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Artes Visuais no

Renascimento
Autor: Prof. Jorge Miklos
Colaboradores: Prof. Alexandre Ponzetto
Profa. Tânia Sandroni
Professor conteudista: Jorge Miklos

Natural de São Paulo, capital. É graduado em História pelo Centro Universitário Assunção – Unifai (1989) e Ciências
Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp (2013).

Possui mestrado em Ciências da Religião pela PUC de São Paulo (1998) e doutorado em Comunicação em Semiótica
pela mesma instituição.

Há mais de duas décadas atua como professor em diferentes contextos. Desde 2008 desenvolve um trabalho como
professor de História na área de Licenciatura, contribuindo para a formação de professores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M636a Miklos, Jorge.

Artes Visuais no Renascimento. / Jorge Miklos. – São Paulo:


Editora Sol, 2016.

188 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-061/16, ISSN 1517-9230.

1. Artes Visuais. 2. Renascimento. 3. Maneirismo. I. Título.

CDU 7

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Vitor Andrade
Lucas Ricardi
Sumário
Artes Visuais no Renascimento

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 RENASCIMENTO: DEFINIÇÃO..........................................................................................................................9
1.1 Fatores que favoreceram a manifestação do Renascimento.................................................9
1.2 As principais características do Renascimento......................................................................... 10
2 AS ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO ITALIANO: FLORENÇA E SIENA.................................... 11
2.1 Trecento..................................................................................................................................................... 12
2.1.1 Cimabue....................................................................................................................................................... 12
2.1.2 Duccio........................................................................................................................................................... 14
2.1.3 Giotto............................................................................................................................................................ 17
2.1.4 Simone Martini......................................................................................................................................... 25
2.1.5 Pietro Lorenzetti....................................................................................................................................... 28
2.1.6 Taddeo Gaddi............................................................................................................................................. 29
2.2 Quattrocento........................................................................................................................................... 30
2.2.1 Masaccio...................................................................................................................................................... 31
2.2.2 Fra Angelico................................................................................................................................................ 34
2.2.3 Paolo Uccello............................................................................................................................................. 37
2.2.4 Filippo Lippi................................................................................................................................................ 38
2.2.5 Piero della Francesca.............................................................................................................................. 40
2.2.6 Sandro Botticelli....................................................................................................................................... 44
2.2.7 Donatello..................................................................................................................................................... 49
2.2.8 Leon Battista Alberti............................................................................................................................... 52
2.3 Cinquecento: Toscana e Roma......................................................................................................... 53
2.3.1 Donato Bramante.................................................................................................................................... 54
2.3.2 Leonardo Da Vinci.................................................................................................................................... 54
2.3.3 Rafael Sanzio............................................................................................................................................. 60
2.3.4 Michelangelo............................................................................................................................................. 65
2.3.5 A Capela Sistina........................................................................................................................................ 71

Unidade II
3 O RENASCIMENTO EM VENEZA E EM OUTRAS CIDADES ITALIANAS.......................................... 85
3.1 Veneza........................................................................................................................................................ 85
3.1.1 Giovanni Bellini........................................................................................................................................ 86
3.1.2 Giorgione..................................................................................................................................................... 90
3.1.3 Ticiano.......................................................................................................................................................... 91
3.1.4 Lorenzo Lotto............................................................................................................................................. 94
3.1.5 Tullio Lombardo........................................................................................................................................ 97
3.1.6 Jacopo Sansovino.................................................................................................................................... 98
4 O RENASCIMENTO EM OUTRAS CIDADES ITALIANAS........................................................................ 99
4.1 Correggio.................................................................................................................................................. 99
4.2 Andrea Mantegna...............................................................................................................................102
4.3 Perugino..................................................................................................................................................103
4.4 Paolo Veronese.....................................................................................................................................105

Unidade III
5 O MANEIRISMO ITALIANO: DEFINIÇÃO.................................................................................................116
6 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MANEIRISMO............................................................................117
6.1 O Maneirismo na pintura.................................................................................................................117
6.1.1 Andrea del Sarto.................................................................................................................................... 118
6.1.2 Jacopo Carucci, ou Jacopo da Pontormo..................................................................................... 119
6.1.3 Rosso Fiorentino.................................................................................................................................... 122
6.1.4 Agnolo Bronzino................................................................................................................................... 124
6.1.5 Giorgio Vasari......................................................................................................................................... 126
6.1.6 Tintoretto................................................................................................................................................. 128
6.1.7 Parmigianino............................................................................................................................................131
6.2 Maneirismo na arquitetura.............................................................................................................132
6.2.1 Andrea Palladio...................................................................................................................................... 132
6.3 Maneirismo na escultura..................................................................................................................133
6.3.1 Giambologna.......................................................................................................................................... 133
6.3.2 Benvenuto Cellini................................................................................................................................. 134
Unidade IV
7 O RENASCIMENTO EM PORTUGAL E NA ESPANHA..........................................................................139
7.1 Renascimento português.................................................................................................................139
7.2 Renascimento espanhol...................................................................................................................142
8 O RENASCIMENTO NA FRANÇA E NA INGLATERRA.........................................................................147
8.1 Renascimento francês.......................................................................................................................147
8.2 Renascimento inglês..........................................................................................................................152
APRESENTAÇÃO

A disciplina Artes Visuais no Renascimento trata do estudo da arte que se desenvolveu durante os
séculos XIV, XV e XVI na Europa.

Ao longo do curso, você terá a possibilidade de acompanhar as diversas transformações artísticas que
tornaram esse período um dos mais ricos da história da humanidade e um tempo de experimentações
em todas as áreas do conhecimento humano.

A partir da definição do conceito de Renascimento e de uma análise dos fatores que favoreceram seu
início e consequente evolução, primeiro, nas cidades italianas, depois, no resto da Europa, chegaremos
à produção artística que se promoveu durante esse período, incluindo nessa trajetória a arte produzida
durante o Maneirismo italiano.

Com a finalidade de ajudá-lo a compreender as principais características do Renascimento e como


ele se refletiu nas artes, este curso busca contextualizar esse movimento voltado para a mudança,
destacando as principais manifestações artísticas do período.

INTRODUÇÃO

Caro aluno,

O principal objetivo desta disciplina é destacar de que maneira as transformações políticas, sociais e
econômicas ocorridas na Europa a partir do século XII – e que se acentuariam nos séculos seguintes –
influenciaram as artes visuais propagadas entre os séculos XIV, XV e XVI na Europa.

Quando pensamos na arte do Renascimento, de imediato certas pinturas e esculturas nos vêm à
mente. Então, temos as seguintes questões: Por que elas representam tal corrente de pensamento?
Em quais aspectos elas se diferem da arte praticada no período anterior e em quais aspectos elas e
seus criadores diferem entre si? Por que certos pintores e escultores foram tão importantes para o
Renascimento? Quais foram suas contribuições? Como o Renascimento se expandiu em outros países?
O que é o Maneirismo? Como se iniciou? Quais são seus artistas mais notáveis?

Essas são algumas questões que serão discutidas no transcorrer do nosso curso. No fim, esperamos que
você consiga entender as características das três fases do renascimento italiano (Trecento, Quattrocento
e o Cinquecento) e seja capaz de analisar as principais contribuições dos artistas mais significativos de
cada período para a arte mundial. Além disso, desejamos que, ao longo do curso, você obtenha recursos
que lhe permitam compreender como o Renascimento avançou em outras regiões da Europa e como o
Maneirismo se desenvolveu na Itália.

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Unidade I
1 RENASCIMENTO: DEFINIÇÃO

Entre os séculos XIV, XV e XVI surgiu na Europa Ocidental um movimento marcado por um conjunto
de manifestações artístico-culturais que assinalou a transição da Idade Média para a Moderna. Esse
movimento, denominado Renascimento, ocorreu primeiro na Itália, que reunia condições favoráveis à
sua emergência, e depois se difundiu pelo continente.

O Renascimento foi a primeira tentativa da burguesia emergente para elaborar uma cultura
comprometida com seus valores. Fruto das transformações vividas pela Europa Ocidental durante a Baixa
Idade Média, esse movimento atacava a ordem medieval, revelando a “crise da consciência europeia” de
fins da Idade Média e início da Moderna.

1.1 Fatores que favoreceram a manifestação do Renascimento

O primeiro fator que favoreceu a eclosão do Renascimento foi a revolução comercial. A reabertura
do Mediterrâneo para o comércio com o Oriente propiciou a intensificação das relações mercantis na
Europa, gerando enorme prosperidade econômica. Muitos burgueses, enriquecidos com a atividade
comercial, mas segregados socialmente, buscavam prestígio, por isso patrocinavam artistas e intelectuais
para que produzissem uma cultura comprometida com os novos valores da burguesia, e esses burgueses
ficaram conhecidos como mecenas. O restabelecimento do contato com o Oriente (sobretudo com
Bizâncio) favoreceu ainda o afluxo, para a Europa, de gênios que conservavam parte da cultura clássica
greco-latina, fonte de inspiração renascentista.

A expansão do comércio promoveu o crescimento das cidades, que se converteram em polos produtores
e irradiadores da nova cultura renascentista. Nas áreas urbanas, surgiram academias de Artes e Ciências e
universidades, em sua maioria, dedicadas a refletir sobre novas concepções estéticas e éticas, rompendo
com a visão medieval de mundo e propondo uma mentalidade mais especulativa e crítica. Além disso, as
ideias do Renascimento, graças à invenção da imprensa, puderam ser divulgadas de maneira mais rápida.

Observação

Durante a Baixa Idade Média, o crescimento demográfico e a ampliação


da produção de alimentos no campo contribuíram para a dissolução do
sistema feudal que existia até então. Irrompe, então, uma nova classe social:
a burguesia – formada por mercadores que enriqueceram e que desejavam
o poder político e o prestígio social, pois os consideravam adequados à sua
riqueza material.
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Unidade I

1.2 As principais características do Renascimento

A cultura clássica greco-romana serviu de fonte de inspiração para artistas e pensadores renascentistas,
que repudiavam a cultura medieval, estática, carregada de religiosidade. No entanto, a cultura clássica
não era simplesmente imitada, mas reelaborada a partir dos novos valores da burguesia emergente.

No Renascimento, o antropocentrismo (o homem como centro do universo) emergiu


como uma forma de pensamento na qual ocorria a valorização do homem e de todas as suas
capacidades, em especial da razão, considerada única fonte dos conhecimentos (racionalismo). O
antropocentrismo em oposição ao teocentrismo (Deus como centro do Universo) – ideia presente
na Idade Média – valorizava o indivíduo e suas características, responsáveis pelo sucesso ou
fracasso de cada um (dessa maneira, negava-se a interferência do sobrenatural na vida terrena);
além disso, essa concepção pregava a valorização do naturalismo, ou seja, a fiel reprodução da
natureza e de sua obra-prima: o ser humano.

Lembrete

A palavra Renascimento indica “o renascer”, “ter uma nova vida”. À


época, a ideia de um renascimento vincula-se à (re)valorização da ideia
e da arte, aspectos presentes na Antiguidade Clássica, e à volta de uma
cultura humanista na qual a concepção medieval do mundo ganha uma
nova visão, baseada na ciência, na experiência e na observação do homem
e da natureza.

As diferentes áreas do conhecimento humano sofreram o impacto da multiplicidade de caminhos


que se abriu com o pensamento renascentista, em que a palavra-chave era diversidade. Contudo, essa
ruptura e o respeito às individualidades não foram conquistas fáceis.

No que diz respeito às novas ideias, muitos autores, pensadores e artistas foram perseguidos.
Dante Alighieri (1265-1321), autor de A Divina Comédia, e Nicolau Maquiavel (1469-1527), filósofo e
pensador político, autor de O Príncipe, foram exilados. O filósofo, poeta e teólogo dominicano Tommaso
Campanella (1568-1639) e Galileu Galilei (1564-1642), físico, matemático, astrônomo e filósofo, foram
presos e torturados. Thomas Morus (1478-1535), autor de A Utopia, foi decapitado por ordem do rei
Henrique VIII da Inglaterra. Giordano Bruno (1548-1600), teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano,
foi condenado à morte na fogueira pela inquisição romana. Miguel de Servet (1509-1553) também foi
queimado vivo, condenado pelos calvinistas de Genebra.

Apesar desses exemplos, o Renascimento foi um período que abriu inúmeras portas para a realização
humana, e a dualidade “virtude e pecado”, que norteava o pensamento da Idade Média, passou a não se
aplicar mais. A frase de Pico Della Mirandola resume bem os ideais desses novos tempos: “a dignidade
do homem repousa no mais fundo da sua liberdade” (SEVCENKO, 1984, p. 22).

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Saiba mais

Para saber mais sobre o Renascimento, você pode ler alguns dos livros
a seguir:

DUBOIS, C. G. O imaginário da renascença. Brasília: Editora Universidade


de Brasília, 1995.

DELUMEAU, J. A civilização do Renascimento. Lisboa: Estampa, 1994.

Além desses livros, o filme a seguir pode propiciar uma inter-relação


com o conteúdo da unidade:

GIORDANO BRUNO. Dir. Giuliano Montaldo. Itália: Versátil Home Vídeo,


1973. 115 minutos.

2 AS ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO ITALIANO: FLORENÇA E SIENA

Durante o século XIV, as poderosas cidades italianas, sobretudo Florença, representaram o florescimento
artístico, humanista, tecnológico e científico do Renascimento. Privilegiadas geograficamente, algumas
dessas cidades, mais do que outras, ofereciam as condições ideais para o início desse movimento.

É imperioso lembrar que a Itália não era um país unificado e as cidades eram organizadas em
cidades‑Estado ou repúblicas. Cada príncipe ou família que governava uma cidade queria mostrar seu
esplendor e poder. Assim, a pintura, a arquitetura e a escultura acabaram se transformando em um
centro para onde se dirigiam todas as tendências mais importantes da cultura do Renascimento.

A princípio, os artistas da Toscana – com destaque para Florença e Siena – foram os modelos da arte
renascentista, porém é necessário observar que a partir do século XIV, cada centro artístico já tinha sua
especialidade, e as diferenças entre eles e entre as regiões continuaram durante os séculos XV e XVI.

Nas artes, os ideais renascentistas, baseados no Humanismo, e a preocupação com o rigor científico
podem ser encontrados nas mais variadas manifestações “[...] o espaço na arquitetura, [...] as linhas e
cores na pintura, ou ainda os volumes na escultura, os artistas do Renascimento sempre expressaram os
maiores valores da época: a racionalidade e a dignidade do ser humano” (PROENÇA, 2001, p. 78).

Na pintura, embora os mestres da Grécia e de Roma já dominassem a perspectiva, o uso do


claro‑escuro e o realismo, esses recursos tinham sido abandonados pelos pintores do período romântico
e dos primeiros períodos góticos, e os pintores renascentistas os resgataram.

O uso da perspectiva conduziu a outro recurso, o claro-escuro, que consiste em pintar algumas
áreas iluminadas e outras na sombra. Esse jogo de contrastes reforça a sugestão do volume dos
11
Unidade I

corpos. Essa combinação contribuiu para o maior realismo das pinturas. Outra característica da arte do
Renascimento, especialmente da pintura, foi a irrupção de artistas com um estilo pessoal, diferente dos
demais (PROENÇA, 2001, p. 82).

Os historiadores costumam dividir o renascimento italiano em três fases, cada uma correspondendo
a um século: o Trecento (século XIV), o Quattrocento (século XV) e o Cinquecento (século XVI).

Lembrete

O Renascimento representa um momento de expressão da liberdade


e das individualidades. Em oposição ao que acontecia na Idade Média,
o artista tem a possibilidade de revelar suas ideias e sentimentos. Dessa
forma, sobretudo na pintura, há muitos talentos conhecidos em cada uma
das fases do Renascimento.

2.1 Trecento

Também denominado pré-Renascimento, destaca a “fase inicial da elaboração da cultura


renascentista, quando serão esboçados e difundidos alguns dos princípios mais caros da nova arte e do
pensamento humanista” (SEVCENKO, 1984, p. 47).

2.1.1 Cimabue

Cimabue era o apelido do pintor Cenni di Peppe, que nasceu e faleceu em Florença (1240-1302).
Durante toda sua vida, trabalhou nessa cidade e em seus arredores. Junto com Coppo di Marcovaldo,
cooperou nos mosaicos que decoram a parte interna do batistério e da Catedral de Florença e também
fez parte dos afrescos da Igreja de São Francisco, em Assis, no sul de Florença.

Não existe um consenso com relação à obra de Cimabue. Para muitos estudiosos, seu grande
mérito foi ter sido mestre de Giotto e o último pintor italiano a utilizar as técnicas bizantinas. No
entanto, há aqueles que veem em sua obra algumas características que rompem com a rigidez da
arte bizantina.

Na pintura a seguir, por exemplo, é possível observar algumas dessas inovações: os tons sombreados,
sobretudo, nas asas dos anjos; a humanidade nos rostos de Nossa Senhora e do menino Jesus e a
naturalidade das dobras nas roupas de sua mãe. Para os peritos, as obras de Cimabue abriram caminho
para as inquietações dos seus sucessores (principalmente Giotto) com relação à representação do corpo,
do espaço e da luz.

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 1 – Santa Trinità

Observação

O estilo bizantino tinha como principais aspectos o fundo dourado nas


pinturas e a representação das figuras dos santos, dos anjos, de Jesus e
de Maria em uma posição formal, rígida e em tamanho maior do que as
demais – para demonstrar a sua importância. As figuras humanas não se
pareciam com as pessoas reais, eram achatadas e havia pouco esforço em
mostrar os músculos do corpo ou as sombras.

Figura 2 – Crucifixo

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Unidade I

O Crucifixo de Cimabue foi feito para a Igreja de Santa Croce. A foto foi tirada antes da inundação
ocorrida em 1966, em Florença, que causou danos irreparáveis à pintura.

Figura 3 – Mosaico de São João (Catedral de Florença)

2.1.2 Duccio

No início do Renascimento, Siena – junto com Florença – era o centro econômico, político e cultural
da Toscana, embora somente em 1559 tenha se tornado parte do Grande Ducado da Toscana, sob
o comando dos Médici. Nenhuma outra cidade, com exceção de Florença, produziu uma escola de
pintura tão importante. Durante o Trecento, foram artistas de Siena: Duccio, Simone Martini (ativo
a partir de 1315, morto em 1344) e os irmãos Pietro e Ambrogio Lorenzetti (1320-44 e 1319-47,
respectivamente).

A data de nascimento de Duccio di Buoninsegna é desconhecida, mas sabe-se que por volta de
1278, estava ativo em Siena, onde passou a maior parte de sua vida trabalhando. Junto com Giotto, é
considerado um dos fundadores da arte ocidental, e suas pinturas trazem um senso refinado em relação
ao uso das cores e mostram um interesse pelo espaço e pela exploração das emoções humanas.

É importante observar que, diferente do que ocorrera com os artistas de Florença, Siena demorou
mais tempo para romper com a estética bizantina. Duccio procurou dar uma nova vida a essas velhas
formas, ideia na qual foi muito bem-sucedido, de acordo com Gombrich (1999, p. 212).

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 4 – A Anunciação

Nessa pintura, o arcanjo Gabriel anuncia para a Virgem Maria que ela será visitada pelo Espírito
Santo – simbolizado pela pomba – e dará a luz ao filho de Deus. Essa peça é um painel da predella
(pedestal) que fazia parte de uma obra muito maior chamada Maestà (Majestade), que foi entregue
à Catedral de Siena em junho de 1311 e colocada no altar-mor. Na época, era a mais cara e complexa
obra da cristandade, mas foi desmembrada em 1771, e, embora a maior parte dela esteja no museu da
Catedral de Siena, vários painéis e pináculos estão dispersos pelo mundo.

Observação

Predella é uma palavra de origem italiana que se refere, nas Artes


Visuais, a um conjunto de pinturas ou esculturas que, dispostas lado a lado,
formam a parte inferior de um retábulo (estrutura em pedra ou talha de
madeira que adorna a parte posterior de um altar).

Figura 5 – A Cura do Cego

15
Unidade I

Essa é outra obra que também faz parte da predella Maestà. Cristo é a figura central dessa cena, na
qual o homem cego é representado duas vezes (à direita da pintura), a primeira, quando ainda não vê,
e a segunda, após o milagre.

Figura 6 – A Transfiguração

Nessa obra (também parte da predella Maestà), Cristo aparece para os apóstolos Pedro, João e Tiago.
Do lado esquerdo, está Moisés; do outro, Elias.

Figura 7 – Nossa Senhora e o Menino Jesus com São Domingos e Santa Áurea

Esse é um altar portátil, construído em pequena escala, com portas que se fecham.

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 8 – A Natividade com os Profetas Isaías e Ezequiel

Esse trabalho também é parte da predella Maestà e representa Maria, santa padroeira de Siena, com
os anjos e os santos. Nessa obra, Maria é exposta na maneira usual bizantina – maior que as figuras que
estão ao seu redor –, o que demonstra a importância da santa para Siena. Entretanto, Duccio já traz
algumas características que serão desenvolvidas no transcorrer do Renascimento. É possível observar,
no drapeado das vestes e no cume da montanha, o uso de linhas fluidas; além disso, os profetas Isaías e
Ezequiel são individualizados e expressam, assim como Nossa Senhora, um sentimento humano.

Figura 9 – O Chamado dos Apóstolos Pedro e André

2.1.3 Giotto

Giotto di Bondone foi discípulo de Cimabue. Rumores indicam que quando Cimabue viu Giotto
pela primeira vez, ele era um menino que, enquanto olhava as ovelhas do seu pai, desenhava-as
em uma pedra.
17
Unidade I

Figura 10 – Cimabue descobre o talento do pastor Giotto em Cimabue e Giotto, obra do pintor neoclássico
Luigi Sabatelli (1772-1850) (Galeria de Arte Moderna de Florença)

Existem controvérsias com relação à data de nascimento e de morte de Giotto di Bondone. É provável
que ele tenha nascido em 1266 ou 1267, perto de Florença, e que tenha falecido por volta de 1336 ou
1337, também em Florença.

Giotto foi o pintor mais famoso e influente de sua geração na Itália. Seus serviços eram solicitados pelo
papa e seus cardeais, por reis e príncipes. Porém, grande parte dessas obras encomendadas está perdida.
Entre as obras que sobreviveram, estão a decoração, feita pelo pintor, na capela particular que o banqueiro
Enrico Scrovegni construiu para sua família, no antigo anfiteatro romano em Pádua, entre 1303 e 1305,
o ciclo de afrescos da capela superior de Assis e os afrescos laterais da capela de Santa Cruz, em Florença.

Figura 11 – São Francisco Pregando aos Pássaros

18
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Observação

Muitos especialistas afirmam que, embora Giotto tenha trabalhado, em


algum momento, em Assis, não há certeza de que todas as pinturas sejam
de sua autoria.

Figura 12 – São Francisco de Assis Recebendo os Estigmas

Esse retábulo foi pintado para uma igreja em Pisa e retrata o episódio em que São Francisco recebe
o milagre dos estigmas no Monte La Verna. É importante observar como a luz e a sombra modelam o
rosto e o corpo de São Francisco e a expressividade dos sentimentos no rosto do santo ao receber os
estigmas. Outro aspecto inovador são os sinais das tentativas do artista de representar o espaço, na
predella (parte inferior da obra).

19
Unidade I

Figura 13 – A Adoração dos Magos

Esse painel é um dos sete que mostra o nascimento de Cristo e foi pintado para um convento ou
igreja franciscana. A expressão de Maria ao olhar seu filho e a forma como o rei se ajoelha demonstram
a maneira humana como a cena é retratada.

Figura 14 – Capela de Scrovegni, em Pádua

Giotto estava com quase 40 anos quando começou a decorar a Capela de Scrovegni (também
conhecida como Capella dell’ Arena), dedicada à Santa Maria della Carità, em Pádua. A técnica empregada
por ele nas paredes da capela foi o afresco. Os temas principais que o artista desenvolveu para cobrir
inteiramente as paredes laterais da capela são três: episódios da vida de Joaquim e Ana, pais de Maria;
da vida de Maria; e trajetória e morte de Jesus Cristo.

Na parede ao fundo, cenas do Dia do Juízo Final; perto do chão, em pequenos espaços monocromáticos,
estão as sete virtudes e os sete pecados. Os quadros são separados por mármore pintado.

20
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Observação

A técnica conhecida como afresco consiste em pintar sobre camada de


revestimento recente, fresco, antes que endureça, de modo que a tinta seja
embebida pela massa.

Figura 15 – Rejeição do Sacrifício de Joaquim Figura 16 – Beijo de Judas


(cenas da vida de Joaquim)

Figura 17 – Expulsão do Templo Figura 18 – O Último Julgamento

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Unidade I

Figura 19 – O Nascimento da Virgem Figura 20 – Cenas da Vida de Joaquim


(Joaquim entre os pastores)

Figura 21 – Apresentação da Virgem no Templo Figura 22 – Cenas da Vida de Joaquim


(a vida da Virgem Maria) (anunciação para Santa Ana)

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 23 – Cenas da Vida da Virgem Maria Figura 24 – Lamentação de Cristo


(levando os bastões ao Templo)

Gombrich (1999, p. 202) afirma que, para Giotto, a pintura era “mais do que um substitutivo para a
palavra escrita. Parecemos testemunhar o evento como se estivesse sendo representado num palco”. Ao
analisar o quadro Lamentação de Cristo, o autor chama a atenção para o “movimento exaltado” de São
João, “o corpo inclinado para diante e os braços bem abertos num gesto apaixonado”. Ao realizar essa
obra, Giotto não mostra todas as figuras (algumas estão agachadas e de costas), mas não é necessário
que sejam expostas, já que ele “nos prova de um modo tão convincente como cada figura reflete a dor
profunda suscitada pela trágica cena, que não podemos deixar de pressentir a mesma aflição nas figuras
agachadas cujos rostos não podemos ver”.

Lembrete

Giotto é responsável por criar a ilusão de que, ao vermos os seus quadros,


estamos acompanhando o desenrolar dos acontecimentos de uma história.
Para obter esse efeito, o artista preocupava-se em reproduzir os gestos e a
expressão nos rostos das figuras, tornando-as mais humanas.

23
Unidade I

Figura 25 – Ascensão

Figura 26 – A Virgem Maria com o Menino Jesus

Giotto pintou esse quadro por volta do ano 1310 para a Igreja de Ognissanti, em Florença. Diferente
do que ocorria com a pintura bizantina, as figuras de Nossa Senhora e do menino Jesus são mais
humanas e não são achatadas, e a Virgem Maria segura seu filho como uma mãe realmente o faria.

Embora alguns elementos ainda lembrem a pintura bizantina, como a parte de trás dourada ou a
hierarquia das figuras (Nossa Senhora e o menino Jesus são maiores em comparação com os anjos),

24
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

o novo valor dado à figura humana e sua relação com o espaço faz desse trabalho um importante
exemplo de um novo caminho da pintura do século XIV.

Ainda que a perspectiva de Giotto tenha sido intuitiva, e não científica – como a que seria desenvolvida
no século XV –, as mudanças criadas por ele foram responsáveis, em grande parte, pelas transformações
que ocorreriam na pintura nos 100 anos seguintes.

2.1.4 Simone Martini

Discípulo de Duccio, pouco se sabe sobre a vida de Simone Martini. Sabe-se que passou muitos anos
na corte papal, que pintou A Anunciação com seu cunhado Lippo Memmi, por volta de 1333, e que essa
pintura foi feita para o altar de Santo Ansano, na Catedral de Siena.

Figura 27 – A Anunciação

Nessa obra, é possível observar como as mudanças artísticas ocorridas no século XIV influenciaram
Simone Martini e Lippo Memmi. Por exemplo, cita-se a expressividade mostrada no rosto de Nossa
Senhora, que se surpreende ao receber a visita do anjo, contraindo seu corpo. Nota-se a suavidade dos
traços e a delicadeza dos corpos esguios. Há vários símbolos: na mão esquerda do anjo, um ramo de
oliveiras, emblema da paz; entre o anjo e Nossa Senhora, um vaso de açucena, atributo da virgindade; e,
no alto, a pomba, signo do Espírito Santo.

Embora, como afirma Gombrich (1999), os olhos oblíquos e os corpos alongados possam causar
algum estranhamento, nessa pintura, há a representação real de vários objetos: o vaso com flores, o
banco em que Maria está sentada e o livro que ela segura. Tal característica é uma novidade nesse
período da pintura ocidental.

25
Unidade I

Figura 28 – Cristo Descoberto no Templo

Figura 29 – São Geminiano, São Miguel e Santo Agostinho, cada um com um Anjo

26
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 30 – São João Evangelista

Figura 31 – Um Santo Segurando um Livro

27
Unidade I

2.1.5 Pietro Lorenzetti

Além de Simone Martini, outro pintor importante de Siena foi Pietro Lorenzetti (não se sabe a sua
data de nascimento). Ele estava ativo em Siena em 1320 e faleceu na mesma cidade em 1344.

Figura 32 – Cristo entre São Paulo e São Pedro

Essa pintura foi feita por volta de 1320 e a preocupação que o pintor teve ao recriar alguns objetos
– como a espada que São Paulo carrega – é surpreendente para o período em que esse trabalho foi
realizado. Além disso, o uso das sombras e da luz nos rostos de Cristo e dos dois santos dá vida à imagem
e traz uma contribuição única a essa obra.

Figura 33 – A Crucificação

28
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

As características mais notáveis dessa obra são a intensidade e a dramaticidade: a imagem de Nossa
Senhora sendo amparada já desmaiada, o sangue jorrando dos ferimentos e a tentativa de uma das
figuras em quebrar a perna de um dos ladrões crucificados.

2.1.6 Taddeo Gaddi

Sabe-se pouco sobre a vida de Taddeo Gaddi, somente que estava ativo em Florença em 1334, que
faleceu em 1366 e que foi pupilo de Giotto.

A pintura A Crucificação é considerada uma das suas obras mais notáveis. Uma característica
marcante desse quadro é a expressão dolorosa de Nossa Senhora ao ver seu filho crucificado.

Figura 34 – A Crucificação (afresco da Igreja Santa Croce, em Florença)

29
Unidade I

Figura 35 – A pintura Nossa Senhora e o Menino Jesus com São Mateus e São Nicolas
(realizada para o Monastério de Ognissanti)

2.2 Quattrocento

A Itália e a Europa assistiram, durante o século XV, período do Renascimento denominado de


Quattrocento, à hegemonia da cidade de Florença.

Em 1339 (ainda durante o Trecento), tinha ocorrido a falência de duas grandes companhias de
Florença, a dos Bardi e a dos Peruzzi, fato que desestimulou os gastos com a arte e a cultura. Siena,
ainda que fosse um local mais modesto, era uma cidade mercantil estável, e seus pintores continuaram
a receber apoio dos mecenas.

Lembrete

As cidades italianas orgulhavam-se de seus artistas e rivalizavam entre


si para ter a garantia de seus serviços, tornando seus edifícios mais bonitos
e criando obras cuja fama duraria para sempre.

Um fator determinante para que Florença voltasse a exercer sua liderança foi a ascensão dos
Médici – grandes protetores das artes –, que exerceriam o controle sobre Florença entre os anos
de 1434 e 1492, levando a cidade a um período de imenso poder político e riqueza. Para Sevcenko
(1984, p. 49), a “instalação da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiori, encomendada ao arquiteto
Brunelleschi, consagra com o mais significativo dos monumentos renascentistas a glória e a hegemonia
da burguesia florentina”.

30
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Observação

Filippo Brunelleschi (1377-1446) é considerado o primeiro arquiteto do


Renascimento. Ele nasceu e cresceu em Florença e viajou para Roma para
estudar a construção de antigos edifícios. Sem dúvida, sua maior obra é a
cúpula da Capela Santa Maria del Fiori, em Florença.

As principais características da arquitetura do Quattrocento são:

[...] a busca de uma ordem e de uma disciplina que superasse o ideal de


infinitude do espaço das catedrais góticas. Na arquitetura renascentista,
a ocupação do espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas
estabelecidas de tal forma que o observador [pode] compreender a lei que o
organiza, de qualquer ponto onde se coloque (PROENÇA, 2001, p. 79)

2.2.1 Masaccio

Tommaso di Ser Giovanni di Mone Casai, ou Masaccio (que significa desajeitado), nasceu em 1401,
em San Giovanni Val d’Arno, e faleceu em 1428, em Roma. Sem dúvida, foi o principal representante
da corrente de pintores que buscou, durante o século XV, aprofundar as pesquisas formais e espaciais
iniciadas por Giotto (SEVCENKO, 1984, p. 50).

A maior parte dos seus trabalhos está na Capela Brancacci, que pertence à Igreja Nossa Senhora do
Monte Carmel, em Florença. A igreja foi consagrada em 1422, mas foi terminada apenas em 1475.

Um rico mercador chamado Felice Brancacci encomendou a decoração da capela – que tinha sido
fundada pela família Brancacci, no fim do século XIV – Masolino e Masaccio trabalharam juntos nas
Estórias de São Pedro, santo a quem a capela tinha sido originalmente dedicada. Os afrescos não estavam
terminados, quando Masolino partiu para Hungria e Masaccio, para Roma, em 1427. Depois, Brancacci
foi exilado por simpatizar com uma facção contrária aos Médicis. As obras somente foram restauradas e
terminadas entre os anos de 1481 e 1483, por Filippino Lippi (filho do pintor Filippo Lippi).

31
Unidade I

Figura 36 – Capela Brancacci, em Florença

Além do uso da perspectiva, a maior qualidade de Masaccio – segundo Gombrich (1999, p. 229) – foi a
sua capacidade de criar pinturas sinceras e comoventes, nas quais as figuras parecem estátuas que quase
podemos tocar, o que – ainda de acordo com o autor –, “traz as figuras e sua mensagem mais perto de nós”.

Figura 37 – A Expulsão do Jardim do Éden

32
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 38 – O Pagamento de Tributo

Figura 39 – O Batismo de Neophites

33
Unidade I

Figura 40 – A Distribuição das Esmolas e a Morte de Ananias Figura 41 – São Pedro Curando o Doente com sua Sombra

Figura 42 – A Ascensão do Filho de Teófilo e São Pedro no Trono (Masaccio e Filippino Lippi)

2.2.2 Fra Angelico

Fra Angelico de Fiesole (1387-1455) nasceu e morreu em Florença. Na maior parte de sua vida, esse
frade dominicano era conhecido como Fra Giovanni, nome escolhido por ele quando entrou para o
Convento de São Domingos.

34
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Fra Angelico é considerado herdeiro de Masaccio por causa do seu interesse pela realidade humana.
Entretanto, por ser frade e ter vivido sua vida em um convento, suas obras revelam uma orientação
religiosa. Ainda que o pintor siga os princípios renascentistas da perspectiva e do uso da luz e da sombra,
sua obra é profundamente influenciada por um sentido místico (PROENÇA, 2001, p. 83).

Figura 43 – A Coroação da Virgem

Essa pintura foi feita para a Igreja de São Domenico, em Fiesole, onde Fra Angelico tomou seus votos.
Em 1435, a ordem a que Fra Angelico pertencia assumiu o Convento de San Marco, em Florença. Três
anos depois, ele recebeu uma encomenda de Cosimo de Médici para realizar os afrescos de parte do
convento, que havia sido renovado. Esse projeto ocupou Fra Angelico entre os anos de 1438 e 1443, o
que fez com que ele tivesse uma produção independente muito pequena. No convento, ele pintou uma
cena sacra na cela de cada monge e no fim de cada corredor.

35
Unidade I

Figura 44 – A Crucificação

Figura 45 – Santo Bispo

36
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

2.2.3 Paolo Uccello

Nasceu, provavelmente, em Florença, em 1397 e faleceu na mesma cidade em 1475. Seu apelido
Uccello significa pássaro e lhe foi dado porque ele gostava de pintá-los desde criança.

Figura 46 – Detalhe da Escola Florentina. Retrato de Uccello

Figura 47 – A Batalha de San Romano

Esse trabalho foi encomendado pelos Salimbeni, uma família florentina, e data provavelmente de
1435. Paolo Uccello pintou três painéis sobre o tema da Batalha de San Romano, ocorrida em 1432,
entre Florença e Siena. Todos os trabalhos foram colocados no Palácio dos Médici. Nessa obra, o aspecto
central a ser observado é “o momento em que o movimento está contido”, como afirma Proença (2001,
p. 84). Observe a posição do cavalo negro e dos outros animais, as lanças empunhadas, tudo indicando
que eles estão prontos para contra-atacar na batalha.

37
Unidade I

Figura 48 – São Jorge e o Dragão

Embora Uccello tentasse recriar a realidade de acordo com os princípios matemáticos, como afirma
Proença (2001), sua imaginação ainda recorria a um mundo cheio de lendas, pleno de fantasias medievais,
como é o caso dessa obra, São Jorge e o Dragão.

Figura 49 – Batalha de São Romano

Paolo Uccello era completamente fascinado pela perspectiva e preocupava-se com cada detalhe.
Nessa obra, é possível observar com que cuidado o pintor dispôs as lanças quebradas pelo chão – elas
não foram pintadas aleatoriamente.

2.2.4 Filippo Lippi

Filippo Lippi nasceu em 1406 e faleceu em 1469. Era um monge carmelita que se apaixonou por uma
freira, Lucrezia Buti, e foi correspondido por ela. Depois de vários anos de um apaixonado e “secreto”
caso de amor, foram forçados a renunciar os seus votos. Tiveram dois filhos, uma menina e um menino,
Filippino, que se tornaria, mais tarde, um brilhante pintor que seguiu os passos do seu pai.

38
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 50 – Nossa Senhora com o Menino Jesus e Dois Anjos

Ainda que seja uma obra com temática religiosa, há aspectos inovadores nela. Filippo Lippi retratou
Nossa Senhora em uma posição que não é habitual, além disso, há uma delicadeza e suavidade nos
gestos e nas feições da santa e dos anjos, mais próximos da beleza humana do que da divina.

Figura 51 – Detalhe da Nossa Senhora e do anjo

39
Unidade I

Figura 52 – Nossa Senhora e o Menino Jesus (1483-1484)

Nossa Senhora e o Menino Jesus é uma das obras de Filippino Lippi. O filho de Filippo Lippi nasceu
em Prato, em 1457, e faleceu em Florença, em 1504. Aprendeu com seu pai e estudou com Sandro
Botticelli, em Florença. Essa pintura foi realizada entre os anos de 1483 e 1484 para a família do
banqueiro florentino Filippo Strozzi. Através da arcada, pode-se ver uma paisagem que remete à Vila
Strozzi, próxima a Florença, onde a pintura provavelmente ficaria em um oratório particular.

Lembrete

Filippino Lippi também foi responsável pela restauração e término das


pinturas da capella Brancacci entre os anos de 1481 e 1483.

2.2.5 Piero della Francesca

Provavelmente, nasceu em 1415. Como todos os artistas do Renascimento, tinha interesse


por outras áreas do conhecimento humano. Era matemático e teórico e, depois de sua morte, em
1492, tornou-se mais conhecido pelo seu domínio em geometria do que pelo seu lado artístico,
que ficou esquecido por vários séculos. Foi somente a partir do século XIX que seu talento na
pintura recebeu destaque.

Piero della Francesca tinha total domínio da arte da perspectiva e era um especialista na
composição geométrica.
40
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 53 – Nossa Senhora do Partoi

A figura mostra o afresco Nossa Senhora do Parto, em Monterchi, e é uma rara representação
da Virgem Maria grávida. Na pintura, ela parece uma adolescente e, sobre a sua cabeça, está uma
auréola perfeitamente elíptica.

Figura 54 – A Ressurreição

Essa obra foi realizada para o Palazzo dei Conservatori, onde é a sede atual do Museo Civico di
Sansepolcro. Cristo tem um estandarte em sua mão e é interpretado quando sai do sepulcro, como
41
Unidade I

parece demonstrar o movimento de sua perna apoiada sobre o parapeito. Sua imagem é solene e
majestosa, em oposição à imagem dos guardas dormindo. O conjunto das figuras forma uma pirâmide.

Figura 55 – Fragmento do afresco que representa São Juliano Figura 56 – São Jerônimo e um Suplicante

Figura 57 – Nossa Senhora e o Menino Jesus com Dois Anjos Figura 58 – São Jerônimo na Natureza

42
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 59 – Nossa Senhora e o Menino Jesus Figura 60 – Retrato de Sigismondo Pandolfo Malatesta,
príncipe de Rimini

Figura 61 – Retratos do duque e da duquesa de Urbino

Embora cada um dos personagens esteja isolado em um painel, a mesma paisagem ao fundo cria
uma unidade entre eles. De acordo com Proença (2001, p. 86), os pintores cubistas ficaram fascinados
por essa obra porque existe uma aproximação entre as figuras humanas e as geométricas: o rosto
feminino assemelha-se a uma esfera, o masculino, a um cubo.

43
Unidade I

Para Piero della Francesca, a pintura não tem como objetivo transmitir emoções, ela é o resultado
da combinação de figuras e do uso de sombra e luz. O universo é apresentado de forma geométrica e
estática em suas obras.

2.2.6 Sandro Botticelli

O Quattrocento é um período de grandes realizações artísticas. Entre os pintores, um dos que mais
se destaca é Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, ou Sandro Botticelli, discípulo de Filippo Lippi.
Nasceu em Florença (1444-5) e faleceu em 1510, na mesma cidade. Seu irmão o apelidou de Botticelli,
que significa pequeno barril.

Figura 62 – Nascimento de Vênus

Essa obra, criada entre 1482 e 1485, foi encomendada a Sandro Botticelli por Lorenzo di Pierfrancesco
de Médici, primo de Lorenzo, o Magnífico, e é o primeiro exemplo, na Toscana, de uma pintura em tela.

O encantamento que a obra causa é assim descrito por Gombrich (1999, p. 264):

A Vênus de Botticelli é tão bela, que não nos apercebemos do comprimento


incomum do seu pescoço, ou o acentuado caimento dos seus ombros e o
modo singular como o braço esquerdo se articula ao tronco. Ou, melhor
ainda, deveríamos dizer que essas liberdades que por Botticelli foram
tomadas a respeito da natureza, a fim de conseguir um contorno gracioso
das figuras, aumentam a beleza e a harmonia do conjunto na medida em
que intensificam a impressão de um ser infinitamente delicado e terno,
impelido para as nossas praias como uma dádiva do Céu.

44
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 63 – A Alegoria das Artes Liberais

Por volta de 1483, Sandro Botticelli recebeu a encomenda de decorar a Villa Tornabuoni, pertencente
a uma família aliada dos Médici. A Alegoria das Artes Liberais mostra uma cena na qual uma moça descalça
conduz um jovem – possivelmente Lorenzo Tornabuoni – pela mão, supostamente apresentando-o a
um círculo de figuras femininas, e cada uma carrega um atributo associado às Artes Liberais. A Música
(a figura que carrega um órgão portátil) é olhada como uma ciência do mesmo nível que a Aritmética,
a Geometria e a Astronomia. Já a pintura não é representada, pois é apenas no fim do século XV e início
do século XVI que esse trabalho é elevado à categoria de Artes Liberais.

Figura 64 – A Primavera

45
Unidade I

A Primavera também foi feita para Lorenzo di Pierfrancesco de Médici. Não há certeza com relação
à data, mas é provável que tenha sido criada entre 1477 e 1482.

Entre as muitas teorias sobre o significado dessa obra, uma interpretação mais recorrente refere‑se
ao reino de Vênus, cantado pelos antigos poetas e por Poliziano (famoso erudito que fazia parte da
corte dos Médici). Na pintura, Vênus está ao centro, Zéfiro – o jovem de rosto azul – está à direita, e este
caça Flora e a fecunda com um sopro. Flora se torna Primavera, a mulher que espalha suas flores pelo
mundo. À esquerda, as três Graças dançam e Mercúrio dissipa as nuvens. A paisagem em tons escuros
dá a impressão de que as figuras claras estão em relevo, em primeiro plano.

Figura 65 – Adoração dos Magos

Figura 66 – Detalhe de Sandro Botticelli (autorretrato da pintura Adoração dos Magos)

46
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 67 – A Anunciação

Figura 68 – A Natividade Mística

47
Unidade I

A pintura anterior mostra anjos e homens celebrando o nascimento de Jesus Cristo. A Virgem Maria
está ajoelhada, em adoração, diante de seu filho e José, seu marido, dorme perto de onde se passa a
cena. Na terra, os pastores e os sábios visitam o rei recém-nascido e os anjos cantam e dançam nos
céus, enquanto demônios voam derrotados para o mundo inferior. Esse quadro tem sido chamado, há
muito tempo, de “natividade mística” por causa do seu simbolismo, pois combina o nascimento de Cristo
(como é narrado no Novo Testamento) com a visão da segunda vinda (como é prometido no livro das
“Revelações”), ato que marcaria o fim do mundo, com a volta de Cristo à Terra para presidir o juízo final.

Figura 69 – São Francisco de Assis com os Anjos

48
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 70 – A Adoração dos Reis

Figura 71 – Vênus e Marte

2.2.7 Donatello

Donato di Niccolò di Betto Bardi, conhecido como Donatello, nasceu em Florença por volta de 1386
e faleceu na mesma cidade em 1466. É considerado o primeiro dos grandes escultores do Renascimento.
Sevcenko (1984, p. 49) afirma que Donatello deu às obras que realizou “um sentido de monumentalidade,
individualismo e expressão psicológica que marcariam toda a arte escultórica moderna”. O autor também
destaca que as “suas superfícies gigantescas são projetadas de forma a propiciar uma economia racional
da forma e do espaço e uma distribuição planejada da luz e das sombras”. Para Gombrich (1999, p. 251),
além de realizar uma obra vigorosa e convincente, tudo o que foi feito por Donatello era novo.

49
Unidade I

Figura 72 – Duende Figura 73 – São Jorge


(Museu Nazionale de Bargello, Florença)

Ao comparar a obra inovadora de Donatello com as estátuas góticas, Gombrich (1999, p. 230) afirma
que enquanto elas “pairavam ao lado dos pórticos, em filas hieráticas e solenes, parecendo seres de um
outro mundo”, a estátua de São Jorge está apoiada no chão, com “os pés absolutamente plantados,
como se estivesse decidido a não ceder um palmo de terreno”. O autor ainda destaca como o rosto
da imagem de São Jorge não tem qualquer semelhança com a “beleza indefinida e serena dos santos
medievais – é todo ele energia e concentração. Parece vigiar a aproximação do inimigo e medi-lo de alto
abaixo, a mão pousada no escudo, uma atitude tensa, de desafiadora determinação”.

Para Gombrich (1999, p. 230), assim como Masaccio, Donatello observava a natureza. Na estátua de
São Jorge, os detalhes das mãos e o cenho do santo demonstram como o escultor realizou um estudo
das características reais do corpo humano.

Além disso, as histórias que Donatello conta em suas obras não são as narrativas delicadas da arte
gótica, os gestos são violentos e o escultor não se preocupava em suavizar o horror presente nas cenas.

50
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 74 – David com a Cabeça de Golias Figura 75 – O Profeta Habacuc

Figura 76 – São João Evangelista

51
Unidade I

Figura 77 – David em mármore

Figura 78 – David em bronze

2.2.8 Leon Battista Alberti

Além de Bruneleschi, Leon Battista Alberti (Florença, 1404-1472) destacou-se na arquitetura


do Quattrocento.
52
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Em busca de uma solução para equilibrar o clássico e o moderno, Brunelleschi introduziu na arquitetura
renascentista as formas dos edifícios clássicos: as colunas, frontões e cornijas que havia copiado das ruínas
romanas. Essas formas foram usadas em suas igrejas, mas não poderiam ser aplicadas em uma residência
comum ou em uma rua da cidade, já que nem as casas nem os palácios podiam ser construídos como
templos. Seria necessário encontrar um meio-termo, e Alberti encontrou uma solução.

Quando construiu um palácio para os Rucellai, uma família de ricos mercadores florentinos, projetou
um edifício comum de três andares. Há pouca semelhança entre essa fachada e qualquer ruína clássica.
Entretanto, Alberti manteve-se fiel ao programa de Brunelleschi e usou formas clássicas para a decoração
da fachada. Em vez de construir colunas ou meias colunas, cobriu a casa com uma série de pilastras e
cornijamentos planos que sugeriam uma ordem clássica sem alterar a estrutura do prédio (GOMBRICH,
1999, p. 249-50).

Gombrich (1999, p. 250-1) afirma que a solução encontrada por Alberti é típica e não foi utilizada
apenas pelos arquitetos, pintores e escultores do Renascimento que também se depararam com situações
em que tinham que adaptar “o novo programa a uma antiga tradição. A mistura entre velho e novo,
entre tradições góticas e formas modernas, é característica de muitos mestres em meados do século XV”.

2.3 Cinquecento: Toscana e Roma

O começo do século XVI, o Cinquecento ou Alta Renascença, foi a época de três gênios da pintura:
Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael.

No transcorrer desse século, as ricas e poderosas cidades italianas começaram a enfrentar diversas
dificuldades econômicas. Vários fatores contribuíram para desencadear essa situação, mas o principal deles
foi o sucesso das navegações portuguesa e espanhola, que terminaram com o monopólio turco-italiano
das especiarias, fonte da riqueza e poderio das cidades italianas, que, enfraquecidas, não podiam mais
comandar seus próprios destinos. Nesse momento, apenas Roma tinha recursos para vencer ou manter
acordos com os estrangeiros que tentavam invadir e tomar as cidades italianas. No entanto, mesmo Roma
não podia sustentar tal situação por muito tempo: o fim chegou com a Reforma Luterana, em 1520, e
com a invasão e o saque da cidade pelas tropas espanholas e alemãs, sob o comando de Carlos V, em 1527.

Entretanto, até o desfecho desses acontecimentos, ou seja, as duas primeiras décadas do século XVI,
Florença continuou a produzir arte e Roma, a cercar-se de luxo e riqueza, atraindo artífices de todas
as procedências e especialidades. E, ainda que os mais importantes artistas desse período, Leonardo da
Vinci, Rafael Sanzio e Michelangelo Buonarroti, tenham realizado muitos trabalhos fora das cidades de
Florença e Siena, estudaram com mestres da escola florentina: Michelangelo estudou com Domenico
Ghirlandaio, artista florentino; Leonardo da Vincini estudou na oficina de Verrocchio, pintor e escultor
florentino; e Rafael Sanzio, primeiro, se mudou para Siena e, depois, foi para Florença estudar.

É durante os primeiros anos do século XVI, sob os papados de Júlio II (1503-1513) e de Leão X (1513-
1521) – filho de Lourenço de Médici –, que tem início a construção da nova Basílica de São Pedro, o que
atraiu talentos de todos os lugares. O responsável pelo projeto arquitetônico foi, a princípio, o pintor e
arquiteto Donato Bramante, depois, o projeto foi assumido por Michelangelo.
53
Unidade I

2.3.1 Donato Bramante

O pintor e arquiteto Donato Pascuccio d’Antonio, Donato Bramante, nasceu perto de Urbino, em
1444, e faleceu em 1514. É provável que ao estudar pintura tenha conhecido Piero della Francesca
e Francesco di Giorgio, na corte de Federico da Montefeltro, que reinou entre 1444-1492, na mesma
cidade. Seu primeiro trabalho documentado foi como pintor dos afrescos no Palazzo Podestà, em
Bérgamo. Por volta de 1479, foi trabalhar para Ludovico Sforza (1452-1508) em Milão, onde conheceu
Leonardo da Vinci.

Observação

Ludovico Sforza tornou-se duque de Milão após inúmeras intrigas


e conspirações. Foi responsável por transformar a cidade de Milão,
embelezando-a ao construir canais e fortificações. Atraiu para a cidade
inúmeros artistas, entre eles, Bramante e Leonardo da Vinci.

Em 1506, Bramante recebeu do papa Júlio II a incumbência de fazer um novo projeto para a Basílica
de São Pedro, e ele projetou uma construção grandiosa que absorveu muito mais dinheiro do que o
previsto. Ao tentar conseguir mais recursos para a obra, o papa Júlio II acabou por precipitar a crise que
teria como ápice a Reforma, já que foi a prática de vender indulgências, em troca de contribuições, que
levou o monge agostiniano Martinho Lutero a realizar seu primeiro protesto público, na Alemanha.

Contudo, ainda que o projeto da Basílica de São Pedro não tenha sido bem-sucedido, é possível observar
o quanto Bramante incorporou as ideias e os padrões da arquitetura clássica, ao vermos o edifício que ele
construiu em 1502. É um tempietto (pequeno templo), como ele o chamou, que devia ser cercado por
um claustro no mesmo estilo. Assume a forma de um pequeno pavilhão circular implantado sobre um
lanço de escadas, coroado por uma cúpula e circundado por uma colunata da ordem dórica. A balaustrada
sobre a cornija acrescenta ao conjunto um toque de leveza e graciosidade; a pequena estrutura da capela
propriamente dita e a colunata decorativa ostentam uma harmonia tão perfeita quanto a de qualquer
templo da Antiguidade Clássica (GOMBRICH, 1999, p. 289-90).

2.3.2 Leonardo Da Vinci

Seguindo a tradição dos mestres florentinos, Leonardo da Vinci (1452- 1519) foi aprendiz do pintor
e escultor Andrea del Verrocchio (1435-1488).

Verrocchio era tão famoso, que foi chamado a Veneza para realizar um monumento de Bartolomeo
Colleoni, um dos condottieri – líderes – mais queridos da cidade, a quem os venezianos eram muito
agradecidos pelas inúmeras obras de caridade. Gombrich (1999, p. 293) afirma que além de estudar
com profunda atenção a anatomia do cavalo, Verrocchio “observou os músculos da face e pescoço de
Colleoni. O mais admirável, porém, é a postura do cavaleiro, que parece estar à testa de suas tropas com
uma expressão de destemido desafio”.

54
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 79 – Bartolommeo Colleoni, um dos condottieri de Veneza (escultura de Verrocchio)

De acordo com Proença (2001, p. 90), “Verrocchio foi escultor seguro na criação de volumes e
considerado, na estatuária, um precursor do jogo de luz e sombra, tão próprio da pintura de seu discípulo
Leonardo da Vinci”.

Gombrich (1999, p. 293) destaca que da oficina de Verrocchio, saíram inúmeros bons pintores e
escultores, mas que Leonardo da Vinci era “mais do que um jovem talentoso. Era um gênio cujo intelecto
poderoso será eternamente objeto de assombro e admiração para os mortais comuns”. Ainda segundo
o autor, o que se sabe sobre o trabalho de Leonardo deve-se ao fato de que seus alunos e admiradores
preservaram um imenso material com anotações dos livros que ele leu, rascunhos dos livros que queria
escrever e esboços de desenhos com as obras que pretendia fazer. Para Gombrich (1999, p. 293), o
estudo desses papéis revela muito, mas deixa seus estudiosos perplexos, pois não “se pode entender
como um ser humano foi capaz de se destacar de forma tão profunda em todos esses diferentes campos
de pesquisa e de dar tão importantes contribuições para quase todos eles”. E é por isso que, talvez,
nenhum outro artista represente melhor o espírito renascentista do que Leonardo da Vinci.

Na pintura, uma de suas obras mais conhecidas é, sem dúvida, a Monalisa, produzida em Florença,
entre os anos de 1503 e 1507, que pertence ao Museu do Louvre. De acordo com a descrição que consta
do site do próprio museu, o famoso sorriso da Monalisa convida todos que olham seu retrato a meditar
sobre as teorias de Platão, em que se encontra a afirmação de que “um sorriso em um rosto gracioso é
um reflexo da beleza da alma”.

55
Unidade I

A impressão que a obra causa naqueles que a veem é de que Da Vinci trouxe vida à modelo, e essa
impressão é produzida devido ao uso de uma técnica conhecida como sfumato, em que as linhas firmes
do contorno são substituídas por transições nebulosas da luz para a escuridão. E é essa distribuição da
luz no quadro da Monalisa que deu origem ao volume e à distância sugerida. Ainda de acordo com as
informações do museu, a paisagem atrás da figura é “banhada por uma névoa bem leve e as montanhas,
mais ao fundo, estão envoltas em uma espécie de envelope atmosférico”.

Figura 80 – Retrato de Lisa Gherardini, esposa de Francesco del Giocondo

A pintura a seguir também está no Museu do Louvre. São João Batista, além de arauto e antecessor
de Cristo, também era “aquele que vinha da Luz”. Leonardo da Vinci expressou esse tema através do
gesto do dedo apontando em direção ao céu e com o corpo que se move em espiral emergindo da luz,
efeito obtido através do uso do recurso do sfumato.

56
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 81 – São João Batista

Outra de suas obras muito conhecidas é A Última Ceia. Como Gombrich (1999) destaca, muitos obras
de Leonardo da Vinci não foram terminadas e outras chegaram até os dias atuais em péssimo estado
de conservação, A Última Ceia passou, ao longo dos séculos, por inúmeras restaurações – a última delas
terminada no início dos anos 2000.

O mural cobre uma parede de uma sala oblonga que era usada como refeitório pelos monges do
Mosteiro de Santa Maria delle Grazie, em Milão. Deve-se visualizar como seria quando a pintura foi
descerrada e quando, lado a lado com as compridas mesas dos monges, surgiu a mesa do Cristo e
seus apóstolos. Nunca o episódio sacro fora apresentado tão próximo e tão real. Era como se outra
sala fosse acrescentada à deles, na qual A Última Ceia assumia uma forma tangível. Como era pura
a luz que inundava a mesa, e como acrescentava solidez e volume às figuras. Talvez os monges se
impressionassem primeiro pela veracidade e o realismo com que todos os detalhes estavam retratados,
os pratos espalhados sobre a toalha, as pregas destacadas nas vestes.

Se esquecermos da beleza da composição, sentimo-nos subitamente


diante de um fragmento da realidade tão fidedigna e tão impressionante
quanto a que vimos nas obras de Masaccio ou Donatello. E mesmo essa
realização extraordinária mal chega a tocar a verdadeira grandeza da obra.
Com efeito, para além de questões técnicas como a segurança do desenho
e a composição, devemos admirar a profunda intuição de Leonardo sobre a
natureza íntima do comportamento e das reações dos homens, e o poder
de imaginação que o habilitou a colocar a cena diante de nossos olhos
(GOMBRICH, 1999, p. 296-8).

57
Unidade I

Figura 82 – A Última Ceia (pós-restauração)

Figura 83 – Estudo de Seis Figuras

58
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 84 – Detalhe de Retrato de Leonardo da Vinci, de Nicolas I Larmessin

A Virgem das Rochas é um conjunto formado por duas obras (óleo sobre madeira) que Leonardo da
Vinci pintou em épocas diferentes, e ambas se encontram no Museu do Louvre.

Figura 85 – A Virgem das Rochas (1483-1486) Figura 86 – A Virgem das Rochas (1495-1508)

59
Unidade I

Pintor, escultor, arquiteto, desenhista, teórico, engenheiro e cientista, Leonardo da Vinci criou
algumas das pinturas mais famosas da arte em todo o mundo. Embora muitos dos seus trabalhos nunca
tenham sido terminados e, até mesmo, poucos tenham sobrevivido, além de ter influenciado várias
gerações de artistas, ele continua a ser reverenciado como um gênio universal.

2.3.3 Rafael Sanzio

Figura 87 – Virgem com Pintassilgo

Rafael Sanzio ou Raffaelo Santi nasceu em Urbino, em 1483, e faleceu com apenas 37 anos. O
pintor aproximou-se dos círculos florentinos graças ao seu mestre Perugino, que conduzia um trabalho
bem-sucedido na capital da Toscana. Porém, foi uma carta escrita para a República de Florença, pela
família dos duques de Urbino, convidando o artista a ficar lá, que permitiu que o jovem pudesse se
estabelecer no lugar que seria o berço da Renascença. Em Florença, Rafael absorveu os ensinamentos da
arte florentina, que, naquele tempo, realizava um trabalho de ponta na Europa.

60
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 88 – Retrato de Baldassare Castiglione (1478-1529)

Baldassare Castiglione foi um dos grandes humanistas da Renascença, era diplomata, autor de um
livro bem conhecido na época, O Livro do Cortesão, e era amigo de Rafael. Nessa pintura, o uso de uma
tela bem fina ajuda a pintura a captar a luz.

Figura 89 – Nossa Senhora e o Menino Jesus no Trono com os Santos, obra feita
para um pequeno convento franciscano em Santo Antônio, em Perugia

61
Unidade I

Figura 90 – La Madonna dei Garofani

Em 2013, após uma restauração que durou 30 anos, foram reabertos os quartos que Rafael pintou
no segundo andar do palácio papal, no Vaticano, e que foram usados pelo papa Júlio II e seus sucessores
até meados do século XVI.

Figura 91 – O quarto de Heliodoro era usado para audiências particulares do papa e foi decorado por Rafael

62
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 92 – Quarto de Heliodoro

Figura 93 – Detalhe de Rafael, Autorretrato

63
Unidade I

Figura 94 – Uma Alegoria (“Visão de um Cavaleiro”)

Figura 95 – Retrato do Papa Júlio II Figura 96 – Santa Catarina de Alexandria

64
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 97 – São João Batista Pregando

Nas obras de Rafael, as figuras possuem, além de beleza, equilíbrio e simetria, movendo-se livremente
em um conjunto harmônico.

Rafael era amado por todos e, diferente dos outros dois grandes gênios do Cinquecento, da Vinci e
Michelangelo, tinha um temperamento doce e era social, o que fez com que ele fosse recomendado aos
mecenas influentes. Embora tenha morrido jovem, deixou inúmeras obras.

O epitáfio para o túmulo de Rafael (no Panteão de Roma) foi escrito por um famoso humanista do
seu tempo, o cardeal Bemo, e suas palavras resumem bem a grandeza da obra desse pintor: “Aqui jaz
Rafael, enquanto viveu, a Mãe Natureza temia ser por ele vencida; agora que está morto, ela receia
morrer também” (GOMBRICH, 1999, p. 323).

2.3.4 Michelangelo

O outro grande artista do Cinquecento foi Michelangelo Buonarroti (1475-1564), cuja produção
foi rica e abundante. Destacam-se obras de pintura, como os afrescos da Capela Sistina, em Roma, e
esculturas como Moisés, David e a Pietà. Em suas obras, o pintor destaca

[...] a tensão permanente que se instala entre o corpo e o espírito, a carne


e a alma, mesmo quando suas figuras demonstram uma atitude serena,
denotam uma energia latente e indômita que vem de dentro e se expande
pela extensão maciça de seu corpo. Se há equilíbrio é porque ele representa
uma harmonia provisória de forças opostas que se compensam (SEVCENKO,
1984, p. 55-6).

65
Unidade I

Figura 98 – Pietà, de Michelangelo

Michelangelo tinha apenas 23 anos quando realizou essa escultura em mármore, e é impressionante
o cuidado com que ele reproduziu os drapeados das vestes, os músculos e as veias do corpo.

Figura 99 – Moisés

66
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 100 – Moisés (outro ângulo)

Figura 101 – Davi

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Unidade I

Figura 102 – Lorenzo de Médici (imagem central do túmulo do príncipe)

Figura 103 – Baco

68
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 104 – Madonna de Bruges

Figura 105 – Vitória, frente e perfil (estátua que talvez tenha sido construída para o túmulo de Júlio II)

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Unidade I

Figura 106 – Ascensão de Jesus Cristo, obra que está na Igreja Santa Maria, em Roma

Figura 107 – A Sagrada Família

70
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Michelangelo pintou A Sagrada Família em Florença, entre os anos de 1506 e 1508, esse é um dos
poucos exemplos de sua pintura fora da Capela Sistina, onde estão suas obras mais conhecidas.

2.3.5 A Capela Sistina

A Capela Sistina merece um destaque especial porque, durante a sua construção, entre 1475 e 1483,
e nos anos seguintes, ou seja, entre o Quattrocento e o Cinquecento, não apenas Michelangelo, mas
vários pintores deixaram suas obras retratando o Novo e o Velho Testamento; assim, as pinturas que
estão na Capela Sistina refletem muito da arte dos dois períodos.

Erguida durante o pontificado do papa Sisto IV (daí o nome Sistina), foi projetada pelo florentino
Baccio Pontelli, que se baseou na descrição do Templo de Salomão, que está no Velho Testamento.

Saiba mais

Faça um passeio virtual pela Capela Sistina no seguinte endereço:

<http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html>.
Acesso em: 20 jul. 2016.

Figura 108 – Batismo de Cristo (Perugino)

71
Unidade I

Figura 109 – A Tentação de Cristo (Botticelli)

Figura 110 – O Chamado dos Apóstolos (Domenico Ghirlandaio)

Figura 111 – O Sermão da Montanha (Cosimo Rosselli)

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 112 – A Entrega das Chaves (Perugino)

Figura 113 – A Última Ceia (Cosimo Rosselli)

Figura 114 – A Jornada de Moisés para o Egito e a Circuncisão de seu Filho Eliezer (Perugino)

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Unidade I

Figura 115 – Os Julgamentos de Moisés (Sandro Boticcelli e alunos de sua oficina)

Figura 116 – Punição de Corá e o Apedrejamento de Moisés e Arão (Botticelli)

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 117 – Afresco do Juízo Final (Michelangelo)

Figura 118 – São Bartolomeu Mostrando sua Pele Esfolada (Michelangelo)

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Unidade I

Figura 119 – Teto da Capela Sistina, da esquerda para a direita (Michelangelo)

Figura 120 – Teto da Capela Sistina (Michelangelo)

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 121 – Criação do Sol e da Lua, detalhe do rosto de Deus (Michelangelo)

Figura 122 – Deus Divide a Água da Terra (Michelangelo)

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Unidade I

Figura 123 – A Criação de Adão (Michelangelo)

Figura 124 – Deus Separa a Luz da Escuridão, Primeiro Dia da Criação (Michelangelo)

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ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Figura 125 – Deus Separa a Luz da Escuridão, Primeiro Dia da Criação (detalhe) (Michelangelo)

A respeito do teto da Capela Sistina, Gombrich destaca que:

Ao ver essa profusão de figuras numa reprodução fotográfica, talvez


desconfiemos de que o teto deve parecer superpovoado e em desequilíbrio.
Nada disso. Uma das grandes surpresas, quando se entra na Capela Sistina, é
descobrir que o teto é simples e harmonioso quando o olhamos meramente
como uma peça de soberba decoração e como é límpido todo o arranjo
(GOMBRICH, 1999, p. 308).

Saiba mais

Para saber mais sobre a arte do Renascimento, você pode ler o


seguinte livro:

MACHADO, L. H. M. Conheça Florença: berço do Renascimento. São


Paulo: Nova Alexandria, 2004.

Exemplo de aplicação

O Renascimento marca uma mudança do pensamento social, em que apenas a fé não bastava. O
teocentrismo dava lugar ao antropocentrismo e a uma grande valorização da razão. Essa alteração

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Unidade I

estava refletida em diversas obras desse período. Observe A Criação de Adão, de Michelangelo, e reflita
sobre as seguintes questões: Quais características da obra representa essa mudança de pensamento? De
que forma o artista coloca o homem, na obra, em relação ao teocentrismo?

Resumo

A expressão Renascimento ou Renascença é utilizada para definir


o período que começa por volta do século XIV e termina em meados do
século XVI. Foi um movimento que se estendeu por toda a Europa, mas em
diferentes estágios, nos diferentes países.

A lenta desestruturação do feudalismo, o ressurgimento das cidades


e a intensificação do comércio com o Oriente são alguns dos fatores que
causaram uma transformação na mentalidade europeia.

A visão de mundo medieval, em que Deus era o centro de todas as coisas


(teocentrismo), já não atendia aos anseios desses novos tempos, em que o
ser humano passava a ser o centro do universo (antropocentrismo), e a
valorização da razão (racionalismo) e do indivíduo (individualismo) refletia
a crença de que o ser humano era o único responsável pelos seus atos.

Essas características se expressaram nesse movimento artístico-cultural


denominado Renascimento, termo cuja origem remete às ideias de reviver
e valorizar os ideais da cultura greco-romana. Entretanto, apesar dessa
admiração pelo passado clássico, o que se buscava, naquela época, era uma
fonte de inspiração mais centrada nos valores humanos (humanismo).

Privilegiadas geograficamente, as cidades italianas, organizadas em


repúblicas e cidades-estado, ofereciam as condições ideais para a promoção
do Renascimento. Tais cidades eram governadas por ricos burgueses:
comerciantes abastados e donos de casas bancárias que patrocinavam
as artes – tais patronos eram chamados de mecenas. E foi na região da
Toscana, mais especificamente, nas cidades de Florença e Siena, que o
Renascimento começou a se promover, espalhando-se para outros lugares
durante os séculos seguintes.

Notadamente artístico, o renascimento italiano é dividido em três


períodos: o Trecento (que corresponde ao século XIV), o Quattrocento
(século XV) e o Cinquecento (século XVI).

80
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Durante o Trecento, conhecido como pré-Renascimento, acentuam-se


os pintores Cimabue, Duccio e Giotto, que buscaram – sobretudo os dois
últimos – representar as figuras humanas de forma mais realista e expressiva,
em oposição à arte bizantina, na qual as figuras humanas surgiam achatadas
e não pareciam reais. A Capella degli Scrovegni, também chamada Capella
Arena, em Pádua, é considerada o maior trabalho de Giotto.

O Quattrocento marca o apogeu da cidade de Florença, sob o domínio dos


Médici, grandes protetores das artes. Entre os pintores do período, destacam‑se
Masaccio e Botticelli; o primeiro é considerado herdeiro de Giotto, foi o
responsável pelos afrescos da Capela Brancacci; o segundo desenvolveu um
estilo único, marcado pela elegância e expressividade de suas linhas, e seu
estilo baseia-se na delicadeza e na emoção. Entre as obras de Botticelli, estão:
O Nascimento de Vênus, A Primavera e A Adoração dos Magos.

O Cinquecento ou Alta Renascença marca o começo do declínio das


cidades italianas, que começam a perder o monopólio das especiarias para
Portugal e Espanha e, dessa forma, deixam de ser tão ricas. Roma resiste
por algum tempo e começa a importar artistas de diferentes regiões da
Itália para executar alguns projetos grandiosos, como a reconstrução da
Basílica de São Pedro e a finalização das pinturas da Capela Sistina.

Na arquitetura do Cinquecento, destaca-se Donato Bramante; na


pintura, três dos maiores gênios: Leonardo da Vinci, autor da Monalisa e do
quadro São João Batista; Michelangelo Buanorrotti, escultor da Pietà, de
Moisés e de Davi – entre outras obras –, responsável pelo projeto da Basílica
de São Pedro e autor das pinturas do teto da Capela Sistina; e Rafael Sanzio,
conhecido também como Rafael Santi, o pintor das Madonas.

É necessário lembrar que o Renascimento não é um período que exibe


uma feição única, mesmo o foco desta obra é apenas o Renascimento
italiano. O anseio de liberdade, que caracterizou os artistas desse período,
refletiu-se na arte produzida por eles, e a característica comum a todos
nessa trajetória é a diversidade.

Exercícios

Questão 1. O fim da Idade Média foi marcado por profundas mudanças econômicas e sociais que
influenciaram a arte. O termo Renascimento designa uma nova postura do homem diante do mundo,
substituindo o teocentrismo e a fé pelo antropocentrismo e pela ciência. Na pintura, a nova percepção foi
caracterizada sobretudo pelo uso da perspectiva, pelo jogo da oposição claro/escuro, pela racionalidade
e pela representação fiel das formas.

81
Unidade I

Avalie as obras a seguir e assinale aquela que corresponde à definição de pintura renascentista.

A) B)

C) D)

E)

82
ARTES VISUAIS NO RENASCIMENTO

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: trata-se de uma pintura medieval. Observa-se isso pela ausência de noções de
perspectiva, por exemplo.

B) Alternativa correta.

Justificativa: as características mencionadas no enunciado podem ser observadas nesse quadro,


de Rafael.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: trata-se de uma pintura impressionista.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: trata-se de uma pintura expressionista.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: trata-se de uma obra de Picasso, com características cubistas.

Questão 2 (Concurso IF-SC 2014, adaptada).

83
Unidade I

Assinale a alternativa que identifica a obra apresentada.

A) Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, um afresco pintado de 1509 a 1510, período do Renascimento.

B) Escola de Atenas, de Leonardo da Vinci, um afresco pintado de 1509 a 1510, período do


Renascimento.

C) Escola de Atenas, de Ticiano, um afresco pintado de 1509 a 1510, período do Renascimento.

D) Escola de Atenas, de Sandro Botticelli, um afresco pintado de 1509 a 1510, período do Renascimento.

E) Escola de Atenas, de Donatello, um afresco pintado de 1509 a 1510, período do Renascimento.

Resolução desta questão na plataforma.

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