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O gosto pela escrita começou cedo, assim que aprendeu a ler. Clarice era
estudiosa e tinha conhecimento em várias línguas. A morte da sua mãe, em
1930, marcou a vida e a literatura da escritora, que colocava o sofrimento em
seus textos.
Foi morar no Rio de Janeiro quando tinha 15 anos. Na capital, cursou a Escola
de Direito na Universidade do Brasil, atualmente Universidade Federal do Rio
de Janeiro, mas não gostou do curso, a literatura era sua grande paixão. O
primeiro conto foi publicado na revista “Pan” em 1940, foi o conto “Triunfo”.
Clarice conheceu o homem que viria a ser seu marido na faculdade e começou
a namorar em 1942, ano de seu primeiro registro profissional, trabalhou como
redatora do “A Noite”. No ano seguinte, publicou “Perto do coração selvagem”,
seu primeiro romance. Pelo livro, recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Por “Laços de Família”, uma de suas obras mais aclamadas, recebeu o Prêmio
Jabuti. A importante escritora era amiga de intelectuais como Samuel Wainer,
Rubem Braga, Fernando Sabino, Lúcio Cardoso. Otto Lara Resende chegou a
afirmar: "Você deve tomar cuidado com Clarice. Não se trata de literatura, mas
de bruxaria".
Movimento Literário
A autora pode ser classificada como modernista, faz parte, mais
especificamente, da 3ª fase do modernismo ou geração de 45. A terceira fase
do Modernismo, também chamada de Geração de 45 ou Pós-Modernismo, é
marcada pela profundidade reflexiva. Enquanto a segunda fase se preocupava
com o homem coletivo, o Pós-Modernismo explorou o “eu” individual, mas sem
perder de vista as questões sociais. Sobressaem o intimismo e a sondagem
interior de Clarice Lispector e o regionalismo universalista e a consciência
estética (experimentalismo) de Guimarães Rosa.
Estilo
O seu estilo é marcado pela inovação, Clarice introduz características novas à
literatura nacional. Os textos colocam em foco o inconsciente, na literatura da
escritora os sentimentos e sensações dos personagens são muito importantes.
A obra de Lispector apresenta características intimistas, o indivíduo, com seus
questionamentos e sua intimidade, é a peça mais importante.
Obra
O objetivo de Clarice, em suas obras, é o de atingir as regiões mais profundas
da mente das personagens para aí sondar complexos mecanismos
psicológicos. É essa procura que determina as características especificas de
seu estilo.
Para Clarice, "Não é fácil escrever. É duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e
lascas como aços espelhados". "Mas já que se há de escrever, que ao menos
não se esmaguem com palavras as entrelinhas". "Minha liberdade é escrever.
A palavra é o meu domínio sobre o mundo."
Romances
Perto do Coração Selvagem, RJ, A Noite, 1944.
Literatura infantil
Mistério do Coelho Pensante, RJ, J. Álvaro, 1967.
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o
mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas.
Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou
pensando."
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma
punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê.
César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo
tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por
bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é
que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos
outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos
porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam
que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo
com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo.
Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é
capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Resumo da Obra
O eu-lírico começa o texto com explicações sobre o que é ser bobo. A autora
faz uma diferenciação entre bobo e burro, e bobo e esperto, demostrando
desvantagens e vantagens de ser bobo através de exemplos cotidianos. Ao
fim, Clarice faz uma associação do amor ao bobo.
Personagens
O bobo, os espertos, a boba. O bobo é uma pessoa que foge a regra, por não
se importar com coisas triviais como a ambição. Eles conseguem realmente
viver a vida e torná-la uma obra de arte, mesmo existindo desvantagens.
Apesar de serem ingênuos, podem ver mais que outras pessoas, eles podem
sentir o mundo. Já os espertos são apenas robôs do mundo moderno, aqueles
que se preocupam com suas ocupações rotineiras para se tornarem ricos.
Como também não conseguem viver a vida como uma obra de arte, pois
sempre a verão como uma competição. Além disso, a autora insere a
intertextualidade. Fazendo referência ao escritor russo, Fiódor Dostoiévski,
autor de: Crime e Castigo, Os Irmãos Karamazov ou Memórias do Subsolo.
Também ao chefe militar e ditador romano Júlio César, a citação remete à sua
morte, que foi feita por um grupo de 60 senadores liderados por Marcus Julius
Brutus, seu filho adotivo: “Até tu, Brutus”. Além desses, a autora insere o
estado brasileiro, Minas Gerais, e o personagem bíblico Jesus Cristo.
Tempo
A autora utiliza o tempo psicológico ou metafísico, ou seja, não obedece à
cronologia e o eu-lírico discorre no interior de si mesmo, de acordo com
vivências cotidianas, angustias e ansiedades sobre o que é ser bobo, suas
desvantagens e vantagens.
Espaço
Como o eu-lírico discorre sobre a questão do que é ser bobo, ele cita alguns
lugares como: Gávea, bairro do Rio de Janeiro e Minas Gerais, estado
brasileiro.
Foco Narrativo
Foco narrativo em terceira pessoa, narrador onisciente.
Vocabulário
A autora possui um estilo intimista em relação as suas obras. Nessa obra,
Clarice discorre sobre a questão de ser bobo. Portanto, utiliza um vocabulário
que faz diversas referências à histórias cotidianas, como também a
intertextualidade com figuras históricas. Além disso, utiliza-se a palavra “bobo”
em diversas partes do texto, justamente para explicar as vantagens e
desvantagens dessa categoria.
Crítica
Particularmente eu gostei da crônica. O estilo de Clarice Lispector acerca de
fatos cotidianos é bem interessante, pois ela consegue a partir daí nos fazer
uma reflexão filosófica e existencial sobre nossa própria vida. Em relação à
essa crônica, a autora nos faz perceber que rumo estamos levando em nossa
própria vida, se estamos sendo os bobos ou os espertos. E quais as vantagens
e desvantagens de ser cada um dos dois.
Podemos citar, por exemplo, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche que tem
muito à ver com o sentido que a crônica nos passa. Nietzsche baseia sua
filosofia, principalmente, em o que ele chama de: Vontade de Potência.
Clarice Lispector, mostra na crônica que o bobo é aquele que não segue as
regras estabelecidas pela sociedade, e consegue, assim, ser original. Portanto,
conseguindo tornar a vida uma obra de arte, ou seja, um sentido.
Mensagem
A mensagem principal do texto, é nos mostrar as vantagens e desvantagens de
ser bobo e esperto. De agir pelos instintos e criamos nos mesmos, ou agir pela
racionalidade e nos encontrar em caixinhas anteriormente estabelecidas.
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o
mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas.
Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou
pensando.”
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma
punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê.
César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo
tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por
bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é
que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos
outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos
porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam
que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo
com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo.
Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é
capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.