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Organização do Estado

Autor: Prof. Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira


Colaboradora: Profa. Elizabeth Nantes Cavalcante
Professor conteudista: Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira

Doutor em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre em Ciências da
Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Docência do Ensino Superior pela Unicesumar. MBA
em Gestão de Projetos pela Unicesumar. Pós-graduado lato sensu em Administração de Negócios pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Gestão Educacional pela Unicesumar. Licenciado em Pedagogia pela
Unicesumar. Licenciado em História pelo Claretiano Centro Universitário. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista.
Licenciado em Filosofia pelo Claretiano Centro Universitário. Licenciado em Letras Português/Inglês pela Unicesumar.
Bacharel em Odontologia pela Universidade Federal de Alagoas. Professor da Universidade Paulista. Pesquisador nas
áreas de educação e tecnologias em EaD, educação, filosofia, história e ciências humanas e sociais. Professor com
experiência por quinze anos em EaD e vinte anos em ensino presencial nos cursos de graduação e pós-graduação.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O48o Oliveira, Fernando Henrique Cavalcante de.

Organização do Estado / Fernando Henrique Cavalcante de


Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2021.

160 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

CDU 34(20)

U510.98 – 21

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Lucas Ricardi
Willians Calazans
Sumário
Organização do Estado
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10

Unidade I
1 AS ORIGENS DO ESTADO MODERNO....................................................................................................... 11
1.1 Definindo conceitos............................................................................................................................. 11
1.2 Características do Antigo Regime.................................................................................................. 13
1.3 Exemplos de Estados Absolutistas.................................................................................................. 16
1.3.1 Povo............................................................................................................................................................... 20
1.3.2 Território...................................................................................................................................................... 21
1.3.3 Poder Político............................................................................................................................................. 22
1.3.4 Governo....................................................................................................................................................... 24
1.3.5 Forma de Estado....................................................................................................................................... 25
1.3.6 Formas de governo.................................................................................................................................. 26
2 TEORIA GERAL DO ESTADO E ORIGEM DO ESTADO............................................................................ 27
2.1 Justificação do Estado......................................................................................................................... 29
2.2 Teoria do Estado.................................................................................................................................... 29
2.3 Origem do Estado.................................................................................................................................. 30
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO.......................................................................................................... 33
3.1 O Estado grego....................................................................................................................................... 34
3.2 O Estado romano................................................................................................................................... 35
3.3 O Estado medieval................................................................................................................................ 38
3.3.1 Feudalismo.................................................................................................................................................. 39
3.4 O Estado medieval e a Igreja romana........................................................................................... 39
3.4.1 Santo Agostinho e São Tomás de Aquino..................................................................................... 40
4 DAS MONARQUIAS MEDIEVAIS ÀS MONARQUIAS ABSOLUTAS................................................... 40
4.1 A doutrina de Maquiavel.................................................................................................................... 40
4.2 O absolutismo monárquico............................................................................................................... 40
4.3 Escritores da Renascença................................................................................................................... 41
4.4 John Locke e a reação antiabsolutista.......................................................................................... 41
4.5 O liberalismo na Inglaterra................................................................................................................ 42
4.6 América do Norte.................................................................................................................................. 42
4.7 França......................................................................................................................................................... 43
4.8 Declaração dos direitos fundamentais do homem.................................................................. 43
4.9 O Estado liberal, seus erros e sua decadência............................................................................ 44
4.10 O Estado Evolucionista..................................................................................................................... 45
Unidade II
5 OS ESTADOS MODERNOS E AS FORMAS DE GOVERNO NO MUNDO MODERNO
E CONTEMPORÂNEO........................................................................................................................................... 46
5.1 Conceito.................................................................................................................................................... 46
5.2 Liberalismo e o Estado......................................................................................................................... 47
5.3 Consequências do liberalismo.......................................................................................................... 47
5.4 Consequências reais do liberalismo............................................................................................... 48
5.5 A decadência do liberalismo............................................................................................................. 50
5.6 Considerações sobre o liberalismo................................................................................................. 51
5.7 A reação antiliberal............................................................................................................................... 58
5.7.1 O socialismo e a Revolução Russa.................................................................................................... 58
5.8 Considerações finais sobre o Estado Socialista Russo............................................................ 60
5.9 Reação antiliberal e antimarxista................................................................................................... 61
5.9.1 O fascismo e a sua doutrina................................................................................................................ 61
5.10 Organização do Estado fascista.................................................................................................... 62
5.11 O Estado Nazista Alemão................................................................................................................. 63
5.12 O totalitarismo do tipo fascista.................................................................................................... 67
6 FORMAS DE ESTADO....................................................................................................................................... 67
6.1 Estados imperfeitos e perfeitos....................................................................................................... 68
6.2 Estados simples e compostos........................................................................................................... 68
6.3 Estado federal......................................................................................................................................... 70
6.3.1 Estado federal............................................................................................................................................ 71
6.4 O federalismo no Brasil....................................................................................................................... 72
6.5 Entes federativos................................................................................................................................... 76
6.5.1 União............................................................................................................................................................. 76
6.5.2 Estados-membros.................................................................................................................................... 77
6.5.3 Municípios.................................................................................................................................................. 77
6.5.4 Distrito Federal.......................................................................................................................................... 78
6.6 Territórios.................................................................................................................................................. 78
6.7 Intervenção Federal (União para os Estados, Distrito Federal e municípios)................ 78
6.8 Intervenção Estadual (Estados nos Municípios)....................................................................... 79
6.9 Formas de governo............................................................................................................................... 80
6.9.1 Formas de governo no pensamento de Aristóteles................................................................... 80
6.9.2 Monarquia e República......................................................................................................................... 81

Unidade III
7 PODER JUDICIÁRIO.......................................................................................................................................... 97
7.1 Ética..........................................................................................................................................................101
7.2 Magistratura..........................................................................................................................................102
7.3 STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça).............................105
7.3.1 Supremo Tribunal Federal – STF.......................................................................................................105
7.3.2 Superior Tribunal de Justiça – STJ..................................................................................................106
7.4 Justiça do Trabalho.............................................................................................................................107
7.5 Justiça Eleitoral....................................................................................................................................111
7.6 Tribunal Superior Eleitoral – TSE...................................................................................................112
7.7 Justiça Militar.......................................................................................................................................115
7.8 Justiça Comum.....................................................................................................................................121
7.8.1 Justiça Federal comum........................................................................................................................121
7.8.2 Organização.............................................................................................................................................121
7.8.3 Tribunais Regionais Federais (TRFs)................................................................................................121
7.8.4 Criação.......................................................................................................................................................121
7.9 Ministério Público...............................................................................................................................124
7.9.1 Definição.................................................................................................................................................. 124
7.9.2 Composição............................................................................................................................................. 124
7.9.3 Carreira...................................................................................................................................................... 125
7.9.4 Requisitos................................................................................................................................................. 125
7.9.5 Atribuições funcionais........................................................................................................................ 125
7.9.6 Garantias.................................................................................................................................................. 125
7.9.7 Vedações................................................................................................................................................... 126
7.9.8 Denominações........................................................................................................................................ 126
7.9.9 Chefia......................................................................................................................................................... 126
7.9.10 Referências Legislativas................................................................................................................... 126
7.10 Polícia.....................................................................................................................................................127
7.10.1 Conceito................................................................................................................................................. 127
7.10.2 Segurança Pública.............................................................................................................................. 127
7.10.3 Organização.......................................................................................................................................... 127
7.10.4 Organograma....................................................................................................................................... 127
7.10.5 Polícia Administrativa....................................................................................................................... 128
7.10.6 Polícia Judiciária................................................................................................................................. 128
7.10.7 Corpo de Bombeiros.......................................................................................................................... 129
7.10.8 Carreira................................................................................................................................................... 129
8 ADVOCACIA......................................................................................................................................................130
8.1 Sociedade de advogados..................................................................................................................137
8.2 Deveres e sanções disciplinares.....................................................................................................140
8.3 Tributação e orçamento na Constituição de 1988................................................................145
8.3.1 Tributação................................................................................................................................................ 146
8.3.2 Limitações constitucionais ao poder de tributar..................................................................... 148
8.3.3 Competência tributária.......................................................................................................................151
8.3.4 Repartição das receitas...................................................................................................................... 153
8.4 Fundamentos da ordem econômica............................................................................................153
8.5 A Constituição Cidadã e a nova ordem social.........................................................................154
8.6 Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988.................................................................155
8.7 Processo constituinte e Regimento Interno.............................................................................155
8.8 Redação e promulgação da Constituição de 1988...............................................................156
APRESENTAÇÃO

A presente disciplina faz parte do conjunto do curso de Direito da Universidade Paulista (UNIP), bem
como traz em sua bagagem um repertório importante para a compreensão de nossa constituição, como
democracia, liberdades civis, república, formas de governo e sistema eleitoral, denotando para o leitor
não apenas um conteúdo extenso para a composição disciplinar, mas muito mais para a construção de
um conhecimento multidisciplinar que possibilite pontes e diques para o diálogo entre vários saberes
disciplinares da área de humanas e de outras áreas da academia.

Partiremos estabelecendo um diálogo com a origem do Estado Moderno, denotando na história


o processo evolutivo e de construção desse Estado e como ele se configura em continentes, povos e
culturas distintas da nossa, de matriz ocidental, de premissa filosófica judaico-cristã e permeada pelo
pensamento do mundo greco-romano.

Na sequência, trabalharemos conceitos da República e os poderes constituídos em nossa Carta


Constitucional, visando comparar, a partir de suas definições, realidades distintas do que acontece em
nosso território e em outros povos, seja da América, da Europa ou do próprio Oriente Médio, com visões
de mundo distintas de nosso modelo republicano, democrático e marcado pela conquista dos direitos
humanos positivados, chamados aqui de fundamentais.

Desafiamos você a galgar mais um degrau em seu processo de formação, seja pelo conteúdo, seja
pelos valores tão necessários de cidadãos e cidadãs que priorizarão cumprir a ênfase de um valor
republicano em seu sentido etimológico, acima dos interesses privados, fazendo legitimar de fato o seu
conceito republicano: res publica (coisa pública).

Considerando-se que será você quem administrará seu próprio tempo, nossa sugestão é que se
dedique ao menos três horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos e as
videoaulas e realizando os exercícios de autoavaliação. Uma boa forma de fazer isso é já ir planejando o
que estudar, semana a semana.

Sucesso nessa nova etapa e bons estudos!

9
INTRODUÇÃO

Falar sobre a organização do Estado é identificar de fato a necessidade de refletir acerca da origem
desse Estado moderno e contemporâneo, apontando elementos como seu nascedouro e forças políticas,
sociais e econômicas, as quais somadas contribuíram para sua eclosão e constituição, e, ainda, identificar
os elementos necessários de fato para uma república, monarquia ou democracia ser estabelecida na
sociedade contemporânea.

Um exemplo evidente disso está no fato de nós, povo brasileiro, vivenciarmos uma Carta Constitucional
que aponta para o seu povo, uma República Federativa constituída de unidades federativas que juntas
compõem a União, e não explicarmos a um simples inquiridor do cotidiano o conceito e a definição de
tais palavras e o que elas implicam para a nossa realidade.

Estudar os povos do crescente fértil, do Egito, da Grécia e de Roma até o advento do cristianismo
e do próprio islamismo é transitar na história da humanidade e se permitir contemplar momentos de
rupturas, crises, avanços e retrocessos nos desdobramentos políticos e sociais de cada povo, atentando
para as realidades vividas ali e questionadas ou assimiladas democraticamente.

10
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Unidade I
1 AS ORIGENS DO ESTADO MODERNO

Um dos termos mais utilizados no universo jurídico em especial por palestrantes, estudantes de
Direito e autoridades em geral, é o termo “Estado”, a partir do discurso, Estado democrático de Direito.
Esse termo Estado tão comumente empregado em nosso cotidiano jurídico e social requer de cada leitor
e ouvinte das práticas discursivas, uma reflexão à luz da etimologia (origem da palavra), bem como da
conjuntura política e social que a sociedade europeia se utilizou mediante as ideias dos iluministas, bem
como o desdobramento da Revolução Francesa.

O Estado é um organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, às condições universais


de ordem social. E o Direito é o conjunto das condições existenciais da sociedade, que ao Estado
cumpre assegurar.

A forma de organização política que caracteriza a nossa época é chamada Estado. Não é raro ouvir
designar o termo de Estado moderno ou Estado Nacional. Quem se utiliza dessa nomenclatura utiliza o
termo “Estado” para outras formas de organização política que existiram anteriormente, e por isso,
podem-se utilizar do nome, moderno, nacional, democrático etc.

Dessa maneira são antecedentes do Estado moderno ou nacional, o Estado absolutista, o Estado
medieval e o Estado antigo. Aqui em nosso material utilizaremos os dois termos Estado moderno ou
Estado, visando o emprego de ambos como termos sinônimos, para fins de esclarecimento e apontamentos.

É importante considerar que o termo Estado é um conceito jurídico, enquanto país é uma conceito
geográfico. O nome do país pode ou não coincidir com o nome do respectivo Estado: por exemplo, Espanha
é nome de país e de Estado, enquanto no Brasil é somente nome de país- conforme a Constituição de
1988, o nome do Estado brasileiro é República Federativa do Brasil. Em segundo lugar, pátria também
não tem significado jurídico; trata-se de um conceito que denota sentimentos de ordem afetiva e
pertinente a um determinado lugar. Seu uso é fundamentalmente retórica.

1.1 Definindo conceitos

Estado

Assim sendo, a soberania territorial é exercida pelo Estado brasileiro. Perceba que esse termo,
com “E” maiúsculo, difere-se do estado (com “e” minúsculo), que é apenas uma unidade federativa
ou uma província do país. O Estado é, portanto, um conjunto de instituições públicas que administra
um território, procurando atender os anseios e interesses de sua população. Dentre essas instituições,
podemos citar as escolas, os hospitais públicos, os departamentos de política, o governo e muitas outras.
11
Unidade I

Nação

Por outro lado, o conceito de Nação, por sua vez, também possui suas diferenças e particularidades
em relação aos demais termos supracitados. Nação significa uma união entre um mesmo povo com um
sentimento de pertencimento e de união entre si, compartilhando, muitas vezes, um conjunto mais ou
menos definido de culturas, práticas sociais, idiomas, entre outros. Assim sendo, nem sempre uma nação
equivale a um Estado, ou a um país ou, até mesmo, a um território, havendo, dessa forma, muitas nações
sem território e sem uma soberania territorial constituída.

Diferenças entre Estado e Nação

É necessário, contudo, estabelecer a diferença entre Estado e País. Enquanto o primeiro é uma
instituição formada por povo, território e governo, o segundo é um conceito genérico referente a tudo
o que se encontra no território dominado por um Estado e apresenta características físicas, naturais,
econômicas, sociais, culturais e outras. No nosso caso, o Brasil é o país e a República Federativa do
Brasil é o Estado.

Território

Território significa os limites que delimitam ou separam um território do outro formando várias
fronteiras em todo mundo, essas delimitam o mundo em mais de 190 países, os territórios são concebidos
através de acordos ou conflitos, esses são estabelecidos de acordo com os interesses socioeconômicos
e culturais.

A partir das divisões dos países formam-se variadas culturas, entende-se por cultura o conjunto de
conhecimentos humanos adquiridos a partir das relações sociais ao longo do tempo e que são passadas
para as gerações subsequentes, é o aspecto que mais caracteriza os grupos humanos. Alguns elementos
são determinantes na composição de qualquer cultura, seja ela arcaica ou moderna, os elementos que
mais demonstram a identidade cultural são, principalmente, a língua e a religião.

O Estado moderno surgiu em decorrência de um processo complexo, paralelo ao desenvolvimento de


um novo modelo de sociedade, uma sociedade predominantemente urbana, assentada sobre uma base
capitalista e orientada por valores individualistas e leigos.

Esse Estado moderno foi precedido por um sistema feudal aliado ao poder papal e dos reis, e pelo
Antigo Regime dos reis absolutistas que mediante ao seus desgastes políticos, sociais e religiosos,
mediados pelas ideias humanistas, protestantes, burguesas e iluministas desaguou na Revolução Francesa
outorgando à sociedade um Estado democrático de Direito, reconhecendo o poder do povo para o povo
mediante a escolha desses para seus representantes no congresso e governantes no executivo.

Os desdobramentos sociais e políticos enviesados pela economia possibilitaram a instauração do


Estado moderno como resultado de um momento crucial da histórias onde forças históricas e grupos
sociais somatizaram e possibilitaram tal fase, ação e construção simultaneamente na sociedade europeia.

12
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

O Antigo Regime é a denominação do sistema político e social da França anterior à Revolução


Francesa (1789). Durante o Antigo Regime, a sociedade francesa era constituída por diferentes estados:
clero, nobreza e burguesia. No degrau mais alto estava o rei, que governava segundo a Teoria do Direito
Divino na qual afirmava que o poder do soberano era concedido por Deus. O termo foi aplicado depois
da revolução para diferenciar os dois tipos de governo.

1.2 Características do Antigo Regime

Política

A política do Antigo Regime se caracterizava pelo absolutismo. Este consistia na concentração da


autoridade política sobre o rei com o apoio da teoria do direito divino, desenvolvida pelo filósofo Jean
Bodin. Existia uma assembleia que reunia os três estados, mas esta só podia ser convocada quando o
rei decidisse. O último rei a governar a França durante o Antigo Regime foi Luís XVI (1754-1793), da
dinastia Bourbon, que morreu na guilhotina.

Economia

Durante o Antigo Regime, vigorava o mercantilismo, um conjunto de normas econômicas onde o


Estado organizava e intervinha na economia. Segundo as ideias mercantilistas, a riqueza de um país
estava baseado no monopólio, na acumulação de metais e na regulação da economia pelo Estado.

Sociedade

A sociedade do Antigo Regime se dividia em estamentos compreendidos entre clero, nobreza,


burguesia e camponeses. O clero e a nobreza eram livres de impostos que recaíam sobre burgueses e
camponeses. Por sua parte, o rei governava sob a teoria do direito divino centralizando as decisões do
executivo, legislativo e judiciário. Para isto, ele era apoiado pela Igreja Católica.

Primeiro Estado

O primeiro Estado era representado pelo clero. A França era um país católico e à Igreja cabia os
registros de nascimento e falecimento, a educação, os hospitais, e, claro, a vida religiosa dos franceses. A
Igreja exercia forte influência sobre o governo porque várias figuras do alto clero, como cardeais, bispos
e arcebispos, eram conselheiros do rei. Entretanto, havia o baixo clero, que atuava nas zonas rurais e
pequenas cidades e que não possuíam bens.

A Igreja estava isenta de impostos e era proprietária de terras e imóveis. Desta forma, conseguiu
acumular grande riqueza. No entanto, o Rei interferia nos assuntos eclesiásticos e aproveitava das
cerimônias religiosas para reafirmar seu poder como representante de Deus na Terra.

13
Unidade I

Segundo Estado

O segundo Estado era constituído pela nobreza, pessoas com títulos hereditários e que ocupavam
cargos importantes no governo. Os nobres eram proprietários de terras e viviam exaltando luxo. A fim
de não rivalizarem com o poder do rei, haviam sido cooptados pelo monarca para viverem em Versalhes,
na corte francesa.

A nobreza se dividia conforme a antiguidade dos seus títulos, pois alguns nobres os haviam recebido
na época das Cruzadas. Por sua parte, havia nobres que eram antigos burgueses que conseguiram chegar
a essa condição por terem comprado títulos de nobreza ou por se casarem com nobres que estavam
empobrecendo. Assim como o clero, não pagavam impostos e acumulavam cargos no governo francês.

Terceiro Estado

Na base da sociedade francesa estavam as pessoas comuns, o terceiro Estado, que correspondia a
95% da população. Nessa classe, estavam os burgueses, ricos comerciantes e profissionais liberais.

Nessa camada também estavam os camponeses e criados dos nobres, que enfrentavam dificuldades
para manter condições mínimas de sobrevivência, como alimentação e vestuário. Sobre o terceiro Estado
recaía pesada tributação e era o único dos estados que pagava impostos.

O Iluminismo e o Antigo Regime

O Iluminismo foi um movimento intelectual francês ocorrido entre os séculos XVII e XVIII e que
questionava o modelo econômico, social e político da Idade Média. Para eles, nada de bom aconteceu
nesta época e os iluministas a classificaram como “Idade das Trevas”.

Apoiado em uma nova visão a respeito de Deus, da razão, da natureza da humanidade, o iluminismo
teve significativa influência sobre o pensamento revolucionário.

Os iluministas defendiam que os objetivos da humanidade são o conhecimento, a liberdade e a


felicidade. Além disso, queriam um governo onde os poderes estivessem divididos e o papel do soberano
fosse limitado. A partir de 1787, a velha organização política e social francesa começou a ser questionada
através das ideias iluministas.

Também contribuíram para isto a crise financeira na qual a França mergulhou após o fracasso das
colheitas de trigo nos anos de 1787 e 1788, e os gastos militares na Guerra de Independência dos
Estados Unidos. O fracasso no campo não impediu o aumento da cobrança de impostos ao terceiro
estado, que passa a exigir melhores condições sociais e a reforma do governo.

O rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais para encontrar uma solução para a crise financeira.
Contudo, tanto o primeiro, como o segundo estado não aceitavam abdicar os privilégios e integrar o
regime de recolhimento de tributos.

14
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

O desenho da revolução ocorria com a organização da burguesia e do baixo clero, que conseguiram
a instituição da monarquia constitucional.

A Revolução Francesa e o fim do Antigo Regime

A Revolução Francesa provocou o fim do Antigo Regime na França e posteriormente, na Europa.


A burguesia estava ressentida da exclusão do poder e rejeitava os últimos vestígios do anacrônico
feudalismo. Por sua parte, o governo francês estava à beira da falência; o aumento da população
elevou proporcionalmente o descontentamento com a falta de alimentos e o excesso de impostos. No
contexto ideológico, as ideias iluministas defendiam uma nova ordem e a teoria do direito divino deixou
de ser aceita.

A figura do Antigo Regime exaltando a pessoa do Rei com centralização do poder sobre um homem
via diametralmente contra a ideia do Iluminista, Montesquieu, que afirmava sobre a tripartição dos
poderes, permitindo não mais o poder nas mãos de um homem, mas sobre instituições democráticas
constituídas de civis eleitos pelo povo e indicados indiretamente pelos governantes no caso do judiciário.

O Estado absolutista é um regime político surgido no fim da Idade Média. Também chamado de
absolutismo se caracteriza por concentrar o poder e autoridade no rei e de poucos colaboradores. Nesse
tipo de governo, o rei está totalmente identificado com o Estado ou seja, não há diferença entre a
pessoa real e o Estado que governa.

Não há nenhuma Constituição ou lei escrita que limite o poder real e tampouco existe um parlamento
regular que contrabalance o poder do monarca. Tal ato por si só já nos aponta o perigo de um poder sem
limites e punições frente ao abuso desse poder para com os seus súditos.

O Estado Absolutista surgiu no processo de formação do Estado Moderno ao mesmo tempo que a
burguesia se fortalecia. Durante a Idade Média, os nobres detinham mais poder que o rei. O soberano
era apenas mais um entre os nobres e deveria buscar o equilíbrio entre a nobreza e seu próprio espaço.

Durante a transição do feudalismo para o capitalismo houve a ascensão econômica da burguesia


e do Mercantilismo. Era preciso outro regime político na Europa centro-ocidental que garantisse a paz e
o cumprimento das leis. Por isso, surge a necessidade de um governo que centralizasse a administração
estatal. Desta maneira, o rei era a figura ideal para concentrar o poder político e das armas, e garantir
o funcionamento dos negócios. Nesta época, começam a surgir os grandes exércitos nacionais e a
proibição de forças armadas particulares.

Nesse momento, a figura do rei era o ideal para esse contexto, o que não será posteriormente quando
as tensões da burguesia, nobres e realidades econômicas e sociais, marcadas pela pobreza e incompetência
para tratar dos reais desafios dessa sociedade, exigiam mudanças, o que será experimentado na Revolução
Francesa, legando esse Estado Moderno que possibilitasse essa nova ordem social tão desejada.

15
Unidade I

Saiba mais

Conheça mais sobre o Estado Absolutista no artigo a seguir:

BEZERRA, J. Estado Absolutista. Toda Matéria, 15 maio 2019. Disponível em:


https://www.todamateria.com.br/estado-absolutista/. Acesso em: 1º mar. 2021.

1.3 Exemplos de Estados Absolutistas

Ao longo da história, com a centralização do Estado Moderno, várias nações passaram a formar
Estados Absolutistas. Eis alguns exemplos a seguir.

França

Considera-se a formação do Estado francês sob reinado dos reis Luís XIII (1610-1643) e do rei Luís
XIV (1643-1715) durando até a Revolução Francesa, em 1789. Luís XIV limitou o poder da nobreza,
concentrou as decisões econômicas e de guerra em si e seus colaboradores mais próximos. Realizou uma
política de alianças através de casamentos que garantiu sua influência em boa parte da Europa, fazendo
a França ser o reino mais relevante no continente europeu. Este rei acreditava que somente “um rei,
uma lei e uma religião” fariam prosperar a nação. Deste modo, inicia uma perseguição aos protestantes.

Inglaterra

A Inglaterra passou um longo período de disputas internas devido às guerras religiosas, primeiro
entre católicos e protestantes e, mais tarde, entre as várias correntes protestantes. Este fato foi decisivo
para que o monarca concentrasse mais poder, em detrimento da nobreza.

O grande exemplo de monarquia absolutista inglesa é o reinado de Henrique VIII (1509-1547) e o de


sua filha, a rainha Elizabeth I (1558-1603) quando uma nova religião foi estabelecida e o Parlamento foi
enfraquecido. A fim de limitar o poder do soberano, o país entra em guerra e somente com a Revolução
Gloriosa estabelece as bases da monarquia constitucional.

Portugal

O absolutismo em Portugal começou ao mesmo tempo que se iniciavam as Grandes Navegações.


A prosperidade trazida com os novos produtos e os metais preciosos do Brasil foram fundamentais
para enriquecer o rei. O reinado de Dom João V (1706-1750) é considerado o auge do estado absolutista
português, pois este monarca centralizou na coroa todas as decisões importantes como a justiça,
o exército e a economia. O absolutismo em Portugal duraria até a Revolução Liberal do Porto, em 1820,
quando o rei Dom João VI (1816-1826) foi obrigado aceitar uma Constituição.

16
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

A afirmação do poder secular dos reis e Imperadores contra o poder espiritual dos papas tem um
significado verdadeiramente transcendente no pensamento ocidental, na medida em que se separam os
poderes político e religioso.

As ideias humanistas desaguando nos ideias da Reforma Protestante e no Iluminismo permitiram


uma intensa reflexão dessa sociedade medieval que transita para um mundo moderno em um período
de três séculos, legando os ideais das liberdades civis e de um Estado laico, livre da religião para uma
atuação mais voltada para a sociedade civil e de esfera pública.

A filosofia do final da Idade Média acaba por distinguir perfeitamente esses dois domínios (religioso
e político), ao ponto que no nascedouro da Revolução Francesa, a separação se estabelece entre o
domínio do político da esfera do religioso.

Em resposta ao processo de expansão do capital no continente europeu, manifestando-se pela


necessidade de haver uma unificação do poder, com maior centralização e concentração de forças, o
Estado foi firmado como este guia a fim de que os interesses de classe estivessem mais equilibrados.
O Estado centralizado, no contexto do século XV, era atinente aos propósitos do absolutismo. O rei,
como salvaguarda da soberania, não poderia sofrer restrições sob pena de o poder central não se ver
mais como poder concreto. Para este fim, foram desenvolvidas algumas instituições e modulações
sociais e culturais:

• Unificação da língua e exigência de uma moeda comum (símbolos nacionais).

• Formação de uma burocracia profissional, com destaque para a administração racional do poder central.

• Organização de um poder militar capaz de reunir as forças públicas.

• Centralização política e monopólio legislativo.

• Oficialização de comunicados e informes gerais, institucionais, a fim de que houvesse uma maior
regulamentação/regularização (a normatização leva à normalização).

• Definição de um sistema tributário como requisito para manter a arrecadação regular de fundos
necessários à manutenção do Estado e de seu aparato organizacional.

Paulo Henrique Gonçalves Portela também defende a ideia de que são três os elementos constitutivos
do Estado: território, povo e governo soberano.

O estudo do Estado... parte também do exame de seus três elementos


essenciais... o território, o povo e o governo soberano (...) O governo soberano,
também chamado de “poder soberano”, é a autoridade maior que exerce
o poder político do Estado (...) a soberania é o atributo do poder estatal
que confere a este poder o caráter de superioridade frente a outros núcleos
de poder que atuam dentro do Estado, como as famílias e as empresas...
(PORTELA, 2015, p. 168-169).
17
Unidade I

Outro autor que sustenta uma teoria de três elementos formadores do Estado é Sahid Maluf:
população, território e governo.

No tocante à sua estrutura, o Estado se compõe de três elementos:


a) população; b) território; c) governo (...) A condição de Estado perfeito
pressupõe a presença concomitante e conjugada desses três elementos,
revestidos de características essenciais: população homogênea, território
certo e inalienável e governo independente (MALUF, 1998, p. 23).

Já Hans Kelsen defende uma teoria de quatro elementos formadores do Estado: território, povo,
poder e tempo ou período de existência.

A doutrina tradicional distingue três “elementos” do Estado: seu território,


seu povo e seu poder (...) É característico da teoria tradicional considerar o
espaço – território –, mas não o tempo, como um “elemento” do Estado. No
entanto, um Estado existe não apenas no espaço, mas também no tempo,
e, se consideramos o território como um elemento do Estado, então, temos
que considerar também o período de sua existência como um elemento do
Estado (KELSEN, 1998, p. 299 e 314).

Por sua vez, Dalmo de Abreu Dallari também sustenta que os componentes do Estado são quatro:
ordem jurídica, finalidade, povo e território.

Em face de todas as razões até aqui expostas, e tendo em conta a possibilidade


e a conveniência de acentuar o componente jurídico do Estado, sem perder
de vista a presença necessária dos fatores não jurídicos, parece-nos que se
poderá conceituar o Estado como a ordem jurídica soberana que tem por
fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Nesse
conceito se acham presentes todos os elementos que compõem o Estado,
e só esses elementos. A noção de poder está implícita na de soberania,
que, no entanto, é referida como característica da própria ordem jurídica.
A politicidade do Estado é afirmada na referência expressa ao bem comum,
com a vinculação deste a um certo povo, e, finalmente, a territorialidade,
limitadora da ação jurídica e política do Estado, está presente na menção a
determinado território (DALLARI, 2012, p. 122).

Por sua vez, Celso Ribeiro Bastos expressa uma teoria de cinco elementos do Estado: povo, território,
governo, ordem jurídica/leis e poder.

No nosso Curso de teoria do Estado e ciência política tivemos o ensejo


de definir o Estado como a “organização política... resultante de um povo
vivendo sobre um território delimitado e governado por leis que se fundam
num poder não sobrepujado por nenhum outro externamente e supremo
internamente...” (BASTOS, 1990, p. 7).
18
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Também Antônio Sebastião de Lima sustenta uma teoria de cinco elementos do Estado, classificados
em duas categorias: elementos materiais, que são quatro; e um elemento formal, que é o direito
constitucional. Dessa forma, para esse autor, os cinco elementos formadores do Estado são:
povo, território, governo, finalidade e direito constitucional.

O Estado, produto da cultura humana, sociedade política, instituição


política... tem matéria e forma. Os elementos essenciais que lhe dão
existência são o povo, o território, o governo e a finalidade. Esses elementos,
em conjunto, são a estrutura do Estado, a sua constituição material. As regras
que estabelecem os vínculos de organização e funcionamento entre esses
elementos são a constituição formal do Estado, o seu direito constitucional
escrito ou consuetudinário (LIMA, 1998, p. 35).

Da sua parte, Platão, na sua obra A República, também menciona a existência de sete elementos
formadores do Estado: (1) povo ou conjunto de habitantes; (2) território; (3) poder; (4) governo;
(5) princípios de justiça; (6) ordem jurídica: constituição, leis e costumes; (7) finalidade: conferir educação
e os maiores benefícios ao povo. Vejamos:

Um Estado nasce... das necessidades dos homens (...) o conjunto dos habitantes
recebe o nome de cidade ou Estado (...) O território do Estado precisa ser
estendido (...) Teremos, pois, de cortar para nós uma fatia do território vizinho
(...) os que governam não devem ser amantes do poder (...) não são vãs quimeras
o que dissemos sobre a cidade e seu governo, e sim coisas que, embora difíceis,
são realizáveis – mas realizáveis unicamente de maneira que descrevemos, isto
é, quando haja na cidade um ou vários governantes que... tenham... na mais
alta estima o reto e as honras que dele dimanam, prezando como a maior e
mais necessária de todas as coisas o justo... cujos princípios serão exaltados
por eles ao organizarem a cidade (...) a justiça é em si mesmo o maior dos bens
(...) para educá-los de acordo com seus próprios costumes e leis... para que o
Estado alcance no mais breve espaço de tempo a felicidade e possa conferir os
maiores benefícios ao povo que se rege por tal constituição... (PLATÃO, 1996,
p. 37, 39, 42, 157 e 173).

Assim, considerando todos os elementos sugeridos por todos esses autores, teremos que os elementos
constitutivos do Estado são:

• População.

• Povo.

• Território.

• Tempo.

• Poder político.
19
Unidade I

• Governo.

• Finalidade.

• Recursos.

• Princípios de justiça.

• Ordem jurídica.

• Capacidade de manter relações com outros Estados.

1.3.1 Povo

Formado por indivíduos-cidadãos com dignidade de pessoas humanas, isto é, no dizer de Kant, por
pessoas consideradas sempre como fins e nunca apenas como meios (KANT, 2001, p. 69-70), e chamado
também de cidadania, o povo é a dimensão humana e humanizadora do Estado. No Estado social e
democrático de direito, ou, simplesmente, Estado democrático de direito, o povo é o titular do seu poder
soberano (princípio da soberania popular), como o proclamou Rousseau, e o titular do seu governo
democrático (princípio do governo popular): o governo democrático (a democracia) é governo do povo,
pelo povo e para o povo, como o afirmou Abraham Lincoln.

Dessa forma, o conjunto de pessoas vinculadas juridicamente a um determinado Estado se denomina


povo. Por sua vez, esse vínculo jurídico que liga as pessoas a um Estado denomina-se nacionalidade.

De forma particular, a Constituição do Estado democrático de Direito brasileiro de 1988 registra isso
nos incisos I, II e III, e parágrafo único do seu art. 1º, Título I:

Título I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado democrático de direito


e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

[...] Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

20
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Nesse sentido, o verdadeiro Estado democrático de direito (Estado do povo, pelo povo, com o povo e
para o povo, como diriam Rousseau e Lincoln) é um empreendimento ético-jurídico-político originado,
construído e desenvolvido pelo seu componente humano e para o seu componente humano: o povo,
formado por indivíduos-cidadãos com dignidade de pessoas humanas. Por seu componente humano e
para o seu componente humano, o verdadeiro Estado democrático de direito é, pois, também, um Estado
ético, humano e humanizador.

É pelo povo e para o povo que o Estado existe. O povo é, pois, o componente criador, gestor,
empreendedor, construtor e beneficiário do Estado democrático de direito.

Há autores que, considerando o elemento humano como o mais importante e fundamental do


Estado, conceituam o Estado como: “conjunto de habitantes” (PLATÃO, 1996, p. 39); “universalidade dos
cidadãos” (ARISTÓTELES, 1998, p. 41); “multidão unida numa só pessoa” (HOBBES, 2000, p. 144); “pessoa
pública formada pela união de todas as demais” (ROUSSEAU, 1996, p. 22); “associação constituída por
cidadãos iguais” (RAWLS, 1997, p. 230); “povo politicamente organizado”; “O Estado somos nós” etc.

1.3.2 Território

É o elemento espacial do Estado. É o espaço no qual e sobre o qual o Estado afirma seus direitos de
soberania e governo. Esse espaço tem várias dimensões: (a) espaço territorial: solo e subsolo; (b) espaço
fluvial: rios e lagos; (c) espaço aéreo; (d) espaço marítimo: mar territorial, plataforma continental, alto
mar; (e) espaço ficto: embaixada, navios e aeronaves.

Num verdadeiro Estado democrático, o território, além de espaço jurídico e político, é também
espaço moral, ético e humano, pois é nesse espaço que vive seu elemento humano, seu empreendedor,
criador, governante e soberano: o povo e os indivíduos-cidadãos com dignidade de pessoas humanas
que compõem o povo, ente coletivo moral, ético e humano. Além do mais, o território é também fonte
de recursos naturais e ou materiais do Estado.

Pode-se dizer que o território é o espaço geográfico dentro do qual o Estado exerce seu poder.
Território é o âmbito de validade da ordem jurídica estatal. Daí se dizer que o território do Estado está
protegido pelo princípio da impenetrabilidade ou impermeabilidade.

Essa impermeabilidade tem um significado positivo e outro negativo: o positivo é o significado de que
toda pessoa que se encontra no território do Estado está sujeita à autoridade; negativo é o significado
de que não pode ser exercida dentro do território uma autoridade que não derive do próprio Estado.

Estado e Direito Internacional

Essa última observação traz à baila o problema da relação entre o Direito do Estado e o Direito
Internacional, enfrentando por três teorias diferentes:

• Primado da ordem jurídica estatal: sustenta que, a rigor, só existe o Direito do Estado, inexistindo
caráter vinculante nos pactos e convenções internacionais.
21
Unidade I

• Primado da ordem jurídica internacional: não apenas reconhece a vinculatividade do direito


internacional, como ainda lhe atribui predominância face ao direito do Estado.

• Teoria dualista: parte do pressuposto de que os sujeitos vinculados pelo Direito Internacional
são os Estados, não os cidadãos dos Estados. Assim para que uma norma internacional alcance
validade interna, é necessária a sua transformação em norma do direito interno.

Delimitação do território

A delimitação precisa do território é uma característica do Estado moderno e decorre do caráter


singular que caracteriza a noção de soberania- que como vimos, não reconhece poder igual ou superior
no seu espaço de exercício.

A territorialização do Estado suscita a questão das fronteiras, que só então passaram a ser
precisamente delimitadas. A soberania do Estado se estende ainda ao mar territorial.

Território e ciberespaço

É de se notar que foi a tecnologia que complicou o exercício da soberania em relação ao espaço
aéreo – transformando os aviões em meio de transporte corriqueiro e criando satélites e veículos
espaciais – e ao mar territorial – criando de um lado, armas de longuíssimo alcance e, de outro, meios
para exploração econômica do mar e do seu subsolo. Como se faz para exercer soberania em um espaço
virtual? As respostas, precisamos encontrar...

1.3.3 Poder Político

É o componente energético e coercitivo do Estado, a energia ou força coercitiva do Estado. Num


Estado democrático de direito, como foi visto, o titular do poder político é o povo, a cidadania, os
indivíduos-cidadãos como coletividade.

O poder do Estado tem as seguintes características: (1) é soberano ou supremo, isto é, possui a
qualidade (ou atributo) da soberania ou supremacia; (2) é um, só um, uno, indivisível, indelegável,
inalienável e imprescritível. A qualidade da soberania é tão inerente ao poder do Estado que ela é
considerada como sendo o próprio poder soberano ou supremo do Estado. Vejamos isso em quatro
pensadores da soberania ou poder supremo ou soberano do Estado: Aristóteles, Bodin, Hobbes e Rousseau.

O poder supremo do Estado como sinônimo de soberania já está em Aristóteles:

O governo é o exercício do poder supremo do Estado. Esse poder só poderia


estar ou nas mãos de um só, ou da minoria, ou da maioria das pessoas (...)
A principal dificuldade consiste em saber a quem deve caber o exercício da
soberania (ARISTÓTELES, 1998, p. 105 e 149).

22
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Para Jean Bodin, autor francês, considerado o primeiro a tratar da soberania de forma sistemática,
ela, a soberania, tendo as características de indivisibilidade, indelegabilidade, irrevogabilidade e
perpetuidade, é o poder absoluto ou supremo do Estado. Paulo Bonavides, na sua obra Ciência Política,
nos lembra disso:

A soberania é una e indivisível, não se delega a soberania, a soberania é


irrevogável, a soberania é perpétua, a soberania é um poder supremo, eis os
principais pontos de caracterização com que Bodin fez da soberania... um
elemento essencial do Estado (BONAVIDES, 2003, p. 160).

Também para Hobbes o poder do Estado é poder soberano, que ele, ressaltando sua característica
de indivisibilidade, chama também de “soberania”, “o maior dos poderes humanos”, “poder comum”,
“grande autoridade”:

O maior dos poderes humanos é aquele que é composto pelos poderes de


vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil,
que tem o uso de todos os seus poderes na dependência da sua vontade: é o
caso do poder de um Estado (...) Portanto não é de admirar que seja necessária
alguma coisa mais, além de um pacto, para tornar constante e duradouro seu
acordo: ou seja, um poder comum que os mantenha em respeito, e que dirija
suas ações no sentido de benefício comum. A única maneira de instituir um
tal poder comum... é conferir toda a sua força e poder a um homem ou a
uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por
pluralidade de votos, a uma só vontade (...) à multidão assim unida numa só
pessoa chama-se Estado, em latim, civitas. É esta a geração daquele grande
Leviatã, ou antes... daquele Deus mortal (...) Aquele que é portador dessa
pessoa chama-se soberano, e dele se diz que possui poder soberano (...) o
poder soberano é conferido mediante o consentimento do povo reunido (...)
É evidente que quem é tornado soberano não faz antecipadamente nenhum
pacto (...) E se fizer tantos pactos quantos forem os homens, depois de ele
receber a soberania esses pactos seriam nulos (...) Portanto é inútil pretender
conferir a soberania através de um pacto anterior (...) Quando se confere a
soberania a uma assembleia de homens, ninguém deve imaginar que um
tal pacto faça parte da instituição (...) a grande autoridade é indivisível, e é
inseparavelmente atribuída ao soberano (...) o poder soberano inteiro (que
já mostrei ser indivisível) tem que pertencer a um ou mais homens, ou a
todos...” (HOBBES, 2000, p. 83, 143-147, 150 e 153).

Do seu lado, Rousseau, quem colocou o poder soberano ou soberania nas mãos do povo, afirmando as
suas características de indivisibilidade e inalienabilidade, chama a soberania também de “força comum”,
“poder absoluto”, “autoridade soberana”:

23
Unidade I

Do pacto social (...) “Encontrar uma forma de associação que defenda e


proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado,
e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedeça, contudo, a si mesmo
e permaneça tão livre quanto antes”. Esse é o problema fundamental cuja
solução é fornecida pelo contrato social (...) esse ato de associação produz um
corpo moral e coletivo composto de tantos membros quantos são os votos da
assembleia, o qual recebe, por esse mesmo ato, sua unidade, seu eu comum,
sua vida e sua vontade. Essa pessoa pública, assim formada pela união de
todas as demais, tomava outrora o nome de Cidade, e hoje o de República
ou de corpo político, o qual é chamado por seus membros de Estado quando
passivo, soberano quando ativo e Potência quando comparado a seus
semelhantes. Quanto aos associados, eles recebem coletivamente o nome
de povo e se chamam, em particular, cidadãos, enquanto participantes da
autoridade soberana (...) o poder soberano não tem nenhuma necessidade
de garantia em face dos súditos (...) Dos limites do poder soberano (...) o
pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é
esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, recebe, como ficou dito,
o nome de soberania (...) Pela mesma razão por que é inalienável, a soberania
é indivisível (ROUSSEAU, 1996, p. 20-24, 34-39).

Para Rousseau, então, da mesma forma que para Bodin e Hobbes, o poder do Estado, o poder soberano
ou soberania é indivisível. Quanto ao titular do poder soberano ou soberania, porém, Rousseau opõe-se
a Bodin e Hobbes. Para Bodin e Hobbes o titular da soberania é um indivíduo: o monarca, o príncipe.
Já para Rousseau, o dono, o titular do poder soberano ou soberania é o povo, a cidadania, os cidadãos
como coletividade.

Num verdadeiro Estado democrático de direito, porém, a soberania (ou poder soberano ou supremo)
popular não é mera força coercitiva, mas é também, principalmente, soberania humana e humanizadora, pois
é o poder do povo soberano, seu elemento humano, povo formado por indivíduos-cidadãos com dignidade
de pessoas humanas. Em razão disso, a soberania do povo é também soberania justa (socialmente justa,
essencialmente), dialógica, cooperativa, pacífica e pacificadora, isto é, soberania ética ou moral, pois ela se
autolimita, autorregula e autogoverna pelos princípios éticos ou morais da justiça social.

1.3.4 Governo

O Governo – terceiro elemento do Estado – é uma delegação de soberania nacional, no conceito


metafisico da escola francesa. É a própria soberania posta em ação, no dizer de Esmein.

Segundo a escola alemã, é um atributo indispensável da personalidade abstrata do Estado.


Positivamente, é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da
administração pública.

Dessa forma, o governo seria apenas uma das instituições que compõem o Estado, com a função
de administrá-lo. Os governos são transitórios e apresentam diferentes formas, que variam de um lugar
para outro, enquanto os Estados são permanentes.
24
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Sendo assim, governo é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da
administração pública. Deve ser soberano, ou seja, absoluto. No plano interno o poder soberano não
encontra limites jurídicos. Já no plano internacional a soberania estatal encontra limites no princípio da
coexistência pacífica das soberanias estatais.

1.3.5 Forma de Estado

Os Estados são divididos conforme indicado a seguir.

Estados unitários

São aquelas formas estatais clássicas, em que se identificam grupos populacionais e território
tradicionais, com governo nacional único, não importando o grau de descentralização interna dos
órgãos que o constituem. Exemplo: Brasil.

Estados compostos

Trata-se de uma pluralidade de Estados, perante o direito interno, mas que se projeta na esfera
jurídica internacional como uma unidade.

• Estado federal: é constituído por Estados-membros conservando autonomia e personalidade


jurídica de direito público interno. Todavia, a soberania estatal e a personalidade jurídica de direito
internacional concentram-se num mesmo ente central (União). Podem se formarem por agregação
ou por segregação. Agregação são Estados pré-existentes que renunciam à própria soberania para
aglomerarem-se sob nova formação comum, que passará a ser detentora única da personalidade
de direito público externo. Exemplos: EUA; Segregação o Estado é formado pela descentralização
de um Estado unitário em vários centros de competência autônomos. Exemplo: Brasil.
• Estado confederal: caracteriza-se pela reunião permanente de Estados independentes e soberanos,
geralmente com a finalidade de defesa externa e paz interna. A reunião é precedida por tratado
internacional, reservando-se a cada um dos Estados o desligamento a qualquer tempo da
confederação. Exemplo: Sérvia e Montenegro.

Puro

Estado unitário Descentralizado


administrativamente
Descentralizado
administrativa e
Formas de estado politicamente

Confederação
Sociedade de estados
Federação

Figura 1

25
Unidade I

1.3.6 Formas de governo

Classificação de Aristóteles

As formas de governo dividiam-se entre normais e anormais.

• Normais: aquelas cujo objetivo era o bem da comunidade.

Ainda podem se subdividir em:

— Monarquia: o governo de uma só pessoa.

— Aristocracia: o governo de uma classe restrita.

— Democracia: o governo de todos os cidadãos.

• Anormais: aquelas que visavam somente a vantagens para os governantes.

— Tirania: forma corrompida de monarquia, governo legítimo, mas injusto; governo que não
respeita princípios constitucionais; exercício despótico do poder.

— Oligarquia: forma corrompida de aristocracia. Governo em que o poder fica concentrado em


mãos de uma classe aristocrática.

— Demagogia: forma corrompida de democracia. Estado corrupto da democracia.

Classificação de Maquiavel

Governo da minoria

• Monarquia: forma de governo que se caracteriza pela presença dos seguintes fatores:
vitaliciedade do governante; hereditariedade como mecanismo de sucessão governamental;
a irresponsabilidade do monarca pelos atos que praticar; e a ausência de representatividade
popular. Subdivide-se em:

— Monarquia absoluta: em que os poderes reais são ilimitados.

— Monarquia de estamentos (ou monarquia de braços): na qual o poder é descentralizado


e delegado.

— Monarquia constitucional: aquela em que o monarca só exerce funções limitadas, geralmente


restritas ao âmbito do Poder Executivo.

26
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

• Ditadura: governo exercendo arbitrária e absolutamente o Executivo e o Legislativo e,


excepcionalmente, também o Judiciário.

Governo da maioria

• República: caracterizada pela temporariedade, o governo deve ser exercido por tempo
determinado, ainda que prevista a reeleição; eletividade, com exigência de eleições periódicas;
responsabilidade dos agentes públicos; e representatividade popular.

Sistema de governo

• Sistema presidencialista: encontra-se esse sistema nos países cuja forma de Governo é a
República; Presidente da República exerce o Executivo acumulando as funções de Chefe de Estado
e Chefe de Governo; investidura e o exercício do mandato do Presidente independem da vontade
do Legislativo; Legislativo não se sujeita a dissolução e seus membros são investidos em mandato
com termo certo; divisão e independência entre os Poderes; e plano de governo é estabelecido e
observado sem a influência do Legislativo, salvo no tocante à posterior prestação de contas.

• Sistema parlamentarista: encontra-se nos países que adotaram a forma de governo a Monarquia
constitucional; Poder Executivo é dividido entre a chefia do Estado (exercida pelo monarca ou
pelo Presidente) e a chefia do Governo (de atribuição do Primeiro-Ministro); Chefe do Estado
nomeia ou indica o Primeiro-Ministro; Primeiro-Ministro é quem nomeia ou indica os demais
Ministros; o governo deve confiança ao Parlamento, quebrada a confiança, formalizada por uma
moção de desconfiança ou voto de censura (ambos de deliberação do Parlamento), é dissolvido o
governo; e o Chefe do Estado poderá dissolver o Parlamento e convocar novas eleições.

• Sistema diretorial: nesse sistema, as funções executiva e legislativa concentram-se em uma só


entidade (Assembleia). Exemplo União Soviética

2 TEORIA GERAL DO ESTADO E ORIGEM DO ESTADO

São inúmeras as teorias que visam explicar o momento de formação do estado, destacam -se três:

A primeira determina que o Estado exista desde sempre assim como a própria sociedade, visto que,
a organização social em que vivemos permeada por poder e autoridade delimita o comportamento
dos indivíduos.

A segunda teoria propõe que primeiro surgiu a sociedade, e que só depois, para atender às
necessidades ou às conveniências dos grupos sociais apareceu a figura do Estado, que formou-se em
momentos diferentes de cada lugares, surgindo de acordo com as condições concretas de cada lugar.

A terceira posição é aquela que só admite como Estado a sociedade política dotada de certas
características muito bem definida. Nessa concepção, o Estado pode ser visto como conceito histórico
concreto quando do surgimento da ideia e da prática da soberania, o que ocorre no século XVII. É
27
Unidade I

possível, segundo alguns autores, determinar o ano do nascimento do Estado, que seria 1648, quando
foi assinada a paz de Westfália. Alguns consideram ainda a paz de Westfália como o ponto de separação
entre o Estado Medieval e o Estado Moderno, e em cujos tratados foram fixados os limites territoriais
resultantes das guerras religiosas. Dessa maneira, destaca-se como características do estado a existência
de poder organizado, território, povo e soberania.

Exemplo de aplicação

Reflita sobre as teorias naturalistas e contratualistas na origem do Estado.

As teorias naturalistas afirmam que o Estado formou-se de forma espontânea. Apesar de não serem
coincidentes, apresentam como ponto comum a ideia de concepção natural do Estado.

• Origem familial ou patriarcal: estas teorias situam o núcleo social fundamental na família e
afirmam que cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado.

• Origem em atos de força, de violência ou de conquista: essas teorias sustentam, em síntese,


que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco,
nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados.

• Origem em causas econômicas ou patrimoniais: o Estado teria sido formado para se


aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, integrando-se as diferentes atividades
profissionais, caracterizando-se, assim, o motivo econômico. Destaca-se aqui Engels que além
de negar que o Estado tenha nascido com a sociedade, afirma que ele “é antes um produto da
sociedade, quando ali se chega a determinado grau de desenvolvimento.” Uma de suas principais
obras, “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”.

• Origem no desenvolvimento interno da sociedade: segundo estas teorias, o Estado é um


germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, todavia, prescindem dele
enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. É o próprio desenvolvimento espontâneo da
sociedade que dá origem ao Estado.

Existem também as teorias que sustentam a formação contratual dos Estados. Seus adeptos têm em
comum a crença de que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à
criação do Estado. De maneira geral, os adeptos da formação contratual da sociedade é que defendem
a tese da criação contratualista do Estado.

28
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

ORIGEM DO ESTADO

As teorias sobre a origem do Estado são resultantes de


racioncínios hipotéticos, entre eles se destacam:
• teorias da origem familiar;
• teorias de origem patrimonial;
• teorias da força.
Nessas teorias o problema da origem do Estado é
equacionado sob o ponto de vista histórico-sociológico.

Figura 2

2.1 Justificação do Estado

As principais teorias de justificação do Estado estão indicadas a seguir:

• Teoria do direito sobrenatural: para essa teoria, o estado foi fundado por Deus, o rei é ao
mesmo tempo sumo-sacerdote, representante de Deus na ordem temporal e governador civil.
Exemplos: Tibete – faraós no Egito – imperadores na china.

• Teoria do direito divino providencial: para essa teoria o Estado é de origem divina, porém por
manifestação providencial da vontade de Deus. O poder vem de Deus m as não por manifestação
visível e concreta de sua vontade, mas, sim, através do seu povo, o poder vem de Deus em abstrato.
Os homens conformando-se com a vontade divina, devem reconhecer e acatar a vontade do estado.
Dotados de livre‑arbítrio no seu procedimento, os homens organizam os governos, estabelecem as
leis e confirmam as autoridades nos cargos e ofícios, sob a direção invisível da providência divina
sempre presente. São representantes dessa teoria, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

• Teorias racionalistas: são denominadas teorias racionalistas, todas aquelas que justificam o
Estado como de origem convencional, isto é, como produto da razão humana. Encontram-se
dentre elas, as teorias contratualistas – para eles, o estado nasceu de um acordo utilitário e
consciente entre os indivíduos.

2.2 Teoria do Estado

O conceito de Estado não é unívoco, visto que pode ser examinado sob os ângulos filosófico, político
e estritamente jurídico.

O conceito filosófico, delineado por Georg Hegel (1770-1831), evidencia que o Estado deduziria a
realidade da ideia de uma ética, consistente na síntese do espírito absoluto, a partir da dialética entre
a família (tese ou espírito subjetivo) e a sociedade (antítese ou espírito objetivo), de arte que “o Estado
seria uma realidade da vida ética, da vontade substancial, em que a consciência mesma do indivíduo se
eleva a comunidade e, portanto, ao racional em si e para si”.
29
Unidade I

O conceito sociológico, desenhado por Max Weber (1864-1920), expressa que o Estado detectaria
o monopólio da força física legítima, consubstanciado na institucionalização da violência pelo aparato
estatal, de maneira que “o Estado seria um agrupamento de dominação que apresenta caráter
institucional e que procurou, com êxito, monopolizar, nos limites de um território, a força física legitima
como instrumento de domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas mãos dos dirigentes os meios
materiais de gestão”.

O conceito estritamente jurídico, desenvolvido por Georg Jellinek (1851-1911), exprime que o
Estado deteria o poder político, constituído sobre determinado território e dirigido a certa população, de
sorte que “ o Estado seria um fenômeno histórico no qual certa população, assentada em determinado
território, e dotada de um poder originário de mando”.

2.3 Origem do Estado

A origem do Estado e o fundamento do poder político são motivos de divergência entre correntes
doutrinárias.

• Teoria da origem patriarcal: elaborada por Robert Filmer, defende a sociedade política como
resultado da ampliação ao desenvolvimento da sociedade humana. Os patriarcas sucessivos
tinham por seu direito de paternidade uma autoridade real sobre os filhos. Este domínio sobre o
mundo inteiro, que Adão exercia para obediência e do qual as patriarcas desfrutavam coma se
o tivessem recebido dele para transmissão legítima, se igualava, por suas dimensões e por sua
amplitude, a soberania absoluta de todos os monarcas que existiram desde a criação.

• Teoria da origem patrimonial: elucidada par Friedrich Engels, defi­ne a sociedade política
coma resultado da garantia da propriedade e da sociedade humana. Em outras palavras, a
riqueza passa a ser valoriza­da e respeitada como bem supremo. Os homens vivem em sociedade
porque precisam uns dos outros para sobreviver. O Estado nasce para proteger os homens e suas
propriedades. Além disso, o Estado teria sido formado para se aproveitarem dos benefícios da
divisão do trabalho, integrando-se as diferentes atividades profissionais, caracterizando-se, assim,
o motivo econômico.

• Teoria do desenvolvimento interno da sociedade: aquelas sociedades que atingem maior grau
de desenvolvimento e alcançam uma forma complexa têm absoluta necessidade do Estado, e então
ele se constitui. É o próprio desenvolvimento espontâneo da sociedade que dá origem ao Estado.

• Teoria da força: a superioridade de força de um grupo social permitiu que este submetesse um
grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados.

Além das teorias abordadas sobre a formação originária do Estado, a criação deste pode se dar por
formação derivada, mediante:

• Fracionamento: quando uma parte do território se desmembra e passa a constituir um novo


Estado, seja por meios pacíficos ou violentos.
30
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

• União: quando há uma união de Estados, constituindo-se apenas um.

• Teoria do contrato social: a teoria contratualista, da origem convencional da sociedade humana,


teve sua gênese mais remota nas especulações filosóficas dos sofistas, de­senvolvendo-se na Idade
Média através da Escola Espanhola. Identificou­se com o jusnaturalismo a partir de Hugo Grotius,
que deu as bases doutrinárias desenvolvidas pelos filósofos do século XVII. Em Emmanuel Kant
atingiu o contratualismo uma sólida precisão científica.

No mundo moderno foi Thomas Hobbes o mais destacado expositor da ideia do pacto social. Mas
Hobbes partia do pressuposto de que o homem, em estado de natureza, era de uma ferocidade instintiva
impeditiva da convivência pacífica. Vivia em estado de luta permanente. 0 homem é o lobo do homem
– foi sua máxima. Consequentemente os homens realizaram o pacto voluntário constitutivo do Estado,
delegando cada um, ao governo organizado, a totalidade dos seus direitos naturais de liberdade e
autodeterminação. Convencionaram todos a sua submissão física e espiritual ao poder diretivo, em
benefício da paz social e da segurança de todos. Daí a sujeição total do homem ao Estado e o absolutis­
mo necessário do poder soberano.

Os chamados “contratualistas” são os filósofos que defendiam que o homem e o Estado fizeram uma
espécie de acordo - um contrato - a fim de garantir a sobrevivência.

O ser humano, segundo os contratualistas, vivia no chamado Estado Natural (ou estado de natureza),
onde não conhecia nenhuma organização política. A partir do momento em que o ser humano se sente
ameaçado, passa a ter necessidade de se proteger. Para isso, vai precisar de alguém maior e imparcial,
que possa garantir seus direitos naturais.

Assim, o ser humano aceita abdicar sua liberdade para se submeter às leis da sociedade e do Estado.
Por sua parte, o Estado se compromete em defender o homem, o bem comum e dar condições para que
ele se desenvolva. Esta relação entre o indivíduo e o Estado é chamado de contrato social.

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes nasceu em 1588 e faleceu em 1679, na Inglaterra. Assim pôde testemunhar as
mudanças políticas inglesa durante as revoluções burguesas.

Para Hobbes, os homens precisavam de um Estado forte, pois a ausência de um poder superior
resultava na guerra. O ser humano, que é egoísta, se submetia a um poder maior, somente para que
pudesse viver em paz e também ter condição de prosperar.

Não por acaso, Hobbes chama o “Estado” de Leviatã, um dos nomes que o diabo recebe na Bíblia, com o
propósito de reforçar que é a natureza perversa do homem que o faz buscar a união com outros homens.

O Estado, por sua parte, terá o dever de evitar conflitos entre os seres humanos, velar pela segurança
e preservar a propriedade privada. Desta maneira, somente o rei, que concentra o poder das armas e
da religião, poderia garantir que os homens vivessem em harmonia.
31
Unidade I

Contrato Social sob a ótica de John Locke

John Locke nasceu em 1632 e faleceu em 1702, na Inglaterra. Sua vida discorreu no mesmo período
da Revolução Inglesa que redefiniu o poder monárquico britânico.

Segundo Locke, o homem vivia num estado natural onde não havia organização política, nem social.
Isso restringia sua liberdade e impossibilitava o desenvolvimento de nenhuma ciência ou arte.

O problema é que não existia um juiz, um poder acima dos demais que pudesse fiscalizar se todos
estão gozando dos direitos naturais. Então, para solucionar este vazio de poder, os homens vão concordar,
livremente, em se constituir numa sociedade política organizada.

O homem poderá influir diretamente nas decisões políticas da sociedade civil seja através do exercício
da democracia direta ou delegando a outra pessoa seu poder de decisão. Este é o caso da democracia
representativa, na qual os cidadãos elegem seus representantes. Por sua parte, o Estado tem como fim
zelar pelos direitos dos homens tais quais a vida, a liberdade e a propriedade privada.

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau nasceu na Suíça, em 1712 e faleceu na França, em 1778, onde passou a
maior parte de sua vida.

Ao contrário de Hobbes e Locke, Rousseau vai defender que o homem, no seu estado natural,
vivia em harmonia e se interessava pelos demais. Para Rousseau, a vida numa sociedade em vias de
industrialização não favoreceu os homens no seu aspecto moral.

À medida que o desenvolvimento técnico foi ganhando espaço, o ser humano se tornou egoísta
e mesquinho, sem compaixão pelo seu semelhante. Por sua vez, a sociedade tornou-se corrupta e
corrompia o ser humano com suas exigências para suprir a vaidade e o aparentar daquela sociedade.

Desta maneira, Rousseau relaciona o aparecimento da propriedade privada com o surgimento das
desigualdades sociais. Assim, era preciso que surgisse o Estado a fim de garantir as liberdades civis e
evitar o caos trazido pela propriedade privada.

As ideias de Rousseau serão aproveitadas por vários participantes da Revolução Francesa e também,
posteriormente, ao longo de todo século XIX pelos teóricos do socialismo.

Vejamos o esquema abaixo em resumo com as ideias propostas acima com seus conceitos e visões
de mundo acerca do Contrato Social:

32
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Quadro 1

Filósofo Thomas Hobbes John Locke J.-J. Rousseau


Natureza O homem é egoísta. O homem é bom, mas faz a O homem é bom, porém a
humana guerra para se defender. propriedade o corrompeu.
Proteger a propriedade
Criação do Evitar a destruição e assim fazer o homem Preservar a liberdade civil e
estado mútua. progredir. os direitos dos homens.
Monarquia absoluta, mas Monarquia parlamentarista,
Tipo de sem a justificativa do sem a justificativa do Direito Democracia direta.
governo Direito Divino. Divino.
Revolução Inglesa e Revolução Francesa e
Influência Teria do Direito Moderno. Constituição Americana. comunismo.
“A natureza fez o homem
“O homem é o lobo do “Onde não há lei, não há feliz e bom, mas a sociedade
Citação homem.” liberdade.” deprava-o e torna-o
miserável.”

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO

O Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições universais
da ordem social. Desde o aparecimento como organização, o Estado vem sempre evoluindo.

Sobre a evolução histórica, fala-se na chamada lei dos três estados, formulada por Augusto Comte
– cada manifestação do pensamento humano passa sucessivamente por três graus teóricos: o estado
fictício ou teológico, o estado metafísico ou abstrato e o estado positivo ou científico.

Queiroz Lima adotou essa doutrina da seguinte forma:

• O Estado primitivo foi teocrático, isso se explica pelas teorias do direito divino sobrenatural.

• Surge a noção metafísica do Estado, deslocando para a vontade do povo a origem do


poder soberano.

• Segue-se a noção positiva do Estado, no qual a soberania decorre das próprias circunstâncias
objetivas, da lei ou da concepção realista do Estado como força do serviço do direito.

Para Sahid Maluf (2013) esta fórmula não é rigorosamente exata, uma vez que não houve sucessão
cronológica das diversas noções do Estado, porém esta classificação é a mais seguida pelos autores.

Os Estados mais antigos que a história relata foram os grandes impérios que se formaram no Oriente
desde 3.000 anos a.C. (início da Idade Média), porém houve anteriormente outras civilizações, mas que
não existiam doutrinas políticas, mas sim a única forma de governo que era a monarquia absoluta,
exercida em nomes dos deuses.

33
Unidade I

Os Impérios orientais tinham traços em comum, um exemplo é maneira em que eram formados
e mantidos pela força das armas, devido às constantes guerras. Não tinham uma base física, ora os
territórios aumentavam ora diminuíam em decorrência dos resultados das conquistas, portanto,
eram instáveis.

Pelas mesmas razões, não eram Estados nacionais, uma vez que era formado por povos de diferentes
raças, ou seja, eram agrupamentos humanos heterogêneos.

As monarquias orientais eram todas de feitio teocrático, ou seja, o monarca era absoluto, sendo
equivalente ao poder divino.

Houve grandes contribuições dos antigos impérios orientes, como o Código de Hamurabi, da
Babilônia, onde se encontram princípios da ordem social e que foram as fontes luminosas para a
legislação moderna. Além disso, formaram as grandes religiões como o budismo, o cristianismo e o islamismo.

O Estado de Israel constituía uma exceção perante os demais Estados antigos do Oriente, pois era
caracteristicamente democrático, no sentido de que todos os indivíduos, fossem eles escravos, cidadãos
ou estrangeiros, eram protegidos pela lei, até mesmo contra o poder público.

Desconheciam qualquer limitação jurídica, mas conceituava-se como um poder limitado pelas leis de
Jeová que teriam sido ditadas a Moises, constituindo as Tábuas do Sinai, Constituição do Estado de Israel.

O rei de Israel era apenas chefe civil e militar escolhido por Deus. Em razão dessa origem do seu
poder, se tornava o interprete e o executor da vontade de Deus.

Toda a legislação judia era de profundo sentido humano e democrático. Suas instituições influenciaram
na formação do pensamento político da Idade Média e nos rumos do direito público moderno. Uma das
instituições foi o profetismo.

O Estado de Israel foi extinto com a expulsão de Jerusalém, mas a noção israelita subsistiu nestes
dois mil anos, sem Estado, conservando sua unidade étnica, histórica e religiosa. Ressurgiu em 1948,
com o novo Estado de Israel, criado pela divisão da Palestina.

3.1 O Estado grego

O Estado grego típico, que exerceu grande influência na civilização clássica, encontra-se nas
instituições atenienses do Século de Péricles, entre os séculos VI e IV a.C.

Primeiramente, a partir do século IX, o Estado grego era monárquico e tipicamente patriarcal. Cada
Cidade tinha seu rei e seu Conselho de anciãos. Os dirigentes daqueles pequenos Estados se apoiavam
na classe aristocrática, que sempre se manteve como classe dominante.

34
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

O Estado grego antigo apontado como fonte da democracia, nunca chegou a ser um Estado
democrático, na concepção do direito público. O próprio Estado ateniense, durante a liderança de Péricles,
apresentava 60% de escravos, sem direitos políticos, além de aproximadamente 20 mil estrangeiros.

O Estado grego antigo foi sempre um Estado-Cidade, denominado polis. A polis começou a evoluir
na transição da monarquia patriarcal para a república democrática direta. Em fins do século IV a.C.,
completou-se essa evolução, surgindo a constituição clássica da Cidade helênica.

O Conselho de anciãos deixou de ser o órgão principal e torna-se subordinado à Assembleia dos
Cidadãos. As magistraturas tornaram-se temporárias, escolhidos e nomeados pela Assembleia geral,
com mandato de um ano.

A polis era uma associação política e ao mesmo tempo uma comunidade religiosa, mas não era
confundido o Estado e Religião nas mesmas instituições, pois as divindades gregas não tinham caráter
místico à autoridade. De certo modo, a polis era onipotente e seu poder só era contestado com a
intervenção do povo.

Os Estados-Cidades eram numerosos e por esse motivo foi formando as Confederações de Estados.
Instituiu-se o Senado em cada polis, Assembleias Regionais para as ligas ou confederações e Assembleia
Geral de representação dos Estados gregos de caráter confederal amplo.

A Grécia, no seu período clássico, se tornou na só pioneira da arte e da filosofia, mas também da
ciência política.

Os atenienses entendiam que a verdade (filosofia) do Estado consistia na boa opinião. A república de
Platão, considerada ideal, é o Estado justo, pois realiza a unidade possível e esta nas mãos dos filósofos.

Segundo Platão, incumbe aos sábios reinar, aos guerreiros proteger e as classes obreiras obedecer.
O Estado é a mais alta revelação da virtude humana e o homem pode atingir sua perfeição e realizar a
plena satisfação do seu destino.

Aristóteles, menos imaginoso e mais realista, defende a manutenção da família e da propriedade


privada. Considera o homem como um ser político e o caracteriza o Estado como uma instituição
natural, necessária, decorrente da própria natureza humana. Sua finalidade inicial seria a segurança da
vida social, a regulamentação da convivência entre os homens e em seguida, o bem estar coletivo.

Afirma Aristóteles que o Estado deve bastar-se a si mesmo, ou seja, deve ser autossuficiente.
Estabeleceu que o supremo poder da cidade deve caber à multidão.

3.2 O Estado romano

O enfoque que iremos abordar sobre o Estado romano, é o chamado Civitas que assemelha-se
com a polis grega. A princípio, o Estado romano era monárquico, do tipo patriarcal. Sua evolução foi
progressivamente atingindo caráter de república.
35
Unidade I

O Estado romano tinha como origem, e base principal, a família. A família era constituída pelo pater,
seus parentes próximos, os parentes destes, os escravos e mais os desconhecidos (famulus). Na esfera
familiar romana, havia uma autoridade máxima, que seria o pater família. Pontífice, juiz, censor dos
costumes, incontestável. O nome que se dá ao poder do pater é majestas.

Posteriormente, a família se dividiu em família propriamente dita, e gentes (gens). A primeira é


regida pelo poder do pater, já a segunda, é colocada sob o poder público que foi núcleo inicial do Estado.

As gentes reunidas formavam a Curia; várias Curias formavam a tribu; diversas tribus constituíam as
Civitas. Esta era representada por um Senado composto pelos paters.

A família tradicional, regida pelo poder de majestas, deu origem à classe dos patrícios, estes eram
nobres privilegiados que podiam cumprir cerimônias religiosas. Já a outra segmentação (gens), formou
a classe dos clientes, que eram uma espécie de “classe média” que serviam às famílias mais abastadas.

Dos clientes, ainda haviam mais classes distintas, que se agruparam em centúrias. Havia a classe da
plebe, inferior à classe dos clientes, estes viviam à margem da sociedade. Até mesmo patrícios decaídos,
sem famílias se incluíam. Eram tidos como “sem lei e sem Deus”, os párias.

Roma, a primeira cidade itálica, não continha plebe, apenas patrícios e clientes, mas com o tempo, a
concentração de plebe foi aumentando em seu entorno.

As pressões e influências exercidas pela classe marginalizada foi aumentado, forçando Roma, em
primeiro momento a aumentar sua defesa, mas rapidamente o Imperador Sérvio Túlio autorizou a
convivência da plebe com o resto da sociedade, porém não atribuiu participação legal ou religiosa
aos plebeus.

Com o aumento progressivo da classe marginal, logo a aristocracia foi perdendo prestígio e poder,
com isso eclodiu uma revolução social da Roma com caráter republicano. Assim os plebeus começaram
a garantir seus primeiros direitos de cidadania.

A sociedade romana continuou gradativamente com estudos vocacionados ao direito, seja no âmbito
das relações quotidianas como também nas relações privadas (direito quiritário). O Estado era tido agora
como um ente organizado juridicamente, sendo a vontade nacional, o bem comum, a fonte legítima do
Direito Romano.

O maior sonho dos imperadores era o da conquista do mundo, onde Roma seria a capital do universo.

Conceito de civitas

O conceito relaciona-se como sendo um Estado-municipal, o qual os imperadores queriam


estender pelo globo na forma de império unificado onde todos seus cidadãos haveriam direitos e
deveres (cives optimo jures). Direito que os romanos carregavam consigo por onde fossem, salvo o
direito de voto ou de ser votado, pois as eleições eram feitas necessariamente em Roma.
36
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Poder de imperium

É o poder supremo que em tempos mais recuados (ápice da república) eram exercidos pelos comícios,
porém posteriormente os comícios foram perdendo espaço na esfera legislativa para o Senado e para o
Imperador (vale lembrar que o senado é de viés consultivo). Com o decorrer do tempo, estavam restritos
às funções de competência financeira ou de políticas externas.

Consulado

Com a deposição do Imperador Tarquínio, o Soberbo, inicia-se um regime feito por não um Imperador,
mas sim por dois Cônsules.

Para que a plebe não mais interferisse no Estado através das centúrias, por falta de qualidades no
assunto em questão, o poder do Estado foi se distinguindo com o poder sacro. Com a eleição de um
“Pontifex Maximus”, que exercia o poder de “sacerdotium” vitaliciamente. Por outro lado haviam os
cônsules (dois) que exerciam o “impérium” por um ano.

Em tempos de guerra, um cônsul se incumbia de administrar a cidade, e o outro comandava o exército.

Magistraturas e pró-magistraturas

Houve uma limitação do poderio dos cônsules com a criação de diversas magistraturas. Destacam‑se,
pela ordem:

• Questura: os cônsules nomeavam duas pessoas a cargos de grande importância. Os questores


eram juízes de superior no âmbito da ordem civil.

• Pretura: foi um conjunto de atos que deu origem ao direito pretoriano (base da estrutura jurídica
romana). Os pretores estavam capacitados a agir com plena jurisdição. Em esfera pública, poderiam
ser vetados pelo cônsul, porém na campo privado sua autoridade era incontestável.

• Censura: cargos administrativos e atuantes na questão econômica do Estado, e também exerciam


vigilância da moralidade pública e privada. Ou seja, monitoravam as condutas da sociedade.

• Tribunato: eleitos pelo povo através dos comícios da tribus, para representar e defender o povo
eleitor. Posteriormente essa proteção aos indivíduos tornou-se também, por iniciativa da plebe,
uma ferramenta para defesa de um interesse coletivo (plebiscitum).

• Edilidade: as funções desempenhadas pelos Edis se equiparam às exercidas pelos vereadores dos
tempos modernos.

• Pró-magistraturas: com a expansão do império, para auxilio administrativo, foi instituído


o pré-consulado, que exercia funções menos abrangentes que os cônsules, e para auxílio do
pré‑consulado, criaram-se as pré-magistraturas, assim como para os cônsules oficiais. Tais elas
como: pró-questura, pró-pretura e assim por diante...

37
Unidade I

Ditadura

Quando o império sem encontrava em ameaça, interna ou externa, os Cônsules determinam estado
de tumultus, e nomeiam um ditador para reger o Império, no período de no máximo 6 meses, com todo
o poder do imperium.

Colegialidade das magistraturas

O sistema de magistratura colegiada funcionava como garantia de que os magistrados não agiriam
com abuso de autoridade, uma vez que o seu par poderia vetar sua decisão apenas dizendo “eu me
oponho”. Era um sistema de contenção do poder pelo poder.

Principado

Depois das ditaduras e das guerras civis, implantou-se o principado, pois o governo de um só era,
naquele momento, única maneira de salvar o império, pois a burocracia da república não conseguia mais
manter a paz.

Contudo, esse sistema se distanciou muito das instituições tradicionais. O único detentor dos poderes
e fonte do direito era o imperador.

3.3 O Estado medieval

O Império Romano foi o último grande Império da antiguidade, o seu fim, por conta das invasões
bárbaras, marca o início da Idade Média.

A Idade Média começa no século V, com a queda de Constantinopla (Império Romano do Ocidente),
e termina no século XV, com a descoberta da América.

O aproveitamento da cultura Romana nesse primeiro momento foi escassa, podemos listar apenas
um grande sobrevivente que seria o Direito Romano, modificado ao estilo Germânico.

As principais características do Estado medieval são:

• Forma monárquica de governo, onde o chefe de Estado se mantinha no poder vitaliciamente.

• Supremacia do direito natural e costumeiro, posto que não havia uma constituição nos
novos Estados.

• Confusão entre direito público e privado, ocasionada com a degradação da unidade política,
imbricando os direitos ao senhor feudal.

38
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

• Descentralização feudal, que foi necessária para defesa de novas invasões, porém desorganizou a
autoridade do Estado em alguns pontos, autoridade essa que foi exercida pelo senhor feudal (em
seus feudos).

• Submissão do Estado ao poder do clero.

3.3.1 Feudalismo

O feudalismo foi a maior característica da Idade Média, pois foi uma fase longa e de acentuada
decadência da organização política no conceito de unidade.

Os reis bárbaros, francos, godos, vândalos e lombardos, ao conquistar as terras de domínio romano,
não podiam mais manter o grande território em unidade. Para administração de um vasto território,
eles hierarquizaram a administração de forma que zonas territoriais (feudos) eram regidas por uma
autoridade (senhor feudal), estes deviam lealdade ao rei, seja militar ou em pagamento de tributos.

O senhor feudal era a autoridade máxima em seu feudo, porém interpretava a vontade do clero.
A posse das terras era feita de maneira vitalícia e hereditária, onde havia direito de primogenitura
na sucessão.

O crescente desenvolvimento e aumento da quantidade de feudos, foi originando um sentimento de


nacionalidade e a restauração do Estado como autoridade do direito Público. Iniciou-se então, no fim
da idade média, uma fase onde o poder monárquico foi extremamente absolutista.

3.4 O Estado medieval e a Igreja romana

O Estado medieval que emergiu das invasões bárbaras formou-se em torno da Igreja romana. A
igreja sobreviveu ao tempo, demonstrando todo o seu vigor e prestígio, como refúgio para o espírito dos
homens nos momentos mais graves da história da humanidade. E assim, toda a história política da Idade
Média gira em torno das relações entre o Estado e a Igreja Romana.

No princípio os cristãos não se interessavam pelo poder temporal. Esse interesse foi rejeitado
devido aos ensinamentos de Jesus Cristo, quando este disse que seu reino não era deste mundo,
e ainda estabeleceu uma nítida distinção entre os poderes, ordenando que se desse a César o que
pertencia a César e a Deus o que é de Deus, isto é, ao Estado o governo do corpo e a Deus o governo
do espírito.

Durante os primeiros séculos os Imperadores governavam sobre estado e poder espiritual.


Consolidado o Estado medieval, o Papa São Gelásio I separou a coexistência dos dois poderes,
estabelecendo que no poder eclesiástico o Bispo é superior ao Imperador, e, no domínio das coisas
laicas, o Imperador é superior ao Bispo.

39
Unidade I

Entretanto o entendimento predominante era o de que o poder espiritual governa as almas e o laico,
o corpo, mas, como a alma é superior ao corpo, a autoridade eclesiástica é superior à autoridade laica.
Demais, o poder temporal vem de Deus –omnispotestas a Deo -, como doutrinara o apóstolo Paulo.

3.4.1 Santo Agostinho e São Tomás de Aquino

No campo doutrinário prevaleceu a interpretação de Santo Agostinho, coerente com a teoria o papa
São Gelásio I. Essa doutrina foi amplamente desenvolvida por um dos maiores escritores da Idade Média,
Santo Tomás de Aquino. A sua doutrina de separação dos poderes e da preeminência do papa em relação
aos governos temporais foi consubstanciada na obra De regimine principium, sendo posteriormente
ratificada em concílio com a Igreja.

A principal obra de São Tomás de Aquino porém é a obra Summa Theologica, que trata da política,
dos assuntos de ordem social e das relações entre a igreja e o Estado.

4 DAS MONARQUIAS MEDIEVAIS ÀS MONARQUIAS ABSOLUTAS

A Igreja Romana passou a sofrer ataques do liberalismo religioso e da filosofia racionalista, reagiu de
maneira vigorosa, enquanto o governo temporal, por sua vez, entrou em luta aberta contra o papado.

Um dos primeiros expoentes do absolutismo monárquico que se inicia no século XV foi Luís XI, rei da
França, o qual anexou à coroa os feudos, subjugou a nobreza guerreira e pôs em prática uma violenta
política unificadora que seria sustentada por Richelieu e Mazarin, até atingir o seu apogeu com Luís XIV.

4.1 A doutrina de Maquiavel

Nicolau Maquiavel, nascido em Florença em 1469, foi o mais avançado entre os escritores da
Renascença. Foi secretário da segunda chancelaria até 1512.

Sua obra principal foi O Príncipe, de 1531. Nessa obra Maquiavel se desliga de todos os valores
morais, tradições e princípios éticos para pregar o oportunismo desenfreado e o cinismo como, arte
de governar. Ao príncipe tudo é permitido até mesmo a infâmia, a hipocrisia, a crueldade, a mentira,
contanto que atinja o seu escopo.

Para Maquiavel toda organização política em que partir do fato de que todos os homens são
fundamentalmente maus, e essa é a razão para que o Príncipe seja liberto da moral, desde que esteja em
jogo o interesse do Estado.

4.2 O absolutismo monárquico

Surgiu no fim da Idade Média, com a supremacia do Papado sobre os monarcas, marcando uma
das principais características do Estado medieval. Formou-se então, a corrente reacionária de fundo
liberal‑religioso, fortalecido na Reforma, liderado por Lutero e Calvino.

40
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

No campo político, devido à concentração de todos os poderes, absolutamente, nas mãos do monarca,
decorreu das pregações realizadas pelos racionalistas da época.

Findou-se assim, a Idade Média, correspondendo a uma época de transição para a Modernidade.
Inicia-se o aparecimento das monarquias absolutistas por toda a Europa: Espanha, França, Prússia,
Áustria e nos países mais tradicionalmente católicos, como a Rússia.

A unidade territorial somente foi possível devido ao absolutismo monárquico, além dessa ideia, não
houve possibilidade da manutenção da unidade nacional, como foi o caso da Alemanha e da Polônia.

A Monarquia absoluta fundamentava-se na teoria do direito divino dos reis, com influência das
monarquias assírias e hebraicas, onde a autoridade do rei era considerada como divina e proveniente
do próprio Deus, sendo o poder do imperium exercido exclusivamente pelo monarca. A soberania era
“perpétua, originária e irresponsável em face de qualquer outro poder terreno, ainda que espiritual”,
conforme a doutrina Bodin.

4.3 Escritores da Renascença

Jean Bodin, francês e Giovanni Botero, italiano, foram partidários do poder absoluto dos reis, eram
chamados monarcolatros.

Botero seguiu os passos de Maquiavel no que se tratava do Príncipe: “o Príncipe deve conduzi-los à
verdadeira religião, seduzindo-os com favores, e deverá empregar meios violentos quando o favor não
der resultado”.

Os monarcas absolutos desconheciam os limites para o poder e reduziram a ideia de soberania ao


conceito simples de senhoria real, típico do Feudalismo, onde o rei é o proprietário, individual, do Estado,
assumindo duplo conceito: feudal (senhoriagem) e imperium (típico do antigo império).

4.4 John Locke e a reação antiabsolutista

As pregações racionalistas acalentaram na população que sofria e estava escravizada, consciência


do que deveria ser liberdade, dos direitos intangíveis dos indivíduos, enfraquecendo o arcabouço da
monarquia absolutista.

John Locke se evidenciou, pois, era totalmente antiabsolutista, pregava a limitação da autoridade
real pela soberania da população, a limitação dos riscos do abuso de poder e do arbítrio, tudo tratado
em sua obra “Segundo tratado do governo civil”, com princípios liberais da teoria contratualista, que
pregava a separação dos poderes Legislativo e Executivo, devendo prevalecer a soberania nacional, fonte
única de poder.

O direito do Homem foi evocado, onde os direitos naturais são anteriores e superiores ao Estado, por
isso que o respeito a esses direitos é uma das cláusulas principais do contrato social.

41
Unidade I

Em outra importante obra, os Ensaios sobre o governo civil, Locke contrapõe o absolutismo e
desenvolve a teoria contratualista de Hobbes, ou seja, no que tange ao estado de natureza, sustentando
que o homem, possuidor da razão, era refreado por sentimentos de equidade, podendo, se assim quisesse,
conservar sua liberdade. No entanto, para que os indivíduos usufruíssem do exercício de seus direitos,
deveriam abrir mão de parte de sua liberdade em favor do Estado, para que este pudesse supervisionar
a ordem civil, julgar e punir os transgressores da lei e promover a defesa externa, estabelecido por meio
de um contrato social.

Em se tratando de religião, esta também deveria ser livre, sem interferência do Estado. No que tange à
propriedade, o Estado não deveria intervir, pois é um direito natural, já que apenas a reconhece e protege.

4.5 O liberalismo na Inglaterra

Foi o sistema de liberdade defendida pelas armas que na época recebeu o nome de liberalismo.
O absolutismo monárquico, procurou instalar-se na Inglaterra, mas encontrou resistência e a reação de
uma consciência liberal já madura.

O sistema inglês era monárquico constitucional, limitada pelo Parlamento como a expressão soberana
de um povo, através de três “Declarações de Direitos”, em 1679, 1689 e 1701, que incorporavam o
sistema constitucional inglês, destacando as principais vitórias do Parlamento, que objetivava refrear os
ímpetos absolutistas dos monarcas que pretenderam sustentar o princípio já ultrapassado da origem do
poder pelo divino.

Na entrada do século XVIII, houve a consolidação da monarquia de direito legal, com a tripartição
do poder, sistema representativo, preeminência da opinião nacional e intangibilidade dos direitos
fundamentais do homem, estes sendo especificados pelo Bill of Rights de 1689, tais como, cobrança de
impostos sem autorização do Parlamento, jurisdições extraordinárias ou excepcionais, civis ou miliares
por parte do Rei, entre outros.

4.6 América do Norte

Os princípios oriundos da Inglaterra passaram a aparecer nas Constituições de todos os Estados


liberais, primeiramente na América do Norte. Estando sob a influência da ideias liberais oriundas da
metrópole, os povos norte-americanos, declararam independência em 04 de julho de 1776.

Cansados dos desmandes do absolutista Jorge III que maltratava os súditos americanos, com
tributos exorbitantes e violências policiais, o povo das treze colônias, valeram-se do “direito de rebelião”,
proclamado de acordo com a doutrina de John Locke, que dizia “quando um governo se desvia dos
fins que inspiraram a sua organização, o povo tem direito de substituí-lo por outro, condizente com a
vontade nacional.

42
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

4.7 França

O liberalismo ganhava espaço sob as lideranças de Montesquieu, Voltaire, Rousseau e outros, que
abriram ao homem a visão democrática que deveria levar o povo escravizado a um mundo novo e melhor.

A França era o país onde as ideias liberais eram crescentes e a vitória das ideias democráticas, para
si e para o mundo, apareciam com mais vigor.

A monarquia absolutista dos Bourbons mantinha a divisão social em três classes: nobreza, clero e
povo – ou Três Estados, onde cada um possuía suas leis, suas justiças e os seus sistemas tributários. A
nobreza e o clero usufruíam de todos os privilégios, enquanto o povo era escravo e miserável.

Em 1750, a luta dos princípios democráticos contra o regime dominante se intensificou, causando
a convocação da Assembleia dos Notáveis para uma reforma fiscal, o que não produziu efeito, porque
não representava o povo.

Em 1789, a Assembleia do Terceiro Estado resolveu chamar-se Assembleia Nacional, enfrentando o


poder real, sendo o início da revolução que se efetivou com a tomada da Bastilha, símbolo do absolutismo,
no mesmo ano.

A revolução popular, baseou-se nas ideias liberais do século XVIII, nivelando os Três Estados, com
a supressão de todos os privilégios e com a proclamação da soberania nacional, tendo como pilares:
“todo governo que não provém da vontade nacional é tirana; a nação é soberana e sua soberania é uma,
indivisível, inalienável e imprescritível, devendo servir ao Homem; o pacto social é rompido quando
uma das partes lhe viola as cláusulas; não há governo legítimo sem o consentimento popular“, entre
outros. Marcou-se então, o Estado liberal, baseado no individualismo.

4.8 Declaração dos direitos fundamentais do homem

A Assembleia Nacional a proclamou, imediatamente:

Os representantes do povo francês, constituído em Assembleia Nacional,


considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos
do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos
governos, resolveram expor, numa declaração solene, os direitos naturais,
inalienáveis, e sagrados do homem...

O povo assumiu o poder, que elaborou e promulgou a Constituição da República em 1791. A partir
da Constituição de 1814, os direitos do homem passaram a receber definições mais racionais e objetivas,
sendo o modelo constitucional mais adequado de todos os Estados liberais.

Os direitos do homem foram elencados em três: políticos (cidadania), públicos (civis positivos), de
liberdade (civis negativos), sendo estes, os “direitos fundamentais do homem”.

43
Unidade I

4.9 O Estado liberal, seus erros e sua decadência

O Estado liberal defendia o conceito de direito natural, do humanismo e acima de tudo a igualdade
política. Quer seja por regime monárquico constitucional ou republicano, o poder era limitado e
segmentado por três órgãos distintos (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Seus princípios de igualdade política, sem distinção de classe, raça, sexo ou crença; com igual
oportunidade de enriquecimento, de ascensão econômica era muito otimista enquanto teoria. Porém,
os pensadores do século XVII desconheceram a revolução industrial, o que mudava completamente os
parâmetros criados para solução de problemas da sociedade. Com isso o liberalismo era melhor tido no
campo da ficção e não na esfera da realidade.

Havia, nesse momento, dois tipos de homens em destaque. O primeiro é o operário de fábrica,
compelido a aceitar salários irrisórios, com uma carga horária subumana diária apenas para subsistência.
Com isso mães e filhos eram obrigados a trabalhar para auxilio da renda familiar. O liberalismo trazia
então como consequência uma desintegração da família.

Por outro lado haviam os dirigentes do poder econômico que faziam fortunas às custas dos
trabalhadores explorados.

Eram desumanos os conceitos liberais de igualdade, visto que não havia distinção, perante o Estado,
entre fortes e fracos, ricos e pobres, poderosos e humildes. Em tese ele assegurava a todos mesmos
direitos e mesmas oportunidades.

Mas não basta o Estado proclamar liberdade se ele não proporcionar, de fato a todos, reais condições
para que os cidadãos sejam livres, pois haviam, de certo modo, privilégios das classes econômicas
dominantes. Contudo, pouco a pouco as multidões de trabalhadores injustiçados foram abraçando a
bandeira do socialismo, fazendo com que o liberalismo se reforme ou se acabe.

A encíclica Rerum Novarum

Foi uma manifestação formal feita pela Igreja romana, por Leão XIII, em 15 de maio de 1891.
A Rerum Novarum defendia que a onipotência das industrias e do comércio perante a fraqueza da
multidão deveria acabar, que os trabalhadores “indefesos” não podiam mais ser entregues às mãos
de empregadores desumanos.

O Santo Padre determinou medidas protecionistas aos trabalhadores como salário mínimo, limitação
das horas de trabalho, regulamentação do trabalho da mulher me dos menores, amparo à gestação e à
maternidade, direito de férias, indenização por acidentes, aposentadoria etc.

44
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

4.10 O Estado Evolucionista

Se a função primordial do Estado consiste em assegurar condições gerais de paz social e prosperidade
pública, também é sua função a intervenção socioeconômica com seus cidadãos, para combater as
injustiças e buscar igualdade.

A crítica apontava inconsistência muito enraizada nos princípios do liberalismo. Surgiram tentativas
para solucionar a vazão na ideia do liberalismo. O socialismo e o fascismo/nazismo foram tentativas de
reestruturar o Estado moderno.

O comunismo russo surgiu como uma solução extremista, completamente oposta ao liberalismo, e
o fascismo/nazismo foi contra a decadência liberal e também contra os excessos do comunismo russo.

Saiba mais

Para ampliar seus conhecimentos acerca do conteúdo abordado neste


tópico, leia o artigo e o livro indicados a seguir:

BRESSER-PEREIRA, L. C. 30 princípios sobre o surgimento e evolução


do Estado. 23 ago. 2020. Disponível em: http://www.bresserpereira.org.br/
works/smallpapers/10.12.Trinta_princ%C3%ADpios_surgimento_Estado_
Antigo_e_Moderno.pdf. Acesso em: 1º mar. 2021.

MALUF, S. Teoria geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 2015. Capítulos 20 a 27.

Resumo

Nesta unidade, estabelecemos um diálogo com a origem do Estado


Moderno, denotando na história o processo evolutivo e de construção desse
Estado, e como o mesmo se configura em continentes, povos e culturas
distintas da nossa de matriz ocidental, de premissa filosófica judaico-cristã,
e permeada pelo pensamento do mundo greco-romano.

Estudar os povos do Crescente Fértil, do Egito, Grécia e Roma até o


advento do Cristianismo e do próprio Islamismo, é transitar na história
da humanidade e se permitir contemplar, momentos de rupturas, crises,
avanços e retrocessos nos desdobramentos políticos e sociais de cada
povo, atentando para as realidades vividas ali e questionadas ou
assimiladas democraticamente.

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