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Metodologias de Análise do Texto e do Discurso- Prof.

Luís Cláudio Ribeiro

Cadernos da Casa Morta


Fiódor Dostoiévski

“Cadernos da Casa Morta” do escritor russo Fiódor Dostoiévski, publicado pela primeira vez entre 1860
a 1862, é um retrato imersivo da realidade vivida no estabelecimento prisional de Omsk na Sibéria, onde
Dostoiévski esteve exilado sob trabalhos forçados entre 1849 a 1853, lugar onde conviveu com centenas
de criminosos. Após estes 5 anos de trabalhos forçados, a sua pena de prisão foi alterada para serviço
militar, tendo conseguido em 1859 a liberdade por forma a cuidar da saúde.
Por estes motivos, “Cadernos da Casa Morta” é considerado uma espécie de “semi-autobiografia”,
vivida sob condições inimagináveis. Estas circunstâncias transformaram de tal modo a vida do escritor
que o mundo literário considera que existe um antes e um depois do exílio na Sibéria, classificando o
tempo pós-exílio como a sua época de ouro, onde surgiram as suas obras mais aclamadas.

Ao longo das páginas do livro, Dostoiévski faz-nos percorrer a dura realidade vivida na prisão à qual
Goriántchikov – o narrador – a apelida diversas vezes de “Inferno”, dando-nos a conhecer todos os
cantos (muitos deles obscuros) daquele cativeiro humano. A forma como Dostoiévski o faz marcoume
de tal modo que, vários anos após a leitura do livro, ainda me recordo de muitos pormenores. Ele levou-
me a entranhar nos segredos mais profundos quer da prisão como de cada personagem. Fá-lo de tal
forma, que por vezes sentia-me transportado para a Sibéria de 1850, como se conhecesse pessoalmente
aquela gélida prisão. Aquelas personagens distantes, tornaram-se próximas, tão próximas que lhes podia
sentir o cheiro nauseabundo emanado quer pela falta de higiene, quer pela iniquidade das suas almas.
A contínua descrição pormenorizada das vidas e vivências de criminosos vindos de toda a Rússia
Czarista, do ponto vista psicológico e emocional, o contar das suas histórias, do seu dia-a-dia na prisão
“despindo no seu todo as personagens” transpõe-nos para a vida moribunda da prisão e dos seus
habitantes, envolvendo-nos emocionalmente na narrativa.

A beleza da obra, para mim, ficou igualmente espelhada na capacidade de desconstrução do ser humano
e dos motivos pelos quais muitas vezes somos levados a fazer o inimaginável quando confrontados com
situações limite. A transformação do homem quando ultrapassa a barreira moral é exposta de um modo
genial. Tão depressa Dostoiévski nos mostra o pior de um homem, como no momento seguinte nos faz
ter mais empatia por um serial killer do que por um simples ladrão.
O livro deixou – me desconcertado por este contínuo confronto de sentimentos antagónicos em cenas
retratadas como na do leproso, na festa de jantar de Natal e na peça de teatro.
Em poucas palavras, simplesmente genial.

Rafael Santos a21000545

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