Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração
e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma Universidade, tanto na modalidade presencial
quanto a distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente naquelas ligadas ao setor de transporte
de passageiros, atuando há 29 anos no ramo.
228 p. il.
CDU 33
U511.76 – 21
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Giovanna Oliveira
Juliana Mendes
Sumário
Economia
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 ORIGENS, CONCEITOS FUNDAMENTAIS, PROBLEMAS E TEMAS RELEVANTES
DA ECONOMIA.........................................................................................................................................................9
1.1 Conceitos e definições...........................................................................................................................9
1.2 Necessidades e escolhas..................................................................................................................... 12
1.3 A lei da escassez..................................................................................................................................... 15
1.4 O problema econômico fundamental........................................................................................... 17
1.5 E quanto aos bens?............................................................................................................................... 20
1.6 Curva de possibilidade de produção.............................................................................................. 21
2 FLUXO CIRCULAR DA RENDA...................................................................................................................... 26
2.1 Organização da atividade econômica e fundamentos legais do mercado.................... 29
3 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO.......................................................................................... 34
3.1 Evolução da teoria econômica a partir da história do pensamento econômico........ 37
4 DIVISÃO DO ESTUDO DA CIÊNCIA ECONÔMICA.................................................................................. 48
4.1 Métodos de investigação da Ciência Econômica..................................................................... 49
Unidade II
5 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MICROECONÔMICA E AO FUNCIONAMENTO
DOS MERCADOS................................................................................................................................................... 57
5.1 Questionamentos centrais da Teoria Microeconômica.......................................................... 57
5.2 Teoria do Consumidor......................................................................................................................... 58
5.2.1 Utilidade e escolha.................................................................................................................................. 58
5.2.2 Teoria da Demanda................................................................................................................................. 61
5.3 Teoria da Oferta..................................................................................................................................... 75
5.4 Funcionamento do mercado............................................................................................................. 87
5.4.1 Equilíbrio de mercado............................................................................................................................ 88
5.5 Elasticidades............................................................................................................................................ 95
5.5.1 Elasticidade‑preço da demanda........................................................................................................ 95
5.5.2 Elasticidade‑preço da oferta.............................................................................................................101
5.5.3 Elasticidade‑renda da demanda......................................................................................................103
5.5.4 Elasticidade‑preço cruzada da demanda.....................................................................................105
5.6 TEORIA DA FIRMA................................................................................................................................ 107
5.6.1 Teoria da Produção...............................................................................................................................107
5.6.2 Teoria dos custos de produção........................................................................................................ 123
6 ESTRUTURAS DE MERCADO.......................................................................................................................128
6.1 Concorrência perfeita........................................................................................................................128
6.2 Monopólio..............................................................................................................................................131
6.3 Oligopólio...............................................................................................................................................135
6.4 Concorrência monopolista..............................................................................................................138
Unidade III
7 ATIVIDADE ECONÔMICA NACIONAL: INTRODUÇÃO À TEORIA MACROECONÔMICA.........145
7.1 Questionamentos centrais da Teoria Macroeconômica......................................................145
7.2 Evolução da Teoria Macroeconômica a partir da história..................................................148
7.3 Medidas de atividade econômica e distribuição da renda nacional..............................151
7.3.1 Identidade entre renda e produto..................................................................................................151
7.3.2 Valor bruto da produção e valor agregado................................................................................ 154
7.3.3 Demais medidas agregadas.............................................................................................................. 157
7.4 Considerações acerca da teoria monetária...............................................................................159
7.4.1 Funções e histórico da moeda......................................................................................................... 159
7.4.2 Da moeda aos meios de pagamento............................................................................................ 164
7.5 O setor público na economia e a política econômica..........................................................164
7.5.1 Política monetária................................................................................................................................ 167
7.5.2 Política fiscal............................................................................................................................................170
7.5.3 Política cambial..................................................................................................................................... 173
7.5.4 Política de rendas.................................................................................................................................. 174
7.6 Inflação....................................................................................................................................................174
8 O DESENVOLVIMENTO E O CRESCIMENTO ECONÔMICO...............................................................178
8.1 Características de uma economia subdesenvolvida.............................................................178
8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida.......................................................... 180
8.2 Características do desenvolvimento............................................................................................185
8.2.1 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política............................. 187
8.2.2 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro.............................................. 190
8.3 Economia internacional....................................................................................................................192
8.4 O mercantilismo...................................................................................................................................193
8.5 Visão de David Hume .......................................................................................................................194
8.6 Produtividade do trabalho e vantagens comerciais..............................................................196
8.6.1 Adam Smith e suas vantagens absolutas................................................................................... 196
8.6.2 David Ricardo e suas vantagens comparativas........................................................................ 198
8.6.3 Recursos e comércio: o modelo Heckscher-Ohlin.....................................................................200
8.7 Balanço de pagamentos...................................................................................................................202
8.8 O papel das instituições multilaterais.........................................................................................204
8.9 A Conferência de Bretton Woods e suas instituições..........................................................204
8.10 A globalização como fenômeno multidimensional............................................................207
8.11 Diferentes conceitos de globalização.......................................................................................208
8.11.1 A perspectiva histórica......................................................................................................................210
8.11.2 A perspectiva da compressão do espaço e do tempo........................................................... 211
8.11.3 A perspectiva da ideologia...............................................................................................................212
8.11.4 A perspectiva econômica..................................................................................................................212
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
O livro-texto que ora apresentamos destina‑se aos alunos do curso de Direito e que estão iniciando
seus estudos sobre a Ciência Econômica. Procurando distanciar‑se dos jargões muito específicos da área,
mas não incorrendo na questão da simplicidade, apresentamos os principais conceitos, abordagens e
desdobramentos desta ciência social para que se possa entender o mundo em que vivemos. Trata‑se
também de material de apoio à disciplina Economia.
Como o objetivo é introduzir o conhecimento com as questões econômicas, nossa preocupação não
é a de aprofundar demasiadamente cada assunto relacionado, mas apresentá‑los de forma mais geral,
ficando ao leitor a incumbência do aprofundamento, quando necessário.
• exercícios comentados;
• tópicos para refletir, em que convidamos você a pensar sobre assuntos da atualidade;
• saiba mais – seção em que indicamos filmes e livros que, de alguma forma, complementam os
temas investigados. Não deixe de explorar essas sugestões. Garantimos que você irá ampliar seu
conhecimento sobre os temas apresentados e que isso será extremamente útil, não apenas na
questão específica da disciplina, mas também em sua vida profissional;
• exemplos de aplicação, em que você será convidado a refletir sobre um tema proposto.
INTRODUÇÃO
Este livro texto foi concebido com a intenção de apresentar a você qual a importância do estudo da
economia no âmbito do Direito. Claro está que não se buscará neste espaço tecer relações estritas entre
as duas áreas, ou seja, economia e direito pois são áreas demasiado amplas. O que se buscará é contribuir
com o seu conhecimento na área de economia para que você mesmo possa tecer relações entre as duas
áreas quanto à percepção da importância da economia no ramo do direito.
Portanto, temos como objetivo proporcionar ao aluno do Curso de Direito noções básicas de
economia procurando usar os conceitos transmitidos para a interpretação de questões atuais e destacar
7
as interfaces desta ciência com o Direito. Ainda, proporcionar aos alunos o domínio do conteúdo de
conceitos básicos da economia que permitam a compreensão do funcionamento cotidiano do mercado
bem como a importância da relação economia x direito estimulando, ao mesmo tempo, uma reflexão
crítica sobre a estrutura social do País.
• compreensão das noções básicas de economia procurando usar os conceitos transmitidos para a
interpretação de questões atuais e destacar as interfaces desta ciência com o Direito;
Por fim, trataremos da Teoria Macroeconômica com a introdução do papel do governo na economia,
bem como as medidas da atividade econômica, a exemplo do PIB (Produto Interno Bruto). Segue com
a apresentação de um esboço da Teoria Monetária pela abordagem da moeda – funções, histórico,
intermediários bancários e política monetária. Finalizaremos com o estudo da inflação (seus conceitos,
suas causas e as políticas de combate).
8
ECONOMIA
Unidade I
1 ORIGENS, CONCEITOS FUNDAMENTAIS, PROBLEMAS E TEMAS RELEVANTES
DA ECONOMIA
A Ciência Econômica é a ciência que estuda a atividade produtiva. Economia, palavra derivada do
grego oikosnomos (oikos = casa; nomos = lei), representa a administração de uma casa, entendida como
um patrimônio particular, uma empresa ou um Estado.
De acordo com Sandroni (1996, p. 129), a Ciência Econômica “focaliza estritamente os problemas
referentes ao uso mais eficiente de recursos materiais escassos para a produção de bens”.
De outra forma, é a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, à distribuição, à acumulação
e ao consumo de bens. É disto então, que passaremos a tratar.
A Ciência Econômica estuda as relações entre famílias, empresas e governo para compreender os
fenômenos que norteiam o funcionamento do mundo em que vivemos. A preocupação central desta
ciência social é a análise da produção de bens e distribuição da renda, diante do problema da escassez
de recursos e das necessidades ilimitadas dos indivíduos.
Apresentado desta forma parece bastante simples, pois sabemos o quanto ganhamos, ou
seja, qual o nosso salário, e o que necessitamos durante uma semana, um mês, um ano e assim
por diante. Mas, se pensarmos com um pouco mais de calma, para que tenhamos algum salário,
torna‑se necessária nossa participação em alguma atividade produtiva, seja trabalhando em alguma
indústria, em uma loja de comércio ou prestando algum serviço, seja ele financeiro, por meio de
bancos, seja ele por uma rede de lavanderias, por exemplo.
9
Unidade I
Como ilustração, listamos a seguir alguns problemas econômicos de que a Ciência Econômica está
preocupada em explicar:
• Como a taxa de câmbio interfere na vida das empresas e na vida do cidadão comum?
• O que ocorre com a renda da população diante de anúncio do governo por elevação nas taxas
de juros?
• Por que o preço da gasolina sobe quando um determinado país não tem capacidade suficiente
para produzi‑la?
• Por que a renda da região norte‑nordeste do Brasil tende a ser menos concentrada do que a renda
da região sul‑sudeste?
• Por que o Produto Interno Bruto (PIB) de um país cresce conforme a sociedade consome maior
quantidade de mercadorias?
• Quais são os fatores explicativos da subida dos preços dos chocolates nas proximidades da Páscoa?
• Por que um governo que gasta mais do que arrecada tem dificuldades de financiar seus déficits?
• Qual a importância para a vida de cada um dos brasileiros quando um país vende uma empresa
estatal ao capital internacional?
• O que é desemprego?
Aparentemente, cada uma dessas questões em nada impacta nossa vida individual, mas vejamos
o seguinte exemplo: em um determinado período, em alguma manchete de jornal impresso ou pelos
telejornais, é anunciada a informação de que o balanço de pagamentos brasileiro do ano de 2020
apresentou déficit de um valor X, e este déficit é proveniente de saldos negativos da balança comercial,
demonstrando que as exportações da economia brasileira foram menores do que suas importações,
mesmo que a balança de serviços tenha sido positiva. Espere um pouco: o que é déficit? O que é balanço
de pagamentos? Balança comercial? Exportações? Importações? Balança de serviços?
Vamos mais adiante. No exemplo anteriormente proposto, as exportações foram menores do que
as importações. Mas, por quê? Assim, de bate‑pronto, não conseguiremos chegar a uma resposta
exata, mas analisando dados da realidade concreta poderíamos responder à pergunta utilizando os
seguintes argumentos:
10
ECONOMIA
1 – as exportações brasileiras foram menores em 2020, pois neste ano as empresas nacionais
produziram uma quantidade menor de mercadorias do que no ano anterior;
2 – as exportações brasileiras foram menores em 2020, pois neste ano o consumo por parte dos
brasileiros foi maior, então, uma forma de não permitir a escassez de mercadorias no mercado
interno foi não exportar;
3 – as exportações brasileiras foram menores em 2020, pois neste ano o governo brasileiro adotou
medidas em favorecimento às importações, valorizando a taxa de câmbio, por exemplo.
Observamos que, para apenas uma pergunta, elaboramos três possíveis respostas que somente
poderão ser efetivamente consideradas como certas e verdadeiras ao observarmos os números da
realidade concreta.
É disto que se ocupa a Ciência Econômica. Por meio de suas teorias, conjuga‑se uma série de ideias
e definições do objeto a ser investigado, verificam‑se as condições em que cada uma das teorias se
sustenta para, a partir de argumentos, dar respostas sobre o comportamento dos objetos de investigação,
ou seja, construir hipóteses sobre o funcionamento da realidade concreta.
Poderíamos, por uma primeira aproximação, ilustrar o campo de observação desta ciência:
• estuda atividades econômicas que envolvem o emprego de moeda e troca entre indivíduos,
empresas e governo;
• observa o comportamento das empresas, que produzem de modo eficiente, reduzindo custos para
obter lucros;
Pois bem: eis aqui uma boa definição do que seria a economia, mas vamos traduzi‑la para uma
linguagem mais cotidiana.
Como ciência, a economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, a fim de
obter os melhores resultados. Vamos entender o significado de emprego de recursos escassos e
11
Unidade I
de usos alternativos, mas, para isso, voltemos a uma das primeiras noções do que a economia estuda
e que deve ser absorvida por você, aluno. Para tanto, utilizaremos você mesmo como exemplo:
veja que interessante.
Pense, primeiro, em sua renda. Se você trabalha, ou seja, se participa de alguma atividade produtiva,
recebe um salário, que chamaremos de renda. Este seu salário, seja ele qual for, será distribuído entre
todas as suas necessidades de consumo. Salário é a sua renda e suas categorias de consumo dizem
respeito às suas despesas, portanto estamos descrevendo seu orçamento particular.
Vamos supor que sua renda esteja destinada para pagamento de contas de luz, água e telefone,
alimentação, moradia, transporte, lazer, vestuário etc. Após alocar sua renda entre todas essas categorias
de despesas, ainda sobrou uma parcela da qual você poupará para consumo futuro. Bacana!
Mas, você está agora cursando uma Universidade e as mensalidades serão incorporadas à sua cesta
de consumo, ou seja, o valor das mensalidades concorrerá por uma parcela de sua renda, assim como
concorre o quanto você gasta com alimentos, moradia, transporte, lazer etc. Neste caso, você introduziu
mais uma categoria de gasto para uma mesma renda. Sem pensar muito, para que você consiga dar
conta de efetuar todos os seus pagamentos, você deverá distribuir cada parcela de sua renda para cada
um de seus gastos.
Observação
Nesse exemplo bastante simples, que vale também para grande quantidade de brasileiros, o
emprego de recursos escassos é ilustrado por nossa renda e os usos alternativos são ilustrados pela
nossa cesta de consumo ou por tudo aquilo em que gastamos nossa renda.
Pensemos agora não mais no ponto de vista individual, mas, sim, nos limites de uma família formada
por pai, mãe e filhos, ou seja, uma unidade familiar. Essa família precisa ser mantida. Precisa vestir‑se,
alimentar‑se, morar e se locomover. Essa família tem, conjuntamente, uma cesta de consumo que
deve ser atendida por meio de uma renda, a renda familiar, já que em nosso exemplo cada um dos
membros desta família participa de alguma atividade produtiva. Portanto, a renda familiar deve dar
conta de responder a toda e qualquer categoria de gastos desta família. Para cada entrada de dinheiro,
recursos então, chamaremos de renda e para cada saída de dinheiro, despesas, os pagamentos que serão
efetuados por esta família. Eis então o orçamento familiar.
Pensemos agora não mais individualmente, tampouco em termos de famílias, mas, sim, nas
dimensões de uma empresa. Uma empresa pode produzir mercadorias e vendê‑las diretamente aos
12
ECONOMIA
seus consumidores. Pode apenas ser uma empresa comercial, comprando mercadorias produzidas
por outras empresas e vendendo diretamente aos consumidores ou ainda pode ser prestadora de
algum serviço.
Quando uma empresa produz alguma mercadoria, mesas, por exemplo, ela necessita de meios de
produção, bens necessários à execução de sua atividade produtiva. Para produzir determinada mercadoria,
necessita então adquirir meios de produção e pagará por esta aquisição. No nosso exemplo simples
da produção de mesas, essa empresa hipotética necessita adquirir fórmica, madeira, ferro, parafusos,
colante, além de dispor de grande quantidade de máquinas e ferramentas, como furadeiras, lixadeiras,
serra de corte, assim por diante.
Lembrete
Quando a empresa adquire meios de produção, incorre em custos com a produção. Esse custo
será conhecido pela multiplicação de duas variáveis: preço de cada um dos fatores adquiridos e
quantidades das mercadorias adquiridas. Portanto, ela tem um custo de produção, ou seja, uma
despesa com sua produção.
Imaginando que as empresas não produzem mercadorias para satisfazer suas próprias
necessidades de consumo, cada empresa empreenderá todos os seus esforços para vender sua
produção. Quando as empresas vendem sua produção, recebem uma quantidade de dinheiro
proveniente da venda. A esta quantidade de dinheiro denominaremos receita de vendas, que
nada mais será do que a multiplicação de duas variáveis: preço da mercadoria e quantidade das
mercadorias vendidas.
Observação
É lugar comum afirmar que, em regimes capitalistas de produção, as empresas existem não para
satisfazer as necessidades de consumo da sociedade, mas, sim, para valorizar o capital investido
pelo empresário. Portanto, existem para gerar lucros. Desta forma, seu empenho será pelo aumento
das quantidades vendidas de suas mercadorias, o que requer duas coisas: aumento da produção
e uso de menor quantidade de recursos. Desta forma, procurará gastar cada vez menos com a
quantidade de meios de produção que adquire para, muitas vezes, aumentar a quantidade de lucros
que obtém. Portanto, as empresas também sofrem com a limitação de recursos à sua disposição
diante de suas categorias de despesas.
13
Unidade I
Saiba mais
Por obrigações, deve prover bens públicos, como energia, transporte e saneamento básico;
construir escolas, estradas e hospitais; pagar aposentadorias e pensões; e mais uma série de
obrigações sobre as quais não nos estenderemos neste momento. Por seus direitos, legisla questões
trabalhistas e contratuais e também arrecada recursos da população na forma de impostos.
Portanto, o governo, por meio de sua arrecadação, aufere uma receita. Mas para prover bens
públicos à sociedade, também tem custos com essa provisão, ou seja, gasta, tem despesa com sua
atividade. Falamos então do orçamento do governo, orçamento do setor público, representado por
suas receitas e suas despesas.
14
ECONOMIA
Observação
Salvo algumas exceções, não podemos afirmar que nossa família tradicional adquire tudo aquilo que
tem vontade. Por que não podemos afirmar isto? Pelo simples fato da escassez. Qual escassez? Escassez
de recursos necessários para aquisição de todas as mercadorias disponíveis ao consumo. É dela que
passaremos a tratar.
Pois bem: deixando de lado os exemplos, a Ciência Econômica existe para dar conta de responder
a um grande problema: a escassez de recursos frente à grande quantidade de mercadorias e diante da
ilimitada necessidade de consumo dos indivíduos. Portanto:
RECURSOS NECESSIDADES
LIMITADOS
X ILIMITADAS
De quais recursos estamos nos referindo? Dos recursos produtivos ou também denominados fatores de
produção, elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais, que conceituaremos como:
• terra;
• trabalho;
• capital;
• tecnologia;
• capacidade empresarial.
Pelo recurso econômico terra, entende‑se as terras destinadas à agricultura e pecuária, ou seja,
terras cultiváveis, florestas, minas disponíveis àquelas produções de mercadorias provenientes da
utilização do solo.
Pelo fator de produção trabalho, entende‑se a mão de obra empregada na produção de mercadorias
ou na prestação de serviços. Portanto, o homem.
15
Unidade I
Pelo fator de produção capital, entenderemos inicialmente o capital financeiro, ou seja, o dinheiro
necessário para dar impulso a qualquer empreendimento industrial, comercial ou qualquer outro que
seja. Mais do que exemplificar o dinheiro enquanto recurso produtivo, há também o capital representado
pelas máquinas, pelos equipamentos, pelas instalações e pela matéria‑prima.
Por fim, ao fator de produção capacidade empresarial dá‑se importância aos empresários ou simplesmente
àquelas pessoas disponíveis a empreender um novo investimento ou aptas a abrir uma empresa.
Saiba mais
Cada fator de produção tem uma remuneração diferente em termos de denominação. Conforme Nogami
e Passos (2003), a remuneração do fator de produção terra terá o nome de aluguel. Ao fator de produção
trabalho, daremos a denominação de salário enquanto remuneração. Quanto ao capital, este recebe sua
remuneração na forma de juros. A tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração
em forma de direito à propriedade e, por fim, mas não menos importante, a capacidade empresarial recebe
lucros na forma de remuneração. O quadro a seguir ordena fatores e respectivas remunerações:
16
ECONOMIA
Lembrete
Pois bem. Já temos condições para afirmar que a renda de uma sociedade é limitada diante da
quantidade de categorias de consumo que esta sociedade enfrenta. Ademais, as empresas procuram
criar mercadorias novas que chamam a atenção de novos consumidores, criando novos hábitos de
consumo, ou pelo simples fato de produzir de forma diferente antigas mercadorias.
Exemplo de aplicação
Veja que indagação interessante há aqui: as empresas produzem bens para dar atendimento às
necessidades de consumo da sociedade e, desta forma, também podem gerar novas necessidades até
então não existentes ou é a sociedade que dá sinais para as empresas do que elas devem produzir? Já
parou para pensar desta forma? Está aqui aberto um excelente debate.
Assim, estamos diante de um dilema, que será ilustrado por meio de um problema: o problema
econômico fundamental. Ele consiste em dar respostas às seguintes questões:
• Como produzir?
Estas três perguntas básicas, que à primeira vista são bastante simples, nos remetem às noções de
recursos escassos e necessidades ilimitadas.
Observação
17
Unidade I
Para Heilbroner (1987), a questão que se coloca é que a maioria dos problemas econômicos das
sociedades – e que estão acima do nível de subsistência – são derivados do próprio homem e não da
natureza. Pelas suas palavras,
Vejamos. Se as empresas precisam produzir mercadorias como uma forma de remunerar o capital
que é investido, e isto passa pela venda das mercadorias que são produzidas, e se os consumidores, dada
sua renda escassa ou limitada, precisam alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas, então
resta às empresas produzirem mercadorias que são procuradas.
A primeira questão, o que e quanto produzir, diz respeito a quais os tipos de mercadorias que devem
ser produzidas pelas empresas de um país e em quais quantidades. Responder a este questionamento
implica conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade, bem como conhecer as
quantidades desta mercadoria que são consumidas. Para Heilbroner (1987, p. 24, adição nossa),
[...] o que produzir diz respeito à mobilização de esforços, pois, como a natureza
é restrita, parece que o problema da produção deve ser essencialmente o
de aplicar proficiência técnica e engenharia aos recursos existentes, evitar
desperdícios e utilizar o esforço social, de modo tão eficaz quanto possível.
[A produção], tarefa importante para qualquer sociedade, dedicada ao ato
de economizar. Entretanto, antes de a sociedade poder sequer preocupar‑se
a respeito de usar suas energias “economicamente”, ela deve reunir energias
para realizar o próprio processo produtivo. Ou seja, o problema básico da
produção consiste em criar instituições sociais que mobilizem a energia
humana para fins produtivos. Fazer com que os homens encontrem trabalho.
Para Passos e Nogami (2003), a questão referente ao o que e quanto produzir diz respeito a quais
mercadorias devem ser produzidas pelas empresas de um país e em quais quantidades. Responder a
esse questionamento significa conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade e
conhecer as quantidades dessa mercadoria que são (ou serão) consumidas. É mais importante produzir
alimentos ou é mais importante investir em produção energética?
A segunda questão, como produzir, diz respeito a qual técnica de produção utilizar na produção
de determinadas mercadorias. Responder a este questionamento implica conhecer as tecnologias
disponíveis às empresas para utilização na produção das mais diversas mercadorias.
18
ECONOMIA
Cada mercadoria possui uma técnica de produção diferenciada das demais. Umas necessitam de
maior quantidade de matéria‑prima, outras, de uma maior quantidade de máquinas e equipamentos,
ou seja, são capital‑intensivas, e outras ainda demandam grande quantidade de mão de obra em seu
processo de produção.
[...] não basta que homens e mulheres sejam postos a trabalhar; devem
trabalhar nos lugares certos a fim de produzirem os bens e serviços de
que a sociedade necessite. Assim, além de assegurarem uma quantidade
suficientemente grande de esforço social, as instituições econômicas da
sociedade devem garantir uma alocação viável desse esforço social.
Afinal, quanto usar de cada recurso disponível, de forma a obter o máximo, evitar desperdícios e ter
garantida a sustentabilidade da produção? Deve‑se preferir usar mão de obra intensiva ou é preferível
utilizar máquinas para aumentar a produtividade? (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004).
A última questão, referente ao para quem produzir, diz respeito às opções políticas que,
necessariamente, devem ser feitas. A quem priorizar? A qual segmento da sociedade devemos atender?
De todas as demandas feitas por uma sociedade, qual deve ser prioritária e qual deve ser postergada?
Quem precisa de mais serviços de saúde: a população dos centros urbanos ou da periferia? Devemos
construir escolas de primeiro ou de segundo grau? Quais são, afinal, as necessidades mais prioritárias e a
quem devemos atender primeiro? Dessa forma, a pergunta referente ao para quem produzir diz respeito
à distribuição do produto (PASSOS; NOGAMI, 2003).
Nem sempre as sociedades obtêm êxito na alocação adequada de seus esforços. Ela pode produzir
carros a mais ou a menos; ela pode dedicar suas necessidades/energias à produção de artigos de luxo,
enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de alimentos. Esses fracassos podem afetar o
problema da produção de modo tão sério quanto o fracasso em mobilizar uma quantidade adequada de
esforços, pois uma sociedade viável deve produzir não apenas bens, mas os bens certos. Não apenas deve
produzir, mas produzir da maneira correta. Não apenas atender às necessidades, mas atender àquelas
mais urgentes e socialmente prioritárias. O ato de produzir, em si e por si mesmo, não responde aos
requisitos para a sobrevivência. Além disso, a sociedade deve distribuir esses bens para que o processo de
produção possa ter continuidade. Em outras palavras, se uma sociedade quiser assegurar seu constante
reaproveitamento material, deverá distribuir sua produção de modo a manter não só a capacidade, mas
também a disposição de se continuar trabalhando.
A questão para quem produzir diz respeito a que tipo de público deve ser atendido com determinada
produção. Implica conhecer o público‑alvo para determinada mercadoria, e, portanto, implica conhecer
que tipo de consumidor tem a renda correspondente ao consumo de determinada mercadoria.
19
Unidade I
Assim, reencontramos o foco da investigação econômica dirigido ao estudo das instituições humanas
dedicadas à produção e à distribuição de riqueza. É disso que se ocupa a Ciência Econômica: do estudo
da produção e da distribuição de bens.
Os bens serão divididos entre livres e econômicos. Os bens livres são aqueles que, ao serem consumidos,
não ensejam qualquer contraprestação como pagamento por sua utilização. Vamos exemplificar: o ar
que respiramos, o sol que nos aquece, a chuva que irriga nossas plantações, o vento que movimenta as
nuvens e assim por diante. Há uma infinidade de bens que são livres e que, de alguma forma, auxiliam na
produção de determinadas mercadorias, bem como na manutenção da vida das pessoas. Com estes bens,
a Ciência Econômica não se preocupa, justamente pelo motivo de não ensejarem a contraprestação por
seu pagamento.
Já os bens econômicos terão atenção especial por nossa ciência, pois requerem contraprestação
de pagamento por sua utilização. Vamos definir as diversas categorias de bens econômicos. Eles
podem ser de consumo, intermediários e também podem ser classificados como de capital (PASSOS;
NOGAMI, 2003).
Os bens de consumo podem ser classificados como duráveis e não duráveis. Um aparelho televisor, por
exemplo, é categorizado como bem de consumo durável, assim como um automóvel ou um computador.
20
ECONOMIA
Serão considerados bens de consumo não duráveis aqueles bens que se destroem enquanto são
utilizados, ou seja, o seu consumo os leva à destruição. É o caso dos alimentos. Na medida em
que são consumidos, são destruídos. Podemos exemplificar também com roupas, calçados, canetas,
entre outros. Desta forma, os bens de consumo duráveis ou não duráveis atendem diretamente às
necessidades de consumo da sociedade, pois já estão prontos ao consumo.
Outra categoria de bens são os intermediários. Estes serão transformados em bens de consumo
por meio do processo de produção. São exemplo as matérias‑primas utilizadas nas mais diferentes
produções de mercadorias. Pense no processo de produção de um pão francês, aquele mesmo que
demos de exemplo anteriormente. Trata‑se de um bem de consumo não durável, pois na medida em
que é consumido, é destruído. Mas, para produzir este pão francês é necessária a utilização de meios de
produção, de matérias‑primas, de bens intermediários. A farinha, juntamente com outros ingredientes,
outros bens intermediários, será transformada em pão. Desta forma, os bens intermediários são utilizados
para satisfazer indiretamente às necessidades de consumo da sociedade, pois passarão por um processo
de transformação até chegarem à categoria de bens de consumo, durável ou não.
Há ainda outra categoria de bens, os de capital. São máquinas e equipamentos utilizados para
produzir outros bens, e, desta forma, também atendem indiretamente as necessidades da sociedade.
Neste momento você deve estar se perguntando de que forma estão relacionados os bens e serviços
com as necessidades de consumo da sociedade, bem como com o problema econômico fundamental.
Vamos avançar, então.
21
Unidade I
Para podermos avançar em nossa análise, é necessário também retornar ao objeto de estudo da
ciência econômica, ou seja, a diferença entre os recursos limitados e as necessidades ilimitadas.
Portanto, tendo que as necessidades dos indivíduos são renovadas a cada momento, são ilimitadas,
mas os recursos pertencentes a um sistema econômico são escassos, ou seja, limitados. A partir desse
contraponto surge o problema de escolha em atenção à resposta àquelas três perguntas básicas: o que
e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?
Diante disso, temos que a Ciência Econômica é uma ciência ligada a problemas de escolha, por conta
da questão da escassez. De acordo com Wessels (2002), escassez significa que não podemos satisfazer
todos os nossos desejos. Ela nos obriga a escolher quais necessidades iremos satisfazer e quais não.
Mas como fazemos esta escolha? Para responder a este questionamento, utilizaremos um instrumental
analítico, representado pela curva de possibilidade de produção (CPP).
Y
Vamos examinar este instrumental a partir de um simples exemplo. Suponhamos que num sistema
econômico exista somente a produção de duas mercadorias: aviões e sapatos. Vamos assumir que os
aviões sejam representados pelo eixo Y e os sapatos, pelo eixo X. Portanto:
Y = unidades de aviões.
X = pares de sapatos.
Dito de outra forma, ao simplificarmos demasiadamente a realidade, estamos supondo que para a
produção de sapatos e de aviões seja necessária a utilização de quantidades de fatores de produção, e que,
neste caso, todos os recursos disponíveis a esta economia estão sendo utilizados na produção destas duas
mercadorias. Estamos afirmando que todas as quantidades disponíveis de terra, de trabalho, de capital, de
tecnologia e de capacidade empresarial foram destinadas à produção das máximas quantidades de cada
uma dessas mercadorias em atendimento às necessidades de consumo de sua população.
22
ECONOMIA
c
e x
• Os pontos a, b e c representam as quantidades máximas das duas mercadorias que essa economia
pode produzir.
• O ponto a mostra que todos os recursos disponíveis nessa economia foram destinados à total
produção da mercadoria Y e nenhuma produção da mercadoria X.
• O ponto b mostra que há produção das duas mercadorias, tanto de aviões quanto de sapatos.
• O ponto c mostra que há produção das duas mercadorias, tanto de aviões quanto de sapatos, e
mostra também que uma maior quantidade de X é produzida em detrimento às quantidades de Y.
• Quanto ao ponto e, como ele está posicionado na origem dos dois eixos, representando também
o número zero, mostra que não há qualquer produção, nem de aviões e muito menos de sapatos.
Desta forma, ele representa o total desemprego de recursos.
• Por fim, temos o ponto f, posicionado à direita da curva de possibilidade de produção. Este
ponto seria alcançado em uma situação de longo prazo, quando fossem aumentadas as
quantidades de fatores de produção disponíveis na economia. O ponto f demonstra que
houve um deslocamento das possibilidades de produção da economia em um sentido para
um aumento nas quantidades produzidas das duas mercadorias, tanto em Y quanto em X,
conforme representação adiante.
23
Unidade I
Aviões Sapatos
Pontos
(Unidades) (Pares)
A 0 14
B 1 12
C 2 10
D 3 7
E 4 0
A tabela mostra que podemos produzir tanto aviões quanto sapatos. Mudando alguns pontos de
lugar, pois eles são meramente ilustrativos do que representam em termos de conceito, teremos que
no ponto A, enquanto esta economia hipotética produz 14 unidades de pares de sapatos, nenhuma
produção de aviões é possível, pois todos os fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e
capacidade empresarial) foram empregados para a produção de sapatos.
No ponto B, temos uma diminuição na quantidade produzida de pares de sapatos para ocorrer um
aumento na quantidade produzida de aviões. Neste caso, a produção de pares de sapatos foi diminuída
em duas unidades para que fosse aumentada uma unidade da produção de aviões.
Na passagem do ponto B para o ponto C, uma nova situação é verificada. Em B temos um avião
sendo produzido e 12 pares de sapatos. Em C, temos a produção de 2 aviões e 10 pares de sapatos.
Ao passarmos a economia para o ponto D, temos uma nova combinação da produção dessas duas
mercadorias. Agora são três aviões para a produção de sete pares de sapatos. Finalmente, em E, teremos
quatro aviões para nenhum sapato, situação contrária à do ponto A, ou seja, em E, todos os fatores de
produção foram destinados à produção de aviões e nenhum para a produção de sapatos.
24
ECONOMIA
Observação
Com relação à tabela, ao passarmos do ponto A para o ponto B, aumentamos em uma unidade
a produção de aviões, porém diminuímos em duas unidades a produção de pares de sapatos. Algo
parecido acontece quando a economia passa do ponto B para o ponto C. Agora, para produzir dois
aviões, torna‑se necessário diminuir em mais duas unidades a produção de pares de sapatos, passando
então de uma produção de 12 para 10.
Continuando a observar os dados da tabela, percebemos que a passagem do ponto C para o ponto D
requer sacrificar ainda mais a produção de pares de sapatos para que a produção de aviões aumente.
A relação agora é que, para poder produzir 3 unidades de aviões, é necessário diminuir em três unidades
a produção de pares de sapatos. Em E então, anula‑se a produção de sapatos e todos os fatores de
produção disponíveis na economia foram destinados à produção de aviões.
25
Unidade I
Retirado do exemplo anterior, podemos dizer que quando aumentamos em uma unidade a produção
de aviões, ou seja, quando passamos do ponto A para o ponto B, sacrificamos a sociedade em duas
unidades de pares de sapatos. Há, portanto, um custo de oportunidade de dois pares de sapatos para a
produção de uma unidade de avião.
Quando essa economia passa do ponto C para o ponto D, o custo de oportunidade de se produzir
aviões aumenta. Passa agora a ser de três unidades de pares de sapatos, ou seja, foram aumentadas as
taxas de sacrifício ao se trocar a produção de pares de sapatos pela de aviões.
[...] devido à escassez, não podemos fazer tudo o que queremos nem
podemos resolver todos os nossos problemas. Em outras palavras, estamos
diante de compensações ou, no jargão econômico, de trade‑offs. Podemos
fazer alguma coisa, mas não outras. O custo de oportunidade é uma medida
daquilo que poderia ter sido feito de outra maneira. Ele nos orienta na
realização das compensações corretas.
Lembrete
Conforme afirmamos em algum dos parágrafos anteriores, a Ciência Econômica, por se preocupar
com a escassez de recursos diante do fato de as necessidades serem ilimitadas, também é uma
ciência voltada a problemas de escolha, ou seja, procura explicar que tipos de mercadorias devem ser
produzidas, e, portanto, escolhidas, em atendimento às necessidades da sociedade. Não é por outro
motivo que foi enunciado o problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como
produzir? Para quem produzir?
Agora, como decidir qual a quantidade de aviões deve ser produzida ou qual a quantidade de sapatos
deve ser produzida? Só de aviões e sapatos vive uma sociedade? Sabemos que não. Então, como isso é
resolvido? A resolução deste problema passa pela organização da atividade econômica.
Lembrete
Afirmamos, em passagens anteriores, que as empresas produzem bens para comercialização e, a partir
da venda destes, tirar algum proveito de lucro. Para que as empresas consigam vender sua produção,
é necessária a existência de consumidores com capacidade de aquisição. Isso somente é possível se
tiverem recursos. A estes recursos, já denominamos de renda. Portanto, vejamos o fluxo circular da renda
que representa o funcionamento de uma economia de mercado.
C
A
Empresas Famílias
B D
O movimento representado pela seta A mostra que as empresas destinam bens e serviços às
famílias. Desta forma, as empresas são representadas por todos os produtores ou vendedores de bens
e as famílias representam os consumidores de tais bens.
Como as famílias consomem os bens e serviços que são destinados pelas empresas, elas
também destinam algo às empresas. Neste caso, gerando as receitas das empresas. As receitas
representam o pagamento dos bens e serviços, que é efetuado pelas famílias e está representado
pela seta B.
Para que as empresas produzam bens e serviços que serão destinados às famílias, necessitam
empregar fatores de produção. Portanto, precisam adquirir terra, trabalho, capital, tecnologia e
capacidade empresarial que são destinadas pelas famílias. Desta forma, a seta representada pela
letra C mostra as famílias destinando fatores de produção às empresas e, como as empresas precisam
remunerar a utilização desses fatores de produção, também há a contrapartida. A seta D representa
então as empresas remunerando os fatores de produção que foram destinados às famílias. Ao total desta
remuneração, já denominamos de renda.
27
Unidade I
Sentido Movimento
A Empresas destinam bens e serviços para consumo das famílias.
B Famílias geram receitas provenientes do consumo de bens e serviços às empresas.
C Famílias destinam fatores de produção às empresas.
D Empresas geram receitas provenientes da utilização de fatores de produção às famílias.
É possível observar que, na parte de cima do fluxo circular da renda, há o destino de bens e serviços das
empresas às famílias (A), ao mesmo tempo em que há também o destino de fatores de produção das famílias
às empresas (C). A estes movimentos chamaremos de fluxo real. Na parte de baixo do fluxo da renda há a
geração de receitas, por parte das famílias, às empresas (B), ao mesmo tempo em que há a geração de rendas,
por parte das empresas, às famílias (D). A estes movimentos chamaremos de fluxo monetário.
Observação
Observe que como se trata de um fluxo, tanto faz o fluxo real estar
desenhado na parte de cima como na parte de baixo. O mesmo vale para o
fluxo monetário.
Percebemos então que o fluxo monetário complementa o fluxo real e vice‑versa. Neste fluxo circular
da renda, apresentamos o relacionamento monetário e real entre empresas e famílias, encarando as
empresas como produtoras e/ou vendedoras e as famílias como consumidoras. Mas temos que pensar
também de outra forma.
As empresas, para produzirem suas mercadorias, necessitam, muitas vezes, adquirir bens
intermediários ou de capital de outras empresas. Portanto, as empresas, além de serem vendedoras,
também são compradoras, empreendendo então um relacionamento entre os fluxos monetários e reais
entre as próprias empresas. Às famílias, também vale outro raciocínio, pois elas destinam fatores de
produção a outras famílias, empreendendo relação tanto monetária quanto real entre elas.
O fluxo circular da renda, apresentado pela figura 8, representa o funcionamento de uma economia
de mercado, mas essa representação está bastante simplificada, ainda. Para Hubbard e O’Brien (2010,
p. 106), nosso modelo deixa de fora alguns elementos:
28
ECONOMIA
Outra questão de vital importância: nosso modelo pressupõe uma economia a dois setores, ou seja,
considerando somente o relacionamento de empresas e famílias. Essa é uma simplificação que deve ser
levada em consideração já que, conforme afirma Schwarz (2009, p. 41), a economia deve ser vista como
um sistema aberto:
Passemos então a analisar as formas de organização da sociedade econômica ou então de que forma
as sociedades se organizam para poder cumprir o fluxo circular da renda.
Estabeleceremos aqui que há duas formas de organização da atividade econômica: uma forma
descentralizada, predominante nas economias ocidentais, e uma forma centralizada, predominante no
caso cubano.
Observação
No caso da livre iniciativa, nenhum agente econômico – seja empresas, como produtoras ou
vendedoras de mercadorias, ou famílias, como fornecedoras de fatores de produção e consumidores de
mercadorias – se preocupa em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema
29
Unidade I
de preços. Preocupa‑se em resolver isoladamente seus próprios negócios. Procura sobreviver apenas na
concorrência imposta pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de
produção. Trata‑se de um jogo econômico, baseado em sinais dados por preços formados nos diversos mercados.
A ação conjunta dos indivíduos e empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam
produzidas como um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direção central. A livre
iniciativa ajuda a responder ao problema econômico fundamental, ou seja, resolve as questões principais
– o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? – da seguinte forma:
O que e quanto produzir é resolvido pela procura dos consumidores no mercado, ou seja, são eles
que dão sinais de mercado às empresas do que elas precisam produzir. Portanto, o agente principal neste
processo é o consumidor, pois sua atuação determinará quais produtos serão produzidos.
A questão sobre como produzir é determinada pela concorrência entre os produtores, pelo emprego
do método de fabricação mais eficiente ou mais barato. No caso, aquele produtor mais eficiente derrotará
o produtor mais ineficiente. Por fim, a questão sobre para quem produzir será respondida pela oferta e
demanda no mercado de fatores de produção, ou seja, pelo montante de renda individual.
Fluxo de dinheiro
Mercado de fatores de
produção
Renda ($) (PIB) Salários, aluguéis, juros e
lucros ($) (PIB)
30
ECONOMIA
A livre iniciativa opera conforme demonstrado pelo fluxo circular da renda, ou seja, as famílias
dão sinais de mercado às empresas do que elas necessitam consumir, sinalizando a elas o que devem
produzir. Para tanto, as empresas também dão sinais de mercado de que é necessário empregar fatores
de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) e em quais quantidades.
Desses sinais de mercado, do que produzir e quanto empregar de fatores de produção, temos
a determinação dos preços das mercadorias e a determinação dos preços dos fatores de produção.
Portanto, a livre iniciativa também pode ser chamada de sistema de preços, ou seja, o fluxo circular da
renda ou o sistema de preços coordena as decisões de milhões de unidades econômicas.
Então, além do fluxo circular da renda demonstrar os fluxos monetário e real, ele também demonstra
a existência de um mercado de bens e de um mercado de fatores. Quando as empresas destinam bens
e serviços às famílias, estamos trabalhando com um mercado de bens no qual serão estabelecidos os
preços das mercadorias transacionadas, bem como suas quantidades.
Quando as famílias destinam fatores de produção às empresas, estamos trabalhando com um mercado
de fatores de produção e, neste mercado, são estabelecidos tanto os preços quanto as quantidades
desses fatores.
No que diz respeito à presença do Estado, dadas as imperfeições apresentadas pelo sistema de
preços da livre iniciativa, ele surge para regulamentar essas atividades.
Lembrete
Como o governo também se apresenta como agente econômico, desempenha algumas funções
na economia: de um lado, pela arrecadação de impostos, retira do fluxo circular parcela da renda da
sociedade que, desta forma, financia o gasto público. De outro lado, o governo utiliza a renda que foi
retirada da sociedade e a devolve na forma de gastos públicos, oferecendo para a sociedade aquilo que
a iniciativa privada não teria condições de produzir (ou que a iniciativa privada produziria a um custo
social muito elevado). Tem ainda a função de adquirir produtos das empresas.
Quanto aos elementos de uma economia capitalista, este sistema caracteriza‑se por uma organização
econômica com base na propriedade privada dos meios de produção, isto é, os bens de produção ou de
capital. Os elementos são:
31
Unidade I
• capital;
• moeda.
Saiba mais
Revisando o que foi apresentado anteriormente, vivemos em uma sociedade baseada nas
trocas, que ocorrem através do mercado. Nessa sociedade, por meio das trocas, o agente busca
individualmente solucionar o seu problema econômico. Para isso, ele, de forma racional, dá à
sociedade, no mercado, o que detém, recebendo em troca, também no mercado, o que necessita e
não detém. Ou seja, nessa sociedade,
Portanto, nessa sociedade, de forma anárquica – afinal, cada agente cuida de si –, emergiria o
bem‑estar coletivo. Portanto, uma vez que cada um cuida de si, vemos que a competição é um fator
inerente e determinante numa economia de mercado: todos os agentes se movimentam pelo interesse
próprio, fazendo escolhas racionais no intuito de obter mais poder de mercado que os demais agentes
e, com isso, minimizando as suas restrições na busca da maximização do seu benefício individual. Assim
sendo, na economia de mercado, vemos que a relação de troca das mercadorias é peça‑chave na solução
do problema econômico individual e coletivo.
Nas economias modernas, por uma questão de eficiência e necessidade, as trocas são intermediadas pela
moeda. Por exemplo, no mercado, não trocamos trabalho por uma geladeira. De fato, primeiro vendemos
trabalho no mercado e, com o dinheiro apurado nessa venda, compramos no mercado a geladeira que
desejávamos. Portanto, na economia de mercado em que vivemos, as trocas, de fato, ocorrem, não mercadoria
por mercadoria, mas sim mercadoria por dinheiro (vendas) e dinheiro por mercadoria (compras).
32
ECONOMIA
De forma nítida, estamos tratando de trocas: empresas produzindo mercadorias para consumo
da sociedade em troca de recursos, no caso, monetário, para ser aplicado novamente na produção de
mais mercadorias e assim em diante. Pessoas trabalhando para empresas que, em troca de sua força
de trabalho, recebem salário na forma de dinheiro para destinar ao consumo de mais mercadorias.
[...] impera a propriedade privada dos bens de produção ao lado das decisões
sobre o que e quanto produzir fundamentadas no mercado e nos preços. As
atividades econômicas são, portanto, dirigidas e controladas unicamente
por empresas privadas, que competem entre si. Daí a alcunha de ‘economia
de mercado’, porque o mercado é o habitat natural das empresas (JORGE;
MOREIRA, 1990, p. 29).
33
Unidade I
Vejamos, inicialmente, do que trata a Economia. Os economistas, em geral, admitem que a discussão
sobre Economia surge no mesmo período em que ocorre a Revolução Industrial e com o desenvolvimento
dos mecanismos de mercado de formação de preço e alocação dos recursos de produção. Assim, a
Economia é percebida como uma ciência já no século XIX e, desde então, seus especialistas debatem
incansavelmente sobre seu campo de atuação e seus limites.
Do ponto de vista antropológico, o ser humano vem estabelecendo relações de troca com seu
grupo e com a natureza desde sempre, assim o fazendo, em parte, para garantir as condições materiais
necessárias para a sua sobrevivência. Em período anterior ao século XVIII, havia atividade econômica, e
sobre ela foram escritas obras e realizados estudos.
Saiba mais
34
ECONOMIA
de mercado tornou‑se possível falar em atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente
econômicos; que apenas a partir do advento da economia de mercado as relações sociais passaram a ser
explicadas em função de um sistema econômico organizado.
Como está organizada a produção de bens e serviços antes da economia de mercado? Naquele
tempo, o chefe de família provê sua prole porque isso é o que a sociedade espera dele. As trocas se
realizam não para o lucro, mas para a sobrevivência material. Produz‑se comida não para vendê‑la
e, a partir da venda, obter lucro; produz‑se para consumir. Quando passa a existir governo, ele distribui a
riqueza para os cidadãos, porque esse é o seu papel. É apenas com o advento do capitalismo que
os fatores de produção (mão de obra, terra, conhecimento técnico, capacidade empresarial e dinheiro,
entre outros) não apenas se dirigem ao mercado, mas fazem mesmo parte dele. Compra‑se e vende‑se
mão de obra. Compra‑se e vende‑se conhecimento. O dinheiro passa a ter um custo, mensurado por
meio dos juros que os bancos cobram para fornecê‑lo sob a forma de crédito. Trabalha‑se não para
produzir os bens necessários, mas para obter recursos capazes de serem trocados pelos bens necessários.
Essa é uma diferença fundamental e que marca um momento de transição nas formas de organização
da sociedade.
Normalmente, os atos econômicos anteriores às sociedades capitalistas, ou que nelas não estejam
inseridos, são objeto de estudo dos antropólogos econômicos. Considerando nossos objetivos, basta
não confundirmos a Economia (ciência) com o próprio sistema de mercado. Entende‑se por Ciência
Econômica a que investiga como fatores escassos de produção são alocados para a produção de
bens e serviços que se destinam a saciar necessidades ilimitadas. Em contrapartida, economia
de mercado representa a forma pela qual, nas sociedades capitalistas, a reprodução material das
sociedades passou a acontecer por meio de instituições orientadas para objetivos econômicos, como
os mercados (CERQUEIRA, 2001, p. 399). Assim, nos mercados, as trocas produzem preços, sendo
essas “trocas realizadas como resultado de barganha, de uma negociação, em que cada parte é livre
para buscar sua vantagem e não tem que se submeter, por exemplo, a preços preestabelecidos por
algum agente regulador externo” (CERQUEIRA, 2001, p. 400). Portanto, compreenderemos que, na
economia de mercado,
35
Unidade I
Seria possível haver Economia sem economia de mercado? Os economistas não respondem de forma
consensual e unânime à questão. Para Judensnaider e Manzalli (2011), o surgimento da Economia ocorre
não apenas porque a estrutura econômica passa a ser a de mercado (finalmente havendo o que se
investigar), mas porque as condições do pensamento científico daquele momento permitem que ela,
enquanto saber, se organize de forma sistemática e autônoma. Também é importante ressaltar que
somente àquele momento (e, de forma hegemônica, até os dias de hoje), o que se há para investigar são
justamente as relações que se estabelecem no mercado. Considerar como seu objeto de análise única
e simplesmente a economia de mercado significa represá‑la de forma tautológica à imutabilidade das
estruturas e relações materiais tais como desenvolvidas no Ocidente a partir do século XVIII: a Economia,
sob essa ótica, seria tão somente o estudo das maneiras como o Ocidente se organizou em termos de
determinada estrutura econômica.
Saiba mais
http://www.abant.org.br/
Conforme Judensnaider e Manzalli (2011), os economistas ainda estão a debater possíveis respostas
a essa pergunta e, embora esse debate seja extremamente interessante, ele extrapola os limites da nossa
disciplina. Assim, assumiremos que, segundo os parâmetros científicos da modernidade, a Economia
nascerá à época de Adam Smith, no século XVIII, sendo Riqueza das Nações um texto fundador, obra
que marca:
36
ECONOMIA
É evidente que a compreensão do contexto histórico que irá ensejar o nascimento das Ciências
Econômicas traz à tona uma questão de fundamental importância: afinal, se a economia surge
por meio do esforço de se distinguir da História, da Sociologia, da Ética, da Filosofia Moral e da
Política, poderíamos ser levados a crer na existência de uma distância entre ela e essas outras áreas,
especialmente do ponto de vista da delimitação do seu objeto de estudo ou da determinação de sua
metodologia de investigação. Esse é um problema que economistas da atualidade vêm buscando
lidar e equacionar e aqui, nesta disciplina, debateremos não apenas as condições necessárias para o
surgimento da economia de mercado, mas, também, os desafios que esse sistema, e sua investigação,
têm de enfrentar no tempo presente.
O pensamento econômico, entendido como a maneira pela qual o homem tenta compreender as
relações de produção dentro dos processos de geração, distribuição e circulação de riqueza, é tão
antigo quanto a origem da humanidade. São reconhecidas na literatura especializada as contribuições
de gregos e romanos, na Antiguidade, e de pensadores cristãos, muçulmanos, hindus e chineses, na
Idade Média.
A Economia Política, por sua vez, é uma disciplina do século XVIII. Formada a partir das reflexões dos
filósofos europeus do ambiente da Ilustração, esta ganha status de ciência com as obras de Cantillon,
Ensaio sobre a Natureza do Comércio, de 1763, de Adam Smith, com A Riqueza das Nações, de 1776.
Os primeiros modelos econômicos dignos de tal nome apareceram na França a partir de 1758, por
meio dos fisiocratas e do Quadro Econômico, de Quesnay, considerado como o primeiro modelo de fluxo
de renda da história do pensamento econômico. Para Souza ([s.d.], p.11),
37
Unidade I
Mas o primeiro grande filósofo a sistematizar o que viria a ser conhecida como Ciência Econômica foi o
escocês Adam Smith (1723–1790). Reunindo o pensamento esparso dos “Aritméticos Políticos” e a metodologia
modelar da Fisiocracia, Smith transformou A Riqueza das Nações no primeiro manual de Economia Política
que reunia desde a teoria do valor (uma teoria para explicar como se forma, como se origina o valor das
mercadorias) até os mais sofisticados conceitos de política comercial externa à época. Ainda que valorizado
pela capacidade de sintetizar conceitos de outros autores, não falta originalidade a Smith em suas formulações
a respeito da divisão do trabalho e o das vantagens absolutas do comércio exterior.
Adam Smith é o precursor dos autores clássicos, desenvolvendo um padrão de análise a ser reproduzido
por seus sucessores (o sumário de A Riqueza das Nações, sua principal obra, é quase o mesmo daqueles dos
escritos de Malthus e Ricardo). Para Smith (1996), a riqueza de uma nação é medida pela produção total anual
de um país que será consumida por um determinado número de pessoas. Assim, a riqueza é dada pela relação
entre a produção anual e a população. A divisão do trabalho gera a riqueza e esse processo (o de consecutivas
divisões e especializações) só encontra limites no tamanho do mercado: a divisão do trabalho ocorrerá até o
limite das possibilidades do tamanho do mercado. Para Smith (1996), o sistema econômico tende ao equilíbrio
natural, tal como observado na natureza física, e é resultado do comportamento egoísta que, direcionado ao
bem‑estar individual, gera o bem‑estar social. Como isso ocorre?
Para Smith (1996), ao buscar o melhor para si, cada agente busca seu próprio interesse, tendo,
porém, que considerar o interesse do outro: um bom exemplo é o de um comerciante que diminui o
preço de sua mercadoria se os clientes optam por outro comerciante que venda mais barato. Será essa
busca pelo progresso individual, motivada pelo autointeresse, que resulta no crescimento das cidades,
no aumento da eficiência econômica e no acúmulo da riqueza material.
Saiba mais
Sobre a questão do autointeresse, sugerimos a leitura do texto:
FONSECA, E. G. da. A fábula das abelhas. Braudel Papers, São Paulo,
n. 5, p. 3‑14, 1994. Disponível em: http://pt.braudel.org.br/publicacoes/
braudel‑papers/downloads/portugues/bp05_pt.pdf. Acesso em: 17 de
fev. 2014.
38
ECONOMIA
Smith tentaria, dessa forma, compreender o sistema econômico como um todo, em especial no que
diz respeito à alocação de recursos para os fatores de produção, aos mecanismos de autorregulação do
mercado e ao modelo de crescimento. Segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 75),
O exemplo utilizado por Adam Smith em A Riqueza das Nações é o da fábrica de alfinetes. Por
meio das atividades observadas nessa fábrica, ele explicará como a divisão de trabalho acaba por gerar
riqueza a partir do aumento da produtividade:
Smith daria início à chamada Escola Clássica. Não é gratuito o recurso de David Ricardo, maior
expoente dessa escola, à obra de Smith, logo nas primeiras linhas de seus Princípios de Economia
Política e Tributação, de 1817. Assim, não tardaram a aparecer comentários à Riqueza das Nações.
As preocupações desses primeiros glosadores podem, de acordo com os historiadores do pensamento
econômico, resumir‑se a três categorias: produção, distribuição e circulação de riqueza. Consolidou‑se
também a partir da Escola Clássica, a concepção de uma riqueza nacional, como decorrência evidente
da própria consolidação do Estado burguês na Europa oitocentista. O debate sobre a origem e a natureza
do valor, por outro lado, fechou questão na tese ricardiana do valor‑trabalho incorporado. Os principais
pensadores dessa escola foram, além do já citado Ricardo, Jean‑Baptiste Say e Thomas Malthus.
Thomas Malthus (1766‑1834) está preocupado com outra coisa: o que o atormenta é a fome e a
imensa miséria dos trabalhadores. Para ele, é visível que, como consequência dos desenvolvimentos
da Revolução Industrial, a acumulação do capital e da renda da terra se fazem a partir do arrocho
39
Unidade I
do salário dos trabalhadores; Malthus escreve sob efeito dos conflitos de seu tempo, conflitos esses
marcados pelo confronto dentro da elite econômica entre os interesses do capital agrário e do
capital industrial, ainda nascente. Os proprietários de terra desejam impostos altos de importação
para os cereais para que possam elevar os preços internos. Os industriais querem os cereais vendidos
a preços menores para que não tenham que aumentar os salários. Os pobres e miseráveis perdem,
aos poucos, a parca ajuda financeira das paróquias.
Malthus está extremamente preocupado com o destino da espécie humana. Para ele,
[...] tem sido dito que a grande questão está hoje em debate: se doravante o
homem se lançará para a frente, com velocidade acelerada, em direção a um
aperfeiçoamento ilimitado e até agora inimaginável, ou se será condenado
a uma permanente oscilação entre a prosperidade e a miséria e, depois
de todo esforço, ainda permanecerá a uma incomensurável distância do
objetivo desejado (MALTHUS, 1996, p. 243).
Teoria de Malthus
Crescimento populacional
Produção de alimentos
Fome, doenças, crises sociais, políticas, mortes
Capacidade de produção de alimentos
Para Malthus, essa era a tendência natural da humanidade: “independentemente do êxito conseguido
pelos reformadores, em suas tentativas de modificar o capitalismo, a atual estrutura de proprietários
ricos e trabalhadores pobres reapareceria inevitavelmente” (HUNT, 2005, p. 69). Essa divisão de classes
era uma consequência inevitável da lei natural: “parecia que, pelas leis inevitáveis da natureza, alguns
seres humanos teriam de passar necessidade. Essas eram as pessoas infelizes que, na grande loteria da
vida, tinham tirado um bilhete em branco” (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011, p. 27).
40
ECONOMIA
Malthus, apesar da rigorosa formação religiosa, é contra qualquer tipo de ajuda aos pobres. Em sua
opinião, se a ajuda aos menos privilegiados surtisse qualquer efeito, eles já teriam desaparecido da face
da terra. Segundo ele, “o fato de que aproximadamente 3 milhões são coletados anualmente para os
pobres e, entretanto, sua miséria ainda não tenha sido eliminada, é um objeto de permanente assombro”
(MALTHUS, 1996, p. 268). Sua opinião apoia‑se na seguinte justificativa:
Saiba mais
Ideias não nascem sós: evidência disso é a série de estudos que vem
sendo feita para investigar a relação entre as ideias de Thomas Malthus
e as de Charles Darwin. Ambos partiram de uma mesma realidade e suas
obras apresentam aproximações interessantes. Afinal, os dois buscaram
compreender os processos de seleção natural e de sobrevivência da
espécie humana.
41
Unidade I
David Ricardo (1772‑1823) tinha ideias em comum com Malthus. Discordava, porém, em uma série de
coisas: apesar da enorme amizade pessoal entre os dois, eram inimigos intelectuais. Ricardo concordava
com a ideia de o crescimento populacional ser responsável pela “corrosão” salarial do trabalhador, sempre
levando esse salário ao nível de subsistência. No entanto, Ricardo discordava de Malthus em relação à
renda da terra. Para Ricardo, “o preço dos cereais, em relação ao preço das mercadorias industrializadas,
era regulado pela tendência do trabalho e do capital, quando empregados em terras cada vez menos
férteis, a produzir cada vez menos cereais” (HUNT, 2005, p. 87). Quer dizer, eram as terras menos férteis
que determinavam a renda das terras mais férteis.
As ideias desses fundadores das Ciências Econômicas são ainda debatidas e analisadas à exaustão:
do tempo em que a economia política buscava por um estatuto de ciência que a diferenciasse da
filosofia moral, as obras desses autores ainda trazem as marcas – indeléveis – de um período em que
juízo moral e ciência podiam – e deviam – estar próximos.
De fato, entre o pessimismo e o otimismo, uma grave crise estava sendo alimentada: essa crise
resultaria da expansão da produção associado à redução da lucratividade dos negócios: dificuldades
para abertura de novas oportunidades, rapidez na acumulação de capital, limites para a exploração
da mão de obra, tudo contribuiu para o desenvolvimento da crise que romperia ao final do século XIX,
aparentemente tão promissor nos seus primórdios.
Em meados do século XIX, essa aparente coesão no núcleo central de ideias da Escola Clássica
seria abalada por dois movimentos: (a) uma crítica às teses da Economia Política elaborada por
Karl Marx e Friedrich Engels e (b) a formação de um grupo de economistas defensores da teoria do
valor‑utilidade.
Marx e Engels empreenderam forte ataque contra as teses clássicas, desmascarando a exploração da
classe burguesa sobre os trabalhadores, dando início a uma corrente de pensamento que extrapolou a
própria economia e ainda hoje se revela muito influente.
42
ECONOMIA
Fundando então o chamado marxismo, Marx em sua clássica obra O Capital, de 1867, ao desenvolver
conceitos como mais‑valia, capital variável, capital constante, exército industrial de reserva e composição
orgânica do capital, entre outras contribuições, modifica a análise do valor, principalmente a teoria
do valor do trabalho. Para este filósofo, o valor da força de trabalho é determinado, como no caso
de qualquer outra mercadoria, pelo tempo e trabalho necessário à produção, e consequentemente, à
reprodução de tal mercadoria. Neste aspecto, analisa a acumulação de capital, a distribuição da renda,
as crises econômicas e, por fim, as contradições do capitalismo enquanto sistema de produção de
mercadorias (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Mas, apesar da influência tanto da fisiocracia quanto da Escola Clássica, bem como da abordagem
marxista para a consolidação dos fundamentos científicos da economia, seus princípios teóricos
fundamentais serão consolidados durante o período que vai de 1870 a 1929, creditados a grandes
transformações. Entre elas, podemos destacar a emergência de grandes corporações econômicas com
tendência monopolística, fazendo desaparecer o capitalismo concorrencial. Neste aspecto, há também
a expansividade do poder estatal interferindo na vida econômica da sociedade.
Inspirados pela visão dos sucessos levantes operários e envolvidos no trabalho de entender e resolver
os problemas oriundos da acumulação capitalista, Marx e Engels buscarão a análise do capitalismo,
defendendo sua inexorabilidade rumo à destruição.
Marx, acrescentando, fará uma previsão: o capitalismo se destruirá por si mesmo. A produção não
planejada, a desorganização do sistema, as constantes oscilações de preços, tudo estaria conspirando
para a inexorável crise.
Algumas das principais ideias de Marx podem ser assim resumidas: para ele, o capital era quem
gerava lucros para uma específica e especial classe social; a relação econômica básica era a da troca e,
nesse sentido, as mercadorias tinham um valor de uso (criado pelo trabalho útil) e um valor de troca
(criado pelo valor abstrato); o valor de troca era expresso em termos de preço monetário; ainda, “o valor
de uso não poderia ser a base do valor de troca” (HUNT, 2005, p. 198). Tendo “estabelecido a ligação
entre o valor de troca de uma mercadoria e ‘a quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário
para sua produção’, Marx [...] mostrou as condições sócio‑históricas específicas necessárias para os
produtos do trabalho humano se transformarem em mercadorias” (ibidem, p. 200).
Dentre tantos de seus insights, destaca que no capitalismo ocorre a generalização da mercadoria,
isto é, do ponto de vista econômico, tudo tende a adquirir características equivalentes a uma
mercadoria e, portanto, tudo fica sujeito aos princípios gerais que explicam o valor das mercadorias.
Assim, para este filósofo, o valor da força de trabalho, a mão de obra, é determinado, como no caso
de qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário à produção e à reprodução de
tal mercadoria.
Enquanto numa sociedade não capitalista o fluxo de troca poderia ser descrito por mercadoria
– dinheiro – mercadoria (o processo, neste caso, envolvendo a troca com o objetivo de adquirir outras
mercadorias para uso), numa sociedade capitalista o fluxo caracterizava‑se por dinheiro – mercadoria –
dinheiro (ou seja, o dinheiro era gerado pela produção e troca de mercadorias produzidas a partir
do capital disponível); a diferença entre dinheiro recebido pela troca das mercadorias produzidas e
dinheiro gasto com salários era denominada mais‑valia, gerada no processo de produção e que tinha
como origem o fato de os capitalistas comprarem um conjunto de mercadorias (fatores de produção,
incluindo o trabalho que o operário vendia como mercadoria) por um valor abaixo daquele representado
pelo conjunto de mercadorias vendidas (resultantes do processo produtivo).
Para Marx (2005), essa análise permitia concluir que a única maneira de o capitalista sobreviver era
por meio da acumulação cada vez maior de capital, e essa luta pela sobrevivência acabaria por gerar
concentração econômica e queda da taxa de lucro (em suma, crises setoriais, alienação e miséria da
classe operária).
Saiba mais
44
ECONOMIA
Dentre os pilares da teoria neoclássico‑marginalista estão Karl Menger, Stanley Jevons e León
Walras. Os principais pensadores da nova teoria viveram em Viena (Áustria), Cambridge (Inglaterra),
e Lausanne (França), respectivamente, mas logo tiveram adeptos em boa parte do mundo ocidental
desenvolvido da época.
45
Unidade I
Os marginalistas (ou “neoclássicos”, como preferiam ser chamados) tiveram a sua síntese teórica calcada
nos Princípios de Economia do professor de Cambridge Alfred Marshall, que liderara um movimento intelectual
dado no sentido de tornar a Economia – ciência das relações humanas e sociais – em uma disciplina mais
“exata”. Colaborou para isso o uso intenso do cálculo newtoniano, substituindo relações observáveis no âmbito
social. A economia, agora despida de seu adjetivo “política”, seria uma ciência de “curvas de maximização” e
“pontos de equilíbrio”, a partir dos neoclássicos. Essa concepção, é claro, rivalizava com o avanço do marxismo,
que ganhava corpo e espaço no início do século XX, com a Revolução Russa de 1917.
As guerras mundiais de 1914 e 1939, entremeadas pela crise de 1929 e a Grande Depressão, obrigaram
o ambiente institucional da academia a repensar a teoria econômica. A partir das catástrofes causadas
pela Grande Depressão, há uma ruptura com a ciência clássica, pois os chamados economistas clássicos,
como Jean Baptiste Say, anteriormente citado, acreditavam que as economias de mercado tinham a
capacidade de, sem a interferência do governo, utilizar de maneira eficiente os recursos disponíveis, ou
seja, produzir esses recursos com pleno emprego. A partir do momento em que as economias atingissem
o ponto de pleno emprego, o produto da economia e o emprego já estariam determinados, representando
então a efetiva disponibilidade de recursos.
De maneira muito menos evidente por sua forma sofisticada de análise, as conclusões da teoria
marginalista sustentavam a mesma tese. Porém, diante da enorme redução da produção, do emprego
e dos salários e lucros no começo dos anos 1930, após a crise da Bolsa dos Estados Unidos em 1929,
abriu‑se espaço para uma argumentação distinta, feita por Keynes.
Em 1936 surge A Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro em que John Maynard Keynes
mostrava que, contrariamente aos resultados apontados pela teoria clássica, as economias capitalistas
não tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Diante de tal constatação,
surge a opção para que todos os recursos disponíveis na economia fossem empregados por meio do
Estado. De que forma: com o uso da política econômica.
A partir de sua teoria, busca‑se então criar os mecanismos pelos quais o governo pode evitar
determinados problemas do sistema econômico capitalista, isto é, reforça‑se a discussão dos chamados
instrumentos de política econômica. Nesse sentido, justificando políticas de estímulo ao emprego e à
renda dos trabalhadores, economistas como Keynes ganharam espaço e voz no debate econômico.
A aceitação da ideia de que o sistema econômico capitalista está sujeito a flutuações em seu
desempenho, conforme apontado pelo austríaco Joseph Alois Schumpeter (1996) em sua Teoria do
Desenvolvimento Econômico, originalmente publicada em 1912, e a inversão da lei clássica da demanda
comandada pela oferta, como elaborado pela Teoria Geral de Keynes, causaram não apenas um recuo
tático das forças capitalistas contrárias à intervenção do Estado no funcionamento do sistema econômico,
mas também uma interessante fragmentação epistemológica na ciência econômica, fundamentada, em
última análise, pela opção política de seus atores e interlocutores.
A partir dos anos 1970‑80 uma nova onda teórica contra o Estado surgiria novamente. Teóricos
de diversas escolas de pensamento, com destaque para os novo‑clássicos e os monetaristas (como
Lucas e Friedman, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia) investiram fortemente contra as ideias
46
ECONOMIA
originais ou derivadas do pensamento de Keynes. Politicamente, a nova onda foi aberta nos anos
1980 por Ronald Reagan, com dois mandatos como presidente dos EUA, e Margareth Thatcher,
como primeira‑ministra na Inglaterra. Ao final daquela década surgiu o Consenso de Washington,
um conjunto de orientações que sintetizavam as diretrizes que foram então consideradas as mais
adequadas para as políticas econômicas dos países capitalistas, e que foi fortemente absorvida pelos
governos da América Latina.
Rapidamente, vale ainda mencionar alguns detalhes sobre outros aspectos da evolução do pensamento
econômico. As ideias originais de Marx foram ampliadas e reforçadas por Hilferding e muitos outros
teóricos, desde Lênin e Kautsky, partícipes da Revolução Russa, até de planejadores socialistas como o
polonês Oskar Lange, sempre com viés crítico do capitalismo.
Quanto ao socialismo real (socialismo de Estado implantado pela União Soviética desde 1917),
os desafios de comandar uma economia sem bases capitalistas demandaram enormes esforços de
reflexão. Contudo, com raras exceções, tiveram pouco impacto na evolução do pensamento centrado no
funcionamento das economias capitalistas.
Por outro lado, a partir das ideias de Keynes e da tentativa de desenvolvimento de instrumentos
para a ação do Estado na economia, bem como do avanço dos meios informatizados de cálculo, houve
grande busca de métodos estatístico‑inferenciais de análise empírica, dando à ciência econômica
um caráter mais “aplicado”. Salvo exceções, o uso crescente de métodos quantitativos na análise
econômica é hoje incorporado de maneira mais ou menos uniforme pela maioria das escolas de
pensamento econômico.
Ainda por outro lado, diversas questões importantes surgidas a partir do final do século XX –
como a questão ambiental, a integração de blocos econômicos internacionais, as mudanças sociais e
econômicas na ordem mundial etc. – ainda estão insuficientemente incorporadas às principais áreas
da Teoria Econômica atual. Da mesma forma, a fragmentação de posições ideológicas e metodológicas
na Ciência Econômica continua bastante intensa. De fato, neoclássicos, keynesianos, institucionalistas,
marxistas e tantas outras escolas ou correntes de pensamento econômico reconhecem, ainda que
contrafeitos, que muitas de suas premissas de análise se baseiam em opções de difícil justificativa,
algo que ainda coloca a Ciência Econômica distante do padrão de “ciência pura” no sentido de
Karl Popper, filósofo da ciência do século XX. Enfim, vale destacar que o pensamento econômico
gerado por pensadores de países menos desenvolvidos, simpáticos ou não ao capitalismo, é também
comparativamente muito pobre até hoje.
Talvez, no futuro, outros pensadores consigam perceber semelhanças e convergências entre as diversas
escolas de pensamento econômico, adiante do que hoje parece ser excessiva diversidade de conceitos
e princípios, que geram conclusões teóricas e recomendações de política econômica conflitantes.
De qualquer modo, cabe lamentar que a diversidade de hoje não se reflita no ensino de graduação
em Economia, que desde a retomada da onda neoliberal dos anos 1980 vem sendo crescentemente
dominado pela visão da Teoria Microeconômica, em função até do controle prolongado de aparelhos
institucionais do meio acadêmico por aquela escola.
47
Unidade I
Contudo, nunca é demais lembrar que um campo como o da História do Pensamento Econômico
é sempre buscado pelos estudiosos de Economia, notadamente nos momentos em que a realidade se
mostra mais distante dos paradigmas contidos nas teorias já construídas. Isso se observou nas rupturas
históricas que levaram ao surgimento da escola liberal clássica, ao pensamento de Marx, à própria teoria
neoclássico‑marginalista e ao keynesianismo.
A Teoria Econômica está dividida em dois grandes blocos, se assim podemos proceder. Um bloco
contém a análise de equilíbrio parcial e o outro, a análise de equilíbrio geral.
A diferença básica entre essas duas teorias é que a Teoria Microeconômica aborda questões mais
pontuais e mais detalhadas do que a Teoria Macroeconômica. De acordo com Wessels (2002), se
pudéssemos exemplificar, a microeconomia teria uma preocupação muito próxima a um mapa detalhado
de uma cidade, enquanto a macroeconomia teria uma preocupação com um mapa de um país.
A microeconomia traça em detalhes o mapa de como os indivíduos tomam decisões e como elas
afetam os preços e a produção de vários bens e serviços, enquanto a macroeconomia mapeia a economia
mais de longe, objetivando não os indivíduos, mas agregados de pessoas e firmas.
48
ECONOMIA
Por fim, a Teoria Microeconômica é o estudo de como os indivíduos e as firmas tomam decisões
e como estas decisões afetam os preços e a produção de bens e serviços, a Teoria Macroeconômica
moderna baseia‑se no estudo da Teoria Microeconômica, pois é o estudo dos agregados de indivíduos,
preços e produção.
Vimos até agora que a preocupação da economia está estreitamente ligada ao comportamento
humano, pois estuda as relações entre as pessoas em uma sociedade enquanto trabalham com um
propósito definido, que é a produção de bens e serviços. Por essa razão, a economia se alinha entre as
Ciências Sociais. Esse ponto é muito importante, pois implica que os fatos econômicos estão sujeitos ao
estudo e ao julgamento do cientista. Em outras palavras, conforme Silva e Luiz (2010, p. 16), “o indivíduo
que está estudando a economia de uma sociedade pode, depois de certo tempo, saber com razoável grau
de precisão como se dá a produção, a distribuição e o consumo do produto do trabalho daquela sociedade”.
Para que se possa entender o método de investigação do cientista econômico, imagine a seguinte
situação: numa praia qualquer, há aproximadamente cem pessoas. A temperatura está em 30°C e por
mais ou menos uma hora não aparece nenhum sorveteiro. Eis que chega um. Você acredita que alguém
comprará sorvetes para se refrescar? Se sim, quantas pessoas? Todas as que estão ali presentes? São
respostas, até certo tempo, de difícil acerto. Porém, com o auxílio de um modelo, as possibilidades de
responder são maiores.
Sabemos que diante da situação apresentada, alguém comprará sorvete. Por que sabemos disto?
Pelo simples fato de que algumas pessoas tomam tal comportamento diante de tal situação. Porém, não
se pode afirmar que as cem pessoas se comportarão desta forma e também não se sabe, de bate‑pronto,
acertadamente, um percentual.
Por outro lado, se ficássemos junto das pessoas que estão na praia, observando, de fato, o
comportamento de cada uma, responderíamos com certeza sobre a quantidade de pessoas que
efetivaram a compra do sorvete. Por abstração, digamos que, da observação das pessoas ali
presentes, cinquenta e três delas dirigiram‑se até o sorveteiro e não efetuaram a compra, ao passo
49
Unidade I
que o restante, quarenta e sete pessoas, efetuaram a compra. Portanto, temos agora números reais:
53% dos presentes não compraram sorvetes; 47% efetuaram a compra de sorvetes. Ao afirmar desta
forma, a partir da observação real de comportamento deste extrato da sociedade numa situação de
consumo, utilizamos do outro método de investigação da Ciência Econômica, a economia positiva.
Tal método de investigação se preocupa com a realidade como ela é, procurando depois determinar
os mecanismos que levam os indivíduos a cumprirem seu propósito, no caso apresentado, da compra
do sorvete para satisfazer uma necessidade.
Podemos ir além. O que levou os 53% dos presentes a não efetuarem a compra dos sorvetes?
Podemos tentar algumas respostas:
• parte dos presentes não tinha dinheiro suficiente para pagar pelo sorvete;
• parte dos presentes portava somente cartão para crédito ou débito e o vendedor de sorvetes
somente aceitava pagamentos em dinheiro;
• parte dos presentes não sentia necessidade de consumir sorvetes naquele momento;
• parte dos presentes não gostou dos sabores dos sorvetes oferecidos;
Cada uma dessas respostas são conjecturas, hipóteses, achismos, e fazem parte da economia
normativa, diga‑se de passagem, menos interessante ao cientista econômico. Agora, se nossas
respostas fossem:
• nove portavam somente cartão para crédito ou débito e o vendedor de sorvetes somente aceitava
pagamentos em dinheiro;
Resumo
52
ECONOMIA
Exercícios
53
Unidade I
I − A charge 1, de forma contrária à charge 2, afirma que a escassez é fruto da incompetência dos
seres humanos no uso dos recursos naturais.
III − A charge 2, de forma contrária à charge 1, considera que a escassez também pode ser resultado
de circunstâncias específicas da natureza.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a charge 1 nada afirma sobre a incompetência dos seres humanos no uso de
recursos naturais.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a charge 1 nada afirma sobre escolhas políticas equivocadas. Ela apenas indica que
uma questão pode ser analisada sob vários pontos de vistas, dependendo do quanto os interlocutores
estão dispostos a considerar as múltiplas facetas de uma situação.
54
ECONOMIA
Questão 2. Segundo Malthus, “[...] o fato de que aproximadamente 3 milhões são coletados
anualmente para os pobres e, entretanto, sua miséria ainda não tenha sido eliminada, é um objeto de
permanente assombro” (MALTHUS, 1996, p. 268). Veja a charge a seguir:
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: embora possa ser verdadeira, essa alternativa não está comprovada pelo texto, nem
tampouco pela charge.
55
Unidade I
B) Alternativa correta.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: apenas a charge faz menção ao problema dos desastres naturais, não ocorrendo o
mesmo no texto de Malthus.
E) Alternativa incorreta.
56