O documento resume uma palestra sobre o livro "Mallarmé, o livro" de Joseph Attié, que analisa a vida e obra do poeta simbolista Stéphane Mallarmé. O palestrante Roberto Zular discute como a poesia de Mallarmé influenciou a poesia do século XX e como a leitura do livro de Attié pode abrir o universo da poesia para muitos, mostrando a singularidade de Mallarmé diante do "furo" entre palavras e significados. Zular também aproxima o lugar do poema
O documento resume uma palestra sobre o livro "Mallarmé, o livro" de Joseph Attié, que analisa a vida e obra do poeta simbolista Stéphane Mallarmé. O palestrante Roberto Zular discute como a poesia de Mallarmé influenciou a poesia do século XX e como a leitura do livro de Attié pode abrir o universo da poesia para muitos, mostrando a singularidade de Mallarmé diante do "furo" entre palavras e significados. Zular também aproxima o lugar do poema
O documento resume uma palestra sobre o livro "Mallarmé, o livro" de Joseph Attié, que analisa a vida e obra do poeta simbolista Stéphane Mallarmé. O palestrante Roberto Zular discute como a poesia de Mallarmé influenciou a poesia do século XX e como a leitura do livro de Attié pode abrir o universo da poesia para muitos, mostrando a singularidade de Mallarmé diante do "furo" entre palavras e significados. Zular também aproxima o lugar do poema
Roberto Zular (1) retoma ao avesso a questo da noite, para trabalhar primorosamente o livro de Joseph Atti, lanado no Brasil, articulando vida e obra do poeta simbolista que influenciou profundamente a poesia do sculo XX, falando sobre a habilidade com que Atti traz a dimenso do acontecimento para a poesia. Um poema um acontecimento de linguagem ... Entrar num poema entrar num outro modo de organizao do tempo e do espao, do ritmo, outro modo de produo da subjetividade (2).
E o que o poeta ensina ao analista?
O encontro com a arte sempre um acontecimento no estrito sentido exposto acima. A poesia de Mallarm levou Atti ao seu Mallarm O Livro para tentar saber o que h nessa poesia de to opaco, de to atraente e de to fascinante (3). A leitura do livro de Atti pode abrir para muitos o universo da poesia. Ler Um lance de dados jamais abolir o acaso uma aventura. Sob nossos olhos as palavras no papel nos conduzem a encruzilhadas, produzindo escanes no ritmo da leitura. preciso parar e lanar os dados, invocando o acaso. O caminho casualmente escolhido implica a contingncia de um novo acontecimento. Da por diante, o leitor envolvido num ritmo de lances fortuitos e encontros de palavras sem compromisso com o sentido, pura experincia do olhar que produz voz.
Pulso escpica e pulso invocante esto em jogo, demonstrando como se articulam dois comentrios aparentemente paradoxais que Zular nos apresenta: o livro A poesia no pode salvar minha vida, e a afirmao de Mandela de que a recitao diria de uma poesia fez com que sobrevivesse aos 20 anos de cativeiro (4). O ritmo no recobre a pulso, mas engendra o vivo da experincia pulsional a pulso tem um ritmo a que no temos acesso, mas que se acopla de maneiras singulares ao ritmo da poesia (5).
Valendo-se de uma fala de Lacan segundo a qual ele no era um poeta, mas um poema, Zular nos convida a aproximar, a partir da leitura do livro de Atti, o lugar do poema e o lugar do analista, na medida em que o encontro com um analista permite experimentar, por meio das escanes no discurso que o corte da sesso produz, um outro lugar para o sujeito. Essa espcie de restrio (6) que o verso exige foi defendida por Mallarm at o final.
Vale ressaltar no comentrio de nosso convidado da noite sua admirao quanto ao fato de o autor passar do poema ao poeta sem muita dificuldade, sem pudores diante do risco de psicanalis-lo. Vida e obra se misturam e, a partir do esquema L de Lacan, vemos configurar-se a estrutura subjetiva de Mallarm, numa forma inusitada de construir sua obra.
No eixo imaginrio (a-a), esto O fauno e Herodias. Igitur (S), sujeito do desejo, est espera de um significante que venha represent-lo. Finalmente, o esquema se completa com O livro, obra nunca levada a cabo, I(A), como proposto no incio, ou objeto causa (a), como poderamos nos perguntar ao final.
Zular nos ensina que o que est em jogo para o poeta no dizer, mas sugerir, oferecendo um lugar outro para a nomeao. H um efeito de furo que marca a condio paradoxal da poesia e da psicanlise. No basta constat-lo. preciso saber como se contorna esse furo, como se nomeia, se constri esse litoral. A obra de Mallarm sua singularidade diante do furo, que o livro de Atti vai aos poucos nos mostrando.
NOTAS
1. Roberto Zular, professor de Teoria Literria e Literatura Comparada da USP. 2. Anotaes feitaa pela autora da resenha extrada da fala de Roberto Zular no evento Atividade da Diretoria da EBP-SP, Noite da Biblioteca, Mallarm O Livro O que o poeta ensina ao analista sobre a relao entre palavras e corpos, em 21 de maio de 2014. 3. Atti, J. (2013). Mallarm, o livro. Rio de Janeiro: Forense, p. 1. 4. Referncia do comentador. 5. Anotaes feitas pela autora da resenha extrada da fala de Roberto Zular no evento Atividade da Diretoria da EBP-SP, Noite da Biblioteca, Mallarm O Livro O que o poeta ensina ao analista sobre a relao entre palavras e corpos, em 21 de maio de 2014. 6. Idem.