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Micropolítica e o
Exercício da Pesquisa-
intervenção: Referenciais e
Dispositivos em Análise

Micro-politics and the practice of intervention-research:


References and devices in analysis

Katia Faria de Aguiar


Universidade Federal
Fluminense

Marisa Lopes da Rocha


Universidade do Estado do
Rio de Janeiro
Artigo

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2007, 27 (4), 648-663


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PROFISSÃO, 2007, 27 (4), 648-663

Resumo: Este trabalho tem como objetivo o aprofundamento da discussão


dos referenciais da pesquisa-intervenção como uma investigação
participativa que busca a interferência coletiva na produção de
micropolíticas de transformação social. Inicialmente, destacamos algumas
polêmicas que envolvem tanto os referenciais cientificistas clássicos
quanto os denominados críticos, que emergem a partir de 1970 para
fundamentar pesquisas comunitárias e educacionais nas ciências humanas
e sociais. Pretendemos apontar seus limites na análise das instituições e
na contribuição para mudanças das práticas. A seguir, procedemos ao
exame dos conceitos de real e de pensamento, dando suporte à proposta
da pesquisa-intervenção. Tais conceitos serão discutidos a partir da
perspectiva genealógica, para colocar em discussão o movimento como
diferença. Tratamos também das referências disponibilizadas pelo
institucionalismo, vinculadas à socioanálise e à esquizoanálise, que
evidenciam as ferramentas de pesquisa e de intervenção na experiência
social. Nas considerações finais, destacamos as contribuições das
reflexões construídas no texto, que abre caminho para novas
interrogações na invenção de outras análises, movimentos e demandas.
Palavras-chave: pesquisa-intervenção, pesquisa participante,
micropolítica e formação.

Abstract: This paper aims to discuss intervention-research as a participatory


investigation that tries to set up collective interference in the production
of micro-politics for social changing. Firstly we enlighten some of the
polemics that envolve not only the classical scientificist paradigms, but
also the critical ones that emerge from 1970 on in order to support
community and educational research in social and human sciences. We
intend to show their insufficiencies in the analysis of institutions and in
the contribution for changes in the practices. Afterwards we shall review
the concepts or real and thinking, giving support to the proposal of
intervention-research. These concepts wil be discussed on the basis of
a genealogical point of view so as to allow us to apprehend movement
as difference. We shall also consider the references brought to light by
institucionalism, which are put forward by socioanalysis and
schizoanalysis, expliciting the tools of research and intervention in social
experience. At last, we shall emphasize the contributions of the reflections
built in the text, that enable new questions in the invention of other
analysis, movements and demands.
Key words: intervention-research, participatory research, micro-politics
and formation.
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Este trabalho tem como objetivo o possível neutralidade que nortearia as práticas
aprofundamento da discussão dos referenciais de pesquisa. Essa assertiva, que hoje nos
da pesquisa-intervenção, como investigação parece uma óbvia constatação, encontra forte
participativa que busca a interferência coletiva ancoragem na conjuntura dos anos 70 do
na produção de micropolíticas de século passado. Se a convocação de
transformação social. Para isso, em Retomando participação da população em ações locais de
os desafios das pesquisas participativas, diagnóstico sobre as condições de vida já podia
destacamos algumas polêmicas que envolvem ser observada desde a década de 40, será entre
tanto os referenciais cientificistas clássicos os anos 70 e 80 que a perspectiva participante
quanto os denominados críticos, que nas pesquisas ganham sentido de ruptura com
emergem, a partir de 1970, para fundamentar o status quo. É certo que as disputas no campo
pesquisas comunitárias e educacionais nas das ciências já traziam abalos e
ciências humanas e sociais. Pretendemos questionamentos aos paradigmas até então
apontar seus limites na análise das instituições consolidados, mas sem visibilidade fora da
e na contribuição para mudanças das práticas. comunidade científica. Tais abalos só
Em Os referenciais sociopolíticos da pesquisa- encontrarão ressonâncias na nova qualidade
intervenção, procedemos ao exame dos de insurgência observada a partir dos anos 60,
conceitos de real e de pensamento, dando com os movimentos da contra- cultura e de
suporte à proposta da pesquisa-intervenção. resistência popular. Esse foi um momento
Tais conceitos serão discutidos a partir da histórico cujo contexto está implicado em forte
perspectiva genealógica para colocar em repressão política, com a saída de militantes e
discussão o movimento como diferença. A intelectuais do País, com a desestabilização e
seguir, em Novas ferramentas interventivas: conseqüente enfraquecimento dos
experiências de transformação em território psi, movimentos populares. Mas a luta pela
tratamos das referências disponibilizadas pelo democracia se manteve, quer pelo trabalho
institucionalismo, vinculadas à socioanálise e clandestino de diferentes setores
à esquizoanálise, que evidenciam as marginalizados, quer pela colaboração de
ferramentas de pesquisa e de intervenção na intelectuais e de setores da igreja vinculados
experiência social. Nas considerações finais, ao movimento da Teologia da Libertação e das
Práticas de pesquisa: outros suportes, novos Comunidades Eclesiais de Base (Rizzini,
desafios, destacamos as contribuições das Castro; Sartor, 1999). As referências para as
reflexões construídas no texto, que abrem ações politizadas se sustentavam nos
caminho para novas interrogações na invenção marxismos, na proposta de educação popular
de outras análises, movimentos e demandas. de Paulo Freire e, no campo psi, as experiências
grupais apresentam novas formas de ação
Retomando os desafios das coletiva comprometidas com a interferência
pesquisas participativas nos rumos da transformação social. Nelas se
fizeram presentes muitos psicólogos,
Para aprofundar os referenciais da pesquisa- descando-se aqueles que atuavam no campo
intervenção e contribuir para as discussões da denominada psicologia comunitária e/ou em
atuais nesse campo, partimos da afirmação processos educativos junto a grupos e
de que o sujeito do conhecimento se produz organizações de iniciativa popular.
em meio às práticas sociohistóricas, ou seja,
o conhecimento enquanto produção e o Se novos personagens entram em cena no
sujeito inscrito nesse processo se fazem em campo de disputas por um projeto de
condições determinadas, o que torna sociedade, como afirma Sader (1988), e estes
imprópria qualquer alusão acerca de uma passam a se constituir em sujeitos políticos, as

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questões sociais tinham que ser polemizadas os sujeitos e demanda desdobramentos de


com esses novos coletivos no cotidiano. A práticas e relações entre os participantes
contextualização das práticas passa a ser (Oliveira e Oliveira, 1983). “O pesquisador,
condição de realização das pesquisas nessa nova visão, apresenta-se como um
participativas críticas, uma vez que o cotidiano, intelectual orgânico às causas populares, e a
na sua dimensão de movimento, traz a análise Pesquisa-Ação se traduz em um método
das forças presentes nas questões e nas ações potencializador na organização de espaços de
empreendidas, o que evidencia a participação coletiva. Política e educação,
complexidade dos processos de trabalho e de política e organização de comunidades
produção de conhecimento. constituem-se em relações possíveis para
transformar a realidade”(Rocha, & Aguiar,
Os referenciais teórico-metodológicos do 2003:p.66).
modelo clássico de pesquisa científica estão
em xeque frente à complexidade dos modos No entanto, é importante colocar em
de existência e de organização social. Isso é discussão os limites dos referenciais que se
relevante, principalmente junto aos setores configuraram como ações politizadas, uma vez
populares, para quem as ações comunitárias que os tensionamentos vinculados aos novos
e educacionais críticas se dirigiam. Novas vozes movimentos sociais se inscreviam em uma
faziam coro por qualidade de vida para todos, realidade complexa e multireferencializada
buscavam intervenções na ordem vigente e que o marxismo clássico reduzia ao contexto
evidenciavam a diversidade das formas de das lutas de classe. Além do reducionismo
inserção da vida social, com destaque para os social, a preocupação com a denominada
movimentos negro, feminista, homossexuais, dimensão política, grande parte das vezes,
por habitação... Tornava-se cada vez mais difícil separou forma de conteúdo, mantendo a
compreender os modos de funcionamento dicotomização entre metodologia (forma de
social tendo como pressuposto apenas o corte ação) e teorias críticas a dominar (conteúdo
de classe. O que se delineava como desafio desalienante), postura que, mesmo quando
na investigação do cotidiano estava implicado se tenta integrar, deixa ainda a concepção do
na análise de uma realidade em construção, político fora de questão. Isso significa que
móvel, sem fatos bem delimitados em um avançar no trabalho é, ao mesmo tempo,
princípio, meio e fim, mas com múltiplas ensinar-aprender o conteúdo para qualificar as
entradas possíveis para a interrogação das pessoas da comunidade e os serviços
práticas. específicos a elas prestados, através de técnicas
de mudança que visam à conscientização e à
Era fundamental a produção de outros suportes conquista da autonomia. Aqui, a liberdade é a
para as investigações a partir do superação das desigualdades de classe e, para
questionamento das bases das pesquisas isso, é necessária a utilização de metodologias
tradicionais que se apoiavam na dicotomização que possam desvendar as ideologias que
entre ciência e política. Para desenvolver uma encobrem a realidade.
metodologia participativa, tornou-se necessária
a mudança na postura do pesquisador e dos De todo modo, o problema implicado nesse
pesquisados, uma vez que todos passam a ser referencial crítico de pesquisa está na
co-autores do processo de diagnóstico da perspectiva de transformação marcada pela
situação-problema e da construção de centralidade da consciência. Embora muitas
caminhos para o enfrentamento e solução das propostas tenham inspiração nos marxismos,
questões. É um processo contínuo que elas parecem reeditar o equívoco que o próprio
acontece no curso da vida diária, transforma Marx já havia denunciado em seu tempo: a
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cisão entre o sujeito da experiência (da luta) designo otimista e progressivo em relação à
e o sujeito do conhecimento, acalentando a existência em que a regulamentação, a
expectativa de que, a partir da aquisição de reforma e a transmissão do saber seriam seus
conhecimentos, a verdade possa iluminar a instrumentos essenciais. Tal designo não é
experiência de luta contra a exploração e ajude outra coisa senão a convicção de que o saber
a superar os obstáculos, habitantes da ‘é capaz não só de conhecer mas inclusive de
ignorância ideológica, que se interpõem à corrigir o ser’ e a crença de que o
transformação. Em nosso entender, um conhecimento ‘tem a força de uma medicina
equívoco das chamadas metodologias universal’ (Larrosa, 1997, p. 41).
participativas críticas reside no fato de tomarem
como ponto de partida algo que elas mesmas Nesse caminho, conclui o autor, só nos restaria
tencionam construir: a democracia. Esta deixa aceitar que não conhecemos outra forma de
de ser um exercício micropolítico que pensa realidade senão aquela que está determinada
as formas de poder entre parceiros na própria pelo saber e o poder, a do código moral, que
O mito racionalista já se encontra estabelecida, como um a priori
pesquisa para se constituir em uma cartilha a
se atualiza tanto
na priori que é preciso dominar. Assegura a a ser desvelado. Além disso, podemos
conscientização palavra em um nível do trabalho coletivo, mas observar, em nosso presente, a manutenção
quanto no e a intensificação dessa herança na concepção
não garante as condições de interferência
consenso
regulador de coletiva. Esquecem-se da imperiosa do ser humano presente nas psicologias. Trata-
múltiplas desigualdade dos discursos, impregnados se de uma concepção ligada à formulação
racionalidades, cartesiana da cisão interior/exterior, no centro
pelas posições e injunções do poder, nas
como estratégias
dialógicas circunstâncias. Não estamos negando a de gravidade de um ‘eu’, que se desdobrará
(político- validade das propostas de participação, no tanto ao essencializar os processos cognitivos
pedagógicas) quanto ao procurar no exterior-social a saída
sentido da criação de espaços e de condições
que, em lugar da
emancipação, ao exercício de um pensamento combativo; para tal dicotomia. Na procura do “ser social”,
ratificam o o que temos como questão são as próprias encontramos tanto abordagens que afirmam
controle e a tutela. uma subjetividade pré-existente que se
condições nas quais se realizam os combates.
O que para nós está em jogo são as ilusões e (con)formariam a partir das influências dos
os mitos que nesses exercícios costumam ser contextos (externos) quanto aquelas que, por
perpetuados, reeditando um ‘otimismo não admitirem a anterioridade de qualquer
socrático-platônico’ que credita ao interior fora das determinações do contexto,
conhecimento o caminho para a definem uma subjetividade eminentemente
transformação (armadilhas que concentram a social e cultural – que enfatizam “o papel
solução pelo acesso ao conhecimento) e a determinante do lingüístico, do discursivo e
essa emancipação intelectual, a garantia da do significado” (Domènech, Tirado e Gómez,
autonomia. O mito racionalista se atualiza 2001, p. 118).
tanto na conscientização quanto no consenso
regulador de múltiplas racionalidades, como Os referenciais sociopolíticos da
estratégias dialógicas (político-pedagógicas) pesquisa-intervenção
que, em lugar da emancipação, ratificam o
controle e a tutela. A esse respeito, Larrosa O convite a examinarmos nossa posição nas
(1997) comenta a advertência feita por tramas de saber-poder, aproximando-nos do
Nietzsche em seu Nascimento da Tragédia: exercício da análise das diferenças que fazem
A tese de Nietzsche parece ser que a operação o movimento de construção do cotidiano, exige
socrático-platônica inaugura a época em que a definição do que entendemos ser o real e a
vivemos como a época da pedagogia, isto é, realidade. Derivam desse nosso entendimento
como a época que se caracteriza por um a abordagem do concreto ou de como as coisas

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se dão à intervenção, questões produtoras de um cotidiano que emerge na


eminentemente metodológicas e tensão de forças, movendo o presente. Nesse
epistemológicas que encontramos em Marx e sentido, o que se dá é a desmistificação
Engels - especialmente nas Teses sobre contida na noção de homem, enquanto
Feuerbach e na Ideologia Alemã. Para os unidade subjetiva e essencializada
autores, a partir do acompanhamento das lutas característica dos séculos XIX e XX, e da
dos trabalhadores, o que se coloca como realidade como um todo orgânico a priori. A
exigência frente à História é encontrar ênfase na relação, na densidade das forças,
ferramentas que nos permitam escapar tanto dissolve unidades como formas dadas cujo
das generalizações idealistas quanto dos pressuposto de movimento está na harmonia
relativismos permitidos pelo determinismo das e no equilíbrio sintetizado através da dialética.
circunstâncias, forjando um novo materialismo Nesse modo de apreensão do real, também
(Löwy, 2002). Assim, quando afirmamos que denominado ontologia do presente, prevalece
realizamos pesquisa e intervenção na realidade a diferença, ou o foco naquilo que difere. No
em constante movimento, do que estamos cotidiano das práticas, a realidade se constitui
falando? como campo de problematização, de Do contraste entre
uma apreensão
intensificação da vida, de experimentação do pela via da
No desdobramento dessa indagação, pensamento. O sentido se instaura entre produção-
poderíamos prosseguir destacando que o representação e expressão, facultando novos engendramento
historicismo e a genealogia são modos desnaturalizadora,
modos de apreensão-produção do real. Pensar contingenciadora
diferenciados de apreensão do real. No não é uma questão de vontade, é um exercício – e uma
primeiro, o historicismo, encontramos o plano que se dá por provocação: nos encontros com apreensão pela
das representações, em que se afirmam via da
o inusitado, nos afetos deslocados, na tensão representação-
universais, sendo a realidade rebatida e entre o que já ganhou forma como homem e reação –
codificada em certa idealização totalizadora, mundo, sujeito e objeto e o que vai se meramente
e os acontecimentos analisados como parte relativizadora e
produzindo, evocando novas formas (Ulpiano, próxima a um
de um todo previamente organizado. Pensar, 1993). Desse modo, a representação não é ‘colapso
nessa perspectiva, é o exercício inato de uma uma dimensão de permanência como partes racionalizador’.
faculdade, o que significa que existe uma ou elementos de uma fotografia, mas um
relação dicotomizada entre a realidade, indicativo de trânsito para novas experiências.
considerada externa, e o homem que a
re(apresenta), (re)conhecendo o mundo por A partir do cotidiano, das relações que criam
uma interiorização do visível e do enunciável os fatos, afirma-se a História como produção
(Ulpiano, 1993). O vínculo entre pensamento de real, e as análises como vetores que
e realidade é de identidade e semelhança com evidenciam as forças em luta.
o mundo, e a experiência se produz no
domínio de um eu em dialética com o mundo; Do contraste entre uma apreensão pela via
são, portanto, duas totalizações em relação: o da produção-engendramento desnaturalizadora,
eu e o mundo. A filosofia da representação, contingenciadora – e uma apreensão pela via
que sustenta a cultura ocidental-cristã e sua da representação-reação – meramente
racionalidade, favoreceu a absorção das relativizadora e próxima a um ‘colapso
múltiplas experiências no uno, da diferença racionalizador’. Se a primeira resulta de numa
na identidade, do acaso na necessidade. certa figura de real, numa certa totalidade
sempre à beira da desfiguração, a segunda
Já o segundo, a genealogia, está envolvida parte de uma idealidade totalizadora – O real
com a definição foucaultiana de real, ligada – que deverá ser necessariamente figurada
ao primado das práticas e das relações (=representada) (...) a história como tal, na
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qualidade de disciplina, é prática histórica de compreensão é sempre fazer escolhas, ainda


produção de real, à qual se há de indagar que provisórias, puxar alguns fios de um
quanto às suas próprias condições de existência presente, efetuar ‘cortes de vida’ e afastar-
e modos de funcionamento (Rodrigues, 1993, nos de nossos pretensos objetos naturais.
p. 17). Encontrar na interioridade imperiosa do
contemporâneo caminhos de escape tem sido
A análise nos aponta a experiência enquanto
a marca dos esforços empreendidos pelos
positividade, afirma outras dimensões no
movimentos que recusam a subordinação aos
cotidiano, aquém e além das vivências e das
processos de colonização do pensamento no
representações nos dualismos – é a dimensão
Ocidente. Tais movimentos nos autorizam a
da invenção, do plano de forças que ainda
falar de uma sociedade disciplinar, mas, de
não ganhou forma, mas que nem por isso deixa
forma alguma, de uma sociedade disciplinada,
de ser real. O impensado, o virtual, não se
já que “procedimentos populares (também
opõe ao real, mas se constitui em outro modo
‘minúsculos’ e cotidianos) jogam com os
de ser real, é potência ( Zourabichvili, 2004).
mecanismos da disciplina e não se conformam
Nessa perspectiva, pesquisar é, antes de mais com ela a não ser para alterá-los” (De Certeau,
“O impensado, o nada, uma atitude que interroga os homens e 1999, p.41). Essa observação nos fala da
virtual, não se importância de investigarmos como tais
os fatos em seus processos de constituição,
opõe ao real, mas
se constitui em trazendo para o campo de análise as histórias, resistências à rede de vigilância são
outro modo de ser o caráter transitório e parcial, os recortes que engendradas e aproximam-nos das “maneiras
real, é potência” de fazer” que participam da ordenação
a investigação imprime nas práticas e a forma
Zourabichvili como produz seus próprios objetos-efeitos. sociopolítica.
Podemos afirmar que a humanidade, assim
como o humano enquanto vivo, encontra-se Ao tratar a sociedade disciplinar, a obra
numa trama, sendo apenas a partir dessa trama foucaultiana aborda a disciplina como modo
que poderemos compreendê-los. de produção, modo múltiplo de
Entendemos, com Gadamer (1990), a engendramento, e não como realidade-
compreensão como um ir além dos métodos totalidade a ser representada e/ou atuada pelos
ensinados ou além das faculdades adquiridas agentes – sociedade disciplinada (Rodrigues,
racionalmente, sendo que compreensão como 1993, p. 17). É nesse sentido que a
atividade se desenvolve com uma atitude de desnaturalização dos acontecimentos
rigor. A proposta do autor nos sugere a busca corresponde à desnaturalização de nossas
da positividade do pensamento, daquilo que práticas – dizeres e fazeres – no rastreamento
se produz no exercício da compreensão, em de suas tramas, nas relações de força. É uma
lugar de investir na descoberta de como “historicidade belicosa” (Foucault, 1981, p. 7),
compreendemos, o que poderia nos tornar na qual a constituição do sujeito do
cativos dos ideais normativos e da necessidade conhecimento não é independente daquela
de peritos. A potência do pensamento estaria do sujeito ético-político. A abordagem da
não no apoio ou na correção da unilateralidade política como ética, a abertura para uma
da Razão, mas na retomada da tensão formação que se faça de outro modo (trans-
produtiva inerente ao jogo de interações entre formação) e a construção de um lugar
razão e estética: como projeto, ela “sempre diferenciado para os intelectuais-pesquisadores
atualiza em si mesma a dimensão de futuro, fizeram convergir diversas contribuições, num
do por-vir” (p. 216). exercício arriscado, mas que nos incita a
assumir o caráter sempre perigoso de nossas
Percorrer a trama num exercício de práticas.
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Novas ferramentas interventivas: experiências de sua recente história, encontramos a


de transformação em território psi heterogeneidade de tendências e, dentre elas,
a que temos denominado pesquisa-
Os conceitos-ferramentas institucionalistas intervenção: uma tendência nas pesquisas
(franceses e argentinos), os foucaultianos e os participativas que vem assumindo uma
esquizoanalíticos entraram em solo carioca nos intervenção de caráter socioanalítico e
anos 70, provocando misturas e abrigando-se, micropolítico na experiência social (Rocha e
diferentemente da experiência européia, no Aguiar, 2003). Enquanto proposta de atuação
território “psi”. As primeiras ressonâncias (trans)formadora, ela aprofunda a ruptura com
dessas contribuições aparecem nas práticas os enfoques tradicionais e amplia as bases
pedagógicas, tanto em espaços de educação teórico-metodológicas das pesquisas
formal quanto naqueles caracterizados como participativas. Rodrigues & Souza (1987)
informais ou alternativos, como em trabalhos evidenciam que a pesquisa-intervenção se
comunitários, nos quais exercitávamos uma constitui como uma crítica à política positivista
nova forma de pensar as práticas sociais. de pesquisa:
Confrontos e experimentações foram se
constituindo em nossas práticas e marcaram A antiga proposta lewiniana vem sendo re-
diferentes estilos de atuação (Aguiar, 2003). significada à luz do pensamento institucionalista:
Poderíamos dizer que, nas últimas décadas, trata-se, agora, não de uma metodologia com
veio se afirmando, no continente latino- justificativas epistemológicas, e sim, de um
americano, uma Psicologia social como obra dispositivo de intervenção no qual se afirme o
aberta. “Por isso, movemo-nos ato político que toda investigação constitui. Isso
deliberadamente em direção a um território porque, na pesquisa-intervenção, acentua-se
provisório, onde as definições, quando usadas, todo o tempo o vínculo entre a gênese teórica
são somente estratégias de passagem de um e a gênese social dos conceitos, que é negado
sentido” (Saidon e Kamkhagi, 1991, p. 23). implícita ou explicitamente nas versões
Na exploração dos riscos da singularização, positivistas ‘tecnológicas’ de pesquisa.
(Rodrigues; Souza, 1987, p. 31) [grifo nosso].
metabolizando contribuições estrangeiras e
nossas heranças, por vezes dissonantes, o
Propomos tomar maio de 68 como ponto de
desafio tem sido o de manter viva a força
partida para a incursão naquilo que aqui nos 1A proposta esquizoanalítica
analisadora que tais movimentos trouxeram às
interessa: destacar alguns conceitos- não se identifica com a
práticas “psi”. Por isso, quando nos interpelam esquizofrenia enquanto
ferramentas que permitam explicitar essa entidade clínica. Pelo
se realmente teríamos constituído uma análise contrário, a produção
perspectiva. O marco histórico proposto, além esquizo e a esquizofrenia
institucional no Brasil (= brasileira), ou se o
de sua óbvia importância já decantada por estão em relação inversa.
que fazemos é Psicologia social, respondemos “Afirmamos que há um
diferentes análises, inaugura uma abordagem processo esquizo, de
investindo na constituição de práticas que descodificação e de
no trabalho social, como destaca Coimbra desterritorialização, que só
possam dar consistência ao movimento que,
(1995), que radicalizam o deslocamento já a atividade revolucionária
a depender de seus agenciamentos, podem impede de virar produção
posto em marcha pelo anti-institucionalismo: de esquizofrenia(...) A
nos levar às armadilhas do mesmo ou aos esquizoanálise tem um
provoca uma inversão, transferindo a
escapes da subversão e da invenção. único objetivo, que a
problematização das instituições de seu interior máquina revolucionária, a
máquina artística, a
para fora, para o questionamento de suas máquina analítica se
Trataremos aqui de trazer algumas dessas
gêneses histórico-sociais. Tal inversão e sua tornem peças e
referências disponibilizadas pelo engrenagens umas das
radicalização foram intensificadas pelos outras” (Deleuze, 1992, p.
institucionalismo, modo pelo qual temos 36). Para maior
acontecimentos daqueles anos, marcados pela aproximação dos debates
nomeado os encontros pulsantes e não menos
contestação a todas as formas de sobre o tema, cf.
problemáticos, especialmente entre a conservadorismo, expressando o que Marcuse
Rodrigues,1993; Barros,
1 1994; Rocha, 1996 e
socioanálise e a esquizoanálise . Nos registros sinalizou como “a grande recusa”. Saidon, 2002.
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Esses acontecimentos são tomados por implicação faz frente ao mito da neutralidade,
Lapassade (1977) como um laboratório referindo-se “ao conjunto das condições da
“A antiga proposta histórico e condensam diferentes movimentos pesquisa”, condições inclusive materiais, nas
lewiniana vem e contestações, no qual a experiência se quais o dinheiro tem uma participação tão
sendo re-
significada à luz do realizava pela intervenção de Analisadores – ‘econômica’ quanto ‘libidinal’” (Lourau, 1993,
pensamento “acontecimento, indivíduo, prática ou p.16), daí a expressão “intelectual implicado”,
institucionalista: dispositivo que revela, em seu próprio que, para além de um compromisso, sugere
trata-se, agora,
não de uma funcionamento, o impensado de uma estrutura que:
metodologia com social – tanto a não- conformidade com o
justificativas instituído como a natureza desse mesmo Estar implicado (realizar ou aceitar a análise
epistemológicas, e
sim, de um instituído” (Rodrigues; Souza, 1987, p. 29). de minhas próprias implicações) é, ao fim de
dispositivo de Eles funcionam como catalisadores de sentido, tudo, admitir que eu sou objetivado por aquilo
intervenção no expõem o saber e o não saber de uma que pretendo objetivar: fenômenos,
qual se afirme o
ato político que sociedade sobre si mesma e, poderíamos acontecimentos, grupos, idéias, etc. Com o
toda investigação dizer, desnaturalizam o existente, suas saber científico, anulo o saber das mulheres,
constitui. “ condições, e, ao realizar análise, das crianças e dos loucos – o saber social, cada
Rodrigues desestabilizam a cena natural de um cotidiano vez mais reprimido como culpado e inferior.
que nos parece estático. O intelectual...com sua linguagem de sábio,
com a manipulação ou o consumo ostensivo
A intervenção, associada à construção e/ou do discurso instituído e o jogo das
utilização de analisadores históricos, tira partido interpretações múltiplas, dos ‘pontos de vista’
do deslocamento operado pelo conceito de e ‘níveis de análise’, esconde-se atrás da
analisador – da figura do analista para o de cortina das mediações que se interpõem entre
acontecimento – o que já é, em si, um modo a realidade política e ele. O intelectual
de intervir nos procedimentos habituais de programa a separação entre teoria e política: é
pesquisa que se pautam na centralização da para comer-te melhor, minha filha... mas
figura do pesquisador-intérprete, ou, pela esquece que é o único que postula tal
descentralização, na abertura aos participantes- separação, tal desgarramento. (Lourau, 1977,
intérpretes. A partir daí, o que se coloca em p. 88-89).
xeque não é apenas “quem interpreta”, mas
o próprio “ato de interpretar”, de fazer valer Poderíamos afirmar que a implicação não é
algo que “fale por todos”. Se mantivermos a uma questão de decisão consciente de ligar-
idéia de interpretação, que pode ser verbal se a um processo de trabalho. Ela inclui uma
ou não, é para tomá-la no sentido de análise do sistema de lugares ocupados ou que
movimento, de possibilidade de ruptura, sem se busca ocupar ou, ainda, do que lhe é
referência a conteúdos latentes, mas à designado, pelo coletivo, a ocupar, e os riscos
“invenção de novos focos capitalísticos [uma decorrentes dos caminhos em construção. A
singularidade, uma ruptura de sentido, uma análise das implicações com as instituições em
fragmentação] suscetíveis de fazer bifurcar a jogo nas intervenções abre caminhos à ruptura
existência”. (Guattari, 1992, p. 30). com as barreiras entre sujeito que conhece e
objeto a ser conhecido. Os deslocamentos
Aos analisadores, poderíamos acrescentar a provocados com os conceitos de analisador e
Implicação como um outro conceito, outro de implicação nos sugerem a própria inversão
modo de interpelação aos procedimentos de do “otimismo socrático-platônico”,
pesquisa e à sua decantada objetividade. A evidenciado na fórmula conhecer para
esse respeito, Lourau (1993) revela, sem transformar. Em seu lugar, a idéia de
evocar qualquer originalidade, que a transformar para conhecer nos religa à sabedoria

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trágica, instalando o tensionamento entre os sentido dinâmico, no qual “o movimento, ou


saberes, suas exigências de aquisição, de força de autodissolução, está sempre presente”
transmissão e de respostas, e o permanente (Lourau, 1993, p. 13) e propõe que, para pensar
movimento de interpelação de um as separações-totalizações operadas nas e pelas
pensamento-acontecimento, carregado de formas-instituições naturalizadas, seja realizada
inquietações e de incertezas. Portanto, o uma análise que considere três momentos no
implicar-se do intelectual-pesquisador não se “processo de institucionalização” que não
refere apenas à politização de demandas e podem ser isolados: o instituído
encargos, pesquisando-interpretando as (universalidade), o instituinte (particularidade)
condições de sua produção social, mas exige e a institucionalização (singularidade).
que nos instalemos nessas condições, num
engendramento sempre presente, e façamos No entanto, embora trazendo um caráter
da própria investigação-formação matéria de dinâmico, tal abertura parece continuar
intervenção. exposta aos riscos de valorização (atribuindo
o mal ao instituído que deve ser aniquilado
Contudo, referimo-nos a “instituições em pelo bem instituinte) e mais, “a tríade dialética
jogo”, e essa expressão merece algumas arrisca-se, suplementarmente, a redundar
considerações. No final da década de 60, a numa nova filosofia (institucional) da história,
análise institucional, como movimento
na qual a contradição instituinte-instituído teria
teórico/prático (acerca dos grupos, das
por inelutável destino desaguar... em novo
organizações e das instituições), definirá a
instituído, fazendo de todo ato incendiário o
Instituição como produto de uma confrontação
prenúncio de uma futura sede de Corpo de
permanente entre o instituído [aquilo que já
Bombeiro...” (Rodrigues, 1993, p. 435).
está aí, que tende a se manter] e o instituinte
[forças de subversão, de mudança] (Hess,
De todo modo, queremos destacar que a
2000, p. 44). As ponderações de Lapassade
socioanálise tem possibilitado o
acerca dos usos do termo “instituição”
questionamento dos múltiplos sentidos
definem-na, ainda, como “forma geral que cristalizados nas instituições ao afirmar seu
produz e reproduz as relações sociais de caráter desarticulador das práticas e dos
produção”, afastando-se dos usos mais discursos instituídos, inclusive os produzidos
correntes do termo que o abordam como como científicos, o que inclui a própria
estabelecimento/organização ou como instituição da análise e da pesquisa. Sua
sinônimo de técnicas de trabalho para atuar proposta de produção cooperativa e
em estabelecimentos (Rodrigues; Souza, autogestionária opera na perspectiva de
1987, p. 33). fragilização das hierarquias burocráticas e das
divisões em especialidades que fragmentam
Os riscos dos usos maniqueístas aos quais o cotidiano e isolam os profissionais. As
esteve (e ainda está) exposto tal conceito estratégias de intervenção têm como alvo a
foram abordados por Lourau, num curso rede de poder e o jogo de interesses que se
ministrado em 1993, no Rio de Janeiro. Ao fazem presentes no campo da investigação,
delimitar a teoria da instituição com a qual colocando em análise os efeitos das práticas
opera a análise institucional, o autor reafirma no cotidiano institucional, desconstruindo
sua diferenciação em relação à concepção territórios e facultando a criação de outros
comumente usada, que faz corresponder modos de existência.
instituição e organização material e jurídica.
Indica o tempo social-histórico como primordial É nesse caminho que a restituição é
para a definição do conceito, destaca seu redimensionada no processo grupal dos
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Micropolítica e o Exercício da Pesquisa-intervenção: Referenciais e Dispositivos em Análise

trabalhos de pesquisa-intervenção. A contraponto ao ‘centralismo democrático’” e


Restituição, um conceito operativo forjado no que, “...em Guattari, o prefixo trans conduz a
movimento institucionalista francês, se uma nova forma de pensar a existência,
diferencia tanto da devolução, como passagem liberada dos constrangimentos disciplinares
de uma interpretação verdadeira por parte de (...), mapas já estabelecidos do conhecimento”
um analista a alguém ou a um grupo que, em (p. 437). Embora sugerindo que “os
princípio, a desconhece, quanto da confissão socioanalistas tendem a alguma afirmação mais
religiosa que procura a absolvição de possíveis macro do socius – instâncias sociais, formas
culpas, no compartilhar de uma situação ou institucionais – e priorizam, nesse sentido, as
evento. A restituição “consiste em se centrar reflexões sobre a reprodução”, a autora alerta
numa tarefa – a de análise coletiva da situação que tal impasse não autoriza qualquer
presente, no presente – em função das conclusão apaziguadora no sentido de
diversas implicações de cada um com e na caracterizar a socioanálise que a distancie, por
situação” (Lourau, 1993, p. 64). Trazendo à completo, das contribuições esquizoanalíticas.
cena o que comumente é desconsiderado ou
tido como mera curiosidade nos Assim, nesse exercício de aproximações e
procedimentos de pesquisa, ou o que tem tensionamentos entre tais contribuições,
seu lugar limitado à informalidade, as diferentes destacamos que a inversão operada pelos
formas de restituição podem permitir um socioanalistas, transformar para conhecer,
aumento no coeficiente de transversalidade estabelece uma entrada para a concepção
nos grupos. O conceito de Transversalidade é trágica, colocando em questão a verdade como
utilizado por Guattari na elaboração teórica guia para a busca do significado da vida e
da psicoterapia institucional, durante a década afirmando “o ‘poder’, isto é, a criativa
de 60. Comentando os desafios da abundância da vida” (Ansell-Pearson, 1997, p.
intervenção nas instituições e fazendo uso da 58). Poderíamos agregar as discussões acerca
imagem das viseiras de cavalos, o autor define do Estado Inconsciente como um recurso que
a transversalidade como a superação de uma afasta alguns praticantes socioanalistas das
pura verticalidade (estrutura piramidal) e de divisões simplistas e reflexas das relações todo-
uma simples horizontalidade (um certo ajeitar- parte e dos “fantasmas de dois mundos”,
se na situação); constituindo-se em um induzidos pelo conceito de sociedade civil e,
terceiro vetor. A transversalidade implica a em nosso entender, que indica outra
ativação da circulação, da comunicação e dos aproximação com as contribuições
agenciamentos enquanto produção de outros esquizoanalíticas. Para Lourau, o Estado está
modos de ser, de sentir e atuar, “ela tende a em todo lugar, “em todas as cabeças e corpos
se realizar quando uma comunicação máxima (...) a transversalidade do Estado é total,
se efetua entre os diferentes níveis e mesmo quando não totalitário” (Lourau, 1993,
sobretudo nos diferentes sentidos” (Guattari, p. 68-69).
1981, p. 96). O conceito de transversalidade
O poder institucional é sempre cotidiano, dado
foi modificado pelos socioanalistas e adquiriu
que o legado centro político só existe, na
um outro sentido, o de atravessamento: de
qualidade de força permanente (presente-
funções (econômicas, ideológicas, políticas)
ausente), na chamada periferia. Daí decorre a
que atravessam variadas organizações ou, em
idéia de intelectual implicado: se algum Estado
outros momentos, de instituições (casamento,
(= ‘centro’) se reproduz e há de ser por nós
escola, trabalho, Estado) que nos atravessam.
enfrentado, só o poderá ser mediante a
Comentando essa dupla designação, Rodrigues
investigação da presença do Estado
(1993) ressalta que o conceito de
Inconsciente nos atos falhos de nossos modos
transversalidade foi “proposto como
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(= ‘periféricos’) de dizer, fazer e ser. nos territórios das práticas “psi” e da filosofia
(Rodrigues, 1993, p. 439). e que colocava em questão tanto a hegemonia
da produção psicanalítica, seus efeitos e
Nesses anos, o que moveu nossas experiências compromissos, como trazia, para o centro da
foi a busca de ferramentas que favorecessem cena, as ligações entre capital e desejo. O
uma aproximação entre nosso campo de análise que mais nos interessou foi a abertura,
– desestabilizações acerca de nossos encargos promovida pelos conceitos, para considerar,
“psi” [psicologização e despolitização] – e o num modo de produção, as conexões diretas
campo de intervenção, marcado por aqueles das relações de produção econômica e
encargos que nos são designados
subjetiva, uma mesma economia político-
historicamente e a partir dos quais nos são
desejante. Isso tornava nossas práticas
dirigidas as demandas. No Rio de Janeiro,
diretamente ligadas à produção de uma cultura
pesou nessa procura o questionamento à
capitalística, uma produção que conecta
hegemonia dos enfoques psicanalíticos e seus
sistema de valor de troca – valor de uso –
efeitos na cisão entre política e subjetividade
modos de valorização do desejo, que se
e os desdobramentos das concepções de um
podiam encontrar tanto nos países periféricos
inconsciente-arquivo ou submetido às formas.
quanto naqueles ditos de economia socialista.

(...) no referencial esquizoanalítico, as formas


A abordagem esquizo considera planos ou
unificantes – grupos, estabelecimentos,
dimensões do real que não só o do concreto
organizações – são consideradas simples
e da presença. Tais dimensões reconduzem a
‘pontas’ (ou ‘extremos’) visíveis, que se
unicidade e a harmonia – habitualmente
‘representam’ ou a que se ‘reage’, por mais
vinculadas aos sistemas organicamente
que se as tente dialetizar/totalizar
estruturados - à pluralidade, à complexidade
processualmente. Assim como o conceito de
das forças produtoras da existência. A realidade
instituição é uma totalidade que se deve
não é somente o visível, e a subjetividade não
desconstruir para teorizar ‘pelo meio’,
se limita ao ‘eu’. O que se produz é resultado
também os modos de ação/intervenção são
do encontro de múltiplas dimensões ou de
mais fluidos, menos modelizados e, sobretudo,
linhas de força entrelaçadas, sem que
menos parolistes (=tagarelas). Criando
nenhuma tenha o papel de unidade
dispositivos de enunciação, visa-se menos a
transcendente – uma textura ontológica que,
instaurar situações coletivas para ‘tudo dizer’
por composições, fabrica novas figuras, estados
– favorecedor da emergência do pretenso
inéditos à nossa consistência subjetiva atual
espontaneísmo do instituinte como trabalho
(Rolnik, 2002). Estamos, desse modo,
do negativo – do que à abertura de mínimas
trabalhando na perspectiva da imanência, na
consistências capazes de acolher níveis
qual relações de forças, engendramentos e
crescentes de non-sense, ou seja, de planos
de expressão para o efetivo acaso dos devires. produções (plano micropolítico/virtualidades)
(Rodrigues, 1993, p. 436). não se encontram em relação de oposição com
as formas e as organizações de poder (plano
As elaborações esquizoanalíticas, colhidas nas macropolítico/simbólico), mas num regime de
obras e na atuação militante de Deleuze e coextensão – o desejo é potência e é
Guattari, nos levaram a ponderar sobre outros coextensivo ao social. O Inconsciente é aqui
aspectos nas intervenções. Um primeiro abordado como pura produção.
destaque poderia ser feito ao impacto
produzido com a publicação de O Anti-Édipo, A realidade criada na perspectiva da imanência
obra que vinculava as experiências dos autores recusa um ponto de partida, um sujeito ou
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Micropolítica e o Exercício da Pesquisa-intervenção: Referenciais e Dispositivos em Análise

uma idéia deflagradores dos acontecimentos, ...a relação essencial de uma força com a outra
passando da noção de possível, entendida nunca é concebida como um elemento
enquanto material disponível à criação ou à negativo na essência (...) O negativo nunca
tomada de decisões, para um possível está presente na essência como aquilo de que
enquanto engendramento, como invenção a força tira sua atividade, pelo contrário, ele
(Gallo, 2003). Desse modo, na realização de resulta dessa atividade, da existência de uma
um “ser” na dimensão da atualidade, algo força ativa e da afirmação de sua diferença.
continua, permanece em vias de se atualizar, (Deleuze, 1976, p. 7).
de ganhar corpo. Dessa perspectiva, a
transformação do existente (nos grupos, nas No desenrolar de um movimento, nosso
organizações, nos indivíduos) não se limita à pensamento e nossas ações não têm início em
criação de condições ou meios adequados à uma contraposição, mas emergem em um
conjunto de forças entre as quais existem
realização de um potencial, mas refere-se a
oposições: um movimento não surge
uma micropolítica que implica o intensivo, os
necessariamente da crítica de um outro, o que
processos de constituição de realidades, que
não impede que possamos compará-los nas
abre o atual à pluralidade do socius e qualifica
suas incompatibilidades.
a trans-formação enquanto criação de
possíveis. A dimensão micropolítica revela ser
A experiência tem início com um corte no caos
mais que uma dimensão na escala espacial (a
que instaura um plano de composição, e este
do lugar) ou que uma temporalidade (a do
constitui as condições da própria experiência
cotidiano), abrindo a história à experiência que
em que pensar o que há é tomar consciência,
se espreita no cotidiano.
é dar corpo, é atualizar. Para Lévy (1996), o
virtual é a potência do pensamento da
A questão micropolítica – ou seja, a questão
experiência, “é como o complexo
de uma analítica das formações do desejo no
problemático, o nó de tendências ou de forças
campo social – diz respeito ao modo como
que acompanha uma situação, um
se cruza o nível das diferenças sociais mais
acontecimento...” (p. 16), Nesse sentido, “o
amplas (que chamei de ‘molar’), com aquele
virtual não se opõe ao real, mas ao atual:
que chamei de ‘molecular’. Entre esses dois
2 A “vontade de poder” virtualidade e atualidade são apenas duas
ou “vontade de potência” níveis, não há uma oposição distintiva que
está, em Nietzsche, maneiras de ser diferente.” (p.15). A
relacionada à teoria da
dependa de um princípio lógico de
virtualização é, então, o processo de
vida. O poder existe contradição. Parece difícil, mas é preciso
e n q u a n t o transformação de um modo de ser num outro,
potencialidade, como simplesmente mudar a lógica. Na física
realização da vontade, e não cabe investir na busca do fundamento
quântica, por exemplo, foi necessário que um
não podendo ser referido último das coisas e dos acontecimentos, na
a um objeto faltoso ou a dia os físicos admitissem que a matéria é
um sujeito da vontade.
corpuscular e ondulatória, ao mesmo tempo. medida em que são constituídos por forças e
Refere-se o filósofo ao
vir-a-ser, diferindo do Da mesma forma, as lutas sociais são, ao tensões historicamente situadas e, portanto,
“esforçar-se” ou do parciais, mutáveis; as transformações não são
“desejar”; ele “é mesmo tempo, molares e moleculares...
caracterizado, acima de (Guattari; Rolnik, 1986, p. 127). alavancadas por evolução e retificação, mas
tudo, pelo ‘afeto de
comando’ “ (Ansell-
pelo diferencial de forças que intensificam a
Pearson, 1997, p. 59).
A noção de movimento, que ganha potência. Segundo Zourabichvili (2004), a
A vontade de poder se
afasta da afirmação de consistência entre a Macro e a Micropolítica, dialética se dá no plano das formas –
energias primitivas, de atualização do acontecimento, superfície dos
qualquer liberação dos não se faz pela negação, ou seja, pela busca
impulsos de um ego,
da síntese como na dialética hegeliana, mas corpos –, enquanto a multiplicidade se faz nos
para a afirmação da
vida como auto- pela positividade vinculada à “vontade de encontros, na imanência, no plano das forças.
superação, como 2 Como evidencia o autor, a multiplicidade, na
expansão, no curso da potência” constituída nas experiências que
qual a conservação é criam sentidos na história dos homens. Em obra deleuzeana, é um conceito que afirma
apenas um de seus
efeitos. Nietzsche, um duplo deslocamento:

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... de um lado, a oposição do um e do múltiplo presente, as práticas emancipatórias que se


cessa de ser pertinente; de outro, o problema sustentam no conceito de ideologia,
torna-se o da distinção de dois tipos de vinculando-se à visão de uma sociedade
multiplicidade (atual-extensiva, que se divide bipolarizada, cujo movimento se faz pela
em partes exteriores umas às outras, como a contradição entre as classes nos seus valores,
matéria ou a extensão, e virtual-intensiva, que interesses e necessidades, merecem ser
não se divide senão em dimensões englobadas abordadas com cautela. O que está em questão
umas nas outras, como a memória ou a não é deixar de considerar a possibilidade de
duração). (Zourabichvili, 2004, p. 70). um recorte do social referido às classes, mas
perceber que outras clivagens podem estar em
Assim, retomando Nietzsche, Deleuze (1976) jogo, pois as formas de inserção na vida social
substitui o elemento negativo do movimento são múltiplas e, além disso, outros vetores
contraditório pelo elemento da diferença, do podem estar movendo o cotidiano do coletivo
múltiplo como movimento de afirmação. com mais intensidade (Guattari; Rolnik, 1986).
Foucault (1999) também sustenta que a Nesse sentido, não se trata de substituir a
dialética reafirma o sujeito universal na História, análise de classes por qualquer outra
viabilizando uma ordenação, uma verdade estabelecida a priori, nem por análises que
reconciliada: cotejem os movimentos populares e os grupos
como grupos-em-si ou grupos-para-si, mas
No fundo, a dialética codifica a luta, a guerra considerar os grupos como dispositivos de
e os enfrentamentos dentro de uma lógica, afirmação de outros modos de subjetivação,
ou pretensa lógica, da contradição; ela os realidades abordadas micro e
retoma no duplo processo da totalização e da macropoliticamente.
atualização de uma racionalidade que é, a um
só tempo, final, mas fundamental, e, em todo É desse modo que iremos procurar marcar na
o caso, irreversível. (Foucault, 1999, p. 69). experiência, naquilo que acontece, a
experiência como acontecimento. Foucault
Segundo o autor, a dialética, na ordem
assim o diz:
filosófica e na política, é pacificação do que
se constitui como o discurso inevitável da
Acontecimento não é uma decisão, um
guerra fundamental. Buscar a filosofia do
tratado, um reino, ou uma batalha, mas uma
silêncio em Marx que evidencia um Marx
relação de forças que se inverte, um poder
Trágico (Escobar, 1993), ou extrair dele o
confiscado, um vocabulário retomado e
Filósofo da Potência (Escobar, 1996) é resgatar
o que, em Nietzsche e em Deleuze, afirma o voltado contra seus utilizadores, uma
movimento na multiplicidade e instaura a dominação que se enfraquece, se distende,
lógica do e entre as coisas, não para oscilar de se envenena e uma outra que faz sua entrada,
uma a outra, nem para constituir a média, mas mascarada. (Foucault, 1981, p.28).
para ser atravessado, pois é no entre que a
produção ganha consistência. Para o autor, inspirado na abordagem histórica
proposta por Nietzsche, inverte-se a relação
Práticas de pesquisa: outros dada como natural entre a irrupção do
suportes, novos desafios acontecimento e a continuidade ideal da
História. É que a tradição histórica constituiu
A pesquisa-intervenção, por sua atitude crítica um mundo simplificado de essências e
(inventiva) e implicativa (desnaturalizadora), se finalidades, um mundo sem acontecimentos.
afasta de posturas e posições reativas (de Nesse sentido, contar histórias através de
negação e julgamento) e amplia as condições analisadores é buscar que “se instaurem novos
de um trabalho compartilhado. Em nosso regimes de verdade, baixos começos que
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Micropolítica e o Exercício da Pesquisa-intervenção: Referenciais e Dispositivos em Análise

movem montanhas, lutas que se opõem à movimentos populares urbanos, já que as


mitificação de pequenos segredinhos, modalidades de resistência também implicam
banalidades da ação que preservam (ou ferem) toda uma micropolítica do desejo. A esse
grandes dominações”. (Rodrigues, 1993, p. respeito, Deleuze chamou a atenção para os
444). impasses no desempenho de partidos e
sindicatos que podem fazer investimentos
A percepção da dimensão histórica da vida revolucionários na defesa do interesse de classe
social é, sem dúvida, um dos desafios à (macropolítica) e investimentos reacionários ao
transformação; é ela que faz possível a crítica nível do desejo (micropolítica) (Foucault, 1981,
à naturalização das instituições, das funções p. 76). O que a abordagem micropolítica nos
que lhe são atribuídas e dos papéis a serem sugere é a problematização dessa relação
desempenhados. A dimensão histórica evoca interesse-desejo-poder a partir do rastreamento
as instituições, as funções e os papéis de lutas específicas, de um exercício de
enquanto invenções dos homens e é, acoplamento das teorias e memórias locais.
portanto, fruto do encontro e do confronto Entendemos que é daí, desses nossos lugares,
de interesses. Mas a consideração do poder que podemos produzir outras análises,
em termos de interesse parece não dar conta movimentos e demandas e perguntarmos: o
dos impasses vividos nas organizações dos que queremos transformar?

Katia Faria de Aguiar


Profª adjunta e pesquisadora em Psicologia social do Departamento de Psicologia da Universidade
Federal Fluminense. Mestre em Educação pela UFF e Doutora em Psicologia social pela PUC/SP

Marisa Lopes da Rocha


Profª adjunta e Pesquisadora em Educação do Departamento de Psicologia social e institucional da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Filosofia da Educação pelo IESAE/FGV e Doutora
em Psicologia pela PUC/SP

Rua Joaquim Pinheiro, 55/Bl I/ap. 501. Freguesia – Rio de Janeiro CEP 22.743-660
tel (21) 3327.8586
E-mail: katiafaguiar@uol.com.br,marisalrocha@uol.com.br, marisalrocha@uol.com.br

Recebido 19/09/06 Reformulado 15/02/06 Aprovado 02/03/06

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