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Doutora em História Econômica pelo Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo (USP), em 2005, mestre em História Social, em 1991, e graduada em História,
em 1979, pela mesma universidade. Trabalhou como historiadora do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) nas décadas de 1980 e 1990. Foi professora do Ensino
Básico e Superior em diversas instituições de ensino e de Historiografia Geral e Brasileira no curso de especialização em
História, Sociedade e Cultura da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Cogeae). É coordenadora pedagógica no Ensino
Fundamental do Colégio Objetivo, atuando na coordenação de produção de material didático. Na área de pesquisa,
desenvolveu trabalhos sobre História do Brasil relacionados ao patrimônio histórico, às décadas de 1930 e 1940, e à
história do corpo do trabalhador industrial em São Paulo.
CDU 981
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Ana Luiza Fazzio
Juliana Mendes
Sumário
Historiografia do Brasil
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX............................................................................... 13
2 OS INSTITUTOS HISTÓRICOS ENTRAM EM CENA .............................................................................. 14
2.1 O Romantismo e a formação da nacionalidade....................................................................... 15
2.2 O projeto nacional................................................................................................................................ 18
2.3 O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).............................................................. 21
2.4 Forjar a nação: missão do IHGB...................................................................................................... 22
2.5 A historiografia do IHGB.................................................................................................................... 24
2.6 O legado historiográfico do IHGB.................................................................................................. 30
2.7 Varnhagen, o Heródoto brasileiro................................................................................................... 31
3 EVOLUCIONISMO, CIENTIFICISMO E A PRODUÇÃO HISTÓRICA
NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX.................................................................. 33
3.1 A hegemonia da ciência e a ideologia do progresso ............................................................. 33
3.2 O ambiente cultural brasileiro no final do século XIX ........................................................... 35
3.3 A historiografia brasileira, o cientificismo e os determinismos.......................................... 38
3.4 Capistrano de Abreu, o grande historiador................................................................................ 40
4 A IDENTIDADE NACIONAL EM QUESTÃO................................................................................................ 45
Unidade II
5 A HISTÓRIA DO BRASIL ENCONTRA NOVOS CAMINHOS................................................................. 51
5.1 O Brasil e a historiografia nas décadas iniciais do século XX.............................................. 52
5.2 O papel da História e da Geografia na construção nacional............................................... 53
5.3 A historiografia, a questão nacional e o posicionamento dos intelectuais.................. 57
6 O MODERNISMO E O MOVIMENTO DE REDESCOBRIMENTO DO BRASIL.................................. 58
6.1 Somos, enfim, modernos?.................................................................................................................. 58
6.2 Tradição e modernidade..................................................................................................................... 59
6.3 A cultura brasileira, o nacional e o popular............................................................................... 61
6.4 Retrato de um País triste................................................................................................................... 63
6.5 Pioneiros em caminhos diversos: os intérpretes do Brasil................................................... 64
6.6 Da varanda da Casa-Grande ............................................................................................................ 65
6.7 Emergem os antagonismos............................................................................................................... 71
6.8 A cordialidade como padrão............................................................................................................. 74
Unidade III
7 A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA ENTRE OS AUTORITARISMOS E A DEMOCRACIA............. 83
7.1 O pensamento autoritário e a historiografia nas décadas de 1930 e 1940.................. 83
7.2 Oliveira Viana e o pensamento autoritário................................................................................. 84
7.3 O Estado Novo, os intelectuais e a cultura................................................................................. 86
7.4 O nacional e a formação de uma cultura histórica................................................................. 89
7.5 O Serviço do Patrimônio Histórico Nacional.............................................................................. 93
7.6 A História na universidade................................................................................................................ 96
7.7 Ressurgem as dissidências e emerge um pensamento radical........................................... 97
7.8 Novos parâmetros para se entender o Brasil ............................................................................ 98
7.9 O nacionalismo desenvolvimentista.............................................................................................. 99
7.10 Pensar o Brasil em novos termos ..............................................................................................101
7.11 Outras possibilidades para pensar o País.................................................................................103
7.12 Em tempos de radicalização.........................................................................................................105
8 A HISTORIOGRAFIA RECENTE....................................................................................................................107
8.1 As principais influências e questões a enfrentar....................................................................107
8.2 A repercussão na historiografia.....................................................................................................109
8.3 A questão da História nacional.....................................................................................................111
8.4 Alguns caminhos possíveis .............................................................................................................112
APRESENTAÇÃO
Partimos das primeiras manifestações da produção histórica encontrada nos cronistas que
escreveram em tempos de América Portuguesa. Na verdade, somente após a independência é que teve
início a historiografia brasileira propriamente dita. A pesquisa histórica no Brasil, com metodologia
e reflexões de cunho científico, anunciou-se no século XIX e tomou corpo em meados do XX. Assim,
iremos acompanhar os esforços realizados em momentos diferentes desses séculos para se construir
o conhecimento histórico em nosso País. É forçoso reconhecer que, nesse percurso, o passado a ser
buscado era fundamentalmente aquele que sustentasse o Estado constituído tendo a ideia de nação
como substrato: a história nacional.
Com efeito, nossa tradição intelectual tem feito da nação seu sujeito privilegiado. Desde a produção
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) no século XIX, passando pelas teorias raciológicas
e seu impacto nas formas de ver o Brasil, pelos arautos da modernidade dos anos 1920 e ensaístas da
década de 1930, é sempre a ideia de nação brasileira que se encontra subjacente. As reflexões conduzidas
tendo como eixo a ideia de nação e identidade brasileira têm tido longo alcance, responsabilizando-se
pela edificação de matrizes de pensamento histórico, sociológico e político cujos ecos sentimos até hoje.
Ao se dirigir o foco por muito tempo para aquilo que seria comum a todos e comporia a marca de
nossa singularidade, produziram-se silêncios e esquecimentos daqueles que não se reconheceram na
unidade forjada. Precisou-se que novas questões fossem colocadas para o passado por uma historiografia
mais recente, preocupada em estudar a história de minorias e grupos sociais marginalizados naquela
produção historiográfica comprometida com a história nacional, muitas vezes, traduzida em história
das elites.
Nas tendências historiográficas mais recentes, as diferentes faces do Brasil se sobrepõem à ideia
de unidade tantas vezes encobridora das desigualdades de fato. Mesmo assim, apesar da evidente
complexidade da questão identitária, da valorização da diversidade e das singularidades a que
assistimos atualmente, a nacionalidade continua a funcionar como uma argamassa a cimentar laços de
pertencimento social contradizendo aqueles que acreditavam no fim da nação na sociedade globalizada.
Em todo esse percurso, a historiografia brasileira foi se encorpando e o saber histórico se construindo
com contornos cada vez mais próximos do rigor das ciências e das academias, ampliando o entendimento
sobre o Brasil e os brasileiros.
Inicialmente, estudaremos a produção historiográfica no País, no século XIX, que foi marcada pela
atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), sediado no Rio de Janeiro, e seus correlatos
regionais. A figura marcante desse período foi Varnhagen – historiador consagrado no Império e conhecido
como o Heródoto brasileiro. Mais para o final do século, veremos como o evolucionismo e as teorias
deterministas influenciaram o nosso panorama intelectual repercutindo na historiografia. Destacaremos
a importância de Capistrano de Abreu, reconhecido como figura maior dentre os historiadores nacionais.
INTRODUÇÃO
Nunca uma sociedade se revela tão bem como quando projeta para trás de
si sua própria imagem.
Diante das diferentes visões sobre o que vem a ser historiografia – conceito sobre o qual não há
apenas uma definição, nem consenso – é possível tratá-la de formas diversas. Pode-se, por exemplo,
colocar em evidência de que forma se dá a elaboração do conhecimento histórico e seu registro escrito.
Nesse caso, nos aproximamos da teoria da História e de sua epistemologia.
Cumpre lembrar que a palavra história tem duplo significado. Refere-se ao conjunto das ações
humanas ocorridas no passado e também aos relatos que são produzidos sobre esse passado que
compõem a historiografia. O segundo caso enseja a reflexão sobre a natureza do vínculo existente entre
o passado vivido e o contado.
A ideia mais aceita hoje é de que a História é uma representação do passado vivido para cuja
elaboração diferentes variáveis operam, devendo ser considerado o historiador em sua subjetividade
intrínseca e as condições históricas e sociais de sua produção.
É fato, amplamente aceito, que a tarefa do historiador, como trabalho intelectual, depende de
condições individuais, mas vincula-se a um determinado contexto social e histórico que o insere em um
âmbito coletivo. A natureza coletiva do conhecimento faz que, como ressalta Maria de Lourdes Janotti,
seja interceptada na “mensagem de uma obra ou em seu estilo o resultado do pensamento de um ou
mais grupos sociais sobre a realidade vivida” (apud FREITAS, 1998, p. 120).
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Tratar da produção historiográfica, com esse entendimento, faz as reflexões no âmbito da
história das ideias se vincularem ao estudo do ambiente sociocultural das épocas em que foram
produzidas, com as necessárias considerações sobre questões econômicas e políticas envolvidas.
Como afirma a historiadora:
A História é, como se sabe, escrita e reescrita a cada geração. Assim, a historiografia constitui
documento de sua época ao mesmo tempo que é reveladora do passado que reconstrói.
Acresce-se a isso que as obras históricas não são necessariamente superadas pelas que lhe sucedem,
não podendo ser descartadas sem consideração, até porque se tornam documentos da época em que
foram produzidas.
Nessa condição, o conhecimento histórico tem caráter autorreflexivo, como ressalta Jurandir Malerba
ao dizer que:
A ideia de que a historiografia, ela mesma, seria “fato documentado de outros tempos”, reforça a
relevância de sua história e está na base dos caminhos escolhidos para este livro-texto, que se insere na
linha da história da historiografia cujo entendimento ainda se faz de uma última consideração.
Como definir historiografia brasileira e o que ela compreende? Há que se escolher entre três
possibilidades, pois ela pode ser entendida como:
2. Toda produção sobre a História do Brasil feita tanto por brasileiros como por autores de outros países.
A terceira possibilidade nos parece trazer vantagens significativas. Esta também é a visão apresentada pelo
historiador Fernando Novais em seu livro Aproximações. Para ele, no primeiro caso, estaríamos colocando em
evidência o “sujeito do discurso” – o historiador – e caberia listar todas as obras de historiadores brasileiros
independentemente do tema ou do período histórico tratado. No segundo, a ênfase estaria no objeto de estudo
– Brasil – e caberia incluir todas as obras escritas sobre o País, inclusive por autores estrangeiros, brasilianistas,
por exemplo. Entretanto, para esse autor, historiografia brasileira stricto sensu deve se referir ao conjunto das
obras de historiadores brasileiros sobre o Brasil (NOVAIS, 2005, p. 314).
Já afirmava José Honório Rodrigues – pioneiro dos estudos sobre historiografia brasileira – em seu
trabalho Teoria da História do Brasil, publicado pela primeira vez em 1949:
Iremos, assim, tratar neste livro-texto, em especial, da produção de intelectuais brasileiros sobre a
História do Brasil. Por vezes, para auxiliar a composição do panorama que se pretende construir, serão
citados autores de outras nacionalidades que escreveram sobre a nossa história.
Mas, sobretudo, vasculhando as formas de pensar de autores brasileiros sobre o nosso passado,
podemos acompanhar a construção no País de uma massa crítica de conhecimento sobre ele, conhecer
as diferentes visões produzidas sobre nossa história e, nesse caminho, lançar luz sobre o contexto em
que as obras foram produzidas.
Até 1930, a formação dos historiadores era diversificada; muitos vinham das academias de Direito e
alguns tiveram acesso a estudos no exterior, em países como França, Portugal ou Alemanha. A produção
acadêmica de História no Brasil é fenômeno mais recente, perceptível a partir de meados do século XX.
Vincular a historiografia a seu momento de produção nos leva a discutir suas relações com o
poder. A seleção dos temas a serem estudados, os aspectos enfatizados e as análises feitas pelos nossos
historiadores expressam questões relevantes na época e devem ser considerados em suas relações com o
poder constituído, podendo estar a seu serviço ou a ele se contrapor. O quanto a obra histórica expressa
a visão de mundo do seu autor, com seus compromissos de classe e suas condições de formação, precisa
ser ponderado. Imerso em um determinado contexto histórico, expressa uma visão de mundo de sua
época, embora nem sempre de sua classe social e de forma consciente.
Além disso, vale lembrar que a produção historiográfica, na medida em que cristaliza as versões sobre
o passado, constrói memórias e, no mesmo movimento, produz silêncios e esquecimentos. O acesso ao
passado passa a significar, nesse contexto, uma questão de poder. A historiografia brasileira tradicional
expressou isso de forma marcante elegendo a história da elite branca como a história nacional.
Somente nas décadas mais recentes isso se modificou com o surgimento de trabalhos em que negros,
indígenas, pobres e mulheres foram incluídos como personagens e protagonistas da história brasileira.
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Unidade I
1 A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX
Ao considerarmos a historiografia brasileira em seu sentido mais estrito, ou seja, obras de História do
Brasil elaboradas por historiadores brasileiros, somos levados a fixar seu início apenas com o surgimento
do estado nacional após a independência política de Portugal, ocorrida em 1822.
Antes disso, não existia propriamente o Brasil como tal, e os escritos de cronistas dos tempos coloniais
expressam observações sobre um país ainda em formação, em terras sob domínio do colonizador europeu.
Desde muito cedo, ainda nos primeiros tempos da ocupação europeia, foram escritos relatos e
crônicas sobre a história da América Portuguesa. Pero de Magalhães Gândavo, oriundo de Braga, esteve
no Brasil no século XVI e publicou em Lisboa, em 1576, História da Província de Santa Cruz a que
Vulgarmente Chamamos Brasil.
Dali em diante, outros cronistas apresentaram suas versões sobre os primeiros tempos da nossa
história, como o jesuíta baiano José Vicente do Salvador, autor de História do Brasil de 1627, e o Frei
Gaspar da Madre de Deus, que publicou, em 1797, as Memórias da Capitania de São Vicente, hoje,
chamada São Paulo do Estado do Brasil.
Saiba mais
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Unidade I
As primeiras sínteses sobre a História do Brasil surgiram no início do século XIX, logo após a
separação de Portugal, o que nos havia alçado à condição de estado soberano em busca da afirmação
de sua condição de nação independente.
Alguns estrangeiros – destaque para Robert Southey e John Armitage – se dedicaram a reunir
informações sobre o passado desse novo país, não sem intenções utilitárias para os interesses econômicos
de suas terras de origem.
John Armitage (1807 – 1856) foi um comerciante inglês que morou no Rio de Janeiro nas primeiras
duas décadas do início do século XIX. Escrevendo a partir da concepção da missão civilizacional britânica,
defendia em seus escritos a extinção da escravidão, que significaria um entrave ao desenvolvimento do
comércio e também da própria sociedade, indo ao encontro dos valores liberais. Publicou, em 1936,
sua História do Brasil, na qual pretendia divulgar os negócios políticos e financeiros do Império do
Brasil que tinham grande interesse naquele momento para seu país. Projetando uma imagem positiva
da monarquia constitucional brasileira, destacou a singularidade do Brasil ante as nações americanas
e europeias. Lançou as bases para uma historiografia da nação brasileira, antes mesmo do esforço dos
institutos históricos que a isso se dedicaram.
O grande desafio colocado para os historiadores no século XIX era participar dos esforços de
transformar a ex-colônia portuguesa em uma nação. Antes de 1822, vivíamos em tempos de América
Portuguesa. Com a independência, a nação começava. Era preciso desfazer os laços com o antigo
colonizador, construir novos vínculos de pertencimento e cimentar as novas relações políticas e sociais.
A nação que surgia colocava como tarefa a ser empreendida a construção da nacionalidade brasileira.
Urgia criar uma identidade nacional e fazer emergir sentimentos nacionalistas. A História se anunciava
como um poderoso recurso a fim de contribuir com o esforço exigido para alcançar esses objetivos.
Após a independência e ao longo de todo o século XIX, a historiografia nascente no Brasil se construiu
como fundamento de sustentação ao estado monárquico que se constituía – não sem resistências – a
ele oferecendo um relato sobre o passado da nação e um conjunto de tradições.
Cumpre lembrar que nesse momento de uma história nacional nascente a própria História como
disciplina científica dava seus primeiros passos, fazendo dessa tarefa algo que passava por equacionar
questões epistemológicas e metodológicas que se apresentavam.
A necessidade de se construir uma identidade para a nova nação, colocada pela emancipação política,
se manifestava também na ficção romântica. Importava construir um passado, uma memória nacional
para forjar a identidade nacional pretendida. As crônicas históricas, a ficção romântica e as biografias da
nação, embora de natureza diversa, estavam sintonizadas no mesmo movimento.
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
A mais importante discussão no Brasil, ao longo do século XIX, foi a questão nacional. Construir a
nação e a nacionalidade foi preocupação sempre presente no plano da política e da cultura desde o
rompimento com Portugal e a promulgação de nossa independência em 1822.
A vinda da Missão Artística Francesa para o Rio de Janeiro, em 1816, havia colocado em voga a
fórmula do Romantismo daquele país, com ênfase na natureza indomada, nas tradições folclóricas e no
passado comum do povo. Essa “fórmula” se combinou com as intenções emergentes de se forjar uma
literatura própria em terras brasileiras na esteira da necessidade de afirmação nacional.
A decisão programática desse movimento literário de descrever a nossa realidade e escrever sobre
coisas locais, para esse autor, estaria de acordo com um verdadeiro projeto nacionalista. Nomes como
José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Bernardo Guimarães, Castro Alves ou Gonçalves Dias
fizeram do Brasil e dos brasileiros seu assunto principal.
Poemas épicos, grandiloquentes e patrióticos davam o tom retórico ao espírito romântico da época.
A retórica romântica ressaltava, sobretudo, a beleza e a magnitude do novo país que se constituía para o
qual se projetava um futuro brilhante. As representações que produziam deviam impregnar a consciência
popular de patriotismo, civismo e brasilidade comparecendo em obras de grande sonoridade, como
Independência do Brasil, de Teixeira e Souza, Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, ou
Os Timbiras, de Gonçalves Dias.
Para Antonio Candido, os escritores românticos se viam como portadores de uma missão:
estritamente espiritual e estética para alguns; social para outros. Comum a todos, o fato de exprimirem
a especificidade da realidade brasileira. De acordo com o autor, esses escritores empreenderam uma
interpretação social com rigor e eficácia equivalentes aos estudos históricos e sociais. O romance
romântico significou uma forma de pesquisa e descoberta do País com o inventário de costumes,
lugares e paisagens que conduziu. A observação realizada pelos ficcionistas e a sua imaginação
ampliaram a visão da terra e do homem brasileiro.
Com sua linguagem, prestou-se a efetivar a intenção do ideal romântico de criar uma expressão
nova para o novo país que surgia. Os escritores românticos esquadrinharam em suas obras a vida
urbana e também a rural. Realizaram um verdadeiro inventário de costumes, lugares, paisagens e
convenções eternizados em suas obras. O indianismo ocupou muitas páginas, e o romance histórico
foi uma das formas destacadas de expressão do romantismo. Em seu conjunto, a literatura romântica
ajudou a estabelecer um passado heroico e lendário para o País, contribuindo para a construção de
uma identidade nacional.
Importante destacar que a visão produzida sobre o Brasil e os brasileiros nos vinculava à civilização
europeia da qual seríamos uma extensão. O índio, na visão romântica, era uma tradução europeia, e
o negro, o grande ausente. A identidade nacional que se buscava construir deveria demonstrar nossa
filiação às nações europeias, que ofereciam o parâmetro do que se entendia por civilização àquela época.
A nacionalidade brasileira que se pretendia evidenciar era aquela que nos ligasse à tradição europeia.
Reforçava-se a predominância do branco europeu em nossos traços culturais, ofuscando a participação dos
negros e celebrando, por meio do romantismo, uma peculiar presença indígena. A literatura romântica e os
pintores acadêmicos tomaram o indígena como símbolo da nacionalidade. No entanto, conforme se vê nas
pinturas que o retrataram, aparece de pele clara e de feições europeias, guardando enorme distância com seus
modelos verdadeiros, sendo mais uma tradução do “bom selvagem” do que um retrato fiel.
Observação
O contato dos europeus com os índios americanos inspirou reflexões
divergentes. Para Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), restariam no mundo
civilizado pequenas ilhas de bons selvagens numa sociedade cujo egoísmo
e propriedade privada haviam exigido o estabelecimento de um contrato
social para sua existência. Essa visão idílica associada aos indígenas teve
longo alcance, chegando até nossos dias.
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Figura 2 – O imperador D. Pedro II em foto de Joaquim Insley Pacheco de 1883. O cenário escolhido
indicava a intenção de ressaltar a natureza verdejante do país
Figura 3 – Fala do Trono. Pintura de Pedro Américo com D. Pedro II, aos 46 anos de idade, vestindo
a Regalia Imperial do Brasil em 1972. Destaque para o manto com penas de tucano
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Unidade I
Ao se falar de nação, não se trata apenas de um conceito e de sua definição. Assim como qualquer
fenômeno social, a nação, tal como entendemos hoje, tem também sua história. Apenas a partir do
século XVIII a ideia da existência de um território e um conjunto de habitantes, unificado sob um estado
que os governa, começa a ser identificada. Mas é no século XIX que o conceito de nação se consolida sob
a égide do Estado. No entanto, não se observa nenhum tipo de consenso sobre o que de fato a define.
Para capturar a essência de seu significado, recorre-se a critérios diversificados que variam de
acordo com as condições encontradas nos estados aspirantes a serem identificados como nação.
Pode ser ressaltado o fato de se ter em comum a língua, o território, a etnia e a combinação desses
elementos. Recorre-se com frequência à existência de tradições e de um passado comum. Não se
deixa de lado a consciência ou o sentimento de “pertencimento” a um coletivo. Não raro, a nação se
define como um projeto.
Isso nos leva à polêmica questão de a ideia de nação estar presente antes, ou não, da constituição do
estado nacional. Será o Estado que constrói a nação? Afinal, o que forma uma nação? De acordo com
Maria Clementina Pereira Cunha:
No século XIX, assistimos aos esforços dos países europeus de consolidarem seus estados nacionais.
Cada qual recorrendo a características entendidas como capazes de criar o sentimento necessário de
pertencimento e de identidade. Se na Alemanha e na Itália o movimento nacionalista recorria à “língua
culta”, em face da profusão de dialetos regionais, para cimentar a identidade nacional pretendida, na
França o importante era a adoção da cidadania francesa apesar das diferenças de língua ou etnia.
Isso posto, é possível considerar que “não são as ‘nações’ que formam os Estados, mas, ao contrário,
são os Estados que engendram e desenham a ideia e o formato das nações” (CUNHA, 1992, p. 33).
Decorre disso o fato de que a nação, em muitos casos, é um “vir a ser”, e sua criação é produto de
um projeto nacional para efetivação no qual se engajam as forças políticas nele interessadas e que são
por ele favorecidas. Esse movimento visa cimentar a coesão social sob a égide da Nação, o que exige um
intenso investimento simbólico.
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Forjar a identidade nacional, ou seja, transformar o “povo” – uma categoria vaga e indistinta – em
“brasileiro”, “francês” ou “alemão” implica criar uma ideia de pertencimento a uma Nação para além das
diferenças e diversidades. O nacional é a dissolução do diferente em uma unidade comum. Procede-se,
no campo simbólico, à homogeneização do povo ignorando suas diferenças e as desigualdades sociais
existentes. Resulta, disso, a predominância dos interesses das forças políticas elitistas envolvidas nesse
projeto, colocado a serviço do controle e da dominação social.
Nesse sentido, o conceito de nação tem um caráter opressivo e dissolvente ao apresentar como iguais
as diferenças existentes. Esse conceito opera como recurso de legitimação de uma dada construção social
da realidade e, ao criar laços afetivos de pertencimento, solidifica a harmonia social sobrepondo-se às
diferenças e às contradições existentes. O conteúdo autoritário do conceito de Nação fica evidenciado
no trecho a seguir:
A nação e a nacionalidade significaram, pois, no século XIX, uma espécie de solução para inserção
dos indivíduos no meio social conferindo-lhes identidade própria. Atribuir-se à nação “uma identidade
original, um espírito próprio e irredutível ao das demais, serviria de fundamento para a historiografia
romântica e nacionalista dos oitocentos” (OLIVEIRA, 2011, p. 20).
Não por acaso, na esteira de constituição dos estados nacionais na Europa, a partir do final
do século XVIII prolongando-se pelo XIX, dá-se especial relevo à História e aos “lugares de
memória”, como os arquivos históricos nacionais e os museus nacionais. Urgia gerar sensação
de pertencimento às nações criadas a partir do reconhecimento de tradições e de um passado
comum. A História é colocada em primeiro plano como área de investimento intelectual nesse
sentido, e assistimos a intenso esforço de constituí-la como disciplina científica. A criação dos
institutos históricos deve ser entendida nesse contexto.
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Unidade I
No Brasil, dada a ausência de uma língua única, com a diversidade de línguas indígenas e
africanas concorrentes com o português, e de um passado que apontasse para uma homogeneidade
étnica ou linguística, a construção da identidade nacional dependeu de um esforço de imaginação
das elites (CUNHA, 1992, p. 33). Além disso, para transformar a ex-colônia portuguesa em nação
com identidade própria, os historiadores engajados nesse projeto, assim como políticos, literatos
e artistas na mesma situação, tinham de equacionar o que se pretendia e o que não se pretendia
que o Brasil fosse.
Apelou-se, de imediato, na visão romântica, para uma simbologia calcada na exuberância dos
trópicos, com suas florestas verdejantes e, no elemento indígena, exotismo a nos singularizar. Mas
a ligação com a civilização europeia deveria ser mantida, ainda que estivéssemos politicamente
separados de Portugal, ou seja, não se pretendia a ruptura com a tradição portuguesa, ainda que
desligados politicamente.
Na verdade, se a ideia mestra era apresentar a nova nação como continuidade da civilização nos
trópicos, essa seria garantida por meio do reforço da origem portuguesa, o liame a não nos distanciar
das luzes, do progresso e da razão que a definiam. Essa escolha nos afastou decisivamente do indígena,
do negro, da república, do estado laico e da América Latina, o que marcou por muito tempo as definições
de identidade nacional que assumimos, com reflexos até nossos dias.
A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro deve ser entendida nesse contexto de
afirmação da nacionalidade brasileira em momento crucial da consolidação do Estado Nacional, que
foi o período das regências. Para legitimar os contornos dessa nação pretendida, importava reunir
conhecimentos sobre a origem da sua gente e a terra que ocupava, daí a reunião da História e da
Geografia na mesma instituição.
A missão do Instituto seria forjar a História pátria como fundamento da existência do Estado
nacional, que almejava consolidar e reforçar a ideia da unidade política e territorial como um
valor a ser preservado. A justificativa para isso deveria ser buscada no passado, em nossas origens.
Urgia, a partir do reconhecimento dessas origens, proceder à definição dos limites territoriais,
da composição do povo e das tradições comuns, ou seja, dos componentes principais da nação.
Para isso, o conhecimento a ser produzido pelos membros do Instituto ou a seu encargo seria de
enorme importância.
Não é inédita a relação, muitas vezes, observada na História entre historiografia e poder. No
Brasil dos oitocentos não foi diferente. A aproximação entre o Estado e os historiadores foi intensa,
especialmente a partir de 1850, quando a estabilização política do regime monárquico reforçou
o projeto centralizador do Império. Ressalta-se, nesse sentido, o papel do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro.
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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi a instituição de maior importância para a
construção inicial de uma historiografia brasileira. Sua fundação ocorreu em 1838, na cidade do Rio de
Janeiro, já tornada capital cultural do Império, com apoio direto do Estado. A criação desse Instituto deve
ser entendida pela convergência entre influências europeias e necessidades do contexto histórico local.
O IHGB inspirou-se no Institut Historique de Paris, criado em 1834, um pouco antes de seu congênere
carioca. A ligação dos historiadores brasileiros com o instituto francês foi sempre muito intensa, e diversos
deles participaram dessa agremiação, assim como do seu correlato local. A influência cultural francesa já
era intensa, vinda desde antes da formação do estado nacional brasileiro, e se intensificou. Os modelos
europeus serviam de parâmetros para os nossos intelectuais, e a França assumia progressivamente papel
destacado como referência de civilização e padrão cultural europeu.
Assistia-se, naquele momento, a uma crença inabalável no progresso humano, partilhado pelos dois
institutos, nos quais a História assumia uma função importante para garantir essa continuidade com o
espírito ilustrado presente na civilização europeia, da qual a França era a maior representante. A ligação
com a cultura europeia seria o antídoto necessário para a barbárie que nos ameaçava nos trópicos.
D. Pedro II, patrono do Instituto desde os 12 anos, cedeu inicialmente salas do Palácio Imperial,
antes de o Instituto ter sede própria para a realização das reuniões às quais ele era assíduo e
muitas das quais presidiu. O patrocínio imperial, inclusive financeiro, vinculava o Instituto ao
Estado. O imperador teve participação ativa no IHGB propondo temas de pesquisa, dando apoio
financeiro a projetos e criando prêmios.
21
Unidade I
O imperador manifestava expectativas muito claras com relação ao IHGB no que se refere não apenas
a forjar uma história e um passado para o País, mas também a enaltecer o Império que governava. Em
1849, dirigindo-se aos integrantes do Instituto, cobrava deles uma atitude coerente com essa intenção:
No século XIX, o Brasil estava em sintonia com a Europa. Naquele continente, a História vinha se
constituindo como ciência procurando sublinhar suas diferenças em relação aos romances históricos
e às narrativas ficcionais, esforçando-se por construir metodologia e epistemologia próprias. Nesse
percurso, delineava os contornos de histórias nacionais, verdadeiras “biografias” das nações a serem
formadas, como a Itália e Alemanha, ou consolidadas, como a França. Observa-se um nexo fundamental
entre a constituição da História como disciplina científica e a questão nacional. A história científica do
século XIX esteve a serviço da Nação, contribuindo para cimentar laços de nacionalidades que buscavam
no passado as razões de sua presença em territórios com limites em busca de definição.
O IHGB forjou um modelo de escrita de história e contribuiu para delinear os contornos da nação
pretendida. Intentava fundar a historiografia nacional que servisse à pátria gloriosa em formação.
A convergência com ideais românticos era flagrante, e a exaltação nacional assumia um tom de
patriotismo. Escritores como Gonçalves Dias e Joaquim Manoel de Macedo eram participantes do
Instituto (SCHWARCZ, 1993).
22
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro se esforçou para compor uma imagem de D. Pedro II em
que se sobressaíssem suas maiores qualidades e seu reinado figurasse como uma época de apogeu do
País. Por sua origem, era apresentado como descendente das mais ilustres linhagens nobres europeias,
sem que se deixasse de valorizar que ele havia nascido no Brasil. Sua juventude, ao assumir a chefia do
governo, era comparada ao país, também jovem, com a antevisão de um futuro brilhante para ambos.
D. Pedro II era apresentado como homem culto, intelectual, afeito às artes e às ciências. Sua própria
ligação com o Instituto contribuía para reforçar essa visão. Seu conhecimento de várias línguas, seu
trabalho como tradutor, sua dedicação aos estudos combinavam com a visão de “rei filósofo” que se
queria passar.
Dentre as suas virtudes, a tolerância era destacada, e o fato de não ter precisado usar as armas
para consolidar seu poder era prova disso. Escamoteava-se, dessa forma, a instabilidade nas províncias
contida a duras penas no período regencial, e enaltecia-se a unidade do Império que se queria ressaltar.
Figura 5 – D. Pedro II
23
Unidade I
Lembrete
O IHGB pretendia ser a instância legítima para desempenhar a tarefa de escrever a História
do Brasil cuja importância e necessidade a independência havia levantado e o Segundo Reinado
colocava em destaque, originando expectativas nesse sentido, como se observa em manifestação de
uma revista da época:
Uma história geral e completa do Brasil resta a compor e, se até aqui nem nos
era permitido a esperança de que tão cedo fosse satisfeito esse desideratum,
hoje assim não acontece, depois da fundação do Instituto Histórico cujas
importantíssimas pesquisas no nosso passado deixam esperar que esta
ilustre corporação se dê à tarefa de escrever a história nacional, resultado
final para que devem convergir todos os seus trabalhos (apud GUIMARÃES,
2011, p. 121).
Os objetivos do IHGB estavam, pois, estreitamente relacionados à escrita de uma história vinculada
à construção da nação independente, e isso se reflete em sua produção historiográfica. A História,
conhecimento que acompanhava a humanidade há muito tempo com finalidades diversas, no século
XIX, em meio ao processo de consolidação ou mesmo de construção dos estados nacionais europeus,
vinha recebendo novos significados. Naquele momento, tornava-se poderoso recurso de legitimação
dos estados que se formavam, dotando territórios e populações de tradições comuns e um passado
único. Não se pode esquecer que o crescimento da imprensa e a ampliação do número de leitores
naquele momento potencializavam a disseminação das ideias e acentuavam o caráter político do
discurso histórico.
Nesse contexto, caberia aos historiadores do Instituto cumprir uma missão fundamental e que
poderia ser sintetizada como: “construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos
de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos”
(SCHWARCZ, 1993).
24
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
A intenção de construir um passado e uma história para a nação independente que se constituía
deixava marcas na visão histórica do período em que se sobressaía um discurso marcado pelo seu
conteúdo político. Nas palavras da historiadora Maria de Lourdes Janotti:
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro surgiu nesse contexto como um recurso valioso para fazer
avançar o projeto nacional que mobilizava amplamente os políticos e intelectuais brasileiros, inserindo
os seus historiadores nesse mesmo movimento. Com suas obras, eles colaboraram no esforço simbólico
de construir a nação produzindo um passado conveniente para esse propósito. Sobre a vinculação do
IHGB ao projeto nacional, pode-se considerar que:
Com relação à produção historiográfica propriamente dita, é forçoso reconhecer que os trabalhos
produzidos no contexto europeu inspiraram os emergentes historiadores brasileiros que ali tiveram uma
fonte de teorias e conceitos. Como explica a historiadora Maria da Glória de Oliveira, ao tratar da
importância das biografias no projeto do Instituto:
Ao longo do século XIX, em que avançaram os estudos históricos na Europa, buscou-se dar
credibilidade a essa área de conhecimento aproximando-a de parâmetros científicos, conforme a visão
da época. Para atingir patamares considerados próprios de uma ciência, o saber histórico precisou
passar por esforços de metodização. A operação historiográfica passava a exigir comprovações a partir
de documentos que funcionavam como fundamentos de um relato verdadeiro, linear, construído de
25
Unidade I
acordo com uma sequência cronológica. Daí a valorização intensa dos arquivos como repositórios dos
valiosos – quase sagrados – documentos históricos, considerados como os testemunhos fundamentais
da veracidade dos fatos.
O IHGB assumia essa visão historiográfica do período que valorizava a reunião compulsiva de
documentos para compor a reconstituição do passado pretendida. A principal preocupação do Instituto
em seu início era reunir grande quantidade de documentos e produzir as bases de uma história nacional.
Os historiadores que circulavam em sua órbita publicaram nas páginas da revista do Instituto, ou em
volumes avulsos, coletâneas de documentos encontrados em arquivos nacionais ou estrangeiros. Com
isso, fizeram um valioso trabalho de reunião de fontes históricas possibilitando seu uso por inúmeros
pesquisadores desde então. Em seu estatuto, publicado já no primeiro número da Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, o Instituto propunha-se a:
A visão de História do Instituto era a de que os ensinamentos do passado serviriam de guia para
o futuro, especialmente em se tratando de uma nação que se formava. Imperava a noção de História
magistra vitae pela qual a experiência das gerações passadas, trazidas à luz pelos historiadores, deveria
orientar a ação de todos no presente e a atuação política dos homens de estado. Com essa finalidade, o
historiador teria um papel destacado:
Não causa surpresa, nessa visão, a importância conferida pelo Instituto às biografias. As vidas de
pessoas ilustres do passado seriam modelos a serem seguidos. Dava-se curso, com a publicação de séries
de biografias na revista do Instituto, ao “projeto historiográfico que ambicionava salvar da voragem do
tempo não somente os fatos memoráveis como os nomes e feitos dos que serviram à nação” (OLIVEIRA,
2011, p. 27).
26
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Conhecer as nossas origens assumia destaque e relevância ímpar para atender aos objetivos
pretendidos. Fixar nossas origens no descobrimento nos ligava de forma decisiva com a tradição europeia
e deixava de lado a população indígena preexistente.
Saiba mais
Definir os parâmetros da história a ser escrita conduziu à criação de um concurso pelo IHGB
vencido pelo naturalista alemão Karl Friedrich Philipp von Martius com Como se Deve Escrever a
História do Brasil publicado na revista do Instituto em 1845. Nele, são lançadas as bases de um
programa pragmático de estudo pautado pela consideração da importância das três raças (brancos,
negros e indígenas) na formação brasileira. Ainda que a supremacia branca não fosse descartada, com
destaque dado à preponderância portuguesa nessa formação, von Martius lembrou a participação
dos outros grupos a ser analisada. Em suas palavras:
27
Unidade I
A maneira como o IHGB tratou a questão da participação das “três raças formadoras” foi de acordo
com os parâmetros de um país escravocrata, que buscava distanciar-se da presença negra e reafirmar
sua origem europeia. Nessa visão, o predomínio na composição do povo brasileiro, ainda que se parta
da consideração do amálgama racial, é conferido ao branco português, visto como fator de civilização.
Para esse instituto, o negro era concebido como inassimilável e incivilizável. Quanto aos indígenas, as
opiniões variavam. Sua eleição como símbolo da nacionalidade demonstra as voltas do pensamento da
elite brasileira na época comportando visões de valorização e desqualificação desse grupo. Vale destacar
que a temática indígena ocupou várias páginas da revista do Instituto.
Essa visão sincrética da composição da população teve longo alcance, tendo sido levada adiante
por nomes, como Francisco Adolpho de Varnhagen (História Geral do Brasil, 1855) ou Sílvio Romero
(História da Literatura Brasileira, 1888). Conheceu nova angulação com Gilberto Freyre, na década de
1930 (Casa-Grande & Senzala), e mantém forte presença ainda hoje no senso comum, muitas vezes,
sem a devida consideração das tensões e questões políticas envolvidas com a sujeição histórica a que
foram submetidas as populações negras e indígenas.
A ideia de nação anunciada ressaltava uma unidade racial e cultural resultante do cruzamento de
três raças. Com isso, estabeleciam-se os parâmetros da identidade brasileira definindo-se as alteridades
e as singularidades que a delimitavam.
No processo de construção da identidade brasileira declarava-se o que o País não queria ser,
transformando o negro considerado “incivilizável” no “outro” a se distanciar. Celebrando-se a supremacia
do branco europeu, inseria-se a nação brasileira na tradição e no progresso da civilização europeia.
Ao mesmo tempo, fincava-se nossa singularidade como povo na particular composição da população,
produto de um amálgama racial. À medida que o século avançava, assumia-se progressivamente um
projeto de depuração racial por meio do “branqueamento”, como será visto posteriormente.
O IHGB também tinha seus compromissos com a geografia, o que estava manifestado já na sua sigla.
Também no âmbito dessa outra área, compreendida pelo Instituto, a questão primordial a ser focalizada
era a construção da nação brasileira. Assegurar a definição dos limites do território por meio do seu
reconhecimento, situar cidades, vilas, rios e demais acidentes geográficos era necessário para garantir a
unidade e a identidade da nação.
A questão de definição dos limites do Império recebeu bastante investimento de D. Pedro II,
exigindo um grande esforço diplomático para isso. Importava, para fundamentar as tratativas, um bom
conhecimento das terras brasileiras, tarefa assumida também pelo Instituto. Muitos relatos de viagens,
descrições das áreas visitadas, comentários sobre as condições do transporte, dados demográficos,
entre outros assuntos que poderiam contribuir para a unidade territorial e a integração regional, foram
publicados nas páginas da revista do Instituto. Expedições foram realizadas por membros do Instituto
para conhecer áreas inexploradas com a finalidade de possibilitar a exploração econômica e a integração
política das regiões.
Além daquele inicial, vários outros concursos foram realizados pelo Instituto. Em 1848, por
exemplo, foram premiados trabalhos escritos sobre os seguintes temas propostos: “A história dos
Jesuítas no Brasil”, a “História da Cidade do Rio de Janeiro” e “Quais vestígios confirmam a tese
de que o Brasil já teria sido descoberto antes de 1500 por europeus?” O próprio imperador chegou
a propor temas, como o da elaboração de um dicionário de línguas indígenas e o estudo de sua
cultura (GUIMARÃES, 2011, p. 137).
O bandeirismo foi tema caro aos historiadores paulistas. O bandeirante, apresentado como desbravador
valente, logo se tornou o símbolo do perfil vitorioso do estado e da sua gente que interessava à elite
cafeicultora ressaltar. A questão racial também teve espaço na produção do instituto paulista logo
engajada na tese do branqueamento, tão cara ao projeto imigrantista de São Paulo.
Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) foi historiador ligado ao instituto paulista. Filho do
Visconde de Taunay, romancista e político, estudou engenharia antes de se notabilizar como historiador.
Autor das antológicas História Geral das Bandeiras Paulistas (1924-1950), em 11 volumes, e História
do Café no Brasil, em 15 volumes (1939-1943), é acusado de não demonstrar poder de síntese e de
colecionar fatos e documentos em profusão, sem seleção ou análise.
29
Unidade I
Saiba mais
A criação do IHGB levantou novas preocupações e abriu caminhos para colocar a produção historiográfica
brasileira em novas bases, para além das crônicas e dos relatos de base histórica. Preocupou-se em discutir
métodos e fontes, dando início à pesquisa sistemática sobre a História do Brasil. Inaugurou a institucionalização
dessa prática e lançou as bases para a profissionalização da História no País.
O historiador Manoel Luiz Salgado Magalhães considera que a historiografia iniciada sob os auspícios
do Instituto:
“[...] contribuiu, em primeiro lugar, para determinado modelo de escrita da história, ainda com
elementos de uma história iluminista, e, em segundo lugar, para afirmar um modelo indiscutível de nação”
(GUIMARÃES, 2011, p. 54).
Nesses primeiros tempos, forjaram-se os contornos da história oficial, tributária da vinculação dessa
disciplina com a construção nacional que adentrou o século XX. Foi marcante até a década de 1930,
perdurando na longa duração até nossos dias, ainda que em caráter residual. A produção historiográfica
característica desse período foi aquela em que imperavam a narrativa biográfica, com seus mártires e
heróis, e a história factual de marcado conteúdo político.
Ainda que a produção do Instituto tenha sido objeto de críticas e revisões historiográficas, não se
pode negar sua importância. As obras produzidas, além de fornecerem interpretações inaugurais sobre
a história brasileira, podem ser tomadas como fontes de pesquisa pela documentação volumosa que
reuniram e compilaram. Foram os primeiros autores em busca de documentos sobre a História do Brasil
30
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
a visitar arquivos que recém se organizavam, dado que arquivos nacionais públicos eram novidade
naqueles anos do século XIX. Seu esforço de reunir e organizar documentos, muitas vezes, copiados
de arquivos distantes, como o da Torre do Tombo, em Portugal, foi muito valioso para o trabalho dos
historiadores que lhes sucederam.
O IHGB forjou um modelo de escrita de história e contribuiu para delinear os contornos da nação
pretendida. Nas palavras de Lilia Schwarcz:
Cumpre ressaltar que a produção historiográfica dos institutos históricos foi marcada pela “voz
oficial”. Essas instituições acabaram marcadas como redutos de uma História oficial, elitista e patriótica
inaugurando no País uma historiografia empenhada na construção de valores nacionais. De qualquer
forma, foi no interior e na órbita desses institutos que houve a institucionalização da reflexão e da
pesquisa histórica no Brasil.
A definição de métodos e técnicas de investigação históricas no século XIX foi marcada naquele
período por referências europeias. Esse movimento teve continuidade ao longo do século XX, sendo
notável a influência da historiografia europeia, especialmente francesa, na produção brasileira.
31
Unidade I
Dentre os nomes relacionados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro teve grande destaque
Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro (1816-1878), autor de vasta obra e por muitos
considerado o primeiro historiador brasileiro. Influenciou em grande medida toda a historiografia
brasileira até a década de 1930. Politicamente conservador e monarquista, estudou engenharia em
Portugal, tendo sido, além de historiador, biógrafo, matemático e geógrafo. Filho de pai alemão e mãe
portuguesa, naturalizou-se brasileiro, tendo atuado no serviço diplomático por muitos anos e vivido
fora do Brasil por bastante tempo. Isso permitiu que conhecesse vários arquivos estrangeiros. Neles,
Varnhagen teve a oportunidade de compilar documentos em grande número, muitos deles reproduzidos
em sua obra, enriquecendo sua importância como fonte historiográfica.
Sua História Geral do Brasil (1854-1857) reuniu um extraordinário número de fatos, condensando uma
geração de pesquisas iniciadas com a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Capistrano
de Abreu ressaltou a importância dessa obra como a primeira verdadeiramente de historiografia nacional
comparando-a com outras anteriores realizadas sobre o mesmo tema consideradas por ele como
crônicas. Com esse trabalho contribuiu para o estabelecimento do cânon factual da história nacional,
bastante comprometida com os fatos memoráveis das elites, e valorização sobretudo da vida política
(NOVAIS, 2005, p. 313).
Já em 1840 estava filiado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Ao longo de sua trajetória,
teve uma situação de grande ligação com o estado, o que marcou suas obras. Chegou a ser subsidiado
diretamente pelo Império, tendo mantido relação de proximidade com D. Pedro II. O tema da identidade
nacional estava realçado no contexto da centralização monárquica do Segundo Reinado e permeou a
obra desse historiador. Para ele, o marco fundador da história nacional estava na vinda dos portugueses.
Varnhagen apregoava que a civilização só se estenderia no Brasil com a destruição dos índios,
considerados incivilizáveis. A colonização teria sido o primeiro passo rumo à civilização. Distanciando‑se
do indigenismo romântico, afirmava em periódico português de 1857:
[...] os índios não eram donos do Brasil, nem lhes é aplicável como selvagens
o nome de brasileiros: não podiam civilizar-se sem a presença da força, da
qual não se abusou tanto como se assoalha; e finalmente de modo algum
podem ser eles tomados para nossos guias no presente e no passado em
sentimentos de patriotismo ou em representação de nacionalidade (apud
GUIMARÃES, 2011, p. 206).
Ao optar, sem nuances, pela nação branca e europeia, relacionava-nos ao que entendia como
civilização superior. Quanto aos demais grupos étnicos, só lhes restariam uma participação passiva no
32
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
projeto de construção nacional e apenas na medida em que fossem integrados racial e culturalmente
pelo branco, “única fonte de legitimação, pois dele decorrem os valores básicos da nacionalidade”
(ODÁLIA, 1997, p. 47).
Na segunda metade do século XIX, ocorreram muitas transformações econômicas, políticas e sociais
no Brasil. Assistimos ao crescimento da economia cafeeira que deslocou o centro econômico exportador
para o Sudeste. Nessa região, construiu-se uma rede ferroviária a fim de atender às necessidades de
transporte do café para os portos. Resultou, de tudo isso, uma tendência ao crescimento das cidades e a
constituição de um modo de viver urbano. A velocidade de propagação das informações e das ideias se
intensificou com a circulação de jornais e revistas de todo tipo. A atmosfera de renovação se espalhava
por todo o País.
No campo, novas formas de utilização da mão de obra surgiram. Os fazendeiros de café paulistas
passaram a receber trabalhadores livres: imigrantes europeus em busca de oportunidades melhores
de trabalho do que aquelas que tinham em seus países de origem. Após as primeiras experiências
frustradas de criar “colônias de parceria”, optou-se pelo trabalho assalariado, dando início a um processo
de imigração em larga escala que durou até início do século XX. Italianos, especialmente, ao lado de
espanhóis e portugueses, vieram engrossar a mão de obra nacional. As repercussões desse movimento
foram muitas, no desenho da composição da população brasileira e em aspectos socioculturais.
O regime de escravidão, que já vinha sendo condenado em nível mundial e combatido intensamente
no País pelo movimento abolicionista, acabou por ruir no ritmo permitido pelos compromissos do
governo imperial com a elite agrária. A ocorrência da abolição em 1888 e o advento da República
no ano seguinte colocavam no centro das discussões novos elementos a serem equacionados. Os
conceitos de nação, raça, povo e cidadania foram redefinidos de acordo com aquele momento. Nesse
cenário, a construção da identidade nacional permanecia como uma questão de grande importância
política e intelectual.
33
Unidade I
A ideia de progresso teve origem antes disso, surgindo relacionada à aceleração do desenvolvimento
científico e tecnológico entre os séculos XVI e XVIII, firmando-se, inicialmente, no domínio científico. O
predomínio da razão como motor da vida foi estabelecido nesse momento de nascimento da ciência moderna,
cuja ideia de que o mundo é governado por leis abriu caminho para a formação de uma ideologia do progresso.
A humanidade, e suas realizações, estaria sujeita a um avanço contínuo, progressivo e linear.
A Revolução Francesa estende esse conceito às sociedades humanas, que estariam, também elas,
sujeitas a um avanço contínuo. No pós-Revolução Industrial, e ao longo do século XIX, os progressos
científicos e tecnológicos foram muitos. Inovações surgiam a todo o momento: locomotivas, máquinas
a vapor, eletricidade e telefone, entre outras. As elites conheciam melhorias no seu conforto e no
seu bem‑estar. Os progressos do liberalismo e a disseminação da instrução pública contribuíam para
consolidar a ideologia do progresso.
Essa ideologia permeou as principais teorias surgidas na época. O positivismo de Auguste Comte,
por exemplo, considerava que o progresso das sociedades humanas as levaria ao estágio Positivo. O
historicismo, por sua vez, encontrou leis de grande alcance com o intuito de explicar o desenvolvimento
histórico. O marxismo elegeu um sentido da progressão da história rumo à construção de uma sociedade
socialista. Também o evolucionismo de Charles Darwin, bem como sua transposição para o social por
Herbert Spencer, está imbuído da ideologia do progresso.
O evolucionismo, tal como foi entendido na época, pelo qual os diferentes seres vivos estariam
sujeitos a uma seleção natural a partir da luta pela vida, com sobrevivência do mais apto, foi estendido
aos estudos das sociedades. Herbert Spencer se dedicou à definição de um evolucionismo social com
o qual se justificava a supremacia de povos e nações sobre outros. Nações compostas por povos mais
fortes naturalmente sobrepujariam povos mais fracos, que tenderiam a desaparecer. As condições de
sucesso das nações estariam condicionadas ao tipo racial de seu povo, bem como às condições naturais
do ambiente onde viviam.
As raças humanas vinham sendo classificadas desde o século XVIII de acordo com a cor de sua pele.
Gradativamente, estabeleceu-se uma hierarquia racial na qual o branco europeu era considerado a raça
superior, e sua cultura, o estágio mais avançado da evolução da humanidade.
O determinismo racial, como uma lei do progresso das sociedades, servia para explicar o nível
de desenvolvimento dos países e o sucesso das civilizações. Abria-se caminho para naturalizar-se a
desigualdade entre os povos. O sucesso das sociedades e seu progresso econômico e social estariam
relacionados às características raciais da sua população. A civilização superior seria a do branco europeu.
34
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Países com grande número de negros e mestiços não alcançariam a civilização, estando fadados ao
fracasso como povos. Nessa visão, a presença europeia em países desse tipo era, mais que tudo, uma
missão civilizadora.
Durante o século XVIII, a ciência era assunto de homens educados em salões e encontros sociais.
No seguinte, torna-se o referencial cultural mais importante em nível mundial, posição que não perdeu
até o momento. No final daquele século, a ciência parecia conferir substância às ideias de progresso da
humanidade, evidenciado no estágio civilizatório a que se chegara nos países europeus.
As Ciências Biológicas, entre todas, firmavam-se como o parâmetro fundamental para a definição de
ciência e a construção de metodologia científica. Sob os ensinamentos do positivismo e de acordo com
o espírito cientificista em curso, a História também buscava seu respaldo na ciência.
No último quartel do século XIX, a situação no Brasil era complexa. A Guerra do Paraguai e a
campanha abolicionista abalavam o regime monárquico e colocavam questões a serem equacionadas
pelas elites dirigentes e pelos intelectuais. Começava a ficar evidente a distância que havia entre o
pensamento social brasileiro e a realidade em que se vivia.
No início do período republicano, o Rio de Janeiro, centro político, comercial e financeiro desde o
Império, dava continuidade à sua centralidade no cenário cultural do País assumindo ares cosmopolitas.
Com sua população aumentada devido à afluência de antigos escravos, imigrantes e contingentes
derrotados do Paraguai, os cortiços proliferavam, e os morros começavam a ser ocupados. A influência
europeia fez que houvesse um grande investimento na remodelação das regiões centrais.
35
Unidade I
Saiba mais
A elite brasileira se encantava com a civilização europeia, da qual Paris era o símbolo maior. A
moda e os costumes que vinham de lá eram sinônimo de refinamento e índice de modernidade. Na
rua do Ouvidor eram encontradas as novidades, inclusive as literárias. Hábitos e expressões culturais
brasileiros, especialmente de origem africana, eram condenados por nos ligarem ao passado colonial e
nos afastarem da modernidade pretendida.
A cidade do Rio de Janeiro exercia uma força de atração considerável para os jovens literatos de
outras províncias – ou estados, depois da promulgação da República –, oferecendo as principais opções
de trabalho intelectual no Brasil. Houve, naquele momento, uma expressiva convergência de escritores,
jornalistas e intelectuais em geral que, muitas vezes, vinham ocupar a função de professores ou
burocratas da administração pública. Ocupar uma cátedra no prestigioso Colégio D. Pedro II era função
conquistada em disputadíssimos concursos. Do Recife veio Sílvio Romero, do Pará, José Veríssimo, e do
Ceará vieram Araripe Jr. e Capistrano de Abreu, só para citar alguns nomes. A vida política era intensa. A
circulação de ideias era frequente e de lá se propagavam as novidades de todo o tipo.
Toda uma geração de intelectuais foi influenciada por essas ideias, em diferentes formas de expressão.
Literatos como Euclides da Cunha, críticos como Sílvio Romero, pensadores como Tobias Barreto ou
historiadores como Capistrano de Abreu e Oliveira Vianna.
Observação
No Rio de Janeiro, assim como em outros centros urbanos, foram criadas instituições de caráter
científico: museus etnográficos e serviços de higiene. Os “homens de ciência” começam a disputar espaço
e notoriedade com os intelectuais de formação beletrista oriundos das faculdades de direito. Nomes
como Nina Rodrigues, Osvaldo Cruz, Paula Souza, só para citar alguns, passaram a ser reconhecidos a
partir de sua atividade embasada na ciência.
A partir de 1870, nas palavras de Sílvio Romero, o País fora invadido por “um bando de ideias
novas”. A hegemonia intelectual da França, que vivia dificuldades com seu insucesso na Guerra
Franco‑Prussiana, abria espaço para a influência de autores ingleses e alemães que chegaram
ao Brasil, como Spencer, Darwin, Buckle, Ratzel e Ranke, que se somaram aos franceses Auguste
Comte, Gustave Le Bon e Taine.
Assistia-se a uma sobreposição de critérios positivistas a uma herança romântica. Após os primeiros
anos da república, que causaram alguma decepção em setores intelectuais, o crítico José Veríssimo conferia
37
Unidade I
à literatura a missão de levantar o espírito nacional e regenerar a nação. Para isso, no seu entendimento,
seria necessário o rompimento com a tradição europeia e a valorização dos elementos étnicos formadores
da nossa nacionalidade. Isso se daria pelo “caldeamento” étnico das três raças formadoras.
Ainda que com matizes diversos, as palavras-chave no final do século XIX e início do XX que
percorriam todo o pensamento social da época de forma interligada passavam a ser: nação, povo e raça.
Do ponto de vista do fazer histórico, as sociedades e seu passado são reconhecidos amplamente
como passíveis de conhecimento objetivo. A ideia de que haveria uma lógica científica em todos os
fenômenos, inclusive humanos, impregnou o ambiente historiográfico da concepção de que existiria
uma certa determinação na história. Isso deu origem a dois modelos de explicação sobre o Brasil. Os
dois extremamente pessimistas em sua análise. Nos dois tipos, estaríamos fadados ao fracasso como
povo e nação.
Quanto ao determinismo racial, as teorias que circulavam na época confirmavam a pouca possibilidade
de sucesso para um país comprometido em sua composição racial. A forte presença no Brasil de negros,
indígenas e mestiços apontava inequivocamente para o seu fracasso como nação.
38
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
João Capistrano Honório de Abreu (1853-1927), nascido no Ceará, é considerado um dos maiores
historiadores de sua época. Autodidata, leu obras de Geografia, História, Psicologia e Antropologia.
Deslocou-se em 1876 para o Rio de Janeiro onde foi concursado para a Biblioteca Nacional, local em
que pôde estabelecer contato direto com muitos livros e documentos, bem como para a cadeira de
História do Brasil no Colégio Pedro II.
Foi autor de obras seminais da historiografia brasileira e, até a década de 1920, quando preponderavam
os estudos históricos com visão factual interpretativa, detinha o posto de responsável pelas principais
obras de renovação historiográfica. Escreveu, entre outros livros e artigos em periódicos, Caminhos
Antigos e Povoamento do Brasil (1899) e Capítulos de História Colonial (1907), clássico da historiografia
nacional. Em seus escritos, renovou os estudos históricos introduzindo novos sujeitos e interpretações.
Saiba mais
As condições em que esses dois autores escreveram foi diversa, assim como sua origem social.
Varnhagen havia nascido em berço da elite; Capistrano, com origem mais modesta, reconhecia-se,
sobretudo, como homem do sertão. Quando o primeiro escrevia sua obra sobre a história do Brasil,
vivíamos a fase de consolidação da monarquia. Já o segundo o fez após os abalos da Guerra do Paraguai
e sob a influência das novas ideias aportadas no País a partir de 1870. A formação de Capistrano de
Abreu se deu em ambiente intelectual, marcadamente cientificista, com ênfase nas teorias raciológicas
e deterministas.
Em âmbito historiográfico, sob as influências teóricas recebidas por Capistrano, José Carlos
Reis acompanhou as visões, nem sempre concordantes, de estudiosos que se dedicaram a esse
40
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
assunto (REIS, 1999). Como síntese das variações encontradas, resulta a concepção de que no
pensamento daquele historiador formado nos finais do século XIX estaria presente a confusão
intelectual existente no Brasil daquela época, cujos historicismo e positivismo compareciam sem
que houvesse nitidez para sua identificação.
Teria sido Capistrano mais positivista ou mais historicista? Há traços tanto de uma corrente quanto
de outra. Foi leitor de Taine, Spencer, Comte e Buckle, mas se valeu também de autores alemães como
Ranke e Ratzel. No célebre necrológio que fez para Varnhagen, Capistrano evidencia sua crença na
possibilidade de estabelecer leis para a história. Mas em seus trabalhos posteriores, fica evidenciada
a influência alemã que o conduz ao estudo rigoroso dos documentos, à busca da sua autenticidade
e ao esforço da análise objetiva, com método crítico. Em tempos de cientificismo e determinismo,
sua preocupação com as relações entre o homem e o meio geográfico o encaminhou para os estudos
sobre o povo brasileiro.
Os caminhos novos apontados por Capistrano estão presentes, sobretudo, em Capítulos de História
Colonial. Nessa obra, afasta-se do formato preponderante encontrado no modelo forjado pelo IHGB. Não
se trata mais de uma história político-administrativa, laudatória das elites e com ênfase nas biografias
de homens ilustres. Produz uma história mais econômica e social cujo personagem principal é o povo
brasileiro. Pouco preocupado com fatos e datas, percorre temas ainda inexplorados, como “sua vida,
alimentação, tipos étnicos, condições geográficas, os caminhos, economias, povoamentos, modos de
viver, as formas psicológicas, profissões, divertimentos, costumes, crenças, diferenças sociais, o comércio,
a vida urbana e rural [...]” (REIS, 1999, p. 6).
Capistrano valoriza o povo brasileiro como sujeito da história e sua composição étnica como aspecto
fundamental da identidade brasileira. Destaca com insistência a presença indígena nessa formação,
mas dedica pouco espaço aos afrodescendentes. Divergia de seus colegas da época com relação aos
indígenas, considerados por ele como preponderantes na formação da nacionalidade brasileira. Silvio
Romero, por exemplo, de forma oposta, valorizava o negro em vez do indígena. Em resposta a essa visão,
as palavras de Capistrano em artigo na Gazeta de Notícias, de março de 1880, são contundentes:
41
Unidade I
Por muitos anos, Capistrano estudou com afinco as línguas dos povos indígenas e seus
costumes. Importante destacar que o avanço da fronteira econômica, na época em que esse
historiador escrevia, colocava em primeiro plano a preocupação com a própria sobrevivência
desses povos. Interessava-se intensamente nesse componente do povo brasileiro que privilegiava,
ao lado do branco e do mameluco, o quadro de influências para a composição do brasileiro em que
a presença negra é apontada, mas pouco valorizada. De forma inversa à visão corrente na época,
traz um ponto de vista original:
O brasileiro concebido por Capistrano é aquele forjado no interior do País, no sertão, cuja
importância enfatiza, e não no litoral. Apesar da forte presença das teorias raciológicas no
ambiente intelectual da época, sua perspectiva é menos racial do que cultural, antecipando uma
visão que se tornará presente mais adiante com Gilberto Freyre ou Sérgio Buarque de Holanda.
Como explica João José Reis (1999):
42
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
• Antecedentes indígenas.
• Fatores exóticos.
• Primeiros descobridores.
• Primeiros conflitos.
• Capitanias hereditárias.
• Capitanias da coroa.
• Franceses e ingleses.
• Guerra flamenga.
• Sertão.
• Formação de limites.
A ênfase dada ao povo brasileiro nesse trabalho abriu espaço para uma história menos harmônica
na qual são consideradas expressões de rebeldia contra os lusitanos, de forma muito diferente da que
vimos ao tratarmos da produção dos historiadores mais tradicionais do IHGB, comprometidos com os
interesses monárquicos e com uma concepção de agentes históricos restritos à elite. Temas como o
conflito dos Emboabas, a Guerra dos Mascates ou as agitações em Minas Gerais e a sedição do século
XVIII são abordados como expressões de uma luta independentista dos brasileiros.
Ao tratar da luta por independência do novo povo que surgia, o trabalho de Capistrano estaria
revelando “o processo de constituição da diferença entre o projeto colonizador e o novo interesse e
sentimento que se formara gradualmente, o interesse e sentimento brasileiros” (REIS, 1999, p. 6).
A independência, entretanto, não teria sido sinônimo de uma consciência nacional acabada, que
ainda estaria por acontecer, deixando Capistrano na expectativa pouco esperançosa de um protagonismo
mais eficiente do povo brasileiro em prol de uma verdadeira independência. Como observa José Carlos
Reis sobre o desfecho de Capítulos de História Colonial:
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Unidade I
Com Capistrano de Abreu, percebe-se um movimento que tende a afastar a historiografia do modelo
tradicional do IHGB encaminhando-a para novas direções. A história oficial, política e factual ligada
intrinsecamente ao Estado e que ressaltava a obra lusitana contrasta com um viés renovador trazido
por Capistrano, ao anunciar novas possibilidades historiográficas que se consolidavam posteriormente.
Em obra menos prolixa que a de Varnhagen – que acumula fatos e documentos – faz uma obra mais
enxuta em que inverte os atores principais e os coadjuvantes. José Carlos Reis (1999) ainda nos ajuda a
entender a operação historiográfica efetuada por Capistrano:
Para o historiador Fernando Novais, com Capistrano de Abreu se encerra a primeira fase da
historiografia brasileira, a proveniente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro cuja produção esse
cearense criticou e superou. A partir daí se daria a passagem para a produção historiográfica moderna
da década de 1930, com Gilberto Freyre, Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda.
44
HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Já vimos que a definição de nação é questão complexa. Pode-se buscar delimitá-la a partir da
existência de uma unidade linguística, religiosa, cultural, de costumes, bem como pela ocupação de
um determinado território. Seja qual for o critério que se vá sublinhar, é sempre uma construção que
se dá em contextos históricos específicos e singulares, com uma determinada correlação de forças a
determinar a ação dos agentes políticos envolvidos em sua construção. A construção da nação se dá
fortemente em uma dimensão ideológica e é revestida de representações simbólicas marcantes. Da
mesma forma, os nacionalismos configuram-se como movimentos políticos que objetivam a realização
de um destino comum.
Sobre a construção da identidade nacional brasileira no período imperial já nos ocupamos aqui em
páginas anteriores. Da mesma forma, acompanhamos as repercussões havidas nas expectativas quanto
à construção da memória histórica e a produção historiográfica nesse período.
Na passagem do regime imperial para o republicano, essa questão assumiu novos contornos. A
República trouxe muitas mudanças, e não apenas no plano político-administrativo. Do ponto de vista
da relação entre sociedade e estado, transformara súditos em cidadãos republicanos, trazendo novas
angulações quanto à construção da identidade nacional brasileira. Essa nova condição repercutiu no
pensamento social brasileiro, ocupando políticos e intelectuais de todo tipo.
No Brasil, o esforço para construir a identidade nacional na virada do século XIX para o XX se deu
com a consideração das “raças formadoras” do povo brasileiro. As teorias raciológicas surgidas na esteira
do cientificismo e do evolucionismo ofereceram o quadro teórico para o entendimento da dinâmica
das raças na composição de um povo. Na verdade, construíram-se argumentos no âmbito do “racismo
científico” para explicar as razões do nosso atraso a partir da composição racial do povo brasileiro. O fato
de resultarmos de uma composição racial deficiente, de acordo com essa visão, era apontado, muitas
vezes, como um entrave ao nosso desenvolvimento social, como um obstáculo ao progresso da nação
brasileira. Em contrapartida, a mesma composição racial é também usada como recurso na construção
da identidade nacional.
Cumpre destacar que houve uma leitura seletiva das teorias do racismo científico. Dentre as diferentes
visões concorrentes sobre o papel destinado às raças na determinação do sucesso ou do fracasso dos
povos e das nações, os políticos e intelectuais brasileiros buscaram aquelas que mais se ajustavam ao
projeto de construção nacional em curso. Nas palavras de Lilia Schwarcz:
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Unidade I
Numa vertente das teorias raciológicas, considerava-se que, embora existisse uma hierarquia
entre as raças humanas, haveria qualidades em cada uma delas. Assim, também os negros poderiam
apresentar qualidades como raça. Mas a miscigenação, a mistura racial, era absolutamente condenada.
Isso porque, acreditava-se, o fruto do cruzamento das raças herdaria as más qualidades dos pais.
Países com alto grau de miscigenação sofreriam um processo de degeneração de seu povo e estariam
condenados ao declínio.
Entretanto, abandonou-se aqui essa visão em prol de outra mais adequada aos propósitos
de construção de uma identidade nacional positiva e de um projeto de nação viável. Apostou-se
amplamente na singularidade de nossa condição mestiça, mas projetou-se para o futuro a definição
de nossa identidade, pois seríamos ainda um povo em formação. Selecionou-se a visão positiva da
mestiçagem deixando de lado seu entendimento como fator de degeneração. Por meio do cruzamento
com os brancos, reforçados em seu número pela afluência de imigrantes europeus para a economia
cafeeira, as más características de negros e indígenas seriam gradativamente reduzidas com o gradativo
“branqueamento” da raça.
De toda forma, a construção da identidade nacional, questão crucial para os intelectuais e políticos
brasileiros no final do século XIX, como você já teve condição de notar, passava necessariamente pela
ideia da mestiçagem. Como nos explica Renato Ortiz (1985):
Em resumo, tendo como paradigma teórico o evolucionismo, os conceitos de meio e raça são
escolhidos como as duas categorias fundamentais para se discutir as razões do atraso brasileiro. Dentre
os dois, foi sublinhado o de raça, por meio do qual se podem apontar os motivos do atraso, assim como
sua superação. O diagnóstico sombrio da nossa condição aos olhos do racismo científico fez que fosse
projetada para o futuro a solução dos problemas dela decorrentes.
A ideologia racial vai trabalhar para reproduzir as diferenças sociais embaralhadas com a
instauração da igualdade jurídica de brancos e negros produzida pela abolição e pela república. Por
meio dessa ideologia, mantinha-se inferiorizada essa população que, não sendo mais escravizada,
estaria sujeita às mesmas regras de cidadania republicana. Os indígenas ainda tiveram de aguardar
mais tempo ainda para começarem a ser considerados partícipes da cidadania brasileira.
A nação era concebida como um “vir a ser”, projetando-se para o futuro sua concretização. A
identidade brasileira, a ser ainda fixada, estaria na mestiçagem, resultado do amálgama produzido a
partir das três raças formadoras. Como questão em aberto, o equacionamento do fator racial ainda
vai perdurar por várias décadas como elemento destacado na definição da identidade nacional. As
ideias relacionadas à composição racial do povo brasileiro como fator de construção de identidade
nacional serão sucessivamente reelaboradas, reinterpretadas, atualizadas e abandonadas na dinâmica
do pensamento social brasileiro ao longo do século XX.
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Unidade I
Lembrete
É preciso destacar que, do ponto de vista biológico, raças humanas não
existem. Sua presença decorre de construções sociais, havendo de fato
apenas uma raça: a humana.
Resumo
Exercícios
Questão 1. (Enade, 2011) No bojo da constituição do Estado Nacional brasileiro, é criado, em 1838, o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), com a função de pensar a gênese da sociedade nacional.
Temas como civilização e nacionalidade estiveram nas pautas do Instituto desde seus primórdios. Nesse
contexto, assinale a opção que corresponde ao encadeamento correto entre nacionalidade e civilização
no âmbito da História da Nação escrita no século XIX:
A) A nova Nação brasileira se reconhece enquanto continuadora da tarefa civilizadora iniciada pela
colonização portuguesa. Embora parta da composição da sociedade brasileira a partir das três
raças, há destaque para a presença branca europeia.
C) A historiografia brasileira nascente qualifica os grupos indígenas brasileiros como civilizações por
possuírem o patamar de desenvolvimento das civilizações pré-colombianas: Inca, Asteca e Maia.
D) Ao se propor dar conta da gênese da Nação brasileira, a escrita histórica incentivada pelo IHGB
negava as ideias de civilização e progresso como forma de priorizar o sincretismo brasileiro.
A) Alternativa correta.
B) Alternativa incorreta.
De maneira nenhuma, já que o branco assume a primazia nessa suposta tarefa civilizadora. Houve
tentativas de criação da figura de um indígena como o brasileiro original, aproximando-o dos valores
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Unidade I
cavalheirescos medievais, mas esse projeto não vingou. Os negros, por sua vez, estiveram completamente
à margem de tais considerações.
C) Alternativa incorreta.
Não. Os historiadores do IHGB sempre se ressentiram do fato de os indígenas brasileiros não terem
alcançado o mesmo “nível” civilizatório de tais sociedades.
D) Alternativa incorreta.
Pelo contrário. Concebida no seio de uma tradição positivista de matriz francesa, a nação brasileira
nascia do melhoramento das raças, entendido por muitos como resultante do “branqueamento” da
população.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. (Enade, 2008) Na primeira metade do século XX, Jonathas Serrano, professor de História
do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, já percebia a importância do uso das imagens no ensino de
História, afirmando que elas ajudariam os alunos a aprender “pelos olhos”. Atualmente, em tempos
de grande valorização da imagem e de maiores facilidades para a sua difusão, discute-se a sua
utilização no ensino de História, em suas mais diversas modalidades. Como orientação metodológica,
para que o professor use a imagem em sala de aula, o que se deve recomendar que ele considere?
A) O seu papel como ilustração dos conteúdos, independentemente do tipo de imagem escolhida,
tornando o aprendizado mais fácil.
B) O seu caráter de representação fiel da realidade, capaz de levar o aluno a “viver” o passado, tal
como ele aconteceu.
D) A sua condição mais satisfatória que os documentos escritos, como instrumentos de reconstituição
do passado histórico.
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