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O menino do caixote de madeira

II GUERRA MUNDIAL
BIOGRAFIA
DE
LEON LEYSON

• Leib Lezjon
• Nascimento: 15 de setembro de 1929
• Morte: início de 2013
• Cidade: Narewka (cidade a nordeste de
Varsóvia)
- Passa três anos num campo de
refugiados perto de Frankfurt, na
Alemanha, após o fim da guerra
- Parte para os Estados Unidos em 1949
- Torna-se professor de artes industriais
no ensino secundário
O menino do caixote de madeira

“Sou um sobrevivente improvável do Holocausto. Tinha


muito contra mim e quase nada a meu favor. Era apenas um
rapazito; não tinha ligações; não tinha aptidões. Mas tive a
meu favor um fator que superou tudo o resto: Oskar
Schindler achava que a minha vida tinha valor. Achava que
valia a pena eu ser salvo, mesmo quando o facto de me dar
uma oportunidade de viver punha a sua própria vida em
perigo. Agora é a minha vez de fazer o que puder por ele, de
falar sobre o Oskar Schindler que conheci.
O menino do caixote de madeira

(…)
O meu nome é Leib Lejzon, embora agora seja conhecido como
Leon Leyson. Nasci em Narewka, uma aldeia agrícola no
nordeste da Polónia, perto de Bialystok, não muito longe da
fronteira com a Bielorrússia. Há várias gerações que os meus
antepassados Iá viviam; na verdade, há mais de duzentos anos.
Os meus pais eram pessoas honestas e trabalhadoras, que
nunca esperavam algo que não tivessem merecido.”
FAMÍLIA DE LEON LEYSON (NAREWKA)
ESCRITA

Escreve uma página do diário,


assumindo-te como Leon
Leyson, aos 9 anos, na sua
aldeia, nos anos 30.

Família de Leon Leyson, mãe e irmãos


DIÁRIO
▪ Um dos géneros da literatura autobiográfica.
▪ Registo das vivências e sentimentos de um “eu” face ao mundo que o rodeia, possui, por esse motivo, um
carácter intimista e confidente.
▪ Testemunho do quotidiano de alguém que fixa, através da escrita, factos, desejos, emoções.
Estrutura
1. é repetitivo: cada dia corresponde a um registo de situações e sentimentos diferentes e é identificado pela
respetiva data;
2. o autor dirige-se ao diário como a um confidente, sendo frequente a utilização do vocativo “Querido diário”
ou até a criação de um nome para o saudar;
DIÁRIO
3. os registos são ordenados por ordem cronológica de ocorrência.

Características
1. o protagonista e o narrador são coincidentes, ou seja, são a mesma entidade. Por esse motivo, a modalidade
de enunciação do discurso utilizada é a primeira pessoa. O diário é testemunha de uma situação de
comunicação unilateral;

2. a matriz discursiva é muito livre, uma vez que o narrador dá livre expressão ao curso do seu pensamento. Não
existe, exceto no diário de ficção, a intenção de agradar os leitores, porque o diário destina-se ao próprio autor;
DIÁRIO
3. o discurso é subjetivo, a escrita é confessionalista. O nível de língua é familiar, o registo é informal e o
vocabulário bastante simples;

4. utilização de deíticos, marcas da presença do sujeito no discurso que produz. A referência deítica pode ser
dada por pronomes pessoais, determinantes possessivos ou demonstrativos, advérbios de tempo ou de lugar;

5. por vezes, a narração é descontínua, intercalada, porque apenas ocorre quando o sujeito de enunciação
deseja registar algo.
OSKAR SCHINDLER

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O JUSTO ENTRE AS NAÇÕES

“QUEM SALVA UMA VIDA,


SALVA O MUNDO O INTEIRO.”
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

(…) Todos nós e mais de mil outros, devíamos-lhe as nossas vidas. Tínhamos sobrevivido ao Holocausto
graças aos enormes riscos que Schindler correra e aos subornos e acordos de bastidores que ele
negociara para nos manter, aos seus trabalhadores judeus, a salvo das câmaras de gás de Auschwitz. Ele
servira-se da sua mente, do seu coração, da sua incrível inteligência prática e da sua fortuna para salvar
as nossas vidas. Usara a sua astúcia para iludir os nazis, alegando que éramos essenciais para o esforço
de guerra, embora soubesse que muitos de nós, incluindo eu, não tinham qualquer espécie de
aptidão útil. De facto, eu tinha de me empoleirar num caixote de madeira para puder alcançar
os controlos da máquina que estava encarregado de operar. Esse caixote deu-me a
oportunidade de parecer útil, de viver.” (Prólogo)
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

"Eu não sou um filósofo, mas acho que Oskar Schindler é a própria definição de heroísmo, e ele
provou que uma pessoa se pode opor ao inferno e fazer a diferença. Eu sou a prova viva disso (...)
“Não tive a oportunidade de me despedir pessoalmente de Schindler, mas participei com todos os
outros trabalhadores em presenteá-lo com um anel, feito do dente de ouro de um prisioneiro, que
tinha uma inscrição em hebraico, extraída do Talmude: «Quem salva uma vida salva o mundo
inteiro.»”
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

“Lembro-me de uma entrevista de televisão que vi uma vez, com o


escritor e intelectual Joseph Campbell. Nunca esqueci a sua definição
de herói. Campbell disse que um herói é um ser humano vulgar que
faz «a melhor das coisas no pior dos tempos». Oskar Schindler
personifica essa definição.”
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

“Oskar Schindler foi apelidado de muitas coisas: canalha mulherengo, especulador, bêbado. Quando
Schindler deu emprego ao meu pai, eu nunca tinha ouvido nenhum desse nomes e, mesmo que
tivesse, não me teria importado. Cracóvia estava cheia de alemães que queriam lucrar com a guerra. O
nome de Schindler só significava algo para mim porque ele havia contratado o meu pai.”(…)
“No final do outubro de 1942, chegou aos ouvidos de Schindler a notícia de que ia haver outro
transporte, pelo que ele manteve os seus trabalhadores judeus na fábrica durante a noite, em vez de
os mandar para o gueto.
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

Ele sabia que a frágil licença de trabalho não proporcionava qualquer garantia de segurança durante as
rusgas.”
(…)
Foi no «turno judaico», como o turno da noite viria a ser conhecido, que comecei a conhecer Schindler
pessoalmente. Já tinha ouvido muitas histórias acerca das festas loucas que ele dava nos seus
escritórios no segundo andar da fábrica, festas que se prolongavam pela noite dentro. Agora, no meu
posto de trabalho, ouvia os risos e a música. (…)
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

Após as festividades, Schindler ainda tinha energia para fazer as suas rondas da fábrica. (…) Possuía
uma capacidade incrível para se lembrar de nomes. Eu tinha-me habituado ao facto de ser, para os
nazis, apenas mais um judeu; o meu nome não importava. Mas Schindler era diferente. Queria
claramente saber quem éramos. Procedia como se se importasse connosco como indivíduos. Alto e
forte, com uma voz tonitruante, perguntava-me como estava a sair-me, quantas peças fizera naquela
noite. Depois calava-se, à espera da minha resposta.
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

Olhava-me nos olhos, não com a expressão vazia dos nazis, que pareciam não ver, mas com um
interesse genuíno e até mesmo uma centelha de humor. Eu era tão pequeno que tinha de me
empoleirar num caixote de madeira virado ao contrário para chegar aos comandos da máquina.
Schindler parecia divertir-se imenso com isso.
(…)
Fraco, desnutrido e privado de sono, eu não constituía grande ajuda para o esforço de guerra nazi, mas
Schindler não parecia importar-se. Uma noite, parou junto do meu posto e ficou a observar-me
enquanto eu terminava um invólucro, empoleirado no meu caixote de madeira.(…)
OSKAR SCHINDLER – por LEON LEYSON
um herói por direito próprio

Às vezes, na manhã após uma das suas visitas noturnas, eu ia buscar as minhas rações apenas para
descobrir que Schindler deixara instruções para que me fossem dadas duas porções. Ele tinha de fazer
um esforço especial para isso, e eu sentia-me esmagado pela sua bondade. Outras vezes, parava na
estação de trabalho do meu pai, punha-lhe a mão no ombro e dizia: «Vai correr tudo bem, Moshe».
(…)
(…) Ao tratar-nos com respeito, Schindler resistia à ideologia racista nazi que construíra uma hierarquia
da humanidade na qual os judeus ocupavam o lugar mais baixo.(…)
(ver ficha com a biografia de Oskar Shindler e proposta de expressão escrita)
A VIDA NO CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO

(…) Então, em março de 1943, os nazis


liquidaram todo o gueto. Os que
restaram de nós seriam enviados para
Plaszów. Pelo menos, era o que se
dizia. (…)
Quando saí do gueto, com os seus
Entrada do gueto de Cracóvia muros coroados de lápides, e comecei
a caminhar pelas ruas de Cracóvia,
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

fiquei atónito ao verificar que a vida parecia igual ao que era dantes. Era como se eu estivesse num
túnel do tempo... ou como se o gueto ficasse noutro planeta. Pasmei para as pessoas limpas e bem
vestidas, atarefadas de um lado para o outro. Pareciam tão normais, tão felizes... não saberiam o que
nós tínhamos sofrido, a uns escassos quarteirões de distância? Como podiam não saber? Como
podiam não ter feito nada para nos ajudar? Um elétrico parou e os passageiros embarcaram, alheios à
nossa presença. não manifestaram absolutamente nenhum interesse em quem éramos, para onde
íamos ou porquê. Que a nossa miséria, o nosso confinamento e a nossa dor fossem irrelevantes para
as suas vidas era simplesmente incompreensível.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

Quando nos aproximámos do campo de Plaszów, pouco depois, continuava satisfeitíssimo por ter
conseguido sair do gueto. A única coisa que me interessava era estar novamente junto com a minha
família. Quando entrei no caos de Plaszów, vi diante de mim um mundo muito pior do que jamais
poderia ter imaginado, muito pior do que jamais julgara possível. Transpor aqueles portões era como
chegar ao mais profundo círculo do inferno.
A VIDA NO CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO

Plaszów era um mundo alienígena.


Fora construído sobre dois cemitérios
judeus, que os nazis tinham
profanado e destruído. Era estéril,
sombrio, caótico. Pedras, terra,
arame farpado, cães ferozes, guardas
ameaçadores e hectare após hectare
de casernas monótonas, que se
prolongavam até onde a vista
alcançava.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

Centenas de prisioneiros em roupas muito coçadas apressavam-se de tarefa em tarefa, sob a


ameaça das armas empunhadas por guardas alemães e ucranianos. No momento em que entrei
nos portões de Plaszów, convenci-me de que não sairia de lá vivo.

(…)
Um dia, ao transportar uma pedra grande, escorreguei numa lápide partida e fiz um golpe
profundo na perna. Tive de ir à enfermaria do campo, para me fazerem um penso. Soube mais
tarde que o comandante do campo de Plaszów, o SS Hauptsturmführer Amon Goeth, havia entrado
na enfermaria pouco depois de eu ter saído e baleara todos os doentes sem exceção, por
nenhuma razão para além do facto de que lhe tinha apetecido.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

Se eu lá tivesse permanecido apenas alguns minutos a mais, teria sido executado com os outros.

(…)

No início do inverno de 1943, a ira de Goeth intensificou-se. Eu tinha recebido ordens para limpar
neve com um grupo de homens. Sem roupas de inverno, estava tão enregelado que mal conseguia
segurar na pá. De repente, o Hauptsturmführer Goeth apareceu e, por capricho, exigiu que os guardas
aplicassem vinte e cinco chicotadas a cada um de nós com os seus brutais chicotes de couro. Nenhum
de nós conseguia perceber o que provocara aquilo, mas isso não tinha importância. Como
comandante, Goeth podia fazer o que quisesse, com ou sem razão. (…)
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

Fui receber o meu castigo, juntamente com três homens que tinham o dobro da minha idade e
estatura. Os chicotes possuíam pequenos rolamentos na extremidade, intensificando a dor e os danos
que causavam. Deram-nos ordem para contarmos as chicotadas à medida que as sofríamos. Se
fossemos dominados pela dor e falhássemos um número, os guardas recomeçavam do princípio.
(…)
Na noite em que chegámos de Cracóvia, arrastámo-nos para fora dos vagões de gado e formámos num
campo vago. Mandaram-nos despir e deixar as nossas roupas onde estávamos. Fizeram-nos marchar
para os duches. Por essa altura, tínhamos ouvido histórias horripilantes sobre duches que expeliam gás
venenoso, mas, neste caso, apenas escorreu água gelada.
A VIDA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

Após o duche, as nossas cabeças foram rapadas e nós fomos enviados de novo para o campo, onde
nos perfilamos nus na noite fria de outubro. Esperámos que algo acontecesse, mas nada se passou. À
medida que as horas se arrastavam, íamos ficando cada vez mais enregelados.
(…)
Nenhum de nós fazia a mais pequena ideia do que a nossa presença em Gross-Rosen significava.
Porque estávamos ali? (…)
À medida que o nosso tempo em Gross-Rosen se prolongava, cada vez nos assemelhávamos mais a
mortos-vivos. Misteriosamente, uma tarde, fomos conduzidos para outro vagão de gado. De manhã,
quando as portas se abriram, vimos que tínhamos finalmente chegado a Brunnlitz, na região dos
Sudetas.

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