Você está na página 1de 7

Contextualização histórica das Organizações Internacionais

História das Organizações Internacionais


Iniciativas precoces:
• Liga de Delos (478 a. C. - 338 a. C.);
• Liga Hanseática (séculos XI – XVII);
• Propostas de cooperação (abade de Saint-Pierre; Kant, etc.).
• Hugo Grócio: o princípio do mar territorial/mar livre
• Conferências internacionais/dinâmicas de multilateralismo.
Do Sistema de Vestefália (1648) ao Congresso de Viena (1815)

◼ A transição vestefaliana é caracterizada pelo gradual desaparecimento de uma ordem onde a


autoridade política do clero e da nobreza eram centrais.
◼ Nasce uma nova ordem internacional baseada em entidades territoriais distintas e
autónomas, começando primeiro na península italiana.
◼ O abandono da ideia de criação de uma Respublica Christiana
(império cristão unificado).

Fundamentos da Paz de Vestefália


Os Estados da sociedade internacional, organizados territorialmente e com hierarquia política
interna, são soberanos.
Os Estados têm o direito de não sofrer interferências externas nos seus assuntos internos e têm
obrigação correspondente de não interferir nos assuntos internos de outros Estados (ordem entre
Estados);
Todos os Estados passaram a ser considerados iguais nos seus direitos e obrigações;
Todos os Estados soberanos têm a obrigação de respeitar os seus compromissos de forma a dar
viabilidade ao sistema internacional.

Congresso de Viena decorreu na capital austríaca entre 11 de Novembro de 1814 e 9 de


Junho de 1815, onde participaram os representantes de todos os Estados envolvidos nas
guerras napoleónicas.
Os termos da paz foram estabelecidos com a assinatura do Tratado de Paris, em 30 de
Maio de 1814, onde se estabeleciam, entre outras questões, as indemnizações a pagar
pela França aos países vencedores, depois da guerra napolitana.
Estiveram reunidos os representantes das grandes potências da época: Alexandre I, Lord
Castlereagh e Wellington, Talleyrand, Matternich e o Duque de Palmela.O Ato final do
Congresso de Viena foi assinado em 9 de Junho de 1815, por todos os representantes,
com exceção da Espanha, por causa da restituição de Olivença.
Congresso de Viena (1814-15): Restauração
Durante o Congresso foram assinados 17 Tratados, acordos e regulamentos sobre
matérias anexas. O Congresso pressupunha a restauração das antigas monarquias
absolutas diante da derrota de Napoleão.
O Congresso teve como grande resultado a criação de uma aliança entre as principais
potências da época: Áustria, Prússia, Rússia e o Reino Unido, a que se juntou
posteriormente a França derrotada.
A reorganização do mapa europeu, incluindo a divisão de poderes, funcionou como a
primeira grande experiência da história de tutela internacional, denominado Concerto
da Europa.

Em 1815, é para muitos a data de nascimento da primeira organização internacional,


embora com uma focagem regional. Foi discutida a liberdade de navegação nos rios,
que culminaria na Comissão Central do Reno.
O acordo alargou-se a outros rios europeus e mesmo africanos, por meio de
convenções internacionais.
A ideia tem duração curta porque no século XIX a força do princípio das
nacionalidades acaba com a vontade de regresso das monarquias.

Move to institutions

A sociedade internacional dos séculos XIX-XX caracterizou-se pelo move to


institutions ( Kennnedy, 1987).
Comissão Central para a Navegação do Rio Reno, criada no Congresso de Viena
(1815), é considerada a primeira OI.
A União Internacional de Telecomunicações (1865), juntamente com a União
Telegráfica Internacional e a União Postal Internacional (1874), foram igualmente
percussoras.
A maioria das OI foram criadas na segunda metade do século XX, por iniciativa,
essencialmente, dos estados, visando a cooperação em domínios específicos.

O desenvolvimento das OI indicia a consciência das limitações do sistema tradicional


de relacionamento entre estados. Passou a entender-se que a soberania não era
suficiente, os interesses dos estados exigem uma atenção e procura de ordem
internacional, atendendo aos seus direitos, restrições, responsabilidades e
obrigações.
O controlo da conflitualidade (criação de mecanismos de resolução) estava no centro
das preocupações dos estados, desta forma verificou-se uma crescente mobilização
na procura de possibilidades de cooperação (em grande medida associado à também
às questões de desenvolvimento industrial e tecnológico).

O período entre guerras centrou-se no entusiasmo na questão da “governação


mundial”, acompanhando também a evolução das regras de direito internacional e a
própria área das relações internacionais, particularmente nos Estados Unidos.
Cresce o interesse e nas OI, focalizando-se em aspetos diversos como a génese,
evolução, características técnico-formais e normativas. Há uma evidente influência da
corrente idealista em todo este processo, incluindo a crença nos mecanismos coletivos
de tomada de decisões, da segurança coletiva (através da Sociedade das Nações
e do uso do direito internacional.

Neste processo, surge o conceito de interesse geral de política pública internacional, o


que implica uma expansão de jurisdição internacional.
Neste sentido, as OI são o resultado da progressiva “institucionalização” de um mundo
de crescentes conexões e fluxos que exige “hábitos de organização
internacional”. Esta organização internacional reflete a necessidade crescente de
práticas cooperativas entre estados num mundo considerado “anárquico”.

No período entre guerras, o estudo das RI centra-se nos aspetos de criação de


instituições internacionais. A literatura era descritiva (focando a génese, a evolução
das OI e os enquadramentos formais-legais das instituições) e normativa (incluindo
propostas para melhorar as instituições e na área da segurança coletiva e do governo
mundial). Esta foi a fase do predomínio teórico da corrente idealista: uma crença nos
mecanismos coletivos de tomada de decisões, pelo primado do direito internacional,
assentes na “segurança coletiva” e corporizados na sociedade das nações.

Século XIX
Clausewitz interpreta a guerra como um instrumento fundamental da Política;
Pouco empenho na procura de soluções para a paz/século relativamente pacífico;
Exaltações nacionalistas/exércitos profissionalizados; O primado do interesse
nacional, soberania e proliferação da “diplomacia secreta”

Antecedentes: as conferências de Paz em Haia


Duas Conferências da Paz realizadas em Haia (1899 e 1907), inovadoras no campo
da diplomacia e das relações internacionais;
Foram conferências multilaterais, antes da guerra, motivadas por movimentos
pacifistas que se organizaram no âmbito da sociedade civil,
em reação às perdas humanas resultantes da guerra e muito potenciadas pela
novação tecnológica;

Envolvimento da sociedade civil, com carácter aberto das sessões, e com relevante
cobertura jornalística, sendo valorizada a aplicação do princípio igualitário de um voto
por cada delegação.
A Conferência de 1899 criou os precedentes a partir dos quais subsequentemente
passaram a ser na prática diplomática das conferências multilaterais: um sistema de
comissões para organizar os trabalhos e reportá-los ao plenário, uma comissão de
redação e um Acto Final.
Criação de novos mecanismos para a resolução pacífica de conflitos, incluindo
restrições à ação militar e criação de normas multilaterais para regular as relações
internacionais. Esta experiência viria depois a ser desenvolvida no seio da Sociedade
das Nações, com a criação de um “Tribunal Permanente de Justiça Internacional”,
bem como, mais tarde, após a II Guerra Mundial, a Carta das Nações Unidas viria a
consagrar a existência do “Tribunal Internacional de Justiça” (art.92).

A Guerra – A Grande Ilusão (1910)


Norman Angell escreveu em 1910 o livro The Great Illusion, defendendo a ideia de que
a guerra como vantagem material face às dificuldades de ganhos no comércio não tem
sentido; «Está-se admitindo de um modo bastante geral que a luta atual dos
armamentos na Europa – principalmente o que se põe neste momento em presença
da Inglaterra e a Alemanha – não pode continuar indefinidamente sob a sua forma
presente» Em 1933, um ano de “novas emergências politicas na Europa”, recebeu o
Prémio Nobel da Paz. Foi membro do comité executivo da Liga das Nações e do
Conselho Nacional da Paz.

Immanuel Kant- A paz perpetua


Uma ideia “revolucionária” (herdada do abade de Saint-Pierre) para alterar o modelo
de sociedade dividida em estado nação rivais por uma sociedade onde reina uma
ordem mundial. Esta ordem supõe a aceitação de uma ideologia política e de uma
cultura comuns, a introdução de um sistema capaz de satisfazer as necessidades
idênticas dos povos, uma configuração de unidades políticas, sem soberania absoluta
e o estabelecimento de um estatuto político da humanidade (constituição planetária).

A imagem idealista do mundo


A conceção idealista (herança kantiana: pela federação de estados e no recurso à
razão na procura da paz) visa a transformação do sistema internacional (estruturação
do mundo) pelo estabelecimento de condições para a criação de uma paz perpétua.
A guerra é a maior ameaça à sociedade internacional, pelo que se torna necessário o
estabelecimento de uma ordem internacional justa e racional onde a paz seja
preservada.

Uma organização política internacional: uma herança idealista


A ideia de formar uma organização internacional com fins políticos, sendo
antiga no espírito dos teóricos e dos autores do sistema (espírito idealista), é
relativamente recente.
Apenas se concretizou após a Primeira Guerra Mundial, sob a designação de
Sociedade das Nações. Esta organização foi criada pelos primeiros 26 artigos contidos
do Tratado de Versalhes.

14 Pontos essenciais de Wilson ao Congresso ( 8 de janeiro de 1918)

1. Exigência da eliminação da diplomacia secreta, a favor de uma diplomacia aberta


baseada em acordos públicos;
2. Liberdade de navegação nos mares e águas fora do território nacional;
3. Abolição das barreiras económicas entre os países e o estabelecimento de
princípios de igualdade comercial;
4. Redução/controle dos armamentos nacionais;
5. Redefinição da política colonial (imparcial), levando em consideração o interesse
dos povos colonizados;
6. Retirada dos exércitos do território russo;
7. Restauração da independência/soberania da Bélgica ;
8. Restituição da Alsácia e Lorena à França;
9. Reformulação das fronteiras italianas;
10.Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autónomo dos povos da Áustria -
Hungria;
11.Retirada das tropas estrangeiras da Roménia, da Sérvia e de Montenegro,
restauração dos territórios invadidos e o direito de acesso ao mar para a Sérvia;
12.Reconhecimento da autonomia da Turquia e abertura permanente dos estreitos que
ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo;
13.Independência da Polónia;
14.Criação da Sociedade das Nações.

Segurança coletiva: A ideia de segurança coletiva, de modo simples, é a de que a


agressão pode ser melhor contida ou limitada perante a ação ao conjunta de um
número de Estados. Sugere que os Estados, desde que se comprometam a defender-
se mutuamente.
A Sociedade das Nações (1919)
Woodrow Wilson e Lord Cecil (diplomata britânico), conceberam a Liga das Nações
como uma expressão da “opinião organizada da humanidade, controlando o poder
económico e militar dos governos” As premissas da Liga eram inovadoras. A guerra
era vista como o último recurso, juridicamente legítimo, em controvérsias
internacionais. Em contraste com o conceito tradicional da realpolitik, como uma
continuação natural da política por outros meios.
As guerras que não seguissem os procedimentos legais de solução pacífica da SDN
seriam consideradas ilegítimas, um ato de agressão contra toda a comunidade
internacional.

A opinião pública internacional era o supremo instrumento de poder, trabalhada por


uma propaganda internacional que fazia alusão à paz e ao desarmamento.
Reúne-se pela primeira vez em Genebra, em 6 de janeiro de 1920, com 47 Estados-
membros
Trata-se de uma associação de governos, um organismo internacional e um modo de
organização da vida diplomática.
Qualquer Estado, domínio, colónia que se governe livremente pode tornar-se membro
da sociedade. A organização exprime a igualdade de direitos e obrigações entre todos
os participantes.

A SDN nunca foi verdadeiramente universal, faltando-lhe a participação dos EUA.


Para conciliar a sua eficácia, o Pacto prevê a constituição de um Conselho formado
pelas cinco potências vitoriosas: Império Britânico, EUA, França, Itália, Japão e por
quatro membros designados pela Assembleia.
Surgiram muitos organismos especializados encarregados das grandes problemáticas
que se colocam ao mundo.
A SDN apresentou-se sem estrutura jurídica, nem capacidade política suficiente para
responder às preocupações apresentadas pelo Presidente Wilson.

Objetivos da SDN
A ação da Sociedade das Nações devia tender fundamentalmente para a prevenção
da paz. Neste sentido, o Pacto previa:
a) A redução dos armamentos ao mínimo compatível com a segurança nacional e o
cumprimento das obrigações internacionais;
a) O compromisso de todos os membros respeitarem e manterem a integridade e a
independência uns dos outros e o dever do Conselho de tomar as medidas
necessárias em caso de ameaça à paz ou de agressão;
c) A sujeição dos litígios internacionais a decisão arbitral, judicial ou da SDN, ficando
proibida guerra antes de expirado o prazo de três anos após a decisão e contra
qualquer das partes que se conformassem com as conclusões do relatório do
Conselho aprovado por unanimidade;
d) A precisão de medidas económicas, diplomáticas e militares por parte dos demais
Estados contra qualquer Estado que ilicitamente tivesse feito a guerra;
e) O registo e a revisão dos tratados.

Objetivos e estrutura da SDN


Na essência, a Sociedade das Nações é um projeto de “segurança coletiva”, que
prevê a intervenção quase automática de todos os membros contra um possível
agressor.
Neste prisma, os estados nacionais alargam a sua conceção de interesse nacional, ao
ponto de puderem usar os seus meios militares em causas que não lhe dizem
diretamente respeito.
A estrutura da nova organização é semelhante às organizações técnicas: assembleia,
conselho, secretariado.

A partilha das zonas de influência dos vencedores é sistematicamente organizada pelo


sistema de mandatos – artigos 22 e 23o - e a menção das doutrina Monroe, que faz da
América Latina uma zona reservada dos Estados Unidos no artigo 21o, O QUE
IMPLICA A IGNORÂNCIA DO DIREITO DOS POVOS À AUTODETERMINAÇÃO.
A organização compreende um Conselho, composto por 5 membros permanentes e 5
não permanentes, uma Assembleia composta por 54 membros e 6 comissões, e um
número considerável de comités intergovernamentais ou de peritos. O número de
funcionários era baixo, cerca de 670 pessoas.

Uma Assembleia-Geral (Genebra); Aliados, com 13 estados neutros e novos


aderentes, admitidos por maioria de dois terços (maioria qualificada);
Os vencidos são provisoriamente excluídos da SDN (Alemanha), e a Rússia não é
convidada; Um Conselho de cinco membros permanentes – Estados Unidos, França,
Itália, Japão e Reino Unido – e de quatro membros não permanentes e um
secretariado tratam da preparação e da execução das decisões da Assembleia.

Portugal na Sociedade das Nações Em 10 de Janeiro de 1920 entra em vigor o Pacto


da Sociedade das Nações simultaneamente com o Tratado de Paz de Versailles;
Portugal foi membro fundador da Sociedade das Nações (SDN), tendo assinado o
Pacto em Sèvres em 10 de Agosto de 1920; Em 2 de Abril de 1921 ratificação do
Pacto constitutivo da Sociedade das Nações
(Diário do Governo, I série, no 67).

Fragilidades (1919-1946)
• A SDN desintegrou-se em pouco tempo. Apesar de alguns sucessos, a
organização ficaria abalada com a invasão da Manchúria pelo Japão, em 1931;
a conquista da Etiópia (1935) e da Albânia (1938) pela Itália e da Alemanha na
circunvizinhança. Em consonância, emergem movimentos nacionalistas e os
totalitarismos.
• A redução dos armamentos está prevista, mas não se menciona o mecanismo
de controlo mútuo. Os países temiam ficar sem capacidade de defesa;
• Do ponto de vista formal, não passou de uma espécie de concerto diplomático
de Estados soberanos;
• Falta de poderes vinculativos e coercivos do Conselho, não passando de um
órgão de mediação;
• A exclusão originária dos vencidos de 1918;
• A ausência dos EUA (Pacto não ratificado);
• O excessivo peso do bloco anglo-francês.

Razões para o fracasso


➢ Os artigos do Pacto não estabeleciam a obrigação explícita de cada Estado-
membro participar na contenção de um possível ato de agressão;
➢ A SDN “não tinha dentes” (no teeth), no sentido em que não tinha as forças
armadas que lhe permitissem intervir de forma direta (exercer pressão);
➢ A regra da unanimidade para a tomada de decisões no âmbito do Conselho
➢ da SDN não funcionava;
➢ Persistência dos conflitos armados e muitas nações nunca integraram o
➢ projeto, particularmente os EUA.

Sucessos e fracassos da Sociedade das Nações (1919-1946)


1919 (28 de junho) – Assinatura do Tratado de Versalhes, cujo preâmbulo
contém o Pacto da SDN.
1920-1921 – A SDN encontra uma saída para o conflito que opõe a Suécia e a
Finlândia a propósito das ilhas de Aland.
1920 – Não ratificação do Tratado de Versalhes pelo Congresso americano.
1921 – Criação do Alto-Comissariado para os Refugiados.
1921-1922 – A SDN consegue estabelecer a partilha da Alta Silésia entre a
Alemanha e a Polónia.
1923 - A SDN é incapaz de encontrar uma saída para a crise que opõe a Itália e a
Grécia a propósito de Corfu (Grécia aceitou posteriormente a posição italiana).
1923-1924 – A SDN não consegue impedir a ocupação da bacia do Ruhr (zona
mineira alemã) pelas tropas franco-belgas para reivindicar o pagamento das
reparações de guerra.
1925 – A SDN resolve o conflito fronteiriço entre a Grécia e a Bulgária.
1926 – Admissão da Alemanha como membro permanente da SDN.
1933 – Saída do Japão da SDN.
1935 – Agressão da Itália contra a Etiópia, membro da SDN.
1936-1939 – Guerra Civil de Espanha.
1937 – Invasão da China pelo Japão.
1939 – Início da Segunda Guerra Mundial.

Você também pode gostar