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Clarice desenvolveu um estilo literário ímpar. Com livros marcados por singularidades e
inovações lingüísticas, a escritora encabeça a lista dos que mais incorporaram traços inéditos à
literatura nacional.
Artifício largamente utilizado por James Joyce, Proust e, sobretudo, Virgínia Woolf [indico ao
lado livro da escritora inglesa], o fluxo da consciência marca indelevelmente a literatura de
Clarice. Tal aspecto consiste em explorar a temática psicológica de modo tão profundo que o
assunto nunca é completamente explorado, ou seja, as diversas possibilidades de análise
psicológicas e a complexividade da temática contribuem para a inesgotabilidade do assunto. O
fluxo da consciência indefine as fronteiras entre a voz do narrador e a das personagens, de
modo que reminiscências, desejos, falas e ações se misturam na narrativa num jorro
desarticulado, descontínuo que tem essa desordem representada por uma estrutura sintática
caótica. Assim, o pensamento simplesmente flui livremente, pois as personagens não pensam
de maneira ordenada, mas sim de maneira conturbada e desconexa. Portanto, é a
espontaneidade da representação do pensamento das personagens que caracteriza o caos de
tal marca literária.
O monólogo interior é outro artifício utilizado por Clarice que contribui para a construção da
atmosfera introspectiva. Essa técnica consiste em reproduzir o pensamento da personagem
que se dirige a si mesmo, ou seja, é como se o “eu” falasse pra si próprio. Registra-se,
portanto, o mergulho no mundo interior da personagem que revela suas próprias emoções,
devaneios, impressões, dúvidas, enfim, sua verdade interior diante do contexto que lhe é
posto.
http://esteticaliteraria.blogspot.com/2009/01/clarice-lispector-estilo.html
"O primeiro e mais importante fato concreto que cada um afirmará pertencer a sua
experiência interior é o fato de que a consciência, de algum modo, flui. “Estados
mentais” sucedem-se uns aos outros nela. Se pudéssemos dizer “pensa-se”, do
mesmo modo que “chove” ou “venta”, estaríamos afirmando o fato da maneira
mais simples e com o mínimo de presunção. Como não podemos, devemos
simplesmente dizer que o pensamento flui." (JAMES, William. The Stream of
Consciousness. 1892)
E William James ainda enumera quatro características deste fluxo mental: 1 – cada
estado tende a ser parte duma consciência pessoal; 2 – dentro de cada consciência
pessoal os estados estão sempre mudando; 3 – cada consciência individual é
sensivelmente contínua e 4 – é interessada em algumas partes de seu objeto em
detrimento de outras, e acolhe ou rejeita – escolhe-os, numa palavra – o tempo
todo.
Na França, o grande expoente foi Marcel Proust e sua monumental obra “Em Busca
do Tempo Perdido”, dispersa em vários volumes e relatando, de maneira bastante
pessoal e autobiográfica, as rememorações do narrador, Marcel, desde a infância
até a idade adulta.
Na Inglaterra, Virginia Woolf experimentava novas formas narrativas através de
enredos cotidianos ambientados nos círculos da alta classe média britânica.
Enquanto que, nos EUA, o fluxo de consciência apareceria nos trabalhos de
Faulkner e T. S. Eliot.
https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1657679
http://gilbertoscarton.blogspot.com/2016/01/guia-de-producao-textual.html