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Teoria das Relações

Internacionais II – 2021
Aula 05: Neoinstitucionalismo liberal
(Neoliberalismo/Neoliberalismo
institucional)
Contexto de surgimento do NIL
• Neoinstitucionalismo liberal (NIL): anos de 1980 e 1990

- Impacto do neorrealismo de Waltz (1979)


(aproximação e aceitação dos pressupostos)
- 2ª. Guerra Fria: pauta militar (conflitos)

- Teoria da interdependência complexa em crise

- NIL: visão liberal reformulada  continua discussão


dos regimes (ampliando depois para conceito de
instituições internacionais)
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições

• Estudo dos regimes internacionais (a partir da


década de 1970): resposta a fenômenos que
nem as explicações realistas nem as liberais da
época eram capazes de explicar

• Anomalias: a realidade ia na contramão do que


as teorias esperavam
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Teoria dos regimes internacionais:
- debate com teoria realista da estabilidade
hegemônica (decadência dos EUA)

- e com proposições liberais focadas em


organizações internacionais (OIs pareciam
irrelevantes e integração na Europa com
problemas)
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Estabilidade hegemônica:

poderio militar, econômico e tecnológico


concentrado de uma grande potência (Estados
Unidos)

difusão de regimes/instituições em diversas áreas


temáticas das relações internacionais: manutenção
e funcionamento de ordem econômica liberal e da
cooperação
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Teoria da Estabilidade Hegemônica (TEH,
realista): concentração de poder em 1 Estado
dominante facilita o desenvolvimento de
regimes fortes, e a fragmentação de poder está
associada com o colapso dos regimes

• TEH: foca-se apenas na oferta dos regimes


(quanto mais concentrado o poder no SI, maior
a oferta)
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• TEH: normas e arranjos cooperativos
internacionais só podem ser construídos e operar
com sucesso na presença de uma potência
hegemônica forte

• Essa potência cobre os custos dos regimes e


garante a oferta de bens públicos internacionais.

• Regimes e instituições internacionais são só


reflexos dos interesses das grandes potências.
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Fim da paridade ouro-dólar, guerra do Vietnã, escândalo
de Watergate e renúncia de Nixon

declínio dos EUA: crise de hegemonia

 o que a teoria esperava que fosse acontecer? Crise dos


arranjos normativos internacionais e da cooperação

Realidade desmentiu: níveis de cooperação estavam


crescendo apesar da redistribuição e desconcentração
de poder no SI
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• E os liberais?

• Níveis de cooperação ligados ao papel das


organizações internacionais (e a como elas se
coordenavam eventualmente atores não-
estatais, públicos e privados)

• Cooperação não dependia de potência


hegemônica forte
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Na prática: mau desempenho das organizações
internacionais

• O que a teoria esperaria? Crise e diminuição da


cooperação

• Mas cooperação estava em alta ou pelo menos


se mantinha no mesmo patamar, ainda que com
tropeços, entre países industrializados avançados
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Os principais confilitos e questões internacionais ocorriam à sombra das
Ois

• Guerra do Vietnã transcorria sem sofrer impacto das declarações formais


da ONU

• Duas décadas de relações monetárias previsíveis sob o sistema de Bretton


Woods foram destruídas por decisão unilateral dos EUA em 1971 de pôr
fim ao padrão-ouro e deixar o dólar flutuar

• OPEP não foi constrangida pelo multilateralismo quando quadruplicou


preços do petróleo

• Comunidade Econômica Europeia estagnada: contra expectativa do


funcionalismo (spillover)

• Ficou claro que a atenção para as estruturas formais e acordos


multilaterais das Ois era exagerada
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• O problema com as OIs era cada vez mais claro

• OIs eram inoperantes/ausentes, mas ainda assim


havia ordem

• Não eram elas que estavam por trás da


cooperação e da governança internacionais

• De onde estavam vindo, afinal, a cooperação e


governança?
Um passo atrás: a discussão sobre
regimes e instituições
• Se a ordem não vinha de uma potência
hegemônica

• E nem das OIs

• Vinha então dos regimes: eles eram os


responsáveis!
Discussão do NIL
• Início da Segunda Guerra Fria nos anos de
1980  novo risco de guerra nuclear

• + Waltz, 1979 (renovação do neorrealismo)

• não havia sinais de um sistema mais


interligado e interdependente, governado por
organizações e regimes de cooperação (visão
da teoria da interdependência complexa)
Discussão do NIL
• Neoinstitucionalismo liberal (NIL): decadência
da interdependência complexa

• Keohane e outros autores fazem concessões


ao neorrealismo

• Daí nasce o NIL


Discussão do NIL
• Depois da obra de Waltz, Keohane e outros deixam de lado perspectiva
transnacionalista da interdependência complexa

• Aceitam centralidade e caráter unitário-racional do Estado + anarquia

• Passam a ver os interesses estatais como fixos e exógenos

• O que isso significa? Que aquilo que os Estados querem (interesses)


envolve sempre um mesmo conjunto limitado de objetivos

• Atributos imutáveis dados de antemão e que todos os Estados buscam


(todos os Estados têm o mesmo interesse)  maximização de bem-estar
individual

• Interesses deixam de ser definidos caso a caso, a depender do resultado


das disputas entre atores diferentes que jogam nos níveis doméstico e
transnacional
Discussão do NIL
• Anos 80 e 90: Expansão dos estudos sobre
regimes internacionais pelos
neoinstitucionalistas liberais

• Discussão depois se ampliaria com foco mais


amplo no papel das instituições
internacionais: debate neo-neo (NIL versus
neorrealismo)
Regimes e instituições
• O termo regime foi substituído pelo de instituição

• Por quê? A economia, ciência política e sociologia


usavam o termo instituição para se referir a
conjuntos de regras

• O NIL passa a adotar o mesmo termo para se


conectar a esses debates (mas até hoje muita
gente usa o conceito de regimes  sinônimos)
Regimes e instituições
• Nas RI  regimes e instituições são conjuntos
de regras que procuram governar o
comportamento internacional

• Elas proíbem, exigem ou permitem tipos


particulares de ações e comportamentos
Regimes e instituições
• São as regras do jogo

• conjuntos de regras que estipulam as


maneiras e formas pelas quais os Estados
devem cooperar e competir uns com os outros
(regulam e balizam os comportamentos)
Discussão do NIL

NIL aceitam premissas/pressupostos do


neorrealismo: só Estado importa, políticas
doméstica e transnacional – e também OIs –
são irrelevantes

nova abordagem: explicar possibilidade da


cooperação no ambiente anárquico via
regimes/instituições
Discussão do NIL
• Grande preocupação: papel dos regimes e
instituições na política internacional,
promovendo a cooperação entre Estados

• Regimes e instituições importam sim:


neorrealismo dizia que não (única divergência
importante do NIL com neorrealismo)
Discussão do NIL
• Regimes e instituições tornam possível a
cooperação entre Estados egoístas

• Ajudam os Estados a superar as armadilhas


conflituosas da política internacional

• Mitigam e diminuem os efeitos perniciosos e


negativos da anarquia
O conceito de regimes
• Os regimes internacionais são definidos como:

- conjuntos explícitos ou implícitos


- de princípios
- normas
- regras
- e procedimentos de tomada de decisões

- ao redor dos quais as expectativas dos atores convergem em


uma dada área temática (previsibilidade e padronização de
comportamento: desconfiança afastada  Estados sabem o
que esperar dos outros)

• São uma das engrenagens da governança global


Quatro componentes dos regimes
• 1) Princípios: ideias gerais sobre como o mundo
funciona (relações de causas e efeitos) e sobre
como ele deveria funcionar (questões morais)
- CO2 gera aquecimento global e temos obrigação
de combater

• 2) Normas: padrões de comportamento que


estabelecem as obrigações e os direitos dos atores
(o que se deve ou não fazer, o que é proibido e
permitido)
- Estados devem reduzir 50% das emissões
Quatro componentes dos regimes
• 3) Regras: prescrições ou proscrições especificas
para a ação (faça deste ou daquele jeito no
momento de agir – estabelece a rota)
- Para reduzir, precisa agir nos próximos 30 anos e
limpar a matriz energética

• 4) Procedimentos para tomada de decisões:


práticas predominantes para fazer e executar a
decisão coletiva
- Governos devem ouvir e envolver suas sociedades
ao implementar os planos
Regimes
• Princípios e normas têm mais importância,
pois eles proveem as características
definidoras de um regime

• Estados se unirão àqueles regimes em que


esperam que os benefícios da filiação
superem os custos da participação.
Regimes
• Regimes não são a mesma coisa que acordos

• Os regimes facilitam a celebração de acordos

• Já de antemão, oferecem um enquadramento de


regras, normas, princípios e procedimentos para
uma negociação que vá ser iniciada

• Regimes: caixas de ferramentas usadas pelos


Estados para chegar a acordos
OIs regimes e instituições
• Ois são atores burocráticos, entidades
formais, organismos intergovernamentais
que possuem orçamentos, estão alojadas em
edifícios, empregam servidores/funcionários

• Regimes e instituições: entendidos mais


como conjunto de regras
Conceito de cooperação
• A cooperação ocorre quando ações de indivíduos ou
organizações que não se encontravam em harmonia
pré-existente se adequam mutuamente

• Como isso ocorre?

• Por meio de um processo de negociação que envolve a


coordenação de políticas, cujo objetivo é a consecução
de objetivos comuns (Keohane, 1988, p. 74)

• Atores adaptam suas condutas às preferências de


outros: não é um processo simples e requer esforços
de todos os envolvidos para que as suas ações passam
a ser compatíveis entre si
Neoinstitucionalismo liberal
• NIL: as situações relativas à segurança e poder são menos
relevantes no mundo atual (pelo menos entre países
industrializados avançados)

• Mantém esse ponto da interdependência complexa

• Foco nas questões de cooperação: é possibilidade real em


mundo anárquico povoado por Estados racionais auto-
interessados e egoístas

• Anarquia não necessariamente como estado de natureza


hobbesiano

• Chave para cooperação está nos regimes/instituições


internacionais  otimismo e crença no progresso
Neoinstitucionalismo liberal
• Aceitação de pressupostos neorrealistas

- Estados como atores mais importantes e devem ser


considerados como unitários

- SI é anárquico e Estados são atores racionais movidos pelo


auto-interesse egoísta individual, buscando maximizar seu
bem-estar

- Abandono do transnacionalismo

- Fronteira rígida entre interno e externo, irrelevância da


política doméstica: visão sistêmica (3ª. Imagem)
Neoinstitucionalismo liberal
• Relevância do nível sistêmico: partem do conceito de
estrutura neorrealista, mas com algumas mudanças

1) Não há uma estrutura de poder única no SI: há várias


estruturas, diferentes áreas temáticas com tipos de
recursos específicos que podem ser mobilizados em
cada uma delas (recursos de poder não são
homogêneos e facilmente intercambiáveis)

- Outro ponto mantido da interdependência complexa (e


seus muitos tabuleiros)
Neoinstitucionalismo liberal
2) SI não está composto apenas por elementos
estruturais (anarquia, semelhança entre unidades e
distribuição relativa de poder)

• mas também pelo contexto institucional de


interação, isto é, grau de presença de
regimes/instituições internacionais (Iis)

 Relevância de IIs e regimes criados por seres


humanos: a depender do grau de
institucionalização do SI, Estados se comportarão
diferentemente
Neoinstitucionalismo liberal
• Concordam com diagnóstico de que anarquia
gera incertezas e insegurança, mas a cooperação
é possível sim

• Estados podem ter interesses em comum e,


dependendo do contexto da interação, ou seja, se
houver regimes/IIs, resultado pode ser a
cooperação e não conflito

• Desafiam neorrealismo no seu próprio terreno


Neoinstitucionalismo liberal
• Objetivo dos neoinstitucionalistas: construir uma
teoria sobre as funções desempenhadas pelos
regimes/Iis

• Funções que promovem para facilitar a cooperação


entre os Estados

• Dificuldade para cooperação está na falta de regras


no SI

• Estados precisam criar regimes e instituições para


corrigir essa deficiência
Neoinstitucionalismo liberal
• Importação de teorias da economia: analogias
com o comportamento dos Estados

- Teoria dos jogos e dilema do prisioneiro


(problema da falta de transparência, de
informações e de comunicação  desconfianças)

- Teoria da ação coletiva e falhas de mercado


(necessidade de monitoramento frente aos
caronas e deficiências institucionais causadas por
falta de regras  medo de sofrer trapaças)
Teoria dos jogos
• Dilema do Prisioneiro (Herz; Hoffmann, 2004, p. 48):

“O diretor de uma prisão precisa de uma confissão voluntária


de um dentre dois prisioneiros que cometeram um crime
juntos. Ele oferece ao prisioneiro 1 sua liberdade se ele
confessar o crime antes do prisioneiro 2. Assim, ele poderia
condenar o prisioneiro 2. Mas o diretor também estabeleceu
que se o prisioneiro 2 confessasse antes, o mesmo seria
libertado e o prisioneiro 1 seria condenado. Caso os dois
confessassem no mesmo dia, os dois seriam condenados a
uma pena menor. Caso nenhum dos dois confessasse ambos
seriam libertados. As mesmas condições foram apresentadas
ao prisioneiro 2. Se os prisioneiros colaborarem, eles podem
obter uma solução mais favorável”.
Teoria dos jogos
• Seria o caso de os dois optarem por não confessar (silêncio
total): precisam confiar muito um no outro

• Quais os problemas?
- ambiente competitivo
- sem informações sobre a estratégia escolhida pelo outro
prisioneiro
- mesmo temor: “e se eu ficar calado e ele confessar
primeiro para sair livre?”

• Prisioneiros tendem a fazer a opção que os afasta da


melhor solução para os dois em conjunto. Os dois
“colegas” confessam e continuarão presos.
Problemas de ação coletiva
• Bem público: aquele que qualquer pessoa pode
consumir. Não é possível impedir o uso, mesmo
daqueles que não adquiriram ou pagaram pelo bem

• A demanda por bens públicos não é adequadamente


atendida pelo mercado

• Não há vantagem econômica em investir nesses bens


se, depois, não serei capaz de impedir o acesso àqueles
que não pagaram por ele

• Esse é o problema do carona (free rider)  isso é


chamado de falha de (livre) mercado
Problemas de ação coletiva
• Comportamento racional é esperar
passivamente que os outros se esforcem: não
querer pagar a conta (pegar carona no esforço
dos outros)

• Por causa disso existem governos

• Pela força nos obrigam a contribuir para a


concretização do interesse coletivo e de bens
públicos
Caronas e teoria dos jogos
• Dilema do prisioneiro + caronas frente aos bens
públicos

• Essas teorias mostram que, sob certas


condições, atores racionais não conseguem
cooperar entre si

• Deixam de obter resultados ótimos apesar de


compartilharem interesses em comum
Caronas e teoria dos jogos
• A razão disso é que:

- Barreiras de informação e comunicação geram


desconfianças

- Faltam meios institucionais para monitorar e fazer


valer os acordos contra trapaceiros e caronas

- Faltam regras sobre como distribuir os ganhos


(horizonte de cálculo imediatista: X ganhou mais do
que Y)
Demanda por regimes internacionais
• Papel dos regimes e IIs: 3 grandes funções

reduzir custos de transação (negociação)

oferecer informação de qualidade (para


combater incertezas)

e lidar com problema da distribuição dos


ganhos relativos
Funções dos regimes/instituições
permitem assim que Estados superem os
dilemas do SI anárquico
(medo, desconfiança, insegurança, temor de
trapaça e de caronas)

tornam possível alcançar ganhos mútuos


através da cooperação
(seja para resolver um problema comum ou
evitar que ele surja)
Redução dos custos de negociação
• Com criação de princípios, normas e regras, os custos
de negociar acordos caem

• Custos de negociar e de organizar coalizões para cada


problema específico e circunstância são altos demais

• Regimes/Iis: de antemão oferecem arenas e regras


estáveis e compartilhadas para negociar

• Não é necessário negociar tudo do zero a cada novo


problema
Redução dos custos de negociação
• Problemas complexos: muitas questões diferentes
interligadas

• Dificuldade de realizar acordos sobre esses diferentes


pontos

• O que se negocia em uma área afeta outras

• Regimes/IIs ajudam a lidar com essa situação

• Procedimentos de negociação entre áreas substantivas


Redução dos custos de negociação
• Por exemplo, reduzir tarifas industriais em um
país pode depender de reduções tarifárias
agrícolas de outros países.

• Regimes/IIs: facilitam trocas de favores dentro


das áreas temáticas, necessárias para criar as
compensações exigidas
Redução dos custos de negociação
• Para alcançar ganhos mútuos é preciso
costurar acordos que vão envolver diferentes
temas.

• IIS podem facilitar esses acordos de trocas


entre temas mutuamente benéficos para os
países.
Oferta de informações
• Regimes/IIs podem ser úteis ao oferecer
informações aos atores
• Para os Estados, as dúvidas sobre se podem
ou não confiar em seus parceiros geram
incertezas e riscos.
• Informações de alta qualidade reduzem essas
incertezas
• Demanda por regimes e instituições
internacionais que ofereçam tais informações
Oferta de informações
• Informação assimétrica: alguns atores podem ter
mais informações sobre uma situação do que
outros

• Ao acreditar que as barganhas e negociações


sejam injustas, Estados podem relutar a fazer
acordos

• Regimes/IIs entram para oferecer informações e


tornar o jogo mais equilibrado
Oferta de informações
• Falta de informações gera altos níveis de
incerteza quanto ao comportamento futuro de
sócios potenciais

• Risco: participantes em desvantagem


informativa podem sofrer trapaça e conduta
irresponsável/deserção
Oferta de informações
• Regimes oferecem informações sobre os
recursos e posições negociadoras de outros
Estados

• E sobre suas intenções e disposição de


cumprir os acordos

• Isso permite estimar se podem ser levados a


sério ou não (confiabilidade)
Oferta de informações
• Oferecem informações e meios para
supervisionar e detectar infratores

• Sanções ou repreensões devem ser aplicadas


pelos próprios participantes (de maneira
conjunta)

• Ainda que não haja represália, que pode ser


custosa, reputação sairá manchada e será
mais difícil cooperar com outros no futuro
Preocupações com distribuição dos
ganhos
• Preocupação com distribuição dos ganhos

• Todo mundo sai ganhando, mas há mais de uma


possibilidade/arranjo possível

• E precisamos escolher qual será escolhido

• Problema não é mais evitar defecções (abandonos)

• Ou risco de comportamento imediatista e egoísta de


trapaça (que pode comprometer a cooperação)
Preocupações com distribuição dos
ganhos
• Regimes/IIs podem construir pontos focais

• O que é isso?

• Tornar alguns arranjos cooperativos mais atrativos que


outros: caminhos pré-estabelecidos

• E registrar o padrão de benefícios ao longo do tempo

• Isso mostrará que preocupação de hoje com ganhos


menores do que os dos meus parceiros se dissipará no
futuro
Três funções
• Regimes/IIs desempenhando as 3 funções

• Ajudarão Estados a regular problemas comuns surgidos


da interdependência

• São o caminho para a tão necessária cooperação


exigida para a solução de problemas comuns

• Aplicáveis a qualquer contexto? Não, só nas situações


em que houver interesses coletivos genuínos em
comum entre os Estados
Três funções
Por conta desses 3 efeitos principais:

• Alteram cálculos imediatistas de curto prazo dos


Estados

• Criam incentivos para condutas cooperativas de longo


prazo entre eles

• Ampliam o horizonte de expectativas dos Estados

• Estados aprendem a valorizar mais os ganhos de longo


prazo em relação às vantagens de curto prazo de
trapacear ou abandonar acordos (defecção)
Três funções
• Funções de regimes e IIs:

- Criam expectativas mútuas estáveis sobre


como os Estados vão se comportam

- Isso afasta temores e desconfianças

- Possibilidade de relações de trabalho


Três funções
• Ação individualmente racional pelos Estados
pode impedir cooperação mutuamente
benéfica (dilema do prisioneiro comprova)

• IIS e regimes são eficientes justamente aí

• Permitem aos Estados evitar tentações


imediatistas, de trapacear, realizando assim
benefícios mútuos para todos
Caminhos para jogos de soma positiva
• Jogo de soma zero: ganhos de uma parte
implicam automaticamente perdas para a outra

• Jogo de soma positiva: ganhos não excludentes


(os 2 lados se beneficiam)  papel dos
regimes/IIs aqui (tornam possíveis esses jogos de
soma positiva)

• permitem aos Estados realizar jogos de soma


positiva, alcançando assim ganhos mútuos
derivados de processos de cooperação
Três funções
• Os regimes e IIs não surgem por sua própria
iniciativa. Não são fins em si mesmos.

• Servem aos interesses dos Estados e são


criados por eles para cumprir funções
Três funções
• Ferramentas úteis que permitem a satisfação do
auto-interesse dos Estados: permitem a
consecução de ganhos

• permitem alcançar ganhos que seriam


impossíveis se Estados continuassem a agir
individualmente

• geram superação do dilema do prisioneiro em


favor de todos
Três funções
• Estados têm interesse em criar e manter regimes e IIs por
conta dos benefícios que eles oferecem

• Não é crença no direito e na moralidade que leva à


cooperação

• Mas sim busca de maximização do seu próprio interesse

• Instituições existem não porque Estados são altruístas

• Mas sim porque as IIs são úteis, ajudam os Estados a alcançar


seus interesses e ganhos de cooperação (impossíveis se
Estados continuarem a agir individualmente)
Possibilidade real de cooperação
• Capacidade de ação autônoma dos Estados
(agência): são atores racionais e egoístas, mas
conseguem criar regimes e IIs para viabilizar a
cooperação

• Diferentemente do neorrealismo, há espaço para


escolhas dos Estados na determinação dos
resultados políticos

• Não estão aprisionados nas dinâmicas de


competição e conflito da estrutura anárquica
Críticas do neorrealismo
• Para os realistas, as instituições refletem a
distribuição de poder.

• São apenas reflexos dos cálculos auto-


interessados das grandes potências

• Não produzem efeitos próprios


Críticas do neorrealismo
• cooperação via instituições: limitada sempre
pela lógica dominante da competição de
segurança

• Considerações com ganhos relativos e a


preocupação com a trapaça impossibilitam a
cooperação.
Críticas do neorrealismo
• Instituições internacionais como um
componente menor e irrelevante

• existem apenas em domínios de baixa política


de menor importância (transportes,
comunicações, saúde etc.)

• e não em domínios de alta política como


segurança e defesa
Críticas do neorrealismo
• Instituições só refletem poder e interesses
dos mais poderosos, e são dissolvidas quando
poder e interesses se alteram

• Podem existir, mas não mitigam de forma


alguma a anarquia do sistema internacional
Ganhos absolutos e relativos
• Ganhos absolutos e relativos: centro do
debate entre as duas abordagens

• Debate expressa novamente divergência sobre


possibilidade de cooperação em sistema
anárquico
Ganhos absolutos e relativos
• Ambas vertentes concordam que Estados
habitam ambiente anárquico sem presença de
autoridade central

• Neorrealistas: sistema de auto-ajuda em que


recurso à violência é uma constante 
preocupação com segurança realça os ganhos
relativos
Ganhos absolutos e relativos
• Neoinstitucionalistas, outro foco

• ausência de autoridade  inexistência de


mecanismos que garantam a adesão dos
Estados a acordos internacionais

• instituições corrigem essa falha: interpretação


menos sombria
Ganhos absolutos e relativos
• Preocupação com sobrevivência em segundo
plano

• Interesse dos Estados está na maximização do


seu próprio bem-estar individual

• Isso os leva a priorizar ganhos absolutos


(querem maximizar seus benefícios)
Ganhos absolutos e relativos
• Modelo individualista

• Contra modelo competitivo neorrealista de


Mearsheimer

• Mearsheimer: Estados querem maximizar as diferenças


entre seus benefícios e os dos demais (ganhos de um
só são conseguidos às custas dos outros)

• Waltz seria partidário do status quo – preservar e não


maximizar diferenças (ganhos relativos podem
desequilibrar a balança de poder)
Ganhos absolutos e relativos
• Neorrealistas: grande questão é a distribuição
dos ganhos – quem ganhará mais?

• Estados podem renunciar a ganhos se, ao fazê-lo,


conseguirem evitar que outros consigam ganhos
maiores (Grieco)

• Resultado: cooperação será sempre difícil de


acontecer e de se manter, e também limitada nos
temas e na sua duração no tempo
Ganhos absolutos e relativos
• Neoliberais: preocupação com ganhos relativos ocorre
apenas frente a determinados Estados vistos como
mais ameaçadores

• Estados não levam em conta só os recursos de poder,


mas também as intenções dos demais Estados

• Há probabilidade de que o desequilíbrio de ganhos seja


usado contra mim?

• Em casos de relações de amizade e alianças


institucionalizadas, ganhos relativos não serão
relevantes
Ganhos absolutos e relativos
• Resultado final do debate: flexibilização das
posturas

• A depender do contexto histórico concreto,


Estados podem dar mais atenção para ganhos
absolutos ou relativos

• Estudar quais condições geram essas


tendências diferentes
Resumo
• O coração do NIL é a visão de que as instituições
internacionais são criações auto-interessadas dos
Estados

• são adotados por razões de eficiência – ajudam


os Estados a resolver problemas ou contorná-los

• tornando possível a obtenção de ganhos que,


individualmente, Estados seriam incapazes de
alcançar
Resumo
• Estados percebem que comportamento egoísta e auto-
interessado pode ser problemático

• Essa postura impede obtenção de ganhos derivados da


cooperação (dilema do prisioneiro: seria melhor não
trapacear, mas sucumbem ao interesse imediatista de curto
prazo, trapaceiam e ficam na pior)

• Decidem então construir instituições internacionais que os


ajudem a lidar com esses problemas

• Instituições internacionais = soluções para dilemas do auto-


interesse, soluções para problemas de ação coletiva
(tornam possível colaborar e coordenar)
Resumo

• Regimes/IIs como facilitadores da cooperação

• Ajudam os Estados a superar as tensões e


conflitos do ambiente anárquico
Conclusões
• 1) regras institucionalizam interações e facilitam processos de
cooperação de longo prazo

• Isso desencoraja trapaça: Estado pego na trapaça hoje se arrisca


a ser excluído das negociações de amanhã

• Perdendo assim ganhos futuros da cooperação

• Além disso, mesmo que o trapaceiro não seja excluído, a vítima


terá chances de retaliar: outro desincentivo para trapaça

• E aqueles que tiverem boa reputação de confiáveis terão mais


parceiros e recompensas: outra razão para não trapacear
Conclusões
• 2) IIs e regimes criam laços entre diferentes
áreas temáticas

• Medo de que trapaça numa área seja retaliada


em outra

• Isso também desencoraja trapaça


Conclusões
• 3) Iis e regimes aumentam volume de
informações circuladas entre os Estados sobre
o que cada um tem (ou não tem) feito a
respeito dos seus deveres dentro dos acordos

• E permitem monitoramento mútuo

• Isso aumenta chances de prevenir e descobrir


a trapaça, desencorajando-a
Conclusões
• 4) IIs e regimes reduzem custos de negociação

• menos esforços necessários para negociar e


monitorar acordos

• cooperação fica mais atrativa


Conclusões
• 5) IIS garantem distribuição equânime dos ganhos
da cooperação entre os Estados

• Oferecem, entre muitas possibilidades de


caminhos para a cooperação, arranjos e jeitos
mais atrativos que ajudam os Estados na hora de
decidir sobre como cooperar

• Asseguram que diferenças “injustas” serão


diluídas ao longo do tempo
Conclusões
• Contra a visão realista (e fatalista) da política
internacional

• Se fosse daquele jeito, unilateralismo seria


então a regra

• E as IIs não seriam tão presentes e nem teriam


a importância que possuem
O QUE OS REGIMES POSSIBILITAM

• 1. Tornam possível a cooperação entre os Estados


• 2. Aumentam probabilidade de obter o comportamento esperado do
outro:
• aumentam custos da traição e de ser carona (monitoramento),
• aumentam benefícios do cumprimento das regras,
• tornam as expectativas mais claras e estáveis
• 3. Facilitam a reciprocidade
• pela repetição
• pela formalização das relações
• 4. Reduzem a complexidade das relações
• reduzem o leque de alternativas de decisão possíveis
• 5. Reduzem custos de negociação e oferecem informações de qualidade
PARA QUE SERVEM

• SUPERAR PROBLEMAS DE AÇÃO COLETIVA e permitir


processos de decisão que favorecem resultados melhores.
• AMPLIAR O HORIZONTE DE CÁLCULO DOS ATORES
• PERMITIR A COORDENAÇÃO DAS AÇÕES DOS ESTADOS
VISANDO UM RESULTADO
• REDUZIR CUSTOS DE NEGOCIAÇÃO, PROVER INFORMAÇÕES
DE QUALIDADE E GARANTIR DISTRIBUIÇÃO EQUÂNIME DOS
GANHOS RESULTANTES DA COOPERAÇÃO ENTRE OS ESTADOS

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