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AULA 2 (16/08/2023): Regimes internacionais: a evolução da agenda de pesquisa

Texto: Keohane, Robert (1998). International Institutions: Can Interdependence Work?


Foreign Policy, nº 110, Special Edition: Frontiers of Knowledge, pp. 82-96

- A interdependência ainda funciona?


- Interdependência:
- Relação entre Estados e Instituições
- Assimétrica
- “Força” a cooperação
- Pode formar redes
- Nenhum Estado sobrevive sozinho, Estados se afetam mutuamente
- Responsabilidade compartilhada das obrigações
- Interdependência complexa:
- Previsibilidade à ação dos Estados
- Troca de informações

- Interdependência x Instituição internacional => interdependência como processo de


construção de consenso e instituições se apropriam disso para criar regras =>
INTERDEPENDÊNCIA É COMO SE DÃO AS RELAÇÕES ENTRE OS ESTADOS
INSTITUIÇÕES É QUEM FAZ A RELAÇÃO ENTRE OS ESTADOS

- Instituição: guardiã da interdependência, do regime, da cooperação


- Troca entre as elites dos países (hegemonia para Gramsci), ainda que seja
desigual
- Lugar importante para países pequenos fazerem exigências - ainda são espaço de
agência de países menores
- Organizações regionais dão poder de barganha maior a países periféricos => antes
era colonialismo, imperialismo
- anos 60: não reconhecimento de Estados novos se eles não assinassem e
participassem de tratados
- $ => investimentos externos muito importantes para países mais jovens e
periféricos
- Cooperação: tema comum, voluntarismo, objetivo é algum ganho (relativo, absoluto)
- Regime: processos cooperativos formais ou informais onde já está estabelecido um
padrão ideal de comportamento

+ Como as instituições internacionais lidam com a interdependência?

- Multilateralismo: as instituições criam a capacidade dos Estados cooperarem


de forma mutuamente benéfica, reduzindo os custos de fazer e aplicar acordos.
Reforçam práticas de reciprocidade, incentivam o cumprimento dos
compromissos pelos países assinantes => geram padrões esperados de
comportamento
- Redução de incertezas: as instituições reduzem a incerteza encorajando a
transparência nas negociações; tratando uma série de questões da mesma
maneira e sob regras semelhantes ao longo dos anos e controlando o
cumprimento dos compromissos assumidos pelos governos

- Grandes potências precisam das OI: impõem seu modo de comportamento, fazem
desse modo de comportamento o padrão => dá legitimidade às suas ações => controle
das agendas
- manutenção de uma ordem adequada à seus interesses
- terceirização de responsabilidade (guerras não são problema de países
específicos, mas das organizações)
- controle do comportamento (previsibilidade de ação dos Estados)
- redução de custos de aplicação de medidas, regimes (custo compartilhado) -
vigilância compartilhada do cumprimento das medidas

- Keohane e Nye: INSTITUIÇÕES SERVEM PARA GARANTIR A ORDEM =>


ordem é uma construção, não é algo natural, não é neutro - superpotências se
beneficiam da ordem

+ Histórico do estudo sobre as instituições internacionais

1ª geração dos estudos

- 1960: OI são agentes secundários e não estão na ordem da agenda de pesquisa de


maneira relevante - realismo em voga
- 1970: início da crítica dos estudiosos, questionando a eficácia das instituições para
solucionar problemas globais - ineficientes e insuficientes - ex: ONU se propunha a
manter a segurança global, mas tinha muito conflito ainda nos países de 3º Mundo
- 1980: ascensão dos estudos de governança global (governar sem governo, conjunto de
normas voluntariamente acordadas), que buscam entender como as instituições afetam
as decisões dos países e como eles cooperam - surgimento da percepção de que as
ideias, valores, normas importam para as RI

+ Críticas às instituições internacionais

- As OI se submetem ao jogo de poder: países mais poderosos têm maior influência nas
decisões das OI, o que leva à perpetuação da desigualdade global => OIs como
manifestação do desejo das grandes potências - ex: sistema de veto no Conselho de
Segurança e a quota no FMI, BM, OMC (países que injetam mais dinheiro têm mais
peso no voto)
- Resposta: se OIs existem para manter ordem, as super potências também cedem
para que a OI continue viva
- Estados preferem ganhos relativos a ganhos absolutos: países tendem a buscar
benefícios para si próprios em detrimento da cooperação global, o que minaria a
eficácia das instituições internacionais - ex: corrida armamentista entre EUA e URSS
(o que importa é o quanto a mais se tem em relação ao outro)
- Resposta: essa preferência só é verdadeira em uma relação bilateral, em sistema
multilateral só benefícios absolutos já valem
- Processos de barganha impedem ganhos conjuntos: busca por acordos em fóruns
internacionais muitas vezes leva os países a compromissos limitados ou ineficientes
=> precisa ceder para realizar acordos, mas pode ser tão assimétrico que o resultado
pode ser negativo para uma das partes
- Resposta: gera credibilidade, agências especializadas que colocam ponto focal na
cooperação - OI tira pontos de obstáculo para cooperação que em um ponto pode
ser benéfica

COOPERAÇÃO PRESSUPÕE CONFLITO

AULA 4 (30/08/2023) - Regimes Internacionais e a OTAN

Regime:

- Definição de Krasner: Conjunto formal ou informal de normas, diretrizes e


instituições acordado entre Estados concorrentes para balizar expectativas de conduta
em uma determinada área das RI
- informal: costumes (soberania, acordo de não agressão mútua)
- formais: ditadas por tratados (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares)
- Regimes internacionais organizam essas normas para prever as ações de um Estado e
as bases de seu comportamento
- A partir do séc XX costumes passam a ser codificados, viram lei internacional
(normas consuetudinárias)
- Regime é mais do que só a OI => regime é anterior e mais amplo
- Regime também trabalha com abstração (costumes, cultura) além das organizações
formais
- Não é teoria de fato, é abordagem - descritivo, não analista - não diz como o Estado
vai agir, mas dizer que o regime molda a ação do Estado, mas não determina
completamente => o que tenta prever é a teoria
- Teorias de comportamento dos Estados:
- Teoria dos Jogos => processo de formação de expectativas diante de
determinadas situações - regimes criam expectativas
- Teoria da Estabilidade Hegemônica => ente que estabelece liderança e ordem em
seu benefício – forma hegemonia pelo convencimento e pela coação - regimes
formam consenso
- Teoria da Escolha Racional => suposição que todos os Estados são racionais, eles
agem de acordo a maximizar seus interesses com o menor custo possível -
liberais: se os recursos são limitados, para conseguir objetivos a menor custo vale
a pena a cooperação - Estados se moldam de acordo com o regime para obter seus
ganhos
- Liberalismo: Regimes internacionais tem caráter funcionalista espontâneo:
- regime precisa que se sigam normas
- regimes levam necessariamente a bons frutos, boas instituições
- Crítica:
- regimes como dados, sem levar em conta o jogo de poder que os formou
- regimes são impostos, não são espontâneos (ex: Estados recém independentes
tinham que aceitar tudo que era acordo para serem reconhecidos)

1. A importância das instituições de segurança na formação de padrões de conflito e


cooperação no sistema internacional:
- os regimes internacionais de segurança mudaram ao longo do tempo => antes
das GM regimes eram localizados (Europa) - na GF passam a ser regimes
hemisféricos (Pacto de Varsóvia e relações sino-soviéticas ^^^ OTAN e TIAR
(Tratado Interamericano de Assistência Recíproca)) - com queda da URSS, é
reformulada a percepção de segurança = criação de instituições regionais de
segurança e estabilidade - ameaças hoje passam a ser transnacionais
(terroristas, narcotráfico, cibersegurança) => isso molda as Instituições de
segurança e a percepção do que é segurança, a reação em relação aos conflitos
que acontecem
- Regimes de Segurança não são estanque => sistema que muda ao longo do
tempo - mudam as formas de ameaça (antes era inimigo declarado:
comunismo, agora existem mais táticas como o terrorismo)
- Instituições de segurança determinam as ameaças (narcotráfico, comunismo,
guerras civis), as agendas e as respostas (princípio de que agressão a um é
agressão a todos)

2. A variedade de instituições de segurança existentes e a necessidade de explicar a


variação institucional
- Pq tantos organismos? ONU, OTAN => eficiência - quando é menos eficiente,
precisa de uma nova organização mais específica, que estimule mais a
confiança, que resolva de alguma forma os problemas

3. A importância de entender as instituições de segurança como um conjunto de regras


persistentes e conectadas que prescrevem papéis comportamentais, limitam a
atividade e moldam as expectativas
- OTAN - quais papéis, ações e expectativas ela coloca em seu arranjo de
cooperação
- requisitos: democracia funcional, baseada em uma economia de mercado,
respeito a minorias etc
- Por meio das instituições de segurança o comportamento dos Estados é
moldado em quase todos os outros aspectos
- Exemplos de como instituições moldam interações entre os Estados de
maneira concreta: Crise do petróleo, Guerra do Golfo (coalizão -
institucionalizada na OTAN por meio dessa guerra) => SEGURANÇA
NÃO PODE MAIS SER PENSADA DE MANEIRA INDIVIDUAL
(antes da WWI não era assim)

4. Papel adequado das instituições de segurança no séc XXI e como elas podem ser
usadas para promover a cooperação entre os Estados
- Mudança subjetiva da ameaça => sai do inimigo declarado (droga,
comunismo, terrorismo) e passa a ser interpretativa - ameaça é aquilo que eu
quero que seja - Teoria da Securitização (antes eram questões políticas ou
militares, mas a partir do começo do século uma ameaça à segurança pode ser
um grupo de refugiados, crises econômicas, desastres naturais etc) => tudo
pode ser lido como questão de segurança
- Isso fez com que a OTAN sobrevivesse = construção contínua do que são
essas ameaças - relegitimação da existência da OTAN o tempo todo

5. Como a OTAN se adaptou após o fim da Guerra Fria


- Mudança sobre o caráter da ameaça - leitura objetiva para leitura subjetiva
- Europa anos 90: Integração dos países que saiam do bloco soviético + Guerra
da Bósnia (melhor controlada em conjunto), ONU facilmente vetada,
enfraquecida, ineficaz muito custoso fazer guerra sozinho => OTAN
desenvolve Operações de Paz
- OTAN passa a não ter mais uma função ofensiva, mas manter a coesão entre
os Estados na agenda de segurança e garantir o regime de proteção nuclear
- Desmilitarização do complexo nuclear dos países que entravam na OTAN
(países ex URSS)
- Combined Joint Task Forces - Operações de Paz evoluem para isso => redução
de custos individuais (compartilhamento de responsabilidades), geração de
consenso (todos são responsáveis pela segurança de todos, os membros podem
cobrar o cumprimento das regras uns dos outros, sem existência de uma
autoridade vigilante), atribuição de senso de responsabilidade (exército da
OTAN não é exército dos EUA, tudo é conjunto), hierarquização de agenda
(como vai realizar a intervenção militar, determinado em conjunto)
- OTAN como guardiã do regime de segurança do hegemon - tem reputação
agora

6. Criação de capacidades regionais para operações de paz pode aumentar a eficácia da


ação multilateral
- Operações são conjuntas, não no nível de país
- Criação de capacidades regionais auxiliam uma ação global

7. O uso excessivo das OIs pode ser gerenciado por meio da definição clara de limites
físicos e responsabilidades individuais
- cada OI tem uma especificidade, se encarrega de contatos menos globais,
melhor conhecimento da realidade e sua complexidade
- estabelecimento mais qualificado das agendas
- OTAN colocada como tipo ideal de instituição de segurança, igual UE é de
instituição econômica - como melhor que se pode ter no campo, modelo de
ação

AULA 6 (20/09/2023): ONU

Antecedentes

- Paz de Westfália (1648 - após a Guerra dos Cem Anos)(soberania sobre o território,
equilíbrio de poder): conjunto de tratados que reconheciam a soberania “interna” dos
“Estados”, centralidade do elemento religioso
- Congresso de Viena (1815): para derrotar Napoleão
- Concerto Europeu (1830-1884): manutenção da estabilidade entre países europeus,
“partilha da África”
- Convenções de Haia (1899 e 1907): regulamentação da guerra (juris in bellum, juris
ad bellum)
- Liga das Nações

ONU (1945)

Objetivo: não permitir uma WWIII - sistema global de segurança coletiva ancorado em
princípios de não agressão e desenvolvimento

Órgãos principais:

- Assembleia Geral: sugere agenda (chamar atenção às pautas emergenciais ao


Secretário Geral), tem como função deliberar (votar propostas)
- Conselho de Segurança: manutenção da paz, definição de ameaça à segurança
internacional, define ações da ONU, P5 (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido)
+ 10 (rotativos, 2 anos)
- ECOSOC (Conselho Econômico e Social): questões de desenvolvimento econômico
(FMI está dentro)
- CIJ (Corte Internacional de Justiça): questões jurídicas
- Secretariado: agência administrativa - Secretário Geral (mandato de 5 anos)

- Agências especializadas (ACNUR, FAO, UNICEF etc): observam o cumprimento das


atividades e resoluções dos Estados, produzir relatórios sobre as atividades dos
Estados, fazem recomendações à Assembleia Geral, CS e Secretariado

Empecilhos para instalação de uma segurança coletiva global:


- segurança coletiva global: questiona ideia da autoajuda (Estado precisa sobreviver
sozinho)
- Questões de poder (uns Estados são mais poderosos q outros)
- Estados militarizados
- Alianças militares
- Alto custo de manutenção
- As vítimas não são iguais

Regime internacional: tem como objetivo manter a ordem - EUA apoia a ONU para manter
essa ordem (custos de manutenção da ordem são repartidos através da ONU) => ONU precisa
dos EUA tanto quanto EUA precisa da ONU
- EUA passa pela ONU antes de invadir Iraque para dar legitimidade à ONU em outras
ações (tem autoridade para atuar quando for bom para os EUA)
- ONU precisa ser legítima para que haja ordem

AULA 8 (27/09/2023)- Reforma das Nações Unidas

+ Assembleia Popular das Nações Unidas


- ONU não é instrumento democrático: cada Estado dar um voto não é
democrático porque têm países que têm mais influência e pela diferença no
tamanho das populações dos países
- Como resolver? diferença no peso dos votos (por população, taxa de
crescimento econômico, contribuição à economia global) - é justo
comparar países com trajetórias diferentes por economia?
- Problema de legitimidade do exercício do governo em um Estado
(governos autoritários que participam da ONU, governos eleitos mas
que vão contra a tradição diplomática do país ou não representam a
população)
- Assembleia Geral tem dificuldade de pautar agenda e aplicar as suas
resoluções => pacifismo legal (por meios jurídicos, seria possível
resolver os problemas de maneira pacífica) - adensamento das suas
normativas jurídicas que tem por objetivo imaginar como o mundo
deve ser no futuro (não dá pra resolver questões de hoje, mas uma vez
que este problema seja solucionado, temos normas para que não se
repita) => mas não tem impacto político (não são aplicáveis)
- Experiências anteriores que defendem a Assembleia Popular:
Parlamento Europeu - ONU é espaço que os Estados têm para defender
seus interesses dentro da organização, enquanto no Parlamento as
pessoas discutem os problemas comuns da Europa
- Eleições para votar por representante na Assembleia da ONU
- Dificuldade de implementação: quais seriam responsabilidades desta
Assembleia? esbarra em questões de soberania => decisões não seriam
mais recomendações, mas obrigatórias => até que ponto os Estados
como definidores do poder da ONU concordariam em diminuir seu
poder desse jeito e serem contestados?
+ Reforma do Conselho de Segurança
- Problemas:
- VETO
- Estrutura do CS não reflete as dinâmicas globais atuais: dissolução da
URSS, China continental x Taiwan, não participação de países
importantes (Alemanha, Japão, BR)
- Propostas:
- Abolição do veto e deixar as decisões somente por maioria qualificada
(9 de 15)- poder de veto vai contra Carta da ONU (decisão por maioria
qualificada deveria valer mais que tudo)
- Invalidar o veto de um Estado quando há unanimidade dos outros
- Inclusão de organismos regionais (UE, OEA, União Africana, Liga
Árabe)
- Expansão para 18 membros, sendo 2 permanentes e representantes do
Sul (Brasil e Índia)
- Formação de um “Comitê de Segurança” da Assembleia Geral,
formado por 15 membros eleitos, rotativos, geograficamente
representativo e que não estejam no Conselho de Segurança => ser uma
sombra do CS observando o funcionamento daquele

+ Reforma da Corte Internacional de Justiça


- Problemas:
- Jurisdição restrita => decisão não é obrigatória (não é vinculante), só
julga Estados, só funciona quando os Estados decidem usá-la como
espaço para resolução de problemas
- Propostas:
- Jurisdição da CIJ para indivíduos (Estados não)=> julgar e condenar
indivíduos - indivíduos que levam as questões
- Decisões de caráter obrigatório
- Em 2002 com Tratado de Roma é criado o Tribunal Penal Internacional (TPI):
jurisdição sobre indivíduos, mas suas recomendações não são obrigatórias
- Por que criar uma organização nova? EUA participa da CIJ (é obrigatório para
participar da ONU), não iam aceitar e correr o risco de serem julgados lá,
EUA não participa da TPI
- Julga crimes de guerra, genocídio => tem procuradoria
- Putin é condenado porque Ucrânia leva o caso para o TPI, mesmo que a
Rússia não seja signatária
- Sociedade civil que leva caso contra o Estado

+ Perspectiva brasileira => BR periférico, sensível e vulnerável a mudanças


internacionais
- Respeito à soberania (necessidade de que outros países não intervenham nos
assuntos internos brasileiros)
- Internacionalização das estruturas de poder e autoridade (Brasil participa do
regime internacional e acata suas medidas para ter mais legitimidade para
influenciar a política internacional)
- Desenvolvimento da comunidade internacional (sentido econômico e
desenvolvimento do senso de comunidade internacional - Brasil opta pelo
multilateralismo)
- Preocupação com a exclusão do Brasil (pedido por assento permanente que
nunca é dado)
- Política externa de Estado - mas há governos que fazem política de governo
(Bolsonaro)
- Busca por instituições de caráter universal

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