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5/11/2021

Consequências políticas, económicas, sociais e culturais da expansão de Roma: a


romanização.

I - Dados:

Movimento inexorável de expansão a partir da 2ª Guerra púnica:

Um percurso de guerras defensivas e ofensiva.

De potência regional, Roma afirma-se como potência global: militar, marítima,


demográfica e comercial. Potência dominante na área do Mediterrâneo, assumindo
uma vocação ecuménica unificadora que se prolonga por toda a sua História: unir os
povos numa pátria, que todos podem integrar pela lei, e não pelo nascimento.

Os romanos, senhores do orbis terrarum.

A ideia da boa-aventurança romana, terra predestinada a governar o mundo.

Consequências políticas: celebração de tratados que garantiam aos povos dominados,


integrados ou aliados graus de autonomia hierarquizados. Os povos e cidadãos entram
na categoria de cidadãos completos; cidadãos sine suffragio, latinos e aliados.

Uma política diplomática agressiva, de ingerência nas disputas internas dos


conflituosos reinos helenísticos (denúncia da aliança macedónica e da Selêucia contra
roma por Pérgamo 172 a.C; Judas Macabeu busca a proteção de Roma contra a
Selêucia em 161)

Manutenção de instituições e administração própria: os municipia.

Implicavam o pagamento de tributos, abdicação de exército próprio, fornecimento de


homens para o exérito comum, prescindir da política externa.

Participam no direito ao saque e ganhos materiais da acção militar expansionista.

Fundação de colónias de direito latino ou de cidadania plena (Itália central, Gália


Cisalpina). A colónia é uma replicação da urbe.

O ideal: concessão da cidadania romana plena (ciuitas optimo iure) para latinos)

Ciuitas sine suffragio para não latinos.

Ausência de divisões étnicas.

A extensão da cidadania romana a toda a Itália é alcançada depois da guerra social (91-
87).

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II – Consequências económicas

Aumento do número de escravos como prisioneiros de guerra (Samnitas, Agrigentinos,


Tarentinos, Sardos, Cartagineses, Gregos. Muitos desdes escravos permaneciam no
território conquistado como mão de obra para a mineração, edificação de obras
públicas, arroteamento de solos, agricultura intensiva. Especialização das tarefas (ex.
paedagogi, nutrices).

-Distribuição dos terrenos consquistados e incorporados no domínio público pelos


colonos, ou pelos militares retirados.

-Desenvolvimento de um sistema monetário

-Desenvolvimento da indústria, da produção massificada de bens para o comércio.

-Desenvolvimento de uma agricultura de latifúndio, voltada para o lucro, com maão de


obra escrava.

-Aumento da procura e consumo de bens de luxo

Riqueza e capitalismo romanos.

Consequências sociais:

-Reforço do aparelho militar: reforço de efetivos com a admissão de auxiliarii. Sistema


de recrutamento profissional, com pagamento e direitos de reforma, com alargamento
da base de recrutamento.

Desvalorização do trabalho livre.

Abaixamento de preços dos bens alimentares essenciais (trigo, vinho, azeite, sal)

-empobrecimento do campesinato italiano, que migra para as cidades.

-Desigualdade social.

-Reorganização das ordens sociais, com a ascensão da 2ª ordem, os equites (fortuna


mínima de 400 mil sestércios): especializam-se nas atividades lucrativas do comércio e
indústria.

Consequências políticas:

Os riscos da caudilhização das lideranças militares.

A Guerra Social (as cidades itálicas aliadas) 91-87 a.C.

Consequências culturais:

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Romanização das províncias

Helenização dos romanos

Textos:

“Na verdade, quem haverá de tão mesquinho ou frívolo que não queira saber de que
modo e com que espécie de governo é que quase todo o mundo habitado (orbis),
conquistado em menos de cinquenta e três anos, caiu sob um poder único, o dos
Romanos? Facto ao qual não se encontram antecedentes […]

Mas os romanos subjugaram, não algumas partes, mas quase toda a terra habitada, e
deixaram um poderio tão vasto que é impossível aos nossos contemporâneos resistir-
lhe, e, aos nossos descendentes, exceê-lo. O meu livro permitirá mais compreender
mais claramente por qu razão tudo dominaram, e, de qualquer modo, quando e até
que ponto será dado, aos que têm o gosto de aprender, o sentido da História política”

Políbio, Histórias I 4; 7-8 (Romana, Antologia, apêndice), séc. II a.C.)

8 Elogio do Império Romano - 1*Chegou aos ouvidos de Judas a fama dos romanos,


que eram extremamente poderosos, mostravam-se benevolentes para com os seus
aliados e ofereciam a sua amizade a todos os que a eles recorriam, porque na verdade,
o seu poder era muito grande.

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Falaram-lhe também das suas guerras, das suas façanhas na Galácia, que eles
venceram e subjugaram, 3e de tudo o que fizeram na Espanha, onde se apoderaram
das minas de prata e de ouro que ali havia, conquistando todo aquele país com a sua
sabedoria e constância, 4apesar de estar muito afastado deles.
Contaram-lhe a forma como derrotaram os reis que, dos confins da terra, avançaram
contra eles, aniquilando-os totalmente, enquanto os restantes lhes pagavam tributo
anual. 5Filipe e Perseu, reis da Macedónia, e outros levantaram-se contra eles, mas
foram igualmente derrotados e subjugados. 6Antíoco, o Grande, rei da Ásia, que lhes
moveu guerra e tinha cento e vinte elefantes, cavalaria, carros e um numeroso
exército, foi também vencido por eles. 7Apanharam-no vivo e impuseram-lhe, a ele e
aos seus sucessores, um grande tributo, a entrega de reféns e a cedência dos
territórios: 8a Índia, a Média, a Lídia e as suas melhores regiões, que eles cederam ao
rei Eumenes. 9Os gregos quiseram avançar contra eles, para os exterminarem; 10mas os
romanos souberam-no e enviaram um general que os atacou e matou um grande
número, levou para o cativeiro as suas mulheres e os seus filhos, saqueou todo o país e
apoderou-se dele, destruiu as praças fortes e reduziu aquelas gentes à servidão, que

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dura até ao dia de hoje. 11Arruinaram igualmente e subjugaram ao seu domínio os
outros reinos e ilhas que lhes resistiram. 12Mas conservaram a sua fidelidade aos seus
amigos e aliados, estenderam o seu poder sobre os reinos vizinhos ou distantes e,
todos os que ouviam pronunciar o seu nome, temiam-nos. 13Aqueles a quem eles
queriam auxiliar e ver reinar, reinavam, mas destituíam aqueles que não queriam.
Deste modo, tornaram-se muito poderosos.~

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Apesar de tudo isto, nenhum deles trazia diadema, nem se vestia de púrpura para se
engrandecer. 15*Constituíram um Conselho Supremo onde, cada dia, trezentos e vinte
senadores discutiam os assuntos do povo, para bem o governar. 16Cada ano, confiavam
a autoridade suprema a um só homem, que dominava em todo o território e todos
obedeciam a este homem único, sem que houvesse, entre eles, inveja nem ciúme.

Aliança dos judeus com Roma - 17Judas escolheu Eupólemo, filho de João, filho de
Hacós, e Jasão, filho de Eleázar, e enviou-os a Roma, para estabelecer amizade e
aliança com os romanos, 18pedindo-lhes que os libertassem do jugo dos gregos, pois
viam que o desígnio destes era submeter e reduzir Israel à servidão.
19
Chegaram a Roma, depois de longa viagem, entraram no senado e disseram: 20«Judas
Macabeu, os seus irmãos e todo o povo de Israel enviaram-nos para fazer convosco
aliança e paz, e pedir que nos conteis entre os vossos amigos e aliados.»
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Esta linguagem agradou aos romanos. 22Eis a cópia da carta que os romanos
mandaram gravar sobre tabuletas de bronze e enviaram a Jerusalém, para ali ficar
como memorial da paz e da amizade, da sua parte: 23«Felicidade para sempre aos
romanos e ao povo judeu, por terra e por mar, e que a espada e o inimigo estejam
sempre longe deles. 24Se sobrevier uma guerra contra os romanos ou contra um dos
seus aliados em todos os seus domínios, 25o povo judeu prestar-lhes-á auxílio,
conforme permitirem as circunstâncias, com plena lealdade. 26Não fornecerão aos
adversários nem trigo, nem armas, nem dinheiro, nem navios, segundo a vontade dos
romanos. Os judeus observarão estes contratos sem receber nada. 27Por outro lado, se
o povo judeu for atacado, os romanos ajudá-lo-ão lealmente, conforme as
circunstâncias o indicarem. 28E não fornecerão aos inimigos nem trigo, nem armas,
nem dinheiro, nem navios, conforme a vontade de Roma. Estes contratos serão
observados com lealdade. 29Este é o pacto que fazem os romanos com os judeus. 30Se,
depois deste acordo, uns ou outros quiserem juntar ou subtrair alguma cláusula, farão
uma proposta e o que for acrescentado ou tirado será ratificado.
31
Pelo que toca aos danos causados aos judeus pelo rei Demétrio, já lhe escrevemos
dizendo: 'Porque impuseste tão pesado jugo sobre os judeus, nossos amigos e
aliados? 32Se eles se nos queixarem outra vez de ti, far-lhes-emos justiça e combater-
te-emos, por terra e por mar'.»

1Macabeus, 8 (162 a.C.)

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Os benefícios da dominação romana

Quem viu Gaio, depois da morte do imperador Tibério, receber herdar em sucessão o
império de toda a terra e todo o mar, império estranho às façcções, regido por leis
boas e em que todas as partes, do Oriente ao Ocidente, do Sul ao Norte se unem num
conjunto harmonioso – a população de raça bárbara harmonizar-se com o elemento
grego e o elemento grego com o Bárbaro, o exército com os cidadãos das cidades, as
cidades com o exército, para beneficiar em comum da paz – quem, portanto, por esta
extraordinária e indizível prosperidade, não tiver sido tocado de admiração por aquele
que recebeu por sucessão todos os bens de uma só vez: tesouros plenos de riquezas;
exércitos incontáveis; recursos fornecidos como que por fontes que correm sem
interrupção; um império, não simplesmente sobre a maior parte das mais importantes
regiões do mundo, e que poderia ser literalmente apelidada de mundo habitado
(oikoumenen), limitada por dois rios, o Eufrates e o Reno, o que, isolando a Grmânia e
todos os povos selvagens, e o Eufrates, o país dos Partos, as tribos dos Sármatas e os
Citas, que não são menos selvagens do que as dos Germanos; e ainda, como já disse, a
terra, desde o nascer ao pôr do sol, tanto como para um lado e o outro do oceano?

Destas vantagens se regozija o povo romano, a Itália toda, tal como os povos da Ásia e
da Europa. De facto, os ricos não passam à frente dos pobres, nem as pesoas famosas
antes das pessoas anónimas […]

Foi ele (Augusto) quem limpou o mar dos barcos dos piratas e o encheu de navios
mercantes; foi ele que elevou todas as cidades à liberdade, que transformou a
desordem em orem, que civilizou todos os povos ferozes e selvagens e estabeleceu a
harmonia; ele que engrandeceu a Hélade com uma multidão de outras Hélades e
helenizou o mundo bárbaro nas regiões mais importantes; ele que salvaguardou a paz,
que atribuiu a cada um o que lhe cabia, que legou a todo o mundo a sua
generosidade…”

Fílon de Alexandria, Embaixada a Gaio 8.10.13 ss.) séc. I.

A embaixada dos Filósofos Atenienses (séc. I-II)

“…Chegaram a Roma embaixadores atenienses, os filósofos Carnéades, da Academia, e


Diógenes Estóico, a fim de solicitarem o levantamento de uma penalidade contra o
povo ateniense. Eram eles acusados pelos habitantes de Sícion porque, quando
perseguidos pelos de Orpopos, os tinham desamparado, a multa aplicada era de
quinhentos talentos. Logo os jovens mais dados às Letras acorreram em volta deles e
se puseram a escutá-los, com muita admiração. Sobretudo o fascínio de Carnéades, o
mais dotado, e a quem não faltava a fama desses dotes, atraiu-lhe muitos
admiradores, e foi como um vendaval cujo eco atroou a cidade. Espalhou-se a fama de

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que havia um grego que possuía um sortilégio que a todos fascinava e subjugava,
inspirando nos jovens uma paixão terrível que os fazia desviar dos demais prazeres e
passatempos, entusiasmados pela filosofia…”

Plutarco, Catão o Antigo 22. 1-4.

Leituras suplementares in Pereira, Mª Hª Romana, Antologia…

Cícero, As Leis II.2.5 Roma, Pátria Comum

Cícero, A República VI. 9-26 O Sonho de Cípião

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