida por antropólogos cultu­
Acadêmicos de várias disciplinas já há mui­ rais (Sanjek 1996: 397). O problema se toma mais
tos anos têm dirigido análises de rede, mas os ar­ grave quando os arqueólogos passam a pensar em
queólogos, em larga medida, têm relutado em se­ termos transregionais ou globais. O geógrafo Peter
guir os mesmos passos. Embora várias razões pos­ Haggett (1990: 28) atenua o problema quando ar­
sam ser relacionadas para explicar o desinteresse gumenta que o “problema colocado por qualquer
geral dos arqueólogos pela análise de rede - algu­ assunto que objetiva ser global é simples e imedia­
mas das quais seriam, possivelmente, puramente to: a superfície da terra é incomensuravelmente
pessoais - duas, ao menos, surgem imediatamente grande”
à mente. Em primeiro lugar, os arqueólogos que O interesse dos arqueólogos para com uma co­
estudam a Pré-História são usualmente relutantes, leta de informação adequada e com a aplicação de
freqüentemente por boas razões, em adotar méto­ modelos apropriados é, obviamente, importante de
dos de pesquisa e abordagens que tenham sido ori­ se considerar. Mas, embora essas questões jus­
ginalmente desenvolvidos para interpretar cenários tificadamente preocupem os pré-historiadores, elas
modernos. Muitos arqueólogos podem considerar não são de igual importância para o campo da Ar­
que as grandes distâncias temporais que usualmen­ queologia Histórica. A presença do registro escrito,
te separam o objeto de seu estudo do objeto do e de outras fontes de informação oral ou escrita,
modelo enfraqueça, de algum modo, sua apli­ toma a análise de rede consideravelmente mais in­
cabilidade. Por exemplo, alguns arqueólogos são teressante para os estudiosos da Arqueologia His­
relutantes em usar informações a respeito do siste­ tórica. A presença de documentação textual, que
ma ferroviário da Nova Inglaterra do século XIX pode incluir mapas, esboços, plantas e descrições
em seus estudos dos sistemas viários da porção oeste escritas e verbais, pode mesmo diminuir a neces­
da antiga América do Sul. Estabelecer a relevância sidade de se levar a termo levantamentos de cam­
dessa analogia pode ser extremamente difícil, e os po de larga escala. Todo estudioso da Arqueologia
pré-historiadores, logicamente, estão cientes dos Histórica sabe que o registro escrito não pode ser
problemas envolvidos nesse caso específico. De usado de maneira aerifica - mesmo em contextos
certa maneira, é essa compreensão que leva Clarke onde aspectos materiais são levados em conside­
(1977b: 28) a argumentar que “a Arqueologia deve ração. Entretanto, a maioria dos estudiosos con­
desenvolver seu próprio campo específico de teoria cordaria que tais materiais podem ser excelentes
espacial” articulando-se, então, com outras disci­ fontes de informação. Na realidade, a presença de
plinas no exame do uso do espaço. informação textual tem, freqüentemente, sido usa­
A segunda razão para que os Arqueólogos te­ da como uma característica definidora da Arqueo­
nham amplamente rejeitado a análise de rede em logia Histórica. Uma das grandes vantagens de se
suas pesquisas, pode ter suas origens em conside­ usar informação textual e verbal na Arqueologia
rações práticas relacionadas com a coleta de da­ Histórica é que, onde os pesquisadores têm usado
dos. Posto de maneira simples, a coleta de informa­ tais informações para construir modelos de ocu­
ção mais adequada é, na maioria das vezes, irreal, pação, elas fornecem, freqüentemente, correlações
ou mesmo impossível, quando se tem como preten­ ponto a ponto entre o modelo e a entidade arqueo­
so foco de estudo redes de larga escala (Gorenflo lógica em estudo. Mesmo em casos onde a associ­
e Bell 1991: 80). Os arqueólogos, não poucas vezes ação direta não ocorre, é possível, com freqüên­
deparando com prazos e financiamentos diminu­ cia, alguma confiança justificável na aplicabilidade
tos, não podem, habitualmente, dar-se ao luxo de do modelo, graças à similaridade, ao longo do tem­

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po, entre o modelo e a unidade de estudo. Desta Um modelo de rede e uma análise multiescalar
maneira, um modelo geográfico de uma ocupação caminham de mãos dadas. No decurso de suas vi­
do século XIX, em Maine, baseada em registros das cotidianas, homens e mulheres conduzem suas
escritos e levantamento de campo, pode ser aplica­ ações ao longo de um número de diferentes escalas
do em um estudo arqueológico de uma ocupação e dentro de um diverso número de redes. Para além
do mesmo século, em Massachusetts. do infinito número de escalas que podem existir
Sem dúvida, as vantagens proporcionadas pela em qualquer entidade social, indivíduos “compre­
presença de informação textual dá uma enorme po­ endem padrões, reconhecem homogeneidade, pla­
tencialidade à aplicação da análise de rede na Ar­ nejam seu futuro e operam na presença de escalas
queologia Histórica. Documentos, cuidadosamente específicas” (Marquardt 1992: 107; vide também
apreciados e avaliados, podem incrementar a vali­ Marquardt 1985). Uma “escala efetiva”, a partir da
dade e o poder de uma interpretação arqueológica, qual um padrão ou um significado pode ser discer­
compreendida em um contexto espacial. Para além nido, existe para cada decisão consciente feita por
desta simples preocupação de caráter prático, en­ um indivíduo (Crumley 1979: 166).
tretanto, a análise de rede na Arqueologia Históri­ Ao conduzir uma análise multiescalar aberta,
ca é mesmo mais relevante por fornecer uma fun­ o pesquisador parte de uma escala efetiva e busca
damentação empírica para questões que interes­ compreendê-la. Uma vez que tal análise seja satis­
sam hoje a muitos antropólogos e arqueólogos: fatoriamente completada, o conhecimento é supera­
“contextos estratigráficos, vozes múltiplas e pro­ do assim que o analista se move em direção a outra
cessos históricos” (Houseman 1997: 753). Neste escala. Este processo é repetido até que o investi­
sentido, a aplicação da análise de rede para a Ar­ gador esteja satisfeito de que todas as possibilida­
queologia, e particularmente para a Arqueologia des tenham sido exauridas. Assim, quando um in­
Histórica, é oportuna e relevante. vestigador se move de uma escala para outra, toma-
A análise de rede começa com a simples no­ se, com freqüência, claro que as entidades sociais
ção, citada acima, de que homens e mulheres criam sobre investigação mantêm suas conexões ao lon­
e mantêm relacionamentos. Tais redes de interação go do tempo e do espaço. Os estudiosos da Arqueo­
ou de associação existem porque indivíduos têm logia Histórica, ao examinarem o mundo modemo,
diversos relacionamentos. Estes relacionamentos devem compreender que os agentes do colonialis­
podem tomar a forma de conexões “verticais” e mo, do capitalismo, da globalização e do eurocen-
“horizontais” (Schweizer 1997: 740). Conexões trismo criam elos que trespassam várias escalas efe­
verticais são aquelas de caráter hierárquico, rela­ tivas, tanto sociais quanto físicas.
cionadas com unidades sociais de tamanho cada A análise de rede dá preponderância inicial
vez maior. Conexões horizontais, por outro lado, para pessoas, compreendendo-as como nós, e luga­
são aquelas relacionadas com a interligação entre res, compreendendo-os, respectivamente, como os
vários domínios dentro de uma unidade social. elos que conectam tais nós entre si. A análise de
É importante levar em consideração tanto os rede resultante, que indubitavelmente deve ser mul­
elos horizontais quanto os verticais, mas um inte­ tiescalar, pode ser usada para modelar relaciona­
resse em elos hierárquicos é de extrema pertinência mentos entre pessoas e pessoas, pessoas e lugares,
para um estudo de Arqueologia Histórica, pois tais lugares e lugares em dimensões tanto sincrônicas
conexões verticais conectam homens e mulheres a quanto diacrônicas.
uma série de redes, do mesmo tipo das que entra­ Vários conceitos-chave repousam no cerne de
ram em operação em 1492 (e que ainda operam): uma análise de rede formal. Em uma análise de rede
redes inter-regionais, extra-regionais e mesmo social, estes conceitos são, em uma ordem ascen­
transnacionais. Dada a natureza dessas conexões, dente: ator, elo de relacionai, díade, tríade, subgrupo,
os estudiosos da Arqueologia Histórica devem grupo, relação e rede social (Wasserman e Faust
adotar, em suas análises, uma abordagem multies- 1994: 17-20). Em uma análise arqueológica, mode­
calar. Uma perspectiva multiescalar é também ne­ lada a partir de uma análise de rede social, os con­
cessária para se examinar as conexões horizontais, ceitos analíticos devem ser: sítio, conector, díade,
pois que tais conexões conectam entre si elemen­ tríade, área, região, relação e rede (vide Tabela 1).
tos políticos, econômicos, sociais, comunicativos, Em uma análise de rede social, os atores são
dentre outros de um corpo social. indivíduos distintos ou unidades sociais que tra-

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atores ou sítios. Em uma análise de rede, o laço


Tabela 1
entre as duas entidades é percebida como uma pro­
Conceitos centrais da análise de rede
priedade integral do par ao invés de ser percebida
Social Arqueológica como uma característica de cada elemento indivi­
dual (Wasserman e Faust 1994: 18). Desta manei­
ator sítio ra, o laço entre pai e filho é uma propriedade de
ambos os indivíduos, a um só tempo, assim como
elo relacionai conector
uma estrada que liga dois sítios origina-se em am­
díade díade bos os lugares a uma só vez. Em uma análise soci­
al, é possível, entretanto, ter “díades assimétricas”
tríade tríade (Wasserman e Faust 1994: 510-1), onde um rela­
cionamento é escolhido apenas por um dos indiví­
subgrupo área
duos. Como um exemplo, um filho que se sente
grupo região abandonado pode rejeitar um relacionamento pro­
movido por seu pai. Díades assimétricas também
relação relação podem aparecer em uma paisagem, embora pro­
vavelmente com menor freqüência. Um rio de
rede social rede física
corredeiras, ligando duas aldeias, dá-nos um exem­
plo. Na falta de barcos a motor, apenas os aldeões
que vivem rio acima podem usar o rio como um elo
balham coletivamente. Dependendo da escala de de ligação. Os aldeões que vivem corredeira abai­
análise, os indivíduos podem ser homens e mulhe­ xo terão de usar outro elo de ligação (uma estrada
res singulares em um grupo ou nação-estado, den­ ou uma trilha) se quiserem interagir com aqueles
tro de uma rede mundial. Para a análise arqueológi­ que vivem rio acima. A tríade, como a díade, tem
ca, entretanto, é mais apropriado considerar os ato­ sido o objeto de muitas análises de rede. Ela consis­
res como sendo homens e mulheres individuais, te, como o nome indica, de três atores, ou, pensando
desde que essa concepção seja consistente com a arqueológicamente, de três sítios interligados. Se­
noção geográfica de sítio. Embora possa ser difícil guindo a mesma linha de raciocínio, um subgrupo,
ou impossível conduzir uma pesquisa a respeito de em uma análise de rede social, é composto de gru­
homens e mulheres individuais em um cenário pré- pos de díades e tríades. Para a análise arqueológi­
histórico, este ponto não precisa causar nenhum tor­ ca, escolhi denominar o subgrupo de “área” e o
mento para a Arqueologia Histórica, graças ao su­ grupo - composto de vários subgrupos - de “re­
porte da documentação não-arqueológica. gião” Este uso é consistente com a noção de re­
Os atores estão ligados entre si por laços de gião em uma análise de rede geográfica, compre­
relação. Estas conexões sociais podem estar enrai­ endendo-a como uma área relacionai definida por
zadas em avaliações pessoais (tais como amizade, elos ou limites (Haggett e Chorley 1969: 5).
respeito ou sentimento de empatia), em uma asso­ Em outro lugar (Orser 1996: 131-44) explorei
ciação ou afiliação (através da divisão do traba­ o problema imposto pelos limites físicos ao se usar
lho, de associações de grupo), em laços de família uma abordagem de rede em Arqueologia. Parafra­
(reais ou efetivos) ou através de relações de poder seando a mim mesmo, argumentei que, quando os
(entre proprietário e trabalhador, legislador e legis­ arqueólogos, explicitamente, pensam em elos de
lado). Em um sentido geográfico, os laços de rela­ relação entre lugares e pessoas, podem ser forçados
ção podem ser elementos físicos reais que ligam a esquecer sua compreensão tradicional do que cons­
sítios entre si: rios, estradas, barragens e pontes. titui uma área ou região arqueológica. Em concor­
A importância de tais elementos na análise arque­ dância com a proposição de que sítios de díades e
ológica é “que eles podem fornecer evidências tan­ de tríades são distinguidos por suas conexões, ar­
gíveis dos elos culturais existentes ao longo do gumentei que os estudiosos da Arqueologia Histó­
espaço geográfico” (Trombold 1991: 8); tais ele­ rica podem estar aptos a considerar partes de dife­
mentos são, em sua essência, conectores. Uma rentes continentes dentro da mesma área ou região.
díade, em um espaço tanto social quanto físico, refe- Desta maneira, por um certo período de tempo, po­
re-se a um relacionamento estabelecido entre dois de-se argumentar que o reino colonizador de Portu-

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gal e o Brasil colonial, ou o reino colonizador da In­ dições do território de Palmares nos anos de 1670,
glaterra e a África do Sul colonial, eram parte da descreveu-o como “um lugar naturalmente rude,
mesma área ou região por causa de seus elos de liga­ montanhoso e seco, coberto com toda a variedade
ção. Essa compreensão é completamente distinta da­ de árvores, conhecidas e desconhecidas” (Drummond
quela proposta pela paisagem cultural, onde o que 1859: 304). A densa floresta e as montanhas ao
conecta áreas umas com as outras são os processos redor ajudaram a criar Palmares, da mesma maneira
cognitivos e culturais impostos pelos colonizadores. que tais características ajudaram a esconder e pro­
teger os palmarinos dos exércitos da colônia, que
buscavam invadir o reino a partir da costa. Ao mes­
Um breve exemplo mo tempo, o meio ambiente sustentava a popula­
ção de Palmares. Documentos históricos deixam
Dados os detalhes requeridos em uma rigoro­ bastante claro que os habitantes criavam uma va­
sa análise de rede multiescalar, muito mais espaço riedade de grãos, pescavam, e domesticavam aves
seria necessário para que se apresentasse, aqui, um selvagens. Usavam a vegetação para construir suas
exemplo completo. Todavia, é ainda importante casas, para confeccionar cestas e erguer suas bar­
fornecer um breve exemplo específico demonstran­ ricadas, assim como se serviam da argila local para
do o potencial interpretativo da análise de rede na produzir cerâmica. É inquestionável que os pal­
Arqueologia. Limitações de espaço proíbem um marinos criaram e mantiveram uma rede comple­
exemplo completo, por isso meu exemplo será ne­ xa de relacionamentos com seu meio-ambiente.
cessariamente insuficiente e esquemático. Mas, Uma série de complexas redes sociais e de po­
para demonstrar o valor da análise de rede, deter- der contribuíram para manter unido o reino. O rei
me-ei em um exemplo do século XVII: o reino de de Palmares era um homem chamado Ganga Zum­
Palmares, no nordeste do Brasil. Como eu já apon­ ba, e seu irmão, Gana Zona, governava a segunda
tei em outro lugar (Orser 1994b, 1996), Palmares cidade do reino. Uma das cidades era governada
fornece um excelente estudo de caso para uma pelo sobrinho do rei, outra delas era governada por
análise de rede arqueológicamente informada. sua mãe. Zumbi, o último grande rei de Palmares,
Palmares foi um reino construído no atual es­ era o sobrinho do rei. Sem dúvida, laços de família
tado de Alagoas, no nordeste do Brasil, por um nú­ e relações de poder - agindo como uma série de día-
mero de escravos fugitivos, por volta do ano 1605. des e tríades interrelacionadas - ajudaram a man­
O reino de Portugal destruiu a ocupação em 1694, ter unido o reino, mesmo face a um ataque armado.
mas, em seu acme, supõe-se que Palmares tenha tido Esta complexa série de confederações e relações
por volta de 20.000 habitantes. Em 1992 e 1993, tributárias ajudaram a definir Palmares tanto in­
colaborei em um estudo de exploração arqueológi­ terna quanto externamente (Anderson 1996).
ca em Palmares, com Pedro Paulo A. Funari, e in­ Seria relativamente fácil argumentar que es­
formação adicional a respeito deste esforço de pes­ tes relacionamentos, naturalmente, constituíam
quisa pode ser encontrada em outras publicações expressões culturais. O que todas as evidências dis­
(Funari 1995a, 1995b, 1996a, 1996b; Orser 1992, poníveis indicam é que os palmarinos ocupavam-
1993, 1994a, 1994b, 1998a; Orser e Funari 1992). se com a construção de uma nova cultura no Novo
Palmares foi um reino unificado que visava Mundo. Mas mesmo esta compreensão permite a
resistir à escravidão e à degradação humana. No presença de duas escalas efetivas: as vilas individu­
acme de seu desenvolvimento, Palmares era com­ ais e o reino em si. Apenas quando combinamos
posto por dez vilas singulares: Amaro, Arotirene, uma perspectiva multiescalar com uma abordagem
Tabocas (duas vilas), Zumbi, Aqualtene, Dambra- de rede é que podemos ver outras escalas efetivas.
banga, Subupira, Macaco e Andalaquituche, sen­ Por exemplo, dentro do reino em si existe uma se­
do Macaco o lugar onde vivia o rei (vide Mapa ). vera divisão entre aqueles palmarinos que busca­
A pesquisa não está suficientemente avançada para ram conciliação com os portugueses e aqueles que
indicar precisamente como as vilas individuais desejavam uma constante e contínua resistência ar­
estavam conectadas entre si. Os registros históri­ mada. Este conflito foi o que, no final das contas, le­
cos, entretanto, mostram claramente que os palma- vou Zumbi a assassinar o rei, seu tio, e a assumir as
rinos mantinham contínuas relações com seu meio- rédeas do reino. De maneira similar, existiu um cis­
ambiente. Um observador, que conheceu as con­ ma entre os colonos portugueses, pois alguns deles,

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que viviam na fronteira colonial, optaram por apoi­ ções era um sério obstáculo à expansão colonialista
ar Palmares contra seu próprio governo colonial. holandesa no interior da América do Sul. Supondo
Desta maneira, tanto na região externa à fronteira que os holandeses acreditavam poder arrebatar o Bra­
do reino de Palmares quanto em seu interior, várias sil dos portugueses, eles podem ter decidido remo­
relações de poder foram constantemente sendo ins­ ver Palmares em um momento propício. De qual­
tituídas e redefinidas. Obviamente, uma compreen­ quer maneira, se os holandeses eram simplesmente
são plena de Palmares requer mais do que o sim­ racistas, teria sido óbvio que eles se unissem aos por­
ples conhecimento de uma cultura sincrética que tugueses para destruir Palmares e, uma vez que essa
fugitivos e fugitivas construíram entre as palmeiras tarefa fosse concluída, começassem a lutar pelo im­
do nordeste do Brasil. Uma compreensão mais com­ pério, opondo-se a seus antigos aliados europeus.
pleta pode ser obtida ao se adotar um modelo de A história e a cultura de Palmares foi, sem dú­
rede explicitamente relacionai (relational). vida, complexa, e serão necessários ainda mais al­
Ao incrementar a escala de análise toma-se pos­ guns anos de pesquisa antes que uma nova e signi­
sível que outras questões - que, de outra maneira, ficativa reavaliação possa ser completada. Nossa
não seriam tão obviamente formuladas - sejam fei­ pesquisa arqueológica inicial tem apenas forneci­
tas: Por que os holandeses atacaram Palmares durante do a compreensão mais breve do que é, sem dúvi­
os anos em que estiveram no nordeste do Brasil? A da, uma história extremamente profunda e plena
resposta a esta questão pode parecer, à primeira vista, de significados. A aplicação de uma perspectiva
fácil demais de ser encontrada. Caspar Barleus (1923: de rede, entretanto, permite que os arqueólogos
315), um contemporâneo de Palmares, descreveu o façam novas perguntas a respeito de Palmares e
povo que lá vivia como um “grupo de assaltantes e que se aproximem de um velho tópico de uma ma­
escravos fugitivos”. Barleus não estava sozinho em neira inteiramente nova.
sua visão de Palmares; muitos dos inimigos coloni­
ais dos palmarinos descreviam o reino nos mesmos
termos. Para eles, os homens e as mulheres de Palma­ Conclusão
res eram simplesmente ladrões que roubavam suas
plantações costeiras. Tendo ciência de tal perspecti­ A análise de rede abre estimulantes oportuni­
va, seria lógico que os colonos holandeses buscas­ dades para os arqueólogos, especialmente para aque­
sem destruir o reino de Palmares. Mas, teria isso, de les que estudam a História Moderna. A presença de
fato, algum sentido, uma vez que compreendemos documentação escrita e de testemunho oral implica
que a Holanda e os portugueses eram, na realidade, que os arqueólogos podem, potencialmente, apren­
inimigos mortais em terras brasileiras? Cada super­ der - de maneiras que não poderiam ser imediata­
potência buscava controlar a população e as riquezas mente aparentes a partir dos depósitos arqueológi­
nativas dessa parte da América do Sul. Tendo em cos - a respeito das ligações que mantêm ligados
mente o modelo de rede, devemos perguntar porque entre si homens e mulheres. As reais vantagens de
os colonos holandeses, inimigos dos colonos portu­ se usar a análise de rede, em uma pesquisa de Ar­
gueses, não criaram um aliança com Palmares, tam­ queologia Histórica e a partir de um estudo de larga
bém estes inimigos dos colonos portugueses? O mero escala, devem ainda de ser demonstradas. A análise
ato de fazer tal pergunta leva-nos a outras questões: de rede, quando combinada com uma perspectiva
acaso estavam os holandeses tão apavorados pelas multiescalar, entretanto, permite que os arqueólo­
ações dos palmarinos contra outra nação européia que gos tanto façam, como já dito, novas e interessan­
buscaram destruí-los em nome de uma solidariedade tes questões, quanto forneçam novas e fundamen­
européia? Ou eram os holandeses tão racistas que tais interpretações a respeito do passado.
simplesmente buscaram destruir um grupo de africa­
nos renegados? Supondo um modelo de rede, pode­
mos imaginar se acaso eram as ligações que os Agradecimentos
palmarinos tinham feito com os nativos da América,
com os colonos portugueses, e entre si mesmos, o Agradeço a Pedro Paulo A. Funari por convi­
que de fato ofendia aos holandeses (para maiores dar-me para participar desta reunião e por seu con­
detalhes dessas conexões, vide Orser 1994b, 1996: tínuo apoio e colaboração. Agradeço, também, a
41-53). Esta rede multifacetada e interligada de rela­ Jack Scott por desenhar a gravura.

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