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Relacionamento
com o Cliente
Autor: Prof. Marcelo Socorro Zambon
Colaboradores: Profa. Sandra Castilho
Prof. Mauro Kiehn
Professor conteudista: Marcelo Socorro Zambon
CDU 658
U510.47 – 28
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Giovanna Oliveira
Vera Saad
Sumário
Administração do Relacionamento com o Cliente
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10
Unidade I
1 CLIENTES E CONSUMIDORES: DEFINIÇÕES, ENTENDIMENTOS E PAPÉIS................................... 13
1.1 O cliente.................................................................................................................................................... 13
1.1.1 O consumidor............................................................................................................................................ 15
1.1.2 Comprador.................................................................................................................................................. 15
1.1.3 Pagante........................................................................................................................................................ 15
1.2 Tipos de clientes..................................................................................................................................... 16
1.2.1 Cliente externo......................................................................................................................................... 16
1.2.2 Cliente interno.......................................................................................................................................... 16
1.2.3 Cliente pessoal.......................................................................................................................................... 17
1.2.4 Cliente da concorrência........................................................................................................................ 17
1.2.5 Cliente lucrativo....................................................................................................................................... 17
1.3 Simbolicamente: o cliente................................................................................................................. 18
1.4 O composto de marketing na relação com o cliente.............................................................. 19
2 CLIENTES COMO CENTRO DAS INICIATIVAS ORGANIZACIONAIS (CLICENTRISMO).............. 21
2.1 O clicentrismo: origens....................................................................................................................... 21
2.2 As duas ondas da qualidade............................................................................................................. 21
2.2.1 A primeira onda da qualidade............................................................................................................ 22
2.2.2 A segunda onda da qualidade............................................................................................................ 23
3 COMPORTAMENTO DOS CLIENTES E OS PROCESSO COMPORTAMENTAIS............................... 25
3.1 O comportamento do consumidor pode ser compreendido como processo............... 26
3.2 Os diversos atores do comportamento do consumidor........................................................ 27
3.3 Uma boa estrutura organizacional e o processo de atender o cliente........................... 28
3.4 Algumas definições importantes relativas aos clientes, como início e fim
dos processos organizacionais................................................................................................................ 29
3.4.1 Processos..................................................................................................................................................... 29
3.4.2 Processos relativos ao produto.......................................................................................................... 29
3.4.3 Processos de apoio.................................................................................................................................. 30
3.4.4 Produto........................................................................................................................................................ 30
3.4.5 Atributos do produto............................................................................................................................. 30
3.5 Exemplo do desenho do processo organizacional................................................................... 30
3.6 Projeto de produtos e projeto de processos............................................................................... 31
3.6.1 Projeto de produtos................................................................................................................................ 31
3.6.2 Projeto de processos............................................................................................................................... 32
3.6.3 O cliente como o início e o fim do processo organizacional – logo, os processos
a partir dos clientes........................................................................................................................................... 32
4 SEGMENTAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DE MERCADO............................................................................. 33
4.1 Conceitos e entendimento de segmentação de mercado.................................................... 34
4.2 Segmentação de mercado: significados...................................................................................... 36
4.3 Tipos ou formas de segmentação................................................................................................... 37
4.3.1 Bases da segmentação.......................................................................................................................... 39
4.4 Algumas vantagens da segmentação........................................................................................... 40
4.5 Diferenciação de mercado no contexto da segmentação.................................................... 40
4.5.1 Diferenciação genérica.......................................................................................................................... 41
4.5.2 Diferenciação focalizada....................................................................................................................... 41
4.5.3 Diferenciação segmentada.................................................................................................................. 42
Unidade II
5 ATRIBUTOS VALORIZADOS PELOS CLIENTES......................................................................................... 45
5.1 Desejos e necessidades....................................................................................................................... 45
5.2 Expectativas............................................................................................................................................. 47
5.3 Atributos................................................................................................................................................... 48
5.4 Diferentes tipos e papéis dos clientes e sua relação com os desejos
e as necessidades.......................................................................................................................................... 49
5.4.1 Atributos valorizados pelos diferentes tipos de compradores.............................................. 50
5.4.2 Atributos valorizados pelos diferentes tipos de consumidores (usuários)....................... 52
5.4.3 Atributos valorizados pelos diferentes tipos de pagantes...................................................... 53
5.5 Compromisso com as partes interessadas: stakeholders e clientes.................................. 54
5.6 Pesquisa de marketing: um processo para saber sobre atração, retenção
e satisfação de clientes.............................................................................................................................. 55
5.6.1 O que é preciso saber sobre os clientes.......................................................................................... 55
5.6.2 Classificação básica da pesquisa mercadológica........................................................................ 57
5.6.3 Atributos da pesquisa mercadológica............................................................................................. 58
5.7 Satisfação e insatisfação de clientes............................................................................................. 59
5.7.1 Instrumentos para avaliar a satisfação de clientes................................................................... 61
6 O DIFERENCIAL COMPETITIVO DE SABER OUVIR OS CLIENTES...................................................... 62
6.1 O que é preciso saber antes de iniciar o processo de ouvir o cliente.............................. 63
6.2 Principais ferramentais para ouvir os clientes.......................................................................... 65
6.2.1 Visitas a clientes....................................................................................................................................... 65
6.2.2 Visitas de clientes.................................................................................................................................... 66
6.2.3 Entrevistas.................................................................................................................................................. 66
6.2.4 Entrevista em profundidade................................................................................................................ 68
6.2.5 Grupos focais............................................................................................................................................. 68
6.2.6 Painéis de clientes................................................................................................................................... 69
6.2.7 Experimentos............................................................................................................................................. 69
6.3 Ferramentas e canais digitais para ouvir os clientes.............................................................. 70
6.3.1 O surpreendente canal que é a internet........................................................................................ 70
6.3.2 Pesquisa on-line....................................................................................................................................... 71
6.3.3 Redes sociais.............................................................................................................................................. 72
6.4 Ferramentas indiretas para ouvir os clientes............................................................................. 74
6.4.1 Uso de comprador fantasma............................................................................................................... 74
6.4.2 Os painéis de colaboradores................................................................................................................ 74
6.5 Riscos de não saber ouvir os clientes............................................................................................ 75
6.6 Os valores e os requisitos dos clientes mudam com o tempo............................................ 75
6.7 O risco da miopia de marketing: atenção ao ouvir necessidades..................................... 77
6.8 Seleção de clientes e canais de acesso às organizações....................................................... 78
6.8.1 Por que selecionar clientes.................................................................................................................. 79
6.8.2 Como selecionar clientes...................................................................................................................... 83
6.8.3 Técnicas de seleção de clientes.......................................................................................................... 85
6.8.4 Justificando o uso da seleção de clientes...................................................................................... 86
6.8.5 Os canais de acesso disponibilizados aos clientes...................................................................... 88
Unidade III
7 PROCESSO DE COMPRA RACIONAL E IMPULSIVA E O ARREPENDIMENTO
PÓS-COMPRA........................................................................................................................................................ 92
7.1 Dissonância cognitiva.......................................................................................................................... 92
7.2 Abordagens da compra por impulso............................................................................................. 93
7.3 Não é possível eliminar a dissonância cognitiva...................................................................... 94
7.4 Como agir quando o arrependimento ocorre............................................................................ 95
8 ATIVISMO DIGITAL DE CLIENTES E NÃO CLIENTES.............................................................................. 98
8.1 E os não clientes?.................................................................................................................................. 98
8.2 O marketing digital: entendimentos...........................................................................................100
8.3 As redes sociais.....................................................................................................................................101
8.4 O ativismo digital................................................................................................................................102
8.5 A opinião dos clientes e não clientes no e-commerce é uma realidade......................104
8.6 Tecnologias de acompanhamento do relacionamento........................................................105
8.6.1 CRM.............................................................................................................................................................105
8.6.2 Big data......................................................................................................................................................112
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina é dinâmica, oportuna e direta. Muito do que você vai estudar aqui faz parte (ou pode
fazer) de seu dia a dia, logo, você não apenas perceberá isso como prestará ainda mais atenção no
comportamento dos compradores e dos vendedores. Portanto, procure aplicar os conhecimentos aqui
adquiridos às suas rotinas e reflita sobre os tantos casos com os quais você já se deparou ao longo da vida.
• os atributos valorizados pelos clientes e como usar tais atributos em favor do negócio;
• o diferencial competitivo de saber ouvir os clientes e os consumidores, bem como os riscos de não
o fazer corretamente;
• algumas das tecnologias de acompanhamento do relacionamento com os clientes (CRM e big data).
Esta disciplina ajudará você a compreender que cada pessoa, na figura de comprador, pagante
ou usuário (consumidor), tem um perfil comportamental que pode ser distintamente analisado e
contextualizado com base no modo como pesquisa, compra e consome itens. Nesse sentido, quando
um determinado perfil comportamental de cliente ou grupo de perfis é identificado, é possível fazer
agrupamentos com base nele.
INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo aos estudos da área de administração do relacionamento com os clientes, um tema
cada vez mais importante e demandado no mundo dos negócios.
Neste livro-texto você terá a oportunidade de saber mais sobre os tipos de clientes e seus papéis, assim
como o que caracteriza o consumidor. Você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre o gerenciamento
de relacionamentos entre organizações e clientes, compreenderá a importância do desenvolvimento de
relacionamentos duradouros e mutuamente vantajosos entre vendedores e compradores.
Muitas ações podem ser implementadas pelas organizações na busca de melhor atender clientes, de
atraí-los e retê-los, de desenvolver colaboradores satisfeitos, de fixar-se positivamente na memória dos
consumidores. Contudo, para que isso seja um caminho satisfatório e rentável, é importante compreender
o máximo possível sobre quem e como são os clientes que a organização atende e, portanto, quais são
as características de demanda do mercado-alvo no qual a organização atua.
É vital entender que consumidores e clientes são pessoas, e que eles buscam satisfazer suas necessidades
e seus desejos por meio da compra ou contratação de produtos e/ou serviços. Mais do que nunca, é
preciso que os gestores considerem que os clientes estejam bem-informados sobre os produtos/serviços
que demandam, pois de qualquer lugar do planeta, por meio da internet, eles podem, com poucos clicks,
acessar uma enorme quantidade de informações sobre qualquer item que procuram, inclusive preço e
prazo de entrega, para então decidirem-se pela aquisição.
É muito importante aproveitar o potencial que a internet oferece, tanto para divulgar os produtos,
serviços e marcas, aproximando estas últimas dos clientes, como para estabelecer relacionamentos
eficientes com eles, afinal, a internet, os sites e os aplicativos, entre outras possibilidades, são canais de
contato muito reconhecidos e utilizados pelos compradores.
Na tela de computador, do celular, do tablet é possível ter acesso a uma gigantesca quantidade de
informações, e não apenas sobre compra e consumo, mas também sobre pesquisa e conhecimento,
como o acesso às páginas de universidades, revistas, institutos de pesquisas, empresas, jornais etc., e isso
está disponível a todos, compradores ou não.
A rede mundial de computadores serve para estudos, comparações, compras, mas hoje ela também
representa um contexto social e nele o comportamento dos diversos grupos sociais. Em outras palavras,
a conectividade e a acessibilidade a conteúdos representam um novo modo de fazer as coisas, ou seja,
um novo comportamento, em geral conveniente e prático, logo, que agrada as pessoas, trazendo alguma
eficiência e agilidade em suas tarefas do dia a dia.
10
Em geral, os potenciais compradores gostam de, na internet, pesquisar (saber mais), comparar
(saber as vantagens e desvantagens de produtos, por exemplo) e por fim comprar (ao decidirem que
é uma boa ideia adquirir um item, que ele atende as suas demandas). A internet, enquanto canal de
comunicação, mudou o modo como as organizações se relacionam com os seus clientes, como cuidam
deles e os cativam, tornando o contato e os registro de informações mais importantes, contanto que
sejam adequadamente utilizados.
Com todo esse panorama em mente, procure compreender o sentido dos termos comportamento e
relacionamento, concentre-se em entender que cada indivíduo apresenta um padrão comportamental
que lhe torna único e que, mesmo que estudado em grupos com características de consumo semelhantes,
possibilitará compreender como o conjunto de consumidores compra, interage socialmente e reage a
determinada comunicação (positiva ou negativamente).
11
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Unidade I
1 CLIENTES E CONSUMIDORES: DEFINIÇÕES, ENTENDIMENTOS E PAPÉIS
Compreender o correto sentido dos termos cliente e consumidor é uma condição inicial para se
entenderem o alcance e o potencial da administração do relacionamento com os clientes e demais
envolvidos nas relações entre organizações e clientes (stakeholders) e, claro, também é condição para
apresentar corretamente as iniciativas de relacionamento desenvolvidas para cada público-alvo. Outros
termos cujo conhecimento é igualmente necessário aqui são: comprador, pagante e usuário, por isso
cada um deles será explorado no momento oportuno.
“Eu vou ao supermercado para comprar iogurte para o meu filho e pago o produto com o
cartão de crédito da minha esposa.”
Utilize seus conhecimentos sobre o relacionamento com os clientes para analisar essa afirmação e
pense sobre as indagações:
Essas questões serão respondidas ao longo do desenvolvimento do estudo aqui proposto, mas é
importante que você já as tenha em vista.
Agora, são apresentadas a seguir algumas explicações e/ou entendimentos para o termo cliente.
1.1 O cliente
De acordo com Moreira, Pasquale e Dubner (1999), o termo cliente pode ser assim explicado
como o constituinte em relação ao seu advogado ou ao procurador. Os clientes podem ser divididos
em mercados-alvo, portanto, podem ser os próprios consumidores, os revendedores, as industriais, as
organizações governamentais e internacionais.
Os autores destacam ainda que o termo cliente pode ser compreendido como a forma pela qual os
publicitários designam os anunciantes.
13
Unidade I
De acordo com Silva e Zambon (2015), os clientes fazem parte dos processos organizacionais, em geral,
associados à venda e à compra de bens ou à aquisição de serviços, mas é preciso que fique claro que os
próprios produtos e serviços existem porque há clientes para adquiri-los e consumidores para utilizá-los.
Saiba mais
A Fundação Prêmio Nacional na Qualidade (FPNQ, 2004) propõe que o cliente, que pode ser pessoa
física ou jurídica do produto de que necessita, idealmente deve ser considerado o destinatário final dos
produtos de qualquer organização.
De acordo com Silva e Zambon (2015), e Steinman, Murphy e Mehta (2017), embora se saiba que os
motivos que levam os clientes a comprar sejam muito diversos, é fundamental saber que a organização
precisa estar comprometida com eles, e, por conseguinte, com a satisfação que o cliente deve ter ao
adquirir e utilizar o produto (o sucesso do cliente).
Outra explicação interessante foi proposta por Bretzke (apud DIAS, 2003), a qual diz que o cliente é
uma pessoa ou uma unidade organizacional cuja função é caracterizada por desempenhar um papel no
processo de troca (venda e compra), entre uma empresa ou entre empresas e consumidores.
Portanto, o termo cliente corresponde às pessoas que assumem diferentes papéis no processo de
compra (DIAS, 2003):
• especificador;
• influenciador;
• comprador;
• pagante;
• usuário;
• consumidor.
14
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Para Madruga (2018), é papel da organização estar comprometida com a oferta de melhor experiência
para os clientes, possibilitando que eles se sintam realizados (satisfeitos) com a relação estabelecida com
ela (compra) e com o produto (uso).
1.1.1 O consumidor
Consumidor é o indivíduo que, ao comprar ou ganhar de terceiros um bem, é aquele que faz o
consumo do bem propriamente. Esse consumo pode ser compartilhado com outros. Por exemplo,
imagine a situação de um pai que compra pipoca de micro-ondas, a qual é preparada pelo filho para
que ambos comam assistindo a um filme na televisão. Nesse caso ambos, pai e filho, são consumidores.
O consumidor, mesmo que não tenha comprado nada, ainda o é, pois o que o torna consumidor não
é a aquisição do produto, e sim seu consumo. Ou seja, se uma mãe vai ao supermercado e compra iogurte
para seu filho, ela é o cliente comprador, mas não o consumidor, o qual, nesse exemplo, é seu filho.
Lembrete
1.1.2 Comprador
A figura do comprador é assim compreendida: o comprador é a pessoa que faz a compra. Portanto,
é a pessoa que está presente no ato da compra, executando-a, presencial ou digitalmente.
Para Moreira, Pasquale e Dubner (1999), o comprador é o indivíduo que adquire o produto ou o serviço.
1.1.3 Pagante
A figura do pagante pode não ser a mesma do comprador, ou seja, eles podem ser pessoas diferentes
(e muitas vezes são).
O pagante é o indivíduo responsável por oferecer os recursos (financeiros, por exemplo) utilizados
para pagar pelo produto ou serviço adquirido, podendo, portanto, não ser a mesma pessoa do comprador
ou do consumidor.
Entretanto, perceba que, direta ou indiretamente, o pagante pode ser considerado cliente do
estabelecimento comercial, especialmente quando há forma de identificá-lo (como quando o comprador
utiliza o cartão de crédito do pagante para fazer a compra).
Portanto, o pagante não precisa estar presente no fechamento da compra, pois ele pode ter enviado o
dinheiro, cheque, cartão, criptomoeda ou qualquer meio de pagamento que seja aceito no ato da venda.
15
Unidade I
Uma vez esclarecida a diferença entre consumidor e cliente, é importante entender que há vários
tipos de clientes.
De acordo com Bogmann (2000), o cliente externo é, em geral, o responsável por pagar pelos produtos
e pelos serviços sem participar do processo de produção do bem ou de prestação do serviço, ou seja, ele
não trabalha na organização que oferece aquilo que está sendo vendido.
Em outras palavras, cliente externo é genericamente o mesmo que cliente. O termo externo remete
ao fato de que ele não faz parte da organização, não trabalha nela e nem possui qualquer tipo de
relação profissional com ela.
O cliente interno é compreendido, inicialmente, como aquele que faz ou deixa de fazer os esforços
necessários para que a expectativa do cliente final seja satisfeita e/ou superada.
Para Bogmann (2000), o cliente interno é a pessoa que trabalha na empresa e influencia o processo
produtivo e de fornecimento de serviços; ele, portanto, é um funcionário ou possui algum vínculo com
a cadeia produtiva ou de prestação de serviços da organização.
Contudo, existe uma complementação do termo cliente interno, explicada por Meireles (2004,
p. 781): “dentro de uma empresa acontecem várias situações nas quais os departamentos ou as
pessoas fornecem produtos uns aos outros. Os receptores são denominados clientes internos.”
Deve ficar claro que a visão de Meireles faz alusão à existência de uma relação clientelística entre
função, pessoas, departamentos e/ou áreas do negócio, muitas vezes, vistas à luz do fluxo do
processo (uma tarefa só pode ser adequadamente executada se a tarefa anterior a ela tiver sido
executada e entregue).
Do ponto de vista das organizações, essa visão ajuda a compreender a relação entre as etapas de um
processo e a forte relação de dependência existente entre os processos.
16
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
De acordo com Bogmann, (2000, p. 38) o cliente pessoal é aquele que influencia nossas vidas e
nosso desempenho no trabalho. Sendo assim, o termo “cliente pessoal” faz referência ou é composto
pelas pessoas que amamos, por exemplo: a esposa, o marido, os filhos, os amigos e todos aqueles que
convivem conosco, alimentando nossas necessidades sociais e emocionais.
Uma das principais explicações do porquê de os clientes pessoais serem importantes é: muitas
pessoas frequentemente compram em determinados estabelecimentos apenas por possuírem alguma
afinidade com o vendedor (funcionário do estabelecimento).
Os clientes pessoais são levados a comprar graças às suas relações de amizade com a pessoa do
vendedor, e não com o estabelecimento comercial, isso quer dizer que, caso o vendedor migre para outra
loja concorrente e de outra marca, o esperado é que o cliente pessoal vá com ele.
Em suma, o motivo de comprar é a relação pessoal (de amizade, muitas vezes) que o comprador tem
com a pessoa do vendedor.
Basicamente, esse é o cliente externo que não compra da nossa empresa, mas sim de uma concorrente.
A soma dos clientes externos com os clientes da concorrência forma a massa de clientes ativos
compreendida como mercado atual.
Para Silva e Zambon (2015), conhecer o número de clientes externos que uma organização
tem em relação ao número de clientes disponíveis no mercado atual determina o seu percentual
de participação de mercado (quanto do mercado a empresa atende e quando está nas mãos das
empresas concorrentes).
De certa forma, o cliente da concorrência é o cliente que as organizações querem para si, e, se por
algum motivo ele prefere fazer negócio com outro vendedor (o concorrente), cabe à empresa contornar
a situação para conquistar esse cliente.
Embora possa parecer estranho falar de cliente lucrativo, esse é um assunto muito recorrente nas
organizações bem gerenciadas, isso porque é clara a constatação de que, para certos negócios, certos
clientes não só não dão lucro como podem até mesmo gerar prejuízo.
De acordo com Kotler e Keller (2018), o cliente lucrativo é a pessoa, residência ou organização que,
ao longo do tempo, rende um fluxo de receita que excede por margem aceitável o fluxo de custos de
atração, venda e atendimento da empresa relativo a ele.
17
Unidade I
Observação
Então o que é um cliente? Certamente, a resposta já está na ponta da sua língua: é a pessoa mais
importante para o negócio, é por ele e graças a ele que as organizações existem, e é ele sua finalidade.
Sendo assim, há algumas reflexões importantes (KOTLER, 2000) que você deve fazer sobre o cliente:
• ele é uma pessoa que traz seus desejos e dá à empresa a chance de atendê-los;
• ele é a “pessoa mais importante do mundo nesse negócio”, e é necessário fazer todo o possível para
ouvir o que ele tem a dizer, para comunicar-se bem com ele, quer ele se comunique pessoalmente,
por carta, e-mail, chat etc.
• ninguém está fazendo um favor em atender (servir) o cliente, é ele que está fazendo um favor,
dando à organização a oportunidade de atendê-lo;
• ele não é alguém com quem discutir ou debater – ninguém jamais venceu uma discussão com
um cliente.
Essa última frase é particularmente importante, pois discutir com um cliente pode significar
perdê‑lo. Por isso, mesmo quando o cliente está errado, não adianta discutir com ele. O importante é
atendê‑lo bem, explicar o equívoco, mostrar que o que ele quer (ou como ele vê o fato) é improcedente,
mas isso sempre de maneira gentil, cordial e clara.
Existem profissionais que levam a relação com os clientes para o lado pessoal, especialmente
quando os clientes estão irritados com algo que a empresa fez, e em geral tais profissionais erram
ao se esquecerem de que sua função é buscar uma solução viável. Ninguém ganhará nada se o
funcionário retaliar muito severamente os argumentos do cliente, ou pior, se fizer isso de forma
inadequada (ríspida, por exemplo).
18
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
De acordo com Kotler (2000), o marketing pode ser entendido como um processo social por meio
do qual pessoas e grupos buscam obter aquilo de que necessitam e o que elas desejam com a aquisição,
oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outras pessoas e organizações.
Para Kotler e Keller (2018), o composto de marketing, também conhecido como mix de marketing,
ou, no inglês, marketing mix, ou simplesmente “4Ps”, representativos das siglas de conteúdo (produto,
preço, praça e promoção), pode ser entendido como o conjunto de ferramentas de marketing que as
organizações utilizam para atingir seus objetivos comerciais, entre outros.
Os 4Ps organizam a visão de como cada empresa vendedora deve, por meio da utilização das
ferramentas de marketing disponíveis, agir para influenciar compradores e potenciais compradores.
Conhecendo cada um dos Ps, a empresa pode buscar saber como agir para relacionar-se assertivamente
com cada cliente ou grupo de clientes. Ela busca ter o produto certo, para o cliente certo, na hora
certa, com o preço certo e nas condições comunicacionais certas.
4Ps 4Cs
Cliente (solução para o
Produto cliente)
Preço Custo (para o cliente)
Praça Conveniência
Promoção Comunicação
O foco do marketing é o cliente, por isso é preciso tanto proporcionar conveniência ao cliente como
comunicá-la sempre ao menor custo possível para não sobrecarregar o orçamento dele.
19
Unidade I
Os 4Cs servem para demonstrar que toda medida de uma organização (com ou sem fins lucrativos)
está ligada aos clientes e/ou consumidores que atende ou busca atender.
Lembrete
É interessante lembrar que os clientes também têm em mente que os produtos que compram
facilitam suas vidas, solucionam problemas cotidianos etc. e que, não fossem as empresas, o acesso a
tais produtos seria quase impossível.
Há uma frase que diz: “Não há pior cliente do que cliente nenhum”. Ela promove o entendimento
de que é melhor ter todos os piores clientes do que não ter cliente algum, pois, sem eles, não
existe organização.
Cliente
Conveniência
Comunicação
Custo
Necessidades e
Produtos / serviços desejos dos
clientes
Saiba mais
20
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
O primeiro passo de uma relação madura entre organizações e cliente é justamente compreender
que eles – os clientes – são a razão de ser de qualquer negócio. Sem clientes não existe empresa,
empregos decorrentes, salários, pesquisa, desenvolvimento de produtos etc.
Ter o cliente como centro das iniciativas significa ter consciência da importância dele e de mantê-lo
ao longo do tempo, além disso também demonstra que os gestores e a organização como um todo estão
concentrados em fazer o melhor para o mercado consumidor. Isso é tão importante que, geralmente,
não só é notado como também é transmitido pelos clientes a outras pessoas.
Um exemplo do qual podemos falar é da americana Apple, a qual, em geral, é compreendida por seus
clientes como concentrada neles e capaz de oferecer soluções para seu dia a dia. Eles acreditam que a
empresa busca proporcionar o melhor que há em seu segmento (a ponto de a Apple não ser apressada
para lançar produtos antes que estejam funcionando exatamente como ela espera) e que providencia
um excelente serviço de substituição ou reparo (mundialmente respeitado). Assim, a Apple consegue
que seus clientes se sintam valorizados.
Talvez pareça algo óbvio dizer que as organizações se concentrem no atendimento das expectativas
dos clientes, tanto quanto parece uma obviedade afirmar que elas devem se preocupar com a questão da
qualidade daquilo que fazem, só que isso nem sempre foi assim – e, por incrível que pareça, até os dias de
hoje, ao que tudo indica, ainda há organizações que preferem não dar a devida atenção ao seu público-alvo.
Os clientes precisam perceber os esforços e as ações da organização quando ela age para oferecer‑lhes
mais qualidade e valor. Embora a qualidade seja um conceito com múltiplas interpretações, na visão
clicêntrica, o que importa é o que os clientes entendem como sendo qualidade, e o que dela decorre de
valor. Por exemplo, a qualidade tanto pode estar no produto (aspectos físicos e de design) quanto na
percepção da marca (projeção e status).
O professor e autor Marco Cesar Goldbarg, ao publicar o livro Qualidade substantiva, esclarece que
o movimento de qualidade pode ser dividido em ondas:
• a primeira onda da qualidade surgiu no final da década de 1950, centrada no controle de qualidade;
• a segunda onda da qualidade deu seus primeiros passos na década de 1970, centrada no cliente.
21
Unidade I
Estudar as ondas da qualidade traz clareza para as organizações e colabora para que elas percebam
estar ou não no caminho certo no tocante às vantagens do desenvolvimento de relacionamentos
duradouros e mutuamente vantajosos (para clientes e organizações).
Em outras palavras, a qualidade remete para o fato de haver, para os produtos e serviços, uma
visão técnica (estruturada e desenvolvida pela indústria por determinadas especificações metódicas ou
técnicas – do que é qualidade de um produto) e a visão do cliente (reconhecimento do que ele pensa
“ser de qualidade” ou “ter qualidade”, variando de pessoa para pessoa e não sendo necessariamente
regulado pela técnica).
22
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
A primeira onda da qualidade se notabilizou pela mentalidade voltada para a prática de técnicas e o uso
de ferramentas que permitissem muita higidez do tecido organizacional aplicado ao processo produtivo,
uma busca incessante de produzir os itens exatamente de acordo com as normas preestabelecidas.
Para Goldbarg (2000), a conformidade visa a condição de se produzir exatamente aquilo que se
desejava produzir.
Para os clientes, a primeira onda da qualidade representou comprar produtos que, comprados hoje
ou daqui um ano, teriam, por exemplo, as mesmas e exatas características técnicas, conferindo a eles
segurança e estabilidade temporal.
Por certo tempo, a busca pela conformidade (primeira onda da qualidade) foi suficiente como uma
resposta para as demandas de distinção sobre o que possui maior ou menor qualidade no cenário
econômico e de consumo, sobretudo em um período de pós-guerra. Contudo, com o tempo, a competição
entre as organizações foi tomando novas formas, a percepção dos clientes passou a ser mais valorizada,
e, de repente, a qualidade baseada em requisitos não mais parecia suficiente.
A visão do Controle da Qualidade Total (TQC) parecia primitiva quando analisada com base no
comportamento dos consumidores. Ele estava principalmente voltado para dentro da organização e
para a solução de problemas de racionalização da produção, e não para o mercado e principalmente
para o agente promotor de sucesso organizacional: o cliente.
Então, na década de 1970, surge uma silenciosa revolução na dimensão percebida da qualidade.
Nasce lentamente e sem alardes uma nova figura de comprador, cada vez menos consumidor e mais
cliente. À medida que essa figura, o cliente, passou a demandar atenção, e não somente produtos
adequados a certas necessidades, a situação foi se complicando para o produtor de bens que não olhava
para fora da fábrica (que se mantinha preso às conformidade sem considerar que a conformidade de
algo tem como público alguém, um indivíduo que, agora, passara a querer mais).
Surge então um novo padrão de exigência e expectativas dos compradores (consumires ou não):
• passa a caber ao cliente, e não a um setor técnico, definir o que vem a ser qualidade;
• o cliente pode até não ter sempre razão, mas ele deve ser sempre ouvido;
23
Unidade I
• fica evidente que é muito mais barato preservar um cliente antigo do que buscar um cliente novo
no mercado‑alvo;
• e claro, como a essa altura já seria de se esperar, percebe-se que um bom cliente é bem mais raro
que um bom produto.
O antigo entendimento sobre o conceito e aplicação de qualidade, pouco a pouco, vai se tornando
insuficiente e até inadequado para proporcionar uma solução ao problema da sobrevivência organizacional
e para responder às novas características comportamentais dos clientes.
Goldbarg (2000) afirma que, na definição de qualidade, tanto o produto como o processo de atendimento
estão contemplados e, com isso, a satisfação do cliente é realizada pela ausência de defeitos ou atributos
negativos e pela presença de atributos positivos ou utilidade do produto ou serviço oferecido.
Os consumidores passaram a desejar facilidade de acesso aos produtos e informações sobre eles,
comparação entre produtos similares, diferentes formas de pagamento e crédito, reconhecimento da
marca, conduta organizacional ética etc.
Observação
24
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Entre as tantas formas de compreender os clientes, há mais uma da qual falaremos aqui agora: o
cliente como pessoa ou organização que desempenha um papel na consumação de uma transação com
outras organizações ou pessoas. Em muitos casos, para que a consumação seja possível, é necessário que
profissionais de comunicação e marketing tenham atuado de forma a promover os produtos e serviços a
ponto de o cliente conhecê-los e reconhecer a sua capacidade de solucionar algum tipo de necessidade
ou desejo que o cliente tenha.
Por sua vez, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), o termo consumidor tem sido usado para se
referir apenas aos mercados de bens de consumo, já o termo correspondente para o mercado industrial
tem sido cliente. Porém, lembre-se de que, por definição, consumidor é quem consome, também
entendido como cliente final, já os clientes tendem a ser aqueles ligados ao processo de relacionamento
(como compradores, pagantes ou usuários, em caso de empresas).
Logo, o cliente e o consumidor podem ser a mesma pessoa, mas também podem não ser, como no
exemplo da situação de um homem que vai ao supermercado para comprar iogurte para o seu filho e
paga o produto com o cartão de crédito da sua esposa. Considerando essa situação, responda: quem é o
cliente (em relação ao supermercado) e quem é o consumidor (em relação ao produto)?
A resposta é: o pai é o cliente, por ativar o processo de negociação para a aquisição do produto
iogurte (resumo do processo: ir ao supermercado, identificar o produto, passar no checkout, pagar,
embalar, voltar para casa). Por sua vez, o filho, que vai consumir o iogurte, será identificado como o
consumidor do produto (sendo, neste caso, o mesmo que cliente final).
Qual a importância de saber esse tipo de diferenciação entre cliente, consumidor etc.? Esse
tipo de diferenciação serve principalmente para descrever de modo correto um planejamento
estratégico de marketing com relação a quem se direciona à campanha (aos clientes ou
consumidores), que tipo de comunicação deverá ser utilizada, dentre outros fatores. Lembre-se
de que campanhas de vendas às vezes são produzidas para consumidores, às vezes, para clientes.
No caso de uma propaganda para vender iogurte, é importante levar em consideração que a criança
precisa ter interesse no produto e pedir para os pais que o comprem, porém, é igualmente importante
que a imagem do produto seja adequada a ponto de não haver impedimento ou restrições por parte
dos pais para a compra. Com isso, fica claro que não basta convencer apenas os consumidores, é preciso
deixar satisfeitos também os clientes (compradores, pagantes).
Mais um exemplo interessante é o das propagandas televisivas de brinquedos infantis, que podem ter
dois focos distintos: a criança potencial consumidora do produto e/ou os pais, potenciais compradores
(pagantes). Para cada um deles, a propaganda apresentará um tipo de direcionamento ou orientação,
pois a linguagem que atinge cada um dos públicos é diferente, os objetivos também são distintos,
contudo, uma propaganda não pode afetar negativamente nenhum dos envolvidos (pais e crianças).
25
Unidade I
Além disso, não se pode perder de vista que clientes apresentam preferências, interesses e motivações,
e, quanto mais capazes de compreender o comportamento dos clientes forem os gestores e profissionais
de comunicação e marketing, por exemplo, sabendo como falar com eles e como atendê-los, maiores
serão as chances de obter sucesso.
De acordo com Steinman, Murphy e Mehta (2017), é mais fácil atingir o sucesso do negócio
quando a organização está comprometida com o sucesso dos clientes. Silva e Zambon (2015) apontam
que compreender o comportamento do cliente e comprometer-se em fazer o melhor para cada
cliente é o caminho para o processo de relacionamento eficiente e duradouro, o que Zanone (2019)
corrobora ao explicar a importância do marketing de relacionamento nas tecnologias voltadas para
saber mais sobre os clientes e com eles criar e manter relacionamentos mutuamente vantajosos.
Solomon (2002) explica que, em seus estágios iniciais de desenvolvimento, a atual área de estudo
denominada comportamento do consumidor era chamada de comportamento do comprador, o
que refletia uma ênfase na interação entre consumidores e produtores no momento da compra.
Em outros termos, o principal objeto de atenção era o processo de compra e as ocorrências
comportamentais presentes nele.
O processo de troca, uma transação em que duas ou mais organizações ou pessoas dão e recebem algo
de valor, é uma parte integrante do marketing e passou a receber muita atenção nas últimas décadas.
Então, embora a troca continue sendo uma parte importante do comportamento do consumidor, a visão
mais abrangente em voga dá ênfase ao processo de consumo, o que inclui as questões que influenciam
o consumidor antes, durante e depois da compra, afinal, elas podem ter força o suficiente para interferir
positiva ou negativamente em compras futuras, por exemplo.
26
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Veja a figura apresentada a seguir. Ela ilustra algumas das questões abordadas durante cada estágio
no processo de consumo.
Perspectiva do consumidor Perspectiva dos profissionais
de marketing
É muito comum pensar no consumidor como uma pessoa que: identifica uma necessidade
ou desejo pessoal, faz uma compra relativa a essa identificação, então, detém e experiencia o
produto. Assim entendem-se os três estágios do processo de compra-consumo: pré-compra,
compra e pós-compra.
Em muitos casos, no entanto, diferentes pessoas podem estar envolvidas nessa sequência de eventos.
O comprador e o usuário de um produto podem não ser a mesma pessoa, como quando um pai escolhe
roupas para um adolescente (e faz escolhas que podem resultar em um “suicídio da moda” na visão
do adolescente).
Em outro exemplo, uma outra pessoa pode agir como influenciadora, fazendo comentários a favor
de certos produtos ou contra eles sem realmente comprá-los ou usá-los.
27
Unidade I
Mais um exemplo é o caso de alguém que faz uma careta para um amigo quando ele experimenta
uma calça numa loja, entregando a clara sensação de reprovação do produto. Essa careta possivelmente
será determinante na decisão do potencial comprador, levando-o a desistir da compra.
A reprovação social dos amigos é algo indesejado, portanto, diante desse risco, muitos clientes
preferem deixar de comprar a sofrer com comentários como: “que coisa feia é aquela que ele está
usando”, “nossa, não tem nada a ver com ele” etc.
Os consumidores também podem ser identificados como grupos ou mesmo organizações. Uma ou
algumas pessoas podem tomar decisões envolvidas na compra de produtos que serão utilizados por
muitas outras pessoas, como quando um encarregado de compras encomenda material de escritório
para a empresa e manda comprar grampeadores na cor verde-limão para todos os novos funcionários
do setor (a decisão não passa despercebida).
Em outras situações organizacionais não tão comuns, as decisões de compra podem ser tomadas
por um grande número de pessoas, por exemplo, diversos contadores, designers, engenheiros, equipes
de vendas, dentre outros, podem se reunir para decidir sobre algo a ser comprado ou feito. O problema,
nesse caso, é: todos eles podem ter algo a dizer nos vários estágios do processo de consumo, o que pode
torná-lo estressante e desagradável.
Enfim, é importante saber que sempre podem surgir novas e diferentes formas de relacionar
uma ou mais pessoas ao comportamento de compra e consumo. Uma decorrência disso é que o
comportamento pode se transformar conforme se dá a interação de muitas pessoas num processo
decisório. Nesse caso, afloram situações e comentários que tanto podem ser favoráveis como
desfavoráveis, e cujos efeitos podem ser agradáveis ou desagradáveis. Caso sejam desagradáveis,
expectativas negativas podem se formar e provocar reações de desconforto mediante a simples
possibilidade de a situação se repetir. E isso é importante porque a experiência de compra precisa e
consumo, em geral, precisa ser aprazível, do contrário, não apenas o comportamento de compra pode
ser afetado pela experiência negativa como pode surgir uma predisposição para esquivar-se daquela
situação, inclusive evitando o consumo do bem.
Segundo Silva e Zambon (2015), ainda hoje, muitas empresas tradicionais são estruturadas com
base em departamentos que tendem a se concentrar quase que exclusivamente no que realizam, sem se
preocuparem com o que acontece nas outras áreas. Contudo, o mesmo não acontece com organizações
mais modernas e mais atentas ao público-alvo, que buscam estruturar seus processos como modo de
atender às necessidades dos clientes (externos e internos) e acompanhar rigorosamente o surgimento
e/ou encerramento de demandas.
Como exemplo, lembre-se de que o mercado brasileiro é marcado pela possibilidade concedida
aos compradores de fazerem suas compras parceladas em muitas vezes no cartão de crédito, sem
acréscimo de juros, prática muito rara fora do Brasil. Embora isso seja fruto de diversos fatores de
natureza social e econômica, fica claro que se refere a uma forma de vender para os brasileiros e
que, para as organizações verem aumentadas as suas chances de crescimento no território nacional,
precisam se adaptar a essa condição, adaptação essa que passa rigorosamente por processos de
prestação de serviços e por suas condicionantes gerenciais, inclusive financeiras e contábeis.
3.4 Algumas definições importantes relativas aos clientes, como início e fim
dos processos organizacionais
Todas as definições com as quais trabalharemos a seguir foram baseadas no glossário dos critérios
de excelência da FNQ (2006), todas amplamente aceitas e compreendidas.
3.4.1 Processos
Os recursos podem incluir pessoal, finanças, instalações, equipamentos, métodos e técnicas, numa
sequência de etapas e ações sistemáticas. O processo poderá exigir que a sequência de etapas seja
documentada por meio de especificações, de procedimentos e de instruções de trabalho, e que as etapas
de medição e controle sejam adequadamente definidas.
Referem-se aos processos diretamente relacionados à criação de valor para os clientes. Estão
associados tanto à manufatura de bens como à prestação de serviços necessários para atender as
necessidades dos clientes e da sociedade.
29
Unidade I
Refere-se aos sistemas que dão suporte aos processos relativos ao produto (projeto, produção e
entrega de produtos) e que são usualmente projetados em função de necessidades relacionadas à
estrutura e aos fatores internos à organização.
3.4.4 Produto
• o termo produto pode incluir serviços, materiais e equipamentos, informações ou uma combinação
desses elementos;
• um produto pode ser tangível (por exemplo, equipamentos ou materiais) ou intangível (como
conhecimento), ou uma combinação dos dois;
• um produto pode ser intencional (como uma oferta aos clientes) ou não intencional (por
exemplo, um poluente de efeitos indesejáveis).
A seguir será apresentado o mapa de negócio como retrato de um processo organizacional. Esse
mapa é extremamente útil para compreender o encadeamento dos processos organizacionais.
Leia-o com atenção, procurando interpretar as relações entre cada um dos indicadores numéricos,
bem como a interdependência entre os itens.
30
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
4A
1 2 3 4 5 6 7 8
4B
processo de apoio
produto de
Resultado/
Processos
de apoio
9 10
O mesmo ocorre quando as pessoas aprendem a dirigir, ou seja, há um conjunto de variáveis, processos
específicos e inerentes ao ato de dirigir, bem como o conhecimento e o respeito às leis de trânsito.
Projetar é planejar todos os aspectos daquilo que vai ser produzido (formato, cor, tamanho, funções,
embalagem, desempenho etc.). A regra geral que se admite é que, pensando-se em clientes externos,
um produto terá mais chances de ter sucesso no mercado se for elaborado a partir das necessidades dos
clientes que se deseja atender.
31
Unidade I
Uma coisa é uma empresa identificar necessidades não atendidas e desenvolver produtos (bens ou
serviços) que possam atendê-las, outra bem diferente é criar algo para só então verificar se existem
clientes para o produto. O sucesso é mais facilmente alcançado no primeiro caso do que no segundo.
Exemplo de aplicação
Procure investigar o volume de novos produtos lançados a cada ano no mercado e que não têm
sucesso. Averigue se os responsáveis por lançamentos malsucedidos identificaram previamente os
clientes que desejariam atender e quais suas respectivas necessidades – é muito provável que não o
tenham feito.
Esse passo envolve planejar como fazer o produto (bem ou serviço). Define os recursos necessários
(mão de obra, matérias-primas, equipamentos etc.) e a sequência das atividades necessárias para
a produção.
Observação
A discussão que tivemos até este ponto parece ser suficiente para sugerir que um bom processo
deve começar com um projeto, cujo produto deve estar baseado nas necessidades de clientes que
se deseja atender.
Em outras palavras, um bom processo deve começar a partir das necessidades dos clientes (e não
das necessidades da organização). Um processo somente terá sentido se dele surgirem produtos que
atendam às necessidades dos clientes e consumidores, o que leva a crer que os clientes se constituem
como a finalidade de quaisquer processos.
Lembrete
32
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Organizações eficazes conhecem o seu papel: o que fazem, para quem fazem e, sobretudo, por que
existem (as demandas dos clientes).
Entre as justificativas de se estudar o cliente como início e fim dos processos organizacionais,
destaca-se o fato de que, quanto mais se conhece cada cliente ou grupos de clientes, maiores são
as chances de se realizarem atividades capazes de satisfazerem suas necessidades e seus desejos, o
que tende a proporcionar maior rentabilidade do processo total de negociação (lucro) para as partes
(organizações e clientes).
Os clientes tendem a retornar e a realizar novas compras nas organizações que os atendem com
coerência, prontidão, exatidão, gentileza etc. Isso equivale a dizer que “o produto e/ou serviço certo,
no lugar certo, pelo preço certo, com a negociação certa, com a entrega certa [...]” é valorizado pelos
clientes (sejam eles consumidores ou não). Tão mais fácil será bem atender quanto melhores forem os
processos organizacionais.
Observação
Entre as mais importantes atividades que os gestores, profissionais de marketing e todos aqueles
que desenvolvem produtos e serviços para serem comercializados ao público devem realizar está a
atividade de conhecer, o mais profundamente possível, qual (ou quais) é o seu público-alvo (os
destinatários do negócio). Distinguir os grupos de consumidores, quais suas características de consumo
e as particularidades de cada público-alvo pode interferir no comportamento de compra e consumo.
33
Unidade I
As variáveis para a realização da segmentação de mercado devem ser entendidas com clareza
para que esse processo seja feito com sucesso. Contudo, para consegui-lo, é preciso compreender a
diferenciação, ou seja, o modo pelo qual os gestores –profissionais de administração e de marketing –
fazem suas ofertas de forma diferente da concorrência.
No contexto de uma grande e crescente quantidade de dados sobre os clientes, muitos dos quais
em formato digital, é preciso esclarecer que uma das grandes vantagens do registro digital e de seu
processamento para a segmentação é a aceleração do levantamento de informações relevantes: os
gestores podem saber mais rapidamente sobre os grupos de clientes atingidos, seu comportamento e
suas reações a ofertas por exemplo (ocorre a associação da segmentação de mercado com a pesquisa
de marketing). Nesse sentido, processar os dados para a geração de informações pertinentes, por
agruparem, por exemplo, variáveis de interesse sobre o comportamento dos clientes, pode ajudar na
compreensão de como eles tenderão a reagir a uma oferta no futuro e a decidir quais ofertas tendem a
ser mais assertivas para cada tipo de público.
A segmentação de mercado é usualmente considerada uma das ferramentas mais importantes entre
as que o marketing utiliza. Ela começou a projetar-se no meio acadêmico e no gerencial a partir da
segunda metade do século passado, quando surgiram os trabalhos de Wendell Smith (1956) e de Engel,
Fiorillo e Cayley (1972).
Os objetivos que motivaram os estudos sobre segmentação eram bastante claros. Diante da
impossibilidade de atingir todos os consumidores (devido à heterogeneidade de suas necessidades, dos
seus valores pessoais, da sua dispersão geográfica, de seu gênero ou de padrões culturais), as organizações
passaram a reconhecer a importância do direcionamento de esforços para conhecer o processo de
agrupamento (formação de grupos) de clientes, cujas características previamente selecionadas eram
identificadas e analisadas, tornando possível encontrar semelhantes entre si de modo a separar os
clientes em grupos específicos de interesse.
Em outros termos, os clientes passaram a ser agrupados por características que demonstram
semelhanças relevantes entre eles a ponto de ser possível estabelecer um certo grupo com base em
similaridades em termos comportamentais ou etários na hora de realizar uma determinada compra. O
uso dos conhecimentos de segmentação tornou possível saber, por exemplo, que:
• homens da mesma faixa etária e com mesmo perfil de renda tendem a desejar um certo
tipo de produto;
• mulheres jovens que almejam se casar tendem a valorizar a escolha do vestido de noiva;
34
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
• crianças são muito motivadas pela imagem do produto na propaganda televisiva, especialmente
quando há outras crianças brincando com o produto;
• as motivações pela compra de produtos podem ser diferentes ao longo da vida, pessoas mais
jovens e pessoas mais velhas, muitas vezes, apresentam diferentes motivos que consubstanciam a
decisão de compra.
Sendo assim, de acordo com Parente (2000), a segmentação torna possível realizar a fragmentação do
mercado total em inúmeros micromercados, cada qual englobando consumidores com particularidades
que os fazem semelhantes em termos de atitudes, comportamentos, valores, localização, etnia, sexo, uso
e emprego dos produtos.
O assunto segmentação foi abordado cientificamente pela primeira vez no Brasil em 1972, numa
tese de doutoramento de Geraldo L. Toledo, da Universidade de São Paulo. A partir daí, as atenções para
a segmentação aumentaram rápida e significativamente, tanto que, já em 1991, ela foi definitivamente
incorporada nas opções estratégicas das organizações brasileiras, especialmente com a publicação da obra
de Richers e Lima (Segmentação: opções estratégicas para o mercado brasileiro). Desde então, o estudo
e a aplicação do processo de segmentação tornaram-se praticamente automáticos e fundamentais para
a maioria dos negócios, sobretudo no tocante às suas estratégias de direcionamento de esforços de
comunicação e vendas para cada tipo de público.
Ficou evidente que o sucesso de um negócio depende da assertividade da comunicação com o seu
público-alvo e que fazer propagandas generalistas (falar de tudo para todo mundo) mais representa
perder dinheiro do que ter foco em retorno sobre o investimento mercadológico.
Os autores Churchill Jr. e Peter (2010) explicam que, como uma forma de aplicação prática em
marketing, a estratégia de segmentação consiste na utilização do marketing diferenciado: identificação
do público e distinção dos produtos e da comunicação para cada público. Assim, as ações de marketing
devem ser projetadas especificamente para clientes previamente agrupados num segmento alvo. A
interpretação mais simples e correta disso é: fale a coisa certa para o público certo.
Os executivos então dobraram o tamanho da companhia por meio de uma estratégia que envolve
basicamente dois pontos: segmentação de mercado e foco na venda de serviços mais sofisticados com
35
Unidade I
a meta de aumentar o valor médio de venda por cliente. A Amex repetiu essa fórmula por cerca de oito
anos e, nesse período, cresceu muito mais do que a média do seu mercado.
Para Silva e Zambon (2015), quando a organização adota a perspectiva do marketing de segmento,
decide atender grupos de clientes que têm entre si algumas (ou muitas) características em comum,
com produtos e serviços dirigidos a esses públicos, o que aumenta as chances de maior retorno sobre o
investimento, dado que o recurso empregado destinou-se adequadamente ao público certo.
Boa parte das empresas investem elevadas somas para identificar esses grupos e suas preferências,
para elaborar produtos que agradem a média dos clientes, portanto, se a empresa conhece os grupos de
clientes que atende, então deve comunicar-se de modo específico com cada um deles.
Para Dias (2003), surgem algumas questões que ajudam a compreender o significado e o potencial da
segmentação de mercado à luz do interesse organizacional, especialmente quanto aos produtos que a organização
pode oferecer. Entre as questões propostas pelo autor e que, segundo ele, devem ser sempre feitas, estão:
• Quem pode estar interessado em receber os benefícios que o produto (ou serviço) oferece?
Além dessas questões, algumas outras podem fazer com que se saiba ainda mais sobre os clientes
potenciais e/ou ativos. São elas:
Portanto, de acordo com Silva e Zambon (2015) e Dias (2003), a segmentação de mercado é
o processo de dividir o mercado em grupos de consumidores potenciais com necessidades e/ou
características semelhantes e que provavelmente terão comportamentos de compras semelhantes.
Churchill e Peter (2010) explicam a segmentação de mercado da seguinte forma: ela é o processo
de dividir um mercado em grupos de compradores potenciais com necessidades, desejos, percepções de
valores ou comportamentos de compra semelhantes. Essa visão corresponde então a dizer que cabe à
organização saber como agrupar os seus clientes em função de suas características de consumo de tal
forma que seja mais fácil comunicar-se e vender para eles.
36
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Esse entendimento ajuda a compreender o porquê de existirem empresas voltadas para públicos bem
específicos, por exemplo:
• Casas Bahia: especialmente voltada para compradores de baixa renda que parcelam as compras e
valorizam pagar por meio de carnês;
• Fast Shop: direcionada a um público mais financeiramente abastado e que prefere o contato com
lojas físicas mais tradicionais e um site mais sofisticado.
Os exemplos apresentados não são representam limites de mercado, ou seja, não querem dizer que
pessoas ricas compram apenas na Fast Shop, tampouco que não comprem nas Casas Bahia. Porém, sem
sombra de dúvida, querem dizer que as duas empresas sabem se comunicar mais adequadamente com
o seu público-alvo especifico (padrão) e que, em geral, o público das Casas Bahia é um e o da Fast Shop
é outro, o que justamente dá força ao resultado de vendas para cada uma das empresas.
A aplicação prática da segmentação requer competente visão estratégica, que considera o perfil da
organização e o perfil de seus clientes ou grupos de clientes, orientada para alcançar as expectativas
tanto dos clientes como da organização.
Dias (2003) nos oferece um interessante resumo dos tipos ou formas de segmentação de mercado:
Segmentação demográfica É o processo de identificar segmentos de mercado com base nas características da
população (faixa etária, sexo, estado civil etc.)
Segmentação geográfica É o processo de identificar segmentos de mercado com base em critérios geográficos,
como localização e densidade populacional
É o processo de identificar segmentos de mercado com base nas características
Segmentação socioeconômica sociais e econômicas da população, como renda, posse de bens, escolaridade,
classe social e ocupação profissional
Segmentação por benefícios É o processo de identificar segmentos de mercado com base nos benefícios
procurados pelos clientes (status, desempenho etc.)
Segmentação por grau de utilização É o processo de identificar segmentos de mercado com base no nível de consumo
É o processo de identificar segmentos de mercado com base no modo como as
Segmentação psicográfica pessoas pensam (autoconceito, personalidade, valores) e conduzem suas vidas (estilo
de vida, atividades, interesses e opiniões)
37
Unidade I
Seguindo a mesma linha de raciocínio apresentada no quadro anterior, segue outra forma de explicar
a segmentação de mercado de clientes finais:
• Segmentação por demografia (KOTLER; KELLER, 2012; CHURCHILL JR.; PETER, 2010):
independentemente das unidades geográficas, o que importa são as características distintivas
básicas de grupos sociais. Assim, idade e ciclo de vida, tamanho da família, sexo, renda, ocupação,
grau de instrução, raça, geração, nacionalidade e classe social podem ser utilizados em conjunto ou
separadamente para entender as orientações atitudinais e comportamentais de grupos de clientes.
• Segmentação por benefício (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001; CHURCHILL JR.; PETER, 2000;
RICHERS; LIMA, 1991): essa variável consiste no agrupamento de clientes de acordo com os
benefícios que buscam nos produtos e serviços, como economia de tempo ou dinheiro, serviços
agregados, funcionalidade, enfim, os motivos básicos pelos quais os clientes são atraídos por
diferentes ofertas.
• Segmentação por psicografia (KOTLER; KELLER, 2012; SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001): os
compradores são separados em grupos com base em seu estilo de vida, personalidade, valores e
envolvimento com o produto – ou seja, características psicológicas. Churchill Jr. e Peter (2000)
apontam como critérios de classificação psicográfica a necessidade de investigar os clientes de
acordo com sua auto-orientação (seus princípios, status e ação) e seus recursos (renda, instrução,
autoconfiança, saúde, desejo de comprar, inteligência e energia pessoal).
• Segmentação por comportamento (KOTLER; KELLER, 2012; CHURCHILL JR.; PETER, 2000): os
clientes podem ser agrupados de formas diferentes se a atenção do pesquisador de marketing se
voltar aos conhecimentos acumulados, à atitude do cliente, ao uso que ele faz dos produtos, às
ocasiões de consumo e a seu perfil de resposta. Os papéis de compra e a forma como são exercidos
podem afetar o comportamento do cliente. Além disso, dividi-los em função do nível de uso
(contumaz, mediano e leve) pode ajudar a estabelecer estratégias para a atração e retenção dos
clientes mais rentáveis.
Saiba mais
38
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
• O quê?
• Quem?
• Por quê?
Segmentação
por uso
O quê?
Segmentação
demográfica
Por quê?
Quem?
Segmentação
psicográfica
Veja a seguir um quadro explicativo das três bases para identificação de segmentos de mercado. O
objetivo do quadro é ajudar a entender por que tais perguntas são realmente fáceis de aplicar quando
no processo de segmentação de mercado.
39
Unidade I
Veja a seguir algumas das principais vantagens esperadas da segmentação de mercado para
as organizações com base no conhecimento que podem ter sobre os clientes que atendem (ou
desejam atender):
• É possível conhecer melhor cada cliente ou grupo de clientes, seu perfil e características.
• É possível cuidar melhor do tipo e da intensidade da distribuição dos produtos e serviços oferecidos.
As vantagens da segmentação são muitas, e elas são muito maiores do que o custo investido em
seu desenvolvimento e aplicação, ou seja, em geral o investimento em segmentação de mercado é
facilmente justificável, especialmente por causa das vantagens de conhecimento e de direcionamento
de recursos que a segmentação possibilita para o negócio.
Segmentar é conhecer melhor o mercado em que se atua ou se pretende atuar, é tornar-se mais ágil
para reagir às mudanças, em especial as de comportamento do consumidor e econômicas, portanto,
refere-se à capacidade de concentrar os esforços em grupos cujo potencial de retorno é mais elevado.
Para Ferrell e Hartline (2009), não basta segmentar as ações em função do público, a organização
precisa diferenciar-se de seus concorrentes.
A diferenciação requer estratégia de longo prazo, pois buscar fazer com que a empresa seja
reconhecida como diferente no mercado através de um bom planejamento da imagem que deseja ter.
Ademais, a diferenciação, além de pensar na criação da imagem, busca também mantê-la por um longo
período de tempo, contribuindo, assim, para uma construção de identidade de marca que seja estável e
duradoura para o mercado e para os clientes.
40
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Fazer ofertas de forma diferente implica criar e implementar o composto de marketing (produto,
preço, praça e promoção). Para diferenciar-se de seus concorrentes, segundo Sheth, Mittal e Newman
(2001), os profissionais de marketing e administração utilizam-se de três tipos de diferenciação: a
genérica, a focalizada e a segmentada. Veremos na sequência cada uma delas com mais cuidado.
A diferenciação genérica é compreendida como um tipo de diferenciação geral ou global, isso porque
o processo de diferenciação não é focalizado, ou seja, ele não tem como alvo nenhum grupo de clientes
especificamente. Assim, sua ação é genérica para os clientes em qualquer mercado.
A maior característica da diferenciação genérica, portanto, é que a organização faz a oferta de seus
produtos e serviços ao mercado sem a finalidade de atingir algum grupo específico, logo busca ser vista,
compreendida e aceita por todo o público (o que, na prática, quer dizer buscar ser aceita pelo maior
número de pessoas possível).
É importante ficar claro que esse tipo de diferenciação não é exatamente adequado para todas as
organizações; pelo contrário, organizações capazes de falar diretamente com o seu público-alvo não
devem utilizar a diferenciação genérica, ou em geral não vão fazê-lo, isso porque ela é mais adequada
para aqueles que conseguem mostrar seus produtos, serviços e marcas como superiores aos concorrentes
diretos e em uma condição na qual a organização atende um grupo muito amplo e diversificado de
clientes (o que, na prática, dificulta a comunicação focalizada).
41
Unidade I
A diferenciação segmentada faz com que o uso dos meios e técnicas de marketing, especialmente
o composto de marketing (4Ps), seja diferente entre os segmentos, pois, dado que as características de
cada um dos segmentos de mercado são diferentes, também o serão as ações para cada um deles.
Resumo
42
ADMINISTRAÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Exercícios
Eu vou ao supermercado para comprar iogurte para o meu filho e pago o produto com o
cartão de crédito da minha esposa.
A) A sentença diz respeito ao influenciador que adquire um produto para o consumidor e que utiliza
o meio de pagamento do usuário.
E) A sentença diz respeito ao processo de compra, em que consumidor e usuário estão devidamente
designados.
Análise da questão
Na sentença em exame: o cliente, que desempenha o papel de comprador, é o pai; quem consome
o produto é o filho (consumidor); quem paga pelo produto adquirido é a esposa (titular do cartão de
crédito utilizado).
Questão 2. Segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), são três as bases para identificar segmentos
em qualquer mercado‑alvo, que podem ser resumidas nas perguntas a seguir:
• O quê?
• Quem?
• Por quê?
43
Unidade I
I - A pergunta “O quê?”, ou segmentação por uso, faz referência aos motivos pelos quais os clientes
se comportam da maneira como o fazem; esses motivos são encontrados nos benefícios que eles
buscam em um produto.
III - A pergunta “Por quê?”, ou segmentação psicográfica, relaciona-se com a divisão dos clientes de
acordo com a quantidade que consomem, a frequência ou a repetição das compras.
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.
Análise da questão
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a segmentação por uso (pergunta “O quê?”) relaciona-se com a divisão dos clientes
segundo a quantidade e a frequência com que consomem.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a segmentação psicográfica (pergunta “Por quê?”) relaciona-se com os motivos pelos
quais os clientes se comportam da maneira como o fazem; esses motivos são encontrados nos benefícios
que os clientes buscam num produto.
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ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Unidade II
5 ATRIBUTOS VALORIZADOS PELOS CLIENTES
Quando os clientes buscam fazer compras e/ou o consumir, seja em contexto tradicional ou virtual
(digital) produtos e serviços, eles revelam aspectos como necessidades, desejos e/ou expectativas que,
de alguma forma, podem ser identificadas e atendidas pelas organizações. E é justamente por isso que
conhecer os clientes é o caminho para oferecer a eles atributos que valorizam, fortalecendo sua relação
com os produtos, serviços e a marca da organização.
Buscar conhecer os clientes, objetivando saber o que buscam e o que valorizam e, claro, oferecendo
a eles o que atenderá suas demandas, é o caminho para torná-los mais próximos da organização e ela
deles, em outros termos, é o meio para o processo de fidelização.
Atualmente, e de acordo com as visões de Silva e Zambon (2015), Madruga (2018), Kotler e Keller
(2018), Lima (2012), Ferrell e Hartline (2009), é possível afirmar que os desejos ocupam muito da atenção
dos consumidores e dos clientes e interferem em seu comportamento de compras. Os desejos parecem
ser uma condição de importância crescente, ou seja, as vontades parecem ser sempre mais amplas e
mais detalhadas com o passar do tempo.
Por exemplo: é comum que as pessoas busquem alimentos cada vez mais requintados ou diferenciados,
ambientes de repouso cada vez melhores (camas mais versáteis, lençóis mais aconchegantes, colchões
mais confortáveis etc.), moradias cada vez mais amplas e confortáveis ou mais bem ajustadas ao seu
dia a dia, e meios de transporte cada vez mais rápidos, seguros e confortáveis, capazes de livrá-las de
trânsito excessivo e congestionamento.
45
Unidade II
O mesmo ocorre quando as pessoas buscam status vindouro da utilização de marcas mais sofisticadas.
O comum é que, quanto mais bem-sucedidas as pessoas ficam, mais desejam investir em marcas mais
caras e com maior poder de posicionamento social sofisticado e diferenciado, o que é notado pelo
aumento da disposição em pagar mais pelas mais reconhecidas em mercados de luxo.
• uma necessidade é uma condição insatisfatória de um cliente, que o leva a uma ação que tornará
essa condição melhor.
• um desejo é o afã de obter mais satisfação do que o absolutamente necessário para melhorar
uma condição insatisfatória.
Portanto, é possível compreender que a diferença entre uma necessidade e um desejo é que a
primeira nasce de um desconforto nas condições físicas e psicológicas, já o segundo ocorre quando e
porque os indivíduos querem levar suas condições físicas e psicológicas a um nível além do estado de
conforto mínimo.
Segundo Palmer (2006) e Kaplan (2006), a necessidade pode ser entendida como força fundamental
que leva o indivíduo a fazer algo (tomar uma providência), por exemplo, fazer uma compra, visando
eliminar a sensação de que lhe falta algo.
Em suma, os consumidores e os clientes fazem compras, ou seja, demandam produtos e serviços que
satisfaçam as suas necessidades ou seus desejos.
Lembrete
Como exemplo podemos mencionar os alimentos. As pessoas precisam comer, portanto, qualquer
alimento em condições nutricionais adequadas é capaz de atender a necessidade de estar nutrido.
Apesar disso, as pessoas geralmente requerem certos tipos específicos de comidas, o que nada tem a ver
com a necessidade de alimentação.
5.2 Expectativas
O conceito de expectativa tem a ver com aquilo que o cliente espera (no sentido de ter esperança)
de uma organização, de um produto ou de um serviço, o que faz referência a como o item deve ser
ou funcionar. Pode ainda estar relacionado a como o item exerce influência em seu meio social, por
exemplo, se é um produto de destaque e reconhecimento coletivo, ou, no extremo oposto, se é um item
discreto e que não chama a atenção de ninguém.
Imagine, por exemplo, a impressão causada pela utilização de itens reconhecidos, a impressão gerada
no meio social (profissional e de amigos) por alguém reconhecido como bem-sucedido, que utiliza
produtos de grifes famosas e sabidamente caras, como canetas, bolsas e malas Montblanc, mochilas
Tumi, camisas Empório Armani, meias Lacoste, sapatos Berluti. O mínimo que se imagina é que se trate
de uma pessoa com elevada renda e de bom gosto.
Imagine agora um outro caso: a expectativa de um paciente (cliente) que, ao realizar uma consulta
médica, espera receber um diagnóstico correto de seus males e a correta orientação sobre o tratamento
mais adequado a sua enfermidade. Dependendo da gravidade do seu problema, ele espera ser curado (se
isso for possível) ou ter seu sofrimento minimizado ao máximo.
Nos dois exemplos, a expectativa governa a percepção das pessoas, e pode determinar como vão
interagir com as condições de cada caso, quanto julgarão que vale a pena gastar para atingirem o que
esperam (reconhecimento) ou confiança de que o diagnóstico do médico será assertivo para solucionar
uma enfermidade (ou pelo menos minimizá-la).
Tal como o desejo, a expectativa também tende a ser crescente, ou seja, dependendo do momento da
vida de cada indivíduo envolvido, da sua condição de comprador, da relação que tem com a organização
(empresa), marca ou produto, maior ou menor poderá ser a expectativa sobre o item adquirido. Em
alguns casos, as expetativas crescem conforme as empresas anunciam que seus novos produtos são
melhores e mais capazes. Um cliente não espera que um novo produto, digamos, um XY-20, seja inferior
e menos capaz do que o seu antecessor, o XY-19, por exemplo.
É oportuno destacar que as expectativas não atingidas são fontes de desconfortos que podem
afastar o cliente ou grupos de clientes da organização, marca ou produto.
Para Kotler e Keller (2018), o que se sabe a respeito das expectativas é que elas normalmente são
formadas pelas promessas das mensagens de propaganda, pelas experiências anteriores de compra, pelas
indicações de outras pessoas, pela experiência com produtos ou serviços concorrentes, entre outros fatores.
Assim, por exemplo, quando alguém é bem atendido em um hotel, espera um atendimento do
mesmo nível em outro hotel de categoria similar; quem é bem atendido em um restaurante em uma
determinada ocasião, espera sê-lo novamente quando lá retornar; se for mais bem atendido ainda, sua
nova expectativa será a de que esse novo e melhor atendimento se repita sempre daí por diante; quem
vê um amigo satisfeito com a aquisição de determinado produto, esperará alcançar o mesmo grau de
satisfação se também adquiri-lo.
47
Unidade II
5.3 Atributos
Observação
De acordo com Albrecht (1997), todos os atributos podem ser requeridos quase que simultaneamente
em uma mesma transação ou momento. Contudo, essa hierarquia de valor não é estática, visto que um
atributo básico, em um dado momento, tende a se transformar em um atributo esperado, um esperado,
em um desejado e um desejado em um inesperado. Isso faz com que as organizações busquem saber, cada
vez mais, o que os clientes gostariam de ter ou receber, ainda que não saibam verbalizar esses desejos
com exatidão, para poder oferecer-lhes os atributos certos no momento e circunstâncias corretas.
Atributos
inesperados
Atributos
desejados
Atributos
esperados
Atributos
básicos
De acordo com o Albrecht (1997), a hierarquia de valor para o cliente apresenta quatro níveis ou
atributos (básicos, esperados, desejados e inesperados), sendo que cada um deles apresenta um grau de
exigência superior em relação ao anterior. No nível dos:
• atributos desejados, estão os atributos que o cliente não espera necessariamente, mas conhece
e aprecia se a experiência os incluir;
48
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
• atributos inesperados, estão os “atributos surpresa”, que adicionam valor para o cliente além
dos seus desejos e expectativas normais.
Outro aspecto importante sobre a hierarquia de valor é que ela pode ser aplicada tanto num contexto
tradicional como num contexto virtual.
Os desejos e as necessidades são condições crescentes, logo, tornam-se cada vez mais elaboradas
com o passar do tempo. Assim, ambos são bem representados pela hierarquia de valor para os clientes,
pois podem se tornar cada vez mais exigentes ou sofisticados conforme sua experiência.
Na abordagem de Albrecht (1997), o conceito de atributo é visto como um fator valorizado pelos
clientes na relação com os fornecedores de produtos e serviços. Por isso é muito importante que todos
os atributos sejam conhecidos e considerados por quem deseja construir um relacionamento de longo
prazo com os seus clientes.
Lembrete
O termo desejo tende a ser mais utilizado quando se verifica que o cliente espera algo a mais (afã
de ir além), já o termo expectativa tende a ser mais utilizado quando se trata de assuntos relacionados
à avaliação da diferença entre aquilo que era desejado e o que foi entregue.
5.4 Diferentes tipos e papéis dos clientes e sua relação com os desejos e
as necessidades
O fato de haver um conjunto de atributos comuns para vários aspectos valorizados pelos clientes não
significa que diferentes tipos de clientes (como final e intermediário, interno ou externo etc.) tenham
comportamento similar nos seus diferentes papéis de comprador, usuário e pagante.
Por exemplo, os atributos valorizados pelo responsável pelo setor de compras de uma empresa são ou
podem ser diferentes dos atributos valorizados por uma pessoa que é responsável por fazer as compras
rotineiras de sua família, como as realizadas em supermercados e lojas de roupas. Isso acontece porque
os motivos que levam à compra e as condições em que ela é feita são diferentes.
Observação
49
Unidade II
Nunca foi tão simples executar um processo de compra: a era digital trouxe consigo um verdadeiro
universo de possibilidades, meios e formas para que cada indivíduo possa tornar-se um comprador.
Lembrete
Em diversos casos, uma mesma pessoa pode exercer o papel de comprador, de usuário e de pagante,
como ocorre, por exemplo, com alguém que está com dor de cabeça e vai à farmácia comprar um analgésico
para uso próprio. Em outros casos, esses papéis podem ser exercidos por pessoas diferentes, como quando
uma mãe compra leite para seu filho, ela é compradora e pagante e o filho, o usuário (consumidor).
Já no caso de indústrias, o papel de comprador fica por conta do departamento de compras, o papel
de usuário fica com a linha de “produção” e o papel de pagante a cargo do departamento financeiro.
Independentemente de o papel de comprador ser executado por quem é usuário ou pagante (ou
não), o fato é que esse papel tem necessidades/desejos específicos e diferentes das necessidades/desejos
dos outros papéis desempenhados pelos clientes.
Necessidades
Necessidades Necessidades
e desejos dos
e desejos dos e desejos dos
usuários
compradores pagantes
(consumidores)
Figura 6
• Compradores de ONGs podem até valorizar aspectos técnicos para realizar suas compras
quando o assunto envolve, por exemplo, cuidar da saúde financeira da ONG. Entretanto, o mais
corriqueiro é valorizar aspectos como o comprometimento ambiental do fornecedor, fornecedores
que dão preferência a materiais recicláveis ou que tenham assumido causas socioambientais
como a preservação de matas, reflorestamento, resgate de animais silvestres, estudos de impactos
ambientais entre outros.
• Compradores do tipo pessoa física tendem a ser muito menos “frios” (técnicos) que os compradores
industriais, comerciais, agrícolas e governamentais. Para muitos desses “compradores”, fatores como
marca, facilidade de acesso, atendimento cordial, facilidade de estacionamento, variedade de produtos,
disposição dos produtos nas prateleiras, vitrines e embalagens tendem a influenciar muito mais suas
decisões de compra do que ocorre com os outros tipos de compradores. Para esse tipo de cliente
comprador, os diversos aspectos ambientais/sensoriais, interpessoais, bem como procedimentos,
informativos e entregas são muito relevantes têm grande peso no processo de escolha de um item.
51
Unidade II
Lembrete
Tais informações podem até mesmo modificar tanto a quantidade quanto forma de consumir, à
medida que certos atributos forem valorizados ou desvalorizados pelo consumidor.
É fundamental, portanto, que a organização compreenda o papel de usuário – como ele consome os
itens – para melhor relacionar-se com ele, especialmente porque o acesso às informações e comparações
sobre produtos e serviços estão a cliques de distância na internet, o que deixa cada vez menor a
possibilidade da margem de erros da organização.
Segundo Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 30), “o usuário é a pessoa que efetivamente consome ou
utiliza o produto ou recebe os benefícios do serviço”. Assim sendo, os hóspedes de um hotel são usuários
dos serviços de hospedagem (mesmo que não tenham sido eles próprios que tenham feito a reserva
ou o pagamento dos quartos); as pessoas vestidas são usuárias de suas roupas, sejam elas próprias ou
emprestadas; os proprietários de veículos normalmente são seus usuários; a pessoa que toma um táxi,
mesmo não sendo proprietária do veículo, é usuária do serviço; quem viaja de metrô é usuário desse tipo
de transporte, embora não seja dono do meio de transporte ou do vagão que utiliza.
Os atributos valorizados pelos clientes, quando exercem o papel de usuários, tendem a variar entre
os diversos tipos de clientes (diferentes tipos de usuários) e, também, entre os clientes de um mesmo
tipo. Então, considere que:
• Clientes varejistas e atacadistas: quando compram mercadorias para revender, não exercem o
papel de consumidores.
• Governo: os atributos valorizados pelos usuários dependerão muito do que estiver sendo
adquirido e de quem utilizará ou receberá os benefícios dos serviços que forem adquiridos. O
exército certamente desejará que as armas compradas funcionem com perfeição, os pacientes
dos hospitais públicos desejarão que os remédios que lhes forem fornecidos produzam os efeitos
52
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
almejados, os caminhoneiros desejarão que as estradas construídas com verbas públicas sejam
adequadas ao transporte de cargas e assim por diante.
• Pessoa física ou grupos de pessoas: os atributos por elas valorizados enquanto usuárias variam
muito, dado que são vários os motivos que podem levar uma pessoa a consumir determinado
produto ou serviço. Sabe-se que, para produtos duráveis como as geladeiras, os automóveis etc.,
aspectos como desempenho, confiabilidade, durabilidade, facilidade de uso e de manutenção
tendem a ser valorizados. No caso de produtos semiduráveis, como roupas, podem ser valorizados
aspectos como beleza, caimento, conforto, sensação de exclusividade, marca (como símbolo
de status). No caso de bens ou serviços de uso único, como alimentos ou bebidas, podem ser
valorizados aspectos como aroma, sabor e atratividade visual dos pratos. No geral, as pessoas,
enquanto usuárias dos produtos, esperam que, no mínimo, os produtos cumpram com suas
finalidades: os remédios devem curar ou minimizar os males de quem os consome, os detergentes
devem servir para desengordurar os utensílios domésticos, os mata-mosquitos devem impedir
o zumbido noturno desses bichinhos irritantes, os telefones devem permitir a comunicação,
principalmente de voz, entre as pessoas e assim por diante. Porém, cumprir o mínimo nem sempre
é o que o usuário deseja de um produto: quem usa um relógio não quer somente saber as horas
exatas, quem compra um automóvel não quer somente se deslocar, quem compra uma casa não
quer somente morar.
• Clientes coletivos: são usuários que se beneficiam de alguma forma de serviços que atendem
suas necessidades coletivas. Os atributos por eles valorizados normalmente guardam relação
com o tipo de serviço oferecido. No caso dos serviços de varrição pública, os clientes coletivos
valorizam ruas limpas (e não gostariam de ter de varrê-las, assim como não se preocupam com o
processo de varrição – isto é, se será executado por pessoas ou máquinas); no caso da segurança
pública, os clientes estimam a sensação de segurança (e não gostam nem um pouco da sensação
de insegurança); no caso da iluminação pública, gostam de claridade nas ruas (na mesma medida
em que detestam ruas escuras) e assim por diante. Um detalhe: os clientes coletivos não exercem
papel de compradores nem de pagantes.
Os clientes exercem papéis de pagantes quando são os responsáveis pelo pagamento do que é
adquirido. Com a ampla possibilidade de comparação de preços que a internet promove, é fundamental
que as organizações estejam preparadas para lidar, por exemplo, com a diversificada oferta de um
mesmo item, pois, caso os atributos de um fornecedor sejam vistos como frágeis na visão dos clientes
pagantes (fornecedor pouco relevante ou sem diferencial), o pagante tenderá a optar por aquele cujo
preço for o mais baixo.
Nesse papel, normalmente, os atributos valorizados pelos clientes não se diferenciam muito quando
se trata de diferentes tipos de clientes. Tanto os clientes finais como os clientes intermediários tendem a
valorizar atributos como preço, clareza e exatidão dos valores cobrados, prazo de pagamento, condições
de financiamento e facilidades de pagamento (ausência de filas, aceitação de cartões de débito/crédito
e cheques, remessa eletrônica de boleto bancário, transferência eletrônica de saldos entre outros).
53
Unidade II
Sendo assim, os atributos valorizados pelos pagantes tendem a variar pouco porque o processo
envolvido é o da execução do pagamento, que, via de regra, envolve o desembolso (que todo pagante,
por certo, gostaria que fosse o menor possível) e os meios para fazer o pagamento (que todo pagante, por
certo, gostaria que fosse o mais apropriado para sua realidade ou capacidade de pagamento).
Como é possível compreender, os atributos valorizados pelos diferentes tipos de clientes, sejam eles
compradores, usuários ou pagantes, podem contribuir sobremaneira para a melhora do relacionamento
entre as partes envolvidas, que, graças a isso, pode ser mais duradouro e mutuamente benéfico.
De acordo com a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ, 2017, p. 4), as “partes interessadas são
todos os elementos que, de alguma forma, são afetados ou afetam a sua organização, tanto no nível
institucional como no operacional”. Elas também podem ser chamadas de stakeholders.
Embora essa explicação esteja mais voltada para o aspecto gerencial, ou seja, administrativo e de
controle do negócio como um todo (gestão organizacional), ela é pertinente e até necessária para a
gestão das relações com os clientes, pois todas as partes interessadas devem, por meio de seus esforços,
garantir que a principal parte interessada seja bem atendida: o cliente.
Se os stakeholders são um grupo ou indivíduos que afetam e são afetados pela realização dos
objetivos da empresa, eles também são fortemente afetados caso a reação dos clientes seja desfavorável
à marca, aos produtos e ao comportamento da organização. Dito isso, é possível afirmar que todos
os stakeholders integram a capacidade total da organização de identificar oportunidades no mercado
(vontade dos clientes demandantes) e atendê-las.
Os stakeholders incluem indivíduos, grupos e outras organizações que têm interesse nas ações de
uma organização e habilidade para influenciá-la, especialmente, quando a influência se volta para o
desenvolvimento máximo da capacidade de conhecer e bem atender ao mercado consumidor.
Em resumo: o gerenciamento das relações com as partes interessadas é um processo necessário para
que as organizações tenham meios para atingir as metas estabelecidas e melhorar os resultados, o que
não seria possível sem um profundo conhecimento de como se comportam os clientes e consumidores.
O compromisso com as partes interessadas deve ser encarado como o comprometimento que as
organizações têm ao buscar atingir resultados positivos para si mesmas (lucros, por exemplo) e satisfação
para os seus clientes (“lucro” para o cliente) numa visão de que o bem maior é atingido quando a relação
de ganha-ganha é coletiva (organização, cliente e todos os demais stakeholders ganham) e, portanto,
os benefícios são distribuídos.
54
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Lembrete
Sem qualquer dúvida, a capacidade de conhecer os clientes é um dos maiores diferenciais que
as organizações podem possuir, mas, para saber sobre eles, é necessário saber tanto como elaborar
adequadamente as pesquisas quanto direcioná-las ao público-alvo correto. Em outras palavras, é
fundamental saber o que perguntar e para quem perguntar.
Ao abordar o conhecimento que se tem ou que se deseja ter sobre os clientes, deve-se ter em
conta a necessidade da realização da pesquisa orientada por claros objetivos, vista aqui como pesquisa
de mercado (concentrada nos agrupamentos de clientes no mercado) e na pesquisa da percepção do
cliente (concentrada no que o cliente deseja, precisa e declara, portanto, quais são os atributos que
valorizam e quais suas expectativas).
É possível abordar ainda, por meio de pesquisas, quais são os momentos da verdade para os
clientes, ou seja, os instantes e as influências que podem fazer a diferença positiva ou negativa em seu
processo decisório, bem como sua hierarquia de valor (o que é mais ou menos relevante em termos de
seus interesses).
Mesmo que possa parecer uma preocupação evidente, vale ressaltar o que diz Albrecht (1997, p. 101):
55
Unidade II
A ausência do buscar saber por meio de pesquisa sobre quem e como são os clientes, o que querem,
por que e quanto, afasta a organização de seu real potencial de mercado, pois a priva de saber como
atender satisfatoriamente seu público-alvo.
• A pesquisa da percepção do cliente vai pelo menos um passo além da pesquisa de mercado
convencional. Ela procura compreender as expectativas, os pensamentos e os sentimentos do
cliente individual em relação ao serviço produzido e ao provedor do serviço. Ela espera discernir
um ou mais fatores críticos na percepção do cliente em relação à experiência total. Isso possibilita
elaborar um modelo de valor para o cliente, que é um conjunto de critérios que guiam as escolhas
do cliente entre uma empresa e seus concorrentes.
Considerando as pesquisas abordadas por Albrecht (1997) e o conhecimento que se tem sobre
segmentação de mercado, é importante saber que uma coisa é identificar os clientes que se deseja
conquistar (clientes-alvo), atividade comum no processo de segmentação de mercado; já outra é
distinguir as necessidades e/ou desejos desses clientes (as vontades particulares que representam como
eles percebem a marca e seus produtos e como com ela interagem).
Lembrete
Os desejos ocorrem quando e porque os seres humanos querem levar suas condições físicas
e psicológicas a um nível além do estado de conforto mínimo. Um estômago faminto, um corpo
desprotegido exposto a temperaturas extremas, ou as caspas nos cabelos constituem uma necessidade.
O mesmo acontece com o isolamento social, o tédio, o desrespeito dos pares ou de outras pessoas, a falta
de apoio emocional por parte dos seres amados e o amor não correspondido. No entanto, além desses
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ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Assim, a comida atende a uma necessidade, mas a comida de primeira satisfaz também a um desejo.
Qualquer carro atende à necessidade de transporte do ponto A para o ponto B, ao passo que um Tesla, uma
Ferrari, um Volvo, uma Mercedes-Benz, entre outros, satisfazem também um desejo (de sentir emoção
com o desempenho do carro, obter prestígio, projetar a autoimagem correta para as outras pessoas
consideradas importantes etc.). Só quando as necessidades são satisfeitas é que aparecem os desejos.
Saber o que os clientes querem, como querem e como tendem a se comportar é um resultado
alcançado pela aplicação da pesquisa de marketing e que ajuda a organização a direcionar os seus
esforços de comunicação, por exemplo, desenvolvendo contatos adequadamente direcionados aos
interesses do público, e não contatos massivos e erráticos.
Nesse sentido, a compreensão sobre os atributos valorizados pelos clientes também é parte
fundamental para a realização da boa pesquisa, afinal, a forma como os clientes identificam e valorizam
os atributos interfere no modo como eles se sentem, como já mencionamos quando falamos em atributos.
Independentemente do tipo de pesquisa, de acordo com Mattar (2012) e Zikmund e Babin (2011), o
processo de realização de qualquer pesquisa é geralmente feito em quatro etapas:
• planejamento da pesquisa;
• execução da pesquisa;
57
Unidade II
• Planejamento da pesquisa: uma vez definido o problema, ele deve ser explicitado em termos
de objetivos, hipóteses, da necessidade de dados e fontes, da determinação da metodologia de
pesquisa, da população, do tamanho da amostra e do método de seleção, de planejamento da
coleta de dados, de cronogramas e pessoal.
• Execução da pesquisa: nesta fase, a pesquisa planejada torna-se uma pesquisa concreta, exigindo
vários cuidados para que o plano traçado não seja desviado na operacionalização. Após a coleta e
o processamento dos dados, eles são analisados e interpretados.
Uma das vantagens de se refletir sobre a construção da uma pesquisa, que tanto pode ser aplicada
virtualmente como em formulário impresso, é melhorar a compreensão que a organização tem de si
mesma e, claro, através da pesquisa, a percepção que tem do agente pesquisado (o cliente) e de como
interagir com ele (forma de interação e momento, por exemplo).
O termo atributo é entendido como o conjunto de valores (preço, atendimento, garantia etc.) que
envolvem determinado produto/serviço de forma que ele possa atender as necessidades dos clientes aos
quais se destina, isso porque, em geral, os clientes o reconhecem e assimilam positivamente. Assim, a
finalidade do atributo é construir um tipo de elo com os clientes, pois cada atributo apenas tem sentido
real se for reconhecido e almejado pelo cliente.
Sabe-se que os clientes têm três diferentes papéis: comprador, pagante e usuário (consumidor) e que
os atributos valorizados por eles podem ser diferentes.
Os atributos na pesquisa representam a busca por saber o que os clientes realmente valorizam e
buscam e, portanto, o esforço das organizações para oferecerem de maneira adequada e no momento
certo para seus clientes o que requerem.
58
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Nota: os valores universais são aqueles que satisfazem as necessidades dos clientes e os valores pessoais, seus desejos
A atenção aos atributos na pesquisa de marketing ajuda na construção da própria pesquisa (objetivo,
foco, alcance e público), especialmente fazendo com que ela tenha clareza do próprio interesse (o que
se quer saber) e clareza de público-alvo (de quem se desejar saber algo), com isso, não permitindo a
existência de desperdícios de tempo e recursos com pesquisas pouco relacionadas com o interesse do
público e da organização.
Com o avanço da aplicação de pesquisas pela internet, tornou-se ainda mais vital ser assertivo com
os atributos das pesquisas em relação a cada público, isso porque um dos passos mais importantes de
uma pesquisa é convencer os clientes a respondê-la, seja em meio digital ou não.
De acordo com Kotler e Keller (2018), a satisfação do comprador após a realização da compra
depende do desempenho da oferta em relação às suas expectativas. Sendo assim, a satisfação consiste
na sensação de prazer ou desapontamento resultante da comparação do desempenho (ou resultado)
percebido de um produto em relação às expectativas do comprador.
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Unidade II
Essa definição deixa claro que a satisfação é função de desempenho e das expectativas percebidas:
se o desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito, se alcançá‑las, ele ficará
satisfeito, se superá-las, ele ficará altamente satisfeito, possivelmente até encantado.
Concordando com a afirmação anterior, Sheth, Mittal e Newman (2001) dizem o seguinte:
Exemplo de aplicação
Imagine a seguinte situação: um cliente faz uma pesquisa na internet sobre um produto, lê que
ele está barato, que é bom e que a entrega é rápida. Decide comprá-lo e o faz. Horas depois, recebe
informação de que o mesmo produto está sendo vendido bem mais barato em outro site, mas pensa
“Agora já fiz a compra”.
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ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Então imagine que a entrega, supostamente rápida (por exemplo, 3 dias), tenha demorado duas
semanas para chegar, e que o produto prometido (comunicado) como “bom” não seja tão bom assim
(por exemplo, nos quesitos resistência e durabilidade) e esteja diferente do esperado. Então imagine
que um amigo tenha comprado o mesmo produto no estabelecimento virtual no qual o preço estava
menor e que a entrega tenha se dado em menos de 48 horas. Como essas informações podem afetar a
percepção de satisfação do cliente?
Certamente são muitos os meios que se tem para acompanhar e medir a satisfação dos clientes.
Entre os meios possíveis, Kotler (2000) sugere os seguintes:
Instrumentos Detalhamento
Uma organização centrada no cliente facilita o recebimento de
sugestões e reclamações. Muitos restaurantes e hotéis oferecem
formulários para que seus clientes relacionem os itens de que gostaram
ou não. Algumas empresas centradas no cliente criaram sistemas de
Sistemas de reclamações e sugestões ligações gratuitas. Há ainda empresas que estão aderindo a páginas
web e e-mail para facilitar a recepção e resposta das comunicações.
Esses fluxos de informação oferecem muitas boas ideias às empresas e
permitem que elas ajam com rapidez para solucionar problemas.
Estudos mostram que, embora os clientes fiquem insatisfeitos com uma
a cada quatro compras, menos de 5% dos insatisfeitos reclamam. A
maioria dos clientes simplesmente passa a comprar menos ou muda de
fornecedor. Os níveis de reclamação, portanto, não são uma boa medida
da satisfação dos clientes. Empresas proativas medem a satisfação
dos clientes diretamente, realizando pesquisas periódicas. Elas enviam
questionários ou telefonam para uma amostragem aleatória de clientes
recentes e também solicitam as opiniões de seus compradores quanto
Pesquisas de satisfação de clientes ao desempenho de seus concorrentes.
Ao coletar os dados de satisfação dos clientes, é útil medir também o
nível da intenção de recompra, que normalmente será alto se houver
alto nível de satisfação do cliente. Recomenda-se ainda avaliar a
probabilidade de esse novo cliente recomendar a empresa e a marca
para outras pessoas, assim como sua disposição para isso. Um alto
índice positivo de propaganda boca a boca indica que a empresa está
produzindo um bom nível de satisfação de clientes.
As empresas podem contratar pessoas para se passar por compradores
potenciais a fim de relatarem pontos fortes e fracos vivenciados na
compra de produtos da empresa e dos concorrentes. Esses compradores
Compras simuladas misteriosos podem até testar se a equipe de vendas da empresa está
preparada para lidar adequadamente com diversas situações. Assim, um
comprador misterioso pode reclamar da comida de um restaurante para
testar como ele lida com esse tipo de reclamação.
As empresas devem contar clientes que deixaram de comprar ou que
tenham mudado para outro fornecedor a fim de verificar por que isso
aconteceu. Quando a IBM perde um cliente, ela empreende um esforço
minucioso para descobrir onde errou. É importante não apenas conduzir
Análise de clientes perdidos entrevistas de saída quando clientes param de comprar, mas também
acompanhar o índice de perda de clientes. Se este estiver crescendo, é
um claro indício de que a empresa não está conseguindo deixar seus
clientes satisfeitos.
61
Unidade II
A respeito do conteúdo das pesquisas, uma sugestão interessante é buscar identificar, inicialmente,
o conjunto de atributos valorizados pelos clientes e a importância relativa deles. Feito isso, o passo
seguinte será o de identificar, através de pesquisa, o grau de atendimento de tais atributos.
Com crescente importância, a pesquisa da satisfação dos clientes e mesmo outros tipos de pesquisa
ganharam o apoio dos meios digitais. Além disso, muitas pesquisas podem ser feitas por meio da própria
análise de registros e históricos de vendas da empresa, ou seja, com a utilização de sistema que interprete
os registros de compras dos clientes ativos.
Outra forma de pesquisar é fazer a varredura e análise dos tipos de pesquisas que os clientes e
potenciais clientes fazem na página da empresa, e em outras páginas correlacionadas, buscando
compreender tendências de compra e fluxo de interesse.
A era digital está modificando a maneira como as organizações relacionam-se com os clientes, elas
estão se tornando mais assertivas e mais capazes de entregar a cada cliente soluções que realmente
representam seus interesses e demandas (infelizmente nem todas elas, é claro, mas, em geral, o mercado
está evoluindo positivamente).
Também em um contexto digital, uma das maiores dificuldades pelas quais as organizações passam
é a capacidade de lidar (em certos acasos até de ter acesso) a tão substancial quantidade de dados
sobre os clientes e sobre o mercado, disponíveis em suas bases de dados, na internet ou em outros
fornecedores de dados e informações.
Saiba mais
Cada organização está (ou deveria estar) em constante busca por diferenciais competitivos para
fortalecer sua imagem no mercado e fazer dela a preferida por seus clientes ativos (mantendo-os fiéis
ao longo do tempo) e eleita por seus clientes potenciais (de modo que a reconheçam e passem a
considerá-la em compras futuras) aumentando, assim, o poder de atração de novos clientes.
Uma das melhores formas de diferenciação competitiva positiva é conhecer os clientes por meio
do processo de ouvir o que eles têm a dizer. Na era digital, saber ouvir pode significar ter capacidade
62
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
de construir relacionamentos duradouros, pois, ao mesmo tempo que os clientes parecem estar mais
acessíveis por estarem na rede, eles também são impactados por todos os demais ofertantes (concorrentes
da sua empresa), o que, muitas vezes, causa confusão ou dispersão da atenção.
Não se trata, contudo, apenas de oferecer as mais diversas e recentes tecnologias de contato e
registro de dado. Claro que isso pode ajudar, mas trata-se, principalmente, de fazer uso das compilações
e análises dos registros para desenvolver respostas e soluções ágeis para o mercado, de tal forma que os
clientes entendam que a organização está atenta e conectada com eles.
As empresas Disney e Apple são exemplos de organizações vistas como muito próximas de seus
clientes, que tanto sabem constantemente o que eles querem como são hábeis em criar novas demandas
para os próprios clientes, para estimular seus clientes cativos a adquirirem um novo produto ou a viver
uma nova experiência.
Antes de saber como perguntar ou observar o que é importante para o cliente, é preciso entender o
que se deve perguntar ou observar, e o que se propõe aqui é que se utilizem os pontos de percepção da
qualidade (PPQ) como instrumento para identificação desse “sobre o que” se deve perguntar/observar.
Os PPQ se referem a qualquer atributo que possa fazer com que o cliente perceba a qualidade numa
organização e naquilo que está sendo oferecido por ela. Em outros termos, os PPQ tratam da qualidade
percebida pelo cliente, ou seja, daquilo que ele considera como uma atribuição positiva e diferencial
para si próprio. Por exemplo, os PPQ podem estar relacionados a ou podem ser:
• o aroma de um vinho;
63
Unidade II
• o desempenho de um automóvel;
Considere os PPQ não como regras ou existência, mas como a necessidade de sensibilizar-se para
compreender o que realmente interfere na vida dos clientes e, portanto, como ele percebe o seu próprio
cotidiano de compra e consumo. Cada ponto de percepção pode representar uma oportunidade de saber
mais sobre o cliente e ambientar a vontade da organização de desenvolver a habilidade de “ouvir” o que
o mercado tem a dizer.
Observação
O termo “ouvir” foi colocado entre aspas para que você tenha em mente
que o processo é mais que o uso do sentido audição. Aqui, a palavra ouvir
significa dar atenção, levar em consideração, entender, perceber as razões
dos clientes. Ele representa compreender a percepção do cliente e buscar
alternativas para melhor relacionar-se com quem você compreende mais.
Como ouvir os clientes gera impactos significativos sobre as decisões das organizações, o processo
deve ser tratado com muito cuidado. Assim, antes de tratar das ferramentas para ouvir os clientes, o
processo de escutar o que eles têm a dizer será alvo de breves considerações.
A pesquisa de marketing específica para o processo de ouvir o cliente é aquela que cuida de captar
as informações necessárias para abordar questões sobre pontos de vista e percepções, gosto e desgosto,
aceitação e rejeição entre outras informações. Sua finalidade é saber o que pensam os clientes, oferecer
alternativas e soluções que possam promover melhora na percepção de qualidade que eles têm sobre
produtos e serviços e, claro, marcas.
64
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Antes de iniciar o processo de ouvir, é importante salientar que cada tipo de pesquisa requer um tipo
de ferramenta diferente. Falaremos das principais ferramentas na sequência.
O objetivo das visitas a clientes é a observação in loco de como ele se relaciona com os produtos de
uma organização. Visitar clientes se transformou em tarefa obrigatória para executivos de marketing
em algumas empresas.
França (2014) menciona que uma empresa fabricante de eletrodomésticos fez o acompanhamento
e o estudo do que ocorre nos churrascos e jantares de um grupo de famílias consumidoras de seus
produtos e descobriu que o brasileiro tem dificuldades de gelar a cerveja no ponto certo. Sabendo
disso, a resposta da empresa foi o lançamento de um refrigerador próprio para a bebida, que mantém a
temperatura entre -5 e 5 graus Celsius, a temperatura considerada ideal pela maioria dos consumidores.
Um outro bom exemplo de inovação advindo do processo de pesquisa por meio de visita a clientes
intermediários é protagonizado pela General Eletric (GE) em Bangalore, na Índia. De acordo com o The
Economist (2010), como o maior problema de saúde daquele país está ligado a doenças cardíacas, e
tendo em vista o baixo poder aquisitivo da população, a empresa desenvolveu um eletrocardiograma
que é vendido por um terço do preço tradicional. O equipamento é simples, funcional e enxuto. Tem
somente os botões necessários, usa impressora de baixo custo e cabe em uma mochila. A inovação
reduziu o custo do exame para próximo de um dólar por paciente.
O interessante da pesquisa por meio de visitas a clientes é que podem ser envolvidas pessoas de
todas as áreas da organização. A visão dos pontos de percepção da qualidade para os clientes, quando
analisada por diferentes profissionais de processos diferenciados da empresa, pode enriquecer o processo
de inovação dela.
65
Unidade II
Os envolvidos nesse processo precisam de altas doses de humildade e real vontade de ouvir pontos
de vidas e declarações, ainda que desfavoráveis, dado que não somente elogios advirão dos contatos.
Também é essencial que a linguagem de cada pessoa participante seja significativamente diferente:
mais literal, mais metafórica, mais culta, mais coloquial etc.
As organizações podem aproveitar a visita do cliente para aprofundar o entendimento de como ele
usa o produto e que atributos são os verdadeiros pontos de percepção que ele tem do local, da empresa,
das pessoas entre outros. Valorizar a visita do cliente corresponde a preparar-se para recebê-lo, seja uma
loja ou um escritório. As experiências do cliente com esse contato podem fazer total diferença em suas
decisões de compra no futuro: desde a percepção de que as pessoas (profissionais) são gentis uns com
os outros, até a limpeza da loja pode ser um fator importante.
6.2.3 Entrevistas
Boa parte das pesquisas de opinião pública é realizada por meio de aplicação de entrevistas. Grande
massa dos resultados de pesquisas eleitorais é obtida com a realização de entrevistas.
Um bom exemplo de mercado é a pesquisa do Instituto Vox Populi, encomendada pela Secretaria de
Comunicação Social (UOL, 2014). Nessa pesquisa, foram ouvidos 18.312 brasileiros em 848 municípios,
com o objetivo de identificar como o brasileiro se informa e qual o seu comportamento na frequência
de consumo de mídia.
Continua sendo predominante a presença da TV nos lares do país: 97% dos entrevistados afirmaram
ver TV, independentemente de gênero, idade, renda, nível educacional ou localização geográfica; 61%
dos brasileiros têm o costume de ouvir rádio e 47% têm o hábito de acessar a internet. Em relação à
internet, aproximadamente um quarto da população (26%) acessa a rede nos dias da semana e com
uma intensidade diária de 3h39 de 2ª a 6ª feira e de 3h43 no final de semana. Entre os entrevistados
com renda familiar de até um salário mínimo, a proporção dos que acessam a internet pelo menos uma
vez por semana é de 21%, quando a renda familiar é superior a cinco salários mínimos, a proporção sobe
para 75% (UOL, 2014).
66
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Por sua vez, o recorte por escolaridade mostra que 87% dos respondentes com ensino superior
acessam a internet pelo menos uma vez por semana, enquanto apenas 8% dos entrevistados que
estudaram até a 4ª série o fazem com a mesma frequência. A pesquisa destaca o peso que as redes
sociais – em especial o Facebook – têm nos hábitos de uso da internet no Brasil: 68,5% das citações
referentes ao período de 2ª a 6ª e 70,8% das citações referentes aos finais de semana apontam as
redes sociais como os sites mais acessados pelos entrevistados. As redes sociais foram apontadas por
32% dos brasileiros como a principal fonte de informação on-line (UOL, 2014).
Os dados para pesquisas por entrevista podem ser obtidos a partir de comunicações diretas, como
entrevistas pessoais e por telefone, ou indiretas (questionários via correio). Cada tipo possui vantagens e
desvantagens. Mattar (2012) compara a eficiência das três formas de obtenção de dados de entrevistas
segundo a forma de aplicação:
Como se pode observar, todos os meios possuem vantagens e desvantagens, que devem ser medidos
em função do objetivo da pesquisa e do tipo de pesquisado – quem vai responder ao questionamento.
67
Unidade II
Esse instrumento qualitativo tem como objetivo entender as motivações dos respondentes em sua
essência. A ideia é a mesma do grupo focal, mas o processo de inquirição é individual. As entrevistas
em profundidade são excelentes meios para descobrir os motivos básicos, os preconceitos e as atitudes
dos clientes em relação a questões delicadas (MALHOTRA et al. 2005; ZIKMUND, 2006), que não seriam
partilhadas com um grupo.
Como exemplo, extraído de Malhotra et al. (2005), a Gilette usou entrevistas em profundidade para
entender a experiência de depilação e percebeu que, além de o uso de lâminas ser diferente entre homens
e mulheres no que diz respeito à extensão da área depilada e à periodicidade, existiam ainda outras
particularidades. Mulheres se depilavam no banho e raspavam áreas difíceis de enxergar, enquanto homens
ficavam em frente a espelhos bem iluminados para raspar o rosto. O produto Gilette Sensor for Women foi
desenvolvido a partir dos resultados da pesquisa, que constatou que as mulheres gostavam das lâminas dos
homens, mas temiam se cortar com elas. Por isso o cabo do aparelho é maior e possui sulcos para impedir
que a lâmina escorregue e produza cortes. Além disso, as lâminas têm angulação diferente das masculinas.
O termo grupo focal, em língua inglesa focus group, é uma ferramenta de pesquisa qualitativa que
tem como objetivo o levantamento das motivações do grupo. É uma boa escolha quando o objetivo é
entender a visão dos clientes (ou grupos de clientes) sobre produtos, marcas e conceitos.
Como exemplo podemos mencionar o caso de Burlamaqui e Santos (2006), que acompanharam um
grupo focal com o objetivo de verificar se os portais de pontos turísticos brasileiros têm aproveitado as
oportunidades que a internet oferece no que tange aos estímulos sensoriais. Os resultados apontaram
como pontos negativos a presença de propagandas, a dificuldade de navegação e os textos, considerados
“pesados” para a internet. Como pontos positivos, foram indicados o contato com a cultura local, hotéis e
pontos turísticos pelas fotos e a divulgação dos preços, o que reduz a insegurança e aumenta a tangibilidade.
A maior parte das pessoas, entretanto, ainda manifesta insegurança para fechar negócios pela internet.
A análise das observações de um grupo tão pequeno de pessoas não produz dados que podem ser
entendidos como a expressão da vontade de todos os clientes que possuem aquelas características, no
entanto, a possibilidade de aprofundar as motivações dos clientes é importante. Se houver necessidade de
testar a abrangência do posicionamento, a organização pode fazer uma pesquisa quantitativa na sequência.
68
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Quando se fala em painéis de clientes, trata-se do uso de agrupamentos que são empregados para a
obtenção de informações históricas para a organização. Obtêm-se dados quantitativos de um grupo de
clientes que se dispõem, livre e voluntariamente, a participar da pesquisa por um determinado período
(normalmente o mínimo de um ano), com o intuito de possibilitar à organização a comparação da
evolução do quadro.
Um exemplo concebido por Nielsen (2020) é o painel da Nielsen mensuração do varejo, no qual a
empresa acompanha a dinâmica dos mercados com informações coletadas a partir do código de barra
dos produtos ou através de auditorias em lojas. Participam lojas de varejo de todos os tamanhos e
canais. As informações possibilitam o cálculo da participação de mercado das empresas e a tomada de
decisões para os fabricantes e compradores quanto ao portfólio de produtos e serviços.
Como vantagens, os painéis proporcionam informações objetivas e confiáveis a custo menor, dado
que a amostra permanece estável. Como desvantagem, pode-se apontar a mesma limitação da aplicação
de entrevistas: os dados obtidos são quantitativos, portanto, perde-se em profundidade no que tange ao
entendimento das motivações dos clientes que participam da pesquisa.
6.2.7 Experimentos
A ferramenta experimentos está relacionada à busca do que não pode ser racionalizado. Por exemplo,
ao acordar, o leitor coloca no chão o pé direito ou o esquerdo. Provavelmente não tinha pensado nisso
e a tentativa de racionalizar poderia trazer vieses.
Em alimentos e bebidas, as organizações fazem testes de paladar cego para detectar preferências não
relacionadas à marca ou aparência. Por exemplo, em 2009, a Kaiser fez uma pesquisa com o Instituto
Datafolha para avaliar a preferência por marcas de cerveja (KAISER, 2009). O resultado foi interessante:
quando avaliados os produtos sem que o pesquisado visse as marcas que experimentava, existia um
empate técnico entre todas as cervejas.
Existe uma técnica que se constitui na associação de palavras ou na finalização de histórias e frases
que contenham os elementos pesquisados. O processo ajuda a captar os sentimentos não racionalizados
das pessoas. Por exemplo, pode-se mostrar uma fotografia de um casal com taças nas mãos e pedir ao
cliente que crie uma história sobre a cena – o que o casal pensa, o que está bebendo, o que fazia antes
daquele momento e o que fará depois. E essas informações podem ser usadas para a elaboração de
apelos de comunicação focados nas expectativas do consumidor.
Outro exemplo é exposto por Carey (2009), que relatou a experiência conduzida pela Universidade de
Nova York visando entender o impacto dos comerciais na avaliação de um programa de TV. Oitenta e sete
estudantes assistiram a um episódio de uma nova série. Metade assistiu à série como foi originalmente
transmitida, com comerciais intercalando os blocos do programa, e a outra metade, sem interrupções.
Depois de terminada a transmissão, os estudantes avaliaram o quanto haviam gostado da nova série,
usando uma escala de 11 pontos e comparando o programa com uma série conhecida.
69
Unidade II
Aqueles que viram a nova série sem comerciais preferiram a série conhecida, mas os que viram o
programa com intervalos preferiram a nova série com uma margem significativa. Em experimentos
similares, usando outros clipes de vídeo e uma variedade de interrupções, os resultados foram os mesmos:
as pessoas classificavam suas experiências como mais agradáveis com os comerciais, não importando
seu conteúdo ou outras interrupções.
Os experimentos são interessantes para estabelecer contato com o que não pode ser racionalizado,
no entanto, os resultados não são passíveis de universalização, portanto, se a organização quiser
confirmar a abrangência do comportamento, deverá aplicar questionários.
Existem recursos tecnológicos muito interessantes para auxiliar no esforço de ouvir o cliente. E,
como ferramentas, muitos estão surgindo continuamente, afinal, em geral eles apresentam a utilização
de alguma metodologia de pesquisa científica aplicada.
Com a avanço da internet, a realização de pesquisa ficou, de muitas formas, mais rápida e eficiente.
Atualmente é possível pesquisar quase que instantaneamente, compilar os dados e construir gráficos
e interpretações que podem interferir no processo de tomada de decisão do negócio, incluindo quais e
como serão as próximas ofertas para os clientes.
A consideração do fluxo de demanda já interfere nos preços de produtos, o que algumas organizações
chamam de preço dinâmico. Embora existam sérias críticas a essa ferramenta, pois pode ser facilmente
programada para elevar os preços quando a demanda é maior, ela também pode ser muito útil para
o gerenciamento e controle da oferta quando os estoques estão mais baixos ou quando é necessário
corrigir a rentabilidade, por vendas, de certos itens.
A internet já se tornou realidade para a maior parte da população mundial como meio de acesso
a informações, produtos e pessoas, entre outros. Nela, um universo de possibilidades e ofertas emana
continuamente, portanto, através dela podemos saber muitas coisas sobre os clientes.
Uma pesquisa conduzida pela Elife (2009), com 1.277 pessoas, indicou que a internet é fonte de
informações prévias para o consumo:
• 90% dos entrevistados disseram pesquisar quais opções de produtos/serviços estão disponíveis
para compra antes de adquiri-los/contratá-los;
70
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
A pesquisa (ELIFE, 2009) apontou ainda que a internet também é fonte de referências e de influências
(sociais e organizacionais) com as quais muitas pessoas interagem; por exemplo, é considerado elevado
o número de geradores de buzz (burburinho) na internet, ou seja, pessoas ou organizações que querem
chamar a atenção para si mesmas, para alguma causa social ou outros elementos midiáticos.
Observação
Segundo a mesma pesquisa, quase 90% dos internautas já deixaram comentários e 73% já
tiveram/interagiram em um blog. Eles podem ser influenciadores de compra: 43% dos entrevistados
recomendam a outros internautas um produto/serviço adquirido e outros 34% fazem sugestões a outros
internautas sobre um produto/serviço, ainda que não o tenham adquirido (ELIFE, 2009).
As organizações devem monitorar o que é dito sobre elas na internet, assim como devem tomar
cuidado com o que publicam sobre si mesmas. O Google, por exemplo, permite que o usuário programe
pesquisas a partir de palavras-chave, com isso, os gestores podem acompanhar o que é publicado sobre
as organizações em sites na internet e, consequentemente, avaliar como as informações e notícias na
rede estão influenciando a imagem da empresa.
Estão disponíveis muitos sites, programas e aplicativos que oferecem a realização e o gerenciamento
de pesquisas on-line, úteis para quaisquer pessoas e organizações em qualquer lugar do mundo.
Lembrete
Realizar uma pesquisa on-line tem se tornado cada vez mais fácil e ágil,
especialmente quando se consegue identificar rapidamente uma ferramenta
digital capaz de ajudar a conceber, organizar e aplicar a pesquisa desejada.
71
Unidade II
Para um pesquisador, por exemplo, após traçar o plano da pesquisa, basta criar o formulário de
coleta de dados com perguntas fechadas diretamente num site. Se ele quiser, ainda, pode deixar espaços
para comentários, buscando, com isso, saber um pouco mais sobre a opinião dos respondentes, o que
pode colaborar com o surgimento de novas ideias e percepções não vislumbradas previamente.
Uma forma de realizar uma pesquisa, quando mais direcionada a determinados respondentes,
é cadastrar os pesquisados e ordenar ao programa ou site que dispare e-mails (ou outra forma de
comunicação) da pesquisa com link de acesso ao formulário. Isso pode ajudar a direcionar o questionário
ao público-alvo de interesse (situação apoiada pelo conhecimento de segmentação de mercado).
Outra forma, talvez a mais usada atualmente, é configurar as pesquisas com a inclusão de questões
filtro e, na sequência, disponibilizar a pesquisa ao maior número de pessoas ou organizações possível. Com
o uso de questões filtro, passa a ser tarefa do questionário agrupar os respondentes, enquadrando‑os no
perfil cujas respostas interessam, por exemplo: homens na faixa etária de 30 a 40 anos, mulheres entre
18 e 25 anos; entre outras possibilidades.
Após fazer a coleta das respostas dos pesquisados, os programas, aplicativos e/ou sites cruzam os
dados, analisam-nos e produzem estatísticas. Finalmente, podem-se formar relatórios com tabelas e
gráficos on-line.
• Google Forms;
• Microsoft Forms;
• Survey Monkey.
Portanto, nenhuma organização atualmente pode dizer que não há como fazer pesquisa, que não
compreende os resultados ou não é capaz de analisá-los, seja ela de pequeno ou grande porte. Esforço e
dedicação são capazes de gerar pesquisas com resultados importantes para o negócio, os quais podem
contribuir para mudar o modo como as empresas percebem os clientes ou fortalecer o relacionamento
da empresa com eles – e, por conseguinte, as vendas.
A já mencionada pesquisa da Elife (2009) buscou descobrir como os usuários utilizam as mídias
sociais, de quais ambientes sociais os entrevistados mais participam e se eles consideram as mídias sociais
uma fonte de informações. O resultado foi: das mídias sociais, a grande predominância, em 2009 (data
da pesquisa), era do uso do Twitter por 38% dos entrevistados. O Orkut era a segunda rede em uso,
com 27%. Blogs eram os terceiros em acesso, com 14%. O YouTube apareceu com 2,7% da preferência.
Sobre as redes sociais, é de conhecimento geral que o Facebook e o Instagram são mais voltados
para as pessoas apresentarem um pouco de suas vidas, em seu dia a dia ou determinado período, sendo
72
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
o Facebook mais considerado para comportar uma identidade da vida ao longo do tempo e o Instagram
mais voltado para o momento, por exemplo, a foto do que está acontecendo em determinado instante.
Tem-se ainda o LinkedIn, uma rede social voltada para indivíduos apresentarem seus currículos
e aptidões para outros profissionais e organizações, as quais, por sua vez, podem utilizar a rede para
apresentar vagas e oportunidades de trabalho.
As redes sociais fazem parte da vida de um crescente número de pessoas e, como tal, podem
influenciar de muitas maneiras o comportamento de clientes e profissionais independentemente de
onde eles estejam. Assim, marcam as vidas de tantas pessoas de forma tão impressionante a ponto
de representarem parte de seu estilo de vida e de seu comportamento.
Observação
Um bom exemplo de uso que uma organização pode fazer das mídias
sociais é protagonizado por uma pequena empresa de sucos de fruta do Rio
de Janeiro. A Do Bem monitora o Facebook e o Instagram e responde aos
contatos dos clientes em até 24 horas. Além disso, responde aos e-mails
sempre de forma personalizada.
Os clientes estão nas redes sociais, portanto, acompanhá-las, monitorá-las e pesquisá-las é fonte de
informação valiosa para o negócio.
Saiba mais
73
Unidade II
É possível ouvir indiretamente o cliente por meio de duas ferramentas: a compra fantasma e os
painéis de colaboradores. O fato de serem indiretas não faz delas menos importantes: o que se modifica
é a forma de concretizar a captação das informações relevantes para a pesquisa.
O comprador fantasma, também chamado de cliente oculto ou cliente fantasma, é uma pessoa
treinada para passar-se por cliente e avaliar o desempenho do atendimento de uma organização. Ele
geralmente consegue captar o comportamento dos vendedores no momento do atendimento e perceber
se estão bem treinados, se são cordiais, se conhecem bem os produtos que vendem etc.
Fontoura e Sobral (2006) relataram um caso triste de atendimento: um cliente oculto foi trocar um
produto. “Não trocamos aos sábados” foi a resposta do vendedor. Ele insistiu e disse que a loja perderia
um comprador se não realizasse a troca. “Não me importo”, respondeu o vendedor. O consumidor pediu
para falar com o gerente. “Ele não trabalha aos sábados”. O espião apelou e mandou chamar o dono da
loja, porque ele certamente se importaria em perder um cliente. “O dono da loja a essa hora está em
Angra, com uma namorada nova. Ele não está se importando com os clientes”.
Essa distorção no atendimento provavelmente não seria detectada sem o emprego do cliente oculto,
dado que a maior parte dos clientes não reclama, troca de fornecedor. Assim, a pesquisa ajuda a captar
falhas de motivação, treinamento e estrutura no processo de atendimento das organizações. Como
consequência, tem-se a possibilidade de corrigir falhas e investir no treinamento dos funcionários.
Melo (2013) relata experiências de uso de clientes ocultos em organizações. Na empresa de restaurantes,
o uso da ferramenta melhorou a padronização dos serviços. No cinema, a rapidez do atendimento
foi consideravelmente aprimorada, melhorando a satisfação dos clientes em geral. Na empresa, os
relatórios dos clientes ocultos são usados como uma das métricas para avaliação de desempenho
dos gerentes.
Contudo, sempre é bom lembrar que os dados foram obtidos por alguém que se passou pelo cliente,
mas não o era de fato, portanto, pode haver lacunas entre o que o comprador fantasma designa como
ponto de percepção da qualidade e o que o cliente realmente valoriza. Portanto, a ferramenta deve ser
usada como complementação do processo de saturar a organização com a voz do cliente, mas não como
ferramenta principal.
Assim como no painel de clientes, a organização pode formar um grupo de colaboradores que,
em espaços de tempo delimitados e em caráter oficial, forneçam informações sobre as demandas e o
comportamento dos clientes externos.
74
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Como exemplo podemos mencionar o caso da Petroquímica União, cuja área comercial e times
de negócio, com base em informações de mercado, visitas a clientes, análise da concorrência,
percepções identificadas em reuniões e eventos com os clientes, identificam novas necessidades para o
desenvolvimento de negócios ou de produtos e pontos de melhoria para os serviços prestados FNQ (2010).
Uma das consequências de estudar os riscos ao ouvir os clientes aparece na seguinte indagação:
será que os clientes sabem o que querem? A resposta mais provável e segura é que provavelmente não
sabem o que querem, pelo menos não o tempo todo, dando, por isso, margem para serem envolvidos por
diferentes e novas informações (comunicação) sobre produtos e serviços novos ou já existentes.
Riscos existem sempre que a condição de certeza é inexistente (e, por conseguinte, quando a de
incerteza é elevada). Quando os clientes não estão certos do que realizar (comprar e/ou consumir),
algumas dificuldades podem surgir, por exemplo, podem desenvolver um sentimento de insatisfação e/ou
de repúdio contra algo ou alguém (marca, produto, empresa, lugar, funcionário etc.).
Para as organizações, quanto mais riscos como esse forem evitados, maiores serão as chances de ter
clientes satisfeitos, o que deve ser buscado com afinco, de forma que a organização seja reconhecida pela
maioria das pessoas que atende como comprometida com a satisfação e o bem-estar de seus clientes.
Os valores e os requisitos dos clientes mudam com o tempo e eles são variáveis entre
indivíduos. Segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), os valores de mercado dos clientes podem ser
compreendidos como:
• Instrumentais: um meio para se atingir uma finalidade, o que sugere a busca por um produto
como solução a uma demanda;
• Hierárquicos: existe uma hierarquia de valores que organiza o que é mais importante e quando;
75
Unidade II
• Específicos dos papéis do cliente: cada papel de cliente pode ter valores específicos (o que é
valorizado pelo pagante pode ser diferente do que o é pelo comprador ou usuário).
Em relação à preocupação com o risco de ouvir os clientes, ênfase especial deve ser dada ao fato
de que os valores são dinâmicos e variáveis entre clientes, inclusive com a passagem do tempo. Assim,
constatações de hoje podem ser diferentes de constatações de ontem, mesmo em se tratando dos
mesmos clientes, assim como nada garante que amanhã elas se mantenham. Essa realidade amplifica a
importância de pesquisas constantes.
Não parece ser fácil o trabalho daqueles cuja missão é ouvir o cliente e/ou se antecipar às suas
necessidades: os clientes não sabem identificar aquilo de que necessitam, o que eles valorizam parece
sempre caminhar para níveis maiores de exigência e, não bastasse isso, o que um cliente valoriza não é,
necessariamente, o mesmo que um outro cliente valoriza.
Lembrete
Segundo Silva e Zambon (2015), as necessidades e os desejos dos clientes individuais alteram-se em
decorrência de modificações em seu estágio de vida e em seus recursos. Além disso, os valores mudam
em razão de expectativas que surgem em todo o mercado.
Observação
Outra referência importante sobre os valores é o fato de que, à medida em que atingem níveis mais
altos, eles se diversificam, e cada cliente pode ter sua própria dimensão de valor para cada produto ou
serviço que conhece.
Os clientes podem criar em suas mentes, por exemplo, índices de relevância ou irrelevância, nos
quais enquadram produtos e mercados como melhores ou piores, desejáveis ou indesejáveis, aceitáveis
ou não, entre outros fatores. Isso ajuda a explicar, por exemplo, por que algumas pessoas demonstram
preferência por certos itens (produtos e marcas) a ponto de estarem dispostas a certos sacríficos (como
economizar em outros itens) para conseguir adquirir o que reconhecem como de grande valor (desejam).
De acordo com Silva e Zambon (2015), a miopia de marketing é um dos caminhos mais prováveis
para que se instalem problemas desnecessários no cotidiano das organizações, pois, como o próprio
nome sugere, a miopia de marketing corresponde à falta de capacidade de enxergar o que está diante
dos olhos no tocante aos clientes atuais e em potencial. Em outros termos, ela reflete ou a falta de
capacidade de compreender o cliente que se tem, ou pior, achar que já se compreende por completo
cada cliente ou grupo de clientes.
Assim, um dos principais obstáculos provocados pela miopia de marketing é não querer ouvir o
que os clientes têm a dizer e acreditar que já se sabe tudo sobre eles, e ainda acreditar que já se sabe o que
e como fazer as coisas.
Muitas organizações apresentam problemas porque não conseguem enxergar corretamente o seu
ambiente competitivo e o comportamento, as expectativas e as necessidades dos clientes. Com isso,
muitos dos riscos ao ouvir os clientes não estão ligados à sua forma de pensar e de agir, mas à forma
errônea através da qual por vezes organizações entendem o que eles dizem.
77
Unidade II
Superar a miopia de marketing é um exercício, em tese, simples, pois reflete a sabedoria e a busca de
conhecimento; manter-se míope reflete justamente o oposto disso.
Saiba mais
O tema seleção de clientes faz parte de uma discussão contemporânea na área de administração
e marketing que está relacionada a analisar a carteira de clientes para então selecionar aqueles
que interessam. Essa discussão envolve inclusive a opção de uma organização de não mais atender
determinados clientes ou segmentos, deixando-os para outras. Isso geralmente ocorre quando eles
deixam de ser rentáveis e passam a ser deficitários.
De acordo com Clifford e Cavanagh (1985), as organizações de porte médio e alto crescimento
têm sucesso de relacionamento e vendas pelo fato de identificarem e satisfazerem as necessidades de
alguns tipos de clientes (e não de todos os que existem), oferecendo-lhes certos produtos adequados.
O que as organizações fazem é praticar a segmentação de mercado, concentrando seus esforços nos
clientes certos.
As organizações, além de identificarem quais clientes não são lucrativos e o percentual da receita
que consomem, precisa deixar isso claro para eles, já que estão sendo onerosos, fato que pode até
mesmo inviabilizar o negócio em médio ou longo prazo.
Diversos especialistas apontam que as organizações devem analisar sua carteira de clientes e eliminar
os segmentos que não produzem retornos atraentes. Peritos em fidelidade enfatizam a necessidade
de dirigir programas de retenção aos “bons” clientes, ou seja, os rentáveis, e incentivar os “ruins” a
buscarem a concorrência. Já os softwares de gestão de relacionamento com o cliente, como o Customer
78
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Relationship Management (CRM), trazem meios cada vez mais sofisticados de identificar clientes de
baixo desempenho e eliminá-los da lista, se essa for a decisão dos administradores.
Quando o assunto é selecionar clientes, nada é fácil. Usar a expressão “clientes que não interessam”
pode ser muito desagradável nas discussões dentro das organizações, já que muitas procuram fazer
tudo que podem para manter os clientes ativos. Alguns diretores e gerentes não querem nem ouvir
falar no assunto. O processo de desistência de investimentos que envolvem certos grupos de clientes
não é simples nem popular, porém muitas vezes é necessário para garantir que o negócio seja viável e
continue existindo.
De acordo com Magaldi (2008), é uma atitude sábia selecionar os clientes para que se possa
desenvolver um relacionamento mais próximo e duradouro com eles, mas, para isso, é preciso que
haja um ponto de partida, o foco no valor do relacionamento, ou seja, no quanto cada uma das partes
envolvidas pode ser beneficiada. Nesse sentido, uma abordagem orientada para o valor pressupõe que
existem clientes mais alinhados com a proposta de valor do negócio do que outros, e não adotar essa
visão significa o risco de realizar um grande esforço para manter clientes que não valem a pena ou, pior
ainda, atrair clientes fora do perfil adequado.
Levantar algumas questões que possam direcionar as escolhas e as decisões das organizações pode
ser bastante útil. As indagações seguintes servem como referência para entender que tipo de cliente é
rentável para o negócio:
• É possível saber quais clientes são rentáveis e quais não são (ou seja, quem realmente dá lucro)?
Na mesma ótica, segundo Shapiro e Sviokla (1995, p. 58), uma organização deve saber responder a
três perguntas para ter uma boa relação com seu cliente:
• Quanto ganha?
Para Shapiro e Sviokla (1994), se a empresa descobrir que seu ganho mais parece prejuízo, precisa
acionar o alarme. E se essa não for uma conta estratégica, com potencial de longo prazo (gerar lucro),
ela deve ser reformulada ou dispensada, por mais doloroso que seja fazer isso.
79
Unidade II
Uma conta estratégica é, por exemplo, aquela que apresenta potencial em longo prazo mesmo
quando no presente é deficitária. É o que acontece com os bancos quando investem na abertura de
contas universitárias, pois o potencial de futuro resultado positivo é bastante expressivo, o que justifica
o investimento. Uma estratégia de ampla cobertura (mercado de massa), abrangendo todo o mercado,
somente se torna lucrativa e viável se os atributos do produto ou serviço são amplamente desejados por
todos os clientes (atuais e potenciais) ou pelo menos pela maioria deles. Por sua vez, as vantagens em
custos são asseguradas quando se pode usar a mesma fábrica, a mesma força de vendas e as mesmas
instalações de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para produzir e vender mais.
No caso de nenhum desses atributos serem atendidos, e a organização precisar diversificar sua
atuação para atender todos os tipos de clientes, provavelmente seu posicionamento estratégico poderá
sofrer modificações, o que pode causar fragmentações dentro da própria organização e provocar
muitos danos em todo o processo interno, já que a cultura organizacional estabelecida e o perfil do
endomarketing existente tendem a tornar a organização apta a adaptações ao mercado.
Nesse caso, quanto mais as organizações estiverem preparadas para lidar com mudanças estruturais
internas (de cultura organizacional, inclusive) e de mercado (o que inclui mudanças de valores dos
clientes e em suas condições financeiras), menos dolorosas serão as adaptações necessárias – por
exemplo, na hora de fazer a transição de produtos ou serviços em um segmento explorado para outro
ou de praticar a focalização em certo grupo de clientes.
Em situações como essa, é imprescindível que se estabeleça uma comunicação direta e objetiva,
que conscientize o cliente da situação. É importante que fique óbvia a preocupação em atendê-lo da
melhor forma possível, desde que os processos da empresa tenham capacidade e condições de assumir
compromissos com essas variáveis. Essa postura tende a ajudar o cliente a entender que algumas das
escolhas devem ser feitas pela organização, pois, não fosse isso, o comprometimento do negócio poderia
ser severo a ponto de comprometer sua existência.
O processo de escolha de clientes, seja para retê-los ou deixar de atendê-los, não se dá de qualquer
forma nem deve ser realizado sem o envolvimento dos próprios clientes. Claro que tal envolvimento não
é fácil, e não se pretende dizer que os clientes devem ser chamados para as reuniões executivas.
O esperado é que os clientes sejam informados do que está acontecendo e até consultados, de
forma que possam dar opiniões sobre alternativas para aumentar as vendas de um produto, sobre como
informar aos demais clientes a respeito do encerramento da fabricação de um produto ou sobre
como reposicionar tal produto em outro segmento mais consistente.
80
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Todo negócio deve ser voltado para os clientes que tem e que busca ter, logo, deve estar focado
neles e nas suas necessidades e desejos. Essa é uma condição que deve prevalecer na organização, pois
o negócio que ainda não sabe disso já está em desvantagem.
Ser voltado para o cliente significa saber posicionar os produtos de forma que obtenham êxito nas
ações propostas, trabalhando em um contexto de ganha-ganha para todos (clientes e organizações),
através de produtos desenvolvidos para clientes já bem conhecidos. Quando isso ocorre, todos os lados
saem ganhando nas negociações e é estabelecido um relacionamento sustentável e duradouro.
Lembrete
Às vezes, mediante prejuízo, é o momento de se avaliar como anda a credibilidade do negócio com
seu público, pois, muitas vezes, é graças à credibilidade conquistada que se tem um meio favorável de
expor as dificuldades do negócio ao cliente, deixando-o confortável para permanecer no negócio em
um novo contexto de consumo ou até preço, ou para buscar a concorrência.
Na visão de Shapiro e Sviokla (1994), as organizações podem fazer uso de três medidas na hora de
decidir se vão manter ou não determinados clientes:
• descobrir as características não rentáveis dos pedidos do cliente e apontá-las diretamente a ele na
expectativa de adequar os pedidos;
• aumentar o preço dos produtos e/ou serviços e ser verdadeiras, dizendo que não mais o atenderão
com os custos como estão, deixando-os ir embora.
Há muito tempo se sabe que a manutenção de clientes tem um custo pelo menos cinco vezes menor
do que o de atrair e conquistar novos clientes. Contudo, isso não pode significar correr riscos para
manter todos a qualquer custo.
81
Unidade II
A decisão de deixar de atender alguns clientes deve ser tomada, às vezes. Toda mudança gera
conflito, e fazer alterações para um atendimento melhor é sempre válido, mas mudar simplesmente
para manter um ou dois clientes que não estejam se adequando às linhas de produção, logística e
administrativa da organização não se justifica. Pelo contrário, esse fato pode acarretar problemas
irreversíveis futuramente, tanto para a organização como para o cliente.
Contudo, mudar também significa manter prioridades, portanto, o principal momento da decisão de
manter clientes na organização gera um conflito imenso, mas é preciso mudar para que a organização
se torne mais rentável e competente na arte de atender, conquistar e reter clientes lucrativos. Essa
necessidade ultrapassa o “gostaria que fosse feito isso” para alcançar o “é preciso que isso seja feito”.
As organizações incapazes de tomar decisões como essa, quando necessário, poderão fracassar, pois,
em um mercado cada vez mais competitivo, no qual os concorrentes procuram a cada instante detectar
uma fraqueza do adversário para aproveitar-se dela ao máximo na disputa por conquistar clientes
potenciais, não mudar pode significar a morte do negócio.
As decisões devem ser justas e eficazes para que os serviços sejam executados nos prazos e com
custos adequados. Uma unidade central de prestação de serviços que, por exemplo, receba uma
quantidade de solicitações acima da sua capacidade momentânea de atendimento com toda certeza
terá problemas, uma vez que não terá condições de atender a todas as solicitações que recebe. Portanto,
é imprescindível a correta adequação do volume de demanda, uma vez que selecionar clientes é tão
necessário quanto lembrar-se de que os clientes também selecionam de quem compram.
Situações como a de decidir sobre manter ou abandonar clientes podem causar muita confusão e
mesmo indagações tais quais: “Mas que loucura é essa de a organização precisar deixar de atender um
cliente? É isso mesmo que deve ser feito?”.
A verdade é: pode ser que sim. Às vezes, para continuar no mercado, é necessário fazer escolhas
difíceis como deixar alguns segmentos e clientes não rentáveis para a concorrência (em alguns caso
pode ser a única forma de sobreviver).
Foi através de decisões difíceis assim que muitas organizações conseguiram se reerguer em meio a
tantas baixas nas vendas, prejuízos acumulados, insegurança quanto ao faturamento futuro e contas
a pagar. E isso não significa perder um cliente, mas sim ser responsável com a existência do negócio.
Uma empresa importante do segmento contábil efetuou recentemente um exame de suas contas
e decidiu se concentrar em um limitado subconjunto de clientes, reduzindo sua lista de clientes
mundiais prioritários de milhares de empresas para menos de 200. Para Gordon (1998), essa atitude,
que inicialmente foi rejeitada pelos sócios da empresa, acabou gerando recordes em vendas e lucros. A
decisão foi difícil, mas se mostrou acertada.
82
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
A mensagem é bem clara: quando um cliente não puder manter uma relação lucrativa com a
organização, ou quando ele não for um passo estratégico para a empresa, a melhor saída é romper laços
e abrir caminhos para novos clientes que possam ser mais rentáveis. Entretanto, atenção: essa atitude
não pode estar pautada em situações de medição única. Para se confirmar a condição do cliente, é
preciso verificar seu histórico com o negócio e confrontar a tendência atual que ele apresenta com a
tendência que o negócio deseja seguir. Logo, tomar a decisão pela manutenção ou não de certos clientes
significa acompanhar as tendências do mercado, do cliente e da própria unidade produtora.
Para melhor explicar a questão de como selecionar clientes, é necessário falar sobre a atividade
estratégica. Empresas com visão administrativa e mercadológica não esperam que o cliente vá
embora insatisfeito nem que haja prejuízos. Elas têm a iniciativa de localizar pontos de conflito em
relacionamentos e em processos pouco saudáveis para a rentabilidade do negócio e atuar de forma a
sustentar seu sucesso no mercado, mantendo e concentrando energia em clientes rentáveis e abrindo
as portas de maneira cordial e sincera para clientes que não se encaixem no perfil de relacionamento
adotado pela organização.
Realizar a seleção de clientes é necessário, contudo, não se pode perder de vista que, se a conta não
for estratégica, deve ser repensada ou dispensada, mesmo que seja um processo doloroso. Um cuidado
importante nesse caso é a separação de conta estratégica para produtos de moda (timing de moda)
e para produtos cuja tendência esteja estabelecida (commodities), pois, algumas vezes, os produtos
de moda podem, devido à curta duração que ela tem, levar a erros de interpretação de viabilidade ou
retorno por cliente ou grupo de clientes.
83
Unidade II
Como exemplo, pense em uma marca que tenha breve duração na memória do público-alvo, devido
ao pouco tempo de exposição nos canais de mídia, e que por isso tem seu potencial de retorno (lucro)
limitado ao tempo em que é exposta e lembrada. Em casos assim, possivelmente o melhor a fazer é
tratar o processo como uma conta tática em vez de estratégica, já que o prazo é menor e o tempo de
aproveitamento midiático é curto.
A base para a seleção de clientes é o potencial de retorno de todo o investimento durante o processo
de relacionamento (lucro), seja ele de longo ou de curto prazo. Sendo assim, as organizações precisam
saber quais são os seus clientes-alvo, aqueles que abrem caminho para a construção de relacionamento
de longo prazo, mas, também, precisam saber quais perfis de “clientes” não são interessantes, a fim de
que nenhum tipo de esforço de atração e retenção seja feito com esses perfis. Esse trabalho envolve
conhecer muito bem as condições do mercado, por exemplo, o comportamento dos clientes e seu
potencial de consumo, os concorrentes existentes e seus perfis de ação.
Lembrete
Notoriamente, os clientes conscientes de sua interação com a organização migram sem deixar
sequelas, aliás, é possível até que voltem em outros momentos e em condições mais lucrativas. Entretanto,
esse papel de conscientização é de responsabilidade da empresa.
É importante ficar atento ao modo como os clientes saem (deixam de ser clientes), pois ter a marca
prejudicada por críticas de ex-clientes pode ser muito pior para os negócios do que manter
clientes não lucrativos. Se a seleção de cliente não puder ser adequadamente conduzida talvez o
melhor seja não fazer nada, para evitar estragos maiores oriundos de reações negativas de ex-clientes e
a exposição midiática negativa que isso pode trazer para o negócio.
Além disso, é recomendável que não se perca de vista o fato de que algumas das contas deficitárias
devem ser mantidas porque outras altamente lucrativas estão ligadas a elas, havendo uma relação
de interdependência, o que se traduz com a certeza de que clientes lucrativos, de modo geral, seriam
perdidos se não fossem atendidos os cuidados com essas contas de baixo interesse.
É importante dizer que a empresa não está sendo mercenária quando pensa a seleção de clientes,
pois ela precisa de retorno positivo para se manter operacional, contratar funcionários e pagar salários,
cumprir com suas obrigações fiscais etc. Sem o lucro, a empresa morre e não cumpre um importante
papel social como geradora de emprego e renda, por exemplo.
84
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
As organizações podem utilizar várias formas de selecionar clientes não rentáveis, muitas das
quais têm a ver com o bom senso e o cuidado no levantamento de dados e informações (estatísticas)
sobre os clientes de forma segura, portanto, confiável. Isso quer dizer que é possível, em certos casos,
selecionar clientes através da análise e observação dos relatórios que o negócio possui ou pode gerar,
como as estatísticas de vendas por cliente.
Para melhor abordar o processo de seleção de clientes, de acordo com Shapiro e Sviokla (1995), os
gestores podem voltar-se para o ciclo de administração de pedido, no qual é relatado o envolvimento
de três passos básicos como forma de seleção, que são a análise do pedido, a focalização do sistema de
ação e a estratégia política de atendimento. Detalhando cada um deles:
Outra forma de seleção importante é a categorização de clientes (MAGALDI, 2008), através da qual
são identificados os atributos mais importantes, os quais depois compõem um ranking com eles.
O procedimento consiste na elaboração de uma tabela em que se atribui uma nota para cada cliente.
85
Unidade II
Selecionar clientes deve ser uma análise estratégica, baseada em uma infraestrutura
tecnológica, que armazena e processa os dados de todos os clientes, mantendo seu histórico de
pedidos e pagamentos. Com os dados armazenados, é possível rever a quantidade de pedidos e
seus respectivos pagamentos, e mapear a sua viabilidade dentro da organização tanto produtiva
como economicamente. Verificar formas de pagamentos também é importante, pois clientes com
dificuldades financeiras ou de efetuar pagamentos podem vir a ser grandes problemas no futuro;
logo, requerem acurada análise. Também é possível constatar que alguns clientes podem estar com
uma dificuldade de pagamento passageira, sem, com isso, deixarem de serem ótimos clientes.
Utilizando-se esse mapeamento, é possível identificar clientes que só compram com grandes
descontos, bonificações e outras formas de ganhar no preço final do produto ou serviço. Essa relação
ganha-perde torna-se um problema para a organização, exigindo, por isso, reavaliação, o que muito
provavelmente ocasionará o desinteresse pelo cliente.
Observação
É pertinente o uso de três questões básicas para se iniciar uma análise criteriosa e adotá-la como
técnica de seleção de clientes. São elas:
• A organização conhece os tipos de clientes que possui e quão rentáveis eles são?
A organização precisa conhecer os tipos de clientes e se são ou não rentáveis para então pensar
o que fazer com eles. Ela precisar produzir bons resultados para eles, mas para si mesma também.
Acima de tudo, não pode se esquecer de que se o foco for apenas aumentar o número de clientes, e
não a construção de relacionamento e a seleção dos que interessam, haverá um enorme problema de
resultados no futuro.
simplesmente abandoná-los, sem prioridade alguma. Afinal, os clientes podem deixar a organização a
qualquer momento, pelos mais diferente motivos, então, às vezes, as organizações podem estimular que
isso ocorra ou fazer exatamente o oposto (realizar forte empenho para a conservação de clientes).
É notório que, se uma organização buscar atrair pessoas sem o devido cuidado, pode trazer para
si quantidade significativas de clientes sem perfil os quais podem exigir esforços gerenciais sem gerar
lucro, por isso, é seguro afirmar que a seleção deveria ter início no processo de atração (e não após os
clientes estarem integrados ao negócio).
A conquista de um mercado é um processo árduo para uma organização. Obter clientes, mantê-los
e lucrar em transações certamente é o principal desejo de todos os gestores, diretores e presidentes.
Contudo, nada é tão simples. O sucesso nos negócios baseia-se no desenvolvimento de relações e na
sua sustentação. Quando existe uma definição clara do tipo de cliente que a organização busca manter,
é bem provável que seu posicionamento possa ter êxito dentro das ações propostas para se atingir esse
objetivo. O cliente não pode ser mantido a qualquer custo, assim como a unidade produtora não pode
ficar se modificando a todo momento para garantir a manutenção deste ou daquele cliente.
A solução deve ser aplicável a todos os clientes (segmentos e nichos) e da melhor forma possível,
lembrando-se de que, nos casos de customização, as soluções sofrem algumas alterações. Porém, a
customização deve ser viável e mutuamente vantajosa para o negócio e para o cliente.
Observação
Um cliente muitas vezes busca valores intangíveis e somente organizações que estejam preparadas
para satisfazê-lo conseguirão manter o relacionamento, que é de certa forma avançado, entre ofertante
e demandante. É imperativo valorizar o que o cliente deseja e fazer o possível para atingir suas
expectativas, mas sem perder o foco no retorno que isso deve gerar.
Há uma máxima que diz: “quem tudo quer nada tem”. Ela serve como reflexão, pois desejar todos
os clientes disponíveis certamente não é injustificado, mas também não é a solução. Pelo contrário,
pode ser justamente o motivo para o encerramento das atividades, daí a importância da seleção e do
relacionamento com os clientes vantajosos da melhor maneira possível (geralmente, nesse caso, “a
maneira do cliente”).
Aplicar os princípios de seleção de clientes exige racionalização. Por exemplo: ter o cliente certo
para a empresa certa, no tempo certo e nas condições certas vai muito além de um jogo de palavras, na
verdade isso representa a capacidade de fazer escolhas acertadas, de tomar decisões e de sustentá-las
ao longo do tempo, com o objetivo de sucesso para todas as partes envolvidas.
87
Unidade II
Enfim, a defesa de seleção de clientes baseia-se em manter vantagem competitiva, boa comunicação
com o cliente, e atuar de forma rentável para ambas as partes (organização por meio do lucro e clientes
por meio da satisfação).
Os canais de acesso dos clientes às organizações são os meios através dos quais as empresas recebem
os mais diversos tipos de contatos de seu público, logo, eles são muito importantes para garantir um
bom fluxo de informações que, muitas vezes, estão relacionadas às vendas atuais e futuras.
Se as organizações cuidarem de oferecer e manter boa gestão sobre os canais de acesso, elas
podem, por exemplo, sempre que precisarem ou desejarem, falar com os seus clientes diretamente e de
forma rápida. Para as organizações, a gestão dos canais de acesso corresponde a uma base para o bom
relacionamento na medida em que eles representam o acesso dos clientes às organizações e vice-versa.
• telefone;
• e-mail;
• WhatsApp;
• redes socais;
• chats.
Seja qual for a forma desejada de contato, a empresa deve estar apta a atender a expectativa de seu
público, oferecendo a ele o canal que deseja utilizar. Atualmente, os clientes querem ter contatos ágeis
e via internet, seja para contactar a empresa por meio de seu site, por um número de WhatsApp (cada
vez mais desejado) ou por um telefone.
Os canais de acesso devem oferecer a possibilidade de receber retorno de todas as pessoas que
de alguma forma são impactadas pelos resultados da organização. Além disso, se o cliente entra em
contato enviando uma mensagem por e-mail ou WhatsApp, por exemplo, ele espera uma resposta
eficiente e rápida.
Uma estrutura eficiente de atendimento ao cliente deve incluir um conjunto de fatores ligados a:
infraestrutura (vias pelas quais circulam as interações do público com a empresa) e recursos humanos
(todas as pessoas envolvidas em cada uma das etapas do processo de interação). Sem isso, certamente
a comunicação não será eficiente.
De acordo com Velardez (2006, p. 106) alguns dos elementos que compõem a infraestrutura são:
88
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
• formulários e padrões de atendimento: ferramentas por meio das quais são estruturadas,
registradas e organizadas as interações com o cliente;
Resumo
89
Unidade II
Exercícios
Necessidade Desejo
Figura 7
I - A figura mostra o valor real do desejo, ou seja, evidencia que o desejo sempre é mais importante
do que a necessidade.
III - Os consumidores conscientes devem valorizar mais os desejos do que as necessidades, o que é
reforçado pela figura.
A) I e II.
B) II e III.
C) I e III.
D) II.
E) III.
Análise da questão
Questão 2. A realização de uma pesquisa é geralmente feita nas quatro etapas indicadas a seguir:
• identificação do problema;
• planejamento;
• execução;
Com base nos seus conhecimentos sobre o tema pesquisa, analise as afirmativas:
III - Para o entendimento das motivações e as descrições das variáveis, sem a mensuração delas, o
dado a ser coletado é do tipo qualitativo.
A) I e II.
B) II e III.
C) I e III.
D) II.
E) III.
Análise da questão
91
Unidade III
Unidade III
7 PROCESSO DE COMPRA RACIONAL E IMPULSIVA E O ARREPENDIMENTO
PÓS-COMPRA
As relações entre clientes e organizações são palco para muitas discussões, entre elas estão os
motivos que levam os indivíduos a praticarem uma compra e as formas como o fazem.
Pelo menos duas condições são fundamentais para se compreender o processo de compra de um cliente:
• a primeira é que ele, ao praticar qualquer aquisição, o faz de maneira racional, portanto,
programada e geralmente baseada em necessidades claramente definidas;
Outro importante momento decorrente da compra por impulso é a dissonância cognitiva, cuja
importância para os gestores e profissionais de marketing está ligada ao conhecimento das sensações e
relações de mundo que o cliente tem ou desenvolve após o ato de compra.
Então, já se sabe que a compra racional é realizada com base na razão (geralmente governada pela
necessidade) e que a compra por impulso é uma compra orientada pela emoção (geralmente governada
por um impulso momentâneo). O que é, então, a dissonância cognitiva e por que é importante que sua
ocorrência seja minimizada? Falaremos melhor sobre isso a partir de agora.
A expressão dissonância cognitiva é proveniente dos estudos de Festinger (1957), com a obra A theory
of cognitive dissonance e, desde então, muitas discussões sobre o assunto tomaram corpo. No campo da
administração, a pauta ficou enquadrada em marketing por seu empenho em relacionar as atividades
92
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
organizacionais às atividades individuais dos clientes e consumidores, bem como pela aproximação
do marketing com os discursos sociológico, psicológico e antropológico, além do filosófico, tudo num
conjunto de variáveis que contemplam vantagens para as duas partes (clientes e organizações) e que,
para serem atingidas, demandam interação e conhecimento entre as partes.
De acordo com Zambon e Benevides (2003), a dissonância ocorre quando o consumidor faz uma
comparação dos resultados da compra com o pós-compra, e as expectativas que a originaram, e vê o
seu julgamento primário, reduto de uma expectativa de como o produto deveria ser, transformar-se em
uma negação daquele que fora adquirido, baseado em uma depreciação clara e consciente do que se
adquiriu versus o que se esperava.
Observação
Segundo Zambon e Benevides (2003) e Silva e Zambon (2015), a compra por impulso expressa
os elementos manifestos ou latentes de desejo dos consumidores sobre os quais os profissionais de
marketing empenham seus esforços para desenvolver ações mercadológicas que maximizem o desejo
de consumir e, portanto, o ato de comprar. Por sua vez, a dissonância cognitiva é o oposto daquilo que
os profissionais de marketing desejam. Assim, todos os esforços possíveis são empenhados para que a
dissonância não aconteça, pois ela é um elemento/manifestação psicológico que prejudica a recompra
do produto ao gerar na mente do consumidor a nefasta sensação de que fez um mau negócio. É um
sentimento de negação sobre a compra realizada.
93
Unidade III
Para Almeida e Jolibert (1993), na busca por maiores esclarecimentos conceituais sobre a compra por
impulso no tocante aos riscos de se ouvirem os clientes, foram identificadas três abordagens centrais
que descrevem variações comportamentais dos indivíduos ao praticarem compras impulsivamente, são
elas: conceito tradicional, comportamental simples e comportamental exagerado.
As três abordagens da compra por impulso, apresentadas por Almeida e Jolibert (1993), podem
ser assim explicadas:
• Conceito tradicional: reflete a compra não planejada, cuja principal causa motriz é o próprio
ambiente, ou seja, o ato impulsivo de compra é baseado na configuração do ambiente: local,
disposição, comparação.
• Conceito comportamental exagerado: representa a compra impulsiva como uma doença, um tipo
de distúrbio que deve ser acompanhado e tratado de modo medicamentoso.
Conforme a teoria de Festinger (1957), não é possível eliminar a dissonância, mas é possível
compreender a forma de construção dos mecanismos através dos quais ela ocorre, e então, pode ser
possível agir de forma a minimizar sua intensidade – e seu impacto – sobre os próprios clientes e
as organizações.
O estudo do tema, portanto, não está concentrado na erradicação da dissonância, mas sim na
maximização da capacidade dos profissionais e das organizações de desenvolverem ações de negócio
(vendas) que satisfaçam os clientes e gerem neles o máximo de consciência e satisfação sobre o ato
realizado, para que possam identificar e aproveitar positivamente as justificativas que levaram à compra
em favor da organização e contra a dissonância. Em geral, clientes satisfeitos, mesmo não sendo
imunes, são menos vulneráveis ao sentimento de arrependimento (dissonância cognitiva) e os efeitos
da dissonância costumam ser menos severos com eles.
Aliás, não se trata de evitar os impulsos de compra (contexto emocional), mas sim de estimular
atribuições que as façam válidas emocionalmente, de tal forma que tais emoções não se tornem danosas
para a organização devido ao arrependimento da compra nem sejam um martírio para o cliente.
94
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Já que não se pode evitar a dissonância cognitiva, pelo menos tudo que for feito e cujo resultado
reduza sua incidência será bem-vindo. As organizações que mais avançam nesse sentido, em sua
maioria, estão comprometidas com o eficiente desenvolvimento de campanhas de administração de
relacionamento com o cliente, que pode ser vista, entre outras formas, no emprego dos sistemas de CRM.
Outro ponto importante que precisa ficar claro é saber o que fazer quando a dissonância cognitiva
ocorre. A abordagem aqui proposta concentra-se na dissonância ocorrida na mente do consumidor, e a
intensidade e o tipo de resposta para a minimização de seus efeitos dependem do grau de importância
dada ao que causa a dissonância.
De acordo com Giglio (2002), observações informais e pesquisas de psicologia social têm demonstrado
que, ao sentir dissonância cognitiva, as pessoas (clientes e consumidores) percorrem três soluções básicas:
• Os indivíduos distorcem as percepções: “a quem ama o feio, bonito lhe parece”. Em outras
palavras, como a percepção é uma seleção de estímulos, ao sentir dissonância, os indivíduos
alteram suas percepções.
• Os indivíduos depreciam a fonte da dissonância: “mas quem foi que disse isso?”. Em outras
palavras, trata-se do entendimento de que às vezes os estímulos não podem ser negados,
por sua evidência.
• Os indivíduos buscam apoio social: “amigo é para essas coisas”. Geralmente essa situação
ocorre quando as duas anteriores não são o bastante para reduzir a dissonância, logo, é a mais
forte delas. Ela deve funcionar quando os estímulos são fortes demais para serem negados e a
própria pessoa não consegue reunir depreciações adequadas, daí demanda apoio externo (os
amigos/grupo social).
As organizações precisam entender que a primeira coisa a ser feita é influenciar a etapa referente
à construção das expectativas, ou seja, elas precisam esclarecer, o mais detalhadamente possível, quais
são os benefícios que o consumidor pode esperar do produto ou serviço, com isso, pode ser possível uma
redução dos efeitos da dissonância cognitiva caso ela ocorra. Por exemplo, é importante deixar claro:
• o que é o produto;
95
Unidade III
Observação
De acordo com a visão de Banov (2017) e Giglio (2010), as organizações devem cuidar dos benefícios
entregues para os clientes no momento da compra e posteriormente e ainda dos benefícios que a organização
tem ao se relacionar com eles. Isso consiste em atuar no momento da compra e no pós‑compra, que é quando
o cliente constrói a noção/percepção do que está obtendo em comparação com o que esperava (expectativa).
Esse momento refere-se a dois aspectos, expectativas e resultados. Por exemplo, depois de um show, a
pessoa avalia se a música e a apresentação estavam agradáveis como o esperado, ou após uma limpeza de
pele, se o resultado foi compatível com o que cliente esperava ou ficou abaixo ou acima da expetativa. Nos
dois exemplos, se os resultados forem negativos, a organização pode ser impactada também negativamente
pela redução das chances de manutenção (continuidade) do relacionamento entre ela e o cliente.
Por exemplo, imagine uma mulher bonita lavando os cabelos com um produto da marca X e na
sequência, já com os cabelos secos, uma imagem na qual ela apareça sorrindo, com marcantes traços de
felicidade, e com os cabelos lindos. A impressão construída pela comunicação será, por certo, a de que o
xampu cumpre o prometido, que é excelente etc., e o resultado dessa campanha poderá ser o estímulo
para outras mulheres comprarem o mesmo produto, alimentadas pela expectativa de que é bom e eficaz.
Então, fica claro que as organizações precisam realizar pesquisas continuamente para saber sobre
como pensam e agem os clientes e consumidores, e sobre o que os influencia positivamente em relação
a determinadas características de produtos e serviços.
96
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Para saber mais sobre o público da empresa, a pesquisa não precisa apenas se direcionar a clientes atuais
ou em potencial, pode estender-se a funcionários de atendimento e vendas, que muitas vezes possuem muitas
informações relevantes sobre o comportamento dos clientes e sobre os seus argumentos (os mais decisivos)
na hora da compra. É por isso que as organizações precisam ouvi-los, utilizando-se de critérios sérios de
pesquisa e registro de dados e informações para a oportuna análise e interpretação de suas respostas.
• o indivíduo não tem interesse no produto, não faz parte de seus hábitos de consumo;
• o indivíduo não tem interesse na marca, pois ele é rigorosamente ativado por outra marca;
• o cliente não considera comprar o produto porque teve acesso a muitas críticas sobre ele e/ou
sobre o ponto de vendas;
• o cliente até procurou saber sobre o produto, mas o atendimento ou as qualidades do produto
ficaram abaixo de suas expectativas.
Saber que existem muitas informações disponíveis e que há muitas formas de levantar informações
específicas sobre o mercado no qual se atua, especialmente sobre os clientes que se tem ou deseja ter, é
condição para melhorar a capacidade de agir da organização. Gestores preocupados em como fazer isso
com maestria tendem a trazer mais sucesso para os negócios que gerenciam.
Saiba mais
https://exame.com/
https://www.revistahsm.com.br/
97
Unidade III
Nunca foi tão fácil para as pessoas, clientes ou não, manifestarem-se sobre o consumo de produtos e
serviços, dar opiniões sobre empresas e governos, verificar e opinar sobre o comportamento socialmente
responsável das organizações, criticar os desvios éticos e morais de conduta etc. Parece que a aurora
do tempo da razão, consagrada por Johannes Gutemberg (1398-1468) com a impressão dos primeiros
livros, atingiu seu mais elevado nível, a razão construída em função do ato de manifestar-se exigindo
uma conduta ideal daqueles com a capacidade de transformar ou interferir na realidade coletiva. Dar
opinião ganhou proporções mais relevantes com a evolução dos meios de comunicação, em especial com
a internet, o que ampliou não apenas o número total de opinantes, mas também o tipo de envolvimento
de cada um sobre aquilo que é manifestado.
As pessoas tendem a emitir opiniões sobre produtos, marcas, causas, empresas, mesmo sem estarem
diretamente relacionadas a elas. Assim, por exemplo, muitos têm algo a dizer sobre a importância da
reciclagem, em especial quando desejam praticá-la e não conseguem, outros falam sobre a importância
do consumo consciente da água e reclamam com os órgãos reguladores e empresas sobre a demora no
reparo de um vazamento de proporções significativas em uma rua de seu bairro. Na internet e nas redes
sociais, amplificou-se a capacidade de participação e com isso mais pessoas passaram a atuar como
ativistas digitais.
É nesse contexto que o marketing busca compreender o comportamento das pessoas e a influência
disso nas organizações alvo das manifestações no espaço cibernético. A principal preocupação do
marketing sempre foi saber como pensam e agem os clientes, porém, atualmente também é necessário
saber o que pensam e como se comportam os não clientes, pois eles também podem interferir na
aceitação, nas vendas e nos resultados das organizações.
Não é recente a preocupação das organizações em saber o que pensam e como se manifestam seus
clientes, especialmente na medida em que há riscos de acidentalmente irritá-los, magoá-los, perdê-los
e, consequentemente, prejudicar o volume de vendas.
As opiniões registradas nas mídias sociais e em sites de reclamação estão elevando a preocupação
dos gestores sobre como muitas pessoas compreendem um produto, marca ou empresa e como
se manifestam sobre tais itens, essa preocupação é justificável, pois, ao que parece, sempre há
alguém observando as ações praticadas pela organização e, mediante qualquer deslize, uma
boa imagem institucional pode ser prejudicada. E pior: com a internet, isso pode acontecer em
questão de horas.
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ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Nesse sentido, tem crescido a preocupação das organizações com o que pensam e como se manifestam
os seus não clientes, pois eles podem facilmente envolver-se em campanhas e manifestações on-line,
dando sua opinião, fazendo críticas ou simplesmente retransmitindo ideias contrárias ou favoráveis a
produtos e marcas.
Os não clientes, mesmo não comprando de uma determinada organização, manifestam suas opiniões
sobre ela e, às vezes, isso ocorre em desacordo com os princípios organizacionais, o que pode acabar
gerando desconforto e prejuízo para o negócio.
Todos os indivíduos, clientes ou não, podem manifestar-se a favor ou contra qualquer ação
promocional de uma organização. Sendo assim, é necessário discutir essas manifestações a fim de
identificar o quanto elas ecoam, especialmente em ambiente virtual – ou seja, o quanto são relevantes
a ponto de muitas pessoas se envolveram com elas.
Essa preocupação com as manifestações do público, clientes e não clientes, na internet, não ocorre
por acaso. Muitas vezes elas podem ser fortes o bastante para interferir negativamente nas vendas, por
exemplo, fazendo com que certos clientes deixem de comprar.
Assim, para as organizações, talvez o principal perigo do ativismo digital seja seu poder de expansão
e notoriedade. Na prática, uma determinada manifestação (ativismo) pode expandir-se de maneira
extraordinariamente rápida e, em certos casos, prejudicar as vendas de um produto, de uma marca, de
um ponto comercial, dentre outros.
O ativismo digital expôs as organizações a um novo paradigma que as leva a preocuparem-se não
apenas com a opinião dos seus clientes cativos e potenciais, mas também com a opinião daqueles que
nunca compraram nada do que é produzido e comercializado por elas, e talvez nunca o façam, porém
tais pessoas – os não clientes – sentem-se no direito de dar sua opinião sobre a organização e, com isso,
podem modificar o modo como alguns ou vários clientes cativos a compreendem.
Um problema sério nesse contexto de ativismo digital de não clientes é o fato de que, como a
abrangência da rede é praticamente ilimitada, fatos isolados podem expandir-se para outras áreas, nas
quais as pessoas nem sequer tomariam conhecimento do ocorrido não fosse a utilização da internet.
Outro ponto preocupante é que, na rede, muitas informações ficam registradas por longos períodos
de tempo e são revistas por meio de sites de busca (ou outros), mesmo quando muito tempo transcorreu
desde a data do registro da ocorrência. O problema disso é que, algumas vezes, dificuldades antigas e já
solucionadas podem ressurgir como argumento contra a imagem da organização ou de seus produtos.
O ativismo digital também pode ter abordagem positiva, claro, mas seu lado negativo é uma grande
preocupação que deve ser contemplada com cuidado. Resumidamente: as visões positivas podem
reforçar o que o público pensa sobre a empresa e seus produtos e fortalecer o relacionamento com o
cliente, porém, as visões negativas podem levar os clientes a deixarem de comprar delas e migrar para
outro fornecedor.
99
Unidade III
Por isso, tenha em mente: será que o ativismo digital dos não clientes nas redes sociais pode
influenciar negativamente a imagem da empresa e de seus produtos no mercado, levando centos
indivíduos a evitá-los? Infelizmente a resposta é sim.
De acordo com Kotler e Keller (2012), o marketing envolve a identificação e a satisfação das
necessidades humanas e sociais. Seguindo essa visão, o horizonte social do marketing é valorizado, pois,
considera como aspecto de natureza puramente social o envolvimento das pessoas nas redes sociais
a fim de manifestarem-se sobre suas experiências ou sobre as experiências de terceiros quanto, por
exemplo, ao varejo eletrônico, às marcas, às causas sociais, entre outros.
Turchi (2016) aponta que, com o desenvolvimento da internet, o ambiente digital passou a ser
visto pelas empresas como um terreno fértil com múltiplas oportunidades de exploração. A autora
aponta que, na visão dos gestores, a internet é um ambiente caracterizado pela agilidade, condição
vista quase sempre com base no potencial de retorno sobre o investimento (ROI). O problema é que a
agilidade e a oportunidade não representam, necessariamente, mais vendas, na verdade pode ocorrer
o contrário, pois mais visibilidade pode trazer maior número de críticas e até elevação dos números
de evasão de clientes.
A presença no varejo eletrônico tem seu preço, que pode ser especialmente alto para aqueles que
tratarem o comércio eletrônico apenas como mais uma porta de saída para os produtos.
O comércio eletrônico exige cuidado com o cliente, a forma de atender, o tipo de comunicação que
se faz ou pretende fazer, os registros históricos que ficam na rede, a opinião de clientes insatisfeitos e,
mais que nunca, a opinião daqueles que prestam atenção à empresa, falam dela, mesmo sem nunca
terem comprado seus produtos.
100
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Lembrete
Saiba mais
Com a internet e também com a ajuda das redes sociais, o termo soberania ganha nova amplitude de
sentidos. Por certo, muitos indivíduos diriam que soberano é poder acessar, democraticamente, o que se
deseja na internet, onde e quando quiser, bem como dar sua opinião sobre o que desejarem no espaço
cibernético, especialmente, nas redes sociais.
Segundo Duarte, Quandt e Souza (2008) e na visão de Recuero (2014), as redes sociais são
compostas por indivíduos e por organizações que se conectam por um ou vários tipos de relações, mas,
centralmente, por partilharem valores e interesses comuns. Uma das características fundamentais das
101
Unidade III
• redes de relacionamentos, como Facebook, Google+, Skype, Orkut, MySpace, Instagram, Twitter,
Badoo, Stayfilm e Onlyfreak;
Autores como Recuero (2014), Barger (2013), Bradley e McDonald (2012), Sponder (2011) e Vaynerchuk
(2010) concordam que as redes sociais adquiriram inquestionável importância na sociedade moderna e
são caracterizadas primariamente por sua descentralização.
Cripriani (2011) alerta para o fato de que a forma como a mídia social na internet é vista e comunicada
passa uma ideia de resultados rápidos (sejam resultados organizacionais ou pessoais), eficientes e de
pouco esforço, mas a verdade costuma ser bem diferente. Em termos de mídias sociais, é necessária
muita cautela. A soberania não pode e nem fica distante do arcabouço da justiça, e também, pelo menos
por enquanto, vale dizer, da justiça do homem – ou seja, dos indivíduos que participam da internet e
impingem nela um pouco de seu estilo de vida, ética e moral, afinal, as redes sociais também servem de
reflexo da humanidade.
Basicamente, nenhuma organização que vislumbra o crescimento contínuo pode se dar ao luxo
de ficar fora da internet e nela das redes sociais. Essa é uma condição instaurada e na qual clientes e
não clientes manifestam-se de maneira ativa, favorável ou contrária a conduta das empresas. As redes
sociais na internet, portanto, potencializam o envolvimento e a manifestação e dão a esse elemento um
aspecto imediato, ou melhor, instantâneo, ao disseminar para centenas, milhares ou milhões de opiniões
em questão de minutos. O ativismo, intrínseco à liberdade de expressão do homem, tem em sua versão
moderna o ativismo digital, liberdade amplificada pelas redes sociais.
A postura dos consumidores mudou. Segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), eles foram além
do estágio de consumidores e se tornaram clientes, logo, estão mais exigentes e mais conscientes do
impacto gerado pelo processo de consumo, o que, segundo aponta do Instituto Akatu (2005), implica
mudanças na responsabilidade social empresarial, cada vez mais focada no que os consumidores
esperam das empresas.
Para Borges (2014, p. 107), os “modos de atuação e condução das empresas têm mudado
profundamente”. O autor aponta que temas antes distantes do cotidiano organizacional agora figuram
102
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
até mesmo como estratégicos. Entre eles estão: manifestações públicas, bem-estar coletivo, diversidade
de opções, tolerância e respeito, consumo consciente e responsável, sustentabilidade, meio ambiente,
cidadania, responsabilidade social empresarial, entre outros. Tais temas refletem novos tempos sobre
como as pessoas entendem e se manifestam sobre sua realidade de consumo, por isso, mostram um
contexto no qual os indivíduos são qualificados com base em suas escolhas para consumo, e não com
base em seu poder de compra.
Para Borges (2014), o consumidor, que parecia tão passivo, no aguardo de ter suas necessidades
e desejos satisfeitos e atendidos pelas empresas, agora palpita, participa do processo criativo e de
produção, interfere nas táticas de consumo e, mais do que reclamar da qualidade dos produtos ou
serviços, denuncia as empresas que não correspondem aos princípios da cidadania, diretos humanos,
bem-estar social e ambiental.
Na visão dos clientes, não é suficiente que a empresa diga que assume uma postura politicamente
correta, é necessário manter intocável tal postura, bem como é necessário apresentar uma conduta que
a sociedade seja capaz de acompanhar. Partindo de uma perspectiva de marketing, os gestores precisam
ter consciência de que, além de seguir o caminho correto, é necessário mostrar isso para o público e
fazê-lo no momento adequado.
Dados publicados em 2005 pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA, do Ministério da Educação – MEC
e do Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC (BRASIL, 2005) apontavam que a percepção dos indivíduos
estava mudando, eles estão se tornando mais cientes de que, embora a abundância dos bens de consumo
continuamente produzidos pelo sistema industrial seja considerada um símbolo do sucesso das
economias capitalistas modernas, esta tem recebido uma conotação negativa, sendo objeto de críticas
dos que consideram o consumismo um dos principais problemas da sociedade atual. Essa percepção
vem se fortalecendo e, com isso, mais e mais pessoas, mesmo não clientes, assumem uma postura
crítica frente à conduta irresponsável de empresas e de outros consumidores, o que tem gerado maior
participação nas redes sociais com a geração de opiniões ou a disseminação de informações sobre
comportamentos inadequados.
Contudo, é necessário esclarecer que o ativismo digital não é um traço do comportamento dos que
criticam o consumismo. Muitos consumistas podem ser ativistas digitais absolutamente engajados, por
isso não se deve afirmar que ativismo digital é exemplo de ausência de consumismo.
103
Unidade III
O ativismo digital, em termo gerais, pode significar que qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode
estar observando uma empresa, seja um cliente ou não. Essa observação pode ocorrer a qualquer
momento, poder ser apresentada como uma opinião sobre o negócio, e pode ser vista como mais ou
menos relevante – portanto, capaz de influenciar a visão de outras pessoas – a depender de fatores
como conteúdo do comentário, notoriedade da organização no mercado etc.
O ativismo digital surgiu como um ativismo muito mais potente e imediato, principalmente
porque as manifestações em terreno cibernético podem tomar proporções inimagináveis com uma
rapidez vertiginosa.
O comércio eletrônico e nele o registro das opiniões dos clientes e dos não clientes é uma realidade
que se encontra em desenvolvimento. Com o forte aumento de ações de marketing digital focadas em
clientes, vem crescendo também a necessidade de ações de marketing destinadas a não clientes. E isso
não se deve apenas ao objetivo de transmutá-los em clientes no futuro, mas também ao desejo de
evitar que se tornem críticos da marca e dos produtos.
A gestão do relacionamento com o cliente não apenas passa por um momento em que o marketing
está criando estratégias e posicionamentos para melhorar os relacionamentos, mas também por um
momento em que conhecer a percepção dos clientes e dos não clientes é fundamental.
Com as novas tecnologias de comunicação e pesquisa, está ficando mais fácil acompanhar
o comportamento e as manifestações dos diferentes clientes, grupos de clientes e não clientes,
principalmente porque o palco de realização da maioria das críticas hoje em dia são as redes sociais.
Assim, de maneira simplificada, basta fazer um cuidadoso acompanhamento nelas para saber o que vem
sendo “dito” sobre a organização, sua marca e produtos.
Possivelmente a maior finalidade de acompanhar o ativismo é antecipar atos que poderiam gerar
problemas para a organização e corrigi-los antes mesmo de serem executados (antes de uma campanha
ser veiculada nos canais de comunicação, por exemplo). Outro ponto importante é o de que em se
conhecendo o comportamento do público-alvo, pode ser possível o desenvolvimento de comunicações
adequadas de tal forma que evitem conflitos ou críticas e, quem sabe, tenham maior potencial de
influenciar o comportamento do público em favor do negócio.
104
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Embora o esforço de monitoramento do comportamento de clientes e não clientes seja árduo, pelo
menos é possível afirmar que, se bem realizado, a organização pode conquistar vantagem competitiva,
principalmente vista à luz da melhora do relacionamento com o público-alvo.
Tecnologias digitais voltadas para a administração do relacionamento com os clientes têm ganhado
notoriedade mesmo em empresas de menor porte. Para as empresas de grande porte, tais tecnologias
são uma realidade há vários anos.
Organizações conhecidas por seu poderio tecnológico como Google, IBM e Microsoft estão na
vanguarda quando o assunto são sistemas de informação e processamento de dados sobre o mercado,
sobretudo com relação aos clientes. Essas organizações, além de muitas outras, possuem avançados
sistemas de (CRM), (ERP), data mining, business intelligence (BI) e big data, entre outros.
• O CRM está alicerçado nos clientes e nas relações das organizações com eles, bem como nos
potenciais clientes, nos concorrentes, nas informações sobre os clientes, nos lançamentos de novos
produtos e serviços para atender as demandas dos grupos de clientes e nas ações competitivas
estabelecidas entre as organizações.
• A big data refere-se a um conjunto de soluções tecnológicas capaz de lidar com dados digitais
sobre clientes ou sobre qualquer outro aspecto de interesse, sendo que tais dados estão disponíveis
ou são encontrados em enorme volume e variedade e cujo processamento se dá em altíssima
velocidade. Em termos práticos a big data é uma tecnologia que permite analisar qualquer tipo
de informação digital em tempo real, daí sua importância para o processo de tomada de decisão
organizacional. Também é importante frisar que, como os volumes de dados são extremamente
grandes, sua análise requer ferramentas preparadas especialmente para lidar com eles.
A big data, por sua vez, representa o poderio da identificação e do processamento de dados em
tempo real, dados que estão disponíveis – por exemplo – na internet e que as empresas conseguem
encontrar e analisar, além, claro, de considerarem os próprios dados que a empresa registra a cada
instante sobre seus clientes.
8.6.1 CRM
O CRM pode ser entendido como o gerenciamento dos meios utilizados para estabelecer e mensurar
os contatos com os clientes, considerando-se que cada contato pode ter como origem o próprio cliente
ou a organização.
105
Unidade III
Segundo Zanone (2019) e Swift (2001), a gestão do relacionamento com os clientes é uma abordagem
destinada a entender e influenciar o comportamento dos clientes, por meio de comunicações significativas
para melhorar as vendas, a retenção, a lealdade e a lucratividade deles. O CRM, portanto, quando
associado ao composto de comunicação mercadológica, auxilia no desenvolvimento de campanhas
promocionais com maior capacidade de interferir no resultado da comunicação (mensagem) de tal
forma que o cliente é positivamente induzido/orientado em favor da empresa, que, por sua vez, está
compromissada com ele.
• Olhar conceitual, segundo o qual o CRM pode ser entendido como um composto filosófico de
como, idealmente, se deve atender o cliente, desde o passado até os dias de hoje. Nesse caso, o
CRM está fundamentado na capacidade de fazer com que as unidades produtoras (e seus produtos)
estejam voltadas para as pessoas, condição que apenas ganhará corpo se houver compromisso
com o desenvolvimento de relacionamento baseado no conhecimento do outro (o cliente: seus
desejos e necessidades). No campo conceitual, a unidade produtora se vê engajada em saber
como pensa e age o cliente para, então, atendê-lo da melhor maneira possível.
• Olhar tecnológico, que aponta que o CRM é uma ferramenta tecnológica baseada em bancos
de dados sobre os clientes (denominados data warehouses) e nos respectivos cruzamentos de
informações pertinentes sobre o perfil e preferências de consumo de cada um deles. Com isso,
são gerados relatórios oportunos ao processo decisório da organização. Ainda nesse sentido, vale
destacar que o CRM deverá contar com um suporte computacional proporcional à demanda da
empresa. Por exemplo, negócios com vendas na internet poderão demandar grande capacidade
de registro e processamento de dados, diferentemente dos negócios de menor porte.
• Olhar de processos, que vai dizer, por exemplo, que o CRM é composto de processos de negócio
que ajudam as empresas a conquistar novos clientes, construindo e retendo uma base leal. Nesse
sentido, em cada interação entre o negócio e seus clientes, é possível criar e aprimorar soluções
capazes de atendê-los de forma integrada e personalizada, aumentando, assim, a satisfação e a
retenção. Esse olhar por processos pode ser constatado quando se levam em conta as ferramentas
predefinidas para ouvir o cliente e registrar todas as interações com ele, alimentando um banco de
dados central que poderá, se necessário, ser pesquisado. Isso pode ajudar a compreender melhor
o perfil de um determinado cliente ou grupo de clientes e decidir que tipo de interação é mais
apropriada para lidar com ele.
• Olhar estratégico mercadológico: o CRM pode ser entendido como uma estratégia de gestão
de negócios que se dá através do relacionamento com o cliente para a realização de maior
lucratividade e ganhos de vantagem competitiva frente aos concorrentes, destacando-se, para
tanto, a participação da tecnologia como forma de automatizar os diversos processos de negócio,
como vendas, marketing, serviços ao consumidor e suporte a campo (LIGGYERI, 2007). Nesse
sentido, as ações do CRM devem ser estabelecidas pensando-se no longo prazo e no potencial de
retorno de cada estratégia, cujo fim é vender mais através da maior atração e retenção de clientes.
106
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
É importante destacar que a intenção aqui não é ressaltar o embate que discute se o CRM é uma
tecnologia ou um conceito, principalmente porque, na verdade, a ele cabem as duas posições, afinal,
basta saber se no momento a solução demandada pela organização é uma solução mais tecnológica
(desenvolver o CRM) ou mais conceitual (fazê-lo funcionar adequadamente, considerando o horizonte dos
clientes). A questão aqui é pensar se o que se busca é a capacidade de armazenamento e processamento
de dados sobre os clientes ou uma solução voltada para o treinamento de pessoal para fazer melhor
uso da tecnologia durante o processo de atendimento.
Para se ter um CRM bem-sucedido é importante garantir que todas as atividades da empresa estejam
a serviço das necessidades do cliente. Segundo Liggyeri (2007), o CRM integra pessoas, processos e
tecnologia para otimizar o gerenciamento de todos os relacionamentos, com os clientes e consumidores,
com os parceiros de negócios e demais agentes dos canais de distribuição. Logo, o CRM é uma estratégia
de negócios que visa entender, antecipar e administrar, de maneira lucrativa, as necessidades dos clientes
atuais e potenciais.
Segundo Brown (2001), o CRM é uma jornada de estratégias, processos, mudanças organizacionais
e técnicas através da qual a empresa deseja administrar melhor o seu próprio negócio acerca do
comportamento dos clientes. O CRM acarreta adquirir e distribuir conhecimento sobre os clientes e
usar essas informações por meio de vários pontos de contato para equilibrar rendimentos e lucros
com o máximo de satisfação dos clientes. Para Zanone (2019), por meio do CRM é possível melhorar
o processo de fidelização de clientes, especialmente na relação pós-venda, e isso é uma condição que
pode representar o sucesso e a sobrevivência do negócio.
Ainda de acordo com Brown (2001), o CRM pode ser explicado como um processo de aquisição e
retenção de clientes lucrativos, para os quais a entrega de valor por parte da empresa é fundamental.
Nele, fica evidente que a relação de ganhos mútuos deve ser proporcional para os clientes e para a
organização, construindo, assim, relacionamentos que durem por longos períodos.
O CRM é uma filosofia de negócios com o objetivo de gerenciar o relacionamento com os clientes
suportada por um banco de dados denominado data warehouse, que, por meio de um conjunto de
ferramentas de mineração de dados (data mining), destina-se a entender e a influenciar o comportamento
do público, melhorando as comunicações e aumentando significativamente as compras, a retenção, a
lealdade e a lucratividade.
O CRM, em geral, é explicado como sendo operacional, analítico ou colaborativo, embora existam
outras formas de tipificá-lo.
Esses três tipos de CRM são bastante relevantes e podem ser entendidos da seguinte forma:
• CRM operacional: trata dos sistemas de back office e dos de front office, da automação do
atendimento, dos processos de marketing, da força de vendas, dos sistemas de mobile office, do
sistema móvel de vendas e do atendimento em campo, entre outros. No CRM operacional, os
107
Unidade III
aplicativos são voltados para os clientes, portanto, ele visa à criação de canais de relacionamento
com os clientes.
• CRM analítico: faz a identificação e a classificação dos clientes, toma decisões, faz data mart
de atividades de clientes, de clientes, de produtos – gerência de categorias, e faz a gerência de
campanhas. Portanto, ele está relacionado à inteligência dos sistemas, ou melhor, ao uso inteligente
dos sistemas disponíveis. O CRM analítico visa à obtenção de uma visão consistente do cliente,
usando os dados recolhidos pelo CRM operacional para alcançar um conhecimento que permita
gerar mais negócios.
• CRM colaborativo: trata das redes de parceria colaborativas, da gerência das interações com o
cliente, da conferência via web, do e-mail e gerência de respostas e da interação direta. Portanto,
está relacionado a todas as interações entre cliente e canais de comunicação da unidade produtora.
O CRM colaborativo visa à obtenção do valor do cliente através de colaboração inteligente,
baseada em conhecimento.
Em suma, o CRM operacional visa à criação de canais de relacionamento com o cliente, já o analítico
utiliza os dados recolhidos pelo CRM operacional e os aplica para melhorar as condições de atendimento
e a oferta de produtos. Por fim, o CRM colaborativo utiliza dados recolhidos para chegar à colaboração
inteligente dos clientes.
A implantação do CRM pode trazer diversas vantagens mercadológicas para as organizações, as quais
podem ser consideradas tanto no ambiente tradicional de loja como no ambiente virtual. De acordo com
Zanone (2019), as ações de marketing de relacionamento no contexto do CRM trazem benefícios para as
organizações que podem ser notados nos resultados de vendas e nos índices de fidelização.
Para Stone, Woodcock e Machtynger (2001), entre os principais benefícios do CRM estão:
• Aumento na lucratividade por cliente: não apenas porque cada um deles compra mais, mas
também por causa dos menores custos para recrutá-los e pela desnecessidade de recrutar muitos
clientes para manter constante o volume de negócios.
• ajudar a segmentar o público em grupos de clientes com interesses comuns ou com características
como capacidade de pagamento, volume por compra, frequência de compras etc;
108
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
• reduzir custos com propaganda, uma vez que o investimento pode ser direcionado para os meios
e canais de mídia que atingem de maneira efetiva o público desejado;
• dar suporte à organização para competir por clientes não apenas através do preço, mas também
graças a serviços diferenciais e demais atributos que possa oferecer;
• utilizar mais eficientemente o banco de dados de marketing (em inglês: data base marketing
– DBM), que armazena os dados e as informações processados pelo sistema de informação de
marketing – SIM (em inglês: marketing information system – MIS), o qual, por sua vez, distribui
as informações já compiladas e relevantes para quaisquer áreas ou departamentos solicitantes;
• dimensionar melhor o investimento, o que significa reduzir gastos com clientes de baixo valor
e aumentar gastos com clientes mais lucrativos; o adequado empenho dos recursos humanos e
financeiros ocorre a partir do potencial dos grupos de clientes;
• realizar a customização de produtos e serviços, ação que consiste em agregar valor a eles,
tornando-os mais enquadrados às demandas e desejos dos clientes; embora isso inclua torná-los
mais caros, tem como vantagens fazê-los mais atraentes e desejados.
• Menores custos de recrutamento de clientes: o que envolve economia (de marketing) com mala
direta, contatos pessoais, telefônicos e por e-mail; acompanhamento das solicitações dos clientes;
verificação do desempenho dos retornos dados aos clientes.
109
Unidade III
• Maior lucro por cliente: que se baseia na qualidade da seleção de clientes e na qualidade do
relacionamento desenvolvido com eles. Com isso, tais clientes passam a dar preferência ao produto
e à marca daquela empresa, tendendo a ampliar o valor por compra e o número de compras
realizadas por período.
• Custo reduzido de vendas: clientes ativos com os quais se tenha instaurado um eficiente processo
de relacionamento, requerem menos recursos para concretizar as compras, o que aumenta o ROI.
• Não é necessário conseguir tantos clientes para manter um grande volume de negócios: isso se os
clientes existentes tiverem sido devidamente selecionados e atendidos, gerando fidelização.
• Análise da lucratividade por cliente: neste caso, é importante saber quando exatamente é o
retorno gerado por cada cliente. É importante separá-los por categorias ou classes de retorno e,
sempre que possível, buscar meios de aumentar o retorno.
• Aumento da lealdade: os clientes permanecem por mais tempo interessados nos produtos e marca
da empresa, compram mais e entram em contato com a empresa sempre que sentem necessidade.
Portanto, na visão de Swift (2001), o CRM é mensurável e pode ser útil para aumentar a lucratividade
de uma cadeia de valor.
Os apontamentos são apenas algumas das vantagens do CRM, logo, é importante destacar que
os benefícios somente são possíveis (no CRM) se houver planejamento adequado para o uso das
informações e recursos disponíveis. Isso exige que se saiba se o cliente concorda ou não com certas
atitudes da organização, e se ela realmente os conhece e respeita.
Apoiar-se nos benefícios teóricos do CRM e do e-CRM (eletronic-CRM) é um primeiro passo, mas
não é suficiente. É fundamental agir com responsabilidade e coerência, desde o instante em que são
solicitadas informações aos clientes (ou simplesmente capturadas durante as relações) até o momento
em que se faz uso delas.
Do ponto de vista dos usuários (não especialistas em informática), é possível compreender que o
web service é um serviço disponível de cuja existência talvez muitos usuários nem se deem conta, mas
ele está lá, atuando para deixar mais amigáveis as interações entre diferentes sistemas e plataformas.
O e-CRM é mais barato, rápido e acessível, por isso, representa mais uma vantagem do CRM, agora em
ambiente virtual.
110
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
No campo do CRM, o sucesso não deve ser medido apenas pelo lucro ou prejuízo imediato, mas
também pelo potencial de retorno de cada grupo de clientes no futuro.
Um exemplo dessa aplicação são as contas estratégicas, aquelas que podem ser explicadas, segundo
Silva e Zambon (2015) e Shapiro (1998), como sendo um investimento, já que são aceitas perdas em um
determinado momento e, por certo tempo, até que tais contas se tornem lucrativas no futuro.
Em outras palavras, investe-se em clientes que, por algum tempo, não dão lucro, mas que, com o
passar do tempo, tenderão a ser muito rentáveis.
Lembrete
É o que ocorre com boa parte das contas universitárias que, muitas
vezes, são deficitárias para os bancos nos primeiros anos, mas prometem
retorno quando os universitários se tornarem profissionais com renda.
Mais um aspecto importante sobre o uso do CRM é considerar que cada negócio é, de certo modo,
único, logo, distinto dos demais. As ações tais quais criadas e utilizadas por uma organização podem não
ser boas para outra. Isso quer dizer que as soluções devem ser criadas e implantadas em cada negócio
seguindo as características e particularidades daquele negócio e dos clientes que atende. É por isso que
pensar no potencial do CRM e nas suas ferramentas é genericamente melhor do que pensar em copiar
a solução adotada por concorrentes.
O CRM não é uma solução milagrosa, tampouco definitiva, embora seja uma solução muito
inteligente quando usada corretamente. Talvez o principal erro possível com o CRM seja aplicá-lo como
se fosse uma solução para todos os problemas relativos a clientes, como vendas, aceitação de produtos,
fidelização etc., sem considerar que ele precisa ser acompanhado “bem de perto” e sua implantação deve
respeitar o perfil do negócio e dos clientes que deseja atingir.
Um risco grave se a implantação do CRM for mal configurada é o de adquirir e manter os clientes
errados, ou seja, aqueles clientes que não dão e não darão lucro e não fazem parte do perfil de
clientes que o negócio gostaria de atingir. Portanto, focalizar a retenção do cliente como sendo a
grande prioridade dos negócios pode ser uma atitude bastante ingênua se a maioria dos clientes
cooptados não for lucrativa.
Em muitos setores, como o bancário, de seguros ou de serviços públicos, uma porção razoável de
clientes não é lucrativa, porque o custo de lhes prestar serviços é muito maior do que os benefícios
gerados por eles. Em tais situações, as técnicas de gestão de clientes destinam-se a reduzir os custos
dos serviços prestados ou até mesmo a abandonar os clientes não lucrativos (STONE; WOODCOCK;
MACHTYNGER, 2001).
111
Unidade III
Possivelmente, o mais oportuno seja dizer que, de fato, o caso não é o risco do CRM, mas sim o risco
da escolha, desenvolvimento, implantação e utilização incorretos do CRM.
Geralmente, uma maneira aceitável de se fazer tal mensuração é a checagem do resultado financeiro
antes e depois da ação implementada, quando se subtrai o investimento do resultado do período atual
e se verifica que o que sobra é significativamente maior do que o resultado do período anterior. Embora
esse raciocínio possa parecer simples e até óbvio, não obstante toda sua simplicidade, ele aponta para
o que muitos gestores esquecem de fazer quando verificam se o investimento realizado para ampliar o
potencial de relacionamento com os clientes realmente culminou no aumento de vendas e de clientes
fidelizados, ou seja, se o resultado desejado foi atingido ou não, para então decidir o que fazer.
No CRM, dar ênfase ao relacionamento com os clientes mais lucrativos é um objetivo valioso. Tal
medida pode gerar eficiência das ações de relacionamento, que é uma maneira de economizar recursos
financeiros e humanos, mas também de fornecer a organização no caminho para se chegar aos clientes
certos, que, por sua vez, devem ser atendidos da maneira certa, recebendo os produtos certos.
Para que o CRM seja bem-sucedido, é necessário bom senso. De nada adiantaria investir em CRM
se ele não for desenvolvido considerando-se as reais demandas de cada uma das partes (expectativas
dos clientes, ou seja, suas necessidades e desejos e os objetivos e metas da organização – lucro e
desenvolvimento). O CRM precisa ser capaz de acompanhar as transformações e evoluções dos clientes,
deve estabelecer registros e análises que mostrem para onde os clientes estão indo e se isso será feito
com a empresa ou não.
A big data envolve a utilização de ferramentas especialmente desenvolvidas para lidar com um
volume gigantesco de dados, de forma que toda e qualquer informação nesses meios possa ser
encontrada, analisada e aproveitada em tempo hábil.
112
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Boa parte dos indivíduos trocam muitas informações e fazem isso constantemente, por exemplo,
enviam e-mail, acessam dados bancários, fazem consultas de preços e sobre a disponibilidade de
produtos, estudam as características tangíveis e intangíveis dos bens; além disso, no campo profissional,
criam sofisticadas soluções gerenciais para a cadeia de suprimentos, as quais trocam muitos dados e
informações entre parceiros comerciais e fornecedores. Todo esse tráfego de dados pode ser registrado,
compilado e analisado, e a big data é uma ferramenta que faz isso adequadamente e no tempo necessário.
Uma das principais justificativas para a importância da big data é a contundente afirmação de
que informação é poder. Longe de um jargão, com a big data essa ideia pode tomar proporções até
bem pouco tempo inesperadas em termos de conhecimento de clientes e tempo de desenvolvimento
de ações para chamar sua atenção e vender para eles. Com essa tecnologia, as ações mercadológicas
tornam-se mais efetivas, logo, mais apropriadas para cada tipo de cliente.
Para Manyika et al. (2011), existem pelo menos cinco formas gerais nas quais o uso de big data pode
criar valor. São elas:
• Primeiro, a big data pode desbloquear um valor significativo, tornando as informações transparentes
e utilizáveis com uma frequência muito mais alta.
• Terceiro, a big data permite uma segmentação cada vez mais restrita de clientes e, portanto,
produtos ou serviços personalizados com muito mais precisão.
• Quinto, a big data pode ser usada para melhorar o desenvolvimento da próxima geração de
produtos e serviços. Por exemplo, os fabricantes estão usando dados obtidos de sensores embutidos
em produtos para criar ofertas de serviço pós-venda inovadoras, como manutenção proativa
(medidas preventivas que ocorrem antes que uma falha aconteça ou mesmo seja notada).
Segundo a Manyika et al. (2011), a big data é a próxima fronteira da inovação, competição e
produtividade entre as organizações. Para Alecrim (2015), a proposta de uma solução de big data
é oferecer uma abordagem ampla no tratamento do aspecto cada vez mais “caótico” dos dados
para tornar as referidas aplicações mais eficientes e precisas. Nesse sentido, o conceito leva em
consideração não apenas a grande quantidade de dados, a velocidade de processamento e análise e a
disponibilização deles aos interessados, considera também a relação com e entre os volumes.
113
Unidade III
A big data é importante à medida que o volume de dados e registros aumenta globalmente. Em
casos como os registros telefônicos dos clientes de uma operadora de telefonia móvel, as trocas de
mensagens nas redes sociais, em especial no Facebook, as pesquisa sobre produtos nos sites da Amazon,
da Americanas ou do Ponto Frio, por exemplo, somente permitem uma análise profunda (de tais dados
em seu volume total) se a opção for pelo uso da big data.
Segundo Alecrim (2015), objetivando deixar a big data mais compreensível, alguns especialistas
passaram a resumir o assunto em aspectos que conseguem descrever satisfatoriamente a base do
conceito, para isso, utilizam-se de 5 Vs: volume, velocidade e variedade, com os fatores veracidade e
valor aparecendo posteriormente.
Volume
Trata de quantidades de dados realmente grandes, que crescem exponencialmente e
volume que, não raramente, são subutilizados justamente por estarem nessas condições.
Estes 5 Vs não precisam ser tomados como a definição única ou com poder de excluir outras
abordagens, o objetivo de sua proposta é apenas facilitar a compreensão do poder na big data no
tocante a verificar, em grandes volumes de dados, condições e características que possibilitem a tomada
de adequadas decisões, sempre à luz de um processo que, do ponto de vista da organização, está
relacionado ao acompanhamento do perfil e da evolução de cada cliente que a organização possui.
114
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Muitos outros conhecimentos e aplicações da big data se tornaram comuns nos próximos anos, mas
em especial é importante destacar que sua evolução depende da capacidade de se ter acesso aos dados
estruturados, a capacidade de analisá-los e também as condições de armazenamentos de tais dados, pois,
se qualquer dado for perdido, todo o processo de big data pode ser comprometido; em caso extremos,
talvez uma variável relevante sobre certos clientes seja simplesmente desconsiderada e a decisão final dos
gestores – por não ter considerado essa variável – pode apresentar viés (erro).
Por fim, o valor da big data está em ser mais um meio (talvez o mais moderno em voga) de
analisar/conhecer os clientes, seus perfis e comportamento, para então fazer com que os profissionais
de marketing tenham melhores condições de fazer ofertas mais adequadas, logo, com maior poder de
solucionar suas demandas.
Que fique claro, seja o CRM, a big data ou outras soluções tecnológicas, elas são importantes e
colaboram muito para que as organizações atinjam seus resultados. Dependendo do porte da organização,
sem esse tipo de ferramenta seria praticamente impossível chegar a certos níveis de resultados de
conhecimento dos clientes.
Resumo
115
Unidade III
Exercícios
Questão 1. Suponha que Carlos, entusiasmado com a promoção que lhe foi oferecida na empresa
em que trabalha, compre um bem de consumo durável na volta para casa. Depois da compra efetuada,
quando ele chega à sua residência, reflete e percebe que aquela compra não deveria ter sido realizada.
Com base no exposto, podemos dizer que Carlos foi submetido aos efeitos da dissonância
cognitiva, pois:
I - Ele, ao final do processo da compra, fez um julgamento negativo em relação ao produto adquirido.
II - Ele deixou-se levar por um impulso, uma vez que seu entusiasmo foi um elemento emocional
que o fez adquirir o bem em questão.
III - Ele experimentou um sentimento de arrependimento comparativo, pois percebeu que, se não
tivesse comprado aquele bem, poderia adquirir outro que talvez fosse mais importante.
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.
Análise da questão
116
ADMINISTRAÇÃO D0 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE
Questão 2. (Enade 2018, adaptada) Para que uma estratégia de CRM apoiada em recursos tecnológicos
seja capaz de atender seus objetivos, é preciso que a maioria das atividades da empresa esteja nela
envolvida. Em geral, as estratégias de CRM têm como objetivo principal criar uma visão de 360° do
cliente, ao mesmo tempo unificada e multidepartamental. O segredo da CRM de sucesso é uma filosofia
e uma cultura comercial voltadas para o cliente e que garantam que toda atividade da empresa esteja
a serviço das necessidades dele. Na CRM, primeiro deve ser feita a análise da qualidade e da eficiência
dos processos relacionados aos clientes e depois esses processos devem ser eliminados, atualizados e
redesenhados, ou criados novos processos, conforme necessário. Não é possível automatizar uma via de
escape dos processos ruins. O mosaico de informações resultante é então usado para criar e automatizar
processos que identificam, descrevem e valorizam os clientes. A CRM permite captar, permanecer
próximo e reter os clientes para a organização (Fonte: LAUDON, K. C., LAUDON, J. Gerenciamento de
sistemas de informação. Rio de Janeiro: LTC, 2001. Adaptado).
A) I.
B) IV.
C) I e II.
D) II e III.
E) III e IV.
Análise da questão
117
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 2
Figura 4
SHETH, J. N.; MITTAL, B.; NEWMAN, B. I. Comportamento do cliente: indo além do comportamento do
consumidor. São Paulo: Atlas, 2001. p. 413.
Figura 5
ALBRECHT, K. A única coisa que importa: trazendo o poder do cliente para dentro da sua empresa. São
Paulo: Pioneira, 1997. p. 106.
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Exercícios
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127
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000