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Direitos Humanos

Autora: Profa. Angélica Carlini


Colaboradora: Profa. Tânia Sandroni
Professora conteudista: Angélica Carlini

Angélica Carlini é natural de Araraquara, estado de São Paulo, graduada em Direito na Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo e advogada atuante nas áreas de Direito do Seguro, Responsabilidade Civil e Relações de Consumo.

É doutora em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2012); doutora em Educação
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006); mestre em Direito Civil pela Universidade Paulista – UNIP
(2002); e tambem é mestre em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1995).

É pós-doutora em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2015), sob
orientação do Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet.

Professora do curso de Direito da UNIP desde 1998 e membro da Comissão de Qualificação e Avaliação – CQA,
desde 2009. Ministra as disciplinas de Direito Empresarial, Direito do Consumidor, Filosofia do Direito, História do
Direito, Direitos Humanos e Ciência Política.

Escreve material didático para os cursos de Educação a Distância da UNIP e ministra aulas no curso de Gestão de
Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C282d Carlini, Angélica.

Direitos Humanos / Angélica Carlini. – São Paulo: Editora Sol, 2019.

164 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-086/19, ISSN 1517-9230.

1. Direitos humanos. 2. Constituição brasileira. 3. Direitos sociais.


I. Título.

CDU 341.27

U501.60 – 19

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

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Vice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo Okida


Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez


Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD


Profa. Elisabete Brihy
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Sheila Folgueral
Vitor Andrade
Sumário
Direitos Humanos

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS, TEORIAS SOBRE A CRIAÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS, DEFINIÇÃO DE DIREITOS HUMANOS E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............9
2 CARACTERÍSTICAS E GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS HUMANOS...............................9
2.1 Teorias sobre criação de direitos humanos....................................................................................9
2.2 Definição de direitos humanos e dignidade da pessoa humana....................................... 11
2.3 Características dos direitos humanos........................................................................................... 15
2.4 Gerações ou dimensões de direitos humanos........................................................................... 17
2.5 Dimensões ou gerações de direitos humanos?......................................................................... 20
2.6 A primeira geração ou dimensão de direitos humanos ....................................................... 20
2.7 A segunda geração ou dimensão de direitos humanos......................................................... 26
2.8 A terceira geração ou dimensão de direitos humanos.......................................................... 27
2.9 A quarta geração ou dimensão de direitos humanos............................................................ 29
2.10 A quinta geração ou dimensão de direitos humanos.......................................................... 33
2.10.1 Trajetória histórica da construção dos direitos humanos.................................................... 36
2.10.2 A Liga das Nações – precursora da ONU..................................................................................... 36
2.10.3 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a internacionalização dos
direitos humanos................................................................................................................................................ 37
2.10.4 O Tribunal de Nuremberg e a aplicação de punição contra crimes contra
a humanidade, crimes de guerra e crimes contra a paz..................................................................... 38
2.10.5 A criação da ONU.................................................................................................................................. 40
2.10.6 Estrutura da ONU.................................................................................................................................. 42
2.10.7 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948....................................................... 58
2.10.8 O texto integral da Declaração Universal dos Direitos Humanos ou dos
Direitos do Homem da ONU .......................................................................................................................... 61
3 TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.................................................................... 71
3.1 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.................................................................................... 71
3.2 Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados.................................................................... 74
3.3 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial................................................................................................................................... 75
3.4 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher............................................................................................................................................. 76
3.5 Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanas ou Degradantes..................................................................................................................... 77
3.6 Convenção sobre os Direitos da Criança .................................................................................... 78
4 SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS...................................................................... 80

Unidade II
5 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E A PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS................. 86
5.1 Introdução histórica............................................................................................................................. 86
6 DIREITOS FUNDAMENTAIS............................................................................................................................ 89
6.1 Conceito e classificação de direitos fundamentais................................................................. 89
6.2 Direitos individuais e coletivos........................................................................................................ 91
6.3 Direitos dos acusados e condenados..........................................................................................100
7 A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº45 E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL .........................106
7.1 Planos Nacionais de Direitos Humanos.....................................................................................109
8 DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL...................................................................................................................113
8.1 Direito à saúde.....................................................................................................................................114
8.2 Direito à educação..............................................................................................................................120
8.3 Direito à moradia.................................................................................................................................126
8.4 Proteção às mulheres........................................................................................................................130
8.5 Proteção à criança e ao adolescente...........................................................................................133
8.6 Proteção às pessoas com deficiência..........................................................................................134
8.7 Proteção ao idoso ..............................................................................................................................142
8.8 Proteção aos LGBTIs...........................................................................................................................148
APRESENTAÇÃO

Esta disciplina tem um duplo objetivo: contribuir para a formação profissional e cidadã dos nossos
alunos e alunas. É ousado, mas muito necessário. A sociedade contemporânea, brasileira e mundial,
sofre um impacto bastante forte das mudanças ocorridas nos últimos cinquenta anos, em especial com
o avanço da tecnologia e dos recursos digitais disponibilizados para parte expressiva da humanidade.
Temos maior facilidade para nos comunicar do que tinham nossos antepassados, logramos enorme
facilidade para acessar dados e informações, porém tudo isso tem criado uma situação paradoxal: ao
mesmo tempo que simplifica nosso modo de viver, também cria novos conflitos e tensões sociais.

Estudar direitos humanos é uma forma eficiente de conseguirmos ter conhecimento para analisar
o percurso histórico da humanidade no campo das relações sociais; assim percebermos que nossas
diferenças devem nos aproximar e não nos afastar. Diferenças de nacionalidade, raciais, culturais, de
gênero, sexo e religiosas devem ser respeitadas por todos e devem servir para tornar nossa convivência
mais rica, dinâmica e feliz.

Direitos humanos são direitos de todos os seres humanos existentes na Terra, independentemente de
qualquer contrapartida que esse ser humano possa oferecer. Por isso, é importante conhecê-los, refletir
sobre eles, pensar calmamente em todas as situações de aplicabilidade e construirmos nossa identidade
profissional e cidadã com parâmetros claramente guiados pelos direitos humanos, direitos de todos e
para todos, para não cometermos erros.

Na atualidade, tanto no Brasil como em outros países do mundo, há grande preocupação com práticas
éticas e transparentes, seja nas atividades profissionais, seja nas atividades da vida de relações sociais. Isso
decorre dos muitos problemas que vivenciamos no passado recente, em especial com a corrupção nas
relações público-privadas, não apenas no Brasil como também em outros países do mundo.

Os prejuízos resultantes de práticas antiéticas e corruptas é tão extenso que é até difícil descrever,
mas é possível afirmar que a corrupção gera a degradação moral e ética de uma sociedade, tanto quanto
gera miséria e insegurança para todos. Em razão disso, deve ser combatida e substituída por práticas
transparentes, confiáveis, que possam ser checadas pelos cidadãos e aprimoradas sempre que necessário.

Quando tratamos de transparência e ética nas relações humanas, estamos tratando de direitos
humanos, porque é no respeito aos direitos das pessoas, independentemente de sua nacionalidade, origem,
raça, sexo ou qualquer outra referência que se materializam os princípios de moral. Em decorrência disso,
na atualidade, a sociedade questiona e crítica as práticas de assédio moral, assédio sexual, desrespeito aos
trabalhadores, agressões ao meio ambiente, violência contra os animais e tantos outros aspectos cuja raiz,
ou seja, os fundamentos, estão no direito que todo homem e toda mulher possuem de viver em ambiente
saudável, equilibrado, no qual possam exercer amplamente todos os seus direitos, cumprir seus deveres,
viver a vida com dignidade, segurança e com tudo o que for necessário para garantir bem-estar.

Assim, tanto nas atividades da vida profissional quanto na vida social, de relacionamento
familiar, com amigos e a comunidade, a UNIP Interativa espera que o aluno (a) esteja preparado
para respeitar e fazer respeitar os direitos humanos, com a consciência de que todo o direito
7
corretamente exercido no plano individual contribui para melhorar a sociedade e propicia a
concretização do bem comum.

Aproveite ao máximo e bom trabalho!

INTRODUÇÃO

Os direitos humanos se constituem em estudo muito relevante para a formação cidadã de todos
os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Independentemente da profissão escolhida, todos nós
temos que estar atentos para a defesa dos direitos do cidadão e para o cumprimento dos deveres
inerentes a essa mesma condição de cidadania.

Neste livro-texto vamos compreender a trajetória histórica internacional e nacional dos direitos
humanos e de que forma eles se materializam na legislação brasileira, muito em especial na
Constituição Federal, que é a lei mais importante do país.

Os direitos humanos são adotados em muitos países do mundo, em especial entre aqueles que
são membros da Organização das Nações Unidas (ONU), maior organismo internacional de atuação
conjunta de governos de diferentes países. A ONU foi criada após a Segunda Grande Guerra Mundial,
em 1948, e representa o esforço de muitas nações em todo o mundo para construir uma cultura de paz
e colaboração entre diferentes povos, evitando conflitos para evitar também mortes e destruição.

A experiência da Segunda Guerra Mundial foi muito traumática para a humanidade. Milhões de civis
foram mortos em bombardeios, ataques aéreos e, infelizmente, também em campos de concentração,
que ofendeu todos os princípios de proteção das pessoas e desrespeitou de todas as formas possíveis a
dignidade dos seres humanos que foram submetidos a essas condições degradantes.

Era preciso que uma resposta internacional fosse construída, em conjunto, por países e governos
determinados a impedir que essas barbaridades voltassem a acontecer. Essa é a linha de origem dos
direitos humanos que estudamos na atualidade, embora sua história tenha outros momentos importantes
e até anteriores à Segunda Guerra, que vamos analisar, estudar e refletir.

Direitos humanos são direitos de todos, de todas as pessoas em quaisquer condições em que se
encontrem. Garantir que sejam preservados e protegidos é a única forma de construirmos a sociedade
justa, fraterna e solidária que nossa Constituição Federal tem por objetivo.

Inicialmente serão tratados aspectos históricos que compõem a trajetória dos Direitos Humanos,
bem como questões que caracterizam e definem essa modalidade de direitos. Também vamos analisar as
diferentes variedades de direitos humanos, ou seja, gerações ou dimensões. E os tratados internacionais
que tratam desses direitos, juntamente com os órgãos internacionais que garantem sua efetividade.

Será analisada também a forma como a Constituição Federal do Brasil incorporou esses direitos em
seus direitos fundamentais e nos direitos sociais e de que forma os planos nacionais de direitos humanos
e a legislação federal têm tornado efetivos esses direitos na vida de todos nós.
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DIREITOS HUMANOS

Unidade I
1 SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS, TEORIAS SOBRE A CRIAÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS, DEFINIÇÃO DE DIREITOS HUMANOS E
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A proteção dos direitos humanos no Brasil e no mundo não ocorre de forma isolada, mas sim integrada em
um sistema nacional e internacional, com instrumentos eficientes para garantir que todos sejam protegidos e,
quando ocorrer alguma forma de agressão, seja possível identificar e punir os culpados. Sem um sistema de
proteção de direitos humanos seria muito mais fácil transgredi-los ou, simplesmente, ignorá-los.

É em razão da existência desse sistema interligado no âmbito nacional e internacional que muitas vezes
acontece uma violação de direitos humanos em um país e, imediatamente, organismos internacionais
como a Organização das Nações Unidas (ONU) se manifestam em repúdio ao ato praticado, ou para
exigir que cesse a violação, ou, ainda, para exigir que o governo daquele país garanta a integridade física
e psicológica da pessoa ou do grupo de pessoas que está sendo agredido em seus direitos.

A importância do funcionamento da proteção de direitos humanos integrada em forma de sistema é


enorme, porque todos os organismos atuam em cadeia, interligados, para denunciar violações e torná-las
conhecidas de todos, com o objetivo de constranger o agressor a cessar a agressão e, aos governos a
identificarem as causas da agressão, punirem os responsáveis e impedir que voltem a acontecer.

A ONU é o órgão responsável pelo sistema de proteção de direitos humanos em todo o mundo.
Vamos conhecer seu funcionamento e os demais órgãos integrantes desse sistema, mas, primeiramente,
é necessário definir direitos humanos e conhecer suas características essenciais.

2 CARACTERÍSTICAS E GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS HUMANOS

2.1 Teorias sobre criação de direitos humanos

Para definirmos direitos humanos é necessário conhecer as teorias que fundamentam esses direitos.
Vamos analisar cada uma delas:

• Teoria jusnaturalista: está fundamentada na ideia de que todo ser humano possui um direito natural,
que decorre do simples fato de ter nascido humano. Esses direitos existiriam por si só, mesmo que não
sejam criadas leis para protegê-los, e são universais e imutáveis porque se referem à própria condição
da vida humana e à sua dignidade. É o caso do direito à vida, do direito à liberdade, entre outros.

• Teoria positivista: entende que são direitos humanos aqueles que forem escolhidos pelo povo e por
seus governantes para serem parte do corpo de leis de uma determinada sociedade, e serão positivados
em leis exatamente porque são direitos fundamentais para a vida humana e para toda a sociedade.

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Unidade I

• Teoria moralista: afirma que são direitos humanos aqueles todos que se coadunam com a moral
de cada sociedade, de cada povo, reconhecendo que os preceitos morais são diferentes nas várias
sociedades existentes na Terra. O principal defensor da teoria moralista foi Charles Perelman,
professor e estudioso de Filosofia do Direito, nascido em 1912 em Varsóvia, na Polônia, e falecido
em 1984.

Conhecer essas teorias é importante para que possamos acompanhar as diversas reflexões que o
surgimento dos direitos humanos provocou entre os pesquisadores ao longo do tempo, porém não há
necessidade de optarmos por uma teoria e desprezar as outras. Nesse sentido, o Ministro Alexandre
de Moraes, do Supremo Tribunal Federal brasileiro, que é pesquisador e escritor na área de Direito
Constitucional, ao se referir a essas três teorias, afirma:

Na realidade, as teorias se completam, devendo coexistirem, pois somente


a partir da formação de uma consciência social (teoria de Perelman),
baseada principalmente em valores fixados na crença de uma ordem
superior, universal e imutável (teoria jusnaturalista) é que o legislador ou
os tribunais (esses principalmente em países anglo-saxões) encontram
substrato político e social para reconhecerem a existência de determinados
direitos humanos fundamentais como integrantes do ordenamento
jurídico (teoria positivista). O caminho inverso também é verdadeiro, pois
o legislador ou os tributais necessitam fundamentar o reconhecimento
ou a própria criação de novos direitos humanos a partir de uma evolução
da consciência social, baseada em fatores sociais, econômicos, políticos e
religiosos (MORAES, 2003, p. 35).

De fato, as teorias são mesmo complementares, nenhum de nós duvida de que qualquer ser
humano tem direitos naturais, decorrentes do simples fato de ter nascido humano. É o caso do direito
à vida, que é amplamente protegido nas mais diversas sociedades, independentemente da cultura que
possuem. Mesmo que o direito à vida não esteja positivado em lei escrita, ou em uma lei maior como
a constituição federal de um país, nós todos vamos continuar a respeitar a vida das pessoas tanto
quanto vamos exigir que respeitem a nossa. Nenhuma sociedade que conhecemos no mundo adota a
liberdade de matar, indiscriminadamente, dependendo apenas da vontade das pessoas. Não aceitamos
isso como ato de civilização, ao contrário, definiremos como ato de barbárie uma sociedade que se
organize com a permissão de que uns matem os outros, dependendo exclusivamente de sua vontade.

Por outro lado, reconhecemos que é muito melhor que os direitos humanos estejam positivados em
leis, em especial na maior de nossa sociedade, que é a Constituição Federal. Estando claramente escrito
que temos direito à vida, à liberdade, à dignidade, é muito mais fácil exigir que esses direitos sejam
respeitados por todos. Então, a teoria positivista tem de fato seu valor.

E, finalmente, é preciso reconhecer que cada sociedade forma historicamente sua consciência de
direitos a serem respeitados como fundamentais para os seres humanos. A trajetória histórica de cada
sociedade permite a ela construir uma experiência única, da qual emanam valores que ela pretende
defender para todos, porque são elementos de união, são valores relevantes para todos os membros
daquela sociedade. É o caso dos Estados Unidos da América, país que tem na liberdade um de seus
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DIREITOS HUMANOS

mais expressivos valores. Ser livre para se manifestar, para ir e vir, para adotar decisões para sua própria
vida, são valores realmente importantes para os norte-americanos, muito mais do que em outras
sociedades que conhecemos e, exatamente por isso, é preciso respeitar as opções que os diferentes
povos organizados constroem ao longo de sua história.

Portanto, podemos reconhecer que as três teorias são mesmo complementares e se interligam
profundamente, de tal modo que não é necessário que façamos uma escolha entre aquela que está
mais correta.

2.2 Definição de direitos humanos e dignidade da pessoa humana

Conhecidas as teorias mais usualmente utilizadas para justificar a criação dos direitos humanos,
vamos pensar em definições que possam nos ajudar a clarificar a ideia sobre esse tema. Não é tarefa
simples, porque pontos plurais como esse oferecem certa resistência para uma única definição, mas
vamos tentar encontrar definições que possam nos auxiliar.

O Ministro Alexandre de Moraes define direitos humanos:

O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano


que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de
sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento
de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade
humana pode ser definido como direitos humanos fundamentais
(MORAES, 2003, p. 39).

O professor Nestor Sampaio Penteado Filho, por sua vez, define direitos humanos da seguinte forma:

Poder-se-ia definir direitos humanos como um conjunto de prerrogativas


e garantias inerentes ao homem, cuja finalidade básica é o respeito à
sua dignidade, tutelando-o contra os excessos do Estado, estabelecendo
um mínimo de condições de vida. São direitos indissociáveis da condição
humana (PENTEADO FILHO, 2009, p. 27).

Figura 1 Figura 2

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Unidade I

Figura 3

Observe detalhadamente as fotos anteriores e volte a ler as definições de direitos humanos de


Alexandre de Moraes e Nestor Sampaio Penteado Filho. Sem dúvida, você vai concordar que elas nos
mostram claramente que os direitos fundamentais não estão sendo respeitados na infância dessas
crianças. São fotos de situações de extrema precariedade na segurança, higiene e saúde, ou seja,
as crianças estão em condições que facilitam contrair doenças, se machucar, se contaminar, enfim,
condições não adequadas para uma infância feliz e saudável.

Se consultarmos na rede mundial de computadores fotos sobre favelas, trabalhadores boias-frias


(aqueles que levam suas marmitas para comer na plantação, enquanto trabalham na agricultura e, por
isso, elas estão frias no momento de comer), presídios, comunidades dos morros, populações ribeirinhas
que residem em palafitas, as vítimas da seca do Nordeste, enfim, inúmeras situações concretas em que
vamos nos deparar com a falta de direitos básicos para os cidadãos.

Essa pesquisa por fotos de miséria, pobreza e insegurança sociais nos fará compreender melhor do
que estamos falando quando definimos direitos humanos. Estamos nos referindo a um conjunto de
direitos que permite a cada ser humano, independentemente de seu gênero, masculino ou feminino,
desenvolver todas as suas potencialidades e buscar todos os recursos necessários para viver em uma
situação de bem-estar e segurança. Direitos humanos são, nessa perspectiva, todos aqueles que podem
nos permitir vida com dignidade, qualidade, e, principalmente, com perspectivas de que em cada
momento poderemos ter acesso a tudo o que for necessário para viver plenamente.

Não há dúvida, portanto, que estamos nos referindo a direitos como:

• Segurança contra qualquer tipo de violência, física, moral ou psicológica, praticada por pessoas
ou por agentes do Estado (polícia, fiscais ou qualquer outro agente público).

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DIREITOS HUMANOS

• Acesso à saúde para prevenção de doenças e para a cura delas, lembrando que em muitos casos o
correto atendimento de saúde permite a prevenção de inúmeras doenças graves e que é sempre
muito melhor prevenir do que tratar.

• Acesso à educação básica que permita às pessoas desenvolverem suas potencialidades intelectuais
e cognitivas de forma a só interromperem os estudos se desejarem, e não por precisarem escolher
entre trabalhar e estudar.

• Condições de empregabilidade que permitam a cada pessoa um salário que lhe garanta vida digna.

Além desses direitos mencionados, que estão profundamente ligados com aspectos de vida material
(saúde, educação, emprego), também somos portadores de direitos essenciais da nossa condição humana,
como o direito de conviver com outras pessoas, sem nenhum obstáculo ou discriminação, o direito de
livre manifestação do pensamento, o direito de acesso a bens culturais como arte e cultura, o direito
de nos associarmos com outras pessoas para desenvolvermos atividades que nos motivem, entre outros
tantos aspectos essenciais para nossa vivência social, emocional, política e cultural.

Agora as definições começam a fazer mais sentido, porque é possível aplicá-las em nossas vidas
cotidianas. E também vão fazer sentido as definições de direitos humanos que apresentamos agora,
a primeira do jurista espanhol Antonio Enrique Péres Luño e a segunda do jurista brasileiro José
Afonso da Silva.

Pérez Luño afirma:

(Direitos humanos) um conjunto de faculdades e instituições que, em cada


momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e
da igualdade humanas as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos
ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional (PÉREZ LUÑO,
1979, p. 43).

José Afonso da Silva, ao se referir a direitos humanos, sugere:

Direitos fundamentais do homem constituem a expressão mais adequada a


este estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a concepção
do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é
reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e
instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre
e igual de todas as pessoas (SILVA, 1999, p. 174).

Como podemos perceber, a dignidade humana ou dignidade da pessoa humana é o principal fio
condutor das diferentes definições, ou seja, tudo o que diz respeito a direitos humanos está focado na
proteção dessa dignidade.

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Unidade I

Para a professora Célia Rosenthal Zisman:

A pessoa tem dignidade por ser pessoa, de modo que o princípio da dignidade
é o primeiro de todos na escala axiológica – vale mais que qualquer outro
direito. [...] Por isso, o ordenamento jurídico interno de cada Estado soberano
não cria ou outorga os direitos de liberdades da pessoa, e sim os declara,
facilitando a sua proteção (ZISMAN, 2005, p. 54).

E a ONU, na Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada em 1948, logo no


Preâmbulo, determina:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.

O Ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal brasileiro, afirma que:

A dignidade humana, como atualmente compreendida, se assenta sobre o


pressuposto de que cada ser humano possui um valor intrínseco e desfruta
de uma posição especial no universo (BARROSO, 2016, p. 14).

Mencionamos a posição do Tribunal Constitucional Alemão sobre o mesmo tema, que afirma:

[...] a dignidade humana se situa no ápice do sistema constitucional,


representando um valor supremo, um bem absoluto, à luz do qual cada
um dos outros dispositivos deve ser interpretado. Considerada como o
fundamento de todos os direitos mais básicos, a cláusula da dignidade
possui dimensão subjetiva e objetiva, investindo os indivíduos em certos
direitos e impondo determinadas prestações positivas para o Estado
(BARROSO, 2016, p. 21).

E o professor Ingo W. Sarlet afirma:


[...] a dignidade [....] passou a ser habitualmente definida como constituindo
o valor próprio que identifica o ser humano como tal, definição esta que,
todavia, acaba por contribuir muito para uma compreensão satisfatória do
que efetivamente é o âmbito de proteção da dignidade, pelo menos na sua
condição jurídico-normativa.

Mesmo assim, não restam dúvidas de que a dignidade é algo real, algo
vivenciado concretamente por cada ser humano, já que não se verifica
maior dificuldade em identificar claramente muitas das situações em que é
espezinhada e agredida, ainda que não seja possível estabelecer uma pauta
exaustiva de violações da dignidade (SARLET, 2013, p. 18).

14
DIREITOS HUMANOS

De fato, basta olhar as fotos anteriores para identificarmos, imediatamente, que vários direitos
estão sendo feridos em relação àquelas crianças e, também, a todas as demais pessoas que vivem na
mesma situação. Direito à saúde, à segurança, a um ambiente saudável, limpo e protegido, todas essas
dimensões que compõem a dignidade da pessoa humana. Assim, em muitas situações, poderemos até
não conseguir consenso sobre um conceito de dignidade da pessoa humana, mas sempre vamos saber,
como afirma o professor Sarlet, quando a dignidade está sendo ferida ou agredida.

É importante destacar, ainda, que a ONU determina que o reconhecimento da dignidade é um


fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, ou seja, é fundamental para que o mundo se
organize de forma equilibrada, livre e justa. Isso nos dá a dimensão da grande importância da dignidade
da pessoa humana. Para compreender o sentido e o alcance da dignidade da pessoa humana, é preciso
pensar no conjunto de direitos que cada ser humano precisa usufruir para poder ter uma vida digna.
Esses direitos podem estar positivados em leis, como a constituição federal de um país e, nesse caso,
recebem o nome de direitos fundamentais. E podem estar em tratados internacionais ou, ainda não
alocados em textos de lei, quando recebem o nome de direitos humanos.

Na Constituição da República Federativa do Brasil temos um amplo rol de direitos fundamentais que
consagram entre nós brasileiros os direitos humanos como direitos positivados, incluídos na lei mais
importante do país e em outros vários textos de lei que dela derivam. Também respeitamos no Brasil os
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o país é signatário (que assinou concordando em
cumprir), como é o caso de Declaração dos Direitos do Homem da ONU, por exemplo.

Assim, a distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais é meramente formal, porque os
primeiros estão em tratados internacionais ou ainda não alocados em textos de lei, embora já sejam
reconhecidos como direitos; e os direitos fundamentais estão positivados em lei, em especial, nas
constituições federais dos países que os adotam.

2.3 Características dos direitos humanos

Os direitos humanos têm algumas características que precisam ser estudadas por nós. Vamos conhecê-las
e analisá-las uma a uma. Essas características são comuns em estudos de muitos pesquisadores da área de
direitos humanos, razão pela qual merecem análise cuidadosa.

As principais características dos direitos humanos são:

• Universalidade: o que significa que todos os seres humanos da Terra têm direito a usufruir da
proteção que os direitos humanos expressam.

• Indivisibilidade: significa que o rol de direitos humanos compõe um todo que não pode ser
dividido. Assim, não é permitido a um Estado que escolha alguns direitos humanos para proteger
e deixe outros de lado.

• Interdependência: significa que os direitos humanos são inter-relacionados e interdependentes,


o que reforça o sentido de que todos são importantes, não há uma escala de relevância entre eles.

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Unidade I

• Imprescritibilidade: significa que nenhuma pessoa perde, por decurso de prazo, o direito de
exercício de qualquer um dos direitos humanos. Mesmo que sejam reivindicados depois de um
longo transcurso de tempo, a pessoa ainda terá direito ao exercício do direito.

• Inalienabilidade: significa que os direitos humanos não podem ser transferidos, negociados ou
cedidos, seja a título oneroso (por dinheiro ou outra contrapartida material), seja a título gratuito.
Todos têm direito e podem exercê-lo, mas não para aliená-los por qualquer motivo.

• Irrenunciabilidade: significa que ninguém pode renunciar aos direitos humanos, ou seja, ninguém
pode renunciar ao direito à vida, à liberdade ou a qualquer outro.

• Efetividade: significa que o Estado por meio de seus poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário,
deve atuar sempre para conseguir efetivar os direitos humanos, de forma a garantir que todas as
pessoas tenham como exercê-los livremente.

• Inviolabilidade: significa que ninguém, Estado ou pessoa (física ou jurídica), está legitimado para
desrespeitar direitos humanos. Todos devem respeitar, cumprir e fazer cumprir os direitos humanos.

• Complementaridade: significa que os direitos humanos não devem ser interpretados


isoladamente, mas de forma conjunta para que sejam alcançados os objetivos para os quais eles
foram criados, ou seja, proteger a dignidade humana da forma mais abrangente possível.

• Vedação de retrocesso: significa que se um direito é reconhecido como direito humano, não
se pode retirá-lo ou diminuir sua aplicabilidade. Em outras palavras, uma vez que um direito é
integrado ao rol de direitos humanos, ele não pode ser retirado e também não pode ser minimizado.

Essas são as características mais relevantes dos direitos humanos e que aparecem em vários estudos realizados
sobre o tema. Existe variação entre os estudiosos, que elaboram uma lista de características mais extensas ou um
pouco menos extensas, mas no geral essas são as características que devemos conhecer sobre direitos humanos
e que de forma recorrente aparecem nos diferentes estudos de pesquisadores dessa temática.

Por essas características, é possível compreender a importância desses direitos para a vida de todos os
seres humanos e o enorme prejuízo para toda a sociedade quando eles não são completamente efetivados.
Diferentemente de outros direitos que existem nas sociedades organizadas, os direitos humanos não podem
ser restringidos, não podem sequer ser objeto de renúncia por parte de seu titular. Os direitos patrimoniais,
por exemplo, podem ser objeto de renúncia. Não é usual, mas, se desejar, uma pessoa pode abrir mão de
seu direito de herança ou de seu direito de pensão alimentícia, por exemplo. Isso não acontece no campo
dos direitos humanos, porque ninguém pode abrir mão de seu direito à vida, à segurança ou à liberdade.

Outro aspecto muito importante é o caráter de complementariedade que os direitos humanos


possuem. Não basta que o Estado garanta aos cidadãos um ou outro direito que os efetive. É preciso que
o Estado execute todos os direitos humanos, garanta ao cidadão a possibilidade de exercício de todos os
direitos fundamentais, porque só isso é que garante a dignidade humana. Sem qualquer um dos direitos
do rol de direitos humanos, a dignidade humana não estará verdadeiramente protegida e respeitada.

16
DIREITOS HUMANOS

2.4 Gerações ou dimensões de direitos humanos

Os direitos humanos foram construídos lentamente ao longo da história. Não surgiram todos de
uma vez nem foram reconhecidos como direito por todas as diferentes nações ao mesmo tempo.
É por essa razão que os estudiosos do assunto partilham a ideia de que os direitos humanos são uma
construção contínua, constante, nunca estarão completamente terminados, porque cada época da
história da humanidade exige a proteção de novos direitos, ou, se preferirem, cada época histórica
da humanidade faz surgir novas necessidades para a integral proteção dos seres humanos.

A análise das diferentes épocas da história da humanidade demonstra que já fomos muito mais
bárbaros do que na atualidade e, ao mesmo tempo, indica que ainda temos muito o que melhorar,
embora, sem dúvida, tenhamos caminhado bastante em termos de proteção de direitos do homem.

Figura 4 – Foto da Exposição sobre Auschwitz. Madri, 2018

Figura 5 – Foto da Exposição sobre Auschwitz. Madri, 2018

17
Unidade I

As duas fotos anteriores reportam ao período do nazismo na Alemanha, durante a Segunda Guerra
Mundial. Nessa época, como sabemos, judeus foram perseguidos, aprisionados, levados para campos
de concentração e mortos em câmaras de gás, depois de sofrerem todas as agruras do medo, da fome,
do frio e do trabalho excessivo a que foram submetidos. Estima-se que seis milhões de judeus tenham
sido mortos na Segunda Guerra Mundial, embora não tenham sido os únicos a serem perseguidos pelos
nazistas. Ciganos e homossexuais sofreram perseguições, torturas, entre outros.

Repare que o cartaz da exposição sobre Auschwitz tem uma frase logo abaixo em que está escrito:
“No hace mucho. No muy lejos.” Essas duas frases, em português, significam: “Não faz muito. Não
muito longe.”

De fato, a Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939 e 1945, aconteceu na Europa, continente
distante apenas algumas horas de voo do continente americano. Esses horrores praticados contra os
judeus aconteceram muito próximo e nem por isso foram evitados ou minimizados. Isso tudo deve nos
fazer refletir sobre a importância da preservação dos direitos humanos, tanto quanto os fatos ocorridos
no passado mais longínquo, como, por exemplo, a Revolução Russa, de 1917, a escravidão no Brasil, que
só terminou em 1888, e a Primeira Guerra Mundial, no período de 1914 a 1918.

E se nos aprofundarmos nos estudos da história da humanidade, retrocedendo além do século XIX,
mais para trás vamos encontrar também muita violência e muito desrespeito a direitos, como no período
da Idade Média, das Cruzadas, do Império Romano, da conquista da América por portugueses e espanhóis,
enfim, a história da humanidade se caracteriza por violência, guerra e desrespeito a direitos.

Claro que também existem aspectos muito positivos, como o desenvolvimento tecnológico e o
avanço da ciência. Isso é, sem dúvida, uma prova da incrível inteligência e capacidade de superação dos
seres humanos, que, quando resolvem empreender, não têm limites. Em pouco tempo, o homem deixou
de se locomover por meio de cavalos e carroças e criou naves interespaciais capazes de levá-lo à Lua.

O avanço tecnológico nem sempre vem acompanhado de evolução no campo dos direitos, por isso a
necessidade de conhecermos com profundidade as diferentes épocas dos direitos humanos e, se possível,
prospectarmos os direitos que precisarão ser criados na época que vivemos e para o futuro próximo.

Na atualidade, os avanços tecnológicos significam benefícios, mas também novos riscos, que podem
afetar os direitos de todos nós. É o caso dos riscos de ataques cibernéticos, com vazamento de dados
pessoais como senhas de bancos, por exemplo, ou os riscos à saúde que possam ser causados por
cosméticos concebidos a partir de nanotecnologia.

O professor Wilson Engelmann ensina a respeito de nanotecnologia e seus riscos:

O surgimento das nanotecnologias, a partir de investigações em escala nano,


é uma realidade da qual o Direito tem obrigação de perceber.

[...]

18
DIREITOS HUMANOS

A percepção de Ivana Zanella quanto às nanotecnologias é no sentido de que


se trata de uma nova perspectiva tecnológica que vem surgindo a partir do
final do século XX e se refere basicamente à manipulação da matéria em escala
nanométrica, ou seja, à manipulação de estruturas atômicas e moleculares
que estão presentes em uma escala que corresponde a um bilionésimo de
metro [...], denominada nano. Tal tecnologia é a promessa de revolução para
doenças até então incuráveis, com perspectivas de grandes mudanças sociais.

[...]

A criação e a disponibilização, à população em geral, de produtos cosméticos


de base nanotecnológica vem chamando a atenção para a segurança e
confiabilidade da utilização de tais produtos. A preocupação, quanto aos
possíveis riscos advindos da utilização de nanocosméticos, instala-se no uso
de nanoestruturas com partículas que possuem diâmetro muito reduzido
em relação às barreiras celulares dos seres humanos, segundo avaliação do
Comitê Científico de Produtos ao Consumidor da Comissão Europeia.

[...]

A preocupação reside especialmente quanto à reduzida estrutura dos


componentes do produto (nanocosméticos), associado à solubilidade de
partículas, e, consequentemente, seu alcance a profundas estruturas do
corpo humano e corrente sanguínea (ENGELMANN, 2015, p. 27-56).

Em outras palavras, cosméticos como cremes hidratantes e batons podem estar utilizando
substâncias em partícula nano e estas podem ser nocivas para a saúde das pessoas que neste momento
não sabem que os produtos são nocivos e que tipo de dano à saúde ele pode causar, porque os
estudos ainda estão sendo realizados pelos cientistas. Deve ser garantido às pessoas, no entanto, que
tenham direito à informação para que decidam utilizar ou não o produto com maior segurança para
sua vida e sua saúde.

Esse exemplo é bastante útil para nossas reflexões sobre direitos humanos e proteção da dignidade
da pessoa humana. Das guerras, torturas e destruições por bombas até a utilização de produtos de
consumo sem informações suficientes sobre os riscos para a saúde, existem inúmeras formas de agressão
aos direitos humanos. Por isso é que podemos afirmar que os direitos humanos são construídos pouco a
pouco, nas diferentes épocas históricas que a humanidade vivenciou, vivencia e ainda vivenciará.

Em razão disso, foi mais fácil para os estudiosos organizarem as diferentes fases dos direitos
humanos em gerações, ou dimensões, de forma a simbolizar o período histórico em que cada uma
surgiu e os tipos de direitos que foram reconhecidos naquele momento histórico. Vamos estudar, então,
as dimensões ou gerações de direitos humanos que temos até este momento, sem nos esquecermos
que outras muitas surgirão a medida que o leque de direitos humanos for sendo expandido, em razão
dos novos riscos que surgirão.

19
Unidade I

2.5 Dimensões ou gerações de direitos humanos?

A respeito da denominação geração ou dimensão de direitos humanos, o professor Nestor Sampaio


Penteado Filho alerta:

A doutrina aponta a classificação dos direitos fundamentais segundo gerações


de direitos, embora a doutrina atual prefira a expressão dimensões de direito.
A diferença básica entre elas dá-se no sentido de que a expressão gerações de
direitos pode trazer a noção de que o surgimento de uma nova encerra ou finaliza
a anterior, dando-nos a falsa ideia de que houve uma limitação temporal.
Por outro lado, dimensões de direitos é expressão mais atual, que se traduz na ideia
de interação e interconectividade entre os direitos, não havendo encerramento de
umas ou de outras, mas, sim, uma relação interativa entre os direitos (PENTEADO
FILHO, 2009, p. 21).

A lição é oportuna e esclarecedora, porque, de fato, uma geração de direitos humanos não substitui
a anterior, ao contrário, a ela se soma. Os direitos de primeira geração se somam aos de segunda, ambos
se somam aos de terceira geração e assim sucessivamente. Por essa razão é que a expressão dimensões
de direitos humanos é melhor, na medida em que ela deixa claro que existem dimensões temporais e
temáticas diferentes, porém todas elas se somam e, principalmente, se complementam.

Vamos analisar, então, cada uma das dimensões de direitos humanos que foram construídos ao
longo da história da humanidade.

2.6 A primeira geração ou dimensão de direitos humanos

A primeira geração ou dimensão de direitos humanos surgiu, simbolicamente, no século XIII, a partir
de 1215, quando João Sem-Terra, rei da Inglaterra, aprovou um texto de lei denominado Magna Carta.
Por esse texto ele se comprometeu a governar em conformidade com as leis, ou seja, não utilizaria mais seu
poder contra o povo e respeitaria a propriedade, a vida e a segurança de todos os seus súditos. Isso pode
parecer pouco, mas era uma grande novidade para aquela época, em que os reis tinham poder absoluto,
de vida e morte sobre seu povo. Pressionado por esse mesmo povo que estava inconformado com os
desmandos do rei, João Sem-Terra se comprometeu a seguir fielmente a lei elaborada pelo poder legislativo
e a governar apenas nos limites permitidos por ela.

Os direitos de primeira geração ou dimensão são, assim, os direitos do povo contra os abusos do
Estado e, por isso, são denominados direitos políticos e civis fundamentais, ou, liberdades públicas.
São os direitos que garantem ao povo o direito de escolher seus governantes pelo voto, o direito de não
ser condenado sem um processo justo e com amplo direito de defesa, o direito de não ser molestado
física ou psicologicamente por ninguém, em especial pelo Estado, e o direito de destituir do poder
governantes que não se comportem conforme a lei.

Além da Magna Carta, de 1215, outras leis são importantes para confirmar os direitos políticos e civis
ou direitos humanos de primeira dimensão ou geração. Entre eles, o Bill of Rights, de 1689, na Inglaterra,
que, segundo o professor Alexandre de Moraes, teve as seguintes características:
20
DIREITOS HUMANOS

O Bill of Rigths, de 1689, decorrente da abdicação do rei Jaime II e outorgada


pelo Príncipe de Orange, no dia 13 de fevereiro, significou enorme restrição
ao poder estatal, prevendo, entre outras regulamentações: fortalecimento
ao princípio da legalidade, ao impedir que o rei pudesse suspender leis ou
a execução das leis sem o consentimento do Parlamento; criação do direito
de petição; liberdade de eleição dos membros do Parlamento; imunidades
parlamentares; vedação à aplicação de penas cruéis; convocação frequente
do Parlamento (MORAES, 2003, p. 26).

Também contribuíram expressivamente para esse período histórico de afirmação de direitos políticos
e civis a Declaração de Direitos da Virgínia, de 16 de junho de 1776, e a Declaração de Independência
dos Estados Unidos da América do Norte, de 4 de julho de 1776. A esse respeito, ensina o professor
Alexandre de Moraes:

Na Declaração de Direitos da Virgínia, a Seção I já proclama o direito à vida,


à liberdade e à propriedade. Outros direitos humanos fundamentais foram
expressamente previstos, tais quais, o princípio da legalidade, o devido
processo legal, o Tribunal do Júri, o princípio do juiz natural e imparcial, a
liberdade de imprensa e a liberdade religiosa.

[...]

A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América do Norte,


documento de inigualável valor histórico e produzido basicamente por
Thomas Jefferson, teve como tônica preponderante a limitação do poder
estatal [...] (MORAES, 2003, p. 26).

A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América é um documento histórico que


deve ser estudado por todos nós. Ele constrói importante narração histórica dos fatos que culminaram
com a proclamação da independência e, curiosamente, adotam um tom de justificativa, no sentido de
mencionar os fatos e concluir que não havia outro caminho a ser adotado que não fosse a declaração de
independência. Ao se separar da Inglaterra, o povo norte-americano tenta justificar sua decisão, elencar
os motivos que tornaram aquela escolha a mais benéfica para eles e, certamente, quando analisamos as
diversas independências havidas durante a história da humanidade, a constatação que podemos fazer é
que eles foram gentis ao fornecerem à Inglaterra as razões que os levaram a adotar essa posição.

Vale a pena conhecer trechos da Declaração de Independência dos Estados Unidos:

Quando no curso dos acontecimentos humanos se torna necessário a um


povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os
poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito às leis da
natureza e às do Deus da natureza, o respeito digno para com as opiniões
dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.

21
Unidade I

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os


homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis,
que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que, a fim de
assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus
justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer
forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de
alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e
organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para
realizar-lhe a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência recomenda
que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves
e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens
estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se
desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa
série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objecto,
indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito,
bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua
futura segurança. Tal tem sido o sofrimento paciente destas colônias e tal agora
a necessidade que as força a alterar os sistemas anteriores de governo. A história
do atual Rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidas injúrias e usurpações,
tendo todos por objetivo directo o estabelecimento da tirania absoluta sobre
estes Estados (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1976a).

É bastante interessante observar que os norte-americanos parecem querer justificar para a Inglaterra
que a decisão pela independência decorre da intransigência inglesa em não respeitar os interesses
econômicos, sociais e políticos do povo americano.

Leia o trecho a seguir e analise:

Em cada fase dessas opressões solicitamos reparação nos termos mais


humildes; responderam a nossas petições apenas com repetido agravo.
Um príncipe cujo carácter se assinala deste modo por todos os atos capazes
de definir um tirano não está em condições de governar um povo livre.

Tão pouco deixamos de chamar a atenção de nossos irmãos britânicos.


De tempos em tempos, os advertimos sobre as tentativas do Legislativo deles
de estender sobre nós uma jurisdição insustentável. Lembramos-lhes das
circunstâncias de nossa migração e estabelecimento aqui. Apelamos para a
justiça natural e para a magnanimidade, e conjuramo-los, pelos laços de nosso
parentesco comum, a repudiarem essas usurpações que interromperiam,
inevitavelmente, nossas ligações e a nossa correspondência. Permaneceram
também surdos à voz da justiça e da consanguinidade. Temos, portanto, de
aceitar a necessidade de denunciar nossa separação e considerá-los, como
consideramos o restante dos homens, inimigos na guerra e amigos na paz
(ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1976a).
22
DIREITOS HUMANOS

Observe a forma como eles detalham suas razões:

Nós, por conseguinte, representantes dos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,


reunidos em CONGRESSO GERAL, apelando para o Juiz Supremo do mundo
pela retidão das nossas intenções, em nome e por autoridade do bom povo
destas colônias, publicamos e declaramos solenemente: que estas colônias
unidas são e de direito têm de ser ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES; que
estão desobrigados de qualquer vassalagem para com a Coroa Britânica, e que
todo vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente
dissolvido; e que, como ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES, têm inteiro poder
para declarar a guerra, concluir a paz, contrair alianças, estabelecer comércio
e praticar todos os atos e ações a que têm direito os estados independentes.
E em apoio desta declaração, plenos de firme confiança na protecção da
Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas, nossas fortunas
e nossa sagrada honra (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1976a).

Quase sempre as rupturas institucionais que resultam em independência de um povo em relação ao


domínio de outro é justificada apenas e tão somente pelo desejo de ser livre, de possuir autonomia para
ditar seu próprio destino e viver em conformidade com suas próprias escolhas. No caso norte-americano
a independência ocorreu por outros motivos; além desses, eles desejavam que a Inglaterra os tratasse
de forma digna, justa e isso não teria ocorrido. É por essa razão que eles escolhem a independência, mas
se preocupam em redigir um documento que explica detalhadamente seus motivos, para que não reste
dúvida para os colonizadores que eles erraram no tratamento e em que ponto.

Desse modo, os norte-americanos comunicaram aos ingleses que, a partir daquele momento, seriam
um Estado independente no qual viveriam homens que foram criados iguais e dotados pelo Criador dos
mesmos direitos inalienáveis à vida, à liberdade e a procura da felicidade. Estabeleceram que o governo
seria instituído sempre com o objetivo de preservar esses direitos inalienáveis e, nos casos em que o
governo se tornasse destrutivo desses fins, o povo poderia se insurgir e escolher um novo governo, que
se comprometesse com esses princípios.

A grande meta coletiva que os norte-americanos almejavam alcançar era a liberdade, que para eles
não era apenas um sentimento, mas muito mais que isso: um verdadeiro projeto de sociedade. Buscar
a felicidade e vivê-la com plenitude passava a ser direito natural de cada cidadão, que disporia de total
liberdade para concretizar esse projeto, devendo apenas respeitar a liberdade dos demais cidadãos.

A liberdade era outro valor supremo para os norte-americanos, que na introdução da Constituição fixaram:

A Constituição dos Estados Unidos da América, nós, o povo dos Estados


Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a justiça,
assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover
o bem-estar geral, e garantir para nós e para os nossos descendentes os
benefícios da Liberdade, promulgamos e estabelecemos esta Constituição
para os Estados Unidos da América (CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS
DA AMÉRICA, 1987).
23
Unidade I

“Garantir para nós e para os nossos descendentes os benefícios da Liberdade, promulgamos...”.


A frase evidencia por todas as formas que a liberdade é o direito a ser garantido para a atual e as
futuras gerações e proclama que a liberdade tem benefícios que todos têm o direito de usufruir.

Essas posições e os objetivos traçados para atingir liberdade e felicidade afirmavam que os
norte‑americanos não aceitavam mais nenhuma forma de arbítrio ou de absolutismo da parte de
seus governantes. Ou, em outras palavras, o povo tinha o direito de escolher seus governantes e
de substituí-los sempre que não estivessem cumprindo rigorosamente seu papel. E qual o papel de um
governante? Para os norte-americanos do século XVIII, era, principalmente, respeitar o povo e garantir
que todos tivessem liberdade e meios para concretizar a felicidade.

Esses dois objetivos, exercer a liberdade e construir felicidade, estão na base dos direitos humanos
de Primeira Geração. Mas, ainda é preciso analisar a Revolução Francesa, que ficou conhecida como
a terceira revolução burguesa e teve início com o famoso episódio da Queda da Bastilha, ocorrido em
14 de julho de 1789.

Vamos recordar sobre esse episódio emblemático que a Bastilha era uma prisão onde os presos
eram tratados em condições desumanas, era um símbolo do absolutismo, ou seja, do poder absoluto
dos reis, que, na França daquele momento, era exercido pelo Rei Luiz XVI, que seria deposto pelos
revolucionários e morto na guilhotina em 1792. O prédio da Bastilha não existe mais em Paris, mas até
hoje é um lugar de muito simbolismo para os franceses e para todos aqueles que estudam as revoluções
que determinaram o fim do período absolutista e o nascimento dos direitos políticos e civis. A seguir
você pode ver a foto de uma maquete de como era a prisão da Bastilha, ela está no Museu Carnavalet,
localizado em Paris, capital da França.

Figura 6

24
DIREITOS HUMANOS

Figura 7

A foto anterior é de um monumento em Paris, próximo ao local em que antigamente estava localizada
a prisão da Bastilha. Esse monumento foi construído para homenagear a Revolução Francesa e a liberdade
que o povo francês adquiriu a partir daquele momento. Liberdade, igualdade e fraternidade são as três
palavras que simbolizam até hoje a Revolução Francesa; veja que a liberdade também representa para
os franceses revolucionários um ideal a ser concretizado. Dessa forma, nenhum governo que assumisse
o controle político depois da revolução poderia pretender usurpar a liberdade dos franceses, porque ela
estava no mais alto grau de direito que eles pretendiam proteger e exercer.

Célia Rosenthal Zisman ensina:

O homem, ao obedecer à lei, obedece à sua própria vontade, pois escolhe


quem fará a lei, de acordo com as suas convicções. De acordo com a
Declaração Francesa, embasada nas ideias de Rousseau, a finalidade da
sociedade é assegurar a liberdade natural do homem, e a lei, expressão da
vontade geral, não pode ser instrumento de opressão (ZISMAN, 2005, p. 74).

Após esses importantes momentos históricos, a Independência Norte-Americana e a Revolução Francesa,


os ideais de liberdade estavam consagrados, o povo não aceitava mais governantes despóticos e com
poderes absolutos. Então, como os governantes poderiam exercer o poder? Respeitando as leis que eram
feitas pelos representantes do povo, reunidos no parlamento, ou seja, no poder legislativo. Nenhuma lei
poderia subtrair direitos fundamentais do povo, em especial, direito à vida, liberdade e segurança.

Os direitos humanos de primeira geração ou primeira dimensão são, portanto, os direitos de liberdade
e surgem para proteger o cidadão do arbítrio do Estado, que, naquela época, representado pelo poder
dos reis, era exercido de forma absoluta, como uma designação divina e, por isso, com poder de vida e
morte sobre os súditos. Com as revoluções do século XVIII o absolutismo dos reis termina e em seu lugar
surge a força do poder parlamentar cujos representantes são eleitos pelo povo, com objetivo de redigir

25
Unidade I

leis de cumprimento obrigatório para todos, governantes e governados, e leis que respeitem os direitos
do povo, em especial, os direitos de liberdade.

2.7 A segunda geração ou dimensão de direitos humanos

A segunda dimensão ou geração de direitos humanos surge como necessidade a partir das
modificações sociais, econômicas e políticas decorrentes do processo de industrialização, também
conhecido como Revolução Industrial, cujo início ocorreu no século XVIII.

Até o surgimento da máquina à vapor, que ocorreu em meados do século XVIII, por volta de 1760,
na Inglaterra, toda a produção econômica era de manufatura feita por artesãos e trabalhadores rurais.
Com o surgimento das máquinas movidas a vapor que podiam produzir centenas de peças em um único
dia, o modo de produção econômica foi totalmente modificado e a partir dele a vida social e política
daquele período histórico.

O surgimento das fábricas por toda a Inglaterra exigiu a procura por mão de obra e, com isso,
houve o êxodo rural, com milhares de pessoas se mudando para as cidades para poderem trabalhar nas
indústrias recém-criadas, com salários baixos e grande carga de trabalho, quase sempre em torno de 14
a 16 horas por dia. Até a mão obra infantil foi utilizada e muitas crianças trabalhavam de 10 a 12 horas
por dia. Desnecessário ressaltar que os homens também trabalhavam muitas horas por dia, e isso gerou
muitos acidentes de trabalho, causando lesões e mortes de operários.

Os salários eram baixos e os problemas sociais se tornaram de grande extensão. Os trabalhadores


moravam de forma precária, se alimentavam mal, sofriam com doenças de todo tipo, viviam sem a
menor condição de vida digna. Movimentos contrários àquela situação surgiram entre os próprios
trabalhadores. O primeiro que se tem notícia foi o chamado ludismo, cujo nome faz referência a Ned
Ludd, que teria sido líder do movimento. O ludismo consistia na invasão de fábricas para quebrar
máquinas e teria sido organizado como revolta pelos trabalhadores das manufaturas, que estavam
perdendo seus empregos em razão da utilização das máquinas. Mas, posteriormente, os trabalhadores
se organizaram em sindicatos e associações para pleitear melhores condições de trabalho.

De fato, com a Revolução Industrial surgiu a classe operária, que passou a integrar o sistema
capitalista de produção. A partir da classe operária ou do proletariado, toda uma lista de direitos que
até então não existiam, como o direito a um salário justo, horas de trabalho que permitam segurança
ao trabalhador, horas de descanso para refazimento das condições físicas e psicológicas, serviços de
saúde para atender trabalhadores, locais para que os filhos dos trabalhadores pudessem ficar enquanto
eles trabalhavam, entre outros que compunham uma relação de direitos, que, para aquela época, eram
totalmente novos.

A mudança radical nas relações de trabalho, da propriedade rural e da manufatura de artesãos para
a produção industrial, que da Inglaterra se alastrou para a Europa e América, fez surgir a Organização
Internacional do Trabalho, a OIT, criada em 1919, com objetivo de contribuir para a construção de justiça
social. Surgem, então, os direitos humanos de segunda geração ou dimensão, que são direitos
econômicos, sociais e culturais inspirados pelo ideal de igualdade.
26
DIREITOS HUMANOS

Repare que estão contidos nesse rol de direitos não apenas o direito ao trabalho, a justa remuneração
e as condições dignas de trabalho, mas também o direito à saúde e moradia adequados; ao lazer com
acesso à cultura e ao esporte; à assistência e previdência social; à assistência para os casos de doença ou
desemprego que impeça a pessoa de prover o próprio sustento; e à previdência para que o trabalhador
possa se aposentar e receber um valor que lhe permita a vida com dignidade.

Figura 8 – Inauguração da primeira estrada de ferro a vapor (1825), construída por George Stephenson para ligar as localidades de
Stockton e Darlington, na Inglaterra

Alguns textos de lei foram muito importantes para a consolidação dos direitos humanos de segunda
geração ou dimensão, como a Constituição Mexicana de 1917, que foi a primeira a atribuir aos direitos
trabalhistas o caráter de direitos fundamentais do homem. E a Constituição de Weimar, Alemanha,
de 1919, que se notabilizou pela importância que deu aos direitos trabalhistas e à educação pública,
organizando as bases do que mais tarde ficaria conhecido como democracia social.

Esses importantes documentos e a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, com todos os
transtornos, causando mortes, destruição e mutilação de sobreviventes, colocaram o mundo diante dos
desafios de tratar as pessoas com respeito e de forma digna, única maneira possível para que possam
desenvolver todas as suas potencialidades. Esses direitos, denominados direitos sociais, trazem um
caráter coletivo porque se destinam a toda a sociedade, independentemente do país de origem de cada
um, da raça, do gênero, da religião ou de qualquer outro fator.

2.8 A terceira geração ou dimensão de direitos humanos

O professor Nestor Sampaio Penteado Filho ensina:

Direitos fundamentais de terceira geração ou dimensão – decorrentes de


profundas alterações sociais na comunidade internacional, causadas pela
globalização da economia, avanços tecnológicos e científicos, como as viagens
espaciais, a robótica, a internet etc., tais direitos direcionam-se para a preservação
da qualidade de vida, tutelando o meio ambiente, permitindo-se o progresso
sem detrimento da paz e autodeterminação dos povos, constituindo-se em
interesses metaindividuais (difusos), que transcendem o indivíduo ou grupos de
indivíduos [....] direitos de solidariedade [...] traduzidos no valor da fraternidade
(PENTEADO FILHO, 2009, p. 23).

O que teria ocorrido para que a humanidade despertasse para a necessidade de proteger esses
direitos coletivos e de fraternidade? O que são esses direitos difusos ou metaindividuais?
27
Unidade I

A Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, deixou marcas profundadas nos países da Europa
e nos Estados Unidos, embora também em outros países as experiências vividas durante o período
de guerra tenham sido marcantes, inclusive no Brasil, que cedeu soldados para lutarem na guerra e
sofreu com a escassez de bens e alimentos durante o período da guerra. A destruição e o alto número
de mortos e feridos de guerra despertou a humanidade para novas necessidades a fim de evitar que
aquilo ocorresse novamente. Era preciso construir a paz de forma duradoura, porque só é possível
desfrutar de qualidade de vida em um mundo em que haja equilíbrio, segurança, confiança, ou, em
uma única palavra, em que haja paz!

Além disso, a economia avançou e se tornou globalizada. Cada país e cada setor econômico se viu
diante da necessidade de produzir muito mais para poder exportar para outros países e, com isso, trazer
mais riquezas. A produção em massa e globalizada atingiu fortemente o meio ambiente, causou poluição
do ar, do solo, dos mares, dos rios e, com isso, os temas relacionados à proteção do meio ambiente e da
ecologia ganharam destaque na pauta da humanidade.

O consumo exagerado também gera preocupações com características de direitos humanos.


É preciso que o mundo tenha produtos cada vez mais diversificados, porém não se pode esquecer que
a nenhum produtor é dado colocar para consumo produtos que possam afetar a saúde e o bem-estar
das pessoas. Por isso, algumas práticas na área de consumo são de grande interesse para os direitos
humanos, em especial quando tratamos de produtos farmacêuticos e de alimentos. Como eles são
produzidos, como são disponibilizados para consumo, que informações são disponibilizadas para os
consumidores, como é feita a publicidade sobre esses produtos, tudo isso é área que interessa muito
aos direitos humanos, porque sabemos que alguns medicamentos e alimentos consumidos de forma
errada podem levar as pessoas à morte ou a danos de grave extensão para sua saúde.

Se a fome ainda é a enorme preocupação no mundo em que vivemos, porque muitas pessoas ainda
não conseguem se alimentar com o mínimo necessário todos os dias para terem boa saúde, a obesidade
já é tratada em muitos países do mundo como epidemia e traz com ela sérios problemas para a saúde,
como as doenças coronarianas, por exemplo.

Proteção do consumidor é, portanto, uma modalidade de direitos humanos. Todo consumidor tem
direito a receber informações objetivas, precisas, úteis e exatas sobre os produtos ou serviços que consome
e, quando esses produtos ou serviços possam ser nocivos à saúde ou ao bem-estar dos consumidores, a
responsabilidade dos fornecedores aumenta significativamente.

O avanço tecnológico sucessivo e intenso também se tornou um ponto de preocupação para a


humanidade. É preciso progredir técnica e cientificamente, mas é preciso que os resultados desse progresso
cheguem a todos com igualdade de oportunidades. Além disso, é necessário garantir que o progresso
técnico e científico não prejudique nenhuma espécie de vida existente na Terra, em especial, as pessoas.
Assim, não se pode admitir a ideia de medicamentos que, para serem desenvolvidos, utilizam pesquisa que
cause sofrimento em animais e tampouco que seres humanos participem de pesquisas sem conhecimento
e autorização prévia ou em troca de dinheiro, mesmo sabendo que poderão ter sua saúde prejudicada pela
pesquisa; muitos fazem isso porque precisam daquele valor para proverem a própria família.

28
DIREITOS HUMANOS

O progresso técnico-científico é sempre bem-vindo, mas em nenhuma hipótese pode ser construído
sem práticas éticas e transparentes, ou com prejuízo para as pessoas, especialmente aquelas que estão
em condições de vulnerabilidade econômica ou cultural e, por isso, têm menores chances de lutar por
seus direitos e por sua proteção.

Saiba mais

O filme a seguir discute o tema da relação da indústria de medicamentos,


dos governos e a realização de experiências com cobaias humanas:

O JARDINEIRO fiel. Dir. Fernando Meirelles, 2005. 129 minutos.

É por isso que esse conjunto de direitos da terceira geração ou dimensão é chamado de direitos
metaindividuais ou difusos, porque pertencem a toda a humanidade, não há um destinatário específico
deles, todos devem ser beneficiados com esses direitos. Por isso também que são chamados de direitos
de fraternidade, porque no momento em que a Terra está fortemente interligada pela economia
(globalização) e pela comunicação (redes sociais e internet). Esses direitos, como o do meio ambiente
saudável e equilibrado, quando forem garantidos para todos os povos, farão o mundo muito melhor,
independentemente de onde cada um de nós estiver.

2.9 A quarta geração ou dimensão de direitos humanos

São os chamados direitos dos povos. Eles surgiram em decorrência da globalização como um
processo irreversível e também dos temores sobre o que a evolução tecnológica poderá significar
para a humanidade.

Paulo Bonavides explica:

São direitos de quarta geração o direito à democracia, o direito à informação


e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade
aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual
parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência
(BONAVIDES, 2007, p. 517).

Pluralismo e democracia são os conceitos fundamentais que precisamos compreender para


podermos analisar os direitos de quarta geração. Democracia, já sabemos, é o direito de cada
cidadão participar das escolhas políticas do Estado em que vive, principalmente por meio de
representantes que são eleitos para participar do debate político e para adotar as leis e políticas
públicas necessárias para a garantia do interesse de todos, do bem comum. Ocorre que a democracia
se tornou uma prática complexa porque dificilmente pode ser direta, ao contrário, em um mundo
com superpopulação a participação direta é difícil e substituída por representantes escolhidos
pelos diferentes grupos sociais.

29
Unidade I

Todos os segmentos sociais conseguem ter representantes? A resposta é não! Só os segmentos


sociais que se organizam é que conseguem eleger um ou mais representantes para se dedicarem às suas
causas, para defender seus interesses legítimos na esfera pública. E os grupos sociais que não têm força
ou recursos econômicos para se organizarem adequadamente? Eles ficarão sem representação? Ficarão
sem ninguém para lutar por suas necessidades? Pois é para isso que se discute o pluralismo como um
dos direitos humanos de quarta dimensão ou geração.

Mulheres, negros, homossexuais, transgêneros, deficientes físicos, crianças e adolescentes são


chamados de minorias não porque sejam em menor número de pessoas, mas porque, quase sempre,
não contam com representação política que possa defender os direitos que eles possuem.

Pergunta: é mais fácil que os ruralistas tenham representantes no poder legislativo, ou é mais fácil
que os deficientes físicos tenham representação? Qual tem maior facilidade de organização para apoiar
um candidato ou vários candidatos que o representem?

Essa representação não se confunde com práticas ilegais como a corrupção, por exemplo. Os ruralistas
não se organizam para comprar um deputado que vai fazer somente o que eles quiserem ou os deficientes
físicos não se organizam para essa mesma finalidade. Representação significa que o candidato a deputado
vai dialogar com esses grupos, conhecer suas necessidades, o que pode ser feito para que a vida deles se
desenvolva melhor. Esse diálogo tem que ser organizado com apresentação de propostas que possam se
tornar leis, políticas públicas e, com isso, trazer benefícios para aquele setor social.

Existem grupos sociais, no entanto, que se encontram em condição de enorme vulnerabilidade e, por
esse motivo, não conseguem se organizar de forma eficiente para poder ter representantes no campo
da política. Para esses grupos, a chance de participação democrática fica resumida ao voto, porque o
espaço do diálogo não se concretiza na medida em que não conseguem ter representação adequada.

Assim, os direitos humanos de quarta dimensão ou geração se voltam para essa preocupação:
pluralismo democrático, garantir que todas as pessoas tenham possibilidade de ter voz na vida política,
para poderem apresentar suas ideias, reivindicar seus direitos, discutir propostas e soluções de problemas.
Só assim teremos uma democracia verdadeiramente plural, em que todos os grupos sociais se sintam
representados e ativamente participantes do debate político.

Os estudiosos apontam uma outra face dos direitos humanos de quarta dimensão ou geração,
a proteção contra os abusos ou desvios que possam ser causados pelo progresso científico.
Em especial, há preocupação com o que pode ser prejudicial no campo dos estudos genéticos.
Os estudos genéticos avançaram muito e permitem, na atualidade, utilização no campo da engenharia
genética e da biotecnologia. Porém, esse avanço não pode ser tratado exclusivamente a partir da
ótica do interesse econômico, porque é preciso preservar a ética e o valor da vida humana.

Francisco Vieira Lima Neto:

(A quarta dimensão de direitos humanos) somente é possível porque as


inovações tecnológicas criariam para a humanidade problemas de ordem
30
DIREITOS HUMANOS

tal que o Direito, forçosamente, sob pena de alteração e deterioração do


genoma humano, se veria instado a apresentar soluções, propondo limites
e regulamentos às pesquisas e uso de dados com vistas à preservação
do patrimônio genético da espécie humana. Com isso, o Direito estaria
protegendo não só o homem enquanto indivíduo, mas também, e
principalmente, como membro de uma espécie.

Dentre os possíveis direitos típicos da quarta geração de direitos humanos,


estaria o de não ter seu patrimônio genético alterado, operação que, se
na década passada certamente estaria inserida no domínio da ficção
científica, hoje, no limiar do terceiro milênio, pode ser realizada em
alguns países de maior desenvolvimento econômico e científico, tendo
seus limites impostos menos pela ética e pelas leis do que pela falta de
conhecimento da localização e função exatas de cada gene humano. “Esses
direitos resultam dos novos conhecimentos e tecnologias resultantes das
pesquisas biológicas contemporâneas”, conforme ensina Vicente Barreto
(LIMA NETO, 2018).

A preocupação com as consequências da má utilização do conhecimento genético foi tão intensa


que a Assembleia Geral da Unesco – Organização das Nações Unidas para Ciência, Educação e Cultura
aprovou em 1997 a Declaração dos Direitos do Homem e do Genoma Humano, por meio da qual cada
país participante da ONU assumiu o compromisso de divulgar seu conteúdo e buscar soluções para
conciliar o desenvolvimento tecnológico com o respeito aos direitos do homem.

No artigo 1º da Declaração dos Direitos do Homem e do Genoma Humano, está consignado que:

Artigo 1º O genoma humano constitui a base da unidade fundamental de


todos os membros da família humana, bem como de sua inerente dignidade
e diversidade. Num sentido simbólico, é o patrimônio da humanidade
(UNESCO, 2000).

E os artigos 2, 3 e 4 expressam as principais preocupações da Unesco na defesa dos direitos humanos


em relação à utilização do conhecimento genético:

Artigo 2º

a) A todo indivíduo é devido respeito à sua dignidade e aos seus direitos,


independentemente de suas características genéticas.

b) Esta dignidade torna imperativa a não redução dos indivíduos às suas


características genéticas e ao respeito à sua singularidade e diversidade.

Artigo 3º O genoma humano, evolutivo por natureza, é sujeito a mutações.


Contém potencialidades expressadas de formas diversas conforme o
ambiente natural e social de cada indivíduo, incluindo seu estado de saúde,
31
Unidade I

condições de vida, nutrição e educação.


Artigo 4º O genoma humano em seu estado natural não deve ser objeto de
transações financeiras (UNESCO, 2000).

O maior risco do uso indevido do conhecimento científico é provocar a biologização da vida, ou seja,
utilizar os de mapeamento genético para explicar todos os comportamentos humanos, esquecendo
que o meio social que o indivíduo vive influencia diretamente em sua formação moral, ética, política
e econômica. Em outras palavras, a engenharia genética não tem o condão de explicar tudo nem
pode tentar fazê-lo, sob pena de reduzirmos o ser humano a resultados genéticos sem considerar sua
formação psicológica e social. Não pode haver determinismo genético para explicar todas as múltiplas
circunstâncias e vivências das quais a vida humana é constituída. O ser humano é complexo, não pode
ser explicado apenas pela genética.

Outra preocupação relevante protegida pela Declaração da Unesco foi a discriminação


fundada em características genéticas. Assim, o artigo 6º da Declaração determina que: “Nenhum
indivíduo deve ser submetido à discriminação com base em características genéticas, que vise
violar ou que tenha como efeito a violação de direitos humanos, de liberdades fundamentais e
da dignidade humana.”

Os artigos 10 e 11 estabelecem diretrizes para as pesquisas, em especial no campo da clonagem de


seres humanos.

A Unesco (2000) recomenda fortemente que:

Artigo 10 – Nenhuma pesquisa ou suas aplicações relacionadas ao


genoma humano, particularmente nos campos da biologia, da genética
e da medicina, deve prevalecer sobre o respeito aos direitos humanos, às
liberdades fundamentais e à dignidade humana dos indivíduos ou, quando
for aplicável, de grupos humanos.

Artigo 11 – Práticas contrárias à dignidade humana, tais como a clonagem


de seres humanos, não devem ser permitidas. Estados e organizações
internacionais competentes são chamados a cooperar na identificação
de tais práticas e a tomar, em nível nacional ou internacional, as medidas
necessárias para assegurar o respeito aos princípios estabelecidos na
presente Declaração.

Como podemos perceber, duas são as preocupações mais relevantes da Unesco: que as pesquisas
genéticas continuem sendo feitas com o propósito de beneficiar a humanidade, em especial na busca
de cura para os grandes males que afligem os seres humanos, como as doenças autoimunes e os vários
tipos de câncer; e que nenhuma pesquisa e nenhum avanço no campo dos estudos genéticos seja
negativo ou prejudicial para a dignidade da pessoa humana.

32
DIREITOS HUMANOS

2.10 A quinta geração ou dimensão de direitos humanos

São os chamados direitos à paz permanente.

Figura 9

A foto anterior mostra os momentos iniciais de um dos piores atentados terroristas ocorridos em
todo o mundo, quando as Torres Gêmeas de Nova York foram atingidas por dois aviões e desmoronaram,
causando a morte de milhares de pessoas.

Aquele, infelizmente, foi apenas o primeiro de vários atentados terroristas que têm ocorrido nos últimos
15 anos, sempre com muitas vítimas covardemente feridas e mortas. São explosões de homens-bomba,
atropelamento com veículos de passeio e caminhões, bombas lançadas em ambientes com muitas pessoas,
ataques a tiros, entre outros.

Figura 10

33
Unidade I

A foto anterior mostra os protestos pacíficos contra o ataque terrorista realizado no jornal Charlie
Hebdo, em Paris, em 7 de janeiro de 2015. Milhares de pessoas foram às ruas em várias partes do mundo
para protestar, de forma silenciosa e muito sentida.

O mundo precisa de paz, os direitos humanos de quinta geração ou dimensão propugnam


exatamente por isso, para que todos os países membros da ONU e todos aqueles que não são membros
participem de um grande esforço para efetivar a paz, torná-la concreta em todas as partes da Terra.
Contudo, sabemos todos que isso não é fácil!

Existem conflitos espalhados por vários pontos do planeta e com as mais diversas origens.
São conflitos territoriais, religiosos, políticos, econômicos ou ideológicos. Quando não, vários fatores se
misturam para formar um conflito de grandes proporções. Os conflitos internos na Síria, a situação de
tensão permanente entre Israel e Palestina, as práticas criminosas do grupo Boko Haram, que praticou
o sequestro de 200 adolescentes mulheres em 2014, as práticas do grupo terrorista Estado Islâmico, os
atentados ocorridos na França, na Espanha e na Inglaterra, todos esses são momentos em que a paz
mundial é fortemente abalada e a insegurança toma conta de boa parte do mundo.

Em artigo escrito para o jornal Folha de São Paulo em 3 de dezembro de 2006 e ainda muito atual,
o professor Paulo Bonavides se refere ao direito à paz da seguinte forma:

O DIREITO à paz é o direito natural dos povos. Direito que esteve em estado
de natureza no contratualismo social de Rousseau e que ficou implícito
como um dogma na paz perpétua de Kant.

Direito à paz, sim. Mas paz em sua dimensão perene, à sombra do modelo
daquele filósofo. Paz em seu caráter global, em sua feição agregativa de
solidariedade, em seu plano harmonizador de todas as etnias, de todas as
culturas, de todos os sistemas, de todas as crenças e que a fé e a dignidade
do homem propugnam, reivindicam e sancionam.

Paz, portanto, em seu sentido mais profundo, perpassado de valores


domiciliados na alma da humanidade. Valores providos de inviolável força
legitimadora, única capaz de construir a sociedade da justiça, que é fim e
regra para o estabelecimento da ordem, da liberdade e do bem comum na
convivência universal.

A essa ideia de concórdia adere uma ética que tem a probabilidade de governar
o futuro, nortear o comportamento da classe dirigente, legitimar-lhe os atos
e as relações de poder.

Quem conturbar essa paz, quem a violentar, quem a negar, cometerá, à


luz desse entendimento, crime contra a sociedade humana. Execrado das
presentes e das futuras gerações, o Estado que delinquir ou fizer a paz
soçobrar como direito há por certo de responder ante o tribunal das nações;
primeiro no juízo coevo, a seguir, no juízo do porvir, perante a história.
34
DIREITOS HUMANOS

Devemos assinalar que a defesa da paz se tornou princípio constitucional,


insculpido no artigo 4º, inciso VI, da nossa Constituição. Desde 1988,
avulta entre os princípios que o legislador constituinte estatuiu
para reger o país no âmbito de suas relações internacionais. E, como
todo princípio na Constituição, tem ele a mesma força, a mesma
virtude, a mesma expressão normativa dos direitos fundamentais.
Só falta universalizá-lo, alçá-lo a cânone de todas as Constituições.
Vamos requerer, pois, o direito à paz como se requerem a igualdade, a
moralidade administrativa, a ética na relação política, a democracia no
exercício do poder (BONAVIDES, 2006).

No entendimento do professor Paulo Bonavides (2006), a paz é um direito que precisa estar em
todas as constituições de todos os países do planeta, para que os governantes tenham sempre em mente
que não se pode romper com a paz e que são necessários todos os esforços possíveis para mantê-la,
para concretizá-la de forma satisfatória. Considera Paulo Bonavides que a paz é um direito para todos
os povos e um dever para todos os governantes. Sem dúvida, é uma ideia interessante porque coloca a
paz em um campo concreto, como um dever de governo e um princípio do Estado, o que, sem dúvida,
fortalece o empenho para que os melhores propósitos sejam atingidos.

Existem alguns estudiosos, ainda, que inserem no rol dos direitos humanos de quinta geração ou
dimensão a proteção para os seres humanos no âmbito dos riscos decorrentes da revolução tecnológica
que a internet, a rede mundial de computadores, propiciou em grande parte da Terra.

Na atualidade, aqueles que têm acesso constante à rede mundial de computadores e às redes sociais
sabem que estão sujeitos a muitos riscos decorrentes de crimes praticados no espaço virtual. São crimes
cibernéticos para captura de senhas de acesso ao sistema bancário eletrônico, para disseminação de
fotografias de práticas de pedofilia, para divulgação de imagens de crimes de estupro coletivo, uso indevido
de imagens, práticas de estelionato virtual, entre outras inúmeras possibilidades de práticas ilícitas.

No campo dos direitos humanos, as práticas ilícitas também ocorrem com discriminação de raça,
de gênero, de orientação sexual, religiosa, sempre com consequências muito graves. Já são comuns,
infelizmente, práticas de bulling pelas redes sociais que levam jovens e adolescentes a se suicidarem ou
a desenvolverem doenças psíquicas muito graves, muitas vezes sem contar a seus pais ou professores
porque temem ficar ainda mais expostos a serem ridicularizados. São casos em que jovens, adolescentes
e até crianças enfrentam problemas sem apoio e sem orientação, o que, sem dúvida, pode provocar atos
extremos contra a própria vida.

A importância que as práticas ilícitas na rede mundial de computadores adquiriram permite que elas
integrem o rol dos direitos humanos de quinta geração ou dimensão, porque combater as práticas e
atuar na proteção das vítimas é um tema que envolve todos os países, todas as pessoas e organizações
de direitos humanos, até porque se trata de tarefa complexa.

Novas dimensões e gerações de direitos humanos surgirão no futuro. O que é importante destacar
para finalizar é que os diferentes direitos humanos alocados em cada uma das gerações ou dimensões
35
Unidade I

não se sobrepõe aos demais. Todos são importantes e ainda precisam ser praticados mais intensamente
nos dias atuais. Todos se complementam, não se excluem e, quando inteiramente garantidos a todas as
pessoas, propiciarão um mundo de paz e de felicidade.

2.10.1 Trajetória histórica da construção dos direitos humanos

Como já sabemos, a trajetória histórica da construção dos direitos humanos está profundamente
atrelada à trajetória histórica da própria humanidade. Na medida que os homens avançam historicamente
surgem novas dimensões ou gerações de direito a serem protegidos e, dessa forma, o rol de direitos
humanos cresce em quantidade e, consequentemente, em importância.

A história dos direitos humanos no mundo se confunde com a história dos organismos que foram
criados para defendê-los, entre eles, o mais importante, a ONU. Em 1899, em Haia, na Holanda, foi
realizada a Conferência Internacional de Paz, com objetivo de elaborar formas de solução de conflitos
de maneira pacífica, para prevenir guerras e organizar regras a serem respeitadas durante os períodos
em que existissem conflitos armados.

Parece um absurdo para nós, nos dias de hoje, mas no fim do século XIX e início do século XX
houve uma preocupação em criar um direito humanitário, ou seja, um direito para proteger aqueles que
participavam da guerra. Em outras palavras, uma lei de guerra! O objetivo era fixar limites à atuação dos
combatentes de cada país em conflito, para assegurar o respeito aos direitos humanos mesmo nessas
situações. A proteção humanitária era destinada, principalmente, para os soldados fora de combate,
como feridos, doentes, náufragos e prisioneiros; e para a população civil moradora nas zonas de conflito.

Era o Direito Internacional da Guerra, também chamado de Direito Humanitário, que regulamentou
a violência no âmbito internacional durante os períodos de guerra. Uma importante contribuição desse
conjunto de regras foi exigir, por exemplo, que após um ataque de um inimigo contra outro, fosse
liberado um período de tempo sem novos ataques para que as patrulhas pudessem socorrer os feridos.

Esses primeiros esforços de proteção humana parecem muito distantes da nossa realidade contemporânea,
mas é preciso lembrar que a história da humanidade é repleta de conflitos entre países, o que torna mais fácil
compreender a necessidade de organização de um direito internacional de guerra ou direito humanitário, que
antecedeu os esforços que seriam feitos depois para a criação dos direitos humanos.

2.10.2 A Liga das Nações – precursora da ONU

A entidade considerada como precursora da ONU é a Liga das Nações, instituição criada durante
a Primeira Guerra Mundial, em 1919, a partir do Tratado de Versailles. A Liga das Nações tinha como
objetivo promover a cooperação, a paz e a segurança no plano internacional e, para isso, condenava
agressões externas contra a integridade territorial e contra a independência política de seus membros.

A Convenção da Liga das Nações, escrita em 1920, tinha previsões relativas aos direitos humanos, em especial
para proteção ao direito do trabalho. Os países que se tornaram signatários da Convenção da Liga das Nações se
comprometeram a assegurar condições justas e dignas de trabalho para homens, mulheres e crianças.
36
DIREITOS HUMANOS

De certa forma, o texto da Convenção da Liga das Nações era uma novidade para aquele período
histórico no sentido de que representava uma limitação à soberania dos estados que se tornaram membros
daquela entidade. A liberdade de atuação, ou seja, a soberania de cada estado deixava de ser um conceito
absoluto para se relativizar, até porque a Convenção da Liga das Nações estabelecia sanções econômicas
e militares a serem impostas pela comunidade internacional, pelos demais países participantes, contra os
estados que violassem as obrigações assumidas a partir do momento em que assinassem a Convenção.

É bastante interessante observar que a partir da assinatura da Convenção da Liga das Nações, cada
estado se comprometia a garantir o respeito aos direitos humanos em seu território, mediante a adoção
de leis que efetivassem esses direitos. O Estado deveria respeitar os direitos humanos para prosseguir
com sua soberania porque, do contrário, seria punido pelos demais.

2.10.3 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a internacionalização dos


direitos humanos

A criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, com objetivo de promover justiça
social contribuiu decisivamente para que o debate sobre direitos humanos e sua aplicabilidade em todas
as áreas da vida humana fosse ampliado e efetivado. A missão da OIT desde sua criação foi “promover
oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em
condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade”.

A OIT foi criada pela Conferência de Paz, realizada após a Primeira Guerra Mundial, e se encontra
mencionada na parte XIII do Tratado de Versalhes.

Tratado de Versalhes foi o nome dado ao acordo internacional firmado entre várias nações e que
colocou fim aos conflitos da Primeira Guerra Mundial, fixando responsabilidades para a Alemanha, em
especial, suportar todos os prejuízos causados pela guerra. Em linhas gerais, o tratado apontava a Alemanha
como única responsável pelo conflito e por suas consequências materiais, em especial no tocante aos
aspectos econômicos. Evidentemente, isso fragilizou a economia alemã, que já havia sofrido muito com a
Primeira Guerra Mundial e criou as condições sociais, políticas e econômicas suficientes para que Hitler
ascendesse ao poder e levasse a Alemanha para os caminhos que resultaram na Segunda Guerra Mundial.

Saiba mais

O filme a seguir retrata o período histórico que antecedeu à subida de


Adolf Hitler ao poder na Alemanha:

HITLER: A Ascensão do Mal. Dir. Christian Duguay, 2003. 150 minutos.

É bastante interessante para podermos conhecer quais os mecanismos


políticos, sociais e econômicos que propiciaram a ascensão desse líder que
marcou de forma tão profundamente negativa a história da humanidade.

37
Unidade I

Figura 11 – Reunião das tropas de Hitler na Alemanha e saudação a Benito Mussolini na Itália, chamado de duce (líder) por seus apoiadores

A criação da OIT contribuiu muito para a divulgação dos direitos humanos em todo o mundo, porém
a maior consolidação desses direitos em caráter internacional ocorreu com a Segunda Guerra Mundial
e seus efeitos devastadores em termos de destruição e mortes. Foi preciso que essa grande tragédia
abalasse profundamente a humanidade, destruísse lares, famílias e nações para que os direitos humanos
pudessem ser tratados institucionalmente, com status de prioridade mundial, como é tratado até hoje.

Somente após a morte de 60 milhões de pessoas, algumas em condições de absoluta e total


desumanidade, como as vítimas dos campos de concentração, a humanidade despertou para a necessidade
de priorizar a efetividade dos direitos humanos como ponto de partida para todas as atividades do
século XX e seguintes. No trabalho, na família, na cultura, no lazer, no esporte e em qualquer área da
vida do ser humano ele precisa ser respeitado em seus direitos e em sua dignidade.

2.10.4 O Tribunal de Nuremberg e a aplicação de punição contra crimes contra a


humanidade, crimes de guerra e crimes contra a paz

O Tribunal de Nuremberg, que ocorreu durante os anos de 1945 e 1946, também contribuiu
decisivamente para a expansão do conhecimento sobre direitos humanos e, consequentemente, para
sua internacionalização.

Figura 12 – Tribunal de Nuremberg

38
DIREITOS HUMANOS

O chamado Acordo de Londres, firmado em 1945, criou as bases legais para a responsabilização que o
mundo desejava fazer sobre as práticas dos alemães durante a Segunda Guerra. Esse acordo determinou
a convocação de um tribunal militar internacional para julgar os chamados crimes de guerra, expressão
que em princípio parece contraditória por ser a guerra um crime violento. Porém, o que pretendiam
os países que assinaram o Acordo de Londres é que ficasse claro para o mundo que mesmo durante
uma guerra é preciso respeitar os direitos humanos de prisioneiros, combatentes e população civil, em
especial para que não sejam praticados atos de tortura, privação de alimentos e de condições mínimas
que garantam o respeito à dignidade humana.

Criaram o Acordo de Londres os seguintes países: Estados Unidos da América do Norte, Reino Unido,
Governo Provisório da República da França e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Aderiram ao
Acordo: Grécia, Dinamarca, Iugoslávia, Países Baixos, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Etiópia, Austrália,
Honduras, Noruega, Panamá, Luxemburgo, Haiti, Nova Zelândia, Índia, Venezuela, Uruguai e Paraguai.

Pelo Acordo de Londres, o Tribunal de Nuremberg estava capacitado para processar e punir as pessoas
que fossem apontadas como responsáveis pela prática de crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes
contra a humanidade, categorias que o acordo cuidou de definir adequadamente.

Assim, foram definidos:

• Crimes contra a paz: planejar, preparar, incitar ou contribuir para a guerra de agressão ou para
a guerra, em violação aos tratados e acordos internacionais, ou participar de plano comum ou
conspiração para a realização das referidas ações.

• Crimes de guerra: violar o direito e o direito costumeiro da guerra; tais violações devem incluir,
mas não serem limitadas a assassinato, tratamento cruel, deportação de populações civis que
estejam ou não em territórios ocupados, para trabalho escravo ou para qualquer outro propósito.
Também foram incluídos como crimes de guerra: assassinatos ou tratamento cruel de prisioneiros
de guerra ou de pessoas em alto-mar, assassinato de reféns, saques à propriedade pública ou
privada, destruição de vilas ou cidades e devastação injustificada por ordem militar.

• Crimes contra a humanidade: assassinar, exterminar, escravizar, deportar ou outro ato desumano
cometido contra a população civil, antes ou durante a guerra, ou perseguições baseadas em critérios
raciais, políticos e religiosos, para execução de crime ou em conexão com crime de jurisdição do
Tribunal, independentemente se em violação ou não de direito doméstico de determinado país em
que foi perpetrado.

O Tribunal de Nuremberg julgou, essencialmente, oficiais militares alemães e membros do partido


nazista, e as condenações foram duras. A instalação do Tribunal de Nuremberg, o julgamento e as
condenações que se seguiram foram objeto de muita polêmica e, até hoje, o tema suscita debates
acalorados. Parte dos estudiosos defende que o tribunal não foi isento, que os acusados já estavam
pré-condenados pela imprensa, em especial, a norte-americana. Também se discute sobre o fato de
terem sido julgados alemães e não os oficiais dos exércitos aliados como, por exemplo, Estados Unidos,
Inglaterra e União Soviética. Essas críticas levaram o Tribunal de Nuremberg a ser chamado de tribunal
39
Unidade I

dos vencedores contra os vencidos, o que, sem dúvida, é uma crítica bastante séria e pejorativa para
aqueles que tiveram a iniciativa de organizar esse julgamento.

Observação

As sentenças impostas pelo Tribunal Militar Internacional de Nuremberg


foram as seguintes:

Goering (morte), Hess (prisão perpétua), Ribbentrop (morte), Keitel


(morte), Kaltenbruner (morte), Rosemberg (morte), Frank (morte), Frick
(morte), Streicher (morte), Funk (prisão perpétua), Schirach (20 anos
de prisão), Schacht (absolvição), Donitz (10 anos de prisão), Raeder
(prisão perpétua), Sanckel (morte), Jodl (morte), Borman (morte), Papen
(absolvição), Seyss-Ingurart (morte), Speer (20 anos de prisão), Neurath
(15 anos de prisão) e Fritzche (absolvição) (PAULO FILHO, [s.d.]).

É importante lembrar, porém, que a discussão em torno do Tribunal de Nuremberg nos leva à reflexão
sobre a necessidade de práticas éticas até mesmo quando duas partes estão em confronto. Mesmo
em estado de guerra, os inimigos (países, aldeias, grupos religiosos ou raciais etc.) devem respeitar a
integridade física, moral e psicológica de seus prisioneiros, de forma a não praticarem atos de tortura ou
de barbárie que possam agredir a dignidade humana dos soldados ou da população civil.

Evidentemente que o maior desejo coletivo da humanidade é que os conflitos armados deixem de
existir tanto no plano interno de cada território, nação ou estado, como no plano internacional entre
diferentes grupos políticos ou países. Contudo, enquanto a guerra for uma possibilidade é preciso
que exista regramento ético para ela, de forma que não sejam praticados atos de violência além daqueles
estritamente necessários para as partes atingirem seus objetivos. Atos de violência contra a população
civil não podem ser tolerados, em especial ataques, estupros, invasão de casas, remoção dos lugares de
habitação para campos de prisioneiros, privação de alimentos, de água ou de abrigo, ou qualquer outra
forma de violência que possa ser praticada contra pessoas.

Por essas razões é que, apesar da estranha denominação de crimes de guerra, porque a guerra já
é um ato de violência comparável a um crime, é preciso compreender que tal ação foi um esforço para
tentar impedir que a violência seja ainda maior, ainda mais negativa para todos.

2.10.5 A criação da ONU

As primeiras ideias a respeito de um organismo internacional de direitos surgem em uma mensagem


que o então presidente norte-americano, Franklin Delano Roosevelt, encaminha em 6 de janeiro de
1941 para o congresso dos Estados Unidos. Também se atribui a criação da ONU a um documento
denominado Carta do Atlântico, assinada em 14 de agosto do mesmo ano pelo primeiro-ministro inglês
Winston Churchill e pelo presidente norte-americano Franklin Roosevelt.

40
DIREITOS HUMANOS

A ONU foi criada para contribuir para a construção de uma nova ordem internacional que tivesse
como modelo de conduta a prioridade para a paz e a segurança, para o desenvolvimento de relações
amistosas entre países e para a cooperação internacional nas áreas econômica, social e cultural. A ONU
foi criada para garantir a proteção internacional dos direitos humanos em todos os setores da vida no
planeta, inclusive na saúde, educação, proteção ambiental, o desenvolvimento científico e outros.

Na Carta do Atlântico, o presidente norte-americano e o primeiro-ministro inglês fixaram que


seus países estavam na Segunda Guerra Mundial para garantir o respeito ao direito de todos os povos
escolherem sua própria forma de governo e para lutar pela restauração da liberdade de cada povo se
autogovernar, direito do qual haviam sido privados em razão do uso da força pelo inimigo. Pela Carta do
Atlântico, Inglaterra e Estados Unidos se obrigavam a atuar para a colaboração mundial, para a melhora
das condições dos trabalhadores e para o progresso econômico dos países.

Na primeira Assembleia Geral das Nações Unidas, ocorrida em Londres no ano de 1946, ficou
acordado entre os países membros que a sede permanente da organização seria nos Estados Unidos,
mais precisamente na cidade de Nova York. Com a ajuda do governo federal norte-americano e do
município de Nova York, a sede da ONU foi instalada na ilha de Manhattan, local em que se encontra
até hoje. Nações Unidas, entretanto, começaram a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945.

Figura 13 – Foto da sede da ONU em Nova York, Estados Unidos

41
Unidade I

O Brasil foi um dos países que assinou a Carta das Nações Unidas e introduziu suas diretrizes no
ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto-lei nº 7.935. Ele aprovou a Carta das Nações Unidas
em 4 de setembro de 1945 pelo Decreto-lei nº 7.935. Por meio desse decreto-lei, as determinações
constantes da Carta das Nações Unidas passaram a fazer parte do ordenamento jurídico brasileiro e, em
consequência, devem ser respeitadas como se fossem uma lei brasileira.

Saiba mais

Consulte o site a seguir para conhecer na íntegra o Decreto-lei


nº 7.935, de 03 de setembro de 1945, que adota para o Brasil o texto
da Carta das Nações:

BRASIL. Decreto-lei nº 7.935, de 03 de setembro de 1945. Cartas das


Nações Unidas. Brasília, 1945. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/
legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-7935-3-setembro-1945-417286-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 7 jan. 2019.

2.10.6 Estrutura da ONU

A ONU é um organismo internacional formada por 193 Estados membros. Ela é constituída por seis
órgãos principais, que são:

• Assembleia Geral

• Conselho de Segurança

• Conselho Econômico e Social

• Conselho de Tutela

• Tribunal Internacional de Justiça

• Secretariado Geral

Saiba mais

A relação completa dos Estados membros pode ser encontrada site da


ONU, que está em português e pode ser consultado com muita facilidade:

NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL (ONUBR). Países membros da ONU.


ONUBR, [s.d.]k. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/conheca/paises-
membros/>. Acesso em: 24 nov. 2018.
42
DIREITOS HUMANOS

A sede do Tribunal Internacional de Justiça é na cidade de Haia, na Holanda. Os demais organismos


da ONU estão em Nova York, nos Estados Unidos.

A Assembleia Geral da ONU tem por função e objetivos:

A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão deliberativo da ONU. É lá


que todos os Estados membros da Organização (193 países) se reúnem
para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do
planeta. Na Assembleia Geral, todos os países têm direito a um voto, ou
seja, existe total igualdade entre todos seus membros.

Assuntos em pauta: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões


de orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas,
direitos humanos etc. As resoluções – votadas e aprovadas – da Assembleia
Geral funcionam como recomendações e não são obrigatórias.

Principais funções

Discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU;

Discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na


pauta do Conselho de Segurança;

Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos
jovens e das mulheres;

Discutir assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e


direitos humanos;

Decidir as contribuições dos Estados membros e como estas contribuições


devem ser gastas;

Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização (ONUBR, [s.d.]a).

O Conselho de Segurança da ONU tem por função:

O Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança


internacionais.

Ele é formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a


veto – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – e dez membros
não permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos.

Este é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros
das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho.
43
Unidade I

Principais funções

Manter a paz e a segurança internacional;

Determinar a criação, continuação e encerramento das Missões de Paz, de


acordo com os Capítulos VI, VII e VIII da Carta;

Investigar toda situação que possa vir a se transformar em um conflito


internacional;

Recomendar métodos de diálogo entre os países;

Elaborar planos de regulamentação de armamentos;

Determinar se existe uma ameaça para a paz;

Solicitar aos países que apliquem sanções econômicas e outras medidas


para impedir ou deter alguma agressão;

Recomendar o ingresso de novos membros na ONU;

Recomendar para a Assembleia Geral a eleição de um novo Secretário-Geral


(ONUBR, [s.d.]e).

O Conselho Econômico e Social da ONU tem por objetivos:

O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é o órgão coordenador do trabalho


econômico e social da ONU, das Agências Especializadas e das demais
instituições integrantes do Sistema das Nações Unidas.

O Conselho formula recomendações e inicia atividades relacionadas com


o desenvolvimento, comércio internacional, industrialização, recursos
naturais, direitos humanos, condição da mulher, população, ciência e
tecnologia, prevenção do crime, bem-estar social e muitas outras questões
econômicas e sociais.

Principais funções

Coordenar o trabalho econômico e social da ONU e das instituições e


organismos especializados do Sistema;

Colaborar com os programas da ONU;

Desenvolver pesquisas e relatórios sobre questões econômicas e sociais;

Promover o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais


(ONUBR, [s.d.]e).

44
DIREITOS HUMANOS

O Conselho de Tutela da ONU já não atua mais. Entenda por que:

Segundo a Carta da ONU, cabia ao Conselho de Tutela a supervisão da


administração dos territórios sob regime de tutela internacional. As principais
metas desse regime de tutela consistiam em promover o progresso dos
habitantes dos territórios e desenvolver condições para a progressiva
independência e estabelecimento de um governo próprio.

Os objetivos do Conselho de Tutela foram tão amplamente atingidos que os


territórios inicialmente sob esse regime – em sua maioria países da África
– alcançaram, ao longo dos últimos anos, sua independência. Tanto assim
que em 19 de novembro de 1994, o Conselho de Tutela suspendeu suas
atividades após quase meio século de luta em favor da autodeterminação
dos povos. A decisão foi tomada após o encerramento do acordo de tutela
sobre o território de Palau, no Pacífico. Palau, último território do mundo
que ainda era tutelado pela ONU, tornou-se então um Estado soberano,
membro das Nações Unidas (ONUBR, [s.d.]e).

O Tribunal Internacional de Justiça ou Corte Internacional de Justiça

A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), é o principal


órgão judiciário das Nações Unidas. Todos os países que fazem parte do
Estatuto da Corte – que é parte da Carta das Nações Unidas – podem
recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos, podem pedir pareceres à
Corte Internacional de Justiça.

Além disso, a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar


à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros
órgãos das Nações Unidas.

A Corte Internacional de Justiça se compõe de quinze juízes chamados


membros da Corte. São eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de
Segurança em escrutínios separados (ONUBR, [s.d.]b).

Por fim, a Assembleia Geral da ONU tem por objetivos e funções:

A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão deliberativo da ONU. É lá


que todos os Estados membros da Organização (193 países) se reúnem
para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do
planeta. Na Assembleia Geral, todos os países têm direito a um voto, ou
seja, existe total igualdade entre todos seus membros.

Assuntos em pauta: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões


de orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas,
45
Unidade I

direitos humanos etc. As resoluções – votadas e aprovadas – da Assembleia


Geral funcionam como recomendações e não são obrigatórias.

Principais funções

Discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU;

Discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na


pauta do Conselho de Segurança;

Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos
jovens e das mulheres;

Discutir assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e


direitos humanos;

Decidir as contribuições dos Estados membros e como estas contribuições


devem ser gastas;

Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização (ONUBR, [s.d.]a).

A ONU possui ainda órgãos específicos para tratar de assuntos como saúde, educação, infância entre
outros. Vamos conhecer alguns desses órgãos:

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO)

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lidera


os esforços internacionais de erradicação da fome e da insegurança alimentar.

Criada em 16 de outubro de 1945, a FAO atua como um fórum neutro, onde todos
os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, se reúnem em pé de igualdade
para negociar acordos, debater políticas e impulsionar iniciativas estratégicas.

Atualmente a FAO tem 191 países-membros, mais a Comunidade


Europeia. Nossa sede central é em Roma, Itália, e nossa rede mundial
compreende cinco escritórios regionais e 78 escritórios nacionais.

A FAO também é fonte de conhecimento e informação. Nós ajudamos os


países a aperfeiçoar e modernizar suas atividades agrícolas, florestais e
pesqueiras, para assegurar uma boa nutrição a todos e o desenvolvimento
agrícola e rural sustentável.

Desde sua fundação, a FAO tem dado atenção especial ao desenvolvimento


das áreas rurais, onde vivem 70% das populações de baixa renda, e que
ainda passam fome.
46
DIREITOS HUMANOS

Um compromisso

A FAO trabalha no combate à fome e à pobreza, promove o


desenvolvimento agrícola, a melhoria da nutrição, a busca da segurança
alimentar e o acesso de todas as pessoas, em todos os momentos, aos
alimentos necessários para uma vida ativa e saudável.

Reforça a agricultura e o desenvolvimento sustentável, como estratégia


a longo prazo para aumentar a produção e o acesso de todos aos
alimentos, ao mesmo tempo em que preserva os recursos naturais.

Linhas de ação da FAO

Assistência Técnica aos Países em Desenvolvimento e Cooperação


Sul-Sul: Apoia os países em desenvolvimento com a formulação e
execução de políticas e projetos de assistência técnica em apoio de
programas nas áreas agrícola, alimentar, de desenvolvimento rural,
florestal e pesqueira e para a cooperação Sul-Sul.

Informação ao alcance de todos: A FAO funciona como uma rede


de conhecimentos. Usamos a excelência de nosso staff – agrônomos,
engenheiros florestais e outros – para coletar, analisar e disseminar
informações. Também publicamos newsletters e livros, distribuímos revistas
e criamos material em mídia eletrônica.

Assessoramento aos governos: A FAO divide sua experiência com os


países membros prestando assessoria sobre política e planejamento agrícola,
desenvolvendo legislações e criando estratégias nacionais (ONUBR, [s.d.]d).

Organização Pan-Americana de Saúde e Organização Mundial de Saúde

A Organização Pan-Americana da Saúde é um organismo internacional


de saúde pública com um século de experiência, dedicado a melhorar as
condições de saúde dos países das Américas. A integração às Nações Unidas
acontece quando a entidade se torna o Escritório Regional para as Américas
da Organização Mundial da Saúde. A Opas/OMS também faz parte dos
sistemas da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização
das Nações Unidas (ONU).

A Organização exerce um papel fundamental na melhoria de políticas e


serviços públicos de saúde, por meio da transferência de tecnologia e da
difusão do conhecimento acumulado por meio de experiências produzidas
nos Países-Membros, um trabalho de cooperação internacional promovido
por técnicos e cientistas vinculados à Opas/OMS, especializados em
47
Unidade I

epidemiologia, saúde e ambiente, recursos humanos, comunicação, serviços,


controle de zoonoses, medicamentos e promoção da saúde.

Todo esse esforço é direcionado para alcançar metas comuns, como iniciativas
sanitárias multilaterais, traçadas pelos governos que fazem parte da Opas/OMS,
sempre com uma atenção especial aos grupos mais vulneráveis: mães e crianças,
trabalhadores, idosos, pobres, refugiados e desabrigados.

[...]

Trabalho

A promoção e apoio a campanhas para erradicação ou eliminação de doenças


transmissíveis, o esforço para deter epidemias como a de cólera, a cooperação
em situações de emergência e na coordenação de socorro em casos de desastres,
a promoção de estilos saudáveis de vida, a redução dos riscos de saúde
ocupacional, a capacitação de trabalhadores de saúde e o desenvolvimento de
programas de melhoria da saúde da mulher são algumas das frentes de trabalho
da Opas/OMS junto a governos e instituições dos Estados membros.

A melhoria das condições nutricionais, a redução da mortalidade e da


morbidade por doenças diarreicas e a provisão de água potável, saneamento
e proteção ambiental são outros importantes campos de colaboração da
organização com os diversos países.

A Opas/OMS executa projetos em conjunto com outros organismos do sistema


das Nações Unidas, como o Sistema Interamericano de Cooperação da OEA,
o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e também
diversos governos e fundações filantrópicas. Organizações comunitárias,
agências bilaterais, universidades, faculdades e escolas de saúde pública
também estão entre os parceiros da Opas/OMS, que possui um amplo programa
de publicações para difundir informações técnicas e científicas.

A Opas/OMS propõe e apoia campanhas para erradicar ou eliminar doenças


transmissíveis, a exemplo do que aconteceu com a varíola em 1973. Mais
tarde, em 1985, os países da América decidiram ter como missão erradicar a
poliomielite, meta que foi alcançada e ratificada em 1994.

A Organização coopera com os países nos preparativos para situações de


emergência e na coordenação de socorro em casos de desastres, bem como
no controle às doenças transmissíveis como malária, chagas, raiva urbana,
lepra e outras que afetam a população americana.

Um grande esforço é empreendido para deter epidemias como a de cólera,


através da elaboração de planos nacionais de emergência e de planos
regionais de investimentos em meio ambiente e saúde.
48
DIREITOS HUMANOS

A Opas/OMS trabalha para reduzir a mortalidade e a morbidade por


doenças diarreicas promovendo o atendimento aos casos e a reidratação
oral, divulgando também o diagnóstico adequado e o tratamento das
infecções respiratórias agudas.

Outro campo de colaboração com os países é relacionado com a provisão


de água potável, saneamento e proteção ambiental às comunidades
pobres, para reduzir as enfermidades associadas com a má qualidade da
água e deterioração do meio ambiente.

Os problemas nutricionais e a redução dos riscos de saúde ocupacional


na região também integram o trabalho de cooperação da Opas/OMS
com os países.

A Organização colabora para acelerar a promoção de estilos de vida


saudáveis, prevenindo os problemas de saúde típicos do desenvolvimento
e da urbanização, como as enfermidades cardiovasculares, câncer,
diabetes, acidentes de trânsito, fumo, drogas e alcoolismo. Ela utiliza
tecnologias modernas de comunicação e atividades de informação,
educação e promoção de saúde.

São desenvolvidos também programas destinados a melhorar a saúde da


mulher e sua integração à sociedade, assim como sua importância em relação
aos serviços de saúde como cliente e como provedora do atendimento.

A Organização cumpre a importante função de facilitar a capacitação


de trabalhadores de saúde por meio de bolsas, cursos, seminários e
fortalecimento de instituições docentes nacionais, e tem um programa de
publicações que difunde informações técnicas e científicas, além de uma
rede de bibliotecas acadêmicas, centros de documentação e bibliotecas
locais especializadas em saúde.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura


(Unesco) foi criada em 16 de novembro de 1945, logo após a Segunda
Guerra Mundial, com o objetivo de garantir a paz por meio da cooperação
intelectual entre as nações, acompanhando o desenvolvimento mundial e
auxiliando os Estados membros – hoje são 193 países – na busca de soluções
para os problemas que desafiam nossas sociedades.

É a agência das Nações Unidas que atua nas seguintes áreas de mandato:
Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura e
Comunicação e Informação.

49
Unidade I

A Representação da Unesco no Brasil foi estabelecida em 1964 e seu


Escritório, em Brasília, iniciou as atividades em 1972, tendo como prioridades
a defesa de uma educação de qualidade para todos e a promoção do
desenvolvimento humano e social.

Desenvolve projetos de cooperação técnica em parceria com o governo –


União, estados e municípios –, a sociedade civil e a iniciativa privada, além
de auxiliar na formulação de políticas públicas que estejam em sintonia com
as metas acordadas entre os Estados Membros da Organização.

Áreas de atuação

EDUCAÇÃO

No setor de Educação, a principal diretriz da Unesco é auxiliar os países


membros a atingir as metas de Educação para Todos, promovendo o acesso
e a qualidade da educação em todos os níveis e modalidades, incluindo a
educação de jovens e adultos. Para isso, a Organização desenvolve ações
direcionadas ao fortalecimento das capacidades nacionais, além de prover
acompanhamento técnico e apoio à implementação de políticas nacionais
de educação, tendo sempre como foco a relevância da educação como valor
estratégico para o desenvolvimento social e econômico dos países.

CIÊNCIAS NATURAIS

O Setor de Ciências Naturais da Unesco promove dois temas prioritários e


amplamente integradores do sistema das Nações Unidas: o desenvolvimento
científico e tecnológico, baseado em princípios éticos, capazes de induzir a
transformação social, a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.
Tais temas são implementados no Brasil a partir de um conjunto de convenções
internacionais, programas intergovernamentais e acordos de cooperação nas
áreas de formulação e implementação de políticas de ciência e tecnologia,
educação científica, avaliação e gestão dos recursos hídricos, educação ambiental
e consolidação de Reservas da Biosfera e Sítios do Patrimônio Mundiais.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

A área de Ciências Humanas e Sociais tem como principal missão expandir o


conhecimento e promover a cooperação intelectual para facilitar transformações
sociais alinhadas aos valores universais de justiça, liberdade e dignidade humana.

No Brasil, essa missão é implementada principalmente abordando os temas


de inclusão social, redução da pobreza e das desigualdades, juventude e
prevenção da violência, por meio de programas, projetos e parcerias com
50
DIREITOS HUMANOS

o governo federal, estados e municípios. Entre esses programas destacam-


se o Escola Aberta, que promove a abertura de escolas públicas nos finais
de semana, oferecendo atividades artísticas, culturais e esportivas a fim de
afastar os jovens da violência, e o Criança Esperança, projeto da Rede Globo
realizado em parceria com a Unesco.

CULTURA

Fundamento da identidade, da energia e das ideias criativas dos povos, a


cultura, em toda sua diversidade, é fator de desenvolvimento e coexistência
em todo o mundo. Nesse sentido, a Unesco elabora e promove a aplicação
de instrumentos normativos no âmbito cultural, além de desenvolver
atividades para a salvaguarda do patrimônio cultural, a proteção e o
estímulo à diversidade cultural, bem como o fomento ao pluralismo e ao
diálogo entre as culturas e civilizações.

No Brasil, a Unesco tem atuado em cooperação com as autoridades


e instituições nacionais em diversas iniciativas para a preservação do
patrimônio cultural, seja no apoio à preservação do Patrimônio Mundial e no
fortalecimento dos museus, bem como na salvaguarda do rico patrimônio
imaterial brasileiro. Também colabora para a proteção e a promoção da
diversidade cultural do país, em atividades de formação e elaboração de
políticas culturais nas áreas do artesanato, das indústrias culturais e do
turismo cultural, entre outras.

COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

O setor de Comunicação e Informação é orientado por três objetivos


principais: promover a liberdade de expressão e de imprensa, bem como o
direito à informação; estimular o desenvolvimento de meios de comunicação
livres, plurais e independentes, fortalecendo, assim, a diversidade, a proteção
dos direitos humanos e a boa governança; e sedimentar os pilares da
sociedade do conhecimento, sobretudo pelo acesso universal à informação,
com foco nas tecnologias de informação e comunicação (TICs).

No Brasil, as ações da Unesco nesta área priorizam projetos, programas e


debates centrados nas relações entre as TICs e a educação, fundamentalmente
nas áreas de avaliação de resultados e formação de professores; na garantia
do acesso universal às informações públicas, por meio do fortalecimento
da governança eletrônica, da política de arquivos e bibliotecas e da gestão
da informação; no alcance de um ecossistema midiático plural, com
profissionais capacitados e fortalecidos e com meios (antigos e novos)
capazes de solidificar a democracia brasileira (ONUBR, [s.d.]d).

51
Unidade I

O Fundo das Nações Unidas para a infância tem por objetivo e funções:

Assegurar que cada criança e cada adolescente tenha seus direitos humanos
integralmente cumpridos, respeitados e protegidos é a principal missão do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Criado em 1946 para ajudar a reconstruir os países mais afetados pela


Segunda Guerra Mundial, o Unicef passou a atuar em outras nações quatro
anos depois. Hoje, está presente em 191 países.

Em 1950, o Unicef chegou ao Brasil e, desde então, trabalha em parceria com


governos municipais, estaduais e federal, sociedade civil, grupos religiosos,
mídia, setor privado e outras organizações internacionais, incluindo agências
das Nações Unidas, para defender os direitos de meninas e meninos brasileiros.

No decorrer dessas décadas, o Unicef tem atuado junto com o País nas
conquistas alcançadas no campo dos direitos da infância. Esteve lado
a lado do Brasil na luta contra a poliomielite, que teve o último registro
de ocorrência em 1989; lutou junto com as mulheres para que lhes fosse
garantido o direito a amamentar seus filhos; ajudou o governo brasileiro a
criar o seu primeiro programa de merenda escolar; colaborou com a redução
das mortes por diarreia, com a promoção do uso do soro caseiro; e, nos
últimos anos, está apoiando o País a reduzir as disparidades regionais no
Semiárido, Amazônia e comunidades populares dos centros urbanos.

O Unicef uniu sua voz à dos brasileiros para a redação e aprovação do artigo
227 da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente –
que mudaram o marco legal dos direitos da infância no Brasil.

Esteve junto com o parlamento brasileiro, o governo e a sociedade para


a aprovação da Lei 9.534/97, que tornou gratuito o Registro Civil de
nascimento para todos os brasileiros.

O Unicef promoveu ainda ações pela aprovação da Emenda Constitucional


número 59, que tornou obrigatório o ensino dos 4 aos 17 anos e também
garantiu mais recursos para a educação. Vitórias importantes para a Educação
neste País, que contaram com o apoio do Unicef desde o começo das discussões.

Em todos esses anos de atuação, o Unicef acompanhou também


as modificações pelas quais o Brasil passou: de um país dependente de
tecnologia e de recursos para uma nação que enfrenta crises econômicas
e que se transforma em referência no mundo. De um país com pequena
participação social nas decisões públicas para um país que é exemplo de
democracia e de participação popular.
52
DIREITOS HUMANOS

Essas transformações mudaram a forma de cooperação entre o Unicef e


o governo brasileiro. Hoje, a atuação do Unicef busca contribuir para a
construção de políticas públicas que reduzam as disparidades; aproximar e
articular parcerias; desenvolver capacidades e difundir e divulgar tecnologias
sociais e boas práticas; e produzir e disseminar conhecimentos em centros
de pesquisas e universidades, fazendo com que os gestores e a sociedade
trabalhem por resultados concretos na vida das crianças e dos adolescentes.

Portanto, o Unicef cumpre seu papel com responsabilidade, garantindo a


transparência de suas ações e desenvolvendo seu programa baseado em
pesquisas e dados atualizados, que permitem conhecer a realidade das
crianças e dos adolescentes no País.

O Unicef tem ainda como prioridade promover a participação cidadã de


adolescentes em suas famílias, comunidades e nos espaços e políticas que
lhes dizem respeito, bem como ajudar no enfrentamento da discriminação
racial e étnica.

O Unicef mobiliza recursos e experiências de diferentes atores sociais para


ajudar a garantir os direitos das crianças e adolescentes. A organização
realiza, por exemplo, parcerias estratégicas com o setor corporativo,
contribuindo para colocar a causa da infância e da adolescência no “DNA”
das empresas.

Por meio de ações conjuntas com sociedade e governos, o Unicef atua com
compromisso e determinação para garantir uma vida melhor para cada
criança e cada adolescente no Brasil (ONUBR, [s.d.]l).

Existem, ainda, muitos outros órgãos da ONU. Entre eles, o Fundo Monetário Internacional
(FMI); o Banco Mundial; a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal); o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); o Fundo Internacional para o Desenvolvimento
da Agricultura (Fida); o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR); o Ato
Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH) e o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD).

Lembrete

O FMI e o Banco Mundial tiveram forte influência sobre a adoção de


políticas econômicas nas décadas de 1960, 1970 e 1980 no Brasil e em
outros países da América Latina. Pesquise esse importante assunto.

Além disso, a ONU criou agências para cuidados com políticas nas áreas de Meio Ambiente,
Mulheres e Habitat.
53
Unidade I

A ONU Meio Ambiente tem por responsabilidade:

A ONU Meio Ambiente, principal autoridade global em meio ambiente, é a


agência do Sistema das Nações Unidas (ONU) responsável por promover a
conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos no contexto do
desenvolvimento sustentável.

Estabelecida em 1972, a ONU Meio Ambiente tem entre seus principais objetivos
manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento;
alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e
recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população sem
comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras.

Com sede em Nairóbi, no Quênia, a ONU Meio Ambiente dispõe de uma


rede de escritórios regionais para apoiar instituições e processos de
governança ambiental e, por intermédio dessa rede, engaja uma ampla
gama de parceiros dos setores governamental, não governamental,
acadêmico e privado em torno de acordos ambientais multilaterais e de
programas e projetos de sustentabilidade.

Em 2004, a ONU Meio Ambiente inaugurou o escritório de Brasília, como


uma estratégia para reforçar suas atividades no país, tendo como objetivo
facilitar a identificação de prioridades e desenvolver iniciativas que atendam
especificidades sub-regionais e nacionais.

No Brasil, a ONU Meio Ambiente trabalha para disseminar, entre seus parceiros
e a sociedade em geral, informações sobre acordos ambientais, programas,
metodologias e conhecimentos em temas ambientais relevantes da agenda
global e regional e, por outro lado, para promover uma participação e
contribuição mais intensa de especialistas e instituições brasileiras em
fóruns, iniciativas e ações internacionais. A ONU Meio Ambiente opera
ainda em estreita coordenação com organismos regionais e sub-regionais
e cooperantes bilaterais, bem como com outras agências do Sistema ONU
instaladas no país.

Dentre as principais áreas temáticas de atuação da ONU Meio Ambiente no


período 2010-2011 estão as mudanças climáticas, a gestão de ecossistemas
e biodiversidade, o uso eficiente de recursos e o consumo e produção
sustentáveis e a governança ambiental. Nessas áreas, a ONU Meio Ambiente
procura contribuir para o diálogo entre os gestores públicos, atores da
sociedade civil, do setor privado e acadêmico, ao abordar temas como:

- Compilação e análise integrada de informações sobre o estado do meio


ambiente e os impactos de processos de desenvolvimento sobre os
54
DIREITOS HUMANOS

recursos naturais, com objetivo de produzir subsídios para tomadores


de decisão e apoiar a elaboração de políticas ambientais.

- Identificação e desenvolvimento de alternativas para minimizar


impactos negativos ao meio ambiente causados por padrões
insustentáveis de produção e consumo, enfocando, principalmente,
na eficiência de recursos.

- Assistência ao desenvolvimento de capacidade, de conhecimento


científico e transferência de tecnologias para fortalecer a
implementação de acordos ambientais multilaterais.

- Implementação de ações integradas e de cooperação sul-sul entre países


em desenvolvimento no âmbito de blocos regionais e sub-regionais.

- Promoção de parcerias para integrar o setor privado em uma nova


cultura de responsabilidade ambiental e criação de espaços para a
preparação e participação da sociedade civil e setores acadêmicos em
projetos de gestão ambiental e desenvolvimento sustentável.

A ONU Meio Ambiente Brasil atua em estreita colaboração com o Escritório


Regional para a América Latina e Caribe, baseado no Panamá, e mobiliza
recursos técnicos de suas diversas unidades especializadas localizadas em
Nairóbi, Paris, Genebra, Cambridge etc. (ONUBR, [s.d.]h).

A ONU Mulheres ou Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento
das Mulheres tem por objetivos e funções:

A ONU Mulheres é a nova liderança global em prol das mulheres e meninas.


A sua criação, em 2010, foi aplaudida no mundo todo e proporciona a
oportunidade histórica de um rápido progresso para as mulheres e as
sociedades. A ONU Mulheres trabalha com as premissas fundamentais de
que as mulheres e meninas ao redor do mundo têm o direito a uma vida livre
de discriminação, violência e pobreza, e de que a igualdade de gênero é um
requisito central para se alcançar o desenvolvimento.

Os Estados membros da ONU e os ativistas dos direitos das mulheres se uniram


para criar a ONU Mulheres. Eles reconheceram que tornar as questões de
gênero e igualdade reais nas vidas de mulheres e meninas demandava uma
organização com alcance mundial, além de uma experiência consolidada
e de consideráveis recursos. Por um tempo longo demais, as mulheres
foram forçadas a permanecer à margem nas questões de liderança política,
segurança em zonas de conflitos, proteção contra a violência e acesso aos
serviços públicos. Hoje, as mulheres precisam estar no centro das decisões
como líderes, defensoras e agentes de mudanças.

55
Unidade I

A ONU Mulheres está surgindo a partir de um forte embasamento, pela


fusão de quatro organizações da ONU com um sólido histórico de
experiência em pesquisa, programas e ativismo em quase todos os países.
Essas organizações incluem a Divisão da ONU pelo Avanço das Mulheres,
o Instituto Internacional de Pesquisa e Treinamento pelo Avanço das
Mulheres, o Escritório da Assessora Especial para Questões de Gênero e o
Avanço das Mulheres e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas
para as Mulheres.

A ONU Mulheres defende a participação equitativa das mulheres em todos


os aspectos da vida e enfoca cinco áreas prioritárias:

- Aumentar a liderança e a participação das mulheres;

- Eliminar a violência contra as mulheres e meninas;

- Engajar as mulheres em todos os aspectos dos processos de paz e


segurança;

- Aprimorar o empoderamento econômico das mulheres;

- Colocar a igualdade de gênero no centro do planejamento e dos


orçamentos de desenvolvimento nacional.

A ONU Mulheres apoia os Estados membros da ONU no estabelecimento de


padrões globais para alcançar a igualdade de gênero e trabalha junto aos
governos e à sociedade civil para formular leis, políticas, programas e serviços
necessários à implementação desses padrões. A ONU Mulheres coordena e
promove o trabalho do Sistema ONU no avanço da igualdade de gênero.

A ex-presidenta sul-africana Phumzile Mlambo-Ngcuka é a subsecretária-geral


e diretora executiva da ONU Mulheres. Ela traz ao seu cargo um histórico exemplar
como líder visionária e defensora da justiça social e dos direitos das mulheres
(ONUBR, [s.d.]i).

Por fim, temos a ONU-Habitat ou Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos:

O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos


(ONU-Habitat) estabeleceu-se em 1978, como resultado da Conferência
das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat I). Com sede
em Nairóbi, capital do Quênia, a organização é a Agência da ONU ponto
focal para a urbanização sustentável e os assentamentos humanos. Nosso
mandato é trabalhar em prol do desenvolvimento urbano social, econômico
e ambientalmente sustentável com o objetivo de proporcionar moradia
adequada para todas e todos.

56
DIREITOS HUMANOS

Como uma agência de cooperação técnica especializada do Sistema ONU, o


ONU-Habitat trabalha com todos os temas relacionados à vida nas cidades e
com todos os tipos de atores, como governos (federal, estadual e municipal),
universidades, ONGs e demais instituições do terceiro setor, setor privado etc.

Nossos principais projetos tratam dos seguintes assuntos:

- Planejamento e desenho urbano local e metropolitano

- Legislação urbana, solo e governança

- Economia urbana e finanças municipais

- Habitação e assentamentos precários/informais

- Serviços básicos urbanos (água, saneamento, energia, mobilidade urbana


e resíduos)

- Segurança urbana e espaços públicos

- Empoderamento de mulheres e jovens nas cidades

- Participação cidadã

- Desenvolvimento econômico local

- Mudanças climáticas e resiliência

- Gestão e redução de riscos de desastres e reabilitação

- Boas práticas

- Indicadores urbanos (Iniciativa de Prosperidade das Cidades e Observatórios


Urbanos)

• Pesquisa e desenvolvimento de capacidades

O ONU-Habitat participa ativamente das agendas globais, como por exemplo,


na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (A/RES/70/1), que é
um plano de ação para as pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e as
parcerias norteado pelo princípio de “não deixar ninguém para trás”.

Ainda parte desta agenda, que também possui 17 Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável (ODS), o ONU-Habitat está responsável pelo
57
Unidade I

ODS 11, conhecido como ODS Urbano, que busca “tornar as cidades e os
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”.

E, mais relacionada ao tema central do trabalho do ONU-Habitat, temos


a Nova Agenda Urbana (A/RES/71/256*), adotada em outubro de 2016,
na Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento
Urbano Sustentável, conhecida como Habitat III. Esta agenda é um
documento orientado para ação que definiu padrões globais para alcance
do desenvolvimento urbano sustentável, repensando a forma como
construímos, gerenciamos e vivemos nas cidades (ONUBR, [s.d.]g).

Saiba mais

Existem muitos outros programas da ONU, no mundo e no Brasil, que


podem ser pesquisados. Para conhecer vários outros aspectos do trabalho
da Organização das Nações Unidas (ONU) acesse a página:

<www.nacoesunidas.org>.

2.10.7 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 10 de dezembro de 1948, por aprovação
unânime de 48 Estados, com oito abstenções. É reconhecida como um código ou uma plataforma
comum de ação, para a qual não houve nenhum voto contrário e, portanto, deve ser cumprida por
todos os países signatários.

De acordo com o texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas, a única condição para ser titular dos direitos que ela especifica é ser pessoa, ou seja, ser um
ser humano. Esse requisito está expresso no artigo VI da Declaração Universal dos Direitos Humanos da
ONU, que textualmente afirma:

Artigo VI

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido


como pessoa perante a lei (ONU, 1948).

Essa determinação não é aleatória, ao contrário, é resultado porque o Direito, em vários países do
mundo, determina que somente podem ser sujeitos de direito aqueles que forem pessoas. Animais,
plantas e minerais não são sujeitos de direito, embora devam ser protegidos pela legislação como forma
de preservação da natureza. Somente as pessoas é que são titulares de direito e podem exigir que eles
sejam cumpridos em seu benefício.

58
DIREITOS HUMANOS

Ocorre que em vários momentos da história da humanidade a condição de pessoa foi subtraída de
alguns grupos sociais e, com isso, eles deixaram de ser titulares de direitos. Foi o que ocorreu com os
negros em vários países do mundo durante o período de escravidão. Eles não eram reconhecidos como
titulares de direitos, ou seja, não eram reconhecidos como pessoas e, por isso, foram tratados de maneira
degradante, como se fossem animais de carga.

A mesma situação ocorreu na Alemanha durante o período do holocausto nazista, porque os judeus,
entre outros grupos perseguidos pelos nazistas, deixaram de ser considerados legalmente como sujeitos
de direito e, por isso, foram submetidos aos atos mais degradantes e violentos, sempre com a justificativa
de que não eram possuidores de direitos porque eram judeus.

Em razão desses exemplos históricos, entre outros, a Organização das Nações Unidas deliberou
colocar expressamente no texto da Declaração Universal dos Direitos do Homem que todo ser humano
tem direito de ser reconhecido como pessoa, ou seja, como titular de direitos e, consequentemente,
de proteção do Estado. Esse direito se aplica a todas as pessoas em qualquer lugar do mundo em
que estejam e, se, por acaso, ocorrer novamente de um país pretender realizar uma perseguição contra
determinado grupo social, subtraindo dele o direito de ter direitos, caberá à ONU e a todos os países
que dela fazem parte exigir que o Estado que estiver agindo de forma contrária à Declaração Universal
dos Direitos Humanos volte atrás em sua decisão e reconheça os direitos daquele determinado grupo
social. Se o Estado não recuar em sua decisão, caberá à ONU e aos países membros efetivar sanções,
inclusive bloqueio comercial, ou seja, deixar de ter relações comerciais de compra e venda de produtos
com aquele país específico.

Desse conceito de que todo ser humano tem direito de ser reconhecido como pessoa, ou seja,
como titular de direitos, surgiu a expressão dignidade da pessoa humana, que nem sempre é bem
compreendida por aqueles que não estudam direitos humanos.

De fato, como compreender a expressão pessoa humana? Sem a devida explicação histórica e
jurídica, pode parecer que existem pessoas que não são humanas! Entretanto, na verdade, a expressão
pessoa humana é correta porque sabemos que a palavra pessoa está sendo utilizada no sentido jurídico,
ou seja, pessoa é todo sujeito de direitos que pode exigir a proteção do Estado para que esses
direitos sejam protegidos e efetivados.

Portanto, quando você encontrar a expressão pessoa humana saberá que está diante de um conceito
jurídico, construído historicamente em razão dos vários momentos da história da humanidade, em
que grupos de pessoas tiveram seus direitos usurpados e, consequentemente, foram vítimas de
inúmeras agressões.

A expressão dignidade da pessoa humana é tão simbólica e representativa da importância do


reconhecimento de direitos para todas as pessoas que foi adotada por várias Constituições Federais em
diferentes países após a Segunda Guerra Mundial, em especial pela Alemanha.

O artigo 1º da Constituição Federal alemã (ALEMANHA, 2011), aprovada em 23 de maio de 1949, na


cidade de Bonn, determina que:
59
Unidade I

Artigo 1 [Dignidade da pessoa humana – direitos humanos – Vinculação


jurídica dos direitos fundamentais]

(1) A dignidade da pessoa humana é intangível. Respeitá-la e protegê-la é


obrigação de todo o poder público.

(2) O povo alemão reconhece, por isto, os direitos invioláveis e inalienáveis


da pessoa humana como fundamento de toda comunidade humana, da paz
e da justiça no mundo.

(3) Os direitos fundamentais, discriminados a seguir, constituem direitos


diretamente aplicáveis e vinculam os poderes legislativo, executivo e judiciário.

No Brasil, a Constituição Federal aprovada em 05 de outubro de 1988, a primeira a vigorar no país


após o regime de ditadura militar ocorrido entre 1964 e 1985 e durante o qual os direitos das pessoas
foram duramente restringidos pelos governantes, determinou em seu artigo 1º, inciso III, que:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político (BRASIL, 1988).

Observe que, no Brasil, a dignidade da pessoa humana é um fundamento republicano, ou seja, toda
a ordem republicana formada pela independência e harmonia dos três poderes, legislativo, executivo e
judiciário, deve respeitar a dignidade da pessoa humana, porque ela se constitui em um dos alicerces da
República Federativa do Brasil. Nenhum poder da república poderá agir de forma a desconsiderar esse
fundamento, seja na elaboração de leis, decretos ou atos administrativos, seja na execução de projetos
ou políticas públicas, seja, por fim, no julgamento de ações judiciais em qualquer um dos tribunais
brasileiros. Todos os poderes republicanos e todos os agentes públicos têm obrigação de respeitar a
dignidade da pessoa humana, não podem agir de forma a desrespeitá-la, porque a lei mais importante
do país, a Constituição Federal, determina que esse respeito é um fundamento da existência da própria
República Federativa do Brasil.

Além de constar em constituições federais de vários países do mundo, a dignidade da pessoa humana
é um conceito presente em vários tratados e declarações de direitos humanos que foram aprovados ao
60
DIREITOS HUMANOS

longo da história da ONU e de outras instituições humanitárias internacionais e, por isso, esse conceito
é considerado parte integrante do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas divide os direitos
em duas categorias: os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais.
O objetivo foi conjugar o valor da liberdade (direitos civis e políticos) com o valor da igualdade
(direitos econômicos, sociais e culturais). O tratamento mais detalhado dos direitos civis e políticos e
dos direitos econômicos, sociais e culturais foram tratados posteriormente, em tratados específicos que
vão ser analisados por nós neste livro.

Antes de conhecermos o texto integral da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é importante
lembrar que todos os países que fazem parte integrante da ONU e que são chamados de Estados
membros têm a obrigação de respeitar os direitos proclamados na Declaração.

De fato, os países não se tornaram signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos por
mera liberalidade. Ao contrário, ao assinarem a sua participação na Declaração Universal dos Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas, os países se comprometeram a cumprir e fazer cumprir
aqueles direitos para todos os povos, por meio de mecanismos que garantam que todas as pessoas
devam ser respeitadas em seus direitos e, quando eles forem usurpados, possam ter onde reclamar e
exigir o devido respeito aos direitos.

Desse modo, a proibição à tortura, à escravidão, às prisões infundadas e sem provas de culpabilidade,
entre outras práticas de violência contra os direitos humanos, devem obrigatoriamente ser proibidas pelos
governos dos países signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos, como é o caso do Brasil.

2.10.8 O texto integral da Declaração Universal dos Direitos Humanos ou dos Direitos
do Homem da ONU

Reproduzimos aqui o texto integral da Declaração Universal dos Direitos do Homem, também chamada
comumente de Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse texto, elaborado pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e aprovado pelos países que pertencem ao grupo de Estados membros da ONU, é
de cumprimento obrigatório para eles. Trata-se, por isso, de um documento de grande importância, que
deve ser minuciosamente conhecido por todos os cidadãos brasileiros.

Leia atentamente:

Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos


resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e
61
Unidade I

que o advento de um mundo em que todos gozem de liberdade de palavra,


de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade
foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum;

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo


império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão;

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações


amistosas entre as nações. Considerando que os povos das Nações Unidas
reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais,
na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre
homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla;

Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em


cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades
humanas fundamentais e a observância desses direitos e liberdades;

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e


liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse
compromisso, agora, portanto, a Assembleia Geral proclama a presente
Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a
ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo
de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação,
por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de
medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar
o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto
entre os povos dos próprios Estados membros, quanto entre os povos
dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São


dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade (ONU, 1948).

Breve comentário: o artigo destaca que nenhuma condição de nascimento, de raça, ou de qualquer
outra categoria, nos priva do direito à liberdade e à igualdade e do respeito que todos merecemos por
nossas ideias e crenças (razão e consciência).

62
DIREITOS HUMANOS

Artigo II.

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades


estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja
de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza,
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política,


jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa,
quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo
próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Breve comentário: nenhuma condição é suficiente para nos subtrair direitos.

Artigo III.

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Breve comentário: vida, liberdade e segurança pessoal são direitos de todo ser humano, em qualquer
condição ou local de nascimento.

Artigo IV.

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico


de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Breve comentário: a escravidão é intolerável em qualquer parte da Terra. Nenhuma situação


justifica a escravidão ou o tráfico de escravos.

Artigo V.

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel,


desumano ou degradante.

Breve comentário: nada justifica a prática de tortura ou de tratamento cruel, desumano ou


degradante. Não há nenhum argumento que possa ser utilizado para justificar essas práticas.

Artigo VI.

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido


como pessoa perante a lei.

Breve comentário: toda pessoa é titular de direitos e nenhuma situação pode justificar que isso não
seja respeitado.
63
Unidade I

Artigo VII.

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a
igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento
a tal discriminação.

Breve comentário: nenhuma forma de discriminação pode ser praticada.

Artigo VIII.

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe
sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Breve comentário: os direitos fundamentais, como o próprio nome esclarece, são aqueles sem os
quais os homens não serão respeitados em sua dignidade. São o direito à vida, à liberdade, à segurança, à
liberdade de opinião e de expressão, direito de ser julgado por um tribunal imparcial e com possibilidade
de ampla defesa, entre outros. Todas as vezes que esses direitos forem usurpados, o ser humano terá
direito a utilizar os tribunais de seus país para exigir que a agressão contra os direitos fundamentais
deixe de ser praticada imediatamente.

Artigo IX.

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Breve comentário: nenhum ser humano pode ser preso ou colocado para fora de seu país de forma
arbitrária, ou seja, sem direito a julgamento por um tribunal imparcial e sem direito de apresentar defesa.

Artigo X.

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública
audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir
sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação
criminal contra ele.

Breve comentário: tribunal imparcial é aquele que garante a oportunidade do acusado apresentar
sua defesa e suas provas, com total liberdade para isso.

Artigo XI.

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser


presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo
com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas
as garantias necessárias à sua defesa.

64
DIREITOS HUMANOS

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no


momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional.
Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento
da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Breve comentário: referente ao item 1, ninguém pode ser considerado culpado antes de ser
julgado, ou seja, antes de apresentar sua defesa e as provas que referendam suas alegações. Referente
ao item 2, aquele que pratica um ato que não é considerado crime não pode ser julgado posteriormente
quando o ato passar a ser considerado criminoso. Retroagir é sempre um desrespeito às leis vigentes
na época em que os fatos ocorreram.

Artigo XII.

Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em


seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo
ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Breve comentário: a privacidade é um direito atribuído a todas as pessoas e deve ser protegida
e preservada.

Artigo XIII.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro


das fronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio,
e a este regressar.

Breve comentário: referente ao item 1, toda pessoa tem direito de escolher para onde quer ir e onde
quer residir. Referente ao item 2, toda pessoa tem direito de sair de seu país ou de qualquer outro, no
momento que quiser, e regressar quando quiser, sempre que cumpridas as leis existentes para isso.

Artigo XIV.

Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de


gozar asilo em outros países.

Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente


motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos
e princípios das Nações Unidas.

Breve comentário: toda pessoa que estiver sendo perseguida, por exemplo, por ser contrária a um
governo, pode pedir asilo (proteção) em outro país. Essa hipótese não se aplica quando a pessoa tiver
praticado um crime comum (homicídio ou estupro, por exemplo), ou quando tiver praticado um ato
contrário aos objetivos da ONU (tortura contra outras pessoas, por exemplo).
65
Unidade I

Artigo XV.

1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do


direito de mudar de nacionalidade.

Breve comentário: referente ao item 1, todas as pessoas que nascem em um país têm direito de
ter a nacionalidade daquele país ou a nacionalidade de seus pais. Referente ao item 2, todos as pessoas
têm direito de manter sua nacionalidade enquanto desejarem ou, de adotarem outra nacionalidade, se
assim desejarem. Nesse caso, deverão cumprir as regras do país cuja nacionalidade pretendem adotar.

Artigo XVI.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,


nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar
uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração
e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento


dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à


proteção da sociedade e do Estado.

Breve comentário: todas as pessoas podem se casar, mas ninguém pode ser obrigado a isso. A família
é essencial para a vida em sociedade e deve ser protegida pelo Estado.

Artigo XVI.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,


nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar
uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração
e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento


dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à


proteção da sociedade e do Estado.

Breve comentário: todas as pessoas podem se casar, mas ninguém pode ser obrigado a isso. A família
é essencial para a vida em sociedade e deve ser protegida pelo Estado.

66
DIREITOS HUMANOS

Artigo XVII.

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Breve comentário: a propriedade é um direito de todas as pessoas, individual ou de forma partilhada.


O direito de propriedade deverá ser protegido, para que ninguém seja impedido de exercer esse direito.

Artigo XVIII.

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e


religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática,
pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Breve comentário: a liberdade de pensamento e de expressão é essencial para garantir o pleno


exercício da dignidade humana.

Artigo XIX.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente
de fronteiras.

Breve comentário: ninguém poderá ser impedido de manifestar livremente sua opinião sobre
qualquer assunto que desejar e tão pouco poderá ser impedido de receber as informações que desejar.

Artigo XX.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Breve comentário: referente ao item 1, a liberdade de se reunir é um direito de todas as pessoas,


sempre que os objetivos sejam pacíficos, ainda que seja para criticar governos e governantes. Referente
ao item 2, ninguém pode ser obrigado a se associar se não desejar fazê-lo. Durante o nazismo muitas
pessoas foram obrigadas a se filiar ao Partido Nazista, como forma de se mostrarem favoráveis aos atos
de violência que eram praticados.

Artigo XXI.

1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
67
Unidade I

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do


seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade


será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por
voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Breve comentário: referente ao item 1, participar democraticamente do governo do país, por meio
de eleições, é um direito de todas as pessoas. Referente ao item 2, utilizar os serviços públicos, em
especial de saúde e educação, é um direito de todas as pessoas. Referente ao item 3, a vontade do povo
é soberana e todos os governos democráticos têm obrigação de respeitá-la.

Artigo XXII.

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança


social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional
e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento da sua personalidade.

Breve comentário: os direitos econômicos, sociais e culturais são reconhecidos como indispensáveis
para a concretização da dignidade da pessoa humana.

Artigo XXIII.

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a


condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração
por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência
compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário,
outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar


para proteção de seus interesses.

Breve comentário: referente ao item 1, o trabalho é o principal instrumento para uma vida digna,
por isso precisa ser protegido. Referente ao item 2, trabalho igual, salário igual, essa é a regra mais
justa. Referente ao item 3, a remuneração pelo trabalho deve ser justa, de forma que as pessoas possam
garantir sua subsistência e a de seus dependentes a partir do seu trabalho e de sua remuneração.
Referente ao item 4, a proteção dos direitos do trabalhador pode ser feita de forma individual ou
coletiva e, nesse caso, a atuação dos sindicatos são a melhor forma de proteção para os trabalhadores.
68
DIREITOS HUMANOS

Artigo XXIV.

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável
das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Breve comentário: toda pessoa tem direito ao repouso necessário para seu bem-estar físico e mental.

Artigo XXV.

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e


a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança
em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de
perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.


Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma
proteção social.

Breve comentário: referente ao item 1, padrão de vida é um conceito real e não abstrato. E nesse
conceito estão todos os elementos indispensáveis para que as pessoas tenham vida digna e segura.
Referente ao item 2, nas fases de maternidade e durante a infância, a vulnerabilidade é maior e, por isso,
os cuidados e proteção também precisam ser maiores.

Artigo XXVI.

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem
como a instrução superior está baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da


personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos
humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos
raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol
da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que


será ministrada a seus filhos.

Breve comentário: referente ao item 1, a educação nos graus elementares, ensino fundamental e
médio, deverá ser acessível a todos. Referente ao item 2, o ensino deverá garantir que todos tenham
formação humanista, ou seja, sejam preparados para interagir em sociedade com tolerância, amizade
69
Unidade I

e compreensão em relação uns aos outros, de forma a garantir a efetividade do respeito. Referente ao
item 3, os pais são os maiores responsáveis pela educação dos filhos e, por isso, devem ter liberdade para
escolher que tipo de instrução vão propiciar a eles.

Artigo XXVII.

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural


da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e
de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual
seja autor.

Breve comentário: referente ao item 1, as pessoas devem ter acesso à cultura, a arte e ao progresso
científico. Referente ao item 2, todas as obras científicas, literárias ou artísticas devem identificar seu
autor, que terá direito aos frutos econômicos de sua criação se assim desejar, ou poderá abrir mão desses
frutos se lhe parecer melhor.

Artigo XXVIII.

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que
os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser
plenamente realizados.

Breve comentário: os direitos previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU
devem ser concretizados.

Artigo XXIX.

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e
pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito


apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de
assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de
outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do
bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos


contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Breve comentário: referente ao item 1, todas as pessoas devem cumprir seus deveres sociais.
Referente ao item 2, nenhum direito é absoluto, porque os direitos das demais pessoas que vivem em
sociedade também deverão ser respeitadas. Referente ao item 3, nenhum direito poderá ser exercido

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DIREITOS HUMANOS

com objetivos que não sejam aqueles contemplados nos princípios da ONU, ou seja, direitos somente
poderão ser exercidos para o bem, de forma positiva para toda a sociedade.

Artigo XXX.

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o


reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer
qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de
quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos (ONU, 1948).

Breve comentário: os direitos e liberdades garantidos pela Declaração devem ser praticados de
forma mais ampla possível e protegidos pelos Estados.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem ou dos Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas é um dos mais importantes documentos de direitos da história da humanidade. Infelizmente,
em muitos países do mundo esses direitos ainda não são integralmente respeitados, como acontece no
Brasil, por exemplo, em que muitos desses direitos ainda não são concretizados em sua plenitude.

Lembrete

Pesquise na rede mundial de computadores alguns exemplos de notícias


sobre o desrespeito por parte do Estado brasileiro aos direitos humanos
contemplados na Declaração da ONU.

3 TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

Além da Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU, que estudamos no item anterior,
existem vários tratados internacionais que têm por objetivo proteger os direitos humanos de forma
mais específica.

Vamos conhecer alguns deles.

3.1 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional dos


Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

Os dois primeiros textos são chamados de pactos e têm por objetivo complementar a Declaração
Universal de Direitos Humanos da ONU, ambos criados em 1966.

A proposta inicial da Organização das Nações Unidas era a construção de uma Carta Internacional
de Direitos Humanos, composta de uma Declaração Universal e um Pacto Internacional, porém naquele
momento histórico pós-Segunda Guerra Mundial havia uma disputa entre Estados Unidos e União
Soviética, periodo chamado de Guerra Fria, que impediu que eles chegassem à mesma conclusão
sobre o que deveria constar da Declaração e do Pacto, em especial no tocante a direitos econômicos,
71
Unidade I

porque a União Soviética era contrária à defesa do direito à propriedade privada, porque no regime
comunista adotado por ela a propriedade deve pertencer ao Estado, e não aos particulares.

Assim, foram criados pactos específicos para Direitos Civis e Políticos e para Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais.

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos cuida dos direitos humanos relacionados
à liberdade individual, à proteção da pessoa contra a ingerência estatal em sua órbita privada e
à participação popular na gestão da sociedade. São os chamados direitos humanos liberais ou
liberdades públicas.

O Pacto se divide em seis partes:

• à autodeterminação dos povos e à livre disposição de seus recursos naturais e riquezas;

• ao compromisso dos Estados de garantir os direitos previstos e as hipóteses de derrogação de


certos direitos;

• aos direitos propriamente ditos;

• aos mecanismos de supervisão e controle, especialmente com a criação do Comitê de Direitos Humanos;

• às regras de integração com os dispositivos da Carta das Nações Unidas;

• às normas referentes à sua ratificação e entrada em vigor.

Dos artigos 6º a 27º o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos reitera e pormenoriza os
direitos encontrados nos artigos III a XXI da Declaração Universal dos Direitos do Homem, tais como:
direito à vida; direito a não ser submetido à tortura ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;
de não ser escravizado ou ser submetido à servidão; à liberdade e segurança pessoal, incluindo não ser
preso arbitrariamente; à igualdade perante a lei, entre outros.

O artigo 20 do Pacto merece especial destaque: proíbe a propaganda em favor da guerra, da apologia
ao ódio nacional, racial ou religioso, que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à
violência, não só por conteúdo específico, mas por prever não um direito da pessoa, mas uma limitação
a esses direitos, especialmente à liberdade de expressão. O artigo pode ser aplicado contra pessoas ou
grupo e contra o Estado.

O Pacto pode ser considerado um avanço em relação à Declaração de 1948 por prever o direito de a
criança ser protegida pela família, pela sociedade e pelo Estado; o direito das minorias étnicas, religiosas
ou linguísticas de terem sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e utilizar
sua própria língua.

72
DIREITOS HUMANOS

O Pacto cria, também, um “núcleo inderrogável” de direitos humanos, mesmo em momentos


de situações excepcionais que ameacem a existência da nação. São eles: direito à vida, à proibição
contra a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, a vedação da escravidão
ou servidão, a proibição da prisão por descumprimento de obrigação contratual, as garantias penais
da tipicidade, anterioridade, prévia fixação da pena na legislação e de seu abrandamento se norma
posterior assim dispuser, direito de reconhecimento da personalidade jurídica e as liberdades de
pensamento, consciência e religião.

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais está dividido em quatro partes:

• autodeterminação dos povos e livre disposição de seus recursos naturais e riquezas;

• compromisso dos Estados de implementar os direitos previstos;

• direitos propriamente ditos;

• mecanismo de supervisão por meio da apresentação de relatórios ao Conselho Econômico


e Social; normas referentes à sua ratificação e entrada em vigor.

Esse pacto tem por objetivo estabelecer sob a forma de direitos as condições sociais, econômicas
e culturais para a garantia de uma vida digna para cada pessoa, no âmbito do trabalho, das relações
sociais e culturais.

São considerados direitos econômicos aqueles relacionados à produção, distribuição e consumo


de riqueza, com objetivo especial de disciplinar as relações trabalhistas. Entre eles se destacam o
direito de escolha de trabalho, de condições justas e favoráveis para o trabalho com especial atenção
à remuneração que atenda às necessidades básicas do trabalhador e sua família, sem distinção entre
homens e mulheres quanto às condições de remuneração do trabalho, higiene e segurança, lazer e
descanso, promoção por critério de tempo, trabalho e capacidade.

É garantido o direito de fundar ou se associar a sindicato e fazer greve, segurança social, proteção da
família, das mães e das gestantes, vedação da mão de obra infantil e restrição do trabalho de crianças
e adolescentes.

No tocante aos direitos sociais e culturais, o Pacto se refere ao estabelecimento de um padrão de


vida adequado, incluindo a instrução e participação na vida cultural da comunidade, destacando-se a
proteção contra a fome, o direito à alimentação, vestimenta, moradia, educação, participação na vida
cultural e de usufruir do progresso científico, entre outras medidas.

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos foi adotado pela Resolução nº 2.200-A da Assembleia
Geral das Nações Unidas em 16 de dezembro de 1966. No Brasil ele foi aprovado pelo Decreto Legislativo
nº 226, de 12 de dezembro de 1991, e ratificado em 24 de janeiro de 1992. Entrou em vigor em 24 de
abril de 1992, promulgado pelo Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992.

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Unidade I

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi aprovado pelo Decreto
Legislativo nº 226, de 12 de dezembro de 1991, e assinado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992. Entrou
em vigor em 24 de fevereiro de 1992, promulgado pelo Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992.

É importante lembrar que no período de 1964 a 1985 o Brasil viveu sob regime de ditadura militar
e, por isso, os pactos criados pela ONU em 1966 só foram reconhecidos pelo Brasil e colocados em vigor
em nosso território em 1992, quando já havíamos retornado à democracia.

3.2 Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados

Em 1951 foi aprovada a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, também conhecida como
Convenção de Genebra.

Esse documento define o que é um refugiado e estabelece os direitos que os indivíduos nessas
condições possuem, em especial o direito de asilo e a responsabilidade das nações que concedem asilo
em relação àqueles aos quais foi concedido o direito.

O documento também estabelece as situações em que uma pessoa não pode pedir asilo, como, por
exemplo, no caso de fuga motivada pela prática de crime de guerra ou de crime comum, como
contrabando, por exemplo.

Nessa Convenção, refugiado é definido como

toda pessoa que em razão de fundados temores de perseguição devido à


sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou
opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos
ditos temores, não pode ou não quer fazer uso da proteção desse país ou,
não tendo uma nacionalidade e estando fora do país em que residia como
resultado daqueles eventos, não pode ou, em razão daqueles temores, não
quer regressar ao mesmo (ONU,1951).

Dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) informam que 68 milhões de pessoas
tiveram deslocamento forçado em 2017, em razão de guerras e outras formas de violência e
perseguições. O escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) foi
criado em 1950, com objetivo de ajudar milhões de europeus que após a Segunda Guerra não
tinham mais casa, porque haviam sido obrigados a fugir em razão da guerra ou haviam sido
desapossados de suas propriedades pelos governos totalitaristas.

Em sua página nas redes sociais, o ACNUR informa que:

Nas últimas décadas, os deslocamentos forçados atingiram níveis sem


precedência. Estatísticas recentes revelam que mais de 67 milhões
de pessoas no mundo deixaram seus locais de origem por causa de
conflitos, perseguições e graves violações de direitos humanos. Entre elas,
aproximadamente 22 milhões cruzaram uma fronteira internacional em
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DIREITOS HUMANOS

busca de proteção e foram reconhecidas como refugiadas. A população de


apátridas (pessoas sem vínculo formal com qualquer país) é estimada em
10 milhões de pessoas.

O ACNUR já auxiliou dezenas de milhões de pessoas a recomeçarem suas


vidas. Por seu trabalho humanitário, recebeu duas vezes o Prêmio Nobel da Paz
(1954 e 1981). Atualmente, a agência conta com quase 12 mil funcionários
e está presente em cerca de 130 países com mais de 460 escritórios. Por
meio de parcerias com centenas de organizações não governamentais, o
ACNUR presta assistência e proteção a mais de 67 milhões de homens,
mulheres e crianças.

O Estatuto dos Refugiados e o trabalho do ACNUR são verdadeiramente importantes no mundo em


que vivemos.

3.3 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação Racial

Em 21 de dezembro de 1965, a ONU aprovou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação Racial, que é uma convenção que tem por objetivo a erradicação do racismo.

Em seu preâmbulo, a Convenção afirma:

Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças


raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e
perigosa, e que não existe justificação para a discriminação racial, em teoria
ou na prática, em lugar algum.

Reafirmando que a discriminação entre os homens por motivo de raça, cor


ou origem étnica é um obstáculo às relações amistosas e pacíficas entre as
nações e é capaz de perturbar a paz e a segurança entre os povos e a harmonia
de pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo Estado.

Convencidos de que a existência de barreiras raciais repugna os ideais de


qualquer sociedade humana.

Alarmados por manifestações de discriminação racial ainda em evidência em


algumas áreas do mundo e por políticas de apartheid, segregação ou separação.

Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para eliminar rapidamente


a discriminação racial em todas as suas formas e manifestações, e a prevenir
e combater doutrinas e práticas racistas com o objetivo de promover o
entendimento entre as raças e construir uma comunidade internacional livre
de todas as formas de segregação racial e discriminação racial [...] (ONU, 1965).

75
Unidade I

Figura 14

A ONU instituiu o dia 21 de março como Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação
Racial. A data foi escolhida para homenagear as vítimas da tragédia ocorrida em 1960, na cidade
de Johanesburgo, na África do Sul, no episódio que ficou conhecido como Massacre de Shaperville.
Naquela data, cerca de vinte mil negros protestavam pacificamente contra a Lei do Passe, que os
obrigava a portar cartões de identificação especificando os locais por onde eles poderiam transitar na
cidade, quando foram agredidos por tropas do exército que dispararam contra a multidão, matando
69 pessoas e ferindo outras 186.

A ONU incentiva com essa data que todas as pessoas em todo o mundo protestem nesse dia contra
o racismo e a discriminação racial.

Saiba mais

Para saber mais sobre o Dia Internacional pela Eliminação da


Discriminação Racial acesse o site:

DUARTE, F. Dia Internacional da Luta contra a Discriminação Racial


completa 50 anos. Agência Brasil, 21 mar. 2016. Disponível em: <http://
www.ebc.com.br/cidadania/2016/03/dia-internacional-da-luta-contra-
discriminacao-racial-e-lembrado-hoje>. Acesso em: 8 jan. 2019.

3.4 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


contra a Mulher

Em 1979, a ONU aprovou a convenção que tem por objetivo eliminar a discriminação e assegurar a
igualdade entre homens e mulheres. No Brasil, essa Convenção foi promulgada pelo Decreto nº 4.377,
de 13 de setembro de 2002.

A Convenção prevê a adoção de ações afirmativas pelos Estados signatários, para que seja obtida a
igualdade de tratamento, bem como para compensação das desigualdades historicamente ocorridas ao
longo dos tempos.
76
DIREITOS HUMANOS

Em seu preâmbulo, a Convenção afirma:

Convencidos de que a participação máxima da mulher, em igualdade de


condições com o homem, em todos os campos, é indispensável para o
desenvolvimento pleno e completo de um país, o bem-estar do mundo e a
causa da paz,

Tendo presente a grande contribuição da mulher ao bem-estar da família e


ao desenvolvimento da sociedade, até agora não plenamente reconhecida,
a importância social da maternidade e a função dos pais na família e na
educação dos filhos, e conscientes de que o papel da mulher na procriação
não deve ser causa de discriminação, mas sim que a educação dos filhos
exige a responsabilidade compartilhada entre homens e mulheres e a
sociedade como um conjunto,

Reconhecendo que para alcançar a plena igualdade entre o homem e a


mulher é necessário modificar o papel tradicional tanto do homem como
da mulher na sociedade e na família,

Resolvidos a aplicar os princípios enunciados na Declaração sobre a


Eliminação da Discriminação contra a Mulher e, para isto, a adotar as
medidas necessárias a fim de suprimir essa discriminação em todas as suas
formas e manifestações.

De acordo com dados do governo brasileiro, no primeiro semestre de 2018, ocorreram 258 homicídios
de mulheres, 13.643 casos de violência física e 13.202 casos de violência psicológica, em sua maioria
violência praticada por maridos, namorados e ex-companheiros (ONU, 1979).

3.5 Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanas ou Degradantes

É a convenção da ONU que determina a proteção contra atos de tortura e outras formas de tratamento
cruel, desumano ou degradante. Além disso, trata do direito de uma pessoa não ser extraditada ou
expulsa para um Estado em que haja risco significativo de que ela venha a sofrer tortura ou tratamento
desumano ou degradante.

Essa Convecção foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991.

Em seu artigo 1º a Convenção define tortura:

Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” designa qualquer ato


pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma
77
Unidade I

terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar


ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado
em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos
são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de
funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos
que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sanções ou delas decorram (ONU, 1984).

No Brasil, a prática de tortura em delegacias e penitenciárias ainda é comum e, nem sempre


denunciada. Os esforços no combate a essa prática têm sido efetivados pelo governo, inclusive com
facilitação de denúncias, porém, ainda não conseguimos erradicar essa prática abominável e degradante.

3.6 Convenção sobre os Direitos da Criança

Foi criada pela ONU em 1989 e se constitui em um tratado internacional que torna a criança, definida
como todo menor de 18 anos, como sujeito de direitos, com especial proteção e absoluta prioridade.

No Brasil, a Convenção sobre os Direitos da Criança foi promulgada em 21 de novembro de 1990


pelo Decreto nº 99.710.

Na justificativa para a criação dessa Convenção, a ONU afirma:

Recordando que na Declaração Universal dos Direitos Humanos as Nações Unidas


proclamaram que a infância tem direito a cuidados e assistência especiais;

Convencidos de que a família, como grupo fundamental da sociedade


e ambiente natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus
membros, e em particular das crianças, deve receber a proteção e assistência
necessárias a fim de poder assumir plenamente suas responsabilidades
dentro da comunidade;

Reconhecendo que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento


de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de
felicidade, amor e compreensão;

Considerando que a criança deve estar plenamente preparada para uma


vida independente na sociedade e deve ser educada de acordo com os ideais
proclamados na Cartas das Nações Unidas, especialmente com espírito de
paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade;

Tendo em conta que a necessidade de proporcionar à criança uma proteção


especial foi enunciada na Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos
da Criança e na Declaração dos Direitos da Criança adotada pela Assembleia
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DIREITOS HUMANOS

Geral em 20 de novembro de 1959, e reconhecida na Declaração Universal


dos Direitos Humanos, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (em
particular nos Artigos 23 e 24), no Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais (em particular no Artigo 10) e nos estatutos e instrumentos
pertinentes das Agências Especializadas e das organizações internacionais que
se interessam pelo bem-estar da criança;

Tendo em conta que, conforme assinalado na Declaração dos Direitos da


Criança, “a criança, em virtude de sua falta de maturidade física e mental,
necessita proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal,
tanto antes quanto após seu nascimento”;

Lembrado o estabelecido na Declaração sobre os Princípios Sociais e


Jurídicos Relativos à Proteção e ao Bem-Estar das Crianças, especialmente
com Referência à Adoção e à Colocação em Lares de Adoção, nos Planos
Nacional e Internacional; as Regras Mínimas das Nações Unidas para a
Administração da Justiça Juvenil (Regras de Pequim); e a Declaração sobre
a Proteção da Mulher e da Criança em Situações de Emergência ou de
Conflito Armado;

Reconhecendo que em todos os países do mundo existem crianças vivendo


sob condições excepcionalmente difíceis e que essas crianças necessitam
consideração especial;

Tomando em devida conta a importância das tradições e dos valores culturais


de cada povo para a proteção e o desenvolvimento harmonioso da criança;

Reconhecendo a importância da cooperação internacional para a melhoria


das condições de vida das crianças em todos os países, especialmente nos
países em desenvolvimento [...] (BRASIL, 1990a).

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) está presente no Brasil desde 1950 e, além do
Brasil ser signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, adotou em 1990 a Lei nº 8.069,
conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Estatuto da Criança e do Adolescente define criança como a pessoa até 12 anos e adolescente,
aquela entre 12 e 18 anos. Determina, ainda, que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a lei,
assegurando-lhes todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade.

Determina o Estatuto da Criança e do Adolescente que é dever da família, da comunidade, da


sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura,

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Unidade I

à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária. A garantia de prioridade


compreende a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; precedência de
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; preferência na fórmula e na execução das
políticas sociais públicas e destinação privilegiada de recursos nas áreas relacionadas com a proteção à
infância e juventude (BRASIL, 1990b).

4 SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Para garantia da efetividade da proteção dos direitos humanos foram criados, além da Organização
das Nações Unidas, sistemas regionais de proteção nos diferentes continentes da Terra. Assim, além do
sistema global de proteção dos direitos humanos realizado pela ONU, existem outros organismos oficiais
que cumprem essa mesma tarefa no âmbito de suas regiões.

Para as três Américas, do Norte, do Sul e Central, foi criado o Sistema Interamericano de Direitos
Humanos, em 30 de abril de 1948, durante a realização da IX Conferência Internacional Americana,
realizada em Bogotá e da qual resultou a assinatura da chamada Carta da OEA, que entrou em vigor em
dezembro de 1951.

No portal da Organização dos Estados Americanos consta expressamente que:

A Organização foi criada para alcançar nos Estados membros, como estipula
o Artigo 1º da Carta, “uma ordem de paz e de justiça, para promover sua
solidariedade, intensificar sua colaboração e defender sua soberania, sua
integridade territorial e sua independência”.

Hoje, a OEA congrega os 35 Estados independentes das Américas e constitui


o principal fórum governamental político, jurídico e social do Hemisfério.
Além disso, a Organização concedeu o estatuto de observador permanente
a 69 Estados e à União Europeia (EU).

Para atingir seus objetivos mais importantes, a OEA baseia-se em seus


principais pilares, que são a democracia, os direitos humanos, a segurança e
o desenvolvimento (OEA, [s.d.]).

A Organização dos Estados Americanos (OEA) é composta de sua Assembleia Geral, órgão mais
importante e deliberativo que se reúne uma vez por ano, ou extraordinariamente, quando necessário.
Além disso, também existe a Reunião de Consulta aos Ministros das Relações Exteriores, para resolver
problemas de caráter urgente e de interesse comum dos Estados Membros; os Conselhos Permanente e o
Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral; a Comissão Jurídica Interamericana; a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos; a Secretaria Geral; as Conferências Especializadas; os Organismos
Especializados e outras entidades criadas pela Assembleia Geral.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) foi criada na quinta Reunião de Consulta dos
Ministros das Relações Exteriores, realizada em Santiago, no Chile, em 1959. Foi instalada oficialmente
80
DIREITOS HUMANOS

em 1960, quando seu estatuto foi aprovado pelo Conselho da Organização. A Comissão Interamericana
de Direitos humanos é um órgão do Sistema Interamericano e sua finalidade específica é a promoção
e proteção dos direitos humanos. Ela é constituída por sete membros que exercem suas funções por
um período de quatro anos, podendo ser reeleitos uma única vez; a eleição é feita pelos membros da
Assembleia Geral.

No sistema interamericano o instrumento de maior importância é a Convenção Americana de


Direitos Humanos. Ela foi assinada em San José, na Costa Rica, em 1969, e entrou em vigor em
1978. Somente Estados membros da Organização dos Estados Americanos têm o direito de aderir à
Convenção Americana.

O Brasil foi um dos estados que mais tardiamente aderiram à Convenção, em 25 de setembro de
1992, após o fim do regime militar, que havia se encerrado em 1985.

Observação

Os principais direitos protegidos na Convenção Americana são: direito à


personalidade jurídica, direito à vida, direito de não ser submetido à escravidão,
direito à liberdade, direito a um julgamento justo, direito à compensação em
caso de erro judiciário, direito à privacidade, direito à liberdade de consciência e
religião, direito à liberdade de pensamento e expressão, direito à resposta,
direito à liberdade de associação, direito ao nome, direito à nacionalidade, direito
à liberdade de movimento e residência, direito de participar do governo,
direito à igualdade perante a lei e o direito à proteção judicial.

A Convenção Americana determina aos Estados que alcancem, progressivamente, a plena


realização destes direitos mediante a adoção de medidas legislativas e de outras medidas que
sejam apropriadas. Em 1988, a Assembleia Geral dos Estados Americanos adotou um protocolo
adicional à Convenção, tratando de direitos sociais, econômicos e culturais, e que ficou conhecido
como Protocolo de San Salvador.

Esse protocolo foi elaborado a partir da constatação de que existe estreita relação entre a vigência
dos direitos econômicos, sociais e culturais e os direitos civis e políticos. Na verdade, as diferentes
categorias de direitos constituem um todo indissolúvel, que se fundamenta na dignidade da pessoa
humana que, para ser concretizada integralmente, exige tutela e promoção permanentes sem que se
possa justificar a violação de uns, sob pretexto de realizar outros.

As principais previsões do Protocolo de San Salvador são:

• Obrigação de adotar medidas (para garantir a plena efetividade do protocolo); adotar disposições
de direito interno (para tornar efetivos os direitos, caso não sejam garantidos no plano nacional
– constituição de cada estado membro); obrigação de não discriminação; não admissão de
restrições; alcance das restrições e limitações (preservar o bem-estar geral); direito ao trabalho;
81
Unidade I

condições justas, equitativas e satisfatórias de trabalho; direitos sindicais; direito à previdência


social; direito à saúde; direito a um meio ambiente sadio.

• Direito à alimentação; direito à educação; direito aos benefícios da cultura; direito à


constituição e proteção à família; direito da criança; proteção à pessoa idosa; proteção de
deficientes; meios de proteção (obrigatoriedade de apresentação de relatórios periódicos
sobre as medidas de implantação).

• Reservas (os Estados poderão adotar reservas sobre uma ou mais disposições específicas, desde
que não sejam incompatíveis com os fins e objetivos do Protocolo); incorporação de outros direitos
e ampliação dos reconhecidos (os Estados membro poderão sugerir outros direitos e liberdades a
serem incorporados ao Protocolo) (CIDH, 1988).

A competência da comissão alcança todos os Estados membros da OEA. A Comissão Interamericana


tem por principais funções:

• Observância e proteção dos direitos humanos na América, podendo recomendar aos governantes
dos Estados membros a adoção de medidas adequadas à proteção destes direitos.

• Preparar estudos e relatórios que se mostrem necessários.

• Requisitar aos governos informações relativas às medidas por eles adotadas concernentes à
efetiva aplicação da Convenção.

• Submeter um relatório anual à Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos.

• Examinar as petições encaminhadas por indivíduos ou grupos de indivíduos, ou ainda por entidades
não governamentais que contenham denúncias de violação a direito protegido pela Convenção
por Estado que dela seja parte.

O Estado, ao se tornar parte da Convenção, aceita automaticamente e, obrigatoriamente, a


competência da Comissão para examinar petições individuais, não sendo necessário a elaboração de
qualquer declaração expressa e específica para esse fim.

A petição individual apresentada por pessoa que tenha tido seus direitos humanos violados deverá
atender alguns requisitos prévios, como o comprovado esgotamento dos recursos disponíveis no país
em que ocorreu a violação. Somente em caso de injustificada demora processual, ou, no caso em que a
legislação do país não prevê a existência de processo judicial para aquele tipo de agressão aos direitos
humanos, é que se aceitará a petição individual antes de esgotadas todas as possibilidades de reclamação
no próprio país.

Além disso, a pessoa que apresenta uma petição inicial sobre direito violado deverá comprovar que
não existe outra pendência internacional sobre o mesmo fato.

82
DIREITOS HUMANOS

Estando cumpridos os requisitos, a petição individual é aceita e a comissão solicita informações


ao governo denunciado. Recebidas as informações do governo ou decorrido prazo sem que as tenha
recebido, a Comissão verifica se existem ou subsistem os motivos de petição. Se não existirem mais, a
petição individual será arquivada e se existirem, a Comissão procederá ao exame do assunto, realizando
investigação dos fatos, se necessário.

Após o exame dos fatos, a Comissão deverá obter solução amistosa entre as partes. Se conseguir,
será elaborado um informe que será transmitido ao peticionário e aos Estados partes da Convenção para
depois ser comunicado para a Secretaria da OEA.

Esse informe deverá conter breve exposição dos fatos e a solução concretizada. Se não for alcançada
solução amistosa a Comissão redigirá um Relatório, no qual apresentará os fatos e as conclusões e,
eventualmente, recomendações para o Estado membro. Esse relatório tem caráter mandatório e indica
se o Estado referido violou ou não a Convenção Americana.

O Estado membro terá o prazo de três meses para cumprir as recomendações. Durante esse
período, o caso poder ser solucionado pelas partes ou encaminhado para a Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Então, se o caso não for solucionado nem encaminhado à Corte, a Comissão fará as
recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe
competem para solucionar a situação. Vencido o prazo, a Comissão decidirá por maioria absoluta de
votos de seus membros se as medidas recomendadas foram adotadas pelo Estado e publicará o informe
no relatório anual de atividades.

Apenas a Comissão e os Estados membros podem submeter um caso à Corte Interamericana, que é
órgão jurisdicional do sistema regional; o indivíduo não tem legitimidade para ir diretamente com seu
caso à Corte. A questão só pode ser submetida à Corte Interamericana se o Estado parte reconhecer,
mediante declaração expressa e específica, a competência da Corte no tocante à interpretação e aplicação
da Convenção, embora qualquer Estado parte possa aceitar a jurisdição da Corte para um determinado
caso. O Brasil reconheceu a competência jurisdicional da Corte Interamericana em dezembro de 1998,
por meio do Decreto Legislativo 89, de 03 de dezembro de 1998.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é composta de sete juízes nacionais de Estados membros,
eleitos por estes, e tem competência consultiva e contenciosa. No plano consultivo qualquer membro
da OEA pode solicitar o parecer da Corte relativamente à interpretação da Convenção ou de qualquer
outro tratado relativo à proteção dos direitos humanos nos estados americanos. No plano contencioso a
Corte tem jurisdição para examinar casos que envolvam a denúncia de que um Estado parte violou direito
protegido pela Convenção. Se reconhecer que efetivamente ocorreu a violação à Convenção, determinará
que sejam adotadas medidas necessárias para restauração do direito então violado.

A Corte poderá, ainda, condenar o Estado a pagar uma justa compensação à vítima. A decisão da
Corte tem força jurídica vinculante e obrigatória e cabe ao Estado seu imediato cumprimento. Nos casos
em que a Corte fixar uma compensação à vítima, a decisão valerá como título executivo.

O sistema interamericano é um importante instrumento de proteção dos direitos humanos quando


as instituições nacionais falham.
83
Unidade I

Observação

O Caso Maria da Penha na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Em 1983, a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes sofreu


dupla tentativa de homicídio por parte de seu então marido dentro de
sua casa, em Fortaleza, Ceará. O agressor, Marco Antonio Heredia Viveiros,
colombiano naturalizado brasileiro, economista e professor universitário,
atirou contra suas costas enquanto ela dormia, causando-lhe paraplegia
irreversível. Posteriormente, tentou eletrocutá-la no banho. Passados mais
de 15 anos do crime, apesar de haver duas condenações pelo Tribunal do
Júri do Ceará (1991 e 1996), ainda não havia uma decisão definitiva no
processo e o agressor permanecia em liberdade, razão pela qual Maria da
Penha, o Cejil-Brasil (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) e o
CLADEM-Brasil (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos
Direitos da Mulher) enviaram o caso à CIDH/OEA (Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos). Em 2001,
a CIDH responsabilizou o Estado brasileiro por omissão, negligência e
tolerância. Considerou que nesse caso se davam as condições de violência
doméstica e de tolerância pelo Estado definidas na Convenção de Belém
do Pará.

Resumo

A proteção dos direitos humanos no Brasil e no mundo não ocorre de


forma isolada, mas sim integrada a um sistema nacional e internacional,
com instrumentos eficientes para garantir que todos sejam protegidos.

Existem pelo menos três teorias que fundamentam os direitos humanos:


a teoria jusnaturalista, a teoria positivista e a teoria moralista.

As definições sobre direitos humanos são muitas, mas podemos entender


como o conjunto de prerrogativas e garantias inerentes aos homens protege
sua dignidade. Dignidade humana, no Brasil, está no topo do sistema
constitucional, prevista como fundamento republicano e, por consequência,
fundamento de todos os outros direitos de proteção ao ser humano.

Os direitos humanos têm algumas características essenciais: universalidade,


indivisibilidade, interdependência, imprescritibilidade, inalienabilidade,
irrenunciabilidade, efetividade, inviolabilidade, complementaridade e vedação
do retrocesso.

84
DIREITOS HUMANOS

Eles podem ser estudados por diferentes dimensões ou gerações, que


correspondem às épocas históricas em que determinados direitos foram
reconhecidos como direitos humanos. Os estudiosos dividem em pelo
menos cinco dimensões ou gerações: os direitos civis e políticos; os direitos
econômicos, sociais e culturais; os direitos de fraternidade e solidariedade;
os direitos dos povos e o direito à paz permanente.

A trajetória histórica dos direitos humanos tem como ponto marcante a


criação da ONU, em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial. A ONU se
estrutura tendo como órgãos fundamentais a Assembleia Geral, o Conselho
de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o
Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado Geral.

A ONU possui vários órgãos para tratar de assuntos específicos, como a


Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO);
a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Organização Mundial
de Saúde (OMS); a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência
e Cultura (Unesco); o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),
entre outros.

O principal documento de direitos humanos é a Declaração Universal


dos Direitos Humanos da ONU, de 1948, que possui trinta artigos. Depois
dela, os dois documentos mais importantes são o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais.

Existem, ainda, documentos legais específicos para proteção de


refugiados, mulheres, contra a prática de tortura, proteção de crianças,
entre outros.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) é o principal órgão de


proteção dos direitos humanos nas três Américas.

85
Unidade II

Unidade II
5 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E A PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

5.1 Introdução histórica

A Constituição Federal brasileira foi outorgada em 05 de outubro de 1988, ou seja, foi entregue
pela Assembleia Nacional Constituinte para todo o povo brasileiro e entrou em vigor nessa data, em
cerimônia realizada em Brasília, Distrito Federal, e presidida pelo Deputado Federal Ulysses Guimarães,
que foi, também, o presidente da Constituinte.

Figura 15

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a ser aprovada no País após o encerramento da ditadura
militar, que vigorou de 1964 a 1985. Foi um período de ausência completa de respeito aos direitos dos
cidadãos, que ficaram impedidos de manifestar livremente suas opiniões, de se associar livremente a
partidos ou organizações contrárias ao governo militar, de se reunir para discutir assuntos políticos e até
de invocar direitos como o habeas corpus (instrumento jurídico para obter a liberdade quando a prisão
for ilegal), entre outros.

86
DIREITOS HUMANOS

Durante quase todo o período do regime de ditadura militar vigorou o Ato Institucional nº 05, aprovado
em 13 de dezembro de 1968, e muito conhecido pela sigla AI-5. Esse ato institucional federal, que tinha
validade em todo o País, determinava suspensão de muitos direitos, como vamos analisar agora.

Leia atentamente o artigo 5º do Ato Institucional nº 05, de 13 de dezembro de 1968, transcrito a seguir:

Art. 5º A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa,
simultaneamente, em:

I – cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

II – suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

III – proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

IV – aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:

a) liberdade vigiada;

b) proibição de frequentar determinados lugares;

c) domicílio determinado,

§ 1º O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar


restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros
direitos públicos ou privados (BRASIL, 1968).

O artigo 5º tratava de expressa previsão de suspensão de direitos políticos dos cidadãos, ou seja,
de supressão de direitos que naquele momento eram contemplados na Constituição Federal do País,
lei máxima cuja primazia no ordenamento jurídico era incontestável e que, no entanto, estava sendo
colocada em plano secundário para que as determinações do governo militar por meio do AI-5 fossem
mais importantes. Além da total inversão de supremacia da lei, estava sendo contrariada a liberdade
dos cidadãos de circular, frequentar lugares que desejassem, de escolher o domicílio em que quisessem
residir, participar da vida política do país com liberdade de expressão, entre outros. Como se pode
perceber, os direitos civis e políticos foram fortemente agredidos por esse ato institucional.

O artigo 6º do AI-5 também é bastante interessante para análise:

Art. 6º Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de:


vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em
funções por prazo certo.

§ 1º O Presidente da República poderá, mediante decreto, demitir, remover,


aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas
87
Unidade II

neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou


sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar
militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os
vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço (BRASIL, 1968).

As garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade são, tradicionalmente, no ordenamento


jurídico brasileiro, atribuídas aos magistrados para que eles tenham ampla segurança e liberdade para
proferir suas decisões. De fato, qual magistrado se sentirá realmente livre e seguro para proferir uma
decisão contra interesses de grupos políticos ou econômicos se estiver ameaçado de ter sua estabilidade
profissional atingida, ou se estiver ameaçado de ser removido da comarca em que se encontra para
outra, muito distante e, por vezes, perigosa para o exercício da atividade de magistrado? E, ainda, que
magistrado se sentirá seguro para proferir uma decisão se estiver sob ameaça de perder a vitaliciedade
do cargo, conquista por meio de concurso público ao qual ele se submeteu e foi aprovado?

Essas três garantias não são outorgadas pela Constituição Federal em prol da pessoa, mas sim do
cargo. Elas garantem que o magistrado no exercício de seu trabalho possa tomar todas as decisões
legais necessárias, mesmo aquelas que contrariem interesses de poderosos, porque os magistrados são
protegidos contra qualquer tipo de vingança que possa afetar a liberdade e a estabilidade de seu cargo.
Pois bem, o AI-5 de 1968 acabou com essas garantias dos magistrados, o que demonstra claramente o
arbítrio com que se conduziram aqueles que criaram e implementaram essa lei.

Com base no parágrafo 1º do artigo 6º do AI-5, foram aposentados compulsoriamente muitos


professores de universidades públicas em todo o País, muitos dos quais eram jovens e poderiam ter
trabalhado por muitos anos em benefício do conhecimento, da pesquisa e da cultura no Brasil, mas
em razão da determinação arbitrária do ato institucional deixaram de contribuir para a formação do
conhecimento científico e para a produção cultural do país.

O jornal Folha de São Paulo notícia que:

Em 30 de dezembro saiu a primeira lista de cassações, com 11


deputados federais, dentre eles Márcio Moreira Alves (MDB-RJ),
Hermano Alves (MDB-RJ) e Renato Archer (MDB-MA). A segunda lista,
de 19 de janeiro de 1969, incluiu dois senadores Aarão Steinbruck e
João Abraão, 35 deputados federais, três ministros do STF (Supremo
Tribunal Federal) – Hermes Lima, Vítor Nunes Leal e Evandro Lins
e Silva – e um ministro do STM (Superior Tribunal Militar) Peri
Constant Bevilacqua, que, segundo escreveu o porta-voz de Costa
e Silva, Carlos Chagas, era acusado de “dar habeas corpus demais”.
Três meses desde a edição do AI-5, encarregados dos inquéritos
políticos passaram a poder prender quaisquer cidadãos por 60 dias, dez
dos quais deveriam permanecer incomunicáveis. “Em termos práticos,
esses prazos destinavam-se a favorecer o trabalho dos torturadores”,
conta Elio Gaspari no livro “A Ditadura Envergonhada”. Sessenta e seis
professores foram expulsos das universidades, dentre eles Fernando
88
DIREITOS HUMANOS

Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior. Emissoras de


televisão e de rádio e redações de jornais foram ocupadas por censores.
Artistas como Marília Pêra, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram apenas
os primeiros a conhecer as carceragens da polícia política.

Ao todo, 333 políticos têm seus direitos políticos suspensos em 1969 (dos
quais 78 deputados federais, cinco senadores, 151 deputados estaduais,
22 prefeitos e 23 vereadores). O Congresso permanece fechado até
outubro, quando é reaberto para eleger Médici (O AI-5, [s.d.]).

Como se pode perceber, os direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros foram fortemente agredidos
durante o período da ditadura militar e, por essa razão, a primeira Constituição Federal aprovada após
esse período, em 5 de outubro de 1988, tinha que destinar parte expressiva de seus artigos para tratar de
direitos fundamentais, individuais e coletivos e, dessa maneira, registrar histórica e politicamente que os
cidadãos brasileiros e os estrangeiros residentes no País têm direitos que devem ser respeitados por todos
os governos, porque são direitos fundamentais para a completa realização da cidadania.

Saiba mais

O livro a seguir de Alfredo Sirkis conta sua trajetória no movimento


estudantil brasileiro na década de 1960-1970, é uma excelente leitura para
quem pretender conhecer melhor o período histórico da ditadura militar
no Brasil.

SIRKIS, A. Os carbonários. Rio de Janeiro: Record, 1998.

Independentemente de ideologias, de apoios partidários ou de opiniões


políticas, conhecer a própria história é fundamental para qualquer cidadão
construir opiniões bem fundamentadas e contextualizadas. Vale a pena
aprofundar o conhecimento sobre todos os períodos históricos do Brasil,
isso nos ajudará a compreender melhor o país em que vivemos.

6 DIREITOS FUNDAMENTAIS

6.1 Conceito e classificação de direitos fundamentais

A expressão direitos fundamentais já nos dá uma boa ideia do conteúdo desses direitos. Evidentemente,
relacionamos direitos fundamentais com direito à vida, à liberdade e à segurança, entre outros que
igualmente podemos considerar como inseridos nessa classificação.

Vamos procurar definições que possam nos auxiliar a formar uma ideia mais concreta sobre
direitos fundamentais.

89
Unidade II

Nestor Sampaio Penteado Filho afirma:

A doutrina costuma empregar expressões, como, por exemplo, liberdades


públicas, direitos civis fundamentais, direitos humanos, direitos públicos
subjetivos etc., para designar direitos fundamentais. Estes seriam “situações
jurídicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo, em prol da
dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana”.

Os direitos fundamentais estão insculpidos, principalmente, no art. 5º da CF


(rol meramente exemplificativo), pois não se excluem outros direitos e garantias
expressos na Carta, aqueles decorrentes dos princípios básicos do regime
democrático (implícitos), bem como os que advierem de Tratados Internacionais
dos quais o Brasil seja signatário (PENTEADO FILHO, 2009, p. 47).

O que ele nos ensina é que os doutrinadores de direito, ou seja, os estudiosos dessa área do Direito,
costumam atribuir aos direitos fundamentais outras denominações, como, por exemplo, liberdades
públicas e direitos humanos. Isso, no entanto, não tem maior importância desde que as diferentes
denominações utilizadas sempre permitam compreender que se tratam de direitos essenciais, sem os
quais a vida humana não tem segurança e não se manifesta em toda sua plenitude e potencialidade.

Toda e qualquer pessoa de quem tenha sido subtraído um único dos direitos fundamentais estará
vivendo em situação anômala, alijada de uma condição objetiva essencial para garantia da sua plenitude
como pessoa. É assim que podemos compreender os direitos fundamentais, por serem fundamentais,
essenciais, parte integrante da própria condição humana.

Na Constituição Federal brasileira de 1988, os direitos fundamentais se encontram alojados


no artigo 5º, mas como ensina o professor Nestor Penteado, aquela é uma relação de direitos de
caráter exemplificativo, e não taxativo. Isso significa afirmar que outros direitos que não estejam
especificamente contemplados naquele artigo também deverão ser respeitados pelo Estado e por outros
cidadãos, porque são parte integrante do rol de direitos fundamentais por estarem relacionados com o
que é da essência da pessoa humana, ou, em outras palavras, necessário para que ela viva com toda
a plenitude de sua liberdade.

Assim, por exemplo, o artigo 5º não precisa especificar que uma pessoa de orientação homossexual
tem direito de se manifestar livremente em sua opção, sem que seja necessário que o artigo contemple
especificamente a situação.

Os estudiosos também se preocupam em classificar os direitos fundamentais, como faz o professor


Alexandre de Moraes:

A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu Título II os direitos e garantias


fundamentais, subdividindo-os em cinco capítulos: direitos individuais e
coletivos; direitos sociais; nacionalidade; direitos políticos e partidos políticos.

90
DIREITOS HUMANOS

Assim, a classificação adotada pelo legislador constituinte estabeleceu cinco


espécies ao gênero direitos e garantias individuais:

- direitos individuais e coletivos: correspondem aos direitos diretamente


ligados ao conceito de pessoa humana e de sua própria personalidade,
como, por exemplo, a vida, dignidade, honra, liberdade. Basicamente,
a Constituição de 1988 os prevê no artigo 5º [...];

- direitos sociais: caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas,


de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo
por finalidade a melhoria das condições de vida aos hipossuficientes,
visando à concretização da igualdade social, que configura um dos
fundamentos de nosso Estado Democrático, conforme preleciona o
art. 1º, IV. A Constituição Federal consagra os direitos sociais a partir
do artigo 6º;

- direitos de nacionalidade: nacionalidade é vínculo jurídico político


que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo
deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal
deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao
cumprimento de deveres impostos;

- direitos políticos: conjunto de regras que disciplina a forma de atuação


da soberania popular [...];

- direitos relacionados à existência, organização e participação em


partidos políticos: a Constituição Federal regulamentou os partidos
políticos como instrumentos necessários e importantes para a
preservação do Estado Democrático de Direito, assegurando-lhes
autonomia e plena liberdade de atuação, para concretizar o sistema
representativo (MORAES, 2003, p. 43).

Neste momento, são muito relevantes para o nosso estudo e compreensão sobre direitos fundamentais
aqueles inseridos na classificação de direitos individuais e coletivos e direitos sociais.

6.2 Direitos individuais e coletivos

O artigo 5º da Constituição Federal brasileira de 1988 está alocado no Título II, denominado
“Dos Direitos e Garantias Fundamentais” e dá início ao Capítulo I, denominado “Dos Direitos e
Deveres Individuais e Coletivos”. Em seu início, também chamado de caput pelos estudiosos de
direito, o artigo determina que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
91
Unidade II

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à


propriedade, nos termos seguintes [...] (BRASIL, 1988).

Assim, no Brasil, todos são iguais perante a lei, independentemente de qualquer característica
que possamos possuir, seja de cor, raça, orientação de gênero, estado civil, profissão, ou qualquer
outra distinção que possamos imaginar. Independentemente de qualquer situação em que estejamos
vivendo, somos todos iguais perante a lei e, em consequência, temos todos o direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, elementos essenciais para que possamos viver
com dignidade.

Após a expressão “nos termos seguintes”, o artigo 5º fornece um rol de 78 incisos (representados
na lei sempre por números romanos), referentes a direitos que deverão ser respeitados para todos os
brasileiros e estrangeiros residentes no País, além das pessoas que por qualquer motivo (turismo ou
trabalho, por exemplo) estiverem aqui por tempo determinado.

O número é muito significativo: 78 incisos representando direitos de todos nós. Faça um exercício
simples de curiosidade acadêmica: relacione dez direitos que você acredita que estão entre os 78 incisos
do artigo 5º da Constituição Federal e, em seguida, consulte os incisos um a um para verificar se os
direitos que você relacionou se encontram efetivamente contemplados no artigo.

Vamos analisar alguns dos direitos contemplados nos incisos do artigo 5º (BRASIL, 1988). Vejamos,
por exemplo, os dez primeiros:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

Breve comentário: a Constituição Federal garante igualdade de direitos e obrigações entre homens
e mulheres, seja no tratamento uns com os outros, seja no dever de criar e educar filhos, por exemplo.
Assim, nenhuma prática de machismo precisar ser tolerada por mulheres porque a maior lei do País
garante a igualdade. De outro lado, nenhuma exigência desproporcional pode ser feita por qualquer
mulher invocando sua condição de gênero, porque, em tese, homens e mulheres são iguais e têm os
mesmos direitos e deveres.

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão


em virtude de lei;

Breve comentário: todos somos obrigados a cumprir as leis em vigor no País, mas, em contrapartida,
de nenhum de nós será exigível que se comporte de uma determinada forma sem que haja lei que nos
obrigue a isso. Nenhuma exigência poderá ser feita, como, por exemplo, para pagarmos uma taxa ou um
imposto, se não houver lei que defina essa obrigatoriedade.

III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano


ou degradante;

92
DIREITOS HUMANOS

Breve comentário: nenhum crime praticado por alguém, por pior que tenha sido, justifica a prática
de tortura ou de tratamento desumano ou degradante, porque se isso fosse autorizado todos nós
estaríamos nos equivalendo àquele que praticou o crime. Tortura é sempre violência e não é uma forma
de investigação de nenhum ato criminoso praticado. A tortura e o tratamento desumano ou degradante
são sempre contrários à Constituição Federal, lei maior do País.

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Breve comentário: a manifestação do pensamento é sempre livre. Todos nós, brasileiros e


estrangeiros residentes no País, podemos manifestar livremente nossa opinião sobre o que desejarmos
e não podemos ser censurados. Há que se considerar, no entanto, que fica proibido o anonimato, ou
seja, a manifestação do pensamento sem que se identifique o autor do comentário. Isso significa que o
direito de se manifestar impõe responsabilidades para quem o faz, de modo a gerar, inclusive, o dever
de retratar ou de indenizar aquele que tiver sido prejudicado pelos comentários feitos por outra pessoa.
Em outras palavras, a liberdade de manifestação impõe responsabilidade, o que é muito bom para a
harmonia e o equilíbrio da sociedade.

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;

Breve comentário: todo aquele que for mencionado pela imprensa, ou em um livro, ou, ainda, em
uma rede social, tem direito de resposta, que significa que pode expressar sua opinião contrária àquela
que foi exposta. E, nos casos em que a referência à pessoa tenha sido negativa e depreciativa, sem
motivo ou comprovação, poderá gerar a obrigação de pagar indenização por danos materiais, morais ou
à imagem que tenha sido prejudicada.

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o


livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias;

Breve comentário: a Constituição Federal garante a todos a liberdade de praticar crenças e cultos
religiosos que desejarem, inclusive a liberdade de não ter nenhuma crença nem praticar nenhum tipo
de culto religioso. Os locais de prática de cultos e de manifestações religiosas devem ser respeitados
por todos, obrigatoriamente, mesmo que discordem das práticas e crenças. Discordar é possível, mas
denegrir e destruir é completamente vetado pela Constituição Federal.

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

Breve comentário: a assistência religiosa, ou seja, a presença de alguém que professe a religião e
atue como orientador ou aconselhador, será garantida nas entidades civis e religiosas de internação
coletiva como, por exemplo, nas penitenciárias ou hospitais. É direito daquele que se encontra preso
ou internado, inclusive por razões de ordem psicológica ou psiquiátrica, ter acompanhamento religioso
quando necessitar ou solicitar.
93
Unidade II

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou


de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei;

Breve comentário: todos nós podemos professar a crença religiosa ou possuir a convicção
filosófica ou política que desejarmos. Essa diversidade é muito importante para a sociedade, permite
que aprimoremos nossas perspectivas de mundo, mas, para isso, é imprescindível que haja respeito uns
pelos outros. Nossas ideias diferentes não devem nos afastar, ao contrário, são um ponto de partida
para nos aproximar e nos permitir pensar com maior amplitude de perspectivas. Somos diferentes, mas
não necessariamente divergentes. Temos muito a aprender uns com os outros e, por isso, a Constituição
Federal garante que todos tenhamos os nossos direitos preservados, independentemente das nossas
crenças e convicções religiosas, filosóficas ou políticas.

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

Breve comentário: todos temos liberdade para nos expressar na atividade intelectual, artística,
científica ou de comunicação e não podemos ser censurados por isso. Podemos escrever livros,
artigos de revista ou jornal, encenar peças de teatro, pintar, compor letras e músicas com total
liberdade de expressão, sem precisar consultar previamente quem quer que seja para saber se
podemos agir assim. Mas, novamente aqui, a liberdade implica responsabilidade. Utilizar a arte
para incitar a violência de gênero, por exemplo, ou práticas criminosas em geral, pode resultar em
consequências negativas, que terão por objetivo preservar a dignidade humana e o equilíbrio da
vida em sociedade.

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Breve comentário: todos os brasileiros e os estrangeiros residentes no País têm direito a sua
intimidade. Todos devemos ser respeitados em nossa vida privada, em nossa honra e imagem
e nenhum ato pode ser praticado contra esses valores constitucionalmente protegidos. Quem
expuser sem autorização fatos de nossa vida privada em redes sociais ou em órgãos de imprensa,
por exemplo, poderá ser responsabilizado por isso e condenado judicialmente a indenizar os
prejuízos causados.

Esses dez incisos que foram analisados brevemente nos permitem ter uma noção da amplitude dos
direitos fundamentais individuais e coletivos protegidos pela Constituição Federal brasileira. Alguns
outros exemplos são, também, muito importantes para entendermos que vivemos em um país cuja lei
mais importante protege verdadeiramente as pessoas, tanto os brasileiros como os estrangeiros aqui
residentes ou que estejam de passagem pelo País.

94
DIREITOS HUMANOS

Vamos analisar alguns outros incisos do artigo 5º da Constituição Federal. Por exemplo:

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Breve comentário: a casa é protegida como um lugar inviolável, no qual ninguém poderá entrar sem
o expresso consentimento do morador. Isso significa que mesmo a autoridade policial, quando quiser
realizar uma investigação, deverá estar munida de um mandado judicial por meio do qual obtenha
autorização para entrar na casa e procurar pessoas, bens ou documentos relativos a um ilícito criminal.
Em casos de flagrante delito ou de um desastre, como um desabamento ou alagamento em razão de
fortes chuvas, não será necessário para ninguém estar autorizado para ingressar na casa de outra pessoa,
porque a emergência é um motivo suficientemente forte para autorizar a entrada. Mas, nas situações
normais do cotidiano, é preciso que o morador autorize ou que o agente do estado, que precisa entrar
na casa de outra pessoa esteja autorizado judicialmente por um juiz que analisou as razões e entendeu
que a determinação constitucional pode ser relativizada naquele caso.

XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,


de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Breve comentário: todos temos direito à privacidade e, portanto, a inviolabilidade de nossa


correspondência é só uma consequência desse direito. Ninguém pode abrir a correspondência de outra
pessoa sem estar autorizado para isso e, principalmente, autorizado pelo destinatário da correspondência.
Na atualidade, precisamos entender que o termo utilizado pela Constituição Federal – correspondência –
pode ser aplicado a muitas outras formas de comunicação além daquela tradicionalmente exercida por
meio de cartas entregues pelo correio. Também se inclui em correspondência as mensagens eletrônicas e
as mensagens trocadas por aparelhos celulares. Em todos esses casos a privacidade estará protegida pela
Constituição Federal. Mas, como sempre, existem exceções que devem ser analisadas. O Poder Judiciário,
por meio da Justiça do Trabalho, já entendeu em inúmeros julgamentos recentes que os computadores
utilizados no trabalho, assim como os celulares utilizados na vida profissional, são parte da atividade
laborativa e, por consequência, não estão protegidos pelo princípio do sigilo e da privacidade. Se o
empregado recebe o computador e o celular para utilizar em serviço, não pode invocar o direito à
privacidade, ou o direito ao sigilo das mensagens eletrônicas trocadas com o uso daquele computador
ou celular. A atividade profissional a ser exercida com aqueles equipamentos deve ser de conhecimento
de seu empregador, razão pela qual o sigilo não se justifica.

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens;

Breve comentário: a liberdade de circulação no território nacional é essencial para todos os brasileiros
e estrangeiros residentes no País ou, ainda, para aqueles estrangeiros que se encontram no País por um
95
Unidade II

determinado tempo, a trabalho ou para turismo. Circular livremente, escolher onde quer ir e onde quer
permanecer é um direito essencial de toda pessoa, razão pela qual a Constituição Federal brasileira
consagra esse como um direito fundamental. No entanto, repare que existe um outro direito protegido
nesse inciso: o direito de sair do País com seus bens, para qualquer destino que a pessoa desejar e que a
receba. Alguns países do mundo restringem a entrada e permanência de estrangeiros em seu território,
como é o caso dos Estados Unidos, que exige que a pessoa tenha um visto de entrada e, mesmo assim,
só autoriza a permanência por um período determinado de tempo. O visto é concedido pela embaixada
norte-americana no país de origem da pessoa que deseja viajar para lá, como acontece aqui no Brasil,
lugar em que os Estados Unidos mantêm embaixada localizada em Brasília e consulados nas grandes
capitais, locais em que é possível obter o visto de entrada no país. Mesmo com visto obtido, a pessoa só
poderá ficar nos Estados Unidos por um determinado período de tempo, depois de expirado esse tempo
poderá ser deportada. Em outros países, como os que pertencem à União Europeia, por exemplo, Itália,
Inglaterra, Alemanha e França, entre outros, não é preciso visto para ingressar no país, mas uma vez que
você tenha passado pela barreira de imigração, só pode ficar naquele território durante 90 (noventa)
dias, findo os quais deverá se retirar para seu país de origem ou para outro, porém fora do território da
União Europeia. Acredite, nem todos os países do mundo respeitam essa liberdade. Em alguns países
do mundo o cidadão não pode sair sem justificar a razão de sua viagem e, mesmo assim, poderá ser
proibido de sair. Em outros países, sair é impossível, não há autorização para isso salvo se a viagem for
de interesse do governo. Isso ocorre, evidentemente, em regimes totalitários, não democráticos, em que
o governo é exercido por um grupo de pessoas que não respeita os direitos humanos! Infelizmente, esses
regimes políticos ainda existem no mundo em que vivemos.

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos


ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
exigido prévio aviso à autoridade competente;

Breve comentário: reunir-se pacificamente para qualquer tipo de atividade, esportiva, política,
cultural ou de lazer é um direito de todos os cidadãos. Em especial em lugares abertos, como praças,
parques públicos, áreas de lazer, quadras esportivas, entre outros, que são lugares próprios para que a
população se organize em reuniões de qualquer motivação que não seja ilícita ou criminosa. Existem,
claro, regras para que isso aconteça. Em primeiro lugar, é preciso que a reunião seja pacífica e que os
participantes não estejam armados, salvo aqueles que podem andar armados em conformidade com
o que determina a lei. Também é preciso que a reunião seja marcada para um local em que não exista
outra reunião marcada, justamente para evitar o conflito entre grupos, que, por vezes, partilham de
ideias diferentes. Para garantir a organização e a ordem da sociedade, é imprescindível que a reunião seja
noticiada à autoridade competente para ser solicitada autorização para isso. Imagine que o sindicato
dos professores pretende realizar uma assembleia para discussão de greve caso não haja aumento de
salário. Na cidade de São Paulo, por exemplo, uma reunião dessa natureza reúne milhares de pessoas e
pode impactar o trânsito de forma negativa, provocando congestionamentos de várias horas e muito
atraso no sistema de transporte público. Ora, o direito de algumas pessoas de se manifestar não pode
ser mais importante que o direito de outras pessoas chegarem a seus compromissos de trabalho ou
particulares. Como explicar para a mãe de um filho doente que ela não pode chegar ao hospital porque
há uma passeata de professores insatisfeitos com salário? Para garantir esse equilíbrio, fundamental
96
DIREITOS HUMANOS

para as atividades da sociedade, é preciso que as autoridades sejam avisadas previamente e autorizem a
realização do evento ou sugiram que seja realizado em outro local, em que o impacto para a população
será menor [...].

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de


caráter paramilitar;

Breve comentário: a Constituição Federal garante a todos o direito de se associar para fins lícitos e
sem caráter paramilitar. Em outras palavras, todos nós podemos formar associações, organizações não
governamentais ou qualquer outro tipo de grupos sociais, para exercer as atividades que quisermos.
Podemos fundar um clube de fotógrafos amadores, um grupo de artistas de teatro amador, uma associação
de futebol de salão, de vôlei de praia ou de artistas plásticos do município de Salvador, Bahia, não há
limites para isso. Porém, em nenhuma hipótese poderemos organizar uma associação de pessoas armadas
para fazer a segurança do nosso bairro ou da nossa rua. Empresas de segurança são regulamentadas por
lei como atividade empresarial e atendem a uma série de especificações, por isso podem atuar. Mas, grupos
paramilitares, armados e organizados para vigiar ruas, bairros ou atividades diversas não são autorizados a
atuar e, se isso ocorrer, as pessoas pertencentes a esses grupos poderão ser punidas pelo Estado.

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas


independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em
seu funcionamento;

Breve comentário: criar associações, sociedades para desenvolvimento de atividades diversas


como estudo, esporte, artes, entre outras, é de livre vontade das pessoas, sem que haja necessidade
de autorização prévia do Estado. Também podem ser organizadas cooperativas para produção de
artesanato, livros, produtos alimentícios e outras muitas atividades, sem necessidade de autorização e
sem qualquer interferência do Estado no seu funcionamento. Isso é muito importante porque estimula
que a sociedade brasileira se organize para realizar atividades muito relevantes, em especial na área
cultural, artística, esportiva e de lazer.

XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

Breve comentário: observe que embora a organização de associações seja livre, ninguém pode
ser obrigado a participar de uma associação. Assim, se os moradores de um bairro ou de uma rua
organizarem uma associação para melhoria das condições do local, ninguém poderá ser obrigado a
participar, mesmo que more no bairro ou na rua. Cada um vai participar ou não em conformidade com
sua vontade, sem que possa ser compelido a isso. Essa determinação tem razões históricas, porque
governos autoritários já obrigaram as pessoas a participarem de suas organizações, como acontecia
na época do nazismo na Alemanha, ou do fascismo na Itália. Na Alemanha da época do nazismo,
muitas pessoas foram obrigadas a ingressar no partido nazista para poderem continuar a exercer suas
atividades profissionais, como professores, por exemplo, e para não serem perseguidos ou considerados
suspeitos de traição à pátria. Por isso, a associação em um país democrático deve ser livre, sem nenhum
constrangimento para aqueles que não pretenderem se associar.

XXII – é garantido o direito de propriedade;


97
Unidade II

Breve comentário: esse é um ponto fundamental que caracteriza os estados democráticos: todas as
pessoas têm direito de adquirir uma propriedade, seja para moradia ou para exploração econômica, como
plantio ou atividade comercial. A aquisição deve ser feita com recursos econômicos próprios, oriundos de
forma lícita e, em alguns casos específicos, será fruto de políticas públicas que facilitem a aquisição por meio
de financiamentos. Uma vez adquirida a propriedade o titular desse direito será protegido pela lei maior, a
Constituição Federal e por várias leis federais, estaduais e municipais que garantem o exercício do direito
de propriedade. Esse direito só será relativizado em casos específicos previstos em lei, como, por exemplo,
quando houve interesse público superior ao interesse privado, que é o que acontece, habitualmente, nos
casos de desapropriação de um imóvel para que possa ser construída uma estrada, um alargamento de
avenida, uma construção de viaduto ou ponte. Nesses casos, o Estado indeniza o proprietário que vai
perder seu bem e utiliza a área para construção de um equipamento público, de interesse de todos.

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;

Breve comentário: ao mesmo tempo em que a Constituição Federal estabelece o direito de todos
possuírem uma propriedade, ela impõe uma função a essa propriedade, independentemente do tamanho
e do tipo que ela possua: toda propriedade terá que ter uma função social, ou seja, ser utilizada de
forma que não prejudique a vida em sociedade e, sendo possível, que contribua para que essa vida em
sociedade seja harmônica e equilibrada. Esse pressuposto de função social da propriedade é diretamente
decorrente do artigo 3º da Constituição Federal, no qual são tratados os objetivos da República Federativa
do Brasil e fica expresso claramente que esses objetivos são:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais


e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Em uma sociedade que adotou como objetivos ser justa e solidária, erradicar a pobreza e a
marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos sem qualquer
forma de discriminação, não há espaço para a utilização egoísta da propriedade, a ponto de colocar
em risco ou causar prejuízo para os demais membros dessa mesma sociedade. Assim, por exemplo,
se alguém é proprietário de extensa área de terra e não a utiliza para nenhuma finalidade, mantém a
propriedade totalmente improdutiva sem ao menos cuidar da preservação dos recursos naturais para
torná-la uma área de proteção do meio ambiente. É possível destinar aquela área para a reforma agrária,
após a realização de um processo judicial por meio do qual será apurado o valor econômico do bem a
ser desapropriado e efetuado o pagamento de indenização em títulos da dívida agrária. É o que consta
expressamente no artigo 184 da Constituição Federal brasileira, que ora reproduzimos:
98
DIREITOS HUMANOS

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula
de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

Também consta expressamente do inciso XXIV da Constituição Federal que:

XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade


ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

Assim, a Constituição Federal garante que cada pessoa possa ter a propriedade de um bem, urbano
ou rural, e utilizá-lo para atingir seus objetivos de vida ou objetivos econômicos, com ampla liberdade,
porque o direito de propriedade é constitucionalmente protegido. Porém, não é um direito ilimitado ou
absoluto, porque a Constituição Federal nos lembra todo o tempo que vivemos em uma sociedade que
pretende ser justa e solidária. Sendo assim, a propriedade individual deverá ter uma finalidade social e
não egoística. Temos a propriedade para utilizar, usufruir, produzir benefícios pessoais ou econômicos,
mas simplesmente por acumulação, enquanto outros não têm e precisam ter, não é uma finalidade
socialmente justa. Para isso existem os limites, mas todos eles fixados na lei. Ninguém poderá ser
desapossado de sua propriedade sem fundamentação legal, porque isso não seria justo. Apenas nos
casos expressamente previstos em lei é que uma pessoa poderá ser desapropriada, e não são muitas as
hipóteses que a lei permite que isso aconteça.

Outro importante aspecto que o artigo 5º da Constituição Federal aloca como direito fundamental é
a proteção do consumidor. De fato, no inciso XXXII do artigo 5º está definido que: “O Estado promoverá,
na forma da lei, a defesa do consumidor” (BRASIL, 1988).

No artigo 48, “Disposições Finais e Transitórias”, a Constituição Federal determinou prazo para que
fosse feito um Código de Defesa do Consumidor, o que de fato ocorreu em 1990, quando foi aprovada a
Lei n° 8.078, que entrou em vigor em 1991, e que é o referido código de proteção e defesa do consumidor,
lei muito conhecida no Brasil e facilmente invocada por todos os cidadãos quando se encontram frente
a um conflito na área de consumo.

Repare que a Constituição Federal elevou a defesa do consumidor, no Brasil, à categoria de um


direito fundamental, reconhecendo que as relações de consumo não raramente colocam em risco a vida,
a saúde e até mesmo a dignidade do consumidor, em especial quando os produtos consumidos são de
alta relevância para a vida e o bem-estar das pessoas, como acontece com medicamentos e alimentos,
entre outros. Por essa razão, entendeu o legislador constituinte que a defesa do consumidor deveria ser
colocada no mais alto grau de proteção que a Constituição Federal pode proporcionar, ou seja, como
um direito fundamental.

O artigo 5º da Constituição Federal é extenso e repleto de bons motivos para reflexões. É recomendável
que cada brasileiro ou estrangeiro residente no País faça a leitura de todos os incisos e parágrafos do
99
Unidade II

artigo 5º, para conhecer o amplo rol de direitos fundamentais individuais e coletivos com os quais somos
contemplados pela lei de maior importância do País.

Somente se conhecermos os direitos fundamentais individuais e coletivo, poderemos agir em


conformidade com eles e exigir do Estado brasileiro que os cumpra e faça com que sejam cumpridos,
sempre tendo em mente os objetivos da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre,
justa e solidária, sem nenhuma discriminação de qualquer espécie.

6.3 Direitos dos acusados e condenados

Uma das principais razões pelas quais os direitos humanos, no Brasil, são vulgarmente associados
com “direitos de bandidos” é a confusão que se estabelece entre as pessoas leigas, que não tiveram boas
oportunidades para estudar, de que direitos devam ser garantidos apenas e tão somente para as pessoas
que se comportam de forma socialmente aceita.

Essa é uma afirmação que tem fundamento na maior parte das vezes, porém, quando se trata de
acusados e condenados por práticas criminosas, é preciso lembrar que todas as sociedades civilizadas
estabeleceram punições para a prática de crimes, mas não concordam com vingança.

E por que a vingança é afastada das sociedades civilizadas?

Porque a vingança nos igualaria àquele que praticou o crime. Seria a resposta violenta ao ato
igualmente violento praticado pelo criminoso.

Para deixar claramente demarcada a fronteira entre punição e vingança, as legislações de sociedades
civilizadas, organizadas com objetivo de garantir a todos o cumprimento da lei e o resultado da paz
social, da ordem e do equilíbrio, possuem legislação que pune os crimes com supressão do direito de
liberdade (prisão ou detenção), porém, impedem qualquer prática de castigos corporais, de trabalhos
forçados, de tortura ou assemelhados, porque tudo isso caracterizaria vingança, que não é prática
admitida entre pessoas civilizadas.

Importante lembrar que o fundamento republicano da dignidade da pessoa humana, adotado no Brasil e em
muitos outros países do mundo, representa que todos os seres humanos têm direito a ser tratados com dignidade,
exclusivamente pelo fato de serem humanos, sem que seja preciso praticar nenhum ato de contrapartida.
Em outras palavras, dignidade da pessoa humana não se aplica apenas a pessoas boas, que cumpram a lei
e pratiquem atos considerados socialmente relevantes. Mesmo as pessoas que praticam atos criminosos têm
direito de serem tratadas com dignidade. E por quê? Porque não tratá-las com dignidade quando praticam um
ato criminoso, violento, seria o mesmo que se equiparar a elas, seria responder violência com violência, o que,
com certeza, não nos levaria a construir uma sociedade melhor.

Por isso, por maior que seja a nossa revolta e indignação diante de crimes bárbaros que são praticados
muitas vezes na sociedade brasileira, a prática de tortura ou de linchamento pode até ser aplaudida como
resposta imediata, de raiva, de desespero, mas não é, no fundo, diferente do ato criminoso praticado e
que nos causou revolta.
100
DIREITOS HUMANOS

Alguns poderão dizer que se trata de uma reação e, portanto, pode ser praticada porque ela não
existiria se o ato violento não tivesse sido feito primeiramente. Esse, no entanto, não é um bom
argumento. Nenhum ato de violência pode ser justificado, porque nenhum ato de violência produz algo
de bom ou positivo para a sociedade.

Responder com violência é se igualar a quem praticou violência. A melhor resposta é a punição, tão
severa quanto mais violento for o ato praticado. A supressão de liberdade é, com certeza, nas sociedades
civilizadas, a mais severa das penas. Ficar impedido de viver em sociedade, de ter uma família, de poder
ir para onde quiser e no momento que quiser, viver uma vida reprimida em todos os momentos, com
horários rígidos até para poder estar em contato com o sol (o horário de banho de sol das cadeias é
muitas vezes restrito a apenas uma hora por dia), tudo isso é a mais rigorosa punição que uma sociedade
civilizada pode praticar contra atos violentos como homicídios, latrocínios, estupros, entre outros.

No Brasil, felizmente, a Constituição Federal estabelece direitos para acusados e para presos,
inclusive porque muitas pessoas podem ser acusadas de crimes que não praticaram e, exatamente por
isso, merecem todo o direito de se defender até que a sentença judicial decida se são ou não culpadas
pelo crime que lhes é imputado.

Observação

Pena de reclusão é aplicada a condenações mais severas, o regime de


cumprimento pode ser fechado, semiaberto ou aberto, e normalmente é
cumprida em estabelecimentos de segurança máxima ou média. A detenção
é aplicada para condenações mais leves e não admite que o início do
cumprimento seja no regime fechado. Em regra, a detenção é cumprida no
regime semiaberto, em estabelecimentos menos rigorosos como colônias
agrícolas, industriais ou similares, ou no regime aberto, nas casas de
albergado ou estabelecimentos adequados. A prisão simples é prevista
na lei de contravenções penais como pena para condutas descritas
como contravenções, que são infrações penais de menor lesividade.
O cumprimento ocorre sem rigor penitenciário em estabelecimento
especial ou seção especial de prisão comum, em regime aberto ou
semiaberto. Somente são admitidos os regimes aberto e semiaberto para a
prisão simples (DISTRITO FEDERAL, 2015).

Os direitos que os acusados detêm são, basicamente, os seguintes:

Artigo 5º [...]

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação


de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor
do patrimônio transferido;
101
Unidade II

Breve comentário: a pena só pode ser cumprida pelo condenado e por ninguém mais. Não há
nenhuma possibilidade de os herdeiros do condenado serem obrigados a cumprir a pena por ele. A isso
se dá o nome de princípio da pessoalidade, ou seja, a pena nunca poderá ultrapassar a pessoa do
condenado. Por outro lado, se o condenado tiver praticado um crime que tenha gerado danos materiais
ou morais à vítima ou seus familiares, como, por exemplo, um acidente de trânsito praticado com
dolo e que vitimou de forma fatal um homem casado, pai de três filhos e arrimo de família. Nesse
caso, o causador do acidente será condenado no âmbito penal (por homicídio) e no âmbito civil (para
reparar economicamente os prejuízos causados, em especial, a perda dos valores mensais que a vítima
disponibilizava por meio de seu trabalho para o sustento de sua prole e de sua esposa).

Artigo 5º [...]

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as


seguintes:

Breve comentário: esse inciso determina que a pena seja individualizada ao delinquente, impedindo
que ocorram sanções coletivas ou de natureza genérica. Além disso, a pena deverá ser cumprida em
um estabelecimento apropriado para o tipo de pena imposta ao condenado, em conformidade com sua
idade e sexo e assegurando o respeito à sua integridade física e moral. É o que encontramos nos incisos
do mesmo artigo 5º que estamos estudando:

XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com


a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Assim, além do princípio da individualização da pena, a Constituição Federal adota o princípio


da dignidade da pessoa humana a ser aplicado a todos os brasileiros, estrangeiros residentes no País e
estrangeiros que aqui estejam por período limitado de tempo. Todos, sem nenhuma exceção, têm direito
a tratamento digno em que sejam respeitadas sua integridade física e moral. E isso inclui os acusados
e os condenados. Portanto, nenhum tipo de tortura ou tratamento desumano pode ser praticado
nas penitenciárias brasileiras, embora na prática ainda estejamos muito longe do efetivo cumprimento
dessa determinação constitucional.

Figura 16

102
DIREITOS HUMANOS

As rebeliões em presídios são frequentes no Brasil, infelizmente, o que demonstra que o sistema
prisional precisa ser tratado com maior atenção e maturidade, de forma que esses estabelecimentos
cumpram verdadeiramente o objetivo de ressocializar os condenados por crimes, propiciando a eles
formação educacional fundamental, profissionalização e atividades que possam servir de apoio para a
vida fora do sistema prisional, em especial o apoio psicológico.

Os recursos investidos na melhoria do sistema prisional são fundamentais para que o Estado diminua
o índice de reincidência no crime, que, na atualidade, segundo dados de pesquisa feita pela Revista Piauí
junto ao Conselho Nacional de Justiça, alcança 24,4%, ou seja, um a cada quatro egressos do sistema
prisional volta a praticar um ato criminoso, índice considerado muito alto (TARTÁGLIA, 2016).

Cumpre destacar, ainda, que os acusados por crimes no Brasil são protegidos pelos incisos
destacados na CF (BRASIL,1988) todos muito importantes e que merecem nossa especial atenção
nestes estudos sobre direitos humanos:

LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente;

Breve comentário: o Brasil possui tribunais competentes para cada tipo de atividade, ou seja, no âmbito
penal, civil e trabalhista. A lei fixa qual a autoridade competente para cada tipo de julgamento, o que significa
que ninguém poderá ser julgado e condenado senão por um tribunal legalmente competente. Um grupo de
cidadãos reunidos não pode julgar ninguém. Somente um tribunal com juízes legalmente instituídos para
essa função, preparados para o exercício dela, é que poderá conhecer a acusação, analisar as provas e proferir
o julgamento, sempre com cumprimento das leis que regulam aquela matéria.

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido


processo legal;

Breve comentário: nenhuma pessoa, por pior que tenha sido o crime que ela tiver praticado, será
privada de sua liberdade sem que haja um processo legal para condená-la. Da mesma forma, ninguém
será privado de seus bens sem que um processo legal tenha ocorrido e tenha sido concluído com essa
determinação expressa. A lei é a base da vida na sociedade brasileira e, por isso, nada pode ocorrer senão
em estrito cumprimento ao que ela determina.

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;

Breve comentário: neste inciso do artigo 5º estão contemplados direitos fundamentais, que são,
de fato, essenciais para a vida de todos nós. Esses direitos asseguram que qualquer pessoa no Brasil que
estiver na condição de litigante em um processo judicial (movido perante um juiz de direito ou tribunal),
ou administrativo (movido por autoridade administrativa como Prefeituras e Procons, por exemplo)
terá direito ao exercício do contraditório, ou seja, poderá colocar para conhecimento e julgamento
todas as suas razões e argumentos e terá direito à ampla defesa, por meio da apresentação de todas
103
Unidade II

as provas em direito permitidas que possam corroborar os argumentos que foram expostos. Prova
documental, testemunhal e técnica (feita por peritos especializados em um determinado assunto, como
peritos em mecânica, ou em contabilidade, por exemplo) são parte do conjunto de provas que uma
pessoa poderá produzir no processo judicial ou administrativo com o intuito de comprovar que suas
alegações são verídicas ou para comprovar que as alegações da parte contrária não são verídicas. Esses
princípios, contraditório e ampla defesa, são fundamentais para a garantia de um processo judicial ou
administrativo que seja justo e cujo resultado final não possa ser contestado por nenhuma das partes.

LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Breve comentário: neste inciso do artigo 5º há exigência expressa para que as provas sejam
obtidas por meios lícitos, ou melhor, sejam provas obtidas de forma regular. Essa determinação serve
para regular os casos de escuta e gravação de conversas telefônicas feitas pelos órgãos policiais,
como a Polícia Federal, por exemplo. Essas escutas e gravações, que se tornaram frequentes no Brasil em
casos de apuração de crime de corrupção e de lavagem de dinheiro, com várias operações comandadas
pela Polícia Federal nos últimos anos, foram expressamente autorizadas por juízes de direito, que
tiveram conhecimento prévio da necessidade de serem efetuadas escutas e gravações, avaliaram se elas
eram mesmo necessárias para apuração dos crimes que estavam sendo investigados pela polícia e foram
autorizadas por meio de decisão judicial, por meio de um mandado judicial, o qual a Polícia Federal é
obrigada a exibir sempre que solicitada. Em outras palavras, para a Polícia Federal investigar alguém por
meio de escutas e gravações telefônicas, é obrigada a pedir autorização judicial, o que é muito bom,
porque impede a prática de escutas e gravações indevidas de pessoas que não têm nenhuma acusação
ou suspeita da prática de qualquer modalidade de crime ou ato ilícito.

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de


sentença penal condenatória;

Breve comentário: esse inciso do artigo 5º faz referência ao fato de que o processo judicial
deverá estar integralmente finalizado para que o condenado seja preso. Os processos judiciais em
razão da determinação da lei podem ter até três fases: a primeira, conduzido por um juiz singular
que profere a decisão sozinho; a segunda, em que o processo é analisado novamente e julgado por
um colegiado de magistrados, ou seja, por um tribunal, que pode manter ou modificar a decisão
proferida pelo juiz singular; e a terceira fase, em que um tribunal federal superior analisa o processo
e modifica ou corrobora a decisão adotada anteriormente. Depois dessas fases, ocorre o chamado
trânsito em julgado da sentença, que é o momento em que ela se torna imutável, porque não
existem mais recursos jurídicos para serem interpostos, ou seja, não existe mais possibilidade de um
órgão judicial modificar aquela determinação. Nesse momento, é expedido o mandado de prisão e o
condenado deverá se apresentar para iniciar o cumprimento da pena. Esse direito é importante para
evitar que alguém seja preso e, mais tarde, no julgamento em segunda instância a sentença seja
inteiramente revista e a condenação anulada. Como devolver a uma pessoa os dois ou mais anos que
ela passou presa injustamente? Como reparar esse erro? Exatamente para evitar que isso aconteça, a
Constituição Federal garantiu o direito de liberdade de todas as pessoas até que se esgotem todos os
recursos e tentativas de provar a verdade.

104
DIREITOS HUMANOS

Existem muitos outros incisos importantes no artigo 5º da Constituição Federal. Vamos comentar
brevemente mais dois deles. O primeiro, inciso LXXV, determina que haverá responsabilidade civil objetiva
do Estado brasileiro se ficar provado o erro judicial, por exemplo, se houver a prisão da pessoa errada; e
também nos casos em que for aplicada pena superior ao prazo maior previsto na lei. Nessas situações, a
pessoa atingida pelos erros poderá exigir indenização do Estado brasileiro em razão da prisão irregular
ou da pena excessiva aplicada ao crime cometido.

Também é muito importante o inciso LXXIV, que trata da assistência jurídica integral e gratuita
aos necessitados, para que aqueles que não podem pagar um advogado não sejam privados de sua
ampla defesa, porque o Estado se incumbirá de indicar e pagar um profissional para defender o acusado.
A Defensoria Pública e os advogados conveniados pela Ordem dos Advogados do Brasil cumprem esse
papel e o fazem com competência e muita dedicação. Há expressa previsão no artigo 24 da Constituição
Federal no sentido de que a União, os Estados e o Distrito Federal deverão manter assistência jurídica e
defensoria pública, gratuitas, para todos os cidadãos que necessitarem.

De acordo com o artigo 134 da Constituição Federal (BRASIL, 1988):

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do
regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial,
dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal

Já a advocacia está prevista na Constituição Federal no artigo 133:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo


inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos
limites da lei (BRASIL, 1988).

Assim, os advogados que exercem sua atividade por meio de convênios para atendimento de pessoas
carentes, que não podem pagar honorários de profissionais contratados, estão cumprindo determinação
federal expressa na Constituição do Brasil.

É bastante recomendável que o artigo 5º seja estudado de forma recorrente por todos os brasileiros
e estrangeiros residentes ou de passagem pelo Brasil, porque os direitos fundamentais, individuais e
coletivos colocados nesse artigo são, verdadeiramente, essenciais para todos nós.

Conhecer esses incisos e pesquisar a sua aplicabilidade prática poderá nos ajudar a deixar de lado
muitos dos nossos preconceitos, que são, na verdade, fruto do desconhecimento. É o caso da afirmação
de que direitos humanos são direitos de bandidos. Agora sabemos que isso não apenas é verdade, como
também é uma afirmação que não faz nenhum sentido perante a Constituição Federal brasileira, lei mais
importante da República Federativa do Brasil.

105
Unidade II

Direitos humanos são direitos de todos nós!

É por isso que a Organização das Nações Unidas determina no artigo 1º da Declaração Universal dos
Direitos Humanos que:

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.


São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos
outros com espírito de fraternidade (ONU, 1948).

Quando na vida em sociedade um ser humano praticar ato criminoso contra outro, desde que
devidamente comprovado, deverá ser punido por esse ato, porém, até no momento da aplicação da
pena punitiva deverá ser respeitado em sua dignidade e em seus direitos, porque a violência não nos
levará a uma sociedade melhor e a vingança não é ato digno de seres civilizados, que querem viver e
agir uns aos outros com espírito de fraternidade.

7 A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº45 E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

A Emenda Constitucional n° 45, de 30 de dezembro de 2004, modificou substancialmente o sistema


de proteção de direitos humanos no Brasil.

Com aprovação no Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, a EC 45 fixou que os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos serão equivalentes às emendas constitucionais. Esse número de votos é o mesmo
utilizado para a aprovação de emendas constitucionais, nos termos do que está previsto no artigo 60,
parágrafo 2º da Constituição Federal brasileira.

Em decorrência dessa determinação, todos os tratados e convenções aprovados com esse número
de votos favoráveis se torna imediatamente uma emenda constitucional, ou seja, passa a integrar a
Constituição Federal brasileira, a lei mais importante do País.

Emenda constitucional é a mudança pontual ao texto da Constituição de um país ou de um estado


federativo, limitada aos temas que especificamente possam ser modificados, visto que alguns temas,
como sabemos, são chamados de cláusulas pétreas, e não poderão ser modificados, salvo se outra
constituição federal for redigida e aprovada por meio de assembleia nacional constituinte.

A Emenda Constitucional n° 45 modificou a Constituição Federal e determinou que os tratados


internacionais de direitos humanos assinados pelo Brasil passassem a ter status de texto constitucional
sempre que fossem aprovados por 3/5 dos votos dos senadores e deputados federais que compõem o
Congresso Nacional.

Após a aprovação da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, surgiu a dúvida sobre qual o
tratamento jurídico a ser dado aos tratados anteriores à emenda. O legislativo brasileiro decidiu que
os tratados de direitos humanos anteriores à Emenda Constitucional nº 45 continuariam com status
de lei ordinária, porém de caráter supralegal, ou seja, estariam acima das leis ordinárias comuns,
embora não sejam leis constitucionais.

106
DIREITOS HUMANOS

Em 2007, a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, aprovada em 30 de março


pelo Decreto 186, foi recepcionada no ordenamento jurídico brasileiro como norma de caráter
constitucional, em consonância com a determinação da Emenda Constitucional nº 45. Assim, as
determinações daquela convenção internacional destinada à proteção das pessoas com deficiência
passam a ser obrigatórias no Brasil, e com status de norma constitucional, de parte integrante da
lei mais importante do País.

Além disso, a Emenda Constitucional nº 45 é importante porque inseriu na Constituição Federal


brasileira, expressamente, que o Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal Internacional, que fica
em Haia, na Holanda, e que foi criado pelo Estatuto de Roma, de 1998.

Por fim, outro importante aspecto da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, foi possibilitar a
federalização dos crimes graves contra direitos humanos, ou seja, conforme consta expressamente
do artigo:

Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral


da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça,
em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal (BRASIL, 2004).

O Procurador-Geral da República deverá analisar o caso concreto que se encontra em fase de


inquérito ou de processo judicial e, se concluir que existem indícios de que tenha ocorrido grave
violação de direitos humanos, e, consequentemente, descumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais dos quais o Brasil seja signatário, ele poderá requerer perante o Superior
Tribunal de Justiça que esse caso seja deslocado da esfera do poder judiciário estadual para o poder
judiciário federal, de forma a se tornar um assunto de interesse nacional.

Essa determinação é muito importante porque, em determinados casos de violação de direitos


humanos, existe forte pressão exercida sobre o juiz singular que está cuidando do caso, inclusive com
ameaças contra sua integridade física. Para evitar qualquer tipo de risco, o caso deve ser enviado para
esfera federal, de forma a proteger todos aqueles que deverão julgar e para tornar evidente para os
grupos de pressão que o assunto é de interesse de toda a nação, e não apenas do estado federativo em
que ocorreu a violação.

O primeiro caso dessa natureza para o qual foi pedida a federalização foi o assassinato da irmã
Dorothy Stang, ocorrido em 12 de fevereiro de 2005 no interior do Pará.

Irmã Dorothy Stang era uma missionária católica que atuava junto à população carente da
região Norte do país e que, em 12 de fevereiro de 2005, foi assassinada com seis tiros, aos 73
anos, em plena floresta Amazônica, por criminosos que estavam a serviço de proprietários de
terra que não desejavam que os projetos de assentamento rural fossem concretizados. Irmã
Dorothy e outros religiosos e líderes comunitários atuavam no sentido de garantir o assentamento
de famílias que precisavam de terra para produzir e cujos direitos vinham sendo reconhecidos
107
Unidade II

pelo poder judiciário brasileiro. Esse ato de inominável violência e covardia, assassinato de uma
pessoa desarmada e com 73 anos de idade, foi tratado pelo Procurador-Geral da República
naquele momento como caso passível de federalização.

No entanto, o Superior Tribunal de Justiça não acolheu o pedido de federalização e o fez


fundamentado em dois argumentos construídos pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima, que foi o relator
do processo:

4. Na espécie, as autoridades estaduais encontram-se empenhadas na


apuração dos fatos que resultaram na morte da missionária norte-americana
Dorothy Stang, com o objetivo de punir os responsáveis, refletindo a
intenção do Estado do Pará em dar resposta eficiente à violação do maior
e mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidade de
deslocamento da competência originária para a Justiça Federal, de forma
subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento do processo
criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela
aludida norma em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade
dos crimes praticados com grave violação de direitos humanos.

5. O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado


com grave violação dos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade
do pedido – deve atender ao princípio da proporcionalidade (adequação,
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), compreendido
na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da
inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do
Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução
penal. No caso, não há a cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se
acolha o incidente (STJ, 2005).

Assim, apesar de existir a possibilidade de federalização, ela não é a regra, mas sim a exceção,
que deve ser aplicada em situações específicas para as quais fique constatado que o estado
da federação brasileira não está agindo em consonância com a lei ou que não detém recursos
necessários para isso. Nessas hipóteses, deverá ser utilizado o instrumento da federalização, que
viabilizará que a agressão aos direitos humanos seja apurada em esfera federal e sejam punidos
aqueles que forem condenados por ela.

O que pode ser realmente considerado relevante é que a possibilidade de federalização de crimes
contra direitos humanos, alocada na Emenda Constitucional n° 45, de 2004, se soma aos inúmeros
esforços que o Brasil tem efetivado no sentido de garantir a proteção dos direitos humanos em todo o
território nacional, superando dificuldades históricas, porém sempre voltado para a mais ampla proteção
desses direitos fundamentais.

108
DIREITOS HUMANOS

Saiba mais

Para conhecer melhor a vida da irmã Dorothy Stang, desde seu nascimento
até o momento de seu assassinato, há muitos elementos importantes para
conhecermos melhor não apenas a sua história de vida, mas também a
história do Brasil contemporâneo e os conflitos pela exploração da terra,
recomendamos a leitura do livro a seguir:

LE BRETON, B. A dádiva maior. A vida e a morte corajosa da irmã Dorothy


Stang. São Paulo: Globo, 2008.

7.1 Planos Nacionais de Direitos Humanos

Os Planos Nacionais de Direitos Humanos foram criados no Brasil a partir de 1996 e sob inspiração
da Declaração e Programa de Ação da Conferência de Viena, realizada pela Organização das Nações
Unidas naquela cidade da Áustria em 1993.

A Declaração e Programa de Ação da Conferência de Viena (OEA, 1993) determina no item 1 que:

A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos reafirma o empenho


solene de todos os Estados em cumprirem as suas obrigações no tocante à
promoção do respeito universal, da observância e da proteção de todos os
Direitos Humanos e liberdades fundamentais para todos, em conformidade
com a Carta das Nações Unidas, com outros instrumentos relacionados com
os Direitos Humanos e com o Direito Internacional. A natureza universal
destes direitos e liberdades são inquestionáveis. Neste âmbito, o reforço da
cooperação internacional no domínio dos Direitos Humanos é essencial para
a plena realização dos objetivos das Nações Unidas. Os direitos humanos e
as liberdades fundamentais são inerentes a todos os seres humanos; a sua
proteção e promoção constituem a responsabilidade primeira dos Governos.

Assim, em 1996, o governo brasileiro criou o Programa Nacional de Direitos Humanos, conhecido como
PNDH I, por meio do Decreto 1.904, de 13 de maio daquele ano. O PNDH I determinava como objetivos:

I – A identificação dos principais obstáculos à promoção e defesa dos diretos


humanos no País;

II – a execução, a curto, médio e longo prazos, de medidas de promoção e


defesa desses direitos;

III – a implementação de atos e declarações internacionais, com a adesão


brasileira, relacionados com direitos humanos;

109
Unidade II

IV – a redução de condutas e atos de violência, intolerância e discriminação,


com reflexos na diminuição das desigualdades sociais;

V – a observância dos direitos e deveres previstos na Constituição,


especialmente os dispostos em seu art. 5°;

VI – a plena realização da cidadania (BRASIL, 1996).

O PNDH I foi coordenado pelo Ministério da Justiça com a participação e apoio de todos os órgãos
da Administração Pública Federal, e as ações relativas à sua execução foram consideradas prioritárias
para o governo.

Foi facultado aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e entidades privadas que aderissem
ao PNDH I, e as despesas decorrentes do cumprimento das metas do programa seriam provenientes de
dotações orçamentárias dos órgãos participantes das ações implementadas.

Esse primeiro programa nacional de direitos humanos teve por objetivo atuar prioritariamente em
relação aos direitos civis e políticos, que também chamamos de direitos humanos de primeira geração
ou de primeira dimensão.

Em 13 de maio de 2002, por meio do Decreto 4.229, o governo implementou o Plano Nacional de
Direitos Humanos 2, com os seguintes objetivos:

Art. 2º O PNDH tem como objetivos:

I – a promoção da concepção de direitos humanos como um conjunto


de direitos universais, indivisíveis e interdependentes, que compreendem
direitos civis, políticos, sociais, culturais e econômicos;

II – a identificação dos principais obstáculos à promoção e defesa dos


direitos humanos no País e a proposição de ações governamentais e não
governamentais voltadas para a promoção e defesa desses direitos;

III – a difusão do conceito de direitos humanos como elemento necessário e


indispensável para a formulação, execução e avaliação de políticas públicas;

IV – a implementação de atos, declarações e tratados internacionais dos


quais o Brasil é parte;

V – a redução de condutas e atos de violência, intolerância e discriminação,


com reflexos na diminuição das desigualdades sociais; e

VI – a observância dos direitos e deveres previstos na Constituição,


especialmente os inscritos em seu art. 5º (BRASIL, 2002).
110
DIREITOS HUMANOS

Nesse segundo plano, a ênfase era para os direitos econômicos, sociais e culturais, acrescido também
pelos ambientais. Esses direitos são chamados de direitos de segunda dimensão ou de segunda geração.

Finalmente, em 2009, foi criado o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, cujas bases foram inspiradas
pela 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em 2008.

O Plano Nacional de Direitos Humanos 3 foi criado pelo Decreto n° 7.037, de 21 de dezembro de
2009, que foi alterado pelo Decreto n° 7.177, de 12 de maio de 2010.

O PNDH 3 está dividido em seis eixos e foi apresentado da seguinte forma:

O Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, instituído pelo Decreto nº 7.037,


de 21 de dezembro de 2009, e atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de maio
de 2010, é produto de uma construção democrática e participativa, incorporando
resoluções da 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, além de propostas
aprovadas em mais de 50 conferências temáticas, promovidas desde 2003, em
áreas como segurança alimentar, educação, saúde, habitação, igualdade racial,
direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência,
idosos, meio ambiente etc.

O PNDH-3 concebe a efetivação dos direitos humanos como uma política


de Estado, centrada na dignidade da pessoa humana e na criação de
oportunidades para que todos e todas possam desenvolver seu potencial
de forma livre, autônoma e plena. Parte, portanto, de princípios essenciais à
consolidação da democracia no Brasil: diálogo permanente entre Estado e
sociedade civil; transparência em todas as áreas e esferas de governo; primazia
dos direitos humanos nas políticas internas e nas relações internacionais;
caráter laico do Estado; fortalecimento do pacto federativo; universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos, econômicos,
sociais, culturais e ambientais; opção clara pelo desenvolvimento sustentável;
respeito à diversidade; combate às desigualdades; erradicação da fome e da
extrema pobreza.

O PNDH-3 estrutura-se em torno dos seguintes eixos orientadores: I. Interação


Democrática entre Estado e Sociedade Civil; II. Desenvolvimento e Direitos
Humanos; III. Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades; IV.
Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; V. Educação e
Cultura em Direitos Humanos e VI. Direito à Memória e à Verdade.

O Eixo I, Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil, reflete o


pressuposto de que o compromisso compartilhado e a participação social
na construção e no monitoramento de políticas públicas são essenciais
para que a consolidação dos direitos humanos seja substantiva e conte
com forte legitimidade democrática. Nesse contexto, o PNDH-3 propõe a
111
Unidade II

integração e o aprimoramento dos fóruns de participação existentes, bem


como a criação de novos espaços e mecanismos institucionais de interação
e acompanhamento.

O Eixo II, Desenvolvimento e Direitos Humanos, enfoca a inclusão social e a


garantia do exercício amplo da cidadania, garantindo espaços consistentes
com as estratégias de desenvolvimento local e territorial e buscando
um modelo de crescimento sustentável, capaz de assegurar os direitos
fundamentais das gerações presentes e futuras.

O Eixo III, Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades, baseia-se


na necessidade de reconhecer as diversidades e diferenças para concretização
do princípio da igualdade, visando à superação de barreiras estruturais para
o acesso aos direitos humanos. Envolve, portanto, iniciativas relacionadas
com a redução da pobreza, a erradicação da fome e da miséria, o combate à
discriminação e a implementação de ações afirmativas voltadas para grupos
em situação de vulnerabilidade.

O Eixo IV, Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência,


envolve metas para a diminuição e prevenção da violência e criminalidade,
priorizando a transparência e a participação popular. Inclui ainda medidas de
ampliação do acesso à Justiça, por meio da disponibilização de informações
à população, do fortalecimento dos modelos autocompositivos de solução
de conflitos e da modernização da gestão do sistema de Justiça.

O Eixo V, Educação e Cultura em Direitos Humanos, refere-se ao


desenvolvimento de processos educativos permanentes voltados à formação
de uma consciência centrada no respeito ao outro, na tolerância, na
solidariedade e no compromisso contra todas as formas de discriminação,
opressão e violência, com base no respeito integral à dignidade humana.

O Eixo VI, Direito à Memória e à Verdade, afirma a importância da memória e da


verdade como princípios históricos de direitos humanos, e tem como finalidade
assegurar o processamento democrático e republicano dos acontecimentos
ocorridos durante o regime militar, além das reparações a violações que tenham
se passado nesse contexto (O QUE É..., [s.d.]).

Como podemos constatar pela análise detalhada dos eixos em que o PNDH 3 está dividido, nele se
encontram contemplados os principais temas de direitos humanos, os mais importantes para todo o
País. A relevância dos temas abordados nos eixos motivou a criação do Comitê de Acompanhamento
e Monitoramento do PNDH-3, composto de 21 ministérios do governo federal e com objetivo de:

I – promover a articulação entre os órgãos e entidades envolvidos na


implementação das suas ações programáticas;
112
DIREITOS HUMANOS

II – elaborar os Planos de Ação dos Direitos Humanos;

III – estabelecer indicadores para o acompanhamento, monitoramento e


avaliação dos Planos de Ação dos Direitos Humanos;

IV – acompanhar a implementação das ações e recomendações; e

V – elaborar e aprovar seu regimento interno (ENTENDA AS ESTRATÉGIAS..., [s.d.]).

Observação

Compõem o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3:

Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos;


a Secretaria-Geral da Presidência da República; o Ministério da Cultura; o
Ministério da Educação; o Ministério da Justiça; o Ministério da Pesca e
Aquicultura; o Ministério da Previdência Social; o Ministério da Saúde; o
Ministério das Cidades; o Ministério das Comunicações; o Ministério das
Relações Exteriores; o Ministério do Desenvolvimento Agrário; o Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; o Ministério do Esporte;
o Ministério do Meio Ambiente; o Ministério do Trabalho e Emprego; o
Ministério do Turismo; o Ministério da Ciência e Tecnologia; e o Ministério
de Minas e Energia (ENTENDA COMO SÃO CONSTITUÍDOS..., [s.d.]).

Além disso, foi constituído o Grupo de Trabalho no âmbito do Conselho de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana (CDDPH), por meio de resolução de 2012, composto de sete representantes do
governo e sete representantes da sociedade civil brasileira para que, em paridade de condições, governo
e sociedade realizarem o controle social da execução do PNDH 3, discutindo as prioridades, os avanços
e os gargalos que impedem a execução do programa.

Encontra-se disponível na rede mundial de computadores o portal do Observatório do PNDH 3,


que é uma plataforma pública por meio da qual a população em geral e as entidades civis organizadas
poderão obter dados fornecidos pelo governo e pelos órgãos que atuam na implementação do
programa; com isso, podem monitorar as ações que têm sido efetivadas com objetivo de cumprir as
metas do programa.

8 DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL

No Capítulo II, do Título I – “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, a Constituição Federal trata dos
Direitos Sociais. Eles estão alocados nos artigos 6° a 11.

Como podem ser definidos os direitos sociais?

113
Unidade II

Para Nestor Sampaio Penteado Filho (2009, p. 121), direito sociais podem ser conceituados como “direitos
fundamentais (liberdades positivas) que visam à melhoria da qualidade de vida dos hipossuficientes”.

José Afonso da Silva ensina:

Direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do homem, são


prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente,
enunciadas em normas constitucionais, que possibilitem melhores condições
de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de
situações sociais desiguais (SILVA, 1999, p. 286).

No artigo 6º a Constituição Federal determina:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição (BRASIL, 1988).

No artigo 7º trata dos direitos dos trabalhadores. No artigo 8º o tema constitucional é a livre
associação profissional ou sindical e no artigo 9º o direito de greve.

Os artigos 10 e 11 tratam, respectivamente:

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos


colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou
previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição


de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o
entendimento direto com os empregadores.

Nosso principal interesse são os direitos sociais do artigo 6º e a proteção específica destinada no
ordenamento jurídico brasileiro para mulheres, crianças e adolescentes, idosos e grupos LGBTIs, porque
estes contemplam mais diretamente o rol de direitos humanos, sabido que os direitos do trabalhador são
protegidos na Constituição Federal e também em leis próprias como a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) e outras que regulam atividades específicas.

8.1 Direito à saúde

Em 22 de julho de 1946 foram aprovados os estatutos da OMS, que viria a ser fundada em 07 de abril
de 1948. A OMS é a agência da ONU especializada em saúde mundial.

Nos seus estatutos, de 1946, constam alguns princípios que os Estados membros da ONU, entre eles
o Brasil, se comprometem a cumprir. São eles:
114
DIREITOS HUMANOS

A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não


consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade.

Gozar do melhor estado de saúde que é possível atingir constitui um dos


direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de
religião, de credo político, de condição econômica ou social.

A saúde de todos os povos é essencial para conseguir a paz e a segurança e


depende da mais estreita cooperação dos indivíduos e dos Estados.

Os resultados conseguidos por cada Estado na promoção e proteção da


saúde são de valor para todos.

O desigual desenvolvimento em diferentes países no que respeita à promoção


de saúde e combate às doenças, especialmente contagiosas, constitui um
perigo comum.

O desenvolvimento saudável da criança é de importância basilar; a aptidão para


viver harmoniosamente num meio variável é essencial a tal desenvolvimento.

A extensão a todos os povos dos benefícios dos conhecimentos médicos,


psicológicos e afins é essencial para atingir o mais elevado grau de saúde.

Uma opinião pública esclarecida e uma cooperação ativa da parte do público


são de uma importância capital para o melhoramento da saúde dos povos.

Os Governos têm responsabilidade pela saúde dos seus povos, a qual só pode
ser assumida pelo estabelecimento de medidas sanitárias e sociais adequadas.

Aceitando estes princípios com o fim de cooperar entre si e com os


outros para promover e proteger a saúde de todos os povos, as partes
contratantes concordam com a presente Constituição e estabelecem a
Organização Mundial da Saúde como um organismo especializado, nos
termos do artigo 57 da Carta das Nações Unidas (BRASIL, 1988).

Na atualidade, o conceito de saúde adotado pela Organização Mundial de Saúde tem sido bastante
criticado pelos estudiosos do tema, dado à impossibilidade de uma pessoa conseguir se sentir em
completo estado de bem-estar físico, mental e social.

De fato, existem inúmeros fatores em nosso cotidiano que impedem de nos sentirmos em completo
bem-estar físico, mental e social, por vezes fatores relacionados às nossas tarefas corriqueiras de
trabalho, estudo, deslocamento nas grandes cidades ou em lugares mais afastados, convivência
familiar e social, entre outros que nos impedem e impedirão sempre o completo bem-estar. Porém, há
que se salientar na definição adotada pela OMS o sentido ampliado de saúde, que é válido e deve ser
respeitado: saúde não é só a falta de doença, é muito mais que isso! É o acesso a tudo que o homem
115
Unidade II

precisa para ter condições de bem-estar, seja pela prevenção de doenças, seja pela cura depois que
ela se instala. E isso se refere a doenças físicas e psicológicas.

O artigo 194 da Constituição Federal determina que a seguridade social, no Brasil, compreende um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade que são destinadas a
assegurar os direitos de saúde, previdência e assistência social.

A seguridade social se estrutura com base em vários princípios, dos quais destacamos a universalidade
de cobertura e do atendimento, o que garante a todos, no Brasil, que sejam atendidos em razão de
qualquer tipo de prevenção ou tratamento de doença que necessitarem.

No artigo 196, a Constituição Federal brasileira determina a forma como o direito à saúde será efetivado:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

Vários aspectos devem ser destacados nesse artigo, principalmente:

• A saúde é direito de todos, ou seja, não há nenhuma exigência de contrapartida como, por
exemplo, recolhimento de tributos ou taxas específicas que se destinem ao custeio da saúde.
Independentemente de pagar ou não tributos, todos os cidadãos brasileiros e os estrangeiros
residentes no País, assim como aqueles que aqui se encontrem de passagem, a trabalho ou a
turismo, têm direito de ser atendidos por unidades de saúde pública em todo o País, não importando
quem seja o responsável pelo custeio delas.

• A saúde será prestada por meio de políticas sociais e econômicas, ou seja, todos os governantes
do País, sejam do município, do estado federativo ou da União, deverão efetivar esforços no
sentido de efetivar políticas públicas de saúde para toda a população, crianças, adolescentes,
jovens, adultos e idosos, sem nenhuma discriminação.

• Acesso universal e igualitário significa que toda a população tem direito a todos os tratamentos
e formas de prevenção que forem prestadas, em igualdade de condições, sem prioridade de uns
sobre os outros e em todas as fases, seja na promoção, proteção ou na recuperação após a doença
haver se instalado.

Nem todos os países do mundo possuem essa amplitude no serviço público de saúde. Alguns países,
aliás, são bem restritivos e só prestam serviços de saúde a quem comprovar que tenha contribuído
previamente mediante pagamento de taxas e impostos específicos para ter direito aos serviços de saúde.
Para um país com mais de duzentos milhões de habitantes e com dimensões muito grandes como o
Brasil, garantir direito à saúde para todos, com acesso universal, atendimento integral e igualitário, é
um compromisso social da mais alta relevância e que deve ser defendido pela sociedade brasileira, em
especial, com o uso racional e diligente para que sejam evitados os desperdícios.
116
DIREITOS HUMANOS

A Constituição Federal delineou as bases do Sistema Único de Saúde (SUS) no artigo 198, que determina:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede


regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado
de acordo com as seguintes diretrizes:

I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,


sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III – participação da comunidade.

§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com
recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (BRASIL, 1988).

O SUS é regulado pela Lei nº 8.080, de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes à
saúde. Em seu título I, que contém as Disposições Gerais, a Lei nº 8.080, de 1990, contém algumas
definições relevantes para nosso estudo. Lei atentamente:

TÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado


prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução


de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de
outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal
e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e


da sociedade.

Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre


outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente,
o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização
social e econômica do País.

117
Unidade II

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do
disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade
condições de bem-estar físico, mental e social (BRASIL, 1990d).

Observe que o dever do Estado em prover saúde não exclui o das pessoas, das famílias, das empresas
e da sociedade. Qual o sentido dessa afirmação contida no parágrafo 2º do artigo 1º?

Considerando que saúde tem aquela definição ampla adotada pela OMS e considerando o que está
disposto no artigo 3º da Lei 8.080, de 1990, é possível interpretar o parágrafo 2º do artigo 1º como sendo
uma determinação para todos, inclusive para cada membro da população brasileira, que devem ser
buscadas as opções de vida pessoal e de trabalho que garantam o maior bem-estar possível, ou, ainda,
a maior distância possível dos fatores que possam levar alguém a ficar doente, seja do ponto de vista
físico, seja do psicológico.

Por isso, cada um de nós, as famílias, as empresas e todos os grupos sociais que se organizem na
sociedade devem atuar para promover ações de saúde, cuidar da integridade física e psicológica e
contribuir para os processos comprovados de cura com tudo o que esteja ao seu alcance. A determinação
da lei funciona como um comando para que a saúde seja prioridade em todas as ações da sociedade
brasileira, porque todos somos responsáveis pela integridade da saúde física e psicológica, seja na
prevenção, seja no tratamento.

E como isso acontece na prática? Por exemplo, as comunidades de qualquer faixa socioeconômica
devem ser incentivadas a não descartar lixo em local no qual eles possam se constituir em perigo para
a saúde da população. Todos somos responsáveis por desenvolver esforços para que as comunidades
tenham um local adequado de descarte de lixo, mesmo quando o Estado não está presente por inércia
ou impossibilidade momentânea de prover esses serviços.

Toda a população tem dever de se vacinar e providenciar a vacinação das crianças para prevenir
doenças. Se não existem meios de locomoção em uma determinada comunidade para que todos possam
chegar aos postos de vacinação, é dever da comunidade procurar solucionar esse problema de forma a
garantir que todos tenham acesso às vacinas.

É muito comum pensarmos na vida em sociedade como sujeitos de direito, mas quando se trata de
um bem fundamental como a saúde é preciso pensar que somos também sujeito de deveres, que temos
que atuar como uma verdadeira comunidade, buscando realizar os melhores esforços para obter os
melhores resultados.

Claro que isso não afasta a responsabilidade do Estado, que deve ser o primeiro a organizar as ações
de saúde tanto em caráter preventivo como de tratamento. Porém, o fato de o Estado possuir ampla
responsabilidade por isso não afasta nossos deveres de cidadania, e esse aspecto da vida em sociedade
tem sido pouco tratado pela mídia e pouco debatido pela própria sociedade.

Somos cidadãos com direitos, é certo. A Constituição Federal nos mostra isso; porém, somos também
detentores de deveres sociais, de iniciativas e esforços que devemos concretizar com o objetivo de
tornar a vida em sociedade melhor, com mais justiça e solidariedade.
118
DIREITOS HUMANOS

Repare que a Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, também regula a atividade do SUS e o faz
especificamente para dispor sobre a participação da comunidade em sua gestão e sobre as
transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19


de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das
funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas:

I – a Conferência de Saúde; e

II – o Conselho de Saúde.

§ 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a


representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde
e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis
correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente,
por esta ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão


colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no
controle da execução da política de saúde na instância correspondente,
inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão
homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera
do governo.

§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho


Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) terão representação
no Conselho Nacional de Saúde.

§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências


será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos.

§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua organização


e normas de funcionamento definidas em regimento próprio, aprovadas
pelo respectivo conselho (BRASIL, 1990d).

Repare que o Conselho de Saúde é um órgão colegiado composto de representantes do governo,


prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, ou seja, cidadãos como nós poderão ter
assento lado a lado com o governo e os profissionais de saúde, para debater de forma livre e democrática
a formulação de estratégias e o controle da execução da política de saúde. Em outras palavras,
poderão contribuir para definir como será feito e fiscalizar se aquilo que foi planejado foi executado
de forma satisfatória para toda a população.

119
Unidade II

A previsão de formação de conselhos em várias áreas dos direitos sociais, em especial saúde e educação,
faz da Constituição Federal brasileira um exemplo de democracia, porque ela contempla a forma direta e
indireta (por meio da escolha de governantes e representantes parlamentares) do exercício democrático.
Isso não é pouca coisa! Ao contrário, é importante e faz aumentar a responsabilidade de cada cidadão
brasileiro, que deve participar ativamente de todas as possibilidades criadas pela lei maior do País, de forma
a contribuir efetivamente para que o país seja mais justo e solidário, como todos nós queremos.

Assim, se temos direito social à saúde porque essa é uma modalidade de direitos humanos,
temos também, e na mesma medida, a responsabilidade cidadã por participar de conselhos de
saúde que estejam instalados em nosso município, para poder contribuir com ideias e esforços
no sentido de garantir a efetividade das políticas públicas de saúde, em especial, para fiscalizar que os
recursos públicos sejam utilizados de forma correta, sem ameaça de corrupção ou qualquer outro tipo
de desvio ou fraude.

8.2 Direito à educação

A educação é outro importante direito social contemplado pela Constituição Federal brasileira de
1988 no artigo 6º.

Na Organização das Nações Unidas (ONU), a agência responsável pela educação é a Unesco. No Brasil
o planejamento e as ações da área da educação estão a cargo do Ministério da Educação, que organiza
todos os níveis de educação existentes no país, sempre a partir de leis que regulam os objetivos a serem
alcançados, os recursos econômicos destinados e as avaliações que serão realizadas.

A Constituição Federal regula a educação a partir do artigo 205, que estabelece:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

A educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família, o que nos reporta, de imediato,
às reflexões que fizemos anteriormente sobre a saúde: é preciso destacar que existem direitos e
responsabilidades, ou deveres, que, no caso da educação, são diretamente imputados às famílias. Assim,
é da família a responsabilidade por matricular as crianças na escola, garantir que sejam assíduas, que
compareçam à escola portando o material necessário, que sejam acompanhadas em seu desenvolvimento
cognitivo e, principalmente, que sejam incentivadas a respeitar seus professores e a escola como fatores
essenciais para o progresso pessoal e de toda a sociedade.

Na atualidade, infelizmente, nem sempre constatamos o envolvimento direto da família com a


escola e com a aprendizagem dos filhos e, muitas vezes, também não identificamos que as crianças
estejam sendo educadas para respeitar seus professores, seus colegas de escola e a própria escola como
instituição essencial em suas vidas. Essa falha na atuação das famílias é bastante negativa e, sempre que
possível, deve ser corrigida para que os valores da educação e do respeito aos profissionais dessa área
sejam enaltecidos, resgatados e impulsionados.
120
DIREITOS HUMANOS

A sociedade também tem o dever constitucional de colaborar com a educação no Brasil. É papel de
toda a população contribuir, na medida de suas possibilidades, para que a educação seja fortalecida na
sociedade, em especial nas comunidades economicamente mais carentes, nas quais a atuação de grupos
sociais organizados, como associações e organizações não governamentais, pode ser fundamental para a
melhoria da qualidade de ensino, com a organização de atividades educativas, doação de livros e brinquedos
pedagógicos, organização de bibliotecas, atividades esportivas e culturais, entre outros projetos possíveis.

Mais à frente, no artigo 206 e seguintes, a Constituição Federal volta a tratar da educação, agora
com mais especificidade. Determina o artigo 206 que:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte


e o saber;

III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino;

IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma


da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público
de provas e títulos, aos das redes públicas;

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade;

VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação


escolar pública, nos termos de lei federal (BRASIL, 1988).

O que orienta o processo educativo é a ampla liberdade para acolher o pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas, sempre orientado pela responsabilidade dos organizadores do processo educativo,
diretores, professores e família, para que os melhores resultados sejam obtidos. Educação é sinônimo de
liberdade e liberdade só pode ser exercida com responsabilidade para que os objetivos sejam alcançados.
Assim, os conteúdos abordados nas escolas, as pesquisas propostas, a vivência junto à comunidade, tudo
deve ser liderado pela liberdade de escolhas e de abordagens didático-pedagógicas, sempre ressalvada a
premissa anterior, ou seja, não existe liberdade que possa ser praticada sem responsabilidade.

A Constituição Federal brasileira exige que os profissionais da educação sejam valorizados, em especial
com a adoção de planos de carreira que lhes permitam progredir intelectualmente e, ao mesmo tempo,
possuir tranquilidade econômica para sua manutenção. Infelizmente, como todos sabemos, a carreira
de professor na área pública ainda é pouco valorizada no Brasil, com ganhos modestos se levarmos

121
Unidade II

em conta a importância do trabalho que desenvolvem. É certo, no entanto, que vários esforços foram
feitos nos últimos anos para a mudança dessa situação e, certamente, a tendência é que as condições
da carreira docente na área pública sejam aprimoradas.

O artigo 206 tem, ainda, uma determinação muito importante: a gestão democrática do ensino
público. E como essa gestão democrática se materializa?

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que é a Lei nº 9.394 de 1996, “os sistemas de ensino
definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios”:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto


pedagógico da escola;

II – participação das comunidades escolares e local em conselhos escolares


ou equivalentes (BRASIL, 1996).

Assim, a sociedade deve atuar por meio de conselhos escolares ou entidades assemelhadas, por
meio das quais se possa construir diálogo e soluções conjuntas a serem aplicadas à educação básica, em
conformidade com as peculiaridades de cada comunidade.

A organização não governamental Todos pela Educação mantém em sua página na rede mundial de
computadores esclarecimentos muito importantes sobre os conselhos municipais de educação.

Leia com atenção o trecho a seguir:

Os conselhos municipais de Educação estão presentes em 86% das cidades


brasileiras. Com funções diversificadas, eles ajudam a estabelecer um maior
controle da gestão municipal de ensino e, se bem conduzidos, podem ser
um importante pilar de uma gestão democrática, com a participação da
sociedade civil nas decisões políticas relacionadas à Educação.

Quais são as principais funções de um conselho municipal de Educação?

Os conselhos funcionam como mediadores e articuladores da relação


entre a sociedade e os gestores da Educação municipal. Destacam-se [as
seguintes] funções do órgão:

- Normatizar: elaborar as regras que adaptam para o município as


determinações das leis federais e/ou estaduais e que as complementem,
quando necessário.

- Deliberar: autorizar ou não o funcionamento das escolas públicas


municipais e da rede privada de ensino. Legalizar cursos e deliberar
sobre o currículo da rede municipal de ensino.

122
DIREITOS HUMANOS

- Assessorar: responder aos questionamentos e dúvidas do poder público e da


sociedade. As respostas do órgão são consolidadas por meio de pareceres.

- Fiscalizar: acompanhar a execução das políticas públicas e monitorar


os resultados educacionais do sistema municipal.

Como se dá a criação de um conselho?

O Conselho Municipal de Educação (CME) é instituído por meio de lei


municipal. Portanto, nas cidades onde ele ainda não existe, é preciso apresentar
à câmara um projeto de lei. Após a tramitação, o projeto será submetido à
aprovação em plenário e entra em vigor após a sanção do prefeito.

O passo seguinte é nomear os conselheiros, que serão definidos por eleição


ou indicação, conforme a lei aprovada. A primeira atribuição dos conselheiros
é elaborar um plano de atividades. O conselho também deve contar com
infraestrutura que possibilite as reuniões periódicas, materiais e equipamentos.
Para que possa iniciar suas atividades, o conselho deve recrutar e capacitar
uma equipe administrativa, com apoio da secretaria municipal de Educação.

Quem faz parte do conselho?

Devem compor o conselho representantes do governo, da comunidade


escolar e da sociedade civil em geral. O órgão deve contar com membros
da secretaria municipal de Educação; docentes; diretores e funcionários das
redes de ensino do município. Há a possibilidade também da participação
de entidades religiosas, organizações não governamentais, fundações e
instituições de capital privado.

Todos os municípios são obrigados a ter um conselho próprio?

Não existe legislação no Brasil que obrigue uma cidade a ter um conselho
municipal de Educação. A criação de um CME deve resultar da vontade da
sociedade e do poder executivo. Debater com a comunidade e as lideranças
do município as razões e o perfil do CME que será criado (ou reestruturado),
definindo sua composição, funções, atribuições e estrutura é a forma mais
indicada para mobilizar a sociedade pela educação.

Os Conselhos estão previstos em lei?

Sim. A existência do conselho municipal de Educação como instituição


encontra respaldo na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96 e no Plano Nacional de
Educação (PNE), como estratégia da Meta 19:

123
Unidade II

“19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de conselhos escolares e


conselhos municipais de educação, como instrumentos de participação
e fiscalização na gestão escolar e educacional, inclusive por meio de
programas de formação de conselheiros, assegurando-se condições de
funcionamento autônomo;”

O que acontece com as cidades que não têm conselho?

As cidades que não têm conselho dependem do conselho estadual de


Educação do Estado onde se localizam. Normalmente, a sede do órgão
estadual é na capital.

Quantos municípios no Brasil têm um conselho municipal de Educação?

Atualmente, 4.771 cidades brasileiras contam com o órgão e 799 municípios


– 14% do total – não apresentam a entidade em seu sistema de ensino,
segundo dados extraídos por relatório do sistema informatizado do Plano
de Ações Articuladas (PAR).

Onde o município pode encontrar mais informações para criar seu conselho?

O Ministério da Educação mantém o Programa Nacional de Capacitação de


Conselheiros Municipais de Educação (Pró-Conselho), com objetivo de qualificar
gestores e técnicos das secretarias municipais de educação e representantes
da sociedade civil para que atuem em relação à ação pedagógica escolar, à
legislação e aos mecanismos de financiamento, repasse e controle do uso das
verbas da educação.

A União dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME) também mantém


uma página onde há o passo a passo para a criação de um conselho municipal
(ENTENDA COMO SÃO CONSTITUÍDOS..., [s.d.]).

Repare que os conselhos são compostos de profissionais e por pessoas comuns da sociedade, além
de entidades sociais e organizações não governamentais (ONGs) e associações, inclusive de caráter
religioso. Isso certamente garante aos conselhos pluralidade de ideias, de olhares, o que é altamente
positivo para a educação.

Outro aspecto importante do texto reproduzido é que cabe aos conselhos fiscalizar, ou seja, acompanhar
a execução das políticas públicas e monitorar os resultados educacionais do sistema municipal.

Os conselhos municipais de educação podem, portanto, verificar como o município está


empregando os recursos financeiros na educação, compreender as diversas metodologias
pedagógicas que estão sendo utilizadas pelos professores, avaliar as medidas adotadas para conter
a indisciplina dos alunos e, principalmente, atuar para impedir que sejam desviados recursos
destinados a material didático e à merenda escolar.

124
DIREITOS HUMANOS

A participação da sociedade é o melhor caminho para impedir as práticas de corrupção nos


governos, em especial no governo municipal, que é aquele mais próximo de cada um de nós.

Saiba mais

Conheça a história da Amarribo, uma associação civil sem fins lucrativos


que teve início em 1999 em uma reunião de amigos que se conheciam
desde criança, todos nascidos em Ribeirão Bonito, uma pequena cidade
do interior do Estado de São Paulo, e que resolveram se organizar e
arregimentar mais pessoas para lutar contra a corrupção naquele município.
Além de construírem uma linda história de participação popular eficiente e
responsável, eles escreveram até uma cartilha.

Com o passar do tempo outras associações surgiram inspiradas pelo


sucesso da Amarribo e, por isso eles criaram a Rede Amarribo. A história
desse grupo deve servir de inspiração para todos aqueles que desejam
uma sociedade melhor.

Visite o portal da AMARRIBO, leia o material didático que eles


produziram e se deixe inspirar para participar ativamente da sociedade
como um cidadão ativo.

<https://amarribo.org.br/a-amarribo/>.

Ainda sobre educação, a Constituição Federal brasileira, no artigo 208, determina que é dever do Estado
propiciar educação básica obrigatória e gratuita dos 04 aos 17 anos; progressiva universalização do ensino médio
gratuito; atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
de ensino; educação infantil, em creche e pré-escola; acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um; oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
do educando e atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (BRASIL,1988).

Por fim, cumpre destacar que a Constituição Federa brasileira determina no parágrafo 1º do
artigo 208 que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. Isso significa
que os pais ou responsáveis por uma criança que está fora da escola por falta de vagas, por
exemplo, poderão exigir esse direito perante o Poder Judiciário, por meio de uma ação judicial da
qual vão requerer que o poder público municipal ou estadual consiga uma vaga na escola mais
perto da residência da criança. Nem todos os direitos constitucionais podem ser exigidos dessa
forma. Muitas vezes, as pessoas estão privadas de acesso a direitos que lhe são constitucionalmente
garantidos, porém, nada podem fazer a não ser esperar que eles sejam efetivados quando o poder
público disponibilizar recursos para isso. Mas, com a educação obrigatória, que é a do Ensino
Fundamental, isso não acontece.

125
Unidade II

A própria Constituição Federal permite que a criança, representada por seus pais ou responsáveis,
compareça perante o Estado, neste caso simbolizado pelo Poder Judiciário, para exigir o cumprimento
de seu direito, independentemente dos argumentos que o poder público possa utilizar para justificar
a de falta de recursos financeiros para conseguir mais vagas em escolas públicas. Se o Poder Judiciário
decidir de forma favorável à criança, e certamente o fará se estiverem preenchidas as condições legais
(idade correta da criança e comprovada falta de vaga), o poder público executivo terá que obter a vaga
e garantir que a criança tenha acesso à escola.

A educação é, sem dúvida, um direito muito bem protegido na Constituição Federal brasileira e, por
essa razão, deve ser concretizada com o esforço de todos: poder público e sociedade.

8.3 Direito à moradia

O direito à moradia está expressamente garantido na Constituição Federal brasileira, no artigo 6º,
como um direito social.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU também já havia previsto esse direito no
artigo 25, que afirma:

Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar


a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário,
habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito
à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice
ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias
fora de seu controle (ONU, 1948).

Figura 17

126
DIREITOS HUMANOS

Os problemas de acesso à moradia são muito graves no Brasil e em outros muitos países do mundo,
em especial em áreas economicamente menos desenvolvidas, na América Latina e na África. A foto da
Favela do Vidigal, na cidade do Rio de Janeiro, mostra que a realidade da situação de moradia é, de fato,
muito complexa, porque existem muitas pessoas sem moradia adequada e outras tantas pessoas sem
nenhum tipo de moradia.

Outros documentos da ONU garantiram o direito à moradia como um dos direitos humanos fundamentais.

Assim, temos:

Pacto de Direitos Civis e Políticos

Artigo 17, parágrafo 1º – Ninguém poderá ser objeto de ingerências


arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio
ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação.

Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais

Artigo 11, parágrafo 1º – Os Estados partes no presente Pacto reconhecem


o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e
para sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas,
assim como uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados
partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse
direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação
internacional fundada no livre consentimento.

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação Racial

Artigo 5º, letra “e”, item III – De conformidade com as obrigações


fundamentais enunciadas no artigo 2º, os Estados partes comprometem-se a
proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas formas e a garantir o
direito de cada um à igualdade perante a lei sem distinção de raça, de cor ou
de origem nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes direitos:

[...] direitos econômicos, sociais e culturais, principalmente:

[...] III) direito à habitação.

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


Contra a Mulher

Artigo 14, 2 – Os Estados partes adotarão todas as medidas apropriadas


para eliminar a discriminação contra a mulher nas zonas rurais a fim de
127
Unidade II

assegurar, em condições de igualdades entre homens e mulheres, que elas


participem no desenvolvimento rural e dele se beneficiem, e em particular
assegurar-lhes-ão o direito a:

[...]

h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente nas esferas da


habitação, dos serviços sanitários, da eletricidade e do abastecimento de
água, do transporte e das comunicações.

Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança

Artigo 16, 1 – Nenhuma criança será objeto de interferências arbitrárias


ou ilegais em sua vida particular, sua família, seu domicílio ou sua
correspondência, nem de atentados ilegais a sua honra e a sua reputação.

Artigo 27, 3 – Os Estados partes, de acordo com as condições nacionais e


dentro de suas possibilidades, adotarão medidas apropriadas a fim de ajudar
os pais e outras pessoas responsáveis pela criança a tornar efetivo esse direito
e, caso necessário, proporcionarão assistência material e programas de apoio,
especialmente no que diz respeito à nutrição, ao vestuário e à habitação
(BRASIL, 1992).

Segundo os estudos sobre moradia adequada desenvolvidos pela Faculdade de Arquitetura e


Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), o direito de moradia não se concretiza apenas
com a disponibilidade de um teto e de quatro paredes para que as pessoas, em especial as famílias, se
abriguem naquele espaço. Isso não concretiza inteiramente o direito à moradia. O que efetivamente o
concretiza é uma moradia digna ou moradia adequada.

E qual o conceito que a FAU utiliza para moradia adequada?

Leia com atenção:

MAIS QUE UM TETO E QUATRO PAREDES

O direito à moradia integra o direito a um padrão de vida adequado. Não se


resume a apenas um teto e quatro paredes, mas ao direito de toda pessoa ter
acesso a um lar e a uma comunidade seguros para viver em paz, dignidade
e saúde física e mental. A moradia adequada deve incluir:

Segurança da posse: todas as pessoas têm o direito de morar sem o medo


de sofrer remoção, ameaças indevidas ou inesperadas. As formas de se
garantir essa segurança da posse são diversas e variam de acordo com o
sistema jurídico e a cultura de cada país, região, cidade ou povo.
128
DIREITOS HUMANOS

Disponibilidade de serviços, infraestrutura e equipamentos públicos:


a moradia deve ser conectada às redes de água, saneamento básico, gás e
energia elétrica; em suas proximidades deve haver escolas, creches, postos
de saúde, áreas de esporte e lazer e devem estar disponíveis serviços de
transporte público, limpeza, coleta de lixo, entre outros.

Custo acessível: o custo para a aquisição ou aluguel da moradia deve ser


acessível, de modo que não comprometa o orçamento familiar e permita também
o atendimento de outros direitos humanos, como o direito à alimentação, ao
lazer etc. Da mesma forma, gastos com a manutenção da casa, como as despesas
com luz, água e gás, também não podem ser muito onerosos.

Habitabilidade: a moradia adequada tem que apresentar boas condições


de proteção contra frio, calor, chuva, vento, umidade e, também, contra
ameaças de incêndio, desmoronamento, inundação e qualquer outro fator
que ponha em risco a saúde e a vida das pessoas. Além disso, o tamanho da
moradia e a quantidade de cômodos (quartos e banheiros, principalmente)
devem ser condizentes com o número de moradores. Espaços adequados
para lavar roupas, armazenar e cozinhar alimentos também são importantes.

Não discriminação e priorização de grupos vulneráveis: a moradia


adequada deve ser acessível a grupos vulneráveis da sociedade, como idosos,
mulheres, crianças, pessoas com deficiência, pessoas com HIV, vítimas de
desastres naturais etc. As leis e políticas habitacionais devem priorizar o
atendimento a esses grupos e levar em consideração suas necessidades
especiais. Além disso, para realizar o direito à moradia adequada é
fundamental que o direito a não discriminação seja garantido e respeitado.

Localização adequada: para ser adequada, a moradia deve estar em local


que ofereça oportunidades de desenvolvimento econômico, cultural e
social. Ou seja, nas proximidades do local da moradia deve haver oferta
de empregos e fontes de renda, meios de sobrevivência, rede de transporte
público, supermercados, farmácias, correios e outras fontes de abastecimento
básicas. A localização da moradia também deve permitir o acesso a bens
ambientais, como terra e água, e a um meio ambiente equilibrado.

Adequação cultural: a forma de construir a moradia e os materiais utilizados


na construção devem expressar tanto a identidade quanto a diversidade
cultural dos moradores e moradoras. Reformas e modernizações devem
também respeitar as dimensões culturais da habitação (CAZALIS, [s.d.]).

Essa reflexão é muito importante. No passado recente, muitos administradores públicos imaginaram
que poderiam resolver o problema de moradia das camadas de baixa renda da população construindo
grandes conjuntos habitacionais, com casas rigorosamente iguais, em pontos afastados do centro das
129
Unidade II

cidades. Com isso, segregaram a população economicamente mais pobre e dificultaram imensamente
sua qualidade de vida, porque nesses locais não existia infraestrutura necessária como transporte
coletivo, escolas, creches, postos de saúde, unidades de pronto-atendimento, segurança, iluminação de
rua, água e, às vezes, até luz elétrica nas casas. Isso fez com que as pessoas não conseguissem morar
naqueles lugares e voltassem para o centro das cidades ou pelo menos mais perto dos bairros, com
atividades econômicas que propiciassem emprego ou atividade de economia informal, e até fossem
morar em situação precária, construindo barracos e favelas.

Assim, as políticas públicas de habitação devem levar em conta inúmeros fatores que são
imprescindíveis para a garantia da moradia digna ou adequada e não podem isolar pessoas em locais de
difícil acesso, sem infraestrutura e que não são adequados para viver.

Lembrete

Pesquise quais são as políticas públicas para concretização de direito à


moradia em sua cidade, região e estado. Sempre é bom conhecer o que o
poder público tem feito nesse sentido, em especial em relação à construção
de conjuntos habitacionais, fornecimento de financiamento para aquisição
da casa própria, pagamento de aluguel social para população situada em
área de risco, entre outras medidas de políticas públicas custeadas pelos
tributos pagos por todos nós.

8.4 Proteção às mulheres

Em 2010, a Organização das Nações Unidas criou a ONU Mulheres – Entidade das Nações Unidas
para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres.

Essa nova entidade atua, preferencialmente, em cinco grandes áreas:

• aumentar a liderança e a participação das mulheres;

• eliminar a violência contra as mulheres e meninas;

• engajar as mulheres em todos os aspectos dos processos de paz e segurança;

• aprimorar o empoderamento econômico das mulheres;

• colocar a igualdade de gênero no centro do planejamento e dos orçamentos de


desenvolvimento nacional.

A Constituição Federal brasileira estabelece no artigo 226, parágrafo 8º, que:

130
DIREITOS HUMANOS

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

[...]

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos


que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de
suas relações (BRASIL, 1988).

Em 7 de agosto de 2006, o Brasil aprovou a Lei nº 11.340, que, em suas disposições preliminares, fixa:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência
contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais
ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
doméstica e familiar.

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação


sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo


dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à
cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho,
à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar
e comunitária.

§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os


direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e
familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições


necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.

Essa lei é a famosa Lei Maria da Penha. É uma história muito triste que, no entanto, infelizmente,
ainda se repete no Brasil. Segundo dados do Ministério de Direitos Humanos, publicados pela Agência
Brasil de Notícias, em 07 de agosto de 2018, a violência contra a mulher continua sendo uma grande
preocupação em nosso país.
131
Unidade II

Leia com atenção a reportagem (BRITO, 2018) transcrita a seguir:

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos (MDH), que administra a


Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, o Ligue 180,
foram registradas no primeiro semestre deste ano quase 73 mil denúncias.
O resultado é bem maior do que o registrado (12 mil) em 2006, primeiro ano
de funcionamento da Central.

As principais agressões denunciadas são cárcere privado, violência física,


psicológica, obstétrica, sexual, moral, patrimonial, tráfico de pessoas,
homicídio e assédio no esporte. As denúncias também podem ser registradas
pessoalmente nas delegacias especializadas em crime contra a mulher.

A partir da sanção da Lei Maria da Penha, o Código Penal passou a prever estes tipos
de agressão como crimes, que geralmente antecedem agressões fatais. O código
também estabelece que os agressores sejam presos em flagrante ou tenham prisão
preventiva decretada se ameaçarem a integridade física da mulher.

Pela primeira vez, a lei também permitiu que a justiça adote medidas de proteção
para mulheres que são ameaçadas e correm risco de morte. Entre as medidas
protetivas está o afastamento do agressor da casa da vítima ou a proibição de se
aproximar da mulher agredida e de seus filhos.
Além de crime, a OMS ainda considera a violência contra a mulher um grave
problema de saúde pública, que atinge mulheres de todas as classes sociais.

A lei leva o nome de Maria da Penha Maia, que ficou paraplégica depois
de levar um tiro de seu marido. Até o atentado, Maria da Penha foi
agredida pelo cônjuge por seis anos. Ela ainda sobreviveu a tentativas de
homicídio pelo agressor por afogamento e eletrocussão.

Feminicídio

Fruto da Lei Maria da Penha, o crime do feminicídio foi definido legalmente


em 2015 como assassinato de mulheres por motivos de desigualdade de
gênero e tipificado como crime hediondo. Segundo o Mapa da Violência,
quase 5 mil mulheres foram assassinadas no país em 2016. O resultado
representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras. Em dez
anos, houve um aumento de 6,4% nos casos de assassinatos de mulheres.

Os dados evidenciam que há muito para ser feito no Brasil para concretização dos direitos das
mulheres, apesar das leis já existentes, inclusive da previsão constitucional.

A concretização desses direitos deverá ser feita por políticas públicas, não há dúvida, porém,
é fundamental que as mulheres participem desse debate, estudem as leis de proteção e os dados
132
DIREITOS HUMANOS

referentes à violência e se engajem, decididamente, em trabalhos comunitários que possam contribuir


para conscientizar a sociedade que homens e mulheres são iguais em direitos e devem ser respeitados
em sua dignidade para poderem viver uma vida de paz e de plena realização de suas potencialidades
(BRITO, 2018).

8.5 Proteção à criança e ao adolescente

O artigo 227 da Constituição Federal brasileira determina que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Em 13 de julho de 1990, o Brasil colocou em vigor a Lei nº 8.069, que ficou conhecida como Estatuto
da Criança e do Adolescente, ou, simplesmente, ECA.

Nas Disposições Preliminares o ECA determina que:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente


este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta lei aplicam-se a todas as


crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar,
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social,
região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as
famílias ou a comunidade em que vivem.

4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
133
Unidade II

referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,


à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a


proteção à infância e à juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma


de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que


ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais
e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas
em desenvolvimento.

Observe que criança e adolescente possuem conceitos diferentes, mas, no entanto, devem gozar
de todos os direitos pertinentes à concretização da dignidade da pessoa humana, sem nenhuma
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
deficiência, condição pessoal, condição econômica, região ou local de moradia, ou qualquer outra forma
que possa ser utilizada para discriminar. Todas as formas de discriminação estão proibidas.

Também é relevante observar que o dever do Estado de cuidar e proteger a criança e o adolescente não
afasta o dever da família nem o da própria sociedade, independentemente de laços de parentesco. A sociedade
é responsável por todas as crianças e adolescentes, e não apenas por aqueles que pertencem à sua família.

Em que consiste essa responsabilidade da sociedade? Basicamente em duas ações: não prejudicar e
não permitir que prejudiquem, por qualquer meio ou forma de atuação, as crianças e adolescentes que
se encontram em seu círculo social, ou seja, em sua rua, no bairro, no condomínio, em qualquer local ou
situação em que seja possível constatar que esteja ocorrendo alguma forma de agressão ou de omissão
em relação a crianças e adolescentes.

8.6 Proteção às pessoas com deficiência

A proteção da pessoa com deficiência foi tratada no Brasil, primeiramente, pela Constituição Federal
de 1988 (BRASIL, 1988), que em vários artigos faz expressa referência à forma como a pessoa com
deficiência será protegida.

134
DIREITOS HUMANOS

Assim, temos:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios


de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Breve comentário: há evidente propósito em proteger as pessoas portadoras com deficiência que
tenham condições de trabalhar e, nesse caso, fica proibida a discriminação no tocante às oportunidades
de emprego, bem como discriminação no valor de salários.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios:

I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas


e conservar o patrimônio público;

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas


portadoras de deficiência;

Breve comentário: os cuidados de saúde e assistência pública para proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência é competência concomitante da União, dos Estados federativos, do Distrito
Federal e dos Municípios. Isso permite que a assistência seja prestada com maior amplitude e, em tese,
seja mais eficiente.

Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:

XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;

Breve comentário: aqui também a proteção e integração social são de competência concorrente de
todos os entes executivos, tanto federal, estadual como municipal.

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

[...]

IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a


promoção de sua integração à vida comunitária;

135
Unidade II

V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa


portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei.

Breve comentário: o artigo prevê duas importantes medidas de promoção para a pessoa
com deficiência: a primeira, que seja habilitada e reabilitada para viver em sociedade, com a
independência possível e com capacidade de escolhas e autonomia. E, a segunda, que tenha uma
garantia mínima de renda para sua subsistência nos casos em que isso não possa ser obtido pelo
trabalho ou pelo auxílio da família.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:

[...]

III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;

Breve comentário: atendimento educacional especializado é fundamental para garantir a autonomia


e o desenvolvimento de potencialidades da pessoa com deficiência.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

[...]

I – criação de programas de prevenção e atendimento especializado para


as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como
de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência,
mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação
do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.

Breve comentário: os programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas com


deficiência são o melhor caminho para integração social, porque incluem educação, formação para a
vida no mundo do trabalho e também para usufruir dos programas de acesso a bens e serviços coletivos
disponibilizados pelas três esferas de governo.

136
DIREITOS HUMANOS

§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios


de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.

Breve comentário: acessibilidade tem que ser garantida por todos, governo e particulares, por isso
é fundamental que a lei especifique como isso deverá ser feito, inclusive para que sejam garantidas
condições técnicas necessárias para a garantia da acessibilidade.

Em 13 de dezembro de 2006 a ONU aprovou a Convenção sobre Direitos das Pessoas com
Deficiência, em reunião da Assembleia Geral. Os propósitos da Convenção foram definidos da
seguinte forma:

Artigo 1º - Propósito

O propósito da presente Convenção é o de promover, proteger e assegurar


o desfrute pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por parte de todas as pessoas com deficiência e promover o
respeito pela sua inerente dignidade.

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza


física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
com as demais pessoas (BRASIL, 2012).

E, os princípios gerais da Convenção foram fixados com a seguinte redação:

Artigo 3º – Princípios Gerais

A presente Convenção incorpora os seguintes princípios:

a) O respeito pela dignidade inerente, independência da pessoa, inclusive a


liberdade de fazer as próprias escolhas, e autonomia individual;

b) A não discriminação;

c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;

d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência


como parte da diversidade humana e da humanidade;

e) A igualdade de oportunidades;

f) A acessibilidade;

137
Unidade II

g) A igualdade entre o homem e a mulher; e

h) O respeito pelas capacidades em desenvolvimento de crianças com deficiência


e respeito pelo seu direito a preservar sua identidade (BRASIL, 2012).

Em 25 de agosto de 2009, por meio do Decreto nº 6.949, a República Federativa do Brasil promulgou
a Convenção da ONU para pessoas com deficiência e, em 06 de julho de 2015, por meio da Lei nº 13.146,
instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que ficou conhecido como Estatuto da
Pessoa com Deficiência.

Em suas disposições gerais, o Estatuto determina o que está transcrito. Leia atentamente para
ter conhecimento de tudo o que já está garantido pela legislação federal brasileira e que pode ser
disponibilizado para as pessoas portadoras de deficiências. Assim, você poderá, como cidadão e como
profissional, orientar pessoas que necessitem de alguma medida semelhante às que estão relacionadas
e que a lei brasileira já garante.

Leia atentamente:

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência


(Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais
por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Parágrafo único. Esta lei tem como base a Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo
Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho
de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º
da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil,
no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo
Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência
no plano interno.

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem


impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.

§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial,


realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:

I – os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

138
DIREITOS HUMANOS

II – os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

III – a limitação no desempenho de atividades; e

IV – a restrição de participação.

§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Art. 3º Para fins de aplicação desta lei, consideram-se:

I – acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização,


com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos
urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive
seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto
na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida;

II – desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e


serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação
ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva;

III – tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos,


dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços
que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à
participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando
à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social;

IV – barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que


limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição
e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e
de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à
circulação com segurança, entre outros, classificadas em:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e


privados abertos ao público ou de uso coletivo;

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;

c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;

d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo,


atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o
recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de
comunicação e de tecnologia da informação;
139
Unidade II

e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou


prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade
de condições e oportunidades com as demais pessoas;

f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa


com deficiência às tecnologias;

V – comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre


outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras),
a visualização de textos, o braille, o sistema de sinalização ou de
comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia,
assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e
os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos
e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da informação e
das comunicações;

VI – adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes


necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e
indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que
a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de
condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e
liberdades fundamentais;

VII – elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de urbanização,


tais como os referentes a pavimentação, saneamento, encanamento para
esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços
de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que
materializam as indicações do planejamento urbanístico;

VIII – mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos


espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elementos de urbanização
ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado não
provoque alterações substanciais nesses elementos, tais como semáforos,
postes de sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo
às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos,
quiosques e quaisquer outros de natureza análoga;

IX – pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo,
dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução
efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção,
incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso;

X – residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do


Sistema Único de Assistência Social (Suas) localizadas em áreas residenciais

140
DIREITOS HUMANOS

da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar com apoio


psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa acolhida,
destinadas a jovens e adultos com deficiência, em situação de dependência,
que não dispõem de condições de autossustentabilidade e com vínculos
familiares fragilizados ou rompidos;

XI – moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia


com estruturas adequadas capazes de proporcionar serviços de apoio
coletivos e individualizados que respeitem e ampliem o grau de autonomia
de jovens e adultos com deficiência;

XII – atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com


ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos e essenciais
à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias,
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas;

XIII – profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de


alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua
em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos
os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas,
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas;

XIV – acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência,


podendo ou não desempenhar as funções de atendente pessoal
(BRASIL, 2015).

Além disso, a mesma lei ainda determina que toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade
de oportunidades com as demais e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.

Como podemos perceber, a legislação brasileira é muito boa e contempla inúmeras possibilidades
de proteção e promoção das pessoas com deficiência. É preciso que a sociedade, no exercício da
cidadania ativa, exija que as autoridades públicas coloquem em prática todas as previsões e garantias
que a lei determina.

E esse papel é muito necessário, porque, de acordo com a ONU:

Segundo a OMS, com dados de 2011, 1 bilhão de pessoas vivem com


alguma deficiência – isso significa uma em cada sete pessoas no mundo.
A falta de estatísticas sobre pessoas com deficiência contribui para a
invisibilidade dessas pessoas. Isso representa um obstáculo para planejar
e implementar políticas de desenvolvimento que melhoram as vidas das
pessoas com deficiência.

141
Unidade II

A ONU alerta ainda que 80% das pessoas que vivem com alguma deficiência
residem nos países em desenvolvimento. No total, 150 milhões de crianças
(com menos de 18 anos de idade) têm alguma deficiência, segundo o Unicef.

Ter alguma deficiência aumenta o custo de vida em cerca de um terço


da renda, em média. Completar a escola primária também é um desafio
maior para as crianças com deficiência: enquanto 60% dessas crianças
completam essa etapa dos estudos nos países desenvolvidos, apenas
45% (meninos) e 32% (meninas) completam o ensino primário nos
países em desenvolvimento.

Além disso, mais de 50% das pessoas com deficiência não conseguem pagar
por serviços de saúde (ONUBR, [s.d.]c).

Apesar de os números oficiais serem de 2011, é possível pensar que não tenham se modificado
de forma muito positiva nesses anos, porque não somos testemunhas de muitos esforços em prol de
pessoas com deficiência em nossas cidades, estados federativos nem no País. Isso serve de alerta para
que atuemos como cidadãos e, em nossas categorias profissionais, para exigir das autoridades que
destinem recursos para o cumprimento das leis existentes no Brasil, que são boas e só precisam ser
efetivadas para que a qualidade de vida dos portadores de deficiência seja garantida e sua dignidade
humana respeitada.

8.7 Proteção ao idoso

O Brasil vive, na atualidade, intenso processo de transição demográfica com notório aumento da
população de idosos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

A população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos


anos e ganhou 4,8 milhões de idosos desde 2012, superando a marca
dos 30,2 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios, divulgada
hoje pelo IBGE.

Em 2012, a população com 60 anos ou mais era de 25,4 milhões. Os 4,8 milhões
de novos idosos em cinco anos correspondem a um crescimento de 18%
desse grupo etário, que tem se tornado cada vez mais representativo no Brasil.
As mulheres são maioria expressiva nesse grupo, com 16,9 milhões (56% dos
idosos), enquanto os homens idosos são 13,3 milhões (44% do grupo).

“Não só no Brasil, mas no mundo todo vem se observando essa tendência


de envelhecimento da população nos últimos anos. Ela decorre tanto do
aumento da expectativa de vida pela melhoria nas condições de saúde
quanto pela questão da taxa de fecundidade, pois o número médio de
filhos por mulher vem caindo. Esse é um fenômeno mundial, não só no
142
DIREITOS HUMANOS

Brasil. Aqui demorou até mais que no resto do mundo para acontecer”,
explica a gerente da PNAD Contínua, Maria Lúcia Vieira.

Entre 2012 e 2017, a quantidade de idosos cresceu em todas as unidades


da federação, sendo os estados com maior proporção de idosos o Rio de
Janeiro e o Rio Grande do Sul, ambas com 18,6% de suas populações dentro
do grupo de 60 anos ou mais. O Amapá, por sua vez, é o estado com menor
percentual de idosos, com apenas 7,2% da população (PARADELLA, 2018).

A pirâmide demográfica brasileira tem a seguinte perspectiva:

Figura 18

A tendência no crescimento da população idosa motiva inúmeras pesquisas e reflexões por parte dos
estudiosos do tema, mas é preciso reconhecer que as principais medidas adotadas são simples e, a rigor,
já estão previstas na própria Constituição Federal, lei maior do País, como podemos constatar a seguir:

143
Unidade II

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

[...]

V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de


deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as


pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.

§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente


em seus lares (BRASIL, 1988).

Além disso, em 1º de outubro de 2003, o Brasil aprovou a Lei n° 10.741, que ficou muito conhecida
como Estatuto do Idoso. Nas “Disposições Preliminares” dessa lei, encontramos:

Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos


assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei,
assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades
e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade.

Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder


Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.

§ 1º A garantia de prioridade compreende:

I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos


públicos e privados prestadores de serviços à população;

II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais


públicas específicas;
144
DIREITOS HUMANOS

III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com


a proteção ao idoso;

IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio


do idoso com as demais gerações;

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em


detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou
careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e


gerontologia e na prestação de serviços aos idosos;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações


de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;

VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência


social locais.

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.

§ 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de


oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente
em relação aos demais idosos.

Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,


discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus
direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.

§ 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.

§ 2o As obrigações previstas nesta lei não excluem da prevenção outras


decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 5º A inobservância das normas de prevenção importará em


responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei.

Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente


qualquer forma de violação a esta lei que tenha testemunhado ou de que
tenha conhecimento.

Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais


do Idoso, previstos na Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo
cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta lei (BRASIL, 2003).
145
Unidade II

Lida com atenção, as “Disposições Preliminares” do Estatuto do Idoso nos colocam diante de vários
aspectos muito relevantes que devem ser garantidos aos idosos, não apenas pelo Estado, mas também
pelos próprios cidadãos. Repare que os artigos 6º e 7º são claramente destinados para a atuação da
cidadania ativa que, conforme temos delineado neste estudo, é aspecto fundamental para que o Estado
Democrático de Direito se concretize na sociedade brasileira.

O artigo 6º atribui a todos os cidadãos o dever de comunicar às autoridades públicas, federais,


estaduais ou municipais todo tipo de violação ao Estatuto do Idoso do qual tenha sido testemunha.
Essas denúncias podem ser feitas por meio seguro como o Disque-Denúncia, disponível em muitos
estados federativos no Brasil e que permite que o denunciante não seja identificado, mantendo o sigilo
como forma de proteção.

O artigo 7º faz referência aos conselhos federais, estaduais e municipais que deverão ser criados
para que, de forma plural, profissionais, cidadãos e agentes públicos se reúnam sistematicamente para
debater os problemas e as soluções viáveis para a proteção do idoso.

Em ambos os artigos há um convite ao exercício pleno da cidadania ativa, que depende da motivação
de cada um de nós! Vamos aceitar esse convite?

Nos artigos subsequentes, o Estatuto do Idoso garante direitos fundamentais para os idosos em todo
o Brasil. Lei atentamente:
Do Direito à Vida

Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um


direito social, nos termos desta lei e da legislação vigente.

Art. 9º É obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à


saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade (BRASIL, 2003).

Figura 19

146
DIREITOS HUMANOS

Em 16 de dezembro de 1991, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 46, que de
forma resumida, estabelece como direito dos idosos a serem protegidos por todos os países membros da
entidade, inclusive o Brasil:

Independência

Ter acesso à alimentação, água, moradia, a vestuário, à saúde, ter apoio


familiar e comunitário.

Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração


de renda.

Poder determinar em que momento deverá afastar-se do mercado de trabalho.

Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e


requalificação profissional.

Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que


sejam passíveis de mudanças.

Poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.

Participação

Permanecer integrado à sociedade, participar ativamente na formulação


e implementação de políticas que afetam diretamente seu bem-estar e
transmitir aos mais jovens conhecimentos e habilidades.

Aproveitar as oportunidades para prestar serviços à comunidade, trabalhando


como voluntário, de acordo com seus interesses e capacidades.

Poder formar movimentos ou associações de idosos.

Assistência

Beneficiar-se da assistência e proteção da família e da comunidade, de


acordo com os valores culturais da sociedade.

Ter aceso à assistência da saúde para manter ou adquirir o bem-estar físico,


mental e emocional, prevenindo-se da incidência de doenças.

Ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcionem


proteção, reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, em um
ambiente humano e seguro.
147
Unidade II

Ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de
autonomia, proteção e assistência.

Desfrutar os direitos e liberdades fundamentais, quando residente em instituições


que lhe proporcionem os cuidados necessários, respeitando-se sua dignidade,
crença e intimidade. Deve desfrutar ainda o direito de tomar decisões quanto à
assistência prestada pela instituição e à qualidade de sua vida.

Autorrealização

Aproveitar as oportunidades para total desenvolvimento de suas potencialidades.

Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer


da sociedade.

Dignidade

Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objeto de exploração e


maus-tratos físicos e/ou mentais.

Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia,


deficiências, condições econômicas ou outros fatores (ONU, 1991).

Repare que, com pequenas alterações, as diretrizes são as mesmas contempladas na Constituição
Federal brasileira e no Estatuto do Idoso, o que demonstra que o Brasil está alinhado com a ONU na
proteção e garantia do bem-estar e dignidade dos idosos.

8.8 Proteção aos LGBTIs

A Constituição Federal brasileira determina no artigo 3º que:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais


e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).

148
DIREITOS HUMANOS

Assim, nenhuma pessoa pode ser discriminada em razão de sua orientação sexual.

Orientação sexual, segundo a pesquisadora Leticia Lanz, pode ser definido como:

Gênero, Expressão de – a manifestação do mundo exterior, da identidade


de gênero assumida por uma pessoa. Traduz-se pelo conjunto de condutas,
atitudes e performances social e culturalmente sancionados para o uso de
cada uma das categorias oficiais de gênero, masculino e feminino [...].

Gênero, Identidade – o que uma pessoa sente que é; a categoria de gênero


com a qual ela se identifica. Refere-se ao quanto uma pessoa se sente e se vê
a si mesma como homem, mulher, as duas coisas ou nenhuma delas, ou seja, o
quanto ela se identifica com os estereótipos de gênero em vigor na sociedade.

Gênero, Papel(éis) de – refere-se às funções sociais, políticas e econômicas


culturalmente atribuídas (reservadas) a cada um dos dois gêneros,
masculino e feminino.

[...]

Orientação Sexual – desejo e/ou atração muito forte que leva o indivíduo a
escolher sempre o(s) mesmo(s) tipo(s) específico(s) de pessoa(s) na hora de
manter relações sexuais (LANZ, 2015, p. 412).

A sigla LGBTI se refere a gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e intersexuais.

Lembrete

As siglas que representam o movimento vão acrescendo novas opções


de gênero que surgem. Fique atento para acompanhar futuras modificações
que possam ser inseridas.

A ONU, a respeito desse tema, explica que:

É legal discriminar lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros ou intersexuais?

Não.

O direito à igualdade e não discriminação são princípios fundamentais dos direitos


humanos, consagrados na Carta das Nações Unidas, na Declaração Universal dos
Direitos Humanos e nos tratados internacionais de direitos humanos. As palavras
da abertura da Declaração Universal dos Direitos Humanos são inequívocas:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
149
Unidade II

A garantia de igualdade e não discriminação oferecida pelo direito internacional


dos direitos humanos se aplica a todas as pessoas, independentemente de sexo,
orientação sexual e identidade de gênero ou “outra situação”. Não existem
cláusulas escondidas em letras miúdas em qualquer um dos tratados de direitos
humanos que permitem um Estado garantir os direitos para alguns, mas negá-los
a outros com base na orientação sexual e identidade de gênero. Além disso, os
organismos de tratados de direitos humanos da ONU confirmam, periodicamente,
que é proibida – sob o direito internacional dos direitos humanos – a discriminação
devido à orientação sexual ou à identidade de gênero. Isso significa que é ilegal
fazer qualquer distinção nos direitos das pessoas com base no fato de que elas
são gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros (LGBT), assim como é ilegal fazê-lo
com base na cor da pele, raça, sexo, religião ou qualquer outra condição. Esta
posição foi confirmada repetidamente nas decisões e orientações gerais emitidas
por vários órgãos de tratados, como o Comitê de Direitos Humanos das Nações
Unidas, o Comitê sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o Comitê sobre
os Direitos da Criança, o Comitê contra a Tortura e o Comitê para a Eliminação da
Discriminação contra a Mulher (O DIREITO INTERNACIONAL...[s.d.]).

Figura 20

150
DIREITOS HUMANOS

O Ministério Público Federal possui uma Cartilha sobre Igualdade de Direitos LGBTI que deve ser lida
atentamente por todos nós, para a defesa dos direitos das pessoas com orientação LGBTI.

A Cartilha define intersexualidade da seguinte forma:

Há intersexualidade quando ocorre uma variação nas características


genéticas e/ou somáticas da pessoa, fazendo com que sua anatomia
reprodutiva e sexual não se ajuste às definições típicas do feminino ou do
masculino. As pessoas intersexo podem nascer com características sexuais
de ambos os sexos, ou com ausência de algum atributo biológico necessário
à típica categorização binária de masculino ou feminino. Há questões
de identidade de gênero envolvidas e não são raras as situações em que
a pessoa é submetida a uma cirurgia corretiva, mas depois manifesta
comportamentos que a afastam do gênero atribuído pelos pais ou médicos
logo após o nascimento (BRASIL, 2017).

E informa que:

Desde 1990, a homossexualidade não é considerada como doença


pela Organização Mundial da Saúde. No dia 17 de maio daquele ano, a
Assembleia Geral da Organização excluiu a orientação homossexual do
catálogo internacional de doenças, declarando expressamente que “a
homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio, nem perversão”.
A mesma providência já havia sido adotada pela Associação Americana de
Psiquiatria, em 1975 e, no Brasil, pelo Conselho Federal de Psicologia, em
1985. Como o sufixo “ISMO” conota patologia, é incorreta a utilização do
termo “homossexualismo” para se referir à orientação sexual homossexual
(ou por pessoas do mesmo sexo). Por não ser uma doença, não há que se
falar em “cura” para a homossexualidade, como reconheceu a Resolução
do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99.

Pelo mesmo motivo de que ninguém “opta” por ser heterossexual, ninguém
propriamente “opta” por ser gay, lésbica ou bissexual. Assim, é mais adequado
referir-se a orientação sexual, em vez de “opção sexual” (BRASIL, 2017).

Por fim, é fortemente recomendável que todas as pessoas conheçam os Princípios de Yogyakarta,
que foram desenvolvidos por uma Comissão Internacional de Juristas e pelo Serviço Internacional
de Direitos Humanos. Esses Princípios se referem à aplicação da legislação internacional de direitos
humanos em relação à orientação sexual e a identidade de gênero.

Esse grupo realizou:

[...] um projeto com o objetivo de desenvolver um conjunto de princípios


jurídicos internacionais sobre a aplicação da legislação internacional às
151
Unidade II

violações de direitos humanos com base na orientação sexual e identidade


de gênero, no sentido de dar mais clareza e coerência às obrigações de
direitos humanos dos Estados. Um grupo eminente de especialistas em
direitos humanos preparou um documento preliminar, desenvolveu, discutiu
e refinou esses Princípios. Depois de uma reunião de especialistas, realizada
na Universidade Gadjah Mada, em Yogyakarta, Indonésia, entre 6 e 9 de
novembro de 2006, 29 eminentes especialistas de 25 países, com experiências
diversas e conhecimento relevante das questões da legislação de direitos
humanos, adotaram por unanimidade os Princípios de Yogyakarta sobre
a Aplicação da Legislação Internacional de Direitos Humanos em relação à
Orientação Sexual e Identidade de Gênero (BRASIL, 2017).

São 29 princípios que precisam ser conhecidos e tratados sem nenhum preconceito ou discriminação,
porque estão em consonância com a legislação brasileira, como vimos na Constituição Federal.

Resumo

A Constituição Federal brasileira de 1988 estabelece direitos


fundamentais individuais e coletivos, previstos no artigo 5º. No artigo 6º
são tratados os direitos sociais e, no artigo 7º, especificamente os direitos
dos trabalhadores.

Direitos fundamentais elencados no artigo 5º são meramente


exemplificativos e outros poderão ser protegidos, ainda que não estejam
expressamente alocados nesse artigo.

No sistema constitucional brasileiro de proteção de direitos humanos, os


acusados e condenados também são protegidos, porque, mesmo comprovado
que eles praticaram atos ilícitos deverão ser punidos, mas não se aplica
nenhuma punição que provoque sofrimento físico, psicológico ou qualquer tipo
de degradação humana. O sistema punitivo no Brasil não aceita tortura, apenas
o cumprimento de penas de prisão ou reclusão.

No sistema jurídico brasileiro a Emenda Constitucional n° 45, de 2005,


é considerada muito importante. Ela estabelece o novo status legal que os
tratados internacionais de direitos humanos terão no Brasil e, em especial,
estabelece que eles passarão a ter status de texto constitucional sempre
que aprovados pelo Congresso Nacional.

O Brasil já adotou três diferentes Planos Nacionais de Direitos Humanos.


O terceiro, atualmente em vigor, tem seis importantes eixos de direitos a
serem protegidos por programas adequados.

152
DIREITOS HUMANOS

Os direitos sociais no Brasil, protegidos pela Constituição Federal, são,


basicamente, educação, saúde, segurança, moradia, assistência social,
previdência social, transporte, lazer, proteção à maternidade e à infância e
assistência aos desamparados.

Os Conselhos Municipais de Educação e de Saúde, entre outros, são


muito importantes para que toda a sociedade possa participar da escolha
das políticas públicas e da fiscalização dos recursos públicos utilizados.

O Brasil adota leis específicas para proteção da mulher, da criança e do


adolescente, do idoso e do portador de deficiência.

A proteção se estende também às orientações de gênero, como gays,


lésbicas, bissexuais, transgêneros e intersexuais.

153
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

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Figura 3

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Figura 8

Grupo UNIP-Objetivo.

Figura 9

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Figura 10

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Figura 11

Grupo UNIP-Objetivo.

Figura 12

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154
Figura 13

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Figura 14

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