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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA


MESTRADO EM TEORIA LITERÁRIA
ESTUDOS COMPARADOS DE LITERATURA

A temática comparatista

A temática comparatista – Noções gerais:

• Tematologia: Descreve o campo metodológico daquelas investigações comparatistas que


pesquisam os aspectos temáticos que criam uma tradição e os elementos formais na literatura
(BELLER);

• Principal expoente: Trousson

• A tematologia opera uma espécie de “reagrupação” dos textos literários, a partir de uma
experiência temática;

• Definição clara de tema oferecida pela retórica forense clássica: designa a tarefa proposta ao
orador pela matéria ou pelo objeto do processo. A elaboração do “tema” ocorria em frases
estreitamente ligadas entre si pela invenção (inventio), ordenação (dispositio) e da expressão
verbal (elocutio);

• MACHADO & PAGEAUX: Tudo aquilo que é elemento constitutivo e explicativo do texto
literário, elemento que ordena, gera e permite produzir o texto;

• Pode revelar-se de forma direta ou indireta, voluntária ou involuntária. Ex: Dom Casmurro;

• Motivo: Um conceito vasto, designado quer uma certa atitude – por exemplo, a revolta – quer
uma situação de base, impessoal, em que os atores não foram ainda individualizados – por
exemplo as situações do homem entre duas mulheres, da oposição entre dois irmãos etc.
Trata-se de situações já delimitadas nas suas linhas essenciais, de atitudes já definidas, de
tipos mesmo – por exemplo o revoltado ou o sedutor – mas que continuam no estado de
noções gerais, de conceitos (TROUSSON);

• Motivo ≠ Tema  Motivo possui caráter mais geral/ O motivo se particulariza no tema;

• Também em tematologia se denomina tema uma história legada pela tradição literária, a
mitologia, a lenda...

• Ex: Tema de Fausto, de Don Juan e Antígona  Neles convergem conceitos tematizados que
selecionam e orientam o conteúdo possível de outros novos textos  Esquemas de ordem
pré-textual (tema-personagem);
• Temas-personagens x temas-valor: temas-personagem possuem um grau mais alto de
prefiguração (Ricoeur, 1983), uma espécie de perfil narrativo que lhes propicia uma
identidade como tal, se tornando impossível de esvaziá-los totalmente de conteúdos
ideológicos;

• Os temas-personagens podem ser considerados verdadeiras caixas de ressonância textual.

• Um último aspecto a se considerar do tema, é sua recursividade: Não se pode conceber um


tema sem estar inscrito em uma tradição literária.
• Don Juan não seria um tema se não fosse pela constelação construída em torno de si;

Problemas de terminologia:

• A partir da definição de Greimas do motivo como uma configuração discursiva de caráter


recorrente e migratório, resulta evidente o conflito terminológico;

• Por uma parte, tanto tema como motivo se caracterizam pela sua condição de matéria-prima;

• Também em ambos os casos se apresenta a recursividade;

• Para complicar ainda mais, da mesma maneira que os motivos, os temas também vão
apresentar diferentes graus de figuração, figurações estas que vão do simples conceito (tema-
valor) até a sua individualização (temas-personagens), a saber: A) O tema-valor, por exemplo,
da sedução se conjuga com o tipo do sedutor; B) Os temas de herói, no quais se resumem
diversos valores e conceitos (ex: Prometeu); C) Os temas de situação, que individualizam
situações de base ou programas narrativos potenciais (ex; Antígona); D) Os temas de figuras
históricas, que alcançam grau máximo de individualização, por estarem ligados a uma época e
a um lugar concretos (ex. Napoleão);

• OBS: Como afirma Philippe Chardin, mesmo a questão das ambigüidades em torno do
isolamento do “substrato” tema, varia muito de crítico para crítico.

Variações temáticas

• O tema se assimila na personagem ◊ Vários valores ou categorias semânticas relacionadas


entre si que entram em conjunção com o sujeito;

• Cada uma das atualizações do tema-personagem pode se apoiar em um ou outro valor ◊ Será
nele o ponto de descanso da carga temática e, portanto, a orientação ideológica da obra;
• Harry Levin - “deslocamento da carga temática” ◊ Certas atualizações, reelaborações
colocarão ênfase em um determinado tema-valor;

• Ex: O Don Juan de Tirso é condenado, o de Zorrilla é salvo ( este deslocamento deixa
implícito uma mudança de postura ideológica)

• Se o tema-personagem é uma unidade complexa, resultado de uma combinatória, o motivo,


pelo contrário, se apresenta como unidade simples, seja na forma de micro relato ou de figura;

• Os motivos tem uma maior liberdade de inserção e uma maior capacidade de migração. Ex:
Encontro no túmulo

Métodos de trabalho

• Tradicionalmente, a tematologia investiga a evolução dos temas com um enfoque


essencialmente histórico ◊ Trabalhos de compilação ou inventário ( Stoffgeschichte- História
dos temas);

• Outra vertente importante dos estudos dos temas e motivos é a taxonômica ◊ Stith Thompson,
no livro Motif-Index of folk-literature, enumera e classifica 40.000 incidentes tirados de
mitos, fábulas etc.

• Diante desta perspectiva metodológica, os estudiosos tentaram, ou classificar a matéria-prima


da literatura, ou se orientaram para a história literária ou história das ideias (Trousson);
• Pierre Brunel ◊ Dictionnaire des mythes litteráires (1988) ◊ Parte do pressuposto de que o
mito em si se distingue com dificuldade do tema devido a que o “mito está animado por um
dinamismo de ordem narrativa” ◊ Seu modo de transmissão e sua consignação por meio da
escritura os convertem em um fato literário;

• Pelo modo de transmissão narrativa, assim como pelo modo de inscrição que é essencialmente
textual, os mitos, em si, são fenômenos literários e textuais. Ex: Don Juan;

• Segundo Brunel, há ainda uma terceira categoria, constituída por aquelas figuras, eventos
históricos que a própria literatura transformou em mitos.

Para uma nova temática comparatista:

• Até hoje, todo o peso da investigação na área dos temas e motivos recaiu na classificação, no
rastreamento da evolução dos temas e motivos ao largo da história literária e de sua relação
com a história das ideias;

• Pimentel ◊ Se tem descuidado de uma análise mais fina que leve em conta as transformações
textuais e a maneira em que se relacionam com outros textos (perspectiva comparatista);

• É necessário, contudo, reconhecer que não existe qualquer obra de literatura comparada que
tenha encontrado um público como que obtiveram as grandes sínteses literárias;

• Da mesma forma que é importante a função taxonômica nos estudos dos temas e motivos, é de
igual importância, como afirma Trousson “rastrear pistas na selva das interpretações e das
transformações de um tema no marco da história das ideias”;

• Uma perspectiva literária comparatista poderia certamente contribuir de forma útil para a
elaboração de “novos objetos” de investigação cujo estudo é verdadeiramente inseparável de
uma aproximação verdadeiramente pluridisciplinar;

• Chardin ◊ Em certo sentido, uma abordagem temática privilegiando deliberadamente o ponto


de vista da “produção” relativamente ao ponto de vista da “recepção” pode surgir, atualmente,
como uma espécie de contrapeso indispensável nos estudos comparados.

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