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Universidade Federal Rural de Pernambuco

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia

História das Artes Visuais

Volume 4

Madalena Zaccara

Recife, 2014
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia


Diretor Geral e Acadêmico: Francisco Luiz dos Santos
Coordenadora Geral da UAB: Marizete Silva Santos
Vice-Coordenadora Geral da UAB: Juliana Regueira Basto Diniz
Coordenadora de Cursos de Graduação: Sônia Virgínia Alves França
Coordenador de Produção de Material Didático: Rafael Pereira de Lira
Coordenador Pedagógico: Domingos Sávio Pereira Salazar

Produção Gráfica e Editorial


Capa: Rafael Lira e Igor Leite
Ilustração de Capa: Hayhallyson Santos
Projeto de Editoração: Rafael Lira e Italo Amorim
Diagramação: Arlinda Torres

Zaccara, Madalena.
História das Artes Visuais / Madalena Zaccara – Recife: Unidade Acadêmica de Educação a Distância
e Tecnologia, UFRPE, 2011. 1ª edição.

1. História. 2. Artes Visuais. 3. Educação a Distância. I. Título.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Unidade Acadêmica
de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106 e 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 5
Arte e consumo: a Pop Art............................................................................................... 7
Sobre “O que será que torna os lares de hoje tão diferentes, tão
atraentes?”.................................................................................................................. 7
A Arte Pop em território americano............................................................................. 8
Sobre os artistas citados........................................................................................... 13
A desmaterialização do objeto: a arte conceitual e outras formas
de expressão................................................................................................................... 17
Sobre os artistas citados........................................................................................... 23
A volta da pintura: Neo-expressionismo e Transvanguarda....................................... 27
Artistas citados no capítulo....................................................................................... 32
A terra como referência: Land Art, ecologia e pós-modernidade.............................. 35
Sobre os artistas citados no capitulo........................................................................ 40
O corpo como suporte ou meio: Body Art & Performance......................................... 43
Sobre a performance como arte do corpo................................................................ 44
Sobre a Body Art: o corpo como material e meio...................................................... 47
Sobre alguns artistas citados.................................................................................... 54
Novas mídias na pós-modernidade: Instalação, Videoarte e Web Art....................... 59
Sobre as instalações e suas hibridizações............................................................... 60
Sobre o videoarte como novo recurso tecnológico no meio artístico
da visualidade........................................................................................................... 63
Sobre a web art......................................................................................................... 64
Sobre os artistas citados........................................................................................... 66
Referências...................................................................................................................... 70
Sobre a Autora................................................................................................................. 72
Apresentação
Os anos 60 marcaram não somente a eclosão dos movimentos
artísticos que tinham como objetivo maior falar da nossa vida, do dia
a dia de cada um de nós. Eles mostram um fenômeno que expressa,
dentre outras coisas, uma cultura de globalização e da sua ideologia
neoliberal e que, em essência, implica no fim do grande discurso da
modernidade que tinha, como palavras de ordem, a autenticidade, o
gênio, a inovação e, como objetivo principal, romper com um passado
e com sua estética estabelecida.

Nesta sociedade pós-industrial, o consumo passou a ser a sedução


maior do indivíduo, isolado, narcisista, hedonista. Os valores passam
a ser calcados no uso de bens e de serviços. Por outro lado, dentro
dessa economia globalizada, as pessoas não se identificam mais
como uma classe, mas de forma individualista ou estratificadas em
grupos que não traduzem uma ideologia comum mas um compromisso
com o macro em sua versão mais alienante.

A pós-modernidade implica em uma fase da história que vem depois


da modernidade e se constitui fenômeno internacional. Seus efeitos
sobre a economia e a vida, de uma forma geral, são instantâneos. Isto
é: acontecem em tempo real. Ou seja: enquanto que no passado a
integração entre os povos já aconteceu sob a forma de uma caravela,
hoje ela se faz pelos satélites e pelos computadores ligados na
internet.

É, portanto, em um mundo sem fronteiras (que nasce dos novos meios


de transporte e das novas tecnologias de informação e comunicação)
que se gera um ecletismo do sentir e do olhar presente em um
contexto social que se expressa através de suas minorias – sexuais,
raciais, culturais – no micro-cosmo do cotidiano.

A arte contemporânea é a expressão dessa pós-modernidade. Ela é


feita de pequenos discursos e se volta para a história, dialoga com
outros campos do conhecimento tais como as ciências exatas ou
sociais, com a política e com a ética além da própria estética. Sem
estilo específico ou expressão particular ela é, segundo Huysmans1
“um imenso pot-pourri de estilos”.
Saiba Mais
Essa arte contemporânea (ou pós-moderna) pertence ao circuito 1
Joris-Karl Huysmans.
L’Art Moderne. Paris:
internacional das instituições que constituem o mercado de arte. Ela
Stock, 1975.
se expressa através de múltiplos meios (tradicionais ou inovadores)

5
tais como pintura, escultura, fotografia, instalação, desempenho,
vídeo, web, etc. Poderíamos defini-la como uma espécie de guarda-
chuva que abriga diversas correntes e movimentos tais como: arte
conceitual, arte ecológica, minimalismo, arte comunitária, arte pública
e as várias opções tecnológicas. Em síntese: ela é interdisciplinar e
não disciplinável. Não obedece, portanto, a códigos estabelecidos
como acontecia no século XIX com as Academias ou no século XX
com a filiação dos artistas a determinados movimentos artísticos,
mesmo que temporariamente.

Alguém pouco informado que pretenda frequentar os espaços e


exposições dedicadas à arte contemporânea vai se encontrar, por
vezes, perdido, enfrentando obras que lhe parecem herméticas. Como
iniciar, então, o espectador leigo pelos meandros da arte (nem sempre
fácil de decodificar) contemporânea? Para isso os museus e demais
locais que fazem parte desse circuito estabelecem mediadores:
pessoas que “explicam” a obra ao público.

O que propomos nesse volume é uma mediação para uma melhor


compreensão da arte feita na pós-modernidade desde seus
princípios que acontecem com a produção pop e seus jogos com
o consumo desenfreado da sociedade que a gerou; passando pela
desmaterialização do objeto caracterizada por representações onde o
conceito, a ideia se sobrepõe ao material; visitando momentos onde
a pintura (considerada morta) volta a ser utilizada como veículo de
expressão pelos artistas dos anos 80; discutindo a ecologia e o mundo
em transformação (temas caros à Land Art) e descobrindo novas
maneiras de comunicar e sensibilizar através das novas tecnologias
constantemente disponibilizadas pelo avanço nessa área nos tempos
em que vivemos.

Você Sabia?
●● Neoliberalismo é a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de
mercado.

●● Narcisista é aquele que tem paixão por si mesmo. Vem do mito grego de Narciso
que se apaixona por sua própria imagem refletida na água.

●● Hedonista é o adepto da doutrina filosófica que afirma ser o prazer o bem maior da
vida humana. O hedonismo moderno entende o prazer como felicidade.

●● O ecletismo é uma combinação de diferentes estilos históricos em uma única obra.

●● Um pot-pourri é um modo de executar várias músicas em uma única faixa, tocadas


uma após a outra, às vezes sobrepostas.

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C a p í t u l o 18

Arte e consumo: a Pop Art

Objetivos do Capítulo
Vamos tentar compreender a proposta Pop baseada em uma estética impessoal e,
mesmo, coletiva; na ideia da máquina, do consumo e da reprodução em série. Vamos
estudar suas causas e seu desenvolvimento no universo das artes visuais.

Sobre “O que será que torna os lares de


hoje tão diferentes, tão atraentes?”
A denominação Arte Pop surgiu no final dos anos 50 e tem a sua
autoria atribuída ao crítico inglês Lawrence Alloway. Porém, o
interesse pela cultura de massa (cultura popular) em um universo cada
vez mais permeável às contaminações próprias de uma sociedade
sem mais tantas fronteiras, remonta às primeiras discussões que
envolveram Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi e outros artistas.
Eles se interessavam então a respeito de uma cultura de massa que
era composta através de linguagens como o cinema e a propaganda
e veiculada por uma mídia cada vez mais onipresente. O artista,
dentro desse novo mundo feito de novos parâmetros se interessa
pelas mesmas coisas que seus contemporâneos e trabalha como
eles utilizando as mesmas máquinas e tecnologias. Enfim: ele é um
homem como os outros.

Foi e ainda é esse o universo onde Richard Hamilton introduziu o


termo “Pop” em suas colagens, entre as quais a intitulada O que será
que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? que foi
feita com anúncios recortados de revistas americanas. As imagens
utilizadas retratam o sonho americano onde um halterofilista famoso
contracena com uma pin-up na representação de uma família ideal.
Nesse protótipo do lar-classe-média-americana, um presunto é um
ícone que faz as vezes de escultura e uma história em quadrinhos
ocupa o espaço de uma pintura na parede. Essa colagem tornou-se
um ícone da arte pop que passou a desenvolver um vocabulário que
anunciava o american way of life como o novo caminho para o céu.

7
Pesquise... Saiba Mais
O que será que torna A obra foi concebida como um pôster para ilustrar o catálogo da exposição Este é o
os lares de hoje Amanhã, do Independent Group, na Whitechapel Gallery, em Londres, no ano de 1956.
tão diferentes, tão A composição trata de uma cena doméstica dos novos tempos e é feita com recortes de
atraentes? Richard
anúncios tirados de revistas de grande circulação. Um casal formado por um halterofilista
Hamilton. 1956. Colagem.
e uma pin-up exibe o seu way of life que é formado com objetos da vida moderna:
televisão, aspirador de pó, enlatados, produtos em embalagens vistosas etc.

A publicidade, dessa forma, é incorporada pela arte. Assim, o artista apaga,


propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular, ou entre arte elevada e
a cultura de massa.

Sexo e consumo constituem a grande mensagem e o conceito da incorporação do


cotidiano à obra de arte se explicita na substituição de uma escultura por um presunto e
um quadro por uma história em quadrinhos.

O próprio Hamilton (1957) definiu os princípios centrais da nova


sensibilidade artística. Diz ele tratar-se de uma arte “popular,
transitória, consumível, de baixo custo, produzida em massa, jovem,
espirituosa, sexy, chamativa, glamourosa e um ótimo negócio”. Ao lado
de Hamilton, os demais artistas e críticos integrantes do Independent
Group se aproveitavam das mudanças tecnológicas e da ampla gama
de possibilidades dessa sociedade baseada no consumo e de suas
peculiaridades para desenvolver uma forma de expressão artística
que relata seu próprio tempo. Eduardo Luigi Paolozzi, Richard Smith
e Peter Blake são alguns dos principais nomes do grupo britânico.

A Arte Pop em território americano


Enquanto as coisas assim se processavam na Inglaterra, nos Estados
Unidos a mensagem pop realmente encontrou terreno mais sólido.
Pesquise... Jasper Johns, Larry Rivers e Robert Rauschemberg começaram a
Flag. Jasper Johns. incluir em seus trabalhos elementos da cultura de massa que incluíam
Madeira, óleo e colagem.
colagens de celebridade tais como James Dean e Elvis Presley.

Por outro lado, os artistas daquele momento começaram a


compreender que cada um poderia se tornar um criador sem depender
de uma formação acadêmica específica. Em sua maioria, os artistas
do Pop trabalhavam em publicidade e ilustração. Ou seja: ganham a
vida em espaços alternativos às artes visuais. Pragmáticos, eles não
tratavam a obra de arte como se ela fosse o resultado de uma alquimia
complicada. Eles usavam técnicas simples, populares e industriais

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além de símbolos que se incluiam nessa categoria. A, por assim dizer,
“desmistificação” das artes visuais caminhou, portanto, em paralelo à
sua aceitação comercial. Nada mais de artistas morrendo de fome à
la Van Gogh. O artista contemporâneo (e o Pop em particular) é bem
sucedido, de incrível sucesso comercial e midiático.

A superexposição na mídia tornou-se mais explícita em nomes


como Andy Warhol por volta do início dos anos 60. A ele juntaram-
se Roy Liechtenstein, Tom Wesselmann e Claes Oldenburg. As
serigrafias seriadas de Warhol colocaram no mesmo patamar
produtos consumíveis como Marylin Monroe ou uma lata de Coca-
Cola. Sua popularidade, devidamente veiculada, foi imensa. Quem,
do meio artístico ou nele interessado nunca ouviu falar na Factory,
em Manhattan, que servia ao artista de estúdio, escritório e sala de
recepções?

Saiba Mais Pesquise...


A famosa atriz Marilyn Monroe morreu em agosto de 1962. Nos quatro meses seguintes, Marilyn. Andy Warhol.
Andy Warhol pintou várias séries baseadas na publicidade do filme Niagara no qual ela 1962. Acrílico sobre tela.
Tate Gallery. Londres.
atuou. Ele repetiu, incansavelmente, sua imagem baseado na mídia contrastando, nesse
trabalho específico, as cores vibrantes da propaganda em torno de uma estrela, com o
cinza gradativo do apagar das luzes de sua trajetória.

O emprego das cores fortes estabelece uma distância irônica entre o espectador e o
tema. Qualquer coisa de um voyeurismo consumista. O ídolo é quase palpável, mas se
Pesquise...
encontra na vitrina como um produto desejado e fora do alcance. O sensacionalismo que Drowning Girl. Roy
cerca os novos mitos produzidos também é evocado e, de certa maneira, ironizado. Lichtenstein. 1963. Museu
de Arte Moderna de Nova
A repetição da imagem remonta aos cartazes e luminosos de propaganda que formam York.
o cenário urbano das grandes metrópoles e que fascinam o espectador com promessas
que parecem tangíveis. Por outro lado, a diva se confunde em meio a produtos que
ocupam o mesmo status no universo do consumo diário tais como uma banana ou uma
garrafa de Coca-Cola.
Pesquise...
Typewriter Eraser.
Os quadrinhos feitos à óleo de Liechtenstein, os enormes sorvetes, Claes Oldenburg. 1999.
colheres, cerejas ou hambúrgueres de Oldenburg ou os nus de Fiberglass.

Wesselmann ligam-se também a produtos comerciais. Os temas são


agrupados em torno do cotidiano, dos meios de comunicação e da
repetição da informação (a partir de objetos ou pessoas) concebidos
em escala industrial. Não se diferencia muito o tratamento que é dado
Saiba Mais
2
Catherine Millet. L’Art
ao vermelho das latas de sopa Campbell, reproduzidas por Warhol,
Contemporain: histoire
dos lábios vermelhos de Monroe. et geographie. Paris
Flammarion, 2006.
Uma piada citada por Catherine Millet2 nos fala de um Warhol nos

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inícios de sua carreira, ainda se procurando, que submete ao cineasta
Emile de Antonio, seu amigo, dois quadros representando cada um
uma garrafa de Coca-Cola. Em um a garrafa estava toda colorida (se
aproximando da abstração) e em outro reproduzida em preto e branco
no estilo gráfico que será próprio da Pop Art. O amigo não hesitou
e disse: “Andy, o quadro abstrato é uma droga. O outro é marcante.
É nossa sociedade. É o que nós somos...”. Andy, que queria ser um
espelho dessa sociedade semelhante a uma garrafa de Coca, seguiu
seu conselho. Ele passou a escolher e multiplicar imagens que
constituem o seu (e o nosso) cotidiano.

Essa filosofia contaminou obras de artistas britânicos, franceses,


italianos além de americanos e brasileiros. Enfim: foi um fenômeno
internacional, mesmo que cada processo político-cultural (leia-se
o momento que cada país vivenciava) tenha gerado interpretações
particulares de sociedades variadas. O Brasil, por exemplo, durante a
década de 60 estava em plena ditadura militar, o que interferiu durante
duas décadas na sociedade do país. Dentro dessas condições, os
artistas brasileiros do período aderiram apenas à forma, à técnica e
Pesquise... ao conceito utilizado na Pop Art internacional. Eles imprimiram sua
Os restos do herói. realidade como lema registrando a insatisfação com o regime político.
Antonio Dias. 1966.
Enquanto nos Estados Unidos (onde o estilo mais se afirmou) os
artistas criticavam a alienação da sua sociedade consumista, no Brasil
eles abordavam questões sociais além da violência sexual e urbana.

As “Novas Figurações”, nome que a Pop Art assumiu no território


brasileiro, envolveu nomes como Antonio Dias, Rubens Gerchman
e Claudio Tozzi entre outros representantes. Gerchman, por
Pesquise... exemplo, contaminado pelo universo da cultura de massa abordou a
Desta vez eu consigo metrópole: pintou concursos de misses, jogos de futebol, narrativas
fugir. Claudio Tozzi. 1967.
de telenovelas e histórias em quadrinhos. Na coletiva Opinião 66, ele
Tinta em massa e acrílico
sobre eucatex. mostrou obras que criticavam a situação brasileira, como Caixas de
Morar, Elevador Social e Ditadura das Coisas. Posteriormente,
em 1975, dedicou-se à telas feitas com base nas narrativas dos
quadrinhos e na produção popular de imagens, como em Virgem dos
Lábios de Mel. Na década de 80, o artista se dedicou a temas que
envolviam a criminalidade, as multidões e aspectos da vida na cidade
como vemos na série O Banco de Trás.

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Saiba Mais Pesquise...
Rubens Gerchman usa os materiais que a civilização da vulgaridade oferece, mas alia O Banco de Trás.
essa condição a uma observação aguda do mundo que o cerca e que se reveste, por Rubens Gerchman. 1985.
Acrílico sobre tela.
vezes, de uma profunda ironia. Ele não compactua com a banalidade dos costumes ou
com a violência da arbitrariedade militar. Ele denuncia tanto a violência política quanto a
hipocrisia da classe média.

Na série O banco de trás, ele ri de uma sociedade que se refugia nos automóveis para
esconder o sexo óbvio e nos propõe uma reflexão sobre a nossa própria história. A rotina
dos bancos de trás dos automóveis, própria da época, é exposta através das imagens
dos casais em posições incomodas dentro de automóveis estacionados nos parques e
ruas convencionados como próprios para tais atividades em uma época na qual o Brasil
não havia ainda descoberto os motéis.

Nesse momento, sua figuração abandonou a pintura chapada anterior que visa
representar os cartazes de publicidade, para investir em um momento mais
expressionista.

Em relação aos temas, porém ele permaneceu fiel, colocando em cena personagens
sem identidade ou mitos da classe média, próprios dos subterrâneos da cidade grande.
Buscou os quinze minutos de fama preconizados por Warhol nas páginas criminais onde
essa gente esquecida tem suas manchetes que os tornam notórios pelo espaço de
tempo em que o jornal vai servir para embrulhar o peixe de amanhã.

No Nordeste, alguns artistas trabalharam com os princípios da Pop Art.


Porém não aconteceu um movimento em torno de suas premissas,
mas abordagens mais ou menos tardias. Antonio Dias, paraibano, é o
maior exemplo dessa influência. Entretanto, o artista (nos primórdios
de sua carreira) trabalhou com essa linguagem basicamente no Rio
de Janeiro antes de migrar para a Europa. Citaremos como exemplo
dos que aqui permaneceram Raul Córdula, paraibano radicado em
Olinda, que teve momentos pop ao longo de sua trajetória e Maurício
Arrais, pernambucano que desenvolveu uma linguagem que enfatiza
aspectos populares da cultura pernambucana.

Saiba Mais Pesquise...


Maurício Arraes foi um seguidor de um figurativismo que, mesmo em um período diverso Nordeste. s/d. Maurício
do Pop oficial em relação ao mundo ocidental, busca inspiração no cotidiano das ruas do Arraes. Acrílico sobre
Eucatex. Coleção Décio
Recife, do Nordeste.
Valença.
Sua iconografia não remete aos signos e gentes prontos para o consumo da cidade
grande, mas registra o entorno nordestino: um homem numa bicicleta, uma feirante, um
violeiro na beira da praia, um casal namorando, um cachorro vagabundo ou um velho

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preguiçando na rede ou o conhecido “caga lona”, carona de caminhões que circulam por
ruas e estradas nordestinas e brasileiras.

Cores vibrantes e um clima de registro amarra sua pintura que não nos fala de ídolos
cosmopolitas, mas de gente comum em atividades comuns na região retratada: o
Nordeste do Brasil. O conjunto de cenas observadas é registrado de uma forma quase
naif. Seus quadros, sempre muito coloridos são o resultado da análise do espaço
observado: as imagens reais do imaginário nordestino.

O pop, que rejeitou a seriedade, a angústia e o elitismo das


vanguardas, principalmente o Expressionismo Abstrato expandiu-
se pelo mundo em uma época de prosperidade econômica. Os
marchands e colecionadores encamparam rapidamente essa nova
estética legitimando-a. Ela foi incorporada ao design comercial, na
propaganda (onde se inspirou) à moda e à decoração de interiores.
O papel do artista também mudou associando-se ao glamour da
celebridade. O impacto dessa arte ainda se faz presente nos dias em
que vivemos em uma sociedade cada vez mais absorvida pela ideia
do consumo e pela efemeridade dos conceitos.

Você Sabia?
●● Cultura de massa, que também é chamada de cultura popular ou pop, é o resultado
das ideias, conceitos, perspectivas e percepções de uma cultura (ocidental)
emergente fortemente influenciada pela mídia.

●● Pintura chapada é uma pintura homogênea, com áreas determinadas de uma só cor
e de características bidimensionais.

●● Marchand é um termo de origem francesa que designa o profissional que trabalha


com a distribuição e comercialização da produção de um artista.

Saiba Mais
Vamos mergulhar na internet enquanto ferramenta de nosso tempo buscando sempre
sites confiáveis e pessoas credenciadas. Dessa forma vamos ler um pouco mais sobre
pós-modernidade buscando maiores informações sobre ela no artigo Considerações
sobre modernidade, pós-modernidade e globalização nos fundamentos históricos
da educação do professor Nilson Thomé que poderemos encontrar seguindo o link:
http://www.achegas.net/numero/quatorze/nilson_thome_14.htm

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Sobre os artistas citados
●● Richard Hamilton: O artista nasceu em 1922 na Inglaterra.
Ele definiu as imagens vinculadas nos meios de comunicação
de massa, base de inspiração da arte pop, como “populares,
transitórias, consumíveis, produzidas em massa, jovens, em
escala empresarial, de baixos custos, humorísticas, sexy, ardilosas
e glamourosas”. Polivalente, ele pintou, desenhou e fotografou,
produziu colagens, instalações e designs. É considerado o pai da
Pop Art.

●● Eduardo Paolozzi: O artista nasceu na Escócia em 1924 e faleceu


em 2005. Foi um importante artista do movimento pop inglês.
Escultor e gravador ele estudou no Edinburgh College of Art e na
Slade School of Art, em Londres. Seus primeiros trabalhos foram
influenciados pelos dadaístas e surrealistas.

●● Richard Smith: Pintor britânico nascido em Letchworth. O artista


estudou na Escola de Arte de Luton, e, depois, em St Alban’s
School of Art e no Royal College of Art, em Londres. Desde
1957 passou uma boa parte do seu tempo nos EUA e, em seus
primeiros trabalhos, foi influenciado pelo Expressionismo Abstrato.
Posteriormente pelo imaginário da publicidade americana.

●● Peter Blake: Sir Peter Thomas Blake nasceu em Dartford,


na Inglaterra em 1932. Artista do movimento Pop ficou
internacionalmente conhecido por ter feito a capa do álbum
Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Também
desenvolveu um trabalho que incorpora imagens da cultura de
massa. Estudou no Royal College of Art de Londres e interessou-
se pela arte popular. Em 1964 começou a ensinar na St. Martin’s
School of Art de Londres. Pintou colagens com cores vibrantes. Em
1981 tornou-se membro da Royal Academy de Londres. Juntou-
se a Hamilton tornando-se uma das figuras chave da Pop Art na
Inglaterra.

●● Jasper Johns: O artista nasceu na Georgia (EUA) em 1930 e é


um dos maiores representantes da Pop Art americana. Começou
a pintar objetos considerados vulgares ou que nada tinham a
ver com o repertório artístico tais como bandeiras e mapas. Em
1955, pinta o mais famoso dos seus quadros: a bandeira norte-
americana. Os seus quadros incluem, habitualmente, imagens e
objetos da cultura popular.

●● Larry Rivers: Artista americano, nasceu em 1923 e faleceu em

13
2002. Começou a pintar em 1945 quando passou a reproduzir
objetos do cotidiano da cultura popular americana. Em 1965 ele
teve sua primeira retrospectiva integral em cinco importantes
museus americanos.

●● Robert Rauschenberg: O artista, inscrito no universo do pop


americano, nasceu no Texas em 1925 e faleceu na Flórida em
2008. Estudou no Kansas City Art Institute e na Academie Julien
(em Paris). Foi na década de 50 que ele deu início a série Combine
Paintings utilizando garrafas de Coca-Cola, animais empalhados
e produtos industrializados que passaram a fazer parte de sua
pintura. Ele une essa pintura à comunicação. Acreditava que a
pintura se relacionava com a vida e com a arte, buscando agir
entre estes dois pólos.

●● Andy Warhol: Nasceu em Pittsburg, Pensilvania, EUA em 1928 e


faleceu em 1987. O pai de Warhol emigrou para os EUA em 1914
e sua mãe se juntou a ele em 1921. Seu pai trabalhou em uma
mina de carvão. Graduou-se em Design em 1945 e mudou-se para
Nova York onde começou a trabalhar como ilustrador. Fez a sua
primeira mostra individual em 1952, na Hugo Galley onde exibiu
quinze desenhos baseados na obra de Truman Capote. Os anos
60 marcaram a afirmação de sua carreira como artista plástico.
Ele passou a se utilizar dos motivos e conceitos da publicidade em
suas obras, bem como do o uso de cores fortes e brilhantes e de
tintas acrílicas. Foi o grande articulador da Pop Art reproduzindo
em seus múltiplos serigráficos temas do cotidiano e objetos e
pessoas consumidos pelos americanos tais como uma lata de sopa
Campbell ou artistas e personalidades como Elizabeth Taylor, Mick
Jagger ou Mao Tse Tung. Além das serigrafias Warhol também
se utilizava de outras técnicas, como a colagem usava materiais
descartáveis ou não habituais em obras de arte. Ficou notório
também por sua frase: “no futuro todos serão famosos durante
quinze minutos”.

●● Roy Lichtenstein: Nasceu em Nova York em outubro de 1923 e


faleceu naquela cidade em setembro de 1997. Pintor, na sua obra
valorizou os temas de histórias em quadrinhos procurando, dessa
forma, criticar a cultura de massa. O processo iniciou-se com uma
pintura de Mickey, em 1960. Usando óleo e tinta acrílica ele ampliou
essas figuras dos quadrinhos como grandes anúncios comerciais.

●● Tom Wesselmann: Nasceu em Cincinnati/Ohio em 23 de fevereiro


de 1931 e morreu em Nova York em 2004. Em 1956, ele se mudou

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para Nova York e estudou na Cooper Union Escola de Artes e
Arquitetura. O artista ganhava a vida trabalhando como caricaturista
em vários jornais e revistas. No final dos anos cinquenta criou uma
série de colagens em pequeno formato e posteriormente suas
conhecidas séries Great American Nudes e Still Life. Sua escolha
por motivos triviais o tornou um dos principais artistas da Pop Art
americana.

●● Claes Oldenburg: O escultor nasceu em Estocolmo em 1929


e é considerado um dos principais representantes da Pop Art
americana. No trabalho desenvolvido por Oldenburg, desaparece
qualquer vestígio de pintura e ele investe em imagens ampliadas
e exageradas do cotidiano. Esses objetos, alimentos e artefatos
fazem parte da sociedade de consumo. São os hot-dogs e os
ice-creams que são diariamente introduzidos em quantidades
industriais que ele toma como seus ícones.

●● Antonio Dias: Antonio Manuel Lima Dias nasceu em Campina


Grande, Paraíba em 1944. Artista multimídia aprendeu com o avô
as técnicas elementares do desenho. No final da década de 1950,
no Rio de Janeiro, trabalhou como desenhista de arquitetura e
gráfico. Estudou no Atelier Livre de Gravura da ENBA. Em 1965,
recebeu bolsa do governo francês e residiu até 1968 em Paris.
Depois, transferiu-se para Milão, onde mantém ateliê. Em 1977,
viajou para a Índia e o Nepal, onde estudou técnicas de produção
de um papel, que serviu de suporte para seus trabalhos. Em 1988,
residiu em Berlim como bolsista do Deutscher Akademischer
Austausch Dienst - DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio
Acadêmico]. Em 1992, tornou-se professor da Sommerakademie
für Bildende Kunst, em Salzburgo, Áustria, e, no ano seguinte,
da Staatliche Akademie der Bildenden Künste, em Karlsruhe,
Alemanha.

●● Rubens Gerchman: Nasceu no Rio de Janeiro em 1942 e faleceu


em São Paulo em 2008. Foi um artista plástico brasileiro ligado
à Pop Art. O artista usou ícones do futebol, televisão e política
em suas obras. Estudou desenho no Liceu de Artes e Ofícios do
Rio de Janeiro e trabalhou como programador visual em revistas
e editoras do Rio. Em 1960, matriculou-se na antiga ENBA mas
abandonou o curso no ano seguinte. Adotou uma estética da pop
americana e do Novo Realismo europeu.

●● Cláudio Tozzi: Claudio José Tozzi nasceu em São Paulo em 1944.


Pintor, ele é mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura

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e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU-USP. Em suas
primeiras obras, o artista revela a influência da arte pop, pelo
uso de imagens retiradas dos meios de comunicação de massa.
Trabalha com temáticas políticas e urbanas, utilizando, com
frequência, técnicas como a serigrafia. Tozzi viajou a estudos para
a Europa em 1969 e, a partir dessa data, seus trabalhos revelam
uma maior preocupação com a elaboração formal e perdem o
caráter panfletário que os caracterizava. Começou a desenvolver
pesquisas cromáticas na década de 1970. Nos anos 80, sua
produção abriu-se a novas temáticas figurativas com aves e
paisagens brasileiras.

●● Raul Córdula: Nasceu em Campina Grande, Paraíba em 1943.


É pintor, desenhista, gestor, professor e hoje mora em Olinda,
Pernambuco, onde continua a desenvolver seu trabalho iniciado
na adolescência. Seu vocabulário geométrico remete, porém, ao
universo circundante: as cores e formas do Nordeste do Brasil.

●● Mauricio Arraes: Artista de origem pernambucana, ele nasceu em


Recife em 1956. Filho do político Miguel Arraes ele acompanhou
seu pai no exílio durante a ditadura militar. Começou a pintar na
Argélia e depois na França. Radicado no Rio de Janeiro ele vive do
que gosta de fazer: pintar.

Pesquise... Atividades
Drowning Girl. Roy A partir das duas imagens indicadas ao lado, estabeleça paralelos entre a Pop Art
Lichtenstein. 1963. Museu americana e a brasileira. Discuta com seus colegas os pontos comuns entre ambas as
de Arte Moderna de Nova expressões Pop em contextos diferentes. Para finalizar o exercício liste os pontos em
York.
comum e os diversos.

Pesquise...
Guevara Vivo ou
Morto. Claudio Tozzi.
1967. Acrílico sobre
aglomerado.

16
C a p í t u l o 19

A desmaterialização do
objeto: a arte conceitual
e outras formas de
expressão

Objetivos do Capítulo
O que é arte conceitual? Qual é a sua proposta? Nesse capítulo discutiremos conceitos,
origens e atuação dessa forma de expressão artística ainda tão hermética para tantos de
nós, pois, afinal: quem tem medo da arte conceitual?

As mudanças nos sistemas de referência em relação às artes visuais


(da forma como as compreendíamos ou as estudávamos desde a
Renascença) em relação às suas expressões tradicionais (arquitetura,
pintura, escultura) e que formaram a base das academias (desde o
século XVII) passaram a acontecer no início da modernidade. Elas
tornaram-se mais radicais a partir do final da década de 1960, quando
a própria noção do objeto artístico passou a ser questionada. Ou seja:
as grandes pinturas ilusórias do Barroco que levavam o espectador
a imaginar dimensões paralelas nos tetos das igrejas ou, mesmo, as
abstrações espiritualizadas de Kandinsky cederam lugar para uma
categoria artística que costuma ser designada como arte da ideia
onde o conceito substitui a obra.

Esse movimento, dentro do universo da história das artes plásticas,


surgiu em fins dos anos 60 e inícios da década seguinte e engloba
ou compartilha pontos comuns com uma série de manifestações
artísticas tais como: performance, arte do corpo (body art), instalação,
arte da terra (land art ou earth art) e videoarte entre outras formas
de criação. Por vezes ela abdica completamente de qualquer vínculo
com o objeto físico limitando-se a ações das quais só a documentação
(fotográfica ou através de filmes) sobrevive.

Essa nova forma de expressão tem antecedentes fortes na obra e


nas ideias de Marcel Duchamp, o artista dadaísta e polivalente que
já estudamos nessa disciplina. Ele foi o precursor da Arte Conceitual
na medida em que questionou as regras da produção artística, os

17
julgamentos estéticos e a participação do espectador como elemento
atuante na obra de arte. Catherine Millet, a crítica de arte americana,
assim se expressa sobre a importância de Duchamp para o conceitual
que é marcante na produção artística contemporânea:

(...) os ready-made de Duchamp transformaram-


se em uma referência obsessiva para as novas
gerações. Na escolha dos objetos Duchamp
Saiba Mais provou uma arbitrariedade total (...) essa soberania
3
Catherine Millet. L’art é reclamada por todo artista que vem depois dele.
contemporain: histoire et Isso resulta em uma quantidade de obras regidas
géographie. Op. Cit. p. 87. por leis decretadas pelo artista e por mais ninguém.
(...) O artista constrói sua obra como um mundo em
cujo interior existem os símbolos definidos por ele
mesmo3.

Pesquise... Então, sob a inspiração duchampiana e levando em conta outros


Salto no Vazio. Yves precedentes tais como o trabalho executado pelo artista Robert
Klein. 1960. Foto. Rauschemberg, em 1953 (onde este apaga um desenho do conhecido
artista do Expressionismo Abstrato, De Kooning, e lhe dá o título de
Desenho apagado de De Kooning); o Salto no Vazio de Yves Klein
ou os corpos humanos assinados por Piero Manzoni (quando o artista
assina seus próprios modelos subvertendo a tradição da História
Pesquise... da Arte) entre outras manifestações; nasce a “arte do conceito” que
Living Sculptures. Piero busca envolver a mente do espectador para uma compreensão da
Manzoni. 1961. Fotografia mensagem que o artista quer passar e que o torna cúmplice dela.
da ação.
Para compreendermos melhor esses precursores vamos analisar
a obra Anthropometries de Yves Klein, realizada na Galerie
Internationale d’Art Contemporain, em Paris, 1960.

Pesquise... Saiba Mais


Anthropométries de Yves Klein antecipou os procedimentos de muitos artistas contemporâneos conceituais
l’époque bleue. Yves com suas técnicas excêntricas e espetaculares tão de acordo com o espírito de
Klein. Paris. 9 de março
espetáculo próprio da pós-modernidade em que vivemos.
de 1960.
Nesse trabalho ele se se utilizou de modelos nuas (mulheres-pincéis) cobertas com tinta
azul e que se moviam como pincéis vivos imprimindo a marca de seus corpos embebidos
de tinta azul sobre as telas. A ação se passou sob o som de uma sinfonia e foi batizada
de Antropometrias (formas que se assemelham ao homem).

Os músicos, durante a ação, tocavam uma nota repetida dez minutos e em seguida um
silêncio. Klein, ator e espectador, observava o desenrolar da cena que havia concebido
na qual se unia teatro, música, pintura e performance.

18
A definição e a vivência dessa arte baseada no conceito foi
aprofundada principalmente por Joseph Kosuth que em seu ensaio
Art after Philosophie4 explica que a arte deve se interrogar sobre Saiba Mais
sua própria natureza. O desafio do artista consistia em descobrir e 4
Citado por Marc
Jimenez. La querelle de
definir a natureza e a linguagem da arte e que ela é um pretexto para
lárt contemporain. Paris:
uma reflexão, uma conceitualização. Ela é feita para envolver a mente Gallimard, 2005. p. 92.
do espectador e não só o seu olhar.

No seu conhecido trabalho Uma e três cadeiras ele se propõe a


conscientizar o espectador da sua filosofia. Sobre a representação
visual e verbal de uma ideia, o que seria a expressão artística maior?

Saiba Mais
Neste trabalho o artista expõe uma cadeira, a fotografia do objeto e a definição do Pesquise...
nome “cadeira” extraída de um dicionário. Ele se propõe, dessa forma, a conscientizar o Uma e três cadeiras.
espectador sobre a natureza da integração entre uma ideia e sua representação visual e Joseph Kosuth. 1965.
linguística (verbal). Instalação.

Pouco importa a natureza do material da cadeira ou seu aspecto estético. Não se trata de
provocar uma emoção, mas a interrogação do ator/espectador sobre a natureza da arte,
da ideia, do conceito.

A proposta aconteceu inicialmente em Nova York, entretanto, como


as demais expressões artísticas da pós-modernidade, ela logo se
internacionalizou. Dessa forma, encontramos artistas americanos
(John Baldassari, Robert Barry, Dan Grahan, entre outros) trabalhando
sob a mesma premissa que artistas alemães (Joseph Beuys, Hans
Haacke, Gerard Richter), japoneses (On Kawara), franceses (Daniel
Buren) ou ingleses (Grupo Art & Language).

Essa produção se diversifica em “documentos, propostas escritas,


filmes, vídeos, performances, fotografia, instalações, mapas ou
fórmulas matemáticas5”. Nada estabelece as fronteiras da arte e Saiba Mais
é o mundo dos especialistas que determina os processos, fixa as 5
Amy Dempsey. Estilos,
convenções e decreta o que é ou não uma obra de arte. Segundo Escolas & Movimentos:
guia enciclopédico da
Marc Jimenez (2005), referindo-se à produção contemporânea que arte moderna. São Paulo:
inclui o conceitual, Cosac & Naify, 2003. p.
242.
O reconhecimento em nível internacional é
primordial. Um artista local ou provinciano por
mais talentoso que seja raramente é nomeado
de artista contemporâneo. Esse reconhecimento
está condicionado à uma notoriedade mínima em
relação ao mundo da arte e aos circuitos oficiais

19
institucionalizados6.

Saiba Mais Se nos anos 70 a maior preocupação dos artistas conceituais era a
linguagem da arte posteriormente ampliou-se o seu campo de atuação.
6
Marc Jimenez.
La querelle de lárt Dessa forma alguns passaram a investigar fenômenos naturais como,
contemporain. Paris: por exemplo, Walter de Maria e seu Campo de Forças no qual ele
Gallimard, 2005. Op. Cit.
p. 152. interfere diretamente na natureza tentando interagir com ela.

Saiba Mais
Pesquise... O artista trabalha com a Land Art (arte da terra) desde a década de 60. Nessa ação
Campo de Forças. construída numa planície semidesértica do Novo México, nos Estados Unidos, ele
Walter de Maria. 1971- se utiliza de quatrocentas estacas de sete metros de altura, colocadas numa matriz
1977. geométrica rigorosa.

O objetivo é, em uma zona assolada por tempestades, atrair os raios fazendo com que a
ação humana provoque a da natureza e gerando um fenômeno de grande dramaticidade
para o olhar do espectador.

O registro da ação é o resultado concreto do trabalho. Esse registro é feito através de


filmes e fotografias caracterizando assim a efemeridade da arte.

Outros artistas utilizaram a narrativa, o contar histórias, inclusive


pessoais. É o caso do artista japonês On Kawara que, há quase
quarenta anos, pinta em branco sobre um fundo monocromático, em
um processo sempre idêntico, a data de cada dia que ele vive.

Saiba Mais
Pesquise... Desde 04 de janeiro de 1966 o artista deu início à série Hoje que consiste no registro
Hoje. On Kawara. Pintura do dia em letras brancas, simples, contra um fundo monocromático. A data é sempre
em série. Tinta, tela, documentada na língua (e utilizando as convenções gramaticais) do país em que a
jornal. pintura é executada.

As pinturas são executadas em um dos oito tamanhos escolhidos pelo artista. Todos com
orientação horizontal. As datas nas pinturas são sempre centradas sobre a tela. As cores
do fundo podem variar. As pinturas dos primeiros anos tendem a ter cores fortes e as
mais recentes são de tom mais escuro.

Cada obra é cuidadosamente executada à mão. Se Kawara é incapaz de completar o


trabalho no dia em que foi iniciado imediatamente ele o destrói. Quando uma pintura
de data não é exibida, ela é colocada em uma caixa de papelão sob medida para a
pintura, que é alinhada com um recorte de um jornal local da cidade em que o artista fez
a pintura.

Kawara até agora criou pinturas-data em mais de 112 cidades em todo o mundo em um
projeto que está previsto para terminar somente com sua morte.

20
Continuando a enumeração das atuações dos artistas conceituais
nas diversas instâncias propostas para análise e/ou interferências
verificaremos que alguns artistas do conceito se propõem também
a explorar o poder da arte como agente transformador de vidas ou
instituições e, mesmo, a criticar as estruturas de poder do universo da
arte ou as condições políticas e sociais do planeta. Nesse nicho se
insere o trabalho de Joseph Beuys do qual citaremos, como exemplo,
a ação realizada em Dusseldorf, na Galeria Schmela, em 1965,
intitulada Como explicar pintura a uma lebre morta.

Saiba Mais Pesquise...


Beuys foi um dos artistas mais controvertidos nos anos 70 e início dos 80. Místico, um Como explicar pintura a
pouco xamã, e com uma aura de mistério envolvendo sua queda de avião durante a uma lebre morta. Joseph
Beuys. 1965.
guerra e sua salvação por uma tribo tártara, ele criou uma obra que despertou atitudes
controvertidas que vão desde a admiração ao repúdio.

Suas “ações” ganham o sentido de verdadeiros rituais, que mostram Beuys em um estado
de concentração e de intensidade cuja força comunicativa, frequentemente qualificada de
fascinação, é atestada por todos os presentes. Em seu trabalho a presença de animais
é uma constante.

Nesta ação específica, o artista com o rosto envolto em mel e pó de ouro, vestido com
camisa, calça social e colete entrou na galeria carregando uma lebre morta. Lá dentro,
trancado com o animal por três horas ele se pôs a andar pela galeria parando diante de
cada obra na parede para sussurrar algo na orelha do animal morto. Do lado de fora, o
público não conseguia ouvir nada. Só acompanhava os movimentos da dupla pela vitrine
de vidro e pelas janelas da galeria.

A metáfora utilizada tenta passar a ideia de que é mais fácil ensinar arte a uma lebre
morta de que ao público de maneira geral. Através deste trabalho (e de outros) Beuys
tenta transformar a sociedade ou chamar atenção para as suas contradições.

A arte conceitual atingiu seu apogeu em meados dos anos 70,


mas até os dias que correm (mesmo após o retorno à pintura, do
qual falaremos posteriormente que aconteceu na década de 80), o
interesse pela ideia como ponto de partida para a arte permanece em
alta na arte contemporânea.

No Brasil, a arte conceitual iniciou-se sob a ditadura militar. A partir


dessa situação política os artistas criaram ações que funcionaram
como estratégias metafóricas e simbólicas para burlar o controle
estabelecido pelo regime. Dessa forma, além dos objetivos comuns
com os outros centros, a utilização do conceito veio atrelada a toda
uma carga de denúncia política. Com Cildo Meirelles, temos um

21
exemplo contundente de como a arte conceitual se processou no
país. Um dos mais significativos artistas de sua geração, sua atuação
coincide com o fechamento político.

Nestes anos de censura, de medo e de silêncio ele destacou-se com


suas propostas políticas e críticas como seu projeto Inserções em
circuitos ideológicos. Em uma de suas ações mais conhecidas
intitulada Quem matou Herzog?, ele usa sua arte para questionar a
ditadura e suas ações.

Pesquise... Saiba Mais


Quem matou Herzog?. Trata-se de uma mensagem explícita, ainda que anônima, de sua visão da arte enquanto
Cildo Meirelles .1975. meio de democratização da informação e da sociedade. O jornalista Wladimir Herzog
Carimbo sobre nota de supostamente suicidou-se (explicação oficial) nos porões de tortura da ditadura militar.
um cruzeiro.
Utilizando um meio de comunicação subterrâneo, uma vez que a censura estava
instaurada em relação aos meios de comunicação, ele “questiona” o regime utilizando-se
da inserção da mensagem em um circuito público e incontrolável.

No nordeste do país aqueles que trabalharam com o conceitual


trabalharam isolados. É o caso dos artistas pernambucanos Paulo
Bruscky e Daniel Santiago. Durante o período da ditadura militar
(particularmente mais duro em relação à repressão em Pernambuco)
ambos os artistas priorizam as pesquisas experimentais que
envolviam o espaço e o ambiente. Atuaram em happenings, fizeram
copy art, áudio arte, arte correio etc. Em 1974 lançaram o Movimento/
Manifesto Nadaísta, que faz uso do suporte super-8.

A cidade de Recife serve como suporte para muitas das ações dos
artistas desde a década de 70 até os dias que correm. No trabalho
Recife em Recife, o centro da cidade vira uma galeria aberta onde
o próprio espaço urbano (apropriado por Paulo Bruscky) é proposto
como obra de arte. Dessa forma “a Avenida Guararapes à noite”;
“o Rio Capibaribe visto do quinto andar do Edifício Tereza Cristina”;
“a madrugada na Avenida Conde da Boa Vista” transformam-se em
trabalhos artísticos.

A dupla separou-se, mas os artistas continuam produzindo. Daniel


Santiago recentemente produziu e executou a performance As
noivas de D. Gatão.

22
Saiba Mais
As Noivas de D. Gatão. Daniel Santiago. 2008.

Assista aqui: http://www.youtube.com/watch?v=5Qsd5HwUtAg

Na performance em questão o artista Daniel Santiago se veste e se mascara como um


gato e juntamente com parceiras vestidas de noiva brinca com a cerimônia do casamento
religioso interagindo de forma lúdica com o público.

A ação foi filmada com direção de Ana Paula Teixeira gerando um vídeo-poema que
registra a ação de Santiago e de seus companheiros nas ruas da capital pernambucana.

Saiba Mais
A revista Tatuí é uma publicação dirigida por jovens críticos de arte pernambucanos
formados no curso de Artes Plásticas da Universidade Federal de Pernambuco. Vamos
ler esse artigo Ponderações em torno das intervenções urbanas de Paulo Bruscky,
de autoria de Fabrícia Jordão, publicado neste periódico seguindo o link http://revistatatui.
com/revista-online/ponderacoes-em-torno-das-intervencoes-urbanas-de-paulo-bruscky/

Sobre os artistas citados


(Lembre-se que alguns podem constar em volumes anteriores):

●● Yves Klein: O artista nasceu na França, em 1928, e lá faleceu


em 1962. Começou a pintar em 1947 e em 1950 foi para Londres
trabalhar no atelier de Robert Savage. No ano de 1955, Klein teve
uma de suas obras recusada pelo Salon des Réalités Nouvelles,
uma obra monocromática laranja e, nesse mesmo ano, travou
conhecimento com vários artistas do grupo intitulado Novo
Realismo. Em 1957 iniciou os trabalhos no azul que batizou de
International Klein Blue (IKB). Em 1957, realizou a exposição Le
Vide, na Galerie Iris Clert de Paris. Ele realizou várias performances
entre elas as Antropometrias e o famoso Salto no Vazio.

●● Joseph Kosuth: O artista nasceu em 1945, na cidade de Toledo


(Ohio), Estados Unidos. Estudou na Escola de Artes Visuais
de Nova York. É considerado um dos mais importantes artistas
conceituais do pós-guerra. Seu trabalho foi em grande parte
influenciado pelos questionamentos de artistas ligados ao grupo
Fluxus, que usavam a linguagem para investigar a função e a

23
natureza da arte.

●● John Baldessari: O artista nasceu em 1931 nos Estados Unidos. É


um artista conceitual que iniciou sua trajetória artística como pintor.
Ele criou obras que combinam imagem e narrativa influenciando as
novas gerações de artistas conceituais.

●● Robert Barry: O artista nasceu em 1936, no Bronx, em Nova York.


Estudou no Hunter College de Nova York. Realizou a sua primeira
exposição individual em 1964, Interessou-se em refletir sobre a
dimensão espacial das obras com tendências ao minimalismo.
Relacionou a arte com a ideia e a descrição através das palavras
que escreve nas paredes ou difunde de forma sonora. Sua obra
aproxima-se do Grupo Arte & Linguagem.

●● Dan Grahan: Nascido em 31 de março de 1942 nos Estados


Unidos. É um artista conceitual, influente no campo da arte
contemporânea tanto como artista como enquanto teórico. Sua
carreira artística começou em 1964 quando se mudou para Nova
York e abriu a John Daniels Galeria. Trabalha com performance,
fotografia, modelos de arquitetura e estrutura de vidro e espelho.

●● Joseph Beuys: Nasceu na Alemanha em 1921 e faleceu em 1986.


É um dos artistas mais controvertidos nos anos 70 e início de 80.
Conhecido como performático místico, guia e xamã. Suas ações
são verdadeiros rituais. Para Beuys, as mudanças na estrutura
social e política do mundo aconteceriam somente a partir da arte.
Em 1962, o artista aderiu ao movimento Fluxus que procurava
explorar o efêmero, o transitório, e ainda manifestar a energia
vital coletiva. Costuma-se dizer que a predominância de feltro e
gordura na obra de Beuys é devida a um incidente ocorrido na
guerra. Beuys foi alvejado e seu avião caiu durante uma missão
na Crimeia e ele acabou sendo resgatado por tártaros que teriam
utilizado a gordura como um dos elementos para a sua cura.

●● Hans Haacke: Nasceu em 12 de agosto de 1936 na Alemanha.


Vive e trabalha em Nova York. Durante seus anos de formação,
ele era um membro do Zero (um grupo internacional de artistas).
O artista sofreu influência desse grupo que utilizava materiais não
tradicionais em relação ao universo das artes visuais tais como:
materiais industriais, fogo e água, luz e efeitos cinéticos. Ele os
incorpora ao seu trabalho juntamente com os retirados da biologia.
Fez incursões na Land Art.

●● Gerard Richter: Nasceu em Dresden, em 1932, numa família de

24
classe média. Como muitos alemães de sua geração ele acabou
tendo uma relação com o nazismo cuja ideologia assombrou
Richter causando aversão a qualquer processo ideológico. Ele
estudou na Academia de Arte de Dresden na Alemanha Oriental
comunista. Anos mais tarde e poucos meses antes da construção
do Muro de Berlim, ele e sua esposa fugiram. Durante o início
dos anos sessenta Richter conheceu e começou a trabalhar
com artistas como Sigmar Polke, Konrad Fischer-Lueg e Georg
Baselitz. Começou então a conceber arte dissociada de seu
processo histórico. Em 1972, Richter foi escolhido para representar
a Alemanha na Bienal de Veneza.

●● On Kawara: O artista nasceu no Japão em 1933. Vive em Nova


York desde 1965. Artista conceitual, desde 1966 ele iniciou a série
Hoje que implica no registro cotidiano do dia vivido em suportes de
tamanho padrão e fundo monocromático. Cada ano, entre 63 e 241
pinturas são feitas.

●● Daniel Buren: Nasceu na França em 1938. Artista conceitual,


ele é conhecido pelo uso regular de listras integrando espaços
arquitetônicos. Graduado pela Ecole Nationale Superieure des
Metiers, em 1960, foi nesse período que ele começou a pintar.
Abandonou a pintura tradicional e a substituiu pela ação de pintar
listras verticais alternando entre o branco e uma cor escura

●● Grupo Art & Language: É um grupo de artistas que foi fundado,


em 1968, por Terry Atkinson, David Bainbirdge, Michael Baldwyn
e Harrold Hurrel. Realizou trabalhos conceituais que estabelecem
jogos com as palavras. A partir de 1969, passou a publicar uma revista
com o nome do próprio grupo para divulgação dos seus trabalhos.
Com a participação de Joseph Kosuth o grupo dividiu-se em duas
partes: uma britânica e outra americana. Durante os primeiros
anos da década de oitenta, o grupo se revitaliza com a presença
de Michael Baldwyn e Mel Ramsden.

●● Walter de Maria: O artista norte-americano nasceu em 1935,


em Albany, EUA. Estudou arte na Universidade da Califórnia, em
Berkeley, entre os anos 1953 e 1959. A partir deste ano realizou os
seus primeiros trabalhos e tomou parte em happenings. Em 1960
ele instalou-se em Nova York, realizando a sua primeira exposição
individual três anos depois. É um dos pioneiros do movimento Land
Art.

●● Cildo Meirelles: Cildo Campos Meirelles nasceu no Rio de Janeiro


em 1948. Artista multimídia, ele iniciou seus estudos em arte em

25
1963, na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília. Em
1967, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola
Nacional de Belas Artes. Sua obra conceitual é embasada em um
pensamento político. Desenvolveu séries de trabalhos inspirados
em fatos brasileiros, em papel moeda, como Zero Cruzeiro e Zero
Centavo e em questões acerca de unidades de medida do espaço
ou do tempo.

●● Paulo Bruscky: O artista nasceu em Recife, em 1949, onde vive


e trabalha. Bruscky trabalha com diversas mídias, que incluem
desenhos, performances, happenings, copy art e fax-art, arte
postal, intervenções urbanas, fotografia, filmes, poesia visual,
experimentações sonoras e intervenções em jornais, entre outras
experiências. Apresentou sua primeira exposição em 1970 e, a
partir dessa data, começou a trabalhar em colaboração com Daniel
Santiago pelas próximas duas décadas. Seu trabalho desenvolveu-
se, em grande parte, no espaço público, onde ele propôs diversas
ações, a maioria das quais com participação do público.

●● Daniel Santiago: Daniel Santiago nasceu em Garanhuns,


Pernambuco, em 1939. Serviu a Aeronáutica em Salvador por
oito anos e atuou em São Paulo como professor de desenho. Em
1969 retornou para Pernambuco e em 1973 ingressou na Escola
de Belas Artes da UFPE. Lá conheceu Paulo Bruscky com quem
mantém uma parceria por 20 anos. Artista multimídia, ele também
é professor de desenho, jornalista e funcionário da Fundação
Cultural de Recife.

Atividades
Faça um pequeno texto sobre a diferença entre a expressão artística tradicional e a
conceitual.

26
C a p í t u l o 20

A volta da pintura:
Neo-expressionismo e
Transvanguarda

Objetivos do Capítulo
Como se processou o retorno de uma mídia artística que foi considerada “morta” após
a desmaterialização do objeto, do conceito e demais meios de expressão artística que
priorizavam a ideia em relação à matéria! A pós-modernidade, historicista, recuperou a
pintura como meio. Nesse capítulo vamos compreender como isso se processou.

No contexto dos anos 80, o crítico italiano Achille Bonito Oliva


“condenou o darwinismo das vanguardas7” e exaltou o modelo do
artista “traidor”. Ou seja: aquele que não teria que ser necessariamente
ligado a uma “verdade” artística. Para ele o artista deveria se mover
Saiba Mais
7
Catherine Millet. L’Art
em várias direções e não somente em uma única como pregava a
Contemporain: histoire
filosofia da modernidade. O artista não deveria obedecer a um único et geographie. Op. Cit.
estilo mas passar de um para o outro e podia, mesmo, os misturar. p. 102.

Essa filosofia era bem de acordo com a ideia pós-moderna de recorrer


ao passado. Nela, a redescoberta da “pintura morta” como linguagem.
A figuração, a emoção, a autobiografia e a memória voltaram como
parte dos interesses desacreditados pela modernidade e reabilitados
pela arte contemporânea na pós-modernidade.

Antes de passarmos adiante gostaria de fazer um parêntese


para uma consideração sobre o que é arte contemporânea. Em
princípio, tudo que é produzido contemporaneamente poderia ser
designado como tal. Entretanto, não é bem esse o seu conceito. Arte
Contemporânea, expressão que se impôs principalmente a partir dos
anos 80, faz referência a uma produção artística que explora campos
novos da criação, novos meios de expressão e que se apodera das
conquistas do passado renovando as formas artísticas existentes e
buscando refletir sobre elas. A História da Arte vê surgir uma época
que se caracteriza, sobretudo por um ecletismo total de estilos e
concepções. É um momento em que os “neos” substituem os “ismos”
da modernidade.

27
Dentro dessa realidade o Neo-Expressionismo, que aderiu a pintura
“morta”, surgiu inicialmente nos anos 80, na Alemanha, tendo a
Pesquise... frente artistas como Georg Baselitz, Anselm Kiefer, Sigmar Polke
Innenraum. Alselm entre outros. Esse Neo-Expressionismo, internacionalista, também
Kiefer. 1981.
vai aparecer com outros nomes em outros países tais como:
Figuration Libre, na França, ou Bad Painters nos Estados Unidos ou
Transvanguarda, na Itália. Outros artistas não se afiliaram a grupos,
Pesquise... mas tinham o mesmo perfil dessa pintura expressionista. É o caso de
Sigman Polke. 2007. Jenny Saville (Inglaterra) ou Claude Simard (Canadá).

A obra neo-expressionista caracteriza-se por aspectos que envolvem


a técnica e o tema. O tratamento dos materiais tende a ser tátil,
mesmo tosco, enquanto que a temática expressa emoções as mais

Pesquise... variadas. Os temas envolvem a História da Arte, a história coletiva ou


a pessoal como em Jenny Saville de quem observaremos o trabalho.
Maison Jaune. s/d.
Claude Simard. Óleo
sobre tela.

Saiba Mais
A artista pinta retratos intimistas, quase sempre auto-retratos onde o inconformismo
é o tema. Como conviver em face dos padrões estabelecidos para nossos corpos?
Pesquise... Trabalhando na escala de cartazes de publicidade ela se representa questionando os
Branded. Jenny Saville. padrões do “bom gosto” em uma época de dietas e intervenções cirúrgicas que “colocam”
Óleo sobre tela. 1992. o corpo dentro dos padrões admissíveis.

Ela representa-se obesa, por vezes, com o corpo cheio de marcações próprias das
intervenções cirúrgicas estéticas. Outras vezes a sua forma humana é reduzida a cortes
da carne, mesmo pendurada como se fosse objeto de exposição em um açougue.

Através de sua obra ela desafia convenções interrogando (dentro de uma ótica feminista)
a própria História da Arte através do elenco de corpos representados por Rubens, por
exemplo.

Na Alemanha a influência do neo-expressionismo foi marcante.


Segundo Dempsey (2003):

As gravuras e pinturas de Penck, de grande


expressividade, remetem ao grupo A Ponte; as
abstrações de Richter, dos anos 80, sobrepõem
às cores expressivas de A Ponte as tonalidades
mais líricas de O Cavaleiro Azul produzindo uma
Saiba Mais abstração ao mesmo tempo vibrante e de cores
atenuadas8.
8
Amy Dempsey. Estilos,
Escolas & Movimentos.
Op. Cit. p. 279. Em síntese, a Alemanha traz em sua cultura visual uma grande
tradição expressionista. Nos Estados Unidos o movimento engajou-
se em uma luta contra o american way of life com os trabalhos de

28
vários artistas relatando os dramas suburbanos americanos. Entre
eles figura Eric Fischl que invoca como tema o conformismo do sonho
americano.

Saiba Mais Pesquise...


O trabalho do artista deriva-se das fotografias tiradas como se fossem instantâneos de O dono do quarto. Eric
sua própria vida que ele reproduz em telas de grandes formatos. O objetivo maior é a Fischl. 1983. Óleo sobre
busca de uma identidade na vida massificada dos subúrbios iguais. tela.

Seu trabalho é a denúncia do anonimato através da exposição de sua intimidade as vezes


de forma ligeiramente pornográfica. São representações desafiadoras da necessidade
de si mesmo, característica própria do anonimato pós-moderno.

A Transvanguarda é a versão italiana do neo-expressionismo. Termo


criado pelo crítico Bonito Oliva nos fins da década de 70, ele diz
respeito ao trabalho produzido dos fins daquela década até os anos
90 por um grupo de artistas que haviam retornado a uma expressão
pictórica caracterizada pelas cores fortes, pela nostalgia temática e
pela redescoberta dos materiais.

O grupo era composto de Sandro Chia, Francesco Clemente, Enzo


Cuchi e Mimmo Paladino que iam de encontro ao predomínio do
minimalismo e do conceitual através de sua pintura revitalizada. Eles
Pesquise...
Ii vento dei galli neri.
rejeitavam o caminho “correto” designado pelos historiadores para as Enzo Culchi. 1983. Óleo
artes visuais que deveriam seguir o roteiro desafiante da modernidade sobre tela.
e optaram pela retomada de um meio (a pintura) considerado extinto
para a arte contemporânea.

Nas suas obras, os artistas recorreram à tradição cultural italiana onde


a História da Arte encontrou tantas referências. A obra desses artistas, Pesquise...
por vezes, recorre às fontes de forma quase que arqueológica. Three Comets. Mimmo
Ela junta passado e presente com um senso de liberdade que Paladino. 1983. Óleo
sobre tela.
caracteriza a produção pós-moderna, “sem referência particular a
uma modernidade concebida como processo dinâmico para um futuro
melhor9”.

Essa visão menos formalista da arte implica em uma abertura ao


hibridismo, à mistura de gêneros e a um historicismo (impuro para
Saiba Mais
9
Marc Jimenez. La
os modernos) que possibilita uma experimentação que evoca uma
querelle de l’art
dimensão social e política além de memorialista para a arte. contemporain. Op. Cit.
p. 141.
Os trabalhos reunidos na Transvanguarda (em geral, pinturas e
esculturas) são, em sua maioria, figurativos e o corpo humano tem

29
presença destacada. Os corpos que povoam essas telas por vezes se
apresentam em primeiro plano como em certos trabalhos de Sandro
Chia.

Pesquise... Saiba Mais


Incidente no café Na pintura de Sandro Chia, além das imagens heróicas que flutuam no tempo e no
Tintoretto. Sandro Chia.
espaço muitas vezes fazendo referência à própria História da Arte, a vida corriqueira
Óleo sobre Tela.
e cotidiana parece mergulhar em um cenário grandioso onde os personagens são ao
mesmo tempo heróis e palhaços.

A figura feminina que cai em meio a bancos e cacos de vidro tem a majestade das
antigas esculturas e deve ter referência com a infância do artista feita de mulheres
italianas marcantes e corpóreas (de um erotismo escondido) que o artista recupera. Por
outro lado, Chia brinca com seus personagens registrando-os em situações hilárias do
cotidiano como a do trabalho em questão.

No Brasil, os anos 80 e a volta da pintura coincidem com o pluralismo


político que (re)nascia no país através do processo de transição e
o fim do regime militar. Crescia a indústria cultural e sua oferta de
consumo. A força da comunicação de massa influenciou os jovens
artistas daquela geração (que não ficaram alheios ao que acontecia
nos eixos hegemônicos) a embarcarem nesse momento de retorno
à pintura de grandes formatos questionando a realidade cotidiana e
social brasileira.

Os artistas se organizaram em torno de mostras coletivas tais como


A pintura como meio (1983) ou Como vai você, geração 80? que
aconteceu no Parque Laje, no Rio de Janeiro, em 1984. Foram mostras
Pesquise... que marcaram a introdução desse momento internacional das artes
Sem título. Daniel visuais no universo brasileiro. Artistas como Leda Catunda e Daniel
Senise. 1994. Acrílico
sobre tela. Senise são exemplos de um momento que substituía o racionalismo
do concretismo e o envolvimento político da arte conceitual por uma
temática embasada no individualismo. A partir do trabalho de Catunda
podemos ter uma ideia dessa pintura própria dos anos 80 no país.

Pesquise... Saiba Mais


Onça Pintada I. Leda Interessada pela pintura neo-expressionista que acontecia no cenário internacional a
Catunda. 1984. Acrílico s/ artista iniciou um trabalho com essa linguagem. Naquele momento ela trabalhou sobre
cobertor.
tecidos estampados cobrindo as figuras com cor. Ela pintou sobre suportes absolutamente
não convencionais, muitas vezes aproveitando imagens neles preexistentes e as
realçando.

30
A artista lidava, também, com motivos figurativos presentes na cultura popular. Admitindo
não saber desenhar ela se apropria dessas imagens. Dessa forma ela dá sentido à
pintura reinventando uma nova forma de pintar.

No Nordeste alguns artistas se integram ao internacionalismo da pós-


modernidade. Entre eles Alice Vinagre, paraibana, que estudou na
década de 80 na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Nesse
período ela aderiu a uma produção pictórica vigorosa, expressiva e
de grande formato que explorava valores individuais sem, porém,
desprezar cultura e identidade.

Saiba Mais Pesquise...


Na série intitulada Amarelo (que se desenvolveu entre 1989-1993) palavras e signos O sol brilha ou O Eu e o
tornaram-se cada vez mais presentes no trabalho de Alice e adquiriram um ritmo gestual, Tu II. Alice Vinagre. 1993.
uma expressão caligráfica. A pintura misturou-se com o desenho e passou a ser o fundo Acrílica sobre tela.
que intitula a série.

O suporte recebeu esses desenhos que são a expressão de seu universo pessoal,
mas que se comportam como antropomorfos que poderiam fazer parte de uma pintura
rupestre. É uma herança que aproxima a arte e a sua própria história. Uma expressão do
universo de contaminações que permeia a produção artística contemporânea.

Você Sabia?
●● Figuration Libre foi um movimento artístico que aconteceu na França do início
dos anos 80. Os artistas que constituíram o movimento liderado por Hervé Padriolle
tomaram a liberdade de uma figuração que englobava, sem hierarquia de valores, as
várias formas de expressão pictórica sem fronteiras culturais ou geográficas.

●● Bad Painters (maus pintores) foi um movimento americano dos anos 80 que
seguindo os cânones da pós-modernidade, se posicionou contra a ortodoxia
da modernidade criticando a “boa pintura” da época e recusando-se a um estilo
específico. Enfim, rejeitando regras e compromissos. Entre seus membros destacam-
se Julian Schnabel, Werner Büttner e Albert Oehlen.

●● American way of life diz respeito a maneira americana de viver, um estilo de vida
próprio àquela cultura.

●● O minimalismo foi um dos rótulos dados pelos críticos de arte às estruturas


geométricas, aparentemente simples, que alguns artistas estavam criando na década
de 60-70. Entre eles Donald Judd, Robert Morris e Dan Flavin.

●● Expressões como hibridismo ou mestiçagem começaram a ser utilizadas na década


de 90 para referir-se à dissolução das fronteiras entre os suportes e as linguagens
das artes visuais.

31
●● A indústria cultural pode ser definida como sendo um conjunto de empresas e
instituições que têm como objetivo (utilizando os crescentes recursos midiáticos)
produzir, distribuir e transmitir um conteúdo artístico-cultural visando o lucro.

●● Expressão caligráfica é a comunicação escrita de cada povo. No caso específico se


quer dizer que a artista tem uma caligrafia, uma linguagem própria.

Saiba Mais
Leia um pouco mais sobre uma artista nordestina que participou desse momento da
pós-modernidade. Leia o artigo Texto e imagem, memória e ficção na obra de Alice
Vinagre da prof. Dra. Madalena Zaccara publicado nos Anais da ANPAP (Associação
Nacional dos Pesquisadores de Artes Plásticas) seguindo o link http://www.anpap.org.br/
anais/2009/pdf/chtca/madalena_de_fatima_zaccara_pekala2.pdflho

Artistas citados no capítulo


●● Georg Baselitz: O artista nasceu na Alemanha em 1938. Seu
trabalho neo-expressionista passou a ser mais destacado a partir
da própria mídia quando, em 1960, foi objeto de uma ação policial
por conta da natureza sexual de suas pinturas. É professor do
renomado Hochschule der Kunste, em Berlim.

●● Anselm Kiefer: O artista nasceu em 1945 na Alemanha e é


pintor e escultor. Seus trabalhos utilizam uma grande diversidade
de materiais. Estudou nos anos 70 com o conhecido e discutido
Joseph Beuys. Sua temática lida com o passado e com temas
relacionados com o nazismo e outros episódios da história alemã.
Sua pintura acontece em grandes formatos.

●● Sigmar Polke: Nasceu em 1941, em Oels, Silésia, na antiga


Alemanha de Leste. Migrou com 12 anos para a Alemanha
Ocidental onde passou a estudar, na década de 60, na Staatliche
Kunstakademie de Dusseldórfia sob a direção do artista alemão
Joseph Beuys. Os desenhos e pinturas de Polke revelavam
os seus processos de pensamento e o seu incrível sentido de
humor. O trabalho de Polke é caracterizado por uma aproximação
fortemente individual. A sua paródia à política, convenções sociais
e valores artísticos e culturais estabelecidos revelam um cinismo
alegre.

●● Jenny Saville: Nasceu em Cambridge, Inglaterra, em 1970.

32
Em 1990 fez sua licenciatura na Glasgow School of Art. Pintora,
ela trabalha com temas que questionam padrões de beleza
estabelecidos. Suas telas apresentam seus grandes nus que são
auto-retratos. Sua postura feminista questiona o condicionamento
da mídia em relação ao corpo da mulher.

●● Claude Simard: O artista nasceu em 1943 no Canadá, na cidade


de Quebec. Estudou no Ontário College of Art entre 1962 e 1966.
Sua obra é composta de paisagens e jardins, naturezas mortas e
cenas do cotidiano coloridas e alegres.

●● Eric Fischl: O artista nasceu em Nova York, cresceu no subúrbio


de Long Island, e mudou-se para Phoenix, no Arizona em 1967
onde começou sua educação artística. Trabalha com pintura
retratando perturbadores instantâneos da vida onde ironiza a
sociedade americana e o seu estilo de vida.

●● Sandro Chia: O artista nasceu em Florença, Itália em 1946. É um


dos pintores mais destacados do movimento neo-expressionista
italiano denominado Transvanguarda. Estudou no Istituto d’Arte e
na Accademia di Belle Arti de Florência. Nos anos 70, adotou uma
pintura figurativa e, junto com os demais membros do movimento,
internacionalizou-se. Trabalha com grandes formatos e põe ênfase
no título das obras enquanto veículo de transmissão da ideia
expressa.

●● Francesco Clemente: Nasceu em Nápoles em 1952. Já na


infância decidiu começar a pintar. Em 1970 mudou-se para Roma
onde começou a estudar Arquitetura na Universidade de Roma. Lá
conheceu Beuys que junto com outros artistas o influenciaram. A
sua obra é maioritariamente autobiográfica. Consiste, em grande
parte, em desenhos e pastéis, mas apresenta também pintura,
escultura, gravura e fotografia. O seu trabalho é construído com
o que ele chama “lugares-comuns”, isto é, fragmentos de sua
experiência.

●● Enzo Cucchi: Nasceu na província de Ancona, Itália e é um dos


membros da Transvanguarda italiana. Formou-se como aprendiz
de restaurador, trabalhou como topógrafo e expôs, pela primeira
vez, em 1977. Vive e trabalha em sua província natal.

●● Mimmo Paladino: O artista nasceu em dezembro de 1948 no sul


da Itália. Frequentou o Liceu Artístico de Benevento entre 1964 e
1968. Desempenhou importante papel no renascimento da pintura
fazendo parte do grupo neo-expressionista Transvanguarda.

33
Realizou exposições pessoais em circuito artístico internacional.

●● Leda Catunda: A artista nasceu em São Paulo, em 1951. É


pintora e gravadora. Cursou artes plásticas na Faap (São Paulo)
onde estudou com Regina Silveira e Nelson Leirner. Participou do
retorno à pintura da geração 80 inspirado no neo-expressionismo
internacional. Em 2003, defende doutorado em artes, com o
trabalho Poética da Maciez: Pinturas e Objetos Poéticos, na Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/
USP, com orientação de Julio Plaza. Tem livros publicados sobre
seu trabalho.

●● Daniel Senise: Daniel Senise Portela nasceu no Rio de Janeiro em


1955. Em 1980, ingressou como aluno na Escola de Artes Visuais
do Parque Lage onde, entre 1986 e 1991, leciona no Núcleo de
Pintura. Participa da exposição Como Vai Você, Geração 80?
onde, com outros artistas, integra um momento neo-expressionista
brasileiro sob influência de correntes internacionais.

●● Alice Vinagre: A artista paraibana nasceu em João Pessoa,


Paraíba em 1950. Graduou-se em Pintura na Escola Nacional
de Belas Artes do Rio de Janeiro. Fez parte da geração 80 que
deu ênfase à pintura antenada com o cenário internacional. Tem
exposições individuais e coletivas no Brasil: Recife, Natal, São
Paulo, João Pessoa, Brasília, Olinda e Rio de Janeiro; e no exterior:
França, Alemanha, Equador e Japão, além de vários prêmios.

Atividades
A partir de uma divisão da turma em equipes de no mínimo três alunos, cada grupo
formado deve pesquisar uma imagem de um artista do Neo-Expressionismo ou
Transvanguarda (não explicitada – a imagem – no texto) e a analisar. Procurem a
biografia de seu criador, discorram sobre o momento abordado, falem sobre a imagem
em si descrevendo o que vêem e sentem no que diz respeito à técnica e à temática do
quadro.

34
C a p í t u l o 21

A terra como referência:


Land Art, ecologia e pós-
modernidade

Objetivos do Capítulo
Conhecer mais uma expressão das Artes Visuais em relação a seus múltiplos suportes e
plataformas. O suporte, no caso, é a própria terra, planeta que habitamos, a plataforma é
chamar atenção para ela.

O termo “arte contemporânea” começou a substituir a expressão “arte


de vanguarda” para designar uma arte atual que inicia seu processo
a partir dos anos 60 e que implica, além da busca por linguagens
híbridas ou novidades trazidas pela tecnologia, em uma relação arte
e política completamente (re)significada se tomarmos como paralelo
a lógica das vanguardas artísticas da primeira metade do século XX
que pregavam a politização da arte e de seus artistas.

As características do tipo de engajamento dos artistas se


transformaram profundamente na segunda metade daquele século
(XX) bem como os objetivos perseguidos. Os artistas contemporâneos
passaram a aprofundar os questionamentos próprios de sua
época voltando-se para questões individuais (memória), de grupos
(mulheres, homossexuais) ou planetárias (ecologia). Segundo Eve
Lamoureaux10: Saiba Mais
10
Eve Lamoureaux. Art
Os artistas engajados em artes visuais contribuem
et Politique: Nouvelles
a redefinir os contornos da política, pois eles formes d’engagement
propõem outra concepção do poder, outras ações e artistique au Quebec.
formas divergentes das instituídas de participação Montreal: Ecosocieté.
2009. p. 237-238.
política. (...) Os artistas engajados encontraram
maneiras originais de fazer “circular” o poder e
promover estratégias de democracia participativa.

É nesse contexto que se enquadra a atuação dos artistas que


trabalham com a corrente que agora passaremos a estudar. A que
trabalha com o crescente interesse pela ecologia despertado em um
contexto de ameaças ao planeta pela poluição e consumismo.

35
Essa tendência da arte contemporânea, conhecida como Land Art (ou
Earth Art) iniciou-se nos Estados Unidos no final dos anos 60. Como
as várias correntes artísticas pós-modernas ela visava expandir as
fronteiras da arte em relação à vida. Com esse objetivo, contrapondo-
se à Arte Pop que se interessava pela cultura urbana, a Land Art
busca seu foco fora da cidade. Ela vai, portanto interferir na natureza
em grande ou pequena escala com ações mais ou menos efêmeras
que objetivam utilizar o meio ambiente como suporte e chamar a
atenção para ele.
Saiba Mais
Talvez uma das primeiras ações nesse sentido
11
Maria Amelia Bulhões.
Propostas ecológicas tenham sido, nos anos 70, os trabalhos de Land
na web arte in http://seer. Art. Artistas como Robert Smithson, com sua Spiral
ufrgs.br/PortoArte/article/ Jet, lançavam um olhar sobre as agressões ao
viewFile/18788/10966
meio ambiente levadas a termo pelas explorações
econômicas. Ainda que a maioria dos projetos de
Land Art enfoque, preponderantemente, questões
de linguagem e aspectos estéticos, o pano de
fundo de todos eles eram as relações do homem
com a natureza11.

O desejo maior dessa forma de expressão artística, além de chamar


a atenção para o planeta, é sacralizar determinados espaços
escolhidos e consagrados como arte sendo, assim, também um
veículo de preservação. Com essa ambição, muitas vezes ela chama
atenção para sítios arqueológicos e para lugares ameaçados pela
interferência humana. Além disso, ela se integra com a paisagem
e instiga a imaginação, combinando objeto e natureza, intervenção
e local/suporte e possibilitando a interação obra/espectador que
configura a pós-modernidade em artes visuais.

A maior parte dos artistas (que trabalham com essa forma de


expressão) é britânica ou americana. Eles quase sempre estão ligados
à uma instituição e a um planejamento, pois trabalhar com essa
proposta implica em custos financeiros tendo em vista a distância,
grau de dificuldades de execução e tempo de concretização.

Nos Estados Unidos destacam-se Robert Morris, Carl André, Walter


de Maris, Richard Serra e Robert Smithson, entre outros. Smithson
Pesquise... pesquisa projetos ambientais em grande escala chamando a atenção
Observatory. Robert para a paisagem como é o caso da Spiral Jetty localizada em Utah.
Morris. 1971. Sobre essas intervenções assim se manifesta o autor dizendo que:
“Para além dos jardins ideais do passado, e dos seus homólogos
modernos – nacionais e grandes parques urbanos, há as regiões mais

36
infernais – montes de escória, minas e rios poluídos.” É num desses
“infernos” que o artista intervém.

Saiba Mais Pesquise...


A obra mais conhecida do artista, e uma das mais visualizadas da Land Art, o Spiral Spiral Jetty. Robert
Jetty (quebra-mar em espiral) foi construída a partir de um contrato de vinte anos de Smithson. 1970. Rozel
duração para arrendamento do local. Point, Great Salt Lake.
Utah. Barro, cristais de
Projetada e executada para um determinado lugar ela se projeta em forma de espiral sal, rochas, água.
nas águas do Great Salt Lake, em Utah, avermelhadas devido à presença de resíduos
químicos. O artista teria escolhido o lugar como uma forma de chamar a atenção para a
poluição transformadora do meio ambiente.

A obra teve financiamento e para a sua construção foram usados caminhões e tratores
como meio para interferir no suporte (a terra e a água). A construção durou seis dias e,
apesar de ser feita em pedra e rocha, a obra está sujeita às intempéries, mantendo assim
seu caráter efêmero.

Na Europa tornou-se marcante a presença de artistas da Land Art


como Hamish Fulton, Andy Goldsworthy e principalmente o britânico
Richard Long com suas grandes caminhadas feitas em locais Pesquise...
diferentes e ermos tais como a Lapônia ou o Himalaia. Durante essas Sahara Line. Richard
marchas ele construiu linhas utilizando materiais que encontrava Long. 1988.
na região como rochas ou troncos de árvores. O que fica dessas
intervenções (que convocam o espectador a participar desses
deslocamentos através da imaginação) é a documentação fotográfica
ou os vídeos eventualmente feitos.

Nessas ações o artista alterna o registro dos traços de suas


passagens/andanças com os de suas permanências (lugares de
descanso). A pluralidade de direções assumidas marca a amplitude
do espaço externo à urbe: a vastidão como parâmetro convida o
espectador a compartilhar a percepção da diversidade de locais. Ou
seja: não existem lugares idênticos da mesma forma que não existem
momentos idênticos.

Saiba Mais
A marcação feita pelo artista de sua caminhada em linha reta com material encontrado
no local ilustra bem a ideia de Long de fazer arte do nada, deixando vestígios efêmeros
(em grande escala) nos muitos lugares que ele percorre a pé, andarilho que é.

Com essa ação ele convida o espectador de seus registros a recriar de forma imaginária

37
o seu deslocamento por essas terras isoladas, locais intocados pelo homem, que ele
atravessa.

A Land Art foi reconhecida como um movimento e de forma


internacional, a partir da exposição intitulada Earth Works realizada
na Dwan Gallery em Nova York, 1968, organizada por Robert
Smithson.

Outro artista fundamental na Land Art é Walter de Maria, cuja obra


mais conhecida, Campo de raios, já examinamos no capítulo desse
volume referente à Arte Conceitual. Outro trabalho que merece ser
lembrado é o de uma dupla de artistas Christo e sua parceira Jeanne-
Claude. Christo, americano de origem búlgara, e Jeanne Claude,
americana de origem francesa, trabalharam em parceria desde 1958
quando se conheceram em Paris. O grande tema desse trabalho
conjunto foi o empacotamento de coisas, edificações e, mesmo, de
espaços geográficos de forma a transformá-los temporariamente. A
partir dessas ações o casal ganhou grande projeção no universo da
arte contemporânea.

Para tanto, eles levantavam recursos por meio de projetos (da


venda dos desenhos e maquetes desses projetos) e enfrentavam,
por vezes, longos processos de ordem burocrática que dificultavam
ou retardavam sua concretização. Como se tratava (e se trata) de
obras em grande escala (em sua maior parte) e envolvendo espaços
urbanos essas intervenções têm curta duração. Delas sobrevivem os
seus registros, tais como: desenhos, fotografias ou filmes.

Valendo-se de panos e plásticos, eles já “embrulharam” o Parlamento


alemão, a Ponte Neuf, em Paris, e as árvores de um bosque suíço,
entre outras ações. Certa vez, circundaram onze ilhas da costa da
Flórida com 600.000 metros quadrados de tecidos. As criações da
dupla sempre foram cercadas de polêmica e enfrentaram oposição
a cada novo projeto. A dupla, porém, afirmava que sua intenção era
tão somente chamar a atenção para a ação de celebrar a alegria e
a beleza daquilo que empacotavam ou destacavam. Com isso eles
ofereceram a oportunidade de que as pessoas fossem arrancadas
do hábito (que faz com que não prestemos atenção ao que nos
cerca) fazendo com que o trivial ganhasse ares de novidade e assim
passasse a ser olhado de outra maneira pelas pessoas.

No que diz respeito a determinadas observações ou críticas de


ambientalistas (ou urbanistas) os projetos em questão têm duração

38
efêmera e não deixam rastros (excluindo-se os já citados registros
das ações) que possam perturbar paisagens ou urbes e o material
utilizado é reciclado industrialmente.

Saiba Mais Pesquise...


A partir de 1969 os trabalhos da dupla ganharam uma maior escala e suas ações se Surrounded Islands.
aproximaram mais dos objetivos da Land Art com a eleição do ambiente natural como Christo e Jeanne-Claude.
suporte ou objeto das suas ações. 1980-1983. Miami.
Flórida. Estados Unidos.
O propósito da intervenção permanece. Chamar a atenção para uma paisagem na qual
não prestamos atenção ou que simplesmente se tornou comum. Em 7 de maio de 1983
a instalação foi concluída em Biscayne Bay. Onze ilhas foram cercadas com tecido de
polipropileno na cor Pink (rosa forte).

As ilhas cercadas foram observadas pelo público da terra, da água e do ar. A cor rosa
brilhante se harmonizava com a vegetação das ilhas desabitadas e com o céu azul de
Miami. A beleza natural, realçada, foi apresentada pela arte para o público.

Como em outras ações da dupla (segundo ela), os recursos foram conseguidos com a
venda dos desenhos preparatórios e maquetes do projeto.

A Lund Art é arte pública. O espaço físico apresenta-se como campo


onde os artistas realizam grandes arquiteturas ambientais. No Brasil,
essas ações, raras, devem-se à iniciativa de poucos artistas. Vic
Muniz é um dos poucos artistas brasileiros a trabalhar com essa
forma de arte, entre outras com as quais se envolve. Investigando
temas relacionados à memória, à percepção, à representação
de imagens do mundo das artes e meios de comunicação ele usa
elementos do cotidiano em suas investigações em relação à arte que
tem a terra como suporte. No trabalho intitulado Key (chave) da série
realizada em 2002 o artista intervém na natureza e registra sobre ela
(e documenta) objetos comuns a um cidadão do século XXI que só
podem ser visto do alto.

Saiba Mais Pesquise...


Para concretizar esse trabalho de Land Art no Brasil o artista trabalhou em conjunto com Key. Earth Work.
uma empresa de mineração produzindo uma série de obras que só podem ser vistas em Vik Muniz, 2002.
uma posição aérea. Removedoras de terra,
tratores e equipe de
São objetos do cotidiano tais como um par de dados, uma tomada ou uma chave. operários.
Representações reconhecíveis até por crianças. Desde que observadas do alto. Dessa
Forma Vic Muniz aproveita elementos do dia a dia aos quais ele dá o status de imagem
artística. Coisas comuns que perderam a atenção e o valor e que a arte retoma para seu

39
vocabulário.

O artista plástico que já trabalhou com materiais inusitados como ketchup, açúcar e calda
de chocolate, gel para cabelo e lixo se apropria de mais um: a terra.

A natureza conceitual e efêmera (bem como as localizações remotas


e a falta de manutenção dos trabalhos dos artistas que adotaram a
Land Art como veículo de expressão) faz com que essa tendência
artística só chegue ao público ao qual se destina através de sua
documentação. Assim, os filmes e fotografias (registros de ações e
intervenções) trazem para o espectador o trabalho realizado pelos
artistas.

Você Sabia?
●● As linguagens híbridas em artes visuais dizem respeito ao uso de múltiplos meios
de expressão em um mesmo trabalho.

●● Cultura urbana seria uma forma de expressão de grupos sociais que atuam na urbe.

●● Sítios arqueológicos podem ser definidos como locais utilizados por grupos
sociais anteriores ao nosso para as suas habitações e atividades e cujos vestígios
encontram-se ali, naquele espaço.

●● Uma ação (opinião) heterodoxa diz respeito ao contrário do ortodoxo oficial. Ou


seja: que seja diferente (diversa) do senso comum.

Saiba Mais
Vamos ler o artigo de Maria Amélia Bulhões, Propostas ecológicas na Web Arte,
que você pode encontrar acessando o link http://seer.ufrgs.br/index.php/PortoArte/article/
view/18788/10966

Sobre os artistas citados no capitulo


●● Robert Smithson: O artista nasceu em Nova Jersey (EUA), em
1938, e faleceu no Texas (EUA) em 1973. Talvez tenha sido o
artista mais ativo do movimento designado como Land Art. Apesar
de sua morte trágica em um acidente aéreo, aos 35 anos, ele foi tão
marcante em sua ação que é considerado hoje como o responsável
por retirar a arte das galerias e levá-la para a natureza. Trabalhou
formas esculturais, muitas vezes em escala monumental, que

40
tinham como objetivo serem vivenciadas fisicamente. O artista
começou sua carreira como pintor, mas na segunda metade da
década de 60 partiu para instalar trabalhos em espaços abertos.

●● Robert Morris: O artista nasceu no Missouri (EUA) em 1931.


Estudou na Universidade do Kansas. Iniciou seus contatos com
as artes visuais como pintor. Mudou-se para Nova York em 1960.
Envolveu-se com o Minimalismo e, posteriormente, com trabalhos
de Land Art.

●● Carl André: O artista nasceu em Massachusetts (EUA) em


1935. Sua atividade como escultor embasa seu trabalho que,
inicialmente, explora a proposta minimalista, mas faz incursões na
Land Art.

●● Richard Serra: Serra nasceu em 1939 em São Francisco nos EUA.


Foi para Nova York em 1966 depois de estudar com o pintor Albers
e viajar durante um período de cerca de dois anos pela Europa.
Envolveu-se com o Minimalismo e posteriormente com a Land Art.
Além disso, trabalhou com imensas esculturas urbanas.

●● Hamish Fulton: O artista nasceu em Londres (Inglaterra) em 1946.


Trabalhou com a Land Art no sentido de desenvolver caminhadas
como ação artística. Nos últimos tempos ele vem utilizando as
paredes dos espaços expositivos como suporte para sua pintura.

●● Andy Goldsworthy: Nasceu em julho de 1956 na Inglaterra.


Estudou artes na Bradford College of Art (1974-1975) e na Preston
Polytechnic (1975-1978). Escultor, fotógrafo e ambientalista
produziu trabalhos de Land Art em ambientes naturais mas
interferiu também, em espaços urbanos. Utiliza em seus trabalhos
materiais tais como folhas, lama, pedras ou neve.

●● Richard Long: Long nasceu na Inglaterra, em Bristol, em 1945.


Seu trabalho compreende passeios na natureza registrados em
textos e fotografias. Ele faz referência a sítios arqueológicos, ao
tempo e à solidão. É responsável por transformar suas caminhadas
em uma forma de expressão artística. Formado pela St. Martin’s
School of Art and Design de Londres ele recebeu o Turner Prize
em 1989.

●● Christo e Jeanne-Claude: Christo Yavashev nasceu em 1935


na Bulgária e Jeanne-Claude Denat de Gilebon em Casablanca,
Marrocos, em 1935 (e faleceu em Nova York em 2009). Ele
estudou na Academia de Belas Artes de Sofia e depois fugiu para a
Áustria. Em 1958 mudou-se para Paris. Conheceu Jeanne-Claude

41
e o fato derivou em uma parceria muito bem sucedida. Começaram
a experimentar a modalidade artística que os destacou: o
empaquetage (empacotamento) em 1958. Eles mudaram-se para
Nova York em 1964, onde passaram a conceber projetos colossais
de empacotamento. De modo geral esses projetos levam muito
tempo para serem concretizados exigindo negociações para sua
execução.

●● Vic Muniz: Nasceu em 1961 em São Paulo. É um misto de pintor,


fotógrafo e, pode-se dizer, uma espécie de alquimista. Utiliza
em seu trabalho materiais não-ortodoxos como poeira, açúcar,
lixo, fumaça ou chocolate, entre muitos outros. Mudou-se para
Nova York em 1983 onde se interessou por reconstruir imagens
preexistentes na mídia ou na História da Arte. O produto acabado é
uma fotografia que reproduz a obra de uma forma nova. Interessou-
se também pela Land Art usando a terra como material e suporte
para reproduzir objetos cotidianos que podem ser observados
somente do ar.

Atividades
A turma pode ser dividida em grupos. Cada um deles se encarregará de buscar em livros
(ou informações na Internet) uma imagem de um artista que se interessou pela Land Art.
A partir dessa imagem deve-se pesquisar a biografia do autor e descrevê-la de forma
sintética. Cada grupo deverá apresentar seu trabalho para os demais grupos. A imagem
e o artista deverão servir de tema para debate.

42
C a p í t u l o 22

O corpo como suporte


ou meio: Body Art &
Performance

Objetivos do Capítulo
Estudar as transformações artísticas que permitiram que o corpo assumisse o papel
de suporte ou veículo do fazer arte tendo em vista a diversidade de expressões da
contemporaneidade artística.

É quase impossivel listar a quantidade de ações diversas que são


oficialmente incluídas na História da Arte Contemporânea. Museus,
galerias e mercado de arte de uma maneira geral absorvem essas
novas práticas. Os procedimentos são múltiplos e segundo Catherine
Millet:

Seria necessário fazer uma nova Enciclopédia


se quisermos definir todos os campos de
referência percorridos pelos artistas, (...) Por
outro lado o campo artístico já há um longo tempo
internacionalizado autoriza os artistas a encontrar
fontes de inspiração em todas as culturas. (...)
Enfim, há várias décadas a história da arte
ocidental não é mais linear12. Saiba Mais
12
Catherine Millet. L’Art
Entretanto, as formas de expressão artística que usam o corpo como Contemporain: histoire et
meio não são propriamente pós-modernas. A Performance, por geographie. Op. Cit. p. 60.
exemplo, foi bastante utilizada pelas vanguardas artísticas do século
XX. Mas, o que seria uma performance artística?

A ação pode ser definida como uma forma de arte que combina
elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido,
ela poderia ser associada ao happening que também usa os mesmos
elementos além do corpo como veículo de expressão. A diferença,
portanto, estaria exatamente no espectador. No público. No happening
esse espectador participa da ação enquanto que na performance, de
modo geral, não há participação do público.

Segundo Roselee Goldberg:

43
A performance chegou a ser aceita como meio de
expressão artística por direito próprio na década
de 1970. Nesse momento a arte conceitual – que
insistia em uma arte de ideias acima do produto, em
uma arte que não pudesse comprar-se ou vender-
se – estava em seu apogeu e a performance foi
Saiba Mais uma demonstração, uma execução dessas ideias13.
13
Roselee Goldberg.
Performance Art. Entretanto, também segundo a mesma autora, as manifestações
Barcelona: Ediciones performáticas remetem ao futurismo e a “sua história começa em 20
destino, 1996. p. 7.
de fevereiro de 1909 em Paris com a publicação do primeiro manifesto
futurista no periódico Le Figaro”. A década de 70 então “legitimou” a
Performance como forma de expressão no campo das artes visuais.

Sobre a performance como arte do


corpo
Ela foi importante para muitas escolas e movimentos das vanguardas
do século XX entre os quais o Futurismo, Construtivismo, Dadaísmo,
Surrealismo e Bauhaus. Após a Segunda Guerra Mundial sua
história relata uma associação importante: a que aconteceu entre
o compositor americano John Cage, o pianista David Tudor e o
coreógrafo Merce Cunningham que criaram projetos performáticos
entre os quais se destaca o Evento Teatral onde atividades como a
dança de Merce Cunningham conviveu com a intervenção do pintor
pop Robert Rauschenberg (que tocou uma vitrola enquanto Charles
Olsen e M. C. Richards liam poesia) e com o piano David Tudor que
tocava fora do recinto.

Várias ações sucederam esta e eram conhecidas como happenings.


Foram realizadas por artistas como Jim Dine, Claes Oldenburg e
Allan Kaprow, entre outros. A performance continuou a adquirir maior
popularidade e ímpeto durante a década de 60, na Europa, e Yves
Klein surpreendeu o público com seu Salto no Vazio que influenciou
as artes do corpo por sua ousadia e repercussão em plena era da
difusão midiática.
Pesquise...
Salto no Vazio. 1960.
Registro fotográfico por
Harry Shunk. Saiba Mais
O objetivo de Yves Klein, representante do Nouveau Realisme francês, nessa ação feita
em uma rua de Paris na qual ele passa a impressão de estar pulando para o nada (tinha
um colchão de ar embaixo) era chamar a atenção para uma arte distante dos objetos,

44
do mundo do comércio.

A proposição deu resultado, principalmente com o aperfeiçoamento dos meios mediáticos


de informação e de sua globalização. A invenção de Klein e sua difusão continuam a ser
notáveis e abriram portas para ações performáticas subsequentes. Sua ambição, por
assim dizer, cósmica, encontrou seguidores.

As performances após essa e outras ações alcançaram rápida


popularidade e reforçou a negação do uso de materiais tradicionais
nas artes visuais. O corpo era o material e o meio. Múltiplas foram
as formas de performance utilizadas. A sensação de liberdade
para artistas e espectadores contribuiu para essa difusão. Nos
festivais, por vezes, várias performances eram executadas em uma
experimentação cada vez maior que incluía eventos multidisciplinares
adicionando linguagem teatral, dança, cinema e vídeo às artes visuais.

Quando essa nova forma expressiva centrava-se principalmente no


corpo do artista ela passou a ser chamada de Body Art. O campo
aberto para as experimentações levou os criadores que usavam seu
corpo como centro de suas ações a investirem em várias formas de
apropriação do real. Assim, as questões transcenderam o mundo da
arte e passaram a dialogar, cada vez mais, com a vida real.

Os questionamentos envolveram (e envolvem) sexismo, racismo,


homofobia, doenças do nosso tempo, violência, anonimato... Enfim as
mazelas que acometem o mundo moderno e, principalmente, o pós-
moderno: as sociedades contemporâneas em constantes mutações.
Trabalhos na área se voltam para discutir as interrogações próprias
da contemporaneidade. Segundo Goldberg:

Alguns artistas insatisfeitos com a exploração


um tanto quanto materialista do corpo adotaram
posturas e usaram trajes (na performance e
mesmo na vida diária) criando “esculturas vivas”.
Esse centrar-se na personalidade e no aspecto
Saiba Mais
do artista conduziu diretamente a uma obra que
14
Roselee Goldberg.
chegou a ser chamada de autobiográfica, pois o
Performance. Op. Cit.
conteúdo dessas performances utilizava aspectos p. 153.
da história pessoal dos intérpretes14.

Criações importantes no campo da Performance devem-se aos


artistas Vito Acconci, Carole Schneemann e Gina Pane, entre outros.

45
Pesquise... Saiba Mais
Alegria da Carne. O seu trabalho centra-se em torno do corpo e da sua posição como mulher no mundo.
Carolee Schneemann. Em sua busca de novas formas de expressão ela utiliza seu corpo como veículo. Na
1964. Foto de vídeo da performance Alegria da Carne ela utiliza o seu e o de outros participantes da ação.
Ação.
A obra foi apresentada em Paris e Nova York, indubitavelmente o eixo hegemônico do
universo da arte pós-moderna. Sua proposta era aguçar os sentidos, chamar a atenção
para eles. Juntar as sensações táteis, do gosto, olfativas e auditivas em uma mesma
ação performática.

Atores com os corpos cobertos por sangue e restos de animais interagem (entre eles
e com cadáveres de animais) ao som de música. Um ritmo de orgia ritual embasa a
proposta.

Algumas performances decididamente foram radicais, outras líricas. O


“acionismo” vienense, por exemplo, teve ações bem mais sangrentas e
ritualísticas por parte de seus membros como, por exemplo, Hermann
Nitsche. Antigos ritos dionisíacos e cristãos foram representados em
um contexto contemporâneo. Orgias rituais tinham como propósito
provocar uma identificação coletiva através do medo, do terror ou da
compaixão. Uma catarse, enfim. Para os artistas a performance ritual
seria uma atitude existencial no sentido de liberar a energia reprimida
bem como de uma purificação por meio do sofrimento. Mais uma vez
recorrendo à Roselee Goldberg:

Comum a essas ações era a expressão dramática


do artista, a intensidade com a qual lembrava os
pintores expressionistas vienenses de cinquenta
anos antes. De maneira não surpreendente,
Saiba Mais outra característica dos artistas da ação vienense
15
Roselee Goldberg. era seu interesse pela psicologia; os estudos de
Performance. Op. Cit. Sigmund Freud e Wilhelm Reich que conduziram
p. 164. a performance que se ocupavam especialmente da
arte como terapia15.

De terapia, tendo como veículo o sofrimento, nos fala o trabalho


de Gina Pane entre eles a experiência denominada Escalada não
anestesiada.

Pesquise...
Escalada não
Saiba Mais
anestesiada. Gina Pane. Nessa ação a artista sobe e desce uma estrutura metálica com apoios cortantes,
1971. mutilando-se na presença dos espectadores. O ritual da dor é profundamente explorado.

46
O objetivo da artista é causar empatia com o público no sentido de que o corpo é comum
a todos no sentido do sofrimento.

Em suas performances o sofrimento físico causado por objetos cortantes é uma


constante. Ela toma como parâmetro sua própria dor auto-infligida para comungar a dor
presente em cada corpo frágil e finito.

Dor, sátira, humor e sensacionalismo são enfatizados pela arte


performática bem como temas autobiográficos e a memória dos
artistas envolvidos. A partir da década de 80, a Performance tornou-
se cada vez mais acessível a um público cada vez maior e mais
internacionalizado dentro de um universo também cada vez mais
midiático. Segundo a artista performática Joan Jones, citada por
Dempsey:

O que me atraiu na performance foi a possibilidade


de misturar o som, o movimento, a imagem,
todos os elementos diferentes, com a finalidade
de realizar uma obra complexa. Eu não era boa
em criar uma obra única, simples – como uma
escultura16. Saiba Mais
Joan Jones apud
16

Amy Dempsey. Estilos,


Escolas & Movimentos.
Sobre a Body Art: o corpo como Op. Cit. p. 225.

material e meio
Esse gênero de expressão artística pode ser visto como um
prolongamento da arte conceitual e também se liga a ideia de
Performance, embora ele normalmente seja feito de forma privada e
só posteriormente comunicado ao público.

A fusão da arte e da vida está no cerne da Body Art, como de resto em


toda expressão artística contemporânea. Essa forma de arte nasceu,
como a performance, no final dos anos 60 afirmando-se nos anos 70.
O corpo proporciona ao artista condições de exploração de várias
questões que se tornam mais contundentes na pós-modernidade.
Entre elas: gênero, violência, identidade, doença e morte. Dessa
forma a temática da body art inclui desde sadomasoquismo,
posicionamentos sociais até a mais pura comédia.

Esse movimento teve como inspiração as pesquisas de Duchamp no


sentido de que tudo poderia ser usado como obra de arte, Yves Klein
(e suas Antropometrias) e Piero Manzoni que passou a assinar o
corpo das pessoas transformando-as de modelos em objetos de arte.

47
Pesquise... Saiba Mais
Esculturas vivas. Piero Inspirando-se em Duchamp, o italiano Piero Manzoni subverte a ideia tradicional da arte
Manzoni. 1961. no sentido da reprodução mimética do corpo e da assinatura da obra pelo artista. Ele
assina pessoas, modelos ou não, transformando-as assim na própria obra de arte.

Ao se apropriar dessa forma do corpo humano como suporte ele inspira, por sua vez, os
artistas que o seguem nessa pesquisa e que vão explorar múltiplos questionamentos que
envolvem arte e vida utilizando o corpo como veículo.

Para alguns artistas do movimento a violência e agressividade são


expressas em ações de automutilação, que atingiram, por vezes, os
limites de resistência do corpo. Segundo Dempsey, “algumas das
criações mais perturbadoras da body art foram realizadas durante as
rebeliões estudantis e os protestos pelos direitos civis relacionados à
Saiba Mais Guerra do Vietnã e Watergate nos anos 60 e 7017”.
17
Bia Medeiros. Corpos
Informáticos. Disponível O objetivo era provocar reações fortes no espectador. Experimentações
em http://www.corpos.org/ com o corpo foram feitas, então, em um nível de extrema violência.
folds/frcorp24.html
O artista Chris Burden, por exemplo, utilizou o seu corpo de forma
dolorosa e, pode-se afirmar, quase suicida. Rudolf Schwarzkogler
do acionismo vienense, que morreu em 1969, também envolveu-se
com a dor ritualizada. Em 1971, na ação denominada Shoot, Burden
entrou em uma galeria da Califórnia e ficou em frente a uma parede.
Logo depois um atirador, com um rifle, apareceu e disparou contra o
seu braço esquerdo.

Pesquise... Saiba Mais


Shoot. Chris Burden. A ação foi filmada e passou a ser considerada como uma das mais controversas da
1971. Space, Santa Ana, história da Body Art. O artista baleado por um amigo, segundo suas próprias palavras
Califórnia (USA). Registro para a mídia, queria ser levado a sério como artista a partir do risco da própria vida.
fotográfico.
Burden submeteu-se ao perigo gerando um vínculo com o espectador que envolvia a
passividade do público que poderia ter sustado a ação, mas que restou inerte preso
pela sua própria acomodação em face à violência, bem como por conta do espaço
“sacralizado” da arte onde foi desenvolvido o trabalho. Ele não se atrevia a interferir.

Outras ações destacam-se pelas suas posturas extremadas: Marina


Abramovic, artista nascida na antiga Iugoslávia, também prima por
um perfil de violência contra o próprio corpo. Ela realizou, em uma
galeria italiana, a ação Rhythm 0, na qual os espectadores teriam a
possibilidade de mutilá-la e matá-la durante o trabalho. Após várias

48
formas de violência contra seu corpo passivo tais como arrancar suas
roupas e cortá-la, o público decidiu interromper a apresentação, pois
alguém chegara ao ponto de apontar uma arma carregada contra a
sua cabeça.

Orlan, artista francesa, usa a cirurgia plástica como meio para


modificar seu corpo. Em seu trabalho ela questiona os estereótipos da
beleza revisitando a História da arte e introduzindo detalhes das obras
dos artistas do passado em seu próprio corpo por meio da intervenção
cirúrgica. Assim, por exemplo, ela se “apropria” da boca da Gioconda
(Mona Lisa) ou dos olhos de Nefertiti criticando uma sociedade que
baseia sua identidade na beleza física. A artista chocou o mundo, via
satélite, nos anos 90 com a performance A reencarnação de Santa
Orlan quando ela se submete a uma série de nove cirurgias plásticas.

Saiba Mais Pesquise...


Na ação a artista se submeteu a nove cirurgias plásticas que foram transmitidas via
Performance. Orlan.
satélite para diversos lugares, entre eles as principais galerias de arte da Europa. Ao 1999. Fotografia.
longo desse processo ela transformava seu rosto radicalmente, recebendo chifres,
implantes no queixo, bochechas, olhos.

Ela apóia-se na discussão feminista e identitária bem como ataca a ideologia cristã que
estabelece a sacralidade do corpo. Sua plataforma é estabelecer a liberdade do indivíduo
em relação a si mesmo.

No Brasil as primeiras experiências com performances surgiram


com Flávio de Carvalho. Em suas ações ele abordou a relação arte/
público. Dentro desta proposta podemos citar a sua Experiência nº
2, realizada em 1931, em São Paulo. Nela o artista atravessou de
chapéu uma procissão de Corpus Christi, caminhando contra a
multidão de fiéis. Ele queria testar a intolerância da horda (mesmo
sendo uma comunidade religiosa) em relação ao diverso. O teste foi
positivo, pois Carvalho quase foi linchado em uma leiteria onde se
escondeu.

Em 1950 ele investiu novamente na performance (mais aproximada


do happening no caso). Chamou-a de Experiência n. 3. Uma ação,
dessa vez, voltada para um público mais amplo e variado.

49
Pesquise... Saiba Mais
Experiência n. 3. Flávio Nas ruas de São Paulo o artista lançou o que ele chamou de seu traje de verão masculino
de Carvalho. Ruas de enfrentando um público diferenciado vestido de saia, meias e camisa de mangas bufantes
São Paulo. Fotografia. que, segundo o artista, é o traje mais apropriado para o clima tropical brasileiro.
1956.
Seu alvo era o convencionalismo social que determina padrões de comportamento. Sua
atitude de procurar interagir com o espectador naturalmente teve grande influência sobre
as ideias e ações das gerações posteriores em relação aos trabalhos artísticos que
utilizam como meio o corpo do artista.

Essencialmente anárquica e libertária, a arte do corpo, experimental,


enfrentou o período do cerceamento de liberdade do período ditatorial
brasileiro nas décadas de 60 e 70. Os direitos constitucionais foram
suspensos e os artistas impedidos de maiores questionamentos. Isso
se aplicava as ações de ordem política ou as que se enquadravam em
uma censura moral de um golpe que foi dado com o apoio e endosso
Pesquise... da classe média brasileira. Portanto, se antes desse período de
Parangolé. Hélio Oiticica. ditadura militar a arte se aproximou do experimentalismo internacional
Vestido por Nildo da
Mangueira. 1964. e de uma aproximação com o público (que pode ser encontrada, por
exemplo, nos Parangolés de Helio Oiticica, a partir dessa realidade as
artes do corpo no Brasil adaptaram-se às circunstâncias.

Nos anos 70, no Rio de Janeiro, algumas ações performáticas


ganharam destaque, inclusive por sua temeridade. Foi o caso de
Antonio Manuel, português radicado no Brasil que inscreveu seu
próprio corpo como obra no XIX Salão Nacional de Arte Moderna.
Recusado, ele se apresentou nu na abertura do evento com a

Pesquise... ação Corpobra que questionava principalmente a própria censura


institucionalizada naquele momento.
Ação. Antonio Manuel.
1970.
Barrio, também de origem portuguesa, foi outro artista que investiu
em ações performáticas naquela década. Ele embrulhava pedaços de
ossos e carne de animais e deixava suas trouxas em locais urbanos
movimentados fazendo alusão aos crimes perpetrados pela ditadura
militar.

Pesquise... A década de 80 (de abertura política) implicou em uma maior

Trouxa. Artur Barrio.


quantidade de performances. O meio artístico passou a aceitar e
Tecido, barbante e tinta legitimar a ação performática com maior ênfase e ela passou a ocupar
industrial. 1969. os espaços institucionais. Mas, foi na década de 90 que não só as
performances, mas toda uma gama de expressões artísticas ligadas
a meios de expressão alternativos passou a acontecer com maior

50
frequência e apoio.

Diante de novas possibilidades de meios visando a interação autor/


espectador surgem múltiplas propostas e os artistas passaram a usar
a própria Internet como veículo para suas ações. É o caso do grupo
intitulado Corpos Informáticos, que trabalha com performances em
telepresença como a intitulada Estar.

Para a coordenadora do grupo, a artista e educadora Bia Medeiros:

Nós, como grupo - Corpos Informaticos - formado


por diversos “nós” assinamos não só este trabalho,
mas inúmeras atividades artísticas que vimos
Saiba Mais
Vito Acconci in Roselee
18
desenvolvendo desde 1991: sem escrúpulos nos
Goldberg. Performance.
emaranhamos de (em) nós mesmos. Nenhum Op. Cit. p. 164.
trabalho artístico realizado em novas tecnologias é
feito por um. Nosso grupo se quer nós18.

Saiba Mais Pesquise...


Na V Bienal do MERCOSUL, o grupo propõe a performance em telepresença intitulada Estar. Corpos.
Estar. Ela acontece em uma sala de estar real onde o público é convidado a estar. O Informáticos. 2005. Bienal
espaço implica nos objetos comuns a uma sala padrão tais como: cadeiras, sofás, mesa do MERCOSUL.
de centro, abajures, porta-retratos, estante com enfeites e três computadores.

Nos computadores abre-se uma sala de estar virtual onde o público da Bienal e
internautas de todos os contextos, do globo, podem interagir e estar. A proposta do grupo
é buscar a comunicação entre o real e o virtual criando uma relação expandida via rede
mundial de computadores.

No Nordeste as performances passaram a compor o cenário artístico


regional a partir da década de 90. Entretanto, em Pernambuco desde
os anos 70 vemos a presença da dupla constituída pelos artistas
Paulo Bruscky e Daniel Santiago. No que diz respeito à performances
a dupla trabalhou, por exemplo, em Limpos e Desinfetados (1984)
ou os seus membros trabalharam separadamente como é o caso da
ação O que é Arte? Para que serve? realizada por Paulo Bruscky
pelas ruas do Recife.

Saiba Mais Pesquise...


O que é Arte. Para que
As ações de Bruscky, ativista, que usou muitas vezes a denúncia em suas obras, Serve?. Paulo Bruscky.
foram diretas no que diz respeito ao sistema que embasa a atividade artística. Essa 1978. Foto Coleção do
ação questiona diretamente o sistema ligado à legitimação artística. A performance O artista.

51
que é a arte? Para que serve? foi realizada nas ruas de Recife na década de setenta
em plena repressão militar. Entretanto, ela não se volta para uma política de reação à
ditadura mas questiona a política que se relaciona à própria arte.

Nela o artista se exibe em uma vitrine levando nas mãos um cartaz com a interrogação
que dá tema à performance. Tratando de um assunto distante de uma possível interação
entre arte/público naquela conjuntura o artista trabalha entre os limites da incompreensão
por parte do mesmo público para o qual se volta a ação.

Na cena nordestina atual e principalmente na recifense as


performances se sucedem em espaços institucionais ou paralelos.
Novos artistas como Barbara Collier e Amanda Mello dividem o
espaço com veteranos como Marcelo Coutinho e Oriana Duarte
além de pioneiros como Daniel Santiago só para nomear alguns da
cena pernambucana. Trabalhos mais ligados ao Body Art também
acontecem envolvendo novos atores como Rodrigo Braga e a própria
Oriana entre outros. Coletivos abrigam a atividade performática como
o já desfeito grupo Camelo ou o atuante Branco do Olho. No espaço
institucional destaca-se a atividade de Oriana Duarte.

Sua trajetória confunde-se com os vôos dos artistas pernambucanos


(embora ela tenha nascido na Paraíba) em busca de novos horizontes
experimentais. Inicia-se no final da década de 80, mas é nos anos 90
que suas produções ganham mais visibilidade. Seu repertorio artístico
identifica-se com a vida trazendo-a para o universo das artes visuais.
Uma de suas primeiras performances solo (antes ela integrava o
grupo Camelo) é intitulada A sopa de Pedra ou A coisa em si.

Saiba Mais
Pesquise... A ingestão de uma “sopa de pedra” ocorre sempre numa instalação denominada “Barco”.
A sopa de pedra. Oriana Ela senta em uma mesa e serve-se da sopa que é resultante de uma mistura de pedras
Duarte. 1997-2003. pertencentes ao local onde a performance se realiza. As pedras são cozidas em água por
Fotografia. meia hora e depois exposta na apresentação em um grande caldeirão.

É uma obra ritualística que fascina o espectador pela repetição dos gestos e que é
difundida pelo vídeo da ação posteriormente. O estranhamento do público deve-se a
repetição ritual de uma ação banal de todo dia: o tomar sopa, mesmo que ela seja de
pedra.

A performance e as ações de Body Art se perpetuam pela


contemporaneidade explorando a multiplicidade de meios de registro
e de interação com o público. A utilização do corpo como material
envolve uma ampla variedade de interpretações como estratégia de

52
diálogo com o espectador, esteja ele presente ou não na ação.

O corpo do artista passou a ser usado “como uma superfície


alternativa à superfície da página19” e é considerado um condutor de Saiba Mais
energia e um instrumento didático para explicar sensações que fazem Vito Acconci in Roselee
19

parte da realização/recepção de uma obra de arte. Goldberg. Performance.


Op. Cit. p. 164.

Você Sabia?
●● Difusão midiática é o conhecimento por parte do público resultante da divulgação
ou publicidade de um acontecimento através das várias mídias: filmes, televisão,
rádio, cartazes de publicidade etc.

●● Nouveau Realisme foi um movimento que referia-se ao uso de objetos existentes


para a construção das obras de arte reagindo ao expressionismo abstrato em voga.
Buscava na realidade sua inspiração. É, por assim dizer, o correspondente europeu
(francês) da Arte Pop americana.

●● Os materiais tradicionais nas artes visuais são aqueles relacionados à pintura,


escultura e arquitetura.

●● Eventos multidisciplinares são aqueles (em artes visuais) que reúnem várias
formas de expressão. Por exemplo: pintura, performance, música, teatro etc.

●● Apropriação em artes visuais tem a ver com a ação de buscar em outras linguagens
ou em outros artistas ou obras, elementos para a sua criação.

●● Eixo hegemônico é o conjunto de centros (ou um só centro) constituído por


países (ou país) que detêm condições econômicas e políticas de supremacia em
relação aos demais centralizando, assim, em artes visuais a produção, validação e
comercialização de obras de arte.

●● Ritos dionisíacos são aqueles celebrados na antiga Grécia e Roma em homenagem


ao deus do vinho e da alegria Dionísio (em Roma, Baco). Envolvia orgias religiosas.

●● Reprodução mimética é aquela que imita, reproduz a natureza.

●● Leiteria é o equivalente a uma lanchonete atual.

Saiba Mais
Leia o artigo de Madalena Zaccara e Marluce Vasconcelos nos Anais da ANPAP
(Associação Nacional dos Pesquisadores de Artes Plásticas) intitulado Construção e
desafio: o discurso poético na obra de Oriana Duarte disponível em http://www.anpap.
org.br/anais/2009/pdf/chtca/madalena_de_fatima_zaccara_pekala1.pdf

53
Sobre alguns artistas citados
●● John Cage: O artista nasceu em 1912 em Los Angeles, EUA, e
faleceu em 1992 em Nova York. Ingressou na universidade em
1932, mas não satisfeito resolveu abandoná-la e viajar para a
Europa. Começou a pintar e compor. Voltou aos EUA e dedicou-
se à música e a filosofias orientais, principalmente ao zen
budismo, incorporando elementos desses conhecimentos às suas
composições. Consagrou-se, agregando o silêncio como parte da
criação musical.

●● Jim Dine: O artista nasceu em 1935 nos Estados Unidos.


Inicialmente trabalhando no movimento Pop ele ganhou o respeito
do mundo da arte com seus happenings.

●● Claes Oldenburg: O escultor nasceu em Estocolmo em 1929 e é


considerado um dos principais representantes do Pop Art americano.
No trabalho desenvolvido por Oldenburg, desaparece qualquer
vestígio de pintura e ele investe em imagens tridimensionais
ampliadas e exageradas do cotidiano. Esses objetos, alimentos
e artefatos fazem parte da sociedade de consumo: os hot-dogs,
os ice-creams que são diariamente introduzidos em quantidades
industriais junto com colheres, borrachas infantis ou pás na escala
dos edifícios.

●● Allan Kaprow: O artista nasceu em 1927 nos Estados Unidos e


morreu naquele país em 2006. Estudou pintura e música (com
John Cage) e partiu para a criação de happenings e ambientes.
Seus ambientes eram espaços preenchidos com objetos do
cotidiano. Artista performático, ele deu ênfase, em seu trabalho, à
interligação entre arte e vida.

●● Vito Acconci: Nasceu em 1940 em Nova York, nos Estados


Unidos. Começou sua trajetória como escritor de ficção de onde
transitou para as artes visuais em 1960. O artista, porém, manteve
a linguagem como elemento essencial em sua obra. Trabalhou
com performances e foi um nome central do Body Art. Submeteu o
próprio corpo a condições de stress explorando tanto o físico como
o psicológico.

●● Carole Schneemann: Nasceu em 12 de outubro de 1939 nos


Estados Unidos. Tem grande importância no universo da arte
contemporânea que se volta para o feminismo. Pintora, performer e
cineasta ela aborda tabus e política sexual em filmes, instalações,
pinturas, performances e vídeos com temas inspirados no corpo e

54
na sexualidade.

●● Gina Pane: A artista nasceu em 1939, em Biarritz, França. Estudou


na Escola de Belas-Artes de Paris. Realizou a sua primeira
exposição individual em 1966. É ligada a performance e tornou-se,
durante a década de 70, um dos expoentes máximos da Body Art.
Utiliza sempre o corpo como material e suporte para a criação e
para as suas ações envolvendo auto-mutilação e sofrimento, que
chamam a atenção para a violência da vida contemporânea.

●● Hermann Nitsch: Nascido em 29 de agosto de 1938 em Viena,


Áustria, ele é um artista que trabalha em modos experimentais e
multimídia. Usa a performance ritual combinando animais abatidos
em rituais com muito sangue. Encena crucificações questionando
a religião e a noção de sacrifício.

●● Piero Manzoni: O artista nasceu em Milão, Itália, em 1933 e


faleceu naquela cidade em 1963. É conhecido por suas obras
conceituais onde trabalha com a ideia de que tudo o que o artista
toca (ou que dele sai) é arte.

●● Chris Burden: O artista nasceu em 1946, em Boston, nos Estados


Unidos. Foi um dos pioneiros da performance no oeste americano.
Destaca-se pela iconoclastia de suas ações. Submete-se ao risco
e a dor. Arquiteto, ele fez mestrado em Belas Artes na Universidade
da Califórnia em 1971. Usou seu próprio corpo como suporte da
sua arte. Recebeu um tiro, crucificou-se, rastejou sobre cacos de
vidro até que abandonou essas ações por instalações e esculturas.

●● Rudolf Schwarzkogler: Artista vienense, ele nasceu em 1940


e faleceu em 1969 naquela cidade. Associado com o Acionismo
Vienense, grupo voltado para ações radicais. Seu trabalho envolve
dor e mutilação.

●● Marina Abramovic: Nasceu em 1946 em Belgrado, na Iugoslávia.


Em 1976 a artista trocou seu país natal pela Holanda, Amsterdã
onde conheceu o artista performático Ulay com quem colaborou.
Posteriormente a artista passou a buscar inspiração em sua
própria vida e no olhar sobre seus semelhantes. Fez performances
ousadas por vezes implicando riscos físicos e ritualismo com
conotações autobiográficas e sexuais.

●● Orlan: Mireille Suzanne Francette Porte, mais conhecido como


Orlan nasceu em 1947 na França. Vive e trabalha em Los Angeles,
Nova York e Paris. É mais conhecida por seu trabalho com o
corpo envolvendo a cirurgia plástica onde se submete a múltiplas

55
intervenções visando discutir conceitos de beleza ou revisitar a
beleza na própria História da Arte.

●● Flávio de Carvalho: O artista nasceu em Barra Mansa, São Paulo,


em 1899 e faleceu em Valinhos em 1973. Multidisciplinar em suas
atividades e irreverente em suas ações ele atuou como arquiteto,
engenheiro, cenógrafo, teatrólogo, pintor, desenhista, escritor,
filósofo e performer entre outros campos do saber. O paulista
estudou na Inglaterra e fez parte da segunda geração de artistas
modernos brasileiros.

●● Helio Oiticica: Nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, e faleceu


naquela cidade em 1980. Foi um artista performático, pintor e
escultor. Participou do Grupo Frente e em 1959 passou a integrar
o Grupo Neoconcreto. Realizou um protesto por seus amigos,
integrantes da escola de samba Mangueira, terem sido impedidos
de entrar na mostra Opinião 65. Esse protesto assumiu a forma
de uma manifestação coletiva em frente ao museu, na qual os
Parangolés foram vestidos pelos amigos sambistas. Trabalhou
em campos multidisciplinares e em vários locais como Nova York,
onde foi bolsista da Fundação Guggenheim. Após seu falecimento,
foi criado, em 1981, no Rio de Janeiro o Projeto Hélio Oiticica,
destinado a preservar analisar e divulgar sua obra. Em 1996, a
Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro fundou o Centro
de Artes Hélio Oiticica, para abrigar todo o acervo do artista e
colocá-lo à disposição do público.

●● Antonio Manuel: O artista nasceu em Portugal em 1947. É


escultor, pintor, gravador e desenhista. Chegou ao Brasil em 1953
e fixou residência no Rio de Janeiro. Destacou-se em propor, em
1970, o próprio corpo como obra.

●● Bia Medeiros: A artista nasceu em 1955 no Rio de Janeiro. É


graduada em educação artística pela PUC. Possui mestrado em
estética e doutorado em artes pela Sorbonne, Paris. Atualmente, é
professora do Instituto de Artes da UNB. É também coordenadora
do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos que trabalha com
vídeo, espetáculos e performances.

●● Barbara Collier: É uma jovem artista pernambucana. Frequentou


o curso de Educação Artística na Universidade Federal de
Pernambuco e trabalha essencialmente com o corpo em
performances que falam da mulher: casamento, ritos de beleza,
aborto entre outros temas. Faz parte do coletivo de artistas Branco
do Olho Ativo em Recife desde 2004.

56
●● Amanda Mello: A artista pernambucana também dedica-se à
performance entre outras mídias. Graduada em Educação Artística
pela Universidade Federal de Pernambuco em 2006 ela mostrou
seu trabalho em circuito nacional, se aventurou pelo internacional
e ganhou vários prêmios, entre os quais o Prêmio Xamex de Arte
Jovem do Instituto Tomie Ohtake com a performance Isolante.

●● Marcelo Coutinho: Marcelo Farias Coutinho nasceu em Campina


Grande, Paraíba, em 1968. Artista visual, iniciou suas atividades
em meados da década de 1980, em Recife, cidade na qual residiu
desde 1986. Formou-se em Artes Plásticas pela Universidade
Federal de Pernambuco, onde atualmente é professor do
Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística. É mestre
em comunicação por essa universidade e doutor em Artes Visuais
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coutinho foi
um dos participantes do Grupo Camelo, juntamente com Ismael
Portela, Oriana Duarte e Paulo Meira.

●● Oriana Duarte: A artista nasceu em Campina Grande, Paraíba,


em 1966. Formou-se em Design Industrial na Universidade
Federal de Pernambuco, onde é professora. Em suas exposições
e performances faz (a partir de seu corpo e dos espaços onde
mostra seu trabalho) uma analogia com a vida real e com o mundo
em que vive. Investe na Body Art a partir da submissão do corpo
ao máximo de sua resistência física.

●● Rodrigo Braga: O artista nasceu em Manaus em 1976 e radicou-se


em Recife onde se graduou em Educação Artística em 2002. Atua
profissionalmente utilizando a fotografia, o corpo e sua associação
com animais de forma física e psicológica. Está inserido no circuito
artístico nacional e seu trabalho também vem sendo apresentado
em feiras de arte como: SPARTE (São Paulo, 2008, 2009);
ARCO’08 e ARCO’06 (Espanha, 2008, 2006); Paris Photo (França,
2005); Art Cologne (Alemanha, 2005); D-Foto (Espanha, 2005).

Atividades
Forme um grupo escolhendo seus membros entre os colegas de curso e proponha o
roteiro de uma performance. Vocês podem interagir nas várias fases de preparação
e depois apresentá-las (juntamente com todos os outros grupos) em um encontro
presencial.

57
C a p í t u l o 23

Novas mídias na pós-


modernidade: Instalação,
Videoarte e Web Art

objetivos do Capítulo
Estudar a vertente tecnológica como presença consistente no universo das Artes Visuais
da contemporaneidade insistindo sobre o momento pós-moderno e suas características.

Hal Foster20 identificou duas vertentes do pós-modernismo em Saiba Mais


1985, ou seja, com bem pouco recuo de tempo se tomarmos, como 20
Hal Foster. (Post)
parâmetro cronológico, o início da pós-modernidade na década Modern Polemics.
Recording. Art, Spetacle,
de 60 e sua consolidação nos anos 80. Ele separa uma corrente Cultural Politcs.
pós-moderna que ele considera como alinhada com as políticas Washington: Bay Press,
1985, p. 121.
neoconservadoras (que é a mais conhecida) e outra extremamente
crítica e, mesmo, radical em suas concepções.

A partir dessa análise podemos estabelecer a pintura revisitada


como um meio tradicional que, entretanto, recebe nova configuração
temática. A segunda vertente seria aquela que investe cada vez mais
nas novas mídias como meio e suporte. Dessa forma, no guarda-
chuva da pós-modernidade se abrigam e coexistem obras que utilizam
meios de expressão considerados “clássicos” pela História da Arte e
aqueles que aparecem após o desenvolvimento tecnológico em seu
processo contínuo de aperfeiçoamento. Portanto, a partir dos anos
80 podemos encontrar a arte conceitual coexistindo com uma pintura
de discurso feminista expressionista ou um vídeo dialogando com o
público no mesmo espaço que uma figuração pictórica de conotações
históricas.

No que diz respeito às preocupações temáticas durante essas três


últimas décadas em paralelo à globalização, às questões identitárias,
aos apelos às ciências sociais e mesmo às inserções de ordem
política, encontramos a questão dos novos meios no universo
das artes visuais como elementos próprios do discurso artístico
contemporâneo.

Juntando todos esses meios, tradicionais e inovadores, bem como as

59
mais variadas abordagens temáticas encontramos a arte da instalação
como um idioma flexível utilizado pelos artistas da pós-modernidade.

Sobre as instalações e suas


hibridizações
A arte da instalação, cronologicamente, começou no início da década
de 60. Ela utilizava (e utiliza) o espaço arquitetônico (ou não) tendo
como característica maior a interdisciplinaridade no que diz respeito
aos meios utilizados. Funcionava como catalisadora de ideias novas
e integrava o espectador em sua existência efêmera.

As instalações tornaram-se populares e desenvolveram-se sob


diferentes formas e por vários artistas. Um dos exemplos clássicos
envolve dois artistas no cenário da Paris do fim da década de
50: o nosso já conhecido Yves Klein e outro artista francês seu
contemporâneo Arman, ambos do grupo Nouveau Realisme. Klein
expôs uma galeria vazia (a galeria Iris Clert em Paris) como proposta
a qual deu o nome de O Vazio e Arman, dois anos depois, responde
no espaço da mesma galeria atulhando-a de lixo e denominando a
instalação de O Cheio.

Pesquise... Saiba Mais


O Vazio. Yves Klein. O trabalho gira em torno de um conceito influenciado pela filosofia Zen sobre o vazio que
1958. Foto da Instalação. seria, em relação a essa tradição, um estado similar ao Nirvana. Um estado de espírito
onde as pessoas estariam tecnicamente livres das influências externas que impediriam
uma concentração em suas próprias sensações e percepções.

O artista optou por um tema que represente a ausência como forma de apresentação de
um estado mais propício para a reflexão mediada pela instalação. Ele reportou-se assim
a um conteúdo metafísico e filosófico trazendo-os para o contexto das Artes Visuais. A
partir da ideia do diálogo maior com o espectador ele busca trazê-lo para compartilhar
sua própria percepção desse estado a que o vazio o remeteria.

Pesquise... Saiba Mais


Le Plein. Arman. 1960. Companheiro de Klein no Nouveau Realisme, Arman compartilhou também do seu
Galerie Iris Clert. Paris.
interesse pelo Zen Budismo.

O processo de acumulação da sociedade de consumo que não tem o que fazer com seus
detritos é ironizado pelo artista que relaciona e contrapõe a essa turbulência provocada

60
pelo lixo inútil, de forma metafórica, o vazio do homem que busca conhecer a sua própria
essência, deixando o lixo das distrações pelo caminho.

A instalação aconteceu na mesma galeria em que Klein, provocou o público com a


ausência total de objetos. Arman contrapõe a ideia desse vazio com excesso de objetos:
o cheio.
Pesquise...
Muro de Óleo-Cortina de
A arte da instalação diversificou cada vez mais sua concepção e Ferro. Christo e Jeanne
materiais. Tematicamente falando, ela pode ser autobiográfica ou Claude.
celebrar a vida social, militar pela ecologia ou pela política. No que
diz respeito aos materiais ela passa a empregar os mais diversos
em diferentes contextos. Assim vamos encontrar pintura, música e
vídeo, por exemplo, em uma mesma obra. Os espaços, por sua vez,
são variados. Christo e Jeanne-Claude (que já abordamos em outro
capítulo) propõem instalações urbanas e Per Olof Ultvedt transforma Pesquise...
a instalação em um espaço arquitetônico utilizável. Niki de Saint Phalle
and Jean Tinguely in
Se antes, essas propostas artísticas não encontravam lugar em front of Hon Moderna
Museet. Per Olof Ultvedt,
espaços comerciais, a partir da década de 70 as galerias passaram a Stockholm. 1966.
acolhê-las bem como museus e instituições em geral. As instalações
também podem ser concebidas para um lugar específico. É quando
recebem o nome de site-specific. Podem ser idealizadas também para
locais diferentes. Entretanto, uma mesma instalação, por mais que
ela seja itinerante em suas exibições, nunca vai ser a mesma, pois o
espaço que a acolhe se transforma. Ou seja: tem outras dimensões,
características e público envolvido.

Esses ambientes ou instalações, essas formas híbridas que podem


abranger múltiplos meios estabelecendo, porém, uma relação entre
eles. Tratam da arte enquanto ela se funde com a vida. No Brasil as
primeiras instalações acontecem em pleno Neoconcretismo dos anos
60. Ferreira Gullar, o teórico do movimento, afirma que o seu Poema
enterrado (1959-60) foi a primeira obra do gênero no país.

Um exemplo interessante de uma das primeiras instalações (ou


ambientes) realizadas no país e que já trabalha com vários meios é O
Helicóptero de Wesley Duke Lee.

Pesquise...
Saiba Mais O Helicóptero. Wesley
Duke Lee. Instalação.
A instalação inclui um circuito fechado de vídeo que proporciona possibilidades de 1967-69. Foto. Museu de
intervenção/interação ao espectador. Ele pode participar, dessa forma, do trabalho. Ela Arte de São Paulo.
reúne também desenho, pintura e escultura.

61
Podemos dizer que essa transformação de uma linguagem em outra reflete um artista
que usa cada vez mais a sua imaginação. Ele coloca cada coisa, cada estímulo para que
o espectador/ator ultrapasse sempre uma nova fronteira.

No Nordeste do Brasil as linguagens contemporâneas nas artes


visuais tiveram seu início principalmente a partir da década de 90.
As instalações também seguiram esse padrão. Recife é a cidade
que funciona um catalisador de uma produção marcante no que diz
respeito a arte contemporânea.

Lourival Cuquinha, nascido em Olinda e atuante na capital de


Pernambuco, é um artista que trabalha com várias mídias e linguagens.
Pesquise... Seu trabalho reflete sempre pensamentos sobre a liberdade individual
Varal. Lourival Cuquinha. em relação à coerção social. Em 2003 ele apresentou a instalação
2003-2006. Salvador.
Corda e roupas. Cidade.
Varal no SPA de Recife que depois seguiu para diversos pontos no
Foto. Brasil e fora dele.

Saiba Mais
O Varal é uma intervenção urbana que modifica a paisagem com o intuito de chamar a
Saiba Mais atenção para uma atividade da vida diária de alguns moradores. O artista reutiliza essa
ação (re)dimensionando-a, de forma gigantesca, num lugar inusitado.
21
O grupo Fluxus foi um
movimento que marcou A instalação é intinerante e já foi apresentada além de Recife/PE (SPA das Artes/2003),
as artes visuais dos
em Olinda/PE (premiada no Arte em toda Parte/2003-04), Rio de Janeiro/RJ (Paço
anos 60 e 70 do século
XX. O nome do grupo Imperial/2004), Porquerolles no sul da França (projeto Pernambuco! Art contemporain/
significa catarse em latim. culture populaire, ano do Brasil na França/2005), Parque do Ibirapuera/SP (Rumos/
Ele valorizava a criação Itaú Cultural - 2006), Vitória/ES (premiado no Salão do Mar - 2006), Av. Paulista/SP (6
coletiva e integrava de junho de 2006), no Rio de Janeiro/RJ (projeto Redes, da Funarte a da Associação
diferentes linguagens tais de Moradores da Babilônia) e em Weimar/Alemanha (na exposição coletiva “Die Kunst
como musica, cinema e
erlöst uns von gar nichts, Künstlerpositionen aus Südamerika”).
dança. Ele se manifestava
principalmente através da
performance.
Em fins de 1950, outra forma de fazer arte vai ser introduzida
inicialmente por Wolf Vostel e Nam June Paik e depois por vários
criadores até os dias que correm. Trata-se de pesquisas com
tecnologia televisiva que, na época, despontavam como mais um
recurso a ser utilizado no universo das artes visuais. Essas pesquisas

Saiba Mais pioneiras foram apresentadas no conjunto de atividades do Grupo


Fluxus21. Nesse momento o artista Nan June Paik colocou: “assim
Amy Dempsey. Estilos,
22

Escolas & Movimentos. como a colagem substituiu a pintura o raio catódico substituirá a
Op. Cit. p. 257. tela22”.

62
Sobre o videoarte como novo recurso
tecnológico no meio artístico da
visualidade
Na década de 70 as experiências adquiriram caráter de movimento
e inúmeros artistas passaram a trabalhar com o videoarte. O seu
desenvolvimento foi influenciado por várias correntes intelectuais e os
primeiros videoartistas:
Saiba Mais
Fundiram as teorias da comunicação global com
Amy Dempsey. Estilos,
23

elementos da cultura popular para realizar vídeos, Escolas & Movimentos.


instalações que usavam um canal ou multicanais, Op. Cit. p. 258.
produções com transmissões de satélites
internacionais e esculturas multimonitoradas23.

Alem de Paik e Vostell, destacaram-se também nas pesquisas com


essa tecnologia Dan Grahan, Bill Viola, Antoni Mutandas, entre outros
artistas.

Saiba Mais Pesquise...


Essa obra (e as demais) de Paik nos faz pensar sobre as múltiplas possibilidades de Video escultura. Nan
investigação dos meios tecnológicos. Sua reflexão sobre a cultura de massas, por June Paik. Museum für
exemplo, o fez substituir o monumento clássico em praça pública pelo herói dos novos Kommunikation. Frankfurt.
tempos: a televisão.

O uso desses novos veículos como um elemento de liberdade de criação também


faz parte das investigações do artista que teria que saber criar formas alternativas
de expressão tomando como base a própria tecnologia que impactava a vida
contemporânea. A hibridização conceitual permeia sua obra, que no presente caso, usa
a escultura como referencial.

Ao buscarem novos instrumentos relacionados com a informação,


os artistas envolvidos querem questionar a própria mídia discutindo
questões de gênero, sexualidade ou raça. Posteriormente, a
liberdade do vídeo da televisão permitiu as criações de Viola e as de
Tony Oursler que procuram insuflar vida em objetos inanimados que
interagem com o espectador.

Saiba Mais Pesquise...


Partes falantes de animais ou pessoas ou dispositivos que interagem com o espectador Dispositfs. Tony Oursler.
são o centro do trabalho do artista que navega entre o cômico e o aterrorizante. 2006. Helsinki City Art
Museum.
A proposta de Oursler é denunciar a falta de comunicação na sociedade contemporânea

63
onde somos impulsionados a dialogar com objetos inanimados. O artista projeta sobre
eles (os objetos) a nossa (irremediável) solidão pós-moderna. A tecnologia é usada
assim como crítica ao seu próprio excesso.

No Brasil, as primeiras experiências com videoarte datam do início da


década de 70, mas as pesquisas só se tornam mais palpáveis a partir
de 1974. Essas pesquisas foram iniciadas por artistas como Anna
Bella Geiger e Analívia Cordeiro entre outros. Outros artistas também
Pesquise... se destacam na cena nacional tais como Antonio Dias e José Roberto
Mapas Elementares. Aguillar. Posteriormente vamos encontrar o trabalho de Rafael França
Anna Bella Geiger. 1976. como exemplo de trabalho com essa mídia no país.
Vídeo.

Saiba Mais
Trata-se de um registro em sequência tomado da artista desenhando um mapa do
mundo. Na ação o território brasileiro é destacado tendo a sua extensão preenchida pelo
traço de uma caneta preta.

As imagens dialogam com uma música de Chico Buarque que relata a situação crítica/
política da década de 70 quando o país vivia momentos de ditadura e repressão militar. É
um momento de início do uso do vídeo como meio nas artes visuais brasileiras.

Sobre a web art


Lançada na década de 80, a Web deu espaço a uma comunicação
cada vez mais rápida (de aperfeiçoamento cada vez mais dinâmico
e a democratização dos meios de acesso a ela)entre pessoas de
locais distantes no planeta Terra. O seu enorme crescimento trouxe,
portanto, um número cada vez maior de usuários.

Essa condição apontou e facilitou seu uso como um instrumento de


expressão artística que é cada vez mais utilizado a partir da ampliação
progressiva de sua interatividade. Dessa forma, a utilização da
imagem, do som, do texto e do movimento podem ser utilizados e
acompanhados pelo espectador que muitas vezes torna-se ator,
participando das ações na net.

Para os artistas, essa nova maneira de distribuição de seu produto


traz a possibilidade das novas linguagens oferecendo uma gama
ainda inexplorada de recursos bem como democratiza bem mais a
sua forma de expressão.

64
A temática na Web é cada vez mais diversificada. Assim, podemos
ter como exemplo desde a montagem da russa Olia Lialina que traz
para a net uma história, pessoal e política, que aborda um amor infeliz
e as circunstâncias que assim o tornaram. A ação é denominada de
Meu namorado voltou da guerra e aconteceu em 1996. Também
podemos considerar, entre tantos outros webartistas, os múltiplos
temas interativos de Peter Stanick que cria pinturas digitais que
lembram a Pop Art americana e cujas cenas se passam em Nova York.
Seus trabalhos podem ser encontrados no link http://www.stanick.com/
showeb/tc3.html.

Saiba Mais Pesquise...


As imagens deste trabalho, associadas à música, são de forte apelo visual e ironizam Pro Deo et Patria. Peter
a atemporalidade de Deus simbolizada pelo girar contínuo do globo e nossos hábitos Stanick. Web site.
humanos que a partir dessa perspectiva tornam-se vãos, banais.

Como nas várias abordagens da pós-modernidade ele faz referência a trabalhos


desenvolvidos em outras mídias por artistas do movimento pop dos Estados Unidos tais
como Roy Lichteisntein e Andy Warhol. Em outros trabalhos imagens do Homem Aranha
comem ovos com bacon ao lado de óculos escuros misturando realidade e ficção. Em
síntese: nossa vida e nossos mitos.

São múltiplas as origens dos artistas que utilizam a Web como


meio. Uns são provenientes do design gráfico, outros de artes
visuais e, mesmo do universo dos negócios. Como é uma tecnologia
em processo de desenvolvimento contínuo, o trabalho artístico
produzido por aqueles que o utilizam está em processo de mutação.
O espectador também se encontra em processo de preparação cada
vez maior para essa forma de expressão artística. Isso nos leva a
uma reflexão sobre o como se processara sua fusão com a televisão,
o vídeo em um universo artístico que tende cada vez mais para o
mundo do espetáculo e do entretenimento.

Você Sabia?
●● A interdisciplinaridade em artes visuais diz respeito a utilização de vários meios
(disciplinas) pelo artista para expressar suas ideias.

●● A filosofia Zen, que apareceu há mais de dois mil anos no Oriente, prega a busca
do auto-conhecimento através dos ensinamentos de Buda que ensina o estar em si
mesmo para, através desse estado que inclui o vazio de desejos, estar em comum
com o universo.

65
●● Nirvana, no Budismo, é um estado de transcendência que supera as contingências
do estado físico que implica em desejos e sofrimentos. É uma espécie de acordar
para uma realidade liberta das necessidades da vida.

●● Site-specific (lugar específico) em artes visuais diz respeito a obras criadas pelo
artista para ambientes determinados. Ou seja: trabalhos planejados (que na maioria
das vezes incluem convite) para um local certo.

●● As formas híbridas dizem respeito, em artes visuais, às formas advindas de


múltiplas áreas do conhecimento ou da práxis artística.

●● O SPA das Artes (Semana Pernambucana de Arte) occorre anualmente no Recife


mostrando a produção dos artistas locais.

Saiba Mais
Vamos ler o artigo publicado nos anais da ANPAP (Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas) de autoria de Debora Aila Gasparetto e Nara Cristina
Santos intitulado Galerias Virtuais de Arte Digital no Ciberespaço: possibilidades
para o sistema de arte contemporânea que podemos encontrar no link http://www.
anpap.org.br/anais/2010/pdf/chtca/debora_aita_gasparetto.pdf

Sobre os artistas citados


●● Arman: O artista Arman Pierre Fernandez nasceu em Nice
(França) em 1928, e faleceu em 2005 em Nova York (EUA).
Trabalhava com acumulação de objetos do cotidiano, esculturas
gigantescas de peças automotivas e notalibizou-se por sua vitrine
de lixo exposta em Paris. Compôs suas acumulações com os mais
variados materiais que vão dos objetos de consumo de luxo até
as dentaduras lembrando o Holocausto. Mudou-se para Nova York
em 1963 mas continuou a produzir obras na Europa.

●● Per Olof Ultvedt: O artista nasceu em 1927 na Finlândia e morreu


em 2006. Estudou na Academia Real de Artes de Estocolmo
onde foi professor posteriormente. É conhecido por suas grandes
instalações e esculturas públicas.

●● Ferreira Gullar: O poeta e artista nasceu no Maranhão em 1930.


Participou ativamente das mudanças políticas e sociais brasileiras.
Sua obra aponta a problemática brasileira de forma política e
poética. Poeta, crítico, teatrólogo e intelectual, ele influenciou os
rumos das artes visuais e literárias no Brasil.

66
●● Wesley Duke Lee: Nasceu em São Paulo em 1931. Pintor e
desenhista, ele cursou Desenho Livre no Museu de Arte de
São Paulo em 1951; estudou na Parson’s School of Design em
Nova York até 1955. Viveu também em Paris onde frequentou a
Académie de la Grande Chaumière e o atelier do gravador e
pintor abstrato Johnny Gotthard Friedlaender. Retornou ao Brasil
em 1960, e foi um dos primeiros artistas a explorar as técnicas
de computação gráfica. Trabalhou com pintura a óleo, acrílica,
ambiente e instalação, onde o desenho e a cor sempre foram
presentes.

●● Lourival Cuquinha: O artista é natural de Olinda e trabalha com


várias mídias. Fez vários cursos na Universidade Federal de
Pernambuco mas não concluiu nenhum. Participou de diversos
salões e exposições em Pernambuco. Em 2003 apresentou o
trabalho Varal pela primeira vez. Desde então vem desenvolvendo
uma intensa atividade no cenário local e intenacional.

●● Wolf Vostel: Nasceu na Alemanha em 1932 e morreu naquele


país em 1998. Foi um artista de prestígio internacional e um dos
pioneiros do happening e videoarte tendo participado do movimento
Fluxus. Iniciou suas atividades artísticas em 1958. Em 1960 ele
tornou-se, juntamente com Paik, figura fundamental do videoarte.

●● Nam June Paik: O artista nasceu em 1932 em Seul, na Coreia e


faleceu em 2006 nos Estados Unidos. Ele foi o primeiro performer
a ser chamado de videoartista fazendo instalações com monitores.
Considerado o pioneiro da arte eletrônica ele teve uma carreira
multifacetada que incluiu performances, instalações, projetos de
TV e vídeos. Uma das contribuições mais importantes de Paik foi
expandir a definição e a linguagem da criação artística.

●● Bill Viola: O artista nasceu em 1951 em Nova York. É um dos


pioneiros da videoarte alem de trabalhar com instalações com uma
clareza hiper-realista. Estudou fotografia e música. O gênero da
videoarte ainda estava em seus princípios quando Viola iniciou
suas pesquisas. Investiga fenômenos da consciência, estados
emocionais e desejos de transcedência espiritual.

●● Antoni Muntadas: O artista nasceu em Barcelona, Espanha, em


1942 e trabalha com multimeios. Através de suas obras, ele aborda
questões sociais, políticas e de comunicação, tais como a relação
entre espaço público e privado. Seus projetos são apresentados
em diferentes suportes como fotografia, vídeo, publicações,
internet, instalações e intervenções urbanas.

67
●● Tony Oursler: O artista nasceu em Nova York em 1967. É um
artista multimídia. Tornou-se notório pelas suas animações que
inicialmente foram exibidas em espaços alternativos. Mistura várias
técnicas para dar vida a objetos inanimados.

●● Anna Bella Geiger: A artista nasceu em 1933 no Rio de Janeiro,


Brasil. Escultora, gravadora, desenhista e artista intermídia ela
iniciou seus estudos na década de 50. Em 1954 foi para Nova
York onde estudou no The Metropolitan Museum of Art. Em 1969,
novamente em Nova York, ministrou aulas na Columbia University.
Nos anos 1970, sua produção passa a ter caráter experimental:
fotomontagem, fotogravura, xerox, vídeo e Super-8.

●● Analívia Cordeiro: Nasceu em São Paulo em 1954. Bailarina,


coreógrafa e arquiteta. Forma-se em dança, no Brasil, com a
coreógrafa Maria Duschenes (1922) e em Nova York, nos estúdios
de Alvin Nikolais e Merce Cunningham. Cursa Arquitetura na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo (FAU/USP) e é mestre em multimeios pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Criadora de vídeos e
espetáculos multimídia.

●● José Roberto Aguillar: Nasceu em São Paulo em 1941. Pintor,


videomaker, performer, escultor, escritor, músico e curador.
Autodidata, integrou o movimento performático-literário Kaos,
em 1956, com Jorge Mautner (1941) e José Agripino de Paula.
Considerado um dos pioneiros da nova figuração no Brasil. Viveu
em Londres, entre 1969 e 1972, e em Nova York, entre 1974 e
1975, época em que iniciou suas experimentações com vídeo.

●● Rafael França: Nasceu em Porto Alegre em 1957. Artista multimídia.


Formou-se em Artes Plásticas pela Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e em 1985 tornou-
se mestre em Artes pela The School of the Art Institute of Chicago.
A partir de 1982, passou a viver alternadamente entre São Paulo e
Chicago, produzindo vídeos, instalações e trabalhos de curadoria
nos dois locais. Tem uma obra videográfica das mais coerentes e
sistemáticas de toda a arte eletrônica brasileira.

●● Olia Lialina: Nasceu em Moscou em 1971. É pioneiro na arte que


utiliza a Internet como meio. Estudou crítica de cinema e jornalismo
na Universidade Estadual de Moscou graduando-se em 1993. Ela
fundou uma galeria web de seu trabalho, que também possui links
para remakes de sua obra mais famosa Meu namorado voltou da
guerra.

68
●● Peter Stanick: O artista nasceu na Flórida, nos Estados Unidos em
1953. Peter Stanick combina fotografia tradicional com tecnologia
em computador para criar pinturas em grande escala de um mundo
de fantasia habitado por modelos de lingerie e starlets. A imagem
resultante brinca com o cartoon mas tem uma precisão clínica.

Atividades
Pesquise (e apresente o resultado) sobre um artista internacional ou nacional que
trabalhe com a Web, o videoarte ou a instalação como meios de expressão.

69
Referências
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71
Sobre a Autora

Madalena Zaccara
Madalena Zaccara possui graduação em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), bacharelado
em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
mestrado (DEA) em História e Civilizações - Université Toulouse
II, Toulouse, França e doutorado em História da Arte - Université
Toulouse II, também em Toulouse, França, como bolsista Capes.
Tem pós-doutorado pela Escola de Belas Artes da Universidade
de Porto, Portugal, também como bolsista Capes. Atualmente é
professor associado III da Universidade Federal de Pernambuco.
Ensina no Programa Interinstitucional de Pós-graduação em Artes
Visuais UFPE-UFPB. Lidera o grupo de pesquisa cadastrado no
CNPq intitulado “Arte, Cultura e Memória” que se volta para a
pesquisa da História e Teoria das Artes Visuais no Brasil com ênfase
para o Nordeste. Atua principalmente nos seguintes temas: História
da Arte e Crítica de Arte. É membro da Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas (ANPAP), da FAEB (Federação dos
Arte Educadores Brasileiros) e do Instituto de Investigação em Arte,
Design e Sociedade I2ADS (Porto, Portugal). É representante regional
da ANPAP-Pernambuco (Associação Nacional dos Pesquisadores
de Artes Plásticas). Tem vários livros, capítulos de livros e artigos
publicados. Endereço eletrônico: madazaccara@gmail.com

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