Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2º debate – metodológico debate deixa de ser sobre o que estudar e passa a ser sobre
‘como estudar’
o Realistas científicos defendiam maior rigor científico e maior influência dos
métodos das ciências exatas. Criticavam a falta de diálogo com outras áreas de
conhecimento científico, que tinham tido avanços na formulação de métodos
empíricos de observação e análise da realidade objetiva.
o Defendiam a importação de métodos e conceitos de outras áreas, das ciências
exatas em particular, e um uso mais intensivo de métodos quantitativos para o
estudo das RI.
o A disciplina de RI passou a aceitar um maior rigor científico e a adotar metodologias
transparentes.
o Final da década de 1960 e década 1970 vários desafios se impuseram ao realismo
como teoria dominante das RI: evolução da política internacional; evolução da
própria disciplina de RI.
Joseh Nye e Robert Keohane (1977) – ‘Power and Interdependence: world politics
in transition’: crítica ao excesso de ênfase no conflito em detrimento da
cooperação e da interdependência.
Michael Banks – publica um capítulo numa obra coletiva na qual aponta para o
aparecimento de um novo debate nas RI – debate entre 3 paradigmas:
neorrealismo, neoliberalismo e neomarxismo. Debate interparadigmático, de
natureza epistemológica: várias perspetivas a competir entre si, sem possibilidade
de consenso ou de síntese entre as 3.
o O estudo das RI adquiriu identidade própria com o des. da TRI no Século XXI.
o A TRI é o conjunto de proposições sobre como os Estados regulam as suas práticas e
procura descrever os fundamentos políticos relativos à estruturação da ordem
internacional. O objeto da TRI é a “política internacional”.
o Política internacional: expressão que se refere a uma forma específica de
institucionalização da política, que se tornou preponderante a partir do século XVII na
Europa, propagando-se para praticamente todo o mundo, e que hoje passa por
transformações importantes. Conjunto de práticas, envolvendo frequentemente o uso
da força efetiva ou ameaçada, através das quais os Estados se relacionam.
o Foi com a Paz de Westphalia que se fixou o sistema de Estados territoriais, ou “ordem
westphaliana”, constituída pelas relações estabelecidas entre Estados territoriais
soberanos, isto é, entre organizações políticas, cada qual com autoridade suprema
sobre um território.
o A Paz de Westphalia consagrou o princípio, adotado desde a Paz de Augsburgo (1555),
conhecido sob a fórmula cujus regio eius religio (quem tem a região tem a religião),
pelo qual os príncipes adquiriram autonomia política para adotar um credo religioso da
sua preferência no seu território.
o A política que até então se estruturava por outros meios, essencialmente
independentes do território, tais como laços de sangue e comunhão de valores
religiosos passa a estar determinada pelo território, e portanto institucionalizada de
forma a ser possível distinguir entre a política “interna” (ao território), regida pelas leis
e pelos princípios religiosos autonomamente adotados pelo príncipe local, e a anarquia
“externa”, vigente nas relações entre os Estados.
o O resultado: a soberania é territorial. Não há autoridade suprema fora dos territórios,
e, portanto, tampouco existe qualquer autoridade superior para regulamentar as
relações entre os Estados territoriais.
o Esta era uma situação nova. Na Idade Média, não existia soberania territorial e,
portanto, não havia política internacional.
O concerto europeu
o Foi um conjunto de práticas diplomáticas, instrumentalizadas pelo direito internacional
de orientação positivista, que pela 1ª vez expressava exemplarmente o modelo
westphaliano.
o Esse conjunto de práticas era governado por um consenso das elites aristocráticas
europeias, em cujas mãos haviam permanecido os assuntos de política internacional,
e, portanto, as decisões sobre os objetivos e oportunidades do uso da capacidade
militar e diplomática das grandes potências.
o O que se passou, portanto, foi a formação de um sistema de Estados territoriais
soberanos, que deu origem à “política internacional” como conjunto de fenómenos a
partir do declínio político do Sacro Império, documentado na celebração da Paz de
Westphalia.
o Contudo, a política internacional e sua dinâmica passaram a apoiar-se inicialmente
sobre o direito “internacional”, e não ainda sobre o estudo das Relações Internacionais
baseado numa Teoria das Relações Internacionais.
o Do ponto de vista político, o “concerto europeu” foi uma expressão do fenómeno
“equilíbrio de poder” (ou “balança de poder”), que pressupunha a “igualdade” entre
Estados cooperando sob o direito internacional.
o Contudo, na realidade, o “equilíbrio de poder” do concerto europeu sustentava um
programa de exploração colonial e formação de alianças secretas e rivalidades, num
complexo jogo de interesses políticos e económicos, frequentemente destrutivo das
sociedades colonizadas e instigador de tensões políticas entre os países europeus.
14 Pontos de Wilson
1º Tratados de paz após negociações à luz do dia, a fim de acabar com a diplomacia
secreta;
2º Livre navegação em todos os oceanos, em tempo de paz e de guerra;
3ºTanto quanto possível, supressão de todas as barreiras alfandegárias (isto é, o livre
acesso das mercadorias americanas aos mercados até então protegidos);
4ºDesarmamento, sempre que possível, sem ameaçar a ordem interna;
5ºResolução dos problemas coloniais, respeitando o bem-estar dos colonizados tanto
como as exigências dos colonizadores;
6ºEvacuação dos territórios russos ocupados, direito das populações a disporem de si
próprias, com a assistência de outras nações;
7ºEvacuação e restabelecimento da Bélgica;
8ºEvacuação e restabelecimento dos territórios da Alsácia-Lorena à França;
9ºRectificação das fronteiras italianas numa base nacionalista;
10ºAutonomia dos povos que compõem o Império Austro-Húngaro;
11ºEvacuação e restabelecimento da Roménia, da Sérvia e do Montenegro; livre acesso
ao mar pela Sérvia; revisão das fronteiras nos Balcãs para satisfazer as aspirações nacionais
históricas;
12ºAutonomia para os povos não turcos do Império Otomano; independência da
Turquia; garantias para a livre passagem do Bósforo e pelos Dardanelos;
13ºFundação de um Estado polaco independente, com livre acesso ao mar;
14ºCriação de uma Sociedade das Nações que assegure a independência política e a
integridade dos Estados grandes e pequenos
o A criação da Liga das Nações dava realidade a algumas das ideias veiculadas nos
“projetos de paz perpétua” do século XVIII e representou uma primeira tentativa
concreta de mudança das práticas políticas típicas do modelo westphaliano.
o A esperança de Wilson era que a cooperação internacional através do direito
internacional repassado de um moralismo idealista pudesse oferecer os meios para a
manutenção da paz duradoura.
o Do ponto de vista ideológico, o liberalismo democrático e idealista wilsoniano
contrastava com a visão leninista da política internacional, marcada pela sua denúncia
do imperialismo capitalista, sua ênfase no internacionalismo proletário e seu desejo de
uma revolução socialista internacional.
o O cenário foi assim descrito por Hoffmann: “Velhos sonhos normativos liberais estavam
a ser oferecidos pelo tratado da Liga das Nações, enquanto ao mesmo tempo a jovem
União Soviética estava a pregar o fim da própria diplomacia”.
o Entre esses dois polos posicionavam-se diversos autores como Woolf, Zimmern, Angell
e Mitrany –que acabaram rotulados de “idealistas” –impressionados com as
transformações sociais oriundas do rápido progresso industrial e convictos da
necessidade da cooperação internacional mediante instituições supranacionais.
II Guerra Mundial
o Precipitou reações por parte de intelectuais, condenando o “utopismo” da postura e
dos meios de ação típicos do wilsonianismo.
o Surgiu, então, o livro The Twenty Years’ Crisis, 1919-1939, de Edwad Carr, que se tornou
a referência que emblematiza o começo do estudo “científico” das RI, marcando assim
o início da tradição da TRI.
o Um dos pontos centrais da argumentação de Carr era que, embora o conhecimento
científico fosse um resultado tanto de “finalidades” práticas quanto de “análise”
abstrata, era possível adotar-se uma postura “realista” capaz de tirar do trabalho
intelectual as ideias visionárias de mudança da realidade.
o Portanto, a TRI surge como uma tomada de posição “realista” diante dos factos da
política internacional e da avaliação que diversos políticos e autores à época faziam
desses factos.
o Isto significa que o primeiro “debate” do estudo das RI como disciplina que se professava
“científica” foi o debate do “realismo” contra o “idealismo” do período entre guerras.
o Com o livro de Carr, começa a ganhar preponderância a visão teórica “realista” da
política internacional.
o O realismo caracteriza-se pela justificação do uso da força, seja como condição
inevitável da vida em sociedade, seja como meio de se atingir a paz no mundo.
o Com o advento da II Guerra Mundial, este argumento típico do realismo dirige-se contra
as esperanças liberais idealistas, de que a observância de princípios morais, em nome
da liberdade e da democracia, poderia oferecer a base do convívio internacional
pacífico.
o Para o realismo, as guerras não tinham sido o resultado casual de algumas circunstâncias
acidentais, ou do comportamento de alguns homens maus, e sim uma consequência das
condições inerentes à política e ao sistema internacional.
o O grande impulso da disciplina de política internacional ocorre nos EUA. Razões:
o Os EUA tornaram-se potência hegemónica: à pax Britannica do século XIX sucedia a
pax Americana do século XX.
Conclusão do 1º Debate
o A corrente idealista acredita na perfeição humana, no Direito Internacional e na
possibilidade de existência de paz entre os Estados.
o Para os Idealistas, a realização desses ideais depende do aperfeiçoamento das
instituições internacionais, o qual, por sua vez, deve resultar da cooperação entre os
Estados.
o Para os Realistas, por outro lado, as RI são determinadas pelas relações de poder.
o Os Realistas desdenham do Direito Internacional, por considerarem que o direito
prevalece somente enquanto não colidir com os interesses dos Estados que dispõem de
recursos para impor os seus interesses aos demais.
o Na realidade, acreditam que o direito e a ordem internacional decorrem diretamente,
da correlação de forças entre aqueles que detêm maior poder.
o As mudanças ocorridas na estrutura do SI após a II GM pareciam confirmar a validade
dessas teses realistas.
o A formação dos dois blocos de poder antagónicos e a rivalidade das duas superpotências
(norte-americana e soviética), hegemónicas nos seus respetivos blocos, demonstrou
que as possibilidades de se alcançar a paz mundial, tal como pensavam os Idealistas, não
passava de uma grande ilusão.
Relações internacionais
o Conjunto das relações/interações/comunicações que se estabelecem entre os
vários atores das RI e que atravessam as fronteiras.
o As RI levadas a cabo pelos príncipes e pelos Estados foram, durante muito tempo,
quase exclusivamente motivadas por preocupações de segurança: das fronteiras,
dos abastecimentos dos mercados, dos sujeitos, e mais tarde dos cidadãos, no
estrangeiro. Todavia, desde o final do século XIX, a ideia de uma solidariedade da
comunidade dos homens e dos Estados acabaria por transformar as RI, levando à
criação de instituições coletivas permanentes (as OI), com objetivos de
cooperação, e até mesmo de unificação, no seio da sociedade internacional.
o Neste contexto, destacam-se as teorias de RI que procuram explicar de modo
rigoroso a dinâmica das RI, descobrir as forças e as estruturas que determinam as
relações entre os principais atores da cena mundial e eventualmente prever a sua
evolução. Não existe nas RI uma única teoria, mas um conjunto de abordagens,
com diferentes perspetivas quanto aos atores e seus objetivos. Têm a finalidade
de formular métodos e conceitos que permitam compreender a natureza e o
funcionamento do sistema internacional, bem como, explicar os fenómenos mais
importantes que moldam a política mundial (...ações, interações, conflitos,
negociações...)
o Os realistas concentram-se no Estado como ator fundamental, defendendo que o
seu principal objetivo é a procura de poder.
o Os pluralistas concordam com os realistas que para entender as RI temos de
compreender o comportamento dos atores, mas discordam da importância
atribuída ao Estado: um de muitos atores das RI.
o Os estruturalistas, ao invés de se concentrarem nos atores, olham a estrutura do
sistema e os constrangimentos que esta impõe aos atores. Assim, veem os Estados
e outros atores como severamente circunscritos nas suas ações e com menor
liberdade de ação. Para compreender o sistema internacional temos de nos
concentrar nestas estruturas mais do que no comportamento e escolhas dos
atores individuais.
o Existem diferentes olhares sobre a realidade que resultam em diferentes
formulações teóricas sobre a mesma em resultado da busca de uma explicação
teórica que permita um entendimento mais preciso do real.
o O estudo das RI é fundamental para compreendermos o mundo em que vivemos,
cada vez mais internacionalizado, integrado e globalizado.
Estado
o Entidade político-social juridicamente organizada para executar os objetivos da
soberania nacional. O primeiro autor que introduziu o termo Estado, no sentido próximo
do atual, foi Maquiavel, na obra “O Príncipe”.
o Estado vs. Nação: O conceito de nação envolve a existência de vínculos comuns entre
os habitantes de determinado local, que se caracterizam, principalmente, por relações
qualificadas por fatores subjetivos que decorrem das mais diferentes origens (racial,
geográficas, religiosas, culturais). Conjunto homogéneo de pessoas que se consideram
ligadas entre si por vínculos de ‘sangue’, idioma, religião, cultura, ideias, objetivos. A
Nação consiste numa comunidade que se caracteriza por sentimentos relativamente
uniformes. Já a definição de Estado envolve, necessariamente, o aspeto de organização
jurídica desse mesmo conjunto de pessoas (sociedade). Essa distinção explica por que
uma nação surge antes do próprio Estado e por que as nações podem subsistir sem o
Estado (como a nação judaica antes da criação do Estado de Israel). Também é possível
que várias nações estejam reunidas sob um mesmo Estado (Estado “multinacional”),
assim como o Reino Unido e como sucedia na antiga União Soviética. E há ainda nações
divididas entre dois ou mais Estados, como a nação alemã na época da GF (Alemanha
Ocidental e Alemanha Oriental); a nação coreana (Coreia do N e Coreia do S).
Nação
o Conjunto de indivíduos ou povo de um país que habitam o mesmo território, falam a
mesma língua, têm a mesma religião, partilham os mesmos costumes e obedecem à
mesma lei. Um Estado pode conter uma ou mais nações, assim como podem existir
nações sem território (ex: povo curdo).
Povo
o Conjunto das pessoas dotadas de capacidade jurídica para exercer os direitos políticos
assegurados pela organização estatal. Difere da população, cujo conceito envolve
aspetos meramente estatísticos do nº total de indivíduos que se sujeitam ao poder do
Estado, incluindo, por exemplo, os estrangeiros, apátridas e os visitantes temporários.
O conceito de nação contém um sentido político próprio: a nação é o povo que já
adquiriu a consciência de si mesmo.
Soberania
o Nas RI é a qualidade do poder político de um Estado, que não está submetido a nenhuma
autoridade superior. É o atributo de um Estado que se refere aos seus direitos de
exercer, completamente, jurisdição sobre seu próprio território e sobre um
determinado povo. Os Estados, enquanto unidades soberanas, têm o direito de ser
autónomos e independentes internamente e de ser reconhecidos pelos demais Estados
do SI. Ainda que variem em poder, em termos de soberania todas as entidades são
iguais. É um conceito horizontal (nas relações entre iguais) e vertical (poder absoluto
sobre a sua jurisdição).
o Soberania vs. Autonomia
1. A soberania representa mais do que autonomia, no que diz respeito ao grau de
independência e desprendimento com que é exercido o poder.
2. Segundo Marcelo Caetano, a soberania é poder político supremo, porque não está
limitado por nenhum outro poder na ordem interna; e é poder político independente,
porque na sociedade internacional não tem de acatar regras que não sejam
voluntariamente aceites.
3. Segundo correntes positivistas, a soberania é juridicamente ilimitada no âmbito
territorial do Estado; segundo correntes jusnaturalistas, a soberania encontra barreiras:
no direito natural; na coexistência das nações; e nas próprias finalidades do Estado. Já a
autonomia observa limites mais severos: é limitada ainda pela capacidade de disposição
de poder conferido pelo ente soberano.
4. A autonomia apresenta-se como um círculo contido naquele que representa a
soberania.
Ciência Política
o Teoria e prática da política e a descrição e análise dos sistemas políticos e do
comportamento político.
o Abrange diversos campos, como a teoria e a filosofia políticas, os sistemas políticos,
ideologia, teoria dos jogos, economia política, geopolítica, geografia política, análise de
políticas públicas, política comparada, relações internacionais, análise de relações
externas, política e direito internacionais, estudos de administração pública e governo,
processo legislativo, direito público (como o direito constitucional) e outros.
o As abordagens da disciplina incluem a filosofia política clássica, estruturalismo,
behaviorismo, racionalismo, realismo, pluralismo e institucionalismo. Enquanto ciência
social, a ciência política usa métodos e técnicas que podem envolver tanto fontes
primárias (documentos históricos, registros oficiais) quanto secundárias (artigos
académicos, pesquisas, análise estatística, estudos de caso e construção de modelos).
o Ciência Política e Política tem significados diferentes. A Ciência Política é o
conhecimento, a disciplina que estuda os acontecimentos, as instituições e as ideias
políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referindo
ao passado, ao presente e a possibilidades futuras. Observa-se que o Estado é a matriz
do estudo da Política.
o Conceito operacional de Ciência Política: disciplina social e autónoma que engloba
atividades de observação, de análise, de descrição, comparação, de sistematização e
de explicação dos fenómenos políticos.
Política
o Processos que determinam quem adquire algo, quando e como (Lasswell). Política pode
ser tanto a ciência dos fenómenos referentes ao Estado, a um sistema de regras
respeitantes à direção dos negócios públicos, a arte de bem governar os povos, quanto
um conjunto de objetivos que formam determinado programa de ação governamental
e condicionam uma ação. Para as RI, o mais importante é a ideia do conjunto de
objetivos que determinam as orientações e as ações dos atores, no caso os
internacionais.
Poder
o Nas abordagens realistas poder é a variável predominante nas relações entre os atores
internacionais. Poder não só determina o comportamento dos atores estatais, que
Divisão de poderes
o Também chamada de sistema de freios e contrapesos (checks and balances system) é
um princípio geral de direito constitucional. Foi sugerida por Aristóteles, John Locke e
Rousseau, mas é a Montesquieu que se deve a sua definição e divulgação. Foi afirmada,
primeiramente, nas Constituições das ex-colónias inglesas na América. Num sentido
técnico, visto que o Poder Político é uno, indivisível e indelegável, não se poderia falar
em “separação de poderes”, mas em distinção de funções ou divisão funcional de poder:
1. Função legislativa: consiste, principalmente:
a. na edição de normas gerais e abstratas, que inovem a ordem jurídica: as leis em
sentido material;
b. na fiscalização e controle dos atos praticados no exercício da função ex.
2. Função executiva: com atuação nos fins diretamente inerentes à administração do
Estado (em sentido amplo), incluindo a economia e a defesa. Possui três missões
básicas: intervenção, fomento e serviço público.
3. Função judicial: a aplicação ou a revisão da aplicação das normas jurídicas a casos
concretos, em caráter definitivo (garantia do monopólio judicial da última palavra), com
o objetivo de compor litígios ou de evitar que se propaguem.
uns Estados são mais fortes do que outros e onde estes podem ter a tentação de
subjugar os mais fracos à sua força sup.
o Na terminologia política, o termo anarquia não é equivalente ao de desordem no meio
do caos, mas tão somente de ausência de governo efetivo. Este sistema é caracterizado
pela “autoajuda”, em que os Estados são obrigados a salvaguardar eles mesmos a sua
segurança e outros interesses vitais, e por guerras intermitentes, umas de grande
alcance outras de pequeno alcance. Enquanto algumas das grandes potências mantêm
uma preocupação constante com a sua segurança e estão prontas, a todo o momento,
a recorrer à força se necessário, a maioria dos Estados da sociedade anárquica
prossegue uma cooperação pacífica por largos períodos de tempo e procura estabelecer
entre si uma ordem estável e equilibrada.
o O modelo do sistema político dos Estados não pode ser alargado ao domínio
internacional já que, a este nível, não existe qualquer forma de autoridade efetiva em
exercício. Têm-se tentado lançar pontes entre as ordens interna e externa, dando relevo
aos conceitos de interdependência e de regimes internacionais. O conceito de
interdependência traz consigo a ideia de que os Estados estão a tornar-se cada vez mais
sensíveis e vulneráveis às mudanças económicas e tecnológicas processadas em outros
Estados e no sistema global como um todo, e de que estão a adaptar as suas políticas a
esta realidade.
Sociedade anárquica
o Os estados formam entre si uma sociedade anárquica:
o O sistema internacional é anárquico, mas… os estados podem cooperar e interagir
com base em regras mutuamente acordadas.
o Instituições internacionais eficazes e com autoridade/legitimidade são
importantes.
o Abre a possibilidade de ordem no sistema internacional.
o Contributo importante para o estudo da governação global.
Ordem internacional
Definição: “distribuição de poder entre estados e outros atores internacionais, que
desenvolve padrões relativamente estáveis de comportamentos e relações.”
Ordem pós-2ª GM:
o Bipolaridade na era das superpotências.
o Liderança (poder) militar e ideológica.
o Estabilidade no sistema internacional ou tensão e insegurança?
Ordem pós-GF:
Unipolaridade?
Multipolaridade?
Uni-multipolaridade (Huntington)?
o Conjunto de regras e normas instituídas na esfera internacional.
o A ordem internacional é estabelecida pelo Direito Internacional e cria o sistema
internacional (as regras do jogo sobre as quais todos os estados do sistema
internacional têm de funcionar). Foi instituída depois da 2 GM.
Política=ONU/UE: tem um conjunto de regras e normas que orientam os Estados
no seu relacionamento uns com os outros.
Económico=estatutos do Banco Mundial (conjunto de 5 instituições que lidera em
termos de regras do sistema económico-financeiro; FMI; EU
Comercial=OMC
Social=OIT/UNICEF/ACNUR/PNUD/FAO (quase todas as das nações unidas)
Cultural=UNESCO
Comunidade Internacional
Comunidade Sociedade
Caracteriza-se por laços de afetividade os laços baseiam-se em interesses
comuns
associação espontânea e natural resulta de necessidades pragmáticas de
associação ou convivência
estabelece-se pela via dos valores estabelece-se pela via das regras de
comuns associação e de resolução de conflitos
Sociedade Internacional
o Para Hedley Bull (1977) “uma sociedade de Estados (ou sociedade internacional) existe
quando um grupo de Estados, que tem consciência de interesses e valores comuns,
formam uma sociedade, no sentido de se considerarem interligados por um conjunto
de regras comuns que orientam as suas relações e que partilham no trabalho das
instituições comuns. Se os Estados hoje formam uma sociedade, é porque reconhecem
certos interesses comuns e, possivelmente, alguns valores comuns e se consideram
obrigados a cumprir certas regras, por exemplo, o respeito mútuo pela independência
de cada um, pelos compromissos assumidos e por determinadas regras no uso da força
entre si. Simultaneamente, cooperam no funcionamento das instituições, como por
exemplo, os processos de direito internacional, o sistema de diplomacia e das OI e os
costumes e as convenções de guerra”.
Regimes Internacionais
o Instrumento para explicar o funcionamento e a evolução de processos de cooperação.
Nalguns casos mantiveram pressupostos estatocêntricos do neorrealismo (Krasner,
Stein), enquanto noutros casos (Kratochwil, Ruggie) os autores atribuem aos regimes
um grau de autonomia que entra em conflito com os pressupostos neorrealistas. Para
Krasner, “regimes são princípios, normas, regras e procedimentos de decisão em torno
dos quais convergem as expectativas dos atores. Princípios são um conjunto coerente
de afirmações teóricas sobre como funciona o mundo. Normas especificam padrões
gerais de comportamento. Regras e procedimentos de decisão são indicações
específicas de comportamento em áreas claramente definidas (...) Princípios e normas
definem o carácter essencial de qualquer regime. Embora se possam alterar regras e
procedimentos de decisão sem alterar a natureza fundamental de um regime, isto já
não é possível com princípios e normas. Regimes definem direitos básicos de
propriedade. Estabelecem padrões aceitáveis de comportamento. Coordenam tomadas
de decisão” (1985). Krasner nota que, por exemplo, um regime internacional liberal para
o comércio se baseia num contexto de princípios económicos neoclássicos que mostram
que a utilidade global é maximizada pelo livre fluxo de bens. A norma básica para um
regime liberal para o comércio é que as barreiras alfandegárias e não alfandegárias
devem ser reduzidas e, em última instância, eliminadas. Regras específicas e
procedimentos para a tomada de decisões estão identificados no GATT, ou atualmente
na OMC. Os regimes internacionais são aqueles conjuntos de disposições governativas
– processos, normas, regras e ainda, em alguns casos, instituições funcionais especiais
– instituídas para regular e controlar determinados tipos de atividades transnacionais
em que esta regulação e controlo aparecem como matérias de interesse comum a uma
série de Estados. Exemplo: os regimes internacionais instituídos para regular as taxas
de câmbio (no FMI), para eliminar obstáculos ao comércio internacional (nas várias
rondas do GATT, e hoje no âmbito da Organização Mundial de Comércio) e para impedir
a proliferação das armas nucleares através do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e de
vários acordos entre Estados fornecedores de tecnologia nuclear e militar para
regularem as suas exportações.
o A ideia central da teoria dos regimes é que grande parte do relacionamento
internacional acontece segundo regras preconcebidas, que podem ou não ser escritas e
que são consideradas de benefício mútuo pelos participantes, ou pelo menos pelos
participantes mais importantes e influentes. São interessantes tanto para os
neorrealistas como para os estruturalistas, os institucionalistas ou os construtivistas.
Para os estruturalistas é a ênfase sobre estruturas de poder menos visíveis que torna
atraente este conceito, bem como a promessa que oferece de desvendar os verdadeiros
interesses subjacentes. Para os institucionalistas, as teorias de regime recentram a
disciplina de modo a focar essencialmente questões e problemas de cooperação
internacional, mais do que a problemática da conflitualidade num contexto de anarquia.
Para os construtivistas, rótulo que pode incluir a Escola Inglesa, o que é essencial nas
teorias de regimes é o processo de desenvolvimento histórico de conhecimentos,
convicções e entendimentos partilhados.
Neutralidade
o É um estatuto jurídico que confere aos seus titulares direitos (livre comércio com
os beligerantes) e obrigações (abstenção de qualquer ajuda militar aos
antagonistas).
Neutralidade permanente
o Consiste na eliminação do direito de fazer a guerra por um acordo internacional,
salvo em caso de legítima defesa.
o Ex: Bélgica–1831 a 1914; Luxemburgo–1867 a 1914; Suíça desde 1815
Neutralidade clássica
o Recusa em participar num conflito concreto. O Estado que a pratica é um Estado
neutral.
Neutralidade Colaborante
o Recusa dos Estados em participar militarmente e de forma direta num conflito
armado, embora colaborem com os beligerantes.
Balança de Poder
o Situação de simetria de poder entre unidades estatais que lhes cria uma situação de
equilíbrio. Ele pode ser criado pelos atores internacionais de forma deliberada ou surgir
espontaneamente no S em virtude de combinações e arranjos políticos naturais que se
vão formando. Os Estados orientam as suas políticas externas em função do próprio
equilíbrio, nomeadamente, através de alianças, que podem ser de dois tipos: alianças a
priori, que se formam independentemente do tema/regime em questão; alianças a
posteriori, que se formam à medida do interesse dos atores em interação.
Capabilities
o Capacidades internas de um Estado. Aquilo que no seu conjunto auxilia na determinação
do poder de um Estado. Como é um atributo do Estado, as capabilities são mais
importantes para as conceções cujo ator estatal é o ente mais relevante. Para Wendzel,
não basta que o ator tenha a posse de uma certa mistura de capacidades, é preciso
desenvolvê-las e articulá-las. São:
1. fatores geográficos;
2. população;
3. recursos naturais;
4. poder económico;
5. poder militar;
6. funções governamentais;
7. características da sociedade.
Low Politics
o Temas considerados de menor importância pelos atores internacionais dentro da
agenda internacional. Associam-se a qualquer questão que não esteja ligada à
segurança e interesses estratégicos (ex.: meio-ambiente, direitos humanos,
desigualdades sociais). É considerada uma parte da agenda mais democrática e com
maior capacidade de formação de regimes internacionais.
High Politics
o Temas considerados de maior importância pelos atores internacionais dentro da
agenda internacional. Associam-se às questões de segurança e interesses estratégicos.
Dilema de Segurança
o Ideia desenvolvida por John Hertz, ocorre quando um Estado X começa a se armar tendo
em vista a sua própria proteção e, consequentemente, a sua autopreservação. Somente
um Estado poderoso militarmente poderá sobreviver no SI anárquico. Este armamento,
ainda que para fins defensivos, poderá fazer com que os demais Estados no SI adotem
uma postura agressiva em relação ao primeiro e também comecem a adquirir armas.
Esta reação por parte dos demais Estados gerará insegurança no 1º que reiniciará o
processo.
Estado
o Ator que tem poder para tomar decisão em tudo aquilo que tem a ver com o SI.
Atualmente, é difícil o Estado atuar individualmente, por isso, agrupa-se, coopera
em determinadas OI.
o Categoria política central nas relações entre povos e unidades políticas.
o É responsável pela organização e pelo controlo social, pois detém, segundo Max
Weber, o monopólio da violência legítima (coerção).
o Max Weber identificou três principais fontes de legitimidade política:
Estado Pária
o Nação cuja conduta é considerada fora das normas internacionais de
comportamento por parte ou por toda a comunidade internacional (como a ONU)
ou por alguns países.
o Um Estado pária poderá enfrentar o isolamento internacional, sanções por
países que vejam as suas políticas e ações como inaceitáveis.
Tipos de Estado
o Para um Estado ser soberano, ‘o poder de querer e o poder de comandar não
podem estar subordinados a nenhum outro’. (Roland Mane–1976).
o Há certos Estados que estão subordinados a outros.
Estados Federais
o União de Estados membros num só Estado central que se rege por normas
constitucionais comuns a todos os membros.
o Forma de evitar conflitos entre países do mesmo continente ou região.
o Há dois tipos de federalismo:
o Federações propriamente ditas/perfeitas (EUA, RFA, Suíça, Canadá)
o Federações imperfeitas ou fictícias (Brasil, Austrália)
Estados Unitários
o Estado simples em que há um só poder político para todo o território.
o O poder do Estado pode estar concentrado e centralizado nos órgãos centrais
(Estados unitários centralizados - Portugal) ou estar repartido pelos órgãos das
coletividades territoriais, a quem são atribuídos poderes e competências
relativamente autónomos (Estados unitários descentralizados - Espanha, Itália,
Grã-Bretanha).
Estados Protegidos
Protetorado
o “Associação de Estados criada por um tratado onde um Estado soberano (Estado
protetor) assume a obrigação de proteger outro (Estado protegido ou sob
protetorado), recebendo em contrapartida a faculdade de dirigir a gestão das RI
do 2º, e em alguns casos mesmo a sua política interna”.
o A situação de protetorado resulta de um acordo entre Estados soberanos e não
determina a perda total da soberania do Estado protegido, que sofre, no entanto,
importantes limitações na sua capacidade de agir na esfera internacional e,
eventualmente, na esfera interna.
o O Estado protegido mantém a faculdade de se constituir e de legislar e pode
denunciar o acordo que deu origem à situação de protetorado.
o Não perde totalmente a soberania.
o Não tem de respeitar a constituição do Estado protetor, mas o tratado que com
este celebrou (é semissoberano).
o Exemplos: Egito, protegido pela Grã-Bretanha de 1914-1936; Tunísia e Marrocos,
protegidos pela França.
Estados Exíguos
o São comunidades políticas que, pela sua pequena extensão territorial e escassa
população não estão em condições de exercer plenamente a soberania.
o São Estados independentes e sujeitos de Direito Internacional.
o Têm o direito de celebrar tratados internacionais e podem ser parte de OI de
carácter técnico.
o Têm direito de legação, embora normalmente não o exerçam, pois servem-se da
representação diplomática dos Estados limítrofes.
o Não têm direito de fazer a guerra.
o Mantém no domínio interno, a faculdade de fazer leis de acordo com as regras
constitucionais, e de criar os órgãos necessários para a sua execução.
o Exemplos: Principados do Mónaco, do Liechtenstein, República de San Marino,
Principado de Andorra.
Estados Neutralizados
o São aqueles que, por vontade própria e de acordo com a vontade manifestada
pelas principais potências internacionais, gozam de um estatuto de neutralidade
permanente.
o Abdicam do direito de fazer a guerra, exceto em legítima defesa.
o Normalmente é aceite o estatuto quando se pretende manter esse Estado fora das
lutas políticas e militares entre grupos de estados e dispor de zonas de paz em
períodos de conflito militar generalizado.
Estados Federados
Estado-nação
Nacionalismo clássico: sobreposição entre fronteiras políticas e culturais.
o O mundo está dividido naturalmente em comunidades culturais distintas (nações).
o Essas comunidades devem ser a base da expressão política – ou seja, ter “soberania
popular” (Rousseau).
o Mas todos os Estados são em alguma medida multiculturais e multinacionais!
o Giuseppe Mazzini (séc. XIX): “Cada nação um Estado, um só Estado para toda a nação”).
o Woodrow Wilson (séc. XX): 14 pontos/Tratado de Versailles
Contexto histórico: fim dos impérios multinacionais na Europa – princípio da autodeterminação
dos povos
o Nacionalismo e conflito
Ordem hierárquica de prioridades do Estado:
1. Segurança (como é que os estados salvaguardam esta segurança? Através das
forças armadas, da diplomacia, OIG=NATO art.5 segurança coletiva)
2. Bem-estar económico e social.
3. Imagem/ prestígio/ perceção (o património histórico ajuda a criar a imagem que
se tem do país)
Elementos do Estado
o O Estado define-se pela reunião de três critérios: um território, um povo e um
governo (poder político soberano).
o Juridicamente, a unidade estatal distingue-se das outras coletividades territoriais
pelo critério da soberania.
o Os Estados diferem uns dos outros em função do seu tamanho, da sua potência,
da sua força militar e da forma do seu governo (regime político).
Povo
o Não é possível conceber um Estado sem povo.
o Todavia, nem toda a população que vive num território constitui o elemento
humano do Estado. Apenas os indivíduos que estão sujeitos às normas gerais
definidas pelos órgãos do poder fazem parte da população do Estado - os seus
nacionais.
o Conjunto de indivíduos que se constitui em sociedade política, para a prossecução
de interesses comuns, e se rege por leis próprias sob a direção de um mesmo poder
soberano.
o Vínculo jurídico que liga os indivíduos a uma sociedade política –chama-se
nacionalidade (qualidade a que correspondem certos direitos e certas obrigações
para com os outros nacionais e para com a própria coletividade).
o Ser nacional de um Estado significa estar sujeito às regras de conduta por ele
definidas e usufruir dos direitos políticos que as suas leis fundamentais prescrevem
e salvaguardam.
o Nação: Costumes, tradições, fisionomia, língua, passado comum (identidade da
história) - conjunto de elementos que caracteriza a nação.
o A população de um Estado é formada pelo conjunto dos indivíduos, nacionais ou
estrangeiros, que vivem sobre o seu território.
o O laço jurídico que liga um indivíduo a um Estado é o da nacionalidade,
relativamente ao qual cada Estado determina as condições da sua atribuição. É a
nacionalidade, laço exclusivo entre o Estado e os seus cidadãos, que distingue os
nacionais dos estrangeiros. Estes podem até ser mais numerosos que os primeiros,
como o caso dos Palestinianos no Koweit antes da guerra.
o Por outro lado, os nacionais podem residir sobre o território ou no estrangeiro,
todavia nem a ausência, nem o exílio podem romper automaticamente este laço
tão importante.
o Os estrangeiros residentes no território têm menos direitos no plano político e
muitas vezes sobre o plano económico também.
o A identidade jurídica pode ser contestada e por vezes rivalizada por uma
identidade ideológica, como é o caso dos chamados “cidadãos do Mundo”, que
recusam a ligação a uma pátria, ou ainda o caso de certos ideólogos árabes, que
desenvolveram a ideia de uma “nacionalidade árabe”, superior à nacionalidade
conferida por cada um dos países árabes.
o No entanto, o problema complica-se quando se aborda a questão chinesa, isto é,
Taiwan e a China continental reivindicam uma só nacionalidade para duas
entidades estatais.
o Porém, três princípios dominam o conjunto das legislações sobre a questão:
o nacionalidade por ascendência ou filiação (jus sanguinis);
o nacionalidade pelo lugar de nascimento ou residência (jus soli)
o a combinação das duas.
Território
o Toda a coletividade que se constitui em Estado está fixada num determinado
território.
o É um elemento imprescindível do Estado (lutas constantes para conquista e
alargamento do território)
o Elemento aglutinador e unificador do povo.
o Espaço no qual os órgãos do Estado impõem a sua autoridade.
o É um espaço delimitado pelas fronteiras naturais/físicas ou convencionais.
o Não pode existir Estado sem um território próprio e efetivamente ocupado.
Outros atores:
Organizações Internacionais:
o Uma organização internacional é uma estrutura de cooperação interestatal, uma
associação de Estados soberanos perseguindo objetivos de interesse comum,
através de órgãos autónomos.
o Distinguem-se:
o OIG – têm poder e capacidade de tomar decisões; fontes de Direito
Internacional;
o ONG – não têm o mesmo estatuto das anteriores, visto não serem
compostas por Estados; se tiverem, pelo menos, uma filial sediada noutro
país já são internacionais; a sua ação tem de passar a fronteira do Estado.
Critérios:
Uma OI é formada por um Tratado constitutivo ou Convenção.
O que consta de um tratado constitutivo de uma OI?
o Princípios ou ideais partilhados entre todos os Estados fundadores;
o Órgãos constitutivos responsáveis pelo funcionamento da OI,
nomeadamente uma Assembleia onde estão representados todos os
Estados que fazem parte da Convenção; as suas funções ou poderes são
definidas no articulado jurídico do tratado.
o Objetivos da OI, nos quais está identificado o campo de ação da OI; podem
ser competências explícitas ou implícitas.
Económicas;
Financeiras;
Social (ONU);
Cultural.
O tratado de Roma tem competências implícitas,
permitindo a expansão da OI.
o Normas/Direitos e deveres dos Estados-Membros.
o O processo de adesão;
o O processo de saída;
Classificação das OI
o Em função do quadro territorial em que desenvolvem a sua ação (univ, regionais)
o Em função do seu objeto (com fins gerais ou de finalidades particulares)
o Em função da sua estrutura jurídica (de cooperação, de integração)
o Em função da facilidade ou dificuldade de ingresso (abertas ou fechadas)
o Organizações Universais (AID, BIRD, CNUCED, OMC, FAO, OMS, PNUD, UNESCO, UPU)
pelos seus objetivos e finalidades de ingresso têm vocação para associar todos os
Estados.
o Organizações Regionais (OEA, UA, UE, EFTA, BENELUX, ASEAN, C. da Europa)
o têm um âmbito geográfico limitado e os seus membros são, em regra, Estados
vizinhos.
o afinidades políticas, ideológicas, económicas, culturais, históricas, existindo
entre eles uma comunidade de interesses.
o muitas declaram-se tributárias das finalidades da ONU, propondo-se coordenar
ou mesmo subordinar a sua ação à ONU (OTAN e UEO)
o Juridicamente, as organizações internacionais, tal como os Estados, são sujeitos de
Direito Internacional, ou seja, possuem personalidade jurídica internacional. Contudo,
ao contrário dos Estados, não possuem território, necessitando de realizar um acordo
Caráter desinteressado das suas atividades, ou seja, não pode ter fins
lucrativos (o que a distingue das Empresas Multinacionais).
Juridicamente, está vinculada ao Estado onde foi instalada a sede,
obrigando a um bom relacionamento com o Estado anfitrião dado que não
beneficiam, ainda, de personalidade jurídica internacional: qq que sejam
a sua importância política ou o seu orçamento, exercem as suas atividades
segundo as regras nacionais do estado no qual está fixada a sua sede. A
sua ação desenvolve-se inicialmente no quadro dos Estados, mas adquire
cada vez mais uma dimensão transnacional.
o A sua génese (finais do século XIX e século XX) só poderia estar ligada ao Mundo
Ocidental (Europa e EUA), democrático, pluralista, que permite um papel
internacional à iniciativa privada.
o O aumento do nº de ONG (existem + 25 mil) resulta de vários fenómenos: a
mundialização; a afirmação do papel dos indivíduos nas RI; a importância
crescente dos media na vida internacional.
Opinião pública
o Massa anónima de cidadãos que compõem cada um dos estados do ponto de vista
internacional.
o A noção de “opinião pública”, nacional, ou internacional, é ambígua, porque é mais
frequentemente uma reconstrução intelectual, na qual os media desempenham um
papel decisivo, do que uma realidade incontestável.
o A opinião pública nacional pode pesar sobre o governo de um país democrático, dado
ser mtas vezes considerada como a prefiguração das orientações do voto.
o Uma mobilização da opinião pública ao nível internacional pode também ter influência
sobre outros países, se ela ameaçar os seus interesses económicos ou estratégicos.
o Podemos, contudo, definir opinião pública num país como a opinião expressa
publicamente (pela imprensa, sondagens) por um nº importante de pessoas (e não
apenas uma opinião individual), sobre uma questão de interesse geral (que diz respeito
a uma opção política, económica, social).
o Constitui uma aglomeração de opiniões individuais +/- convergentes.
o É, geralmente, efémera, porque se constitui em torno de assuntos de preocupação
imediata.
o Nos países democráticos, a evolução da opinião pública é observada pelos agentes
políticos (daí a importância das sondagens), procurando tirar partido de um certo apoio
popular e dele retirar, assim, uma legitimidade maior.
o A análise do seu papel não tem efetivamente sentido real, senão um regime
democrático, em que a legitimidade das decisões políticas provém da vontade popular
expressa nas urnas.
o É por isso que os valores defendidos, quando se fala de uma mobilização da opinião
pública, são os dos direitos do homem.
o Neste sentido, podemos considerar a opinião pública internacional como uma vasta
convergência de opiniões públicas nacionais dominantes, da qual se pode extrair uma
linha de conduta a seguir ou um objetivo a atingir: a promoção do desarmamento
mundial, a autodeterminação do povo timorense, etc.
o 3 traduções possíveis da opinião internacional:
o A opinião dos Estados (oficial);
o A opinião dos povos (espontânea);
o A opinião pública militante.
Empresas Multinacionais
o Empresas cuja sede social se encontra num determinado país e que exercem as suas
atividades num ou mais países, por intermédio de sucursais ou filiais e em que a
estratégia e a gestão são concebidas ao nível de um centro de decisão único que
coordena e dirige o conjunto, com vista a maximizar o lucro do grupo.
o Impacto nos países de acolhimento:
o Económico, pelo desenvolvimento económico da área de implantação da
multinacional, bem como de uma série de empresas nacionais que lhe
garantem vários serviços (distribuição, apoio logístico, etc.).
o Social, pela promoção da formação profissional bem como aumento do nível
de vida dos seus funcionários;
o Político, quer pela corrupção dos dirigentes políticos dos países de
acolhimento, quer pela pressão (possível graças ao seu peso na economia
nacional) junto das autoridades no sentido de serem tomadas mediadas
administrativas favoráveis à empresa.
o Este impacto a nível político está condicionado quer pelo grau de
cumplicidade/hostilidade que existe entre a multinacional e o governo do país
onde está instalada a sociedade-mãe (absoluta ou relativa), quer entre a
multinacional e o território de acolhimento.
Minorias
o Tem sido difícil uma definição consensual de minoria.
o Apesar da sua importância como ator das RI ser discutível, as minorias têm vindo
a constituir-se como um elemento de erosão dos Estados.
o Por outro lado, tem-se assistido (sobretudo a partir da 2 GM) a um esforço por
parte da Comunidade Internacional na defesa dos direitos das minorias.
o Após o fracasso do sistema de proteção das minorias, posto em prática pela SDN,
levou a que se relançasse a questão no pós-G.
o Inicialmente a questão da defesa das minorias foi incluída na defesa dos direitos
individuais do Homem.
o Em 1946, foi criada pela ONU uma Comissão para a luta contra medidas
discriminatórias e proteção das minorias.
o Atualmente, a defesa dos direitos das minorias tem sido feita no seio das OI
(questão Curda), nomeadamente na ONU.
o Reivindica-se o direito de as minorias conservarem as suas características próprias:
utilização e ensino nos dialetos, liberdade de prática religiosa.
o Ao mesmo tempo, defende-se a não discriminação relativamente à maioria.
o A exigência de uma maior autonomia por parte de algumas minorias tem dado
lugar ao desenvolvimento de movimentos separatistas e à destabilização de
numerosos Estados.
Media;
o São os grandes canais de televisão; grupos económicos com ligações à
comunicação social; rádio; imprensa.
Papel dos media:
o Fontes de informação;
o Disseminam informação;
o Promover a informação;
o “Chamar à atenção” para determinados aspetos, questões, desenvolvimentos
(agenda internacional) com destaque para influenciar as elites políticas.
o Sensibilizar a opinião pública e, por conseguinte, o poder político.
o Influenciar as elites políticas.
Realismo Neorrealismo
Explicam as RI com base nas caraterísticas Explicam as RI com base no SI
dos Estados
Explicam comportamento dos Estados com
Explicam comportamento dos Estados com base na natureza do SI (não faz considerações
referência à natureza humana sobre a natureza humana)
Poder é visto simultaneamente como Poder é visto apenas como meio para atingir
objetivo e como meio para atingir outros outros objetivos
objetivos
Quanto mais poder, melhor (luta Excesso de poder pode atrair coligações rivais
interminável pelo poder)
Estado que acumula poder deve distribui-lo
Estado procura ter mais poder que os outros entre os aliados para assegurar a sua posição
de liderança
Sistema internacional anárquico (incerto e Sistema internacional anárquico –a
inseguro) cooperação e a interdependência são fatores
conjunturais, temporários
Poder militar –predominância das questões Poder militar, poder económico....
de segurança
Neorrealismo Neoliberalismo
Política internacional –anarquia internacional Política internacional –a cooperação e a
interdependência atenuam a natureza
anárquica do sistema
Cooperação internacional é difícil de obter e Cooperação é essencial
manter
Estados procuram ganhos relativos Estados procuram ganhos absolutos
Questões de segurança são prioritárias Progresso económico é prioritário
Capacidade do Estado (poder) Objetivos e preferências dos Estados
Instituições não alteram a essência da política Instituições atenuam a anarquia
internacional internacional
Semelhanças
o Estado: ator unitário (coerente) e racional (analisa custos, benefícios e riscos)
o Estados com interesses comuns, criam instituições para a prossecução desses interesses
comuns (instituições são úteis)
o Anarquia gera incertezas e insegurança (neorrealistas –adoção de estratégias de
sobrevivência –competição pelo poder) (neoliberais –é possível cooperar num ambiente
de anarquia –dilema do prisioneiro)
o Estados são soberanos, mas têm de interagir.
o Nenhum Estado, sozinho, consegue concretizar os seus objetivos.
o Atualmente questiona-se o possível esboço de um 4º debate, onde visões alternativas
pretendem abalar as fundações tradicionais e abraçar uma perspetiva mais radical que
permita múltiplas vozes e perspetivas. Trata-se do debate pós-positivista que inclui a
teoria crítica (reestruturar a teoria social e política), o pós-modernismo (não existe uma
realidade internacional objetiva), o construtivismo (conceitos construídos socialmente,
influência das identidades, culturas e ideias: não há uma realidade permanente e certa).
Construtivismo
o O mundo não é predeterminado, mas sim construído à medida que os atores agem,
ou seja, é uma construção social. Vivemos num mundo que construímos, no qual somos
os principais protagonistas e agentes, e que é produto das nossas escolhas, que são
racionais, ponderando perdas e ganhos. Não se trata de um mundo que nos é imposto,
que é predeterminado, e que não podemos modificar. Podemos mudá-lo, transformá-
lo, ainda que dentro de certos limites. Ou seja, o mundo é socialmente construído.
o Agentes e estrutura são co construídos. O construtivismo reflete o debate
agentes/estrutura, que se refere a quem constrange e limita as opções do outro, os
agentes ou a estrutura. Afirmam que ambos são co construídos, ou seja, os atores e a
estrutura influenciam-se mutuamente, e nenhum precede o outro nem no tempo, nem
na capacidade de influenciar o outro.
o Não se pode falar em sociedade sem falar em indivíduos que a compõem, nem se pode
falar de indivíduos sem falar da sociedade que eles constituem. Ambos são co
constituídos, ou seja, influenciam-se mutuamente.
o As ideias e os valores são importantes na análise dos acontecimentos internacionais.
Se, por um lado, os construtivistas, não descartam as causas materiais, por outro,
consideram que as ideias e os valores que influenciam a relação do agente com o
mundo material desempenham uma função central na formulação do conhecimento
sobre este mundo, considerando que o mundo só faz sentido a partir do momento que
nos referimos a ele, e mediante os meios que usamos para esse fim.
o A anarquia internacional é socialmente construída, o que significa que o SI pode variar
entre o conflito e a cooperação, que resultam das nossas escolhas. Os processos de
construção e reconstrução são permanentes e abrem espaço para a contínua
possibilidade de mudança.
o Conceito de identidade: podem transformar-se e adaptar-se aos processos e
necessidades da política internacional. As identidades precedem os interesses e
formam-se em processos relacionais entre identidade e a diferença.
o Análise de discurso (daqueles com responsabilidade no SI): as normas e regras
regem/constroem o discurso que se refere ao mundo social. É nesse sentido que
consideram que a realidade é socialmente construída.
o As normas influenciam o discurso, que não é apenas um instrumento para a ação
política, mas a própria ação política.
Hans Morgenthau
o Morgenthau procurava delinear como seria a política externa dos EUA no pós-G:
I) Substituição do multipolarismo pelo bipolarismo, cujos centros estão fora da Europa
Ocidental.
II) Divisão da ‘unidade moral’ em dois sistemas antagónicos de
pensamento que disputam entre si a lealdade dos homens.
III) Desenvolvimento da tecnologia nuclear que poderia levar à destruição
da humanidade.
o Morgenthau foi o autor mais influente nos anos 1940 (Politics Among Nations). Sugere
seis princípios fundamentais que regem o S político internacional:
1. a política obedece a princípios que são constantes e iguais em toda a parte porque têm
as suas raízes na natureza humana, que é para Morgenthau egoísta e comandada pela
vontade de poder;
2. a política distingue-se de outras áreas de intervenção humana pela procura de poder. É
esta característica que nos permite classificar factos como políticos ou não e a partir
desta classificação elaborar uma teoria sobre a esfera política. A política internacional
fundamenta-se no interesse dos Estados, definido como procura de poder, e o exercício
racional levado a cabo por estadistas produz continuidade nas políticas externas dos
países para além da vida política dos seus governantes;
3. os interesses são uma função de fatores culturais, históricos, materiais e conjunturais,
podendo sofrer alterações ao longo dos tempos. O que é imutável é simplesmente a
caracterização da política como a defesa de interesses através dos mecanismos que
estiverem ao alcance (poder). Morgenthau desmistifica o papel do Estado, dizendo que
no futuro outro tipo de entidade o poderá substituir, mas o que importa é a identificação
dos interesses, que variam consoante o contexto, e da forma como estes interesses
podem ser servidos mediante a aplicação de poder;
4. a principal obrigação moral do Estado é a sobrevivência nacional, e outras considerações
morais devem ser consideradas secundárias a esta. Morgenthau distingue entre a
moralidade do Estado e dos indivíduos;
5. ao definir o interesse em termos de poder, o realismo deixa as insondáveis motivações
de Deus fora da equação e trata em termos equitativos todos os Es;
6. o realismo defende a autonomia e a especificidade da esfera política em relação a outras
esferas, como a económica ou a jurídica.
Poder
o É definido como as mútuas relações de controle estabelecidas entre os titulares da
autoridade pública e entre estes e as pessoas em geral.
o A política internacional consiste numa luta pelo poder.
o O poder é entendido como fim e não como meio da política.
Equilíbrio de Poder
o A aspiração de poder por parte de várias nações, em que cada uma tenta manter ou
alterar o status quo, leva necessariamente a uma configuração que é chamada
de equilíbrio de poder, bem como a políticas que se destinam a preservar esse
equilíbrio.
o Equilíbrio significa estabilidade dentro de um sistema composto por uma variedade
de forças autónomas.
o Sempre que tal equilíbrio é perturbado por uma força externa ou por uma mudança
ocorrida num dos elementos componentes do sistema, este último mostra uma
tendência para restabelecer o equilíbrio original ou um novo equilíbrio.
o O meio utilizado para manter o equilíbrio consiste em permitir que os diferentes
elementos sigam normalmente as suas tendências conflitantes, até ao ponto em que a
tendência de cada um deixa de ser suficientemente forte para superar a tendência dos
demais, mas bastante vigorosa para impedir que as dos demais a subjuguem.