Você está na página 1de 13

Teoria Geral Das Organizações Internacionais

O estudo das relações internacionais, como disciplina própria só vem a fazer a sua
aparição na universidades, depois da primeira Guerra Mundial. As primeiras cadeiras de
Relações Internacionais foram criadas não por necessidade de natureza cientifica, mas sim
em resposta a preocupações de ordem moral e normativa. Vários autores definem, o estudo
das relações internacionais, como um conjunto de coerente e sistemátco de preposições que
tem o objectivo de esclarecer a esfera de relações sociais que se denomina de internacionais.

Cabe, então, destacar, dentro dessa esfera, o papel das organizações Internacionais.
Nos dias de hoje, as organizaões internacionais, actuam, além dos estados, como, actores
centrais no plano internacional. No entanto, com o eclodir da segunda guerra mundial,
período em que a teoria realista se tornou ainda mais preponderante, seu papel, sua função,
foram postas em causa.

Questiona-se, então, se as Organizações Internacionais, podiam influenciar o


comportamento dos estados; promover a cooperação e afastar os conflitos.

O presente trabalho, sem esgotar o tema, se focará, não só, em apresentar as diversas
teorias – de forma suscinta – que tratam sobre o papel das organizações internacionais no
campo de relações internacionais, como também trará factos elucidativos quanto a sua
influência no campo internacional, e as classificações das mesmas.

1
Teoria Geral Das Organizações Internacionais

Conceito de Organizações Internacionais

Antes de mais, é necessário se estabelecer um conceito de organizações Internacionais.


As Organizações internacionais, não são defnidas por algum tipo de norma internacional,
deixando, seu conceito a encargo da doutrina. De acordo a Paul Reuter (apud José Cratella
Neto), o termo Organização Internacional, conforme empregado depois da metade do século
XIX, tem por finalidade indicar a situação na qual as nações têm, entre elas, relações
ordenadas. Contudo, o conceito ou explicação sobre o que são Organizações internacionais,
acolhida para esse trabalho, é o conceito encontrado no livro “Organizações Interncaionais:
História e Práticas” de Herz, Mônica e Hoffman, Andrea :

“As organizações Intergovernamentais Internacionais (OIGs), formados por


estados, e as Organizações Não-Governamentais Internacionais(ONGs), são a forma mais
instituicionalizadas de realizar a cooperação internacional...”

2
Teoria Geral Das Organizações Internacionais

Evolução histórica das Organizações Internacionais

A criação de uma Organização internacional, tem como origem a decisão dos estados,
que inicialmente delimitarão seu campo de atuação. O que em outras palavras, significa, que a
as Organizações Internacionais, não são um acontecimento natural (Herz, Mônica e Hoffman,
Andrea. 2004 p.22). As grandes potências mundiais, acabam tendo um grande papel nesse
processo, sendo mais especifico, no processo de criação de uma organização mundial.

As Organizações Internacionais passaram a ter maior relevância na política


internacional no século XIX. No entanto, a Liga de Delos (478 A.c -338 a.c), criada para
facilitar a cooperação militar entre as cidades do norte da Europa que facilitou a cooperação
militar entre o século XI e XVII, podem ser consideradas congéneres de períodos anteriores.
Devemos lembrar, ainda que, diversos autores, como Emeric Cruce, Abbé de Saint Pierr e
Immanuel Kante, desenvolveram propostas de transformação do sistema internacional, que
são percursoras das propostas que acabariam gerando as modernas norganizações
internacionais (Herz; Hoffman, 2004, p.31).

Durante o século XIX, foram criadas as Comissões Fluviais Internacionais. Em


1815, surge a primeira Organização de carácter regional, habilitada a agir num dominio
especifico. A comissão do Reno, organismo de caráter permanente, sediada em estrasburgo,
incumbida de promover e disciplinar a navegação fluvial (no rio reno), podendo para o efeito
cobrar taxas aos utentes e aplicar-lhes sanções no caso de transgressões das regulamentações
por ela adoptada.

Na segunda metade do século XIX, surgem as organizações administrativas


especializadas de carácter regionais, amplos e extensivos a todo continente europeu, as
chamadas Uniões Administrativas, encarregadas de facilitar a coperação nos dominios
técnicos como:

 União Telegráfica Interncaional (1890);

3
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
 União Poostal (1878);
 União dos caminhos de ferro (1890);
 União da Propriedade Intelectual (1883).

Nos finais do século XIX, além das referidas Comissões Fluviais encontravam-se 14
uniões administrativas de carárter marcadamente técnico.

Após a primeira guerra mundial, 1914/1918, assistiu-se a um florescimento da


cooperação internacional no quadro das organizações Internacionais de indole diversa:

 O tratado de versalhes, acolhendo a proposta do presidente Wilson dos EUA,


instituiu a Sociedade das Nações Unidas.
 Criou-se também o Tribunal Permanente de Justiça Internacional

Em volta de tudo isso, Inis Claude (apud Herz; Hoffman, 2004, p. 32), assevara, o acto
de que, para o desenvolvimento de OIGs existerem quatro pré-requisitos necessários :

 A existência de Estados Soberanos;


 Um Fluxo de Contatos Significativos entre eles;
 O reconhecimento pelos Estados dos problemas que surgem apartir de sua
coexistência;
 A necessidade da criação de instituíções e métodos sistemáticos para regular
suas relações.

Posteriormente, ainda no decurso da II guerra mundial, foi criada a Organização das Nações
Unidas (1945), que substituiu a Sociedade das nações.

4
Teoria Geral Das Organizações Internacionais

As Organizações Internacionais nas Teorias das relações Internacionais

 Realismo

Para os Realistas, os principais actores no sistema Internacional são os estados, que


buscam maximizar seu poder e sua segurança. Caracterizados, por um sistema
internacionalmente anárquico, onde todos são contra todos. Os realistas não acreditam em
uma metamorfose da natureza do sistema internacional. Onde, devido à ausência de um poder
supranacional que mantenha a ordem, os estados estão fadados, a perseguirem o poder como
um fim e ter a guerra como um pressuposto básico. Para os teóricos realistas, as organizações
Internacionais, eram figuras que além de nada nada alterarem no sistema internacional,
serviam apenas como objetos para o interesse dos estados.

 Liberalismo

É no liberalismo, que as organizações Internacionais ganham um papel significativo


no plano internacional. Os liberais, diferente dos realistas, já acreditavam que as organizações
internacionais, podiam facilitar ou gerar mais cooperação no sistema internacional.

Segundo Herz e Hoffman (2004, p.51), a relevância dessa tradição para o estudo das
organizações internacionais parte de uma ideia básica que permite agrupar uma coleção
heterogênea, ou seja, o pressuposto da racionalidade como característica básica da
humanidade que abre as portas para o potencial de transformar as relações sociais e realizar o
progresso. A crença no progresso indica que é possível transcender a política de poder ou o
carácter endêmico da guerra.

Para os liberais, as organizações internacionais, representariam um limite ao exercício


do poder dos estados e de sua soberania. A linha fronteiriça que dividiu os liberais e os
realistas, foi, de facto, a percepção de que as organizações podiam mudar a forma como os

5
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
estados se relacionavam. Nota-se, aqui, um caminho aberto no sistema internacional para as
Organizações Internacionais.

 Neoliberalismo

Os teóricos neoliberais, aceitavam a ideia de que os estados eram os principais atores


do sistema internacional. Os mesmos, agiam de forma racional movidos pelo auto interesse.
Em outras palavras, os estados tendo em conta suas vantagens, raciocinavam de modo a
encontrar caminhos alternativos que pudesse maximizar suas vantagens. Diferente dos
realistas, as instituições, serviriam de um meio para corrigir os problemas que pudessem
surgir devido as informações incompletas.

Evidencia-se, nesta teoria, o fator útil das instituições no plano internacional, como
geradoras de transparência, e diminuição do grau de incerteza.

O papel das Organizações Internacionais na esfera Internacional

O sistema internacional tem sido caracterizado, desde a gestação da disciplina (Herz,


Mônica; Hoffman, Andrea 2004, p18), de relações internacionais, como um sistema político
anárquico. Tendo esse conceito adquirido outros significados ao longo da história. Nesse
contexto, havia a necessidade de criar vários mecanismos estabilizadores do sistema. As
organizações adquirem um papel importante na área internacional como fóruns onde ideias
circulam (Herz; Hoffman, p.23), se legitimam, adquirem raízes e também desaparecem.
Assumem também um papel crucial como mecanismos de cooperação entre os estados e
outros actores.

O contributo para a cooperação entre os estados, envolve a criação de um espaço físico


no qual negociações de curta, média e longa duração podem ser realizadas, além de uma
máquina administrativa que traduz essas decisões em realidade; também servem como
mecanismos de consentimento as normas geradas.

6
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
No âmbito das organizações internacionais, está em curso um processo (Herz;
Hoffman, p.23), social complexo em que normas são criadas, conhecimentos são gerados e
tarefas que cabem à comunidade internacional são definidas tais como gerar desenvolvimento.
Surgem novas categorias, como refugiados, difundem-se modelos de organização social e
política, como a democracia liberal, e os próprios Estados podem redefinir seus interesses a
partir dessa interação.

Nota-se claramente, que as organizações internacionais, não só alteram o


comportamento dos estados, como acabam transformando todo o sistema internacional.

Classificação das Organizações Internacionais

A evolução das Organizações e a diversidade das mesmas, abre a possibilidade para


inúmeros critérios de classificação. Para Herz e Hoffman (2004, p.27), devido a característica
heterogénea das Organizações Internacionais, as mesmas, podem ser classificadas de acordo a
um critério geográfico ou pelas suas funções.

Segundo suas funções, as organizações podem ser classificadas em:

 Gerais.
 Especializadas.

As Organizações Internacionais com funções gerais, são aquelas que acabam


exercendo um conjunto muito variado de funções e não são definidas pelas mesmas.

Ex.: Organizações das Nações Unidas.

As Organizações Internacionais com funções especializadas, atuam somente em uma


determinada área. Por outras palavras, sua função, incide apenas em um sector.

Ex.: OIT – Organização Internacional do Trabalho.

7
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
Segundo um âmbito Geográfico, as Organizações Internacionais, podem ser regionais
ou Globais.

Classificação das Organizações de José Cretella Neto

José Cretella Neto (p.111), nos apresenta uma classificação baseada em mais de 6
(seis) critérios, dos quais, citarei apenas alguns:

1. Critério da extensão do campo da atividade:

Neste critério, encontramos as organizações divididas em Organizações de vocação


Geral, (Universais ou Regionais), que no meu entendimento, são aquelas organizações, que
sua actuação, não está direcionada a um único sector ou área. E as Organizações de vocação
Especiais, estas, podem ser de natureza econômica ou financeira, como o FMI e o Banco
Mundial. Podem ser sociais e humanitárias, como a OMS e a OIT. Podem ser técnicas, como
a Agência Internacional para a Entrega Atômica.

O exemplo de uma Organização Geral Universal:

 Organização das Nações Unidas

O exemplo de Organizações Gerais Regionais:

 Organização dos Estados Americanos


 União Africana

2. Critério da extensão da função originada pelo tratado constitutivo:

Neste critério as organizações são divididas em organizações de cooperação (ou de


coordenação) e organizações de Integração (ou unificação). Actualmente, as organizações de
integração, como realça Neto (p.102), são as mais raras. Dentro das organizações de
cooperação, podemos citar a “Organização Mundial de Comercio” e a “Organização Mundial

8
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
de Saúde”; entre as últimas, se pode citar “ Mercosul” e a CARICOM – Caribbean
Community.

3. Critério feito em base da Sujeição

Este critério as vai dividir tendo como base a sujeição das organizações somente ao
Direito Internacional ou disciplinadas tanto pelo Direito das Gentes, quanto por alguma ordem
jurídica nacional ao mesmo tempo. Desta forma, encontramos as Organizações Dependentes e
Independentes. Dentro das organizações independentes, temos a OMC. No segundo grupo
(organizações dependentes) encontramos, a União Postal Universal.

5. Critério Baseado na Matéria sobre qual versa a Cooperação

Este critério vai dividir as organizações em dois grupos: de um deles, fazem parte as
organizações internacionais dotadas de competência geral e do outro lado, as organizações de
competência especial. No primeiro caso, o tratado constitutivo prevê a assunção de funções
que permitam promover a cooperação em tantas questões quanto se entenda necessário. No
segundo caso, o Tratado constitutivo estabelece especificamente o sector – ou sectores – em
que se desenvolverão suas atividades de cooperação.

Classificação de Faustos Quadros e André Gonçalves

Quadros, Fausto e Gonçalves, André (p.418), adoptam a classificação das Organizações


Internacionais que a maior parte da doutrina considera como as maias importantes. Esta
classificação obedece a três critérios:

 Objecto que prosseguem


 Estrutura Jurídica
 Âmbito Territorial

As organizações Internacionais quanto ao Objecto

É uma classificação que atende ao domínio material, ou seja, ao objecto, social de cada
organização aferido pelos seus próprios fins. Encontramos então, segundo este critério as

9
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
organizações dirigidas à fins Gerais e as organizações dirigidas à fins particulares ou
especiais.

As organizações dirigidas à fins gerais, são predominantemente políticas, em virtude


de a sua finalidade política constituir normalmente a cúpula de toda uma multiplicidade de
fins especiais, englobando todas estas.

As organizações dirigidas à fins especiais, visam um objetivo determinado. Podendo


elas subdividir-se, consoante as finalidades predominantes.

As organizações quanto a Estrutura Jurídica

Este critério, corresponde a estrutura jurídica das Organizações Internacionais e


concretamente à coesão interna de que se revestem, e está estreitamente dependente da
medida em que a soberania dos Estados Membros é limitada pelos poderes atribuídos à
Organização Internacional.

Este critério divide as organizações internacionais em dois grupos: as Organizações


Intergovenamentais e as Organizações Supranacionais.

As organizações intergovernamentais, não apresentam grandes dificuldades na sua


caracterização, em virtude de constituírem o tipo clássico e corrente de Organizações
Internacionais. O seu objetivo predominante é de fomentar relações multilaterais de mera
cooperação entre os sujeitos que as compõem, na esfera da atividade correspondente ao
objecto material da organização. Neste tipo de organização, não existe a princípio, limitação à
soberania dos estados membros, já que as relações que se estabelecem no seu seio são
horizontais de simples coordenação das soberanias estaduais.

As Organizações Supranacionais: o fenômeno supranacional, só é conhecido nas


relações internacionais após 2ª guerra mundial e encontra hoje seu apogeu na integração
Europeia, materializada nas três Comunidade Europeias:

 Comunidade Europeia

10
Teoria Geral Das Organizações Internacionais
 Comunidade da Energia Atômica
 Comunidade Europeia de Carvão e aço

A supranacionalidade nas comunidades Europeias ficou confessada e assumidamente


associada, desde o início do processo da integração europeia uma vocação federal, que agora
foi reforçada. Diferente das organizações tradicionais dirigidas à fins gerais, esta categoria
funda-se no princípio da limitação de soberania dos estados membros, que é resultado da
transferência de poderes soberanos dos Estados membros para as organizações.

As Organizações Internacionais quanto ao âmbito territorial

O critério que assenta esta última classificação resulta quer do número de estados de
que as organizações podem vir a ser compostas, ou seja, do número de Estados que poderão
em princípio ser membros dessas organizações, quer de maior ou menor dimensão do seu
âmbito de actuação. Teremos dessa forma:

 Organizações Para-Universais;
 Organizações Regionais;

As organizações para-universais são aquelas que em princípio poderão abarcar todos


os estados da comunidade internacional, e que, portanto, têm uma apetência, uma vocação,
pela universalidade.

Ex.: ONU e suas agências especializadas, o Gatt, o BIRD, o FMI, a OIT, etc.

As organizações Regionais, vêem o seu âmbito territorial de acção ou participação


definido restritivamente, isto é, estão abertas unicamente a um reduzido número de Estados,
definidos por requisitos geográficos ou outros.

11
Teoria Geral Das Organizações Internacionais

Conclusão

Como bem assevera Herz e Hoffman (2004, p.18), a rede de organizações


internacionais faze parte de um conjunto maior de instituições que garantem uma certa
medida de governança global. Seu caráter permanente faz com que elas se distingam de outras
formas de cooperação internacional. Nos dias de hoje, a incerteza da influência ou
transformação no sistema internacional das organizações internacionais, desvanece-se diante
de sua actuação como actor central na esfera internacional.

12
Teoria Geral Das Organizações Internacionais

Referência Bibliográfica

 Herz, Mônica e Hoffman, Andrea. Organizações Internacionais – História e


Praticas, ed. Elsevier, 2004, São Paulo.
 Material de apoio de Relações Internacionais.

13

Você também pode gostar