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Com base na afirmação de Antônio Cândido, a reação crítica a uma obra se faz
relevante. Algumas das primeiras críticas surgidas antes mesmo da publicação de
Extremely Loud and Incredibly Close tratam de como o autor, descendente de uma família
de refugiados do Holocausto, usa o personagem principal, e a narrativa paralela sobre o
bombardeiro de Dresden durante a Segunda Guerra Mundial, para expressar seus
sentimentos e pontos de vista em relação aos fatos, bem como suas próprias características,
como Harry Siegel nos traz em sua crítica publicada no jornal New York Press (2005)
(...) nine-year-old Oskar Schell (...) writes letters to Stephen Hawkin and
other luminaries (…) is a vegan, an atheist and otherwise equal parts
unbelievable and unbearable. Foer, I should note, is a Jewish atheist, who
wrote letters to Susan Sontag when he was nine, and otherwise sound like
he’d make unbearable company (…)1
A conexão entre autor, obra, e como o mesmo se expressa através dela é no livro de
Antônio Cândido (1985, p. 25), onde apresenta o fato de que o autor pode por meio de sua
obra literária expressar seus sentimentos e ambições “ele utiliza a obra, assim marcada pela
sociedade, como veículo de suas aspirações individuais mais profundas”.
A personagem principal expressa seus sentimentos em relação aos ataques, o
trauma em construção e o preconceito da mesma em relação ao mundo árabe;
características coletivas surgidas na sociedade americana após os eventos do onze de
setembro, sendo aqui expressas através da individualidade da personagem principal. No
jornal The Guardian, Michel Faber (2005) mostra tais elementos na sua crítica sobre o
livro “Extremely Loud and Incredibly Close, in its attempt to fuse the aesthetic of fairyland
with the unresolved trauma of Bush’s America, may well be the ultimate test of how much
gravity each individual reader requires.”2 John Updike, colunista do jornal The New
Yorker, aponta alguns desses problemas a partir da personagem principal da obra em sua
crítica Mixed Messages (2005)
1 Tradução livre: (...) Oskar Schell de nove anos (...) escreve cartas para Stephen Hawkin e para outros gênios (…) é um
vegano, um ateu e por outro lado igualmente incrível e insurportável. Foer, devo mencionar, é um judeu ateu, que
escreveu cartas para Susan Sontag quando tinha nove anos, e de outra forma parece que ele faria companhia insuportável
(…)
2 Tradução livre: “Extremely Loud and Incredibly Close, em sua tentativa de fundir a estética do conto de fadas com o
trauma não resolvido da América de Bush, pode muito bem ser o teste fundamental de quanta seriedade cada leitor
requer.”
4
The hero, a nine-year-old boy called Oskar Schell, has lost his father,
Thomas, in the collapse of one of the Twin Towers (…) A year later, he
has many symptoms: insomnia, fear of elevators and Arabs, a sense of
being in the middle of a huge black ocean.3
Foer utilizou-se de uma criança para dar vida a narrativa da obra. Oskar é um
menino com uma inteligência incrivelmente avançada para a sua idade, podendo ser visto
como um adulto em determinadas passagens do livro devido ao alto nível de suas ações e
reflexões. O uso dessa voz adulta em uma criança foi alvo de muitos críticos literários,
como é o caso da crítica intitulada Tower of Babble escrita por Michel Faber (2005), onde
ele compara o personagem principal do livro em questão com outros narradores juvenis
(...) the best defence of Oskar as a character is to compare him (....) with
others precocious juvenile narrators in literature, such as Holden
Caulfield and Huckleberry Finn. Aren’t we accustomed to suspending
disbelief for an unnaturally articulate pre-adult voice?4
Outros fatores internos e externos da obra foram alvos das críticas, como por
exemplo, a maneira como a sociedade iria reagir ao livro de Foer. Alguns críticos
americanos achavam a obra um tanto quanto pobre em termos literários, mas por outro
lado chamativa ao público por tratar dos acontecimentos de onze de setembro, como
mencionado por Steve Almond no jornal The Boston Globe (2005) “The book is ultimately
a fantasia, an uplifiting myth born of the 9/11 sorrows. It is for this very reason that a great
3 Tradução livre: O herói, um menino de nove anos chamado Oskar Schell, perdeu seu pai, Thomas, na queda de uma das
Torres Gêmeas (…) Um ano depois, ele tem vários sintomas: insonia, medo de elevadores e de Árabes, a sensação de
estar no meio de um enorme oceano escuro.
4 Tradução livre: (...) a melhor defesa de Oskar como um personagem é compará-lo (....) com outros precoces narradores
juvenis na literatura, como Holden Caulfield e Huckleberry Finn. Não estamos acostumados a desacreditar em uma uma
voz pré-adulta inaturalmente articulada?
5
many folks will be gratified to read Extremely Loud and Incredibly Close”5. No jornal The
New York Press, Harry Siegel (2005) confirma a opinião do crítico acima
“Why do people wonder ‘OK’ to make art about, as if creating art out of
tragedy weren’t an inherently good thing? Too many people are too
suspicious of art. Too many people hate art.” – Jonathan Safran Foer, on
why he wrote a 9/11 book. Call me a hater then.6
Antônio Cândido (1985, p.34) nos apresenta em seu livro que uma mesma obra
literária pode ter uma diferente leitura e recepção se introduzida a uma sociedade distante
da qual ela foi gerada
Por outro, fora do território americano, a obra de Foer recebeu críticas favoráveis,
como é mencionado em A Tower of Babble (2005), onde aspectos positivos são
encontrados “EL&IC is phenomally energetic and bold (...) anything that Foer concocts,
and yet, in the context of the novel, is used to audaciously comic effect, highlighting the
way historical enormities always end up jostling for space with mundane concerns.”7
Após a leitura das críticas sobre o livro de Jonathan Safran Foer e do texto
Literatura e Sociedade, nota-se que a necessidade da crítica se faz deveras significativa
para a divulgação da obra perante a sociedade, seja ela a de origem do texto literário, como
também em outras onde este possivelmente teve alcance. Além de sua divulgação, através
das críticas, podemos ver uma aceitação ou não de um texto literário específico em uma
determinada sociedade.
5 Tradução livre: “O livro é basicamente uma fantasia, um inspirador mito nascido das tristezas do onze de setembro. É
por esta razão que um grande número de pessoas ficará gratificada por ler Extremely Loud and Incredibly Close”.
6 Tradução livre: “Por que as pessoas acham certo fazer arte sobre, como se criar arte através da tragégia não fosse
uma coisa inerentemente boa? Muitas pessoas são muito desconfiadas em relação a arte.Muitas pessoas são odeiam
arte” – Jonathan Safran Foer, por ter escrito um livro sobre o onze de setembro. Me chame de inimigo da arte então.
7 Tradução livre: “EL&IC é fenomenalmente enérgico e ousado (...) qualquer coisa que Foer inventa, ainda que, no
contexto de um romance, é usado como audacioso efeito cômico, destacando a maneira como as enormidadees históricas
sempre terminam partilhando espaço com as preocupações mundanas”.
6
REFERÊNCIAS
FOER, Jonathan Safran. Extremely Loud and Incredibly Close. England: Penguin
Books, 2006.
ALMOND, Steve. The boy who knew too much. In: The Boston Globe. Disponível em:
http://www.boston.com/ae/books/articles/2005/04/03/the_boy_who_knew_too_much.
Acesso em: 04 dez. 2009.
SIEGEL, Harry. Extremely Cloying & Incredibly False. In: New York Press. Disponível
em: http://www.nypress.com/article-11418-extremely-cloying-incredibly-false.html.
Acesso em: 04 dez. 2009.
UPDLIKE, John. Mixed Messages. In: The New Yorker. Disponível em:
http://www.newyorker.com/archive/2005/03/14/050314crbo_books1. Acesso em: 04 dez.
2009.