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História A – Módulo 8

1. Nascimento e afirmação de um novo quadro geopolítico

O segundo pós-guerra vê nascer uma nova ordem internacional. Transformados em superpotências


(elevaram-se a esta condição porque venceram a guerra), os Estados Unidos e a União Soviética procuram
estender a sua influência e assumem uma rivalidade declarada. O terror de um novo conflito, de proporções
gigantescas, volta a ensombrar o mundo – a 2ª Guerra Mundial.

Na verdade, mais do que as ambições geoestratégicas dos dois países, confrontam-se duas ideologias e duas
formas de vida opostas: de um lado, o modelo capitalista, defensor do multipartidarismo e da economia de
mercado; do outro, o modelo socialista, escudado na democracia popular e na economia planificada.

Neste mundo bipolar, os velhos impérios chegam ao fim. Na Ásia, no Médio Oriente e na África, os povos
colonizados rebelam-se contra o domínio estrangeiro, que há séculos os oprime. Ganham independência
política, fazem-se ouvir nas instâncias internacionais, mas dificilmente encontram meios para vencer a
pobreza e o subdesenvolvimento.

Entretanto, afirmam-se novas potências: o Japão, a China maoista e uma Europa finalmente unida adquirem
um protagonismo crescente na cena internacional.

O nascimento de uma nova ordem internacional

A 2ª Guerra Mundial alterou de forma profunda o equilíbrio de forças nas relações internacionais.

ü Alemanha e o Japão (antigas potências) – saíram do conflito vencidas e humilhadas


ü Reino Unido e a França – embora vitoriosas, viram-se empobrecidas e dependentes da ajuda
externa
ü Estados Unidos e a União Soviética – elevam-se à condição de superpotências mundiais

As conferências interaliadas

Quando o ano de 1942 se iniciou, o Reino Unido, a França e os restantes países que lutavam contra os
exércitos do Eixo tinham razão para estar confiantes. Contavam, agora, com dois importantes aliados: a
URSS, que a invasão nazi trouxera para a cena de guerra; e os Estados Unidos, envolvidos no conflito pelo
recente ataque japonês a Pearl Harbor.

Esta nova relação de forças desencadeou uma série de conferências interaliadas, com o fim de delinear
estratégias de guerra e de estabelecer os princípios que deveriam nortear a paz. Com a França ocupada,
estas conferências foram, a partir de 1943, protagonizadas pelos "Três Grandes": os Estados Unidos, a União
Soviética e o Reino Unido.

A conferência de Ialta

Data: Fevereiro de 1945


Local: Ialta (território soviético) – estância balnear – margens do Mar Negro
Objetivo: estabelecer regras que sustentem uma nova ordem internacional no pós-guerra, ou seja, diretrizes
para o tempo de paz.
Participação: Estados Unidos (Roosevelt), Reino Unido (Churchill) e União Soviética (Estaline).
ü Definiu-se a fronteira entre a Polónia e a União Soviética, até então ponto de discórdia entre os
ocidentais e os soviéticos;
ü Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de ocupação, geridas pelas três
potências conferencistas e pela França, sob coordenação de um Conselho Aliado;
ü Decidiu-se a reunião, num futuro próximo, da conferência preparatória da Organização das Nações
Unidas;
ü Estipulou-se o supervisionamento dos "três grandes" na futura constituição dos Governos dos países
de Leste (ocupados pelo Eixo), com base no respeito pela vontade política das populações;
ü Estabeleceu-se a quantia de 20 mil milhões de dólares, proposta por Estaline, como base das
reparações da guerra a pagar pela Alemanha;
ü Acordo tácito (permitir a possibilidade) do estabelecimento de zonas de influência capitalista e
comunista.

A conferência de Potsdam

Data: Julho de 1945


Local: Potsdam, junto de Berlim
Objetivo: consolidar os alicerces da paz, ou seja, retificar e pormenorizar os aspetos já acordados em Ialta.
Participação: Estados Unidos (Roosevelt), Reino Unido (Churchill) e União Soviética (Estaline).

A Conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de lalta. Vencida a Alemanha,
renasciam as desconfianças face ao regime comunista, que Estaline representava, e às suas pretensões
expansionistas na Europa.

Assim, a conferência limitou-se praticamente a pormenorizar os aspetos já acordados em lalta:

ü A perda provisória de soberania da Alemanha e a sua divisão em


quatro áreas de ocupação;
ü A administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida
em quatro setores de ocupação;
ü O montante e o tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
ü O julgamento dos criminosos de guerra nazis por um tribunal
internacional – Nuremberga;
ü A divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes
semelhantes aos estabelecidos para a Alemanha.

Na imagem está representada a divisão da Alemanha em quatro partes,


ocupadas pela França, URSS, EUA e pelo Reino Unido, bem como Berlim.

Os anos que se seguiram, o clima de tensão que marcou a reunião de Potsdam não se desvaneceu, a despeito
dos ideais de concórdia e fraternidade que inspiraram o nascimento da Organização das Nações Unidas.

A Organização das Nações Unidas

A ideia de uma organização internacional que velasse pela paz e pela segurança resistiu ao fracasso da
Sociedade das Nações. Durante as cimeiras da "Grande Aliança", a criação desta organização ficou decidida
na Conferência de Teerão (1943), ratificada na Conferência de Ialta (1945) e concretizada na Conferência de
São Francisco (1945). Assinaram a Carta das Nações Unidas 51 países!

Segundo a Carta fundadora, as Nações Unidas têm como propósitos principais:


ü Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando, tanto quanto possível, meios pacíficos, de
acordo com os princípios da justiça e do direito internacional.
ü Desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseadas na igualdade entre os povos
e no seu direito à autodeterminação.
ü Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural, e promover a
defesa dos Direitos Humanos.
ü Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes propósitos.

Sob o impacto do Holocausto e disposta a impedir, no futuro, as atrocidades cometidas durante a Segunda
Guerra Mundial, a ONU tomou uma feição profundamente humanista que foi reforçada pela aprovação, em
1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que passou a integrar os documentos fundamentais
das Nações Unidas.

Órgãos de funcionamento

A Carta das Nações Unidas definiu também os órgãos básicos de funcionamento da instituição:

ü A Assembleia Geral, no qual têm assento todos os Estados-membros, com direito a 1 voto por
Estado-membro. Funciona como um verdadeiro parlamento mundial e pode colocar na sua agenda
todo o tipo de questões.
ü O Conselho de Segurança, diretamente responsável pela manutenção da paz. É composto por 15
membros: 10 que são eleitos por 2 anos e 5 permanentes: EUA, a Rússia, o Reino Unido, a China e a
França. Estes "cinco grandes" têm direito de veto, pelo que qualquer um deles pode inviabilizar uma
tomada de decisão.
ü O Secretariado-Geral, à frente do qual se encontra o secretário-geral, eleito pela Assembleia, por
proposta do Conselho de Segurança, durante 5 anos. Coordena toda a instituição e presta os seus
"bons serviços" diplomáticos nas questões mais delicadas. O secretário-geral representa a ONU e,
com ela, todos os povos do mundo. Atualmente é português: António Guterres.
ü O Conselho Económico e Social, encarregado de promover a cooperação a nível económico, social e
cultural. Pelos muitos organismos que dele dependem é um dos órgãos mais importantes e ativos da
ONU. São eleitos 54 membros por 2 anos.
ü O Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia. Resolve, à luz do direito internacional, os
litígios entre os Estados por 15 juízes.
ü O Conselho de Tutela, ao qual foi atribuída a administração dos territórios que se encontravam à
guarda da extinta SDN (aos mesmos membros permanentes do Conselho de Segurança). Em 1994,
com a independência do Palau, consideraram-se cumpridos os objetivos deste órgão, pelo que
cessou o seu funcionamento permanente.

Desde a sua fundação, há cerca de oito décadas, que a ONU tem desempenhado um papel relevante na
história do mundo. Se é verdade que não foi capaz de manter a paz e a concórdia entre as nações, a sua
atuação militar (capacetes azuis) tem protegido os mais fracos, esforçando-se por evitar violências e
massacres. No entanto, os maiores êxitos das Nações Unidas têm sido levados a cabo pelos muitos
organismos especializados que criou e que atuam a nível global. Quem nunca ouviu falar da OMS, da UNICEF
ou da UNESCO?

A emergência de um mundo bipolar

A expansão do comunismo na Europa

A URSS com a guerra tem consideráveis ganhos territoriais e um enorme protagonismo internacional!
O isolamento a que os ocidentais tinham votado o grande país comunista quebrara-se definitivamente.
Dentro da Europa, o papel da União Soviética adivinhava-se determinante. No último ano do conflito, na sua
marcha vitoriosa até Berlim, coubera ao Exército Vermelho a libertação dos países da Europa Oriental. Na
Polónia, na Checoslováquia, na Hungria, na Roménia e na Bulgária, os soldados russos tinham substituído os
ocupantes nazis. A URSS detinha, assim, uma clara vantagem estratégica no Leste Europeu.

Embora os acordos de lalta previssem o respeito pela vontade dos povos, expressa em eleições livres
supervisionadas pelas três potências, na prática tornava-se impossível contrariar a hegemonia soviética, que
não tardou a impor-se: entre 1946 e 1948, todos os países libertados pelo Exército Vermelho se tornaram
estados socialistas.

A extensão do comunismo no Leste europeu foi, de imediato, contestada pelos ocidentais. Logo em março
de 1946, Churchill denuncia publicamente, num discurso proferido na Universidade de Fulton (Missouri), a
criação, por parte da URSS, de uma área de influência impenetrável, isolada do Ocidente por uma "cortina
de ferro". O discurso alertou a comunidade internacional para as desavenças entre os antigos Aliados.

Menos de um ano passado sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, o alargamento da influência soviética
desencadeava um novo medir de forças, desta vez entre o mundo comunista e o mundo capitalista.

A rutura: a Doutrina Truman e o Plano Marshall

Se irreversível, a extensão da influência soviética na Europa parecia, aos ocidentais, inaceitável. O seu
dinamismo constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal, ameaça essa que era preciso conter. Um
ano passado sobre o alerta de Churchill, os Estados Unidos assumem, frontalmente, a liderança da oposição
aos avanços do socialismo.

Doutrina de Truman

Num discurso histórico, o presidente Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas
antagónicos: um baseado na liberdade; o outro na opressão. Aos americanos competiria, perante o
enfraquecimento da Europa, liderar o mundo livre e auxiliá-lo na contenção do comunismo.
Além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava também clara a
necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.

As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas devido à guerra. As ajudas de emergência,
prestadas pelos Estados Unidos nos primeiros dois anos do pós-guerra, só tinham acudido às necessidades
mais prementes. O rigoroso inverno de 1946-47 agravara ainda mais as situações de miséria da Europa,
criando um clima político instável, em tudo propício à difusão das ideias de igualdade e justiça social do
marxismo.

É neste contexto que o secretário de Estado americano George Marshall anuncia, em junho de 1947, um
gigantesco plano de ajuda económica à Europa, o European Recovery Plan (ERP). Conhecido como Plano
Marshall, este auxílio foi acolhido com entusiasmo pela generalidade dos países europeus, que, assim, viram
reforçados os laços que os uniam aos EUA.

O Plano Marshall foi formalmente oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se encontravam já sob
influência soviética, mas depois de breves negociações, Moscovo classifica a ajuda americana de "manobra
imperialista" e impede os países sob sua influência de a aceitarem.

Os países que aderiram ao Plano Marshall vão formar a Organização Europeia da Cooperação Económica
(OECE) que em 1960 se vai transformar na OCDE. Foi também através do Plano Marshall que se aprofundou
a divisão da Europa, entre os países que beneficiaram da ajuda norte-americana e aqueles que a recusaram.

Alguns meses passados sobre a Doutrina Truman e o anúncio do Plano Marshall, os soviéticos formalizam,
por sua vez, a rutura entre as duas potências.

Teoria de Jdanov

Perante as delegações dos partidos comunistas europeus, Jdanov fala de um mundo dividido em dois
sistemas contrários: um, imperialista e antidemocrático, é liderado pelos Estados Unidos; o outro, em que
reina a democracia e a fraternidade entre os povos, corresponde ao mundo socialista. Lidera-o a União
Soviética.

É a teoria de Jdanov, e não só, que vai marcar o início da Guerra Fria!

Em janeiro de 1949, Moscovo "responde" também ao Plano Marshall, lançando o Plano Molotov, que
estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental.

Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), instituição
destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da União Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall (OECE) e os países do COMECON funcionaram como áreas
transnacionais, coesas e distintas uma da outra.

Deste modo, a divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal como se consolidou a
liderança das duas superpotências.

A consolidação de um mundo bipolar: a Guerra Fria

A questão alemã

O clima de desentendimento e de hostilidade entre os antigos Aliados refletiu-se de imediato na gestão


conjunta do território alemão, dividido e ocupado pelas quatro potências vencedoras.
ü A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que Ingleses e Americanos olhassem para
a Alemanha, não já como o inimigo vencido, mas como um aliado imprescindível à contenção do
avanço soviético. O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os Americanos!

Problema: Gestão conjunta das 4 potências em Berlim, pois encontrava-se repartida por 4 setores, sendo
um deles pertencente à URSS. E, além disso, situava-se no coração da área soviética mas estava ocupada por
forças francesas, inglesas e americanas.

Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os acessos
terrestres à cidade. Depois de alguns dias de intenso dramatismo, o presidente Truman decide abastecer a
cidade através de uma gigantesca ponte aérea.

*1948 a 1949: Bloqueio de Berlim

A situação de bloqueio durou praticamente um ano, findo o qual os Soviéticos aceitaram restabelecer as
ligações terrestres aos setores ocidentais da cidade. Foi um primeiro medir de forças entre as duas
superpotências, durante o qual se desmoronaram por inteiro os acordos de uma gestão conjunta de Berlim
e da Alemanha, assumidos em Potsdam.

Em 1949, quando se respirava de alívio pelo fim do bloqueio, o mundo via nascer dois Estados alemães
separados e rivais:

ü Os setores anteriormente ocupados pelas 3 potências ocidentais (França, EUA e Reino Unido)
formam a RFA (República Federal Alemã) – capital Bona.

ü Deste modo, a URSS protesta e considera uma clara violação dos tratados, criando na sua zona de
ocupação: a RDA (República Democrática Alemã) – capital Berlim.

Encravada na RDA, Berlim permaneceu sempre no centro da discórdia. Por isso em 1961 os soviéticos
erguem um muro que irá separar os 2 setores da cidade – o Muro de Berlim. O intuito era impedir a fuga
das populações e marcar a separação blocos. Ficou conhecido por ser o “muro da vergonha” e foi o símbolo
da divisão do mundo em dois blocos antagónico e da Guerra Fria. A divisão estava consumada e as
rivalidades assumidas.

*1961: construção do Muro de Berlim, pelos soviéticos

A constituição de dois blocos antagónicos

O bloco americano

Uma vez enunciada a doutrina Truman, os Estados Unidos empenharam-se por todos os meios na contenção
do comunismo. O Plano Marshall foi o primeiro grande passo nesse sentido:

ü permitiu a reconstrução da economia europeia em moldes capitalistas;


ü estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus "benfeitores" Americanos.

Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou também a oficializar-se. A tensão
provocada pelo Bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do
Atlântico Norte, firmado entre os Estados Unidos, o Canadá e dez nações europeias.
A operacionalização deste tratado deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN (ou
NATO, sigla inglesa), talvez a mais importante organização militar do pós-guerra, que se tornou um símbolo
do bloco ocidental.

O pacto da OTAN é bem demonstrativo da desconfiança que então impregnava as relações internacionais.
Os seus membros fundadores consideram-se ligados por uma "herança civilizacional comum", cuja
preservação exige o desenvolvimento da "capacidade individual ou coletiva de resistir a um ataque armado".

A aliança apresenta-se, assim, como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um
inimigo que, embora não se nomeie, está omnipresente: a União Soviética e tudo o que, para o mundo
ocidental, ela representa. Esta sensação de ameaça e a ânsia em consolidar a sua área de influência
lançaram os EUA numa autêntica "pactomania" que os levou a constituir um vasto leque de alianças um
pouco por todo o mundo.

Além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais na América, na Oceânia, no Sudeste Asiático, no Médio
Oriente. Estas alianças foram complementadas com diversos acordos de carácter político e económico, de
tal modo que, em 1959, três quartos do mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.

O bloco soviético

Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no mundo apenas dois países comunistas:
a URSS e a Mongólia. Entre 1945 e 1949, o comunismo implanta-se na Europa Oriental, na Coreia do Norte
e na imensa extensão da China. Nos anos 50 e 60, continua o seu progresso na Ásia (Vietname do Norte,
Camboja, Birmânia) e encontra em Cuba, mesmo à porta dos Estados Unidos, um novo posto avançado.
Finalmente, na década de 70, ganha novos países asiáticos e estende-se à África.

Tanto pelo seu poderio como pelo papel pioneiro na implantação do comunismo, a URSS assumiu a liderança
deste novo mundo. Na Europa, a rejeição do Plano Marshall coincidiu com o reforço da coesão militar entre
os países comunistas.

Após uma série de acordos bilaterais, a URSS e os seus países-satélite do Leste Europeu assinaram, em 1955,
o Pacto de Varsóvia, aliança que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto de
Varsóvia constituiu uma organização militar diametralmente oposta à OTAN, simbolizando as duas
coligações o antagonismo militar entre as duas superpotências.

Na Ásia, a ocupação da Coreia pelos exércitos soviético e americano, no fim da Segunda Guerra Mundial,
conduziu à divisão do país em dois Estados:

ü a norte, a República Popular da Coreia, apoiada pela URSS: comunista;


ü a sul, a República Democrática da Coreia, apoiada pelos Estados Unidos: capitalista.

Nas restantes regiões do Sudeste Asiático, a URSS apoiou os movimentos revolucionários nacionais, com os
quais celebrou tratados de amizade e cooperação. Tal foi o caso da China, onde, em 1949, Mao Tsé-Tung
proclamou a instauração de uma república popular.

Nas décadas de 60 e 70, a influência soviética penetrou, como dissemos, na América Latina, onde Cuba se
tornou um baluarte comunista, e consolidou-se em África, através de países como Angola e Moçambique,
que, na sequência da descolonização portuguesa, implantaram regimes socialistas.
A Guerra Fria

O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até à extinção da URSS (1991).
Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade
e insegurança que deixou o mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que
designamos por Guerra Fria.

A Guerra Fria configurou um tipo de conflito completamente novo e lutou-se de múltiplas formas. Destaca-
se algumas características desta guerra como:

ü A constituição de blocos e áreas de influência. Cada uma das superpotências procurava ampliar o
número dos seus aliados, impedindo que outras nações alinhassem com o lado contrário. Com este
objetivo, tanto os EUA como a URSS alimentaram numerosos conflitos, apoiando o lado que lhes era
afeto. As guerras da Coreia e do Vietname, as guerrilhas da Nicarágua e El Salvador, a consolidação
do regime de Fidel Castro em Cuba ou o derrube do governo de Salvador Allende no Chile, são apenas
alguns exemplos;

ü A instilação de sentimentos de medo e ódio ao lado contrário, através de uma máquina de


propaganda gigantesca. Esta verdadeira diabolização do outro foi uma das características mais
sentidas pelo cidadão comum, imputando ao inimigo as mais sinistras intenções;

ü O reforço da atuação dos serviços secretos e a constituição de redes de espionagem mútua. A CIA,
do lado americano, e o KGB, do lado soviético, ganharam um enorme protagonismo e, neste clima,
novelas e filmes de espiões alcançaram grande sucesso e reforçaram a máquina de propaganda;

ü Uma corrida ao armamento de proporções gigantescas, que incutiu nas populações o terror de uma
guerra nuclear e colocou o mundo à beira da destruição global;

ü A demonstração da superioridade do respetivo regime, junto da opinião pública mundial, de forma


a ganhar admiração das populações. Esta característica viveu-se de forma intensa no desporto, por
exemplo - os Jogos Olímpicos e os seus medalhados foram, neste campo, um palco privilegiado - mas,
sobretudo, impulsionou a corrida espacial que, nas décadas 50 e 60, alimentou o orgulho das duas
superpotências.

A escalada armamentista

Além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os dois blocos procuraram apetrechar-
se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico de armamento cada vez mais
sofisticado.

Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos sentiam-se


protegidos por uma evidente superioridade técnica.
Só eles tinham o segredo da bomba atómica, que consideravam a sua
melhor defesa.
Quando, em setembro de 1949, os Russos fizeram explodir a sua
primeira bomba atómica, a confiança do Ocidente desmoronou-se.

*setembro de 1949: dá-se o inicio da escalada armamentista, devido à explosão da bomba atómica russa

De imediato, os cientistas americanos incrementaram as pesquisas de uma arma ainda mais destrutiva: em
1952, testava-se, no Pacífico, a primeira bomba de hidrogénio - a bomba H - com uma potência mil vezes
superior à bomba de Hiroxima. A corrida ao armamento tinha começado. No ano seguinte, os Russos
possuíam também a bomba de hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as duas superpotências à produção
maciça de armamento nuclear.

*1952: primeira bomba de hidrogénio, pelos americanos – Bomba H


*1953: os russos criaram também a sua bomba de hidrogénio

Embora o carácter revolucionário deste novo rearmamento se encontre na produção de bombas atómicas
e no desenvolvimento de mísseis de longo alcance para as lançar, o mundo viu também multiplicarem-se
as armas ditas "convencionais".

Nos três anos em que se travou a Guerra da Coreia, o orçamento dos Estados Unidos para a defesa mais do
que triplicou, tal como triplicaram, também, as suas forças terrestres. O investimento ocidental nas armas
convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual estratégia por parte da URSS.

Política de dissuasão
O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma característica nova: a dissuasão.
Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em
caso de violação das respetivas áreas de influência. Advertências, ameaças, movimentações de tropas e
material de guerra faziam parte desta estratégia dissuasora, que a natureza apocalíptica de um confronto
nuclear tornou eficaz.

O mundo, ameaçado de destruição, tinha resvalado, nas palavras de Churchill, para o


"equilíbrio instável do terror"

Um dos momentos mais tensos desta escalada viveu-se em 1962, quando aviões americanos obtiveram
provas fotográficas da instalação, em Cuba, de mísseis russos de médio alcance, capazes de atingir o
território americano. A exigência firme de retirada dos mísseis feita pelo presidente Kennedy coloca o
mundo perante a iminência de uma guerra nuclear entre as duas super-potências. Felizmente, a crise acaba
por se resolver com cedências mútuas:

ü A URSS aceita retirar os mísseis;


ü Os Estados Unidos comprometem-se a não tentar derrubar o regime comunista cubano e a retirar
os mísseis americanos estacionados na Turquia.

No início dos anos 70, esforços tímidos de contenção da corrida ao armamento levam a conversações entre
as duas superpotências. Mas ainda a década não tinha acabado e um novo endurecimento militar colocava
na Europa os novos mísseis soviéticos SS 20 e, pouco depois, os mísseis americanos Pershing II, ambos
apontados à área de influência do inimigo.

O início da era espacial

A rivalidade entre as duas superpotências manifestou-se também na conquista do Espaço.

*outubro de 1957: a URSS conseguiu colocar em órbita o primeiro satélite artificial da História, o Sputnik 1.
*novembro de 1957: a URSS lançou o Sputnik 2, levando a bordo a cadela Laika, que se tornou o primeiro
viajante espacial.

Face a estes sucessos, a consternação dos Americanos, que até aí tinham considerado a URSS
tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa, anteciparam o lançamento do
seu próprio satélite, mas a experiência foi um fiasco. Só no início de 1958, com o lançamento do Explorer 1,
a América efetivaria a sua entrada na corrida espacial.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações. Nos primeiros
tempos, os Soviéticos mantiveram a liderança. E

*1961: o russo Yuri Gagarin o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre
*1969: os americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin foram os primeiros homens a pisar a Lua – Apolo 11

Quando a humanidade realizou, finalmente, o sonho improvável de chegar à Lua, tornou-se evidente que o
desenvolvimento tecnológico tinha alcançado uma etapa superior. Mas também se tornou evidente que
essa mesma tecnologia estava a ser utilizada para a construção de armas capazes de aniquilar toda a
humanidade.

O mundo capitalista e o mundo comunista

Mais do que as ambições das duas superpotências, nos anos da Guerra Fria confrontaram-se duas conceções
opostas de organização política, vida económica e estruturação social: de um lado, o modelo capitalista e
liberal, assente sobre os princípios da liberdade individual e da livre empresa; do outro, o modelo comunista,
que põe em primeiro lugar o interesse da coletividade e defende o controlo estatal dos meios de produção.

O mundo capitalista

A derrota dos regimes totalitários na Segunda Guerra Mundial reforçou os ideais democráticos, que se
tornaram a bandeira dos Estados Unidos e dos seus aliados.

As democracias liberais fundam-se na separação dos poderes, de forma a evitar governos ditatoriais e
totalitários, no pluralismo político - existência de vários partidos - e na livre escolha dos governantes pelo
povo, através de atos eleitorais periódicos.

Em termos económicos, defendem a propriedade privada e a livre iniciativa como meios de progresso e
riqueza.

A política económica e social das democracias ocidentais

No fim da guerra, o conceito de democracia evoluiu adquiriu uma maior abrangência: considerou-se que,
além de garantir as liberdades individuais, o regime democrático deveria assegurar o bem-estar dos
cidadãos e a justiça social.

Nesta altura, sobressaíam no panorama político europeu as forças da social-democracia e da democracia


cristã.

Social democracia

ü Defende a construção da sociedade socialista por processos reformistas e democráticos;


ü Propõe conciliar a livre concorrência com a intervenção do Estado na regulamentação da economia
e promoção do bem-estar dos cidadãos;
ü Defende que o governo deve controlar os setores chave da economia e adotar políticas fiscais que
permitam a distribuição da riqueza.

Democracia cristã

ü Surge a partir da doutrina social da Igreja defendendo políticas regidas pelos princípios humanistas
da dignidade do Homem;
ü A democracia cristã pretende aplicar à vida política os princípios de justiça, entreajuda e valorização
da pessoa humana que estiveram na base do Cristianismo;
ü Propõe a intervenção do Estado na regulamentação da economia e na distribuição mais justa da
riqueza nacional de forma a atingir a justiça social e o bem-estar dos cidadãos;
ü Orientação humanista assente na liberdade, na justiça, na dignidade da pessoa humana e na
solidariedade;
ü Embora de índole conservadora, esta ideologia defende que a democracia não se limita à aplicação
das regras do sufrágio universal e da alternância política, mas tem por função assegurar o bem-estar
dos cidadãos.

Ambas tinham lutado contra o nazismo e ambas representavam uma alternativa credível aos velhos partidos
liberais. Embora de quadrantes muito diferentes, partilhavam as mesmas preocupações sociais e
advogavam um Estado interventivo, capaz de liderar a necessária reconstrução económica. Estavam, assim,
criadas as condições para reformas económicas e sociais profundas.

Ainda que sem abdicar dos princípios da propriedade privada e da livre iniciativa empresarial, os Governos
lançam-se num vasto programa de nacionalizações, que atinge os bancos, as companhias de seguros, a
produção de energia, os transportes, a mineração, entre outros setores. O Estado torna-se, por esta via, o
principal agente económico do país, o que lhe permite exercer a sua função reguladora da economia,
garantir o emprego e definir a política salarial.

Paralelamente, revê-se o sistema de impostos e reforça-se o carácter progressivo das taxas, de modo a
assegurar uma redistribuição da riqueza nacional, sob a forma de auxílios sociais.

Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a conceção liberal de Estado, dando origem ao
Estado-providência, que, desde então até aos nossos dias, marcou fortemente a vida das democracias
ocidentais.

*Ideias-chave: Reforma económica e social, nacionalização dos setores chaves da economia,


Estado como principal agente económico (papel regulador),
impostos com caráter progressivo (para assegurar uma redistribuição da riqueza nacional
mais justa).
Estado-providência: Conjunto de intervenções do Estado que visam garantir um mínimo de bem-estar à
população. O Estado-providência procura assegurar as necessidades básicas dos cidadãos, como o acesso a
cuidados de saúde, ao ensino ou à habitação, e estabelece um sistema de prestações sociais que cobrem
situações de doença, desemprego, acidentes de trabalho, velhice, entre outras.

A afirmação do Estado-providência

Pode considerar-se o Reino Unido como o país pioneiro do Welfare State, isto é, o Estado do bem-estar,
onde cada cidadão tem asseguradas as suas necessidades básicas "do berço ao túmulo".

Lema do Estado-providência
O Estado é o principal promotor da justiça social, é por isso que deve redistribuir a riqueza nacional em
favor da promoção da qualidade de vida dos cidadãos. Isto é, taxar os mais ricos para garantir as
necessidades básicas dos cidadãos, ou seja, de quem não tem tantas possibilidades financeiras.

Além disso os Estado tem outras ações como:

ü Atribuição de subsídios de desemprego, doença, invalidez, velhice;


ü Responsabilidade sobre a educação (escola pública), a saúde (SNS) e a habitação;
ü Defender a qualidade de vida das famílias concedendo ajuda financeira: abono de família, subsídio
de nascimento, aleitamento, casamento, acidente, desemprego, velhice e óbito.

Quais são os objetivos?


Por um lado, haver mais justiça social e equidade, reduzir a contestação social e combater a miséria. Por
outro lado, assegurar uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura como a
que ocorreu durante a crise dos anos 30.

Assim, o Estado-providência foi também um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu
nas três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.

A prosperidade económica

O Plano Marshall, a aplicação dos acordos de Bretton Woods e a criação de espaços económicos alargados
(como a CEE) impulsionaram uma rápida recuperação económica!

O capitalismo, que na década de 30 parecera condenado pela Grande Depressão, emergiu dos escombros
da guerra e atingiu o seu auge. De 1945 a 1973, a produção mundial mais do que triplicou e, em certos
setores, como a produção energética e do automóvel, multiplicou-se por dez. As taxas de crescimento
especialmente altas de certos países, como a RFA, a França ou o Japão, surpreenderam os analistas, que
começaram a referir-se-lhes como "milagre económico".

Estes cerca de trinta anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os Trinta
Gloriosos. Entre as suas características, podemos destacar:

ü A aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores, desde as fibras sintéticas aos
plásticos, à medicina, à aeronáutica, à eletrónica, entre muitos outros. Rapidamente produzidas em
série, as inovações tecnológicas revolucionaram a vida quotidiana e os processos de produção.

ü O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão, que,
desde a Revolução Industrial, se mantinha num destacado primeiro lugar. A abundância e o baixo
preço do petróleo alimentaram a prosperidade económica, permitindo uma autêntica revolução nos
transportes, além de uma enorme gama de novos produtos industriais – 3ª Revolução Industrial.

ü O aumento da concentração industrial e do número de multinacionais, verdadeiros gigantes


económicos que fabricam e comercializam os seus produtos nos quatro cantos do mundo. Investindo
grandes somas na investigação científica, contribuindo para a aceleração do progresso técnico a que
nos referimos, são, também, as responsáveis pelo acentuar da globalização económica que marcou
a segunda metade do século XX.

ü A modernização da agricultura, renovada por grandes investimentos, nova tecnologia e uma


mentalidade verdadeiramente empresarial. Mais produtiva, a agricultura liberta, em pouco tempo,
grandes quantidades de mão de obra, que migra para os núcleos urbanos.

ü O aumento significativo da população ativa proporcionado: pelo reforço da mão de obra feminina
no mercado de trabalho, pelo baby-boom dos anos 40-60 e pela imigração de trabalhadores oriundos
dos países menos desenvolvidos (Gregos, Portugueses, Argelinos, Turcos...). Além de mais
numerosa, a mão de obra tornou-se também mais qualificada, em virtude do prolongamento da
escolaridade.
ü O crescimento do setor terciário, que tende a absorver a maior percentagem de trabalhadores. O
surto espetacular das trocas comerciais, a aposta no ensino, os serviços sociais prestados pelo Estado
e a complexidade crescente da administração das empresas multiplicaram o número de postos de
trabalho neste setor. Assim, as classes médias alargam-se, o que contribuiu para a subida do nível de
vida e para o equilíbrio social.

Em 1973, uma súbita elevação no preço do petróleo marcou, nas economias ocidentais, o início de um outro
ciclo económico, menos próspero e bastante mais instável. Mas, nessa altura, o nível de bem-estar das
famílias tinha já atingido um patamar inédito, fazendo nascer a sociedade de consumo.

A sociedade de consumo

O efeito mais evidente dos Trinta Gloriosos foi a generalização do conforto material.

Pleno emprego, salários altos e a produção maciça de bens a preços acessíveis

Sociedade de consumo

Esta veio transformar os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas. Quando os
gastos na alimentação e em outros bens essenciais deixaram de absorver a quase totalidade dos
orçamentos familiares, as casas tornaram-se cómodas e bem equipadas. Os aparelhos de aquecimento, o
telefone, a televisão e toda uma vasta gama de eletrodomésticos multiplicaram-se rapidamente e o
automóvel tomou o seu lugar nas garagens e nas ruas, proporcionando longos passeios de lazer.

As férias pagas, privilégio que se alargou nos anos 60, vieram acentuar a ideia de que a vida merece ser
desfrutada e o dinheiro existe para se gastar. Aliás, nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é
permanentemente estimulado a despender mais do que o necessário.

Multiplicam-se os grandes espaços comerciais, verdadeiros santuários do consumo, onde os objetos,


estrategicamente dispostos, se encontram ao alcance da mão do potencial comprador – marketing.

Uma publicidade bem orquestrada lembra, continuamente, as pequenas e grandes maravilhas a que todos
"têm direito" e que as vendas a crédito permitem adquirir. A oferta e a pressão publicitária são de tal ordem
que os bens rapidamente perdem valor, "passam de moda" e são substituídos por outros mais atualizados.

O consumismo, que entre as duas guerras fora um fenómeno unicamente americano, instala-se
duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda metade do século XX.

*Sociedade de consumo: Sociedade de abundância característica da segunda metade do século XX.


Identifica-se pelo consumo em massa de bens supérfluos, que passam a ser encarados como essenciais à
qualidade de vida. E a sociedade de consumo é também identificada com a sociedade do desperdício, já que
a vida útil e dos bens e artificialmente reduzida pela vontade da sua renovação.

O mundo comunista

A libertação do Leste europeu pelo Exército Vermelho, no final da Guerra,


facilitou a expansão do comunismo!
Em meados de 1948, os partidos comunistas dos países de Leste tinham-se já assumido como partidos
únicos e, em pouco tempo, a vida política, social e económica destas regiões foi reorganizada em moldes
semelhantes aos da União Soviética.

As democracias populares europeias

Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares. Por oposição às democracias
liberais, julgadas incapazes de garantir a verdadeira igualdade devido à persistência dos privilégios de classe,
as democracias populares defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes
trabalhadoras.

Estas, que constituem a esmagadora maioria da população, exercem o poder através do Partido Comunista,
que, supostamente, representa os seus interesses. As eleições existem e realizam-se mediante sufrágio
universal, mas o sistema funciona com a apresentação de candidaturas e listas únicas, de carácter oficial.

Os dirigentes do Partido ocupam, também, os altos cargos do Estado, que desempenha um papel primordial
em todas as esferas da vida da nação: define a vida política, as opções económicas, o enquadramento
ideológico e cultural dos cidadãos. Em suma, a Europa de Leste reconstrói-se de acordo com a ideologia
marxista e a interpretação que dela faz o regime soviético.

*Democracia popular: Designação atribuída aos regimes em que o Partido Comunista, afirmando
representar os interesses dos trabalhadores, se impõe como partido único, controlando as instituições do
Estado, a economia, a sociedade e a cultura.

A coesão entre a URSS e os países da Europa de Leste foi ainda reforçada pela criação de estruturas várias,
como:

ü o Kominform (1947), Secretariado de Informação Comunista, destinado a coordenar a atuação dos


diversos partidos comunistas – influência política;
ü o COMECOM (1949), vocacionado para a ajuda financeira da URSS aos seus aliados e na coordenação
dos planos económicos dos países membros – influência económica;
ü o Pacto de Varsóvia (1955), associação militar de defesa mútua, em resposta à OTAN – influência
militar.

A morte de Estaline, em 1953, faz nascer a esperança de mudanças no rígido modelo soviético, que se
reforçam em 1956, quando o novo líder da URSS, Kruschev, denuncia publicamente a ditadura e os crimes
do seu antecessor, admitindo a possibilidade de vários caminhos para atingir o socialismo.

Primeiro na RDA, depois na Polónia e na Hungria, a linha dura dos partidos comunistas depara-se com a
contestação e a revolta.

Na Hungria, em outubro de 1956, uma revolução impetuosa derruba o Governo, substituindo-o por
comunistas reformadores. Dias depois, e perante a intenção do novo Governo de retirar o país do Pacto de
Varsóvia, a revolução é esmagada pelos tanques soviéticos, que entram em Budapeste e repõem a
"normalidade".

Algo semelhante acontecerá, em 1968, na Checoslováquia, onde o líder comunista Alexandre Dubcek se
propõe criar um "socialismo de rosto humano". Conhecida por Primavera de Praga, esta experiência
liberalizadora não vai avante. Tal como já acontecera na Hungria, os tanques do Pacto de Varsóvia invadem
o país e derrubam o governo de Dubcek.
O esmagamento militar da "Primavera de Praga" levou o líder soviético Brejnev a assumir, perante o mundo,
que a soberania dos países do Leste europeu se encontrava limitada pelos superiores interesses do
socialismo - Doutrina Brejnev.

Até à desintegração do bloco soviético, no fim da década de 80, a URSS e as democracias populares europeias
funcionarão como um conjunto sólido, unido pela ideologia, a organização política, o modelo de sociedade
e uma economia de direção central.

As economias de direção central

Apesar da devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial, a reconstrução dos países socialistas
efetuou-se rapidamente. Nas duas décadas que se seguiram à guerra, as taxas de crescimento económico
ultrapassaram, globalmente, as dos países capitalistas.

Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica (Planos Quinquenais)
que tinha implementado nos anos 20. Tal como já acontecera, a indústria pesada e as infraestruturas
recebem prioridade absoluta.

Abundância de complexos siderúrgicos e centrais hidroelétricas

URSS – segunda potência industrial do mundo

Garantem-lhe o poderio militar necessário ao afrontamento dos tempos da Guerra Fria

Nos países de Leste, a proclamação das repúblicas populares implanta também o modelo económico
soviético:

ü Os meios de produção são coletivizados e reorganizados em moldes idênticos aos da URSS;


ü É dada prioridade à industrialização, baseada na indústria pesada.

Assim, os novos países socialistas europeus, que, com exceção da Checoslováquia e da RDA, eram
essencialmente agrícolas, industrializaram-se rapidamente. Esta industrialização foi um dos maiores êxitos
das economias planificadas.

No entanto, o nível de vida das populações era baixo:

ü As jornadas de trabalho mantêm-se longas e os salários baixos;


ü A construção habitacional, a agricultura, as indústrias de consumo e o setor terciário são
negligenciados;
ü Nas cidades, que a industrialização fez crescer aceleradamente, a população amontoa-se em bairros
periféricos, mal construídos;
ü As longas filas de espera para adquirir bens essenciais tornam-se uma rotina diária.

Os bloqueios económicos

À medida que a economia se tornava mais complexa, a previsão de todas as tarefas e necessidades tornava-
se também mais difícil e menos eficaz. Sem gozarem de autonomia na seleção das produções, do
equipamento ou dos trabalhadores, as empresas entorpeceram.

Privados de verdadeira iniciativa, os gestores limitavam-se a cumprir os objetivos prescritos no plano, sem
atender à qualidade dos produtos ou ao potencial dos equipamentos e da mão de obra. Nas unidades
agrícolas, a falta de investimento e o desalento dos camponeses refletiam-se de forma severa na
produtividade.

Face a este estado de coisas, implementou-se, nos anos 60, um vasto conjunto de reformas, praticamente
em todos os países da Europa socialista. O impulso veio, mais uma vez, da URSS, pela mão de Nikita
Kruschev:

ü investe-se na produção agrícola;


ü reduzem-se os horários de trabalho (de 48 para 42 horas);
ü aumenta-se a autonomia dos gestores face aos funcionários do Estado (a chamada Nomenklatura);;
ü premeiam-se os operários mais produtivos;
ü incentivam-se as indústrias de consumo e a construção de habitações.

No entanto, os efeitos destas medidas ficaram muito aquém do esperado e não foram capazes de relançar
as economias do bloco socialista.

Na década de 1970, sob a orientação de Leónidas Brejnev, a burocracia reforça-se e alastra uma corrupção
sem precedentes. As dificuldades da economia soviética afetaram também os países-satélite. Embora não
podendo dissociar-se da crise económica que, na década de 70, afetou também o mundo capitalista, elas
refletem, sobretudo, as falhas do sistema que conduzirão à falência dos regimes comunistas europeus, no
fim dos anos 80.

O tempo da descolonização

Uma conjuntura favorável

O rápido desmoronamento do domínio europeu no mundo ficou a dever-se, em grande parte,


ao impacto exercido pela Segunda Guerra Mundial.

A guerra, que exigiu também pesados sacrifícios às colónias, "acordou" os povos para a injustiça da
dominação estrangeira. A luta contra as forças do Eixo foi sentida por todos como uma luta pela
liberdade que, doravante, deveria estender-se a todo o globo.

Ao mesmo tempo que fomentava sentimentos de rebeldia, a guerra pôs também em evidência as
fragilidades da Europa. Até aí vistos como potencialmente invencíveis, os Estados europeus
mostraram-se incapazes de defender os seus territórios da invasão estrangeira. Tal foi o caso, na
Ásia, da ocupação da Indochina, Malásia, Birmânia e Índias Orientais Holandesas pelo Japão.

Desprestigiados e com a economia arruinada, os países coloniais viram-se impotentes para suster a
vaga independentista que, terminado o conflito, assolou a Ásia e a África. Aos efeitos demolidores
da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas superpotências, que apoiam os esforços de
libertação dos povos colonizados.

Os Estados Unidos, em lembrança do seu próprio passado e em defesa dos seus interesses
económicos, sempre se mostraram adversos à manutenção do sistema colonial. A URSS atua em
nome da ideologia marxista - que prevê a revolta dos oprimidos pelos interesses económicos
capitalistas - e não desperdiça a possibilidade de estender, nos países recém-formados, o modelo
soviético. Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se
constituirá como um baluarte internacional da descolonização, compelindo os Estados-membros ao
cumprimento do estipulado na Carta e nas Resoluções da Assembleia-Geral que, invariavelmente,
condenaram a manutenção do domínio colonial.

*Descolonização: Processo de involução do imperialismo europeu. O termo aplica-se, sobretudo,


ao período subsequente à Segunda Guerra Mundial, altura em que, num curto espaço de tempo, se
tornaram independentes as colónias da Ásia e da África.

Em suma, os motivos que tornaram favoráveis a descolonização foram:

ü Formação de elites nacionalistas, com educação ocidental e soviética que organizaram nos
seus territórios movimentos de luta pela independência (nacionalismos);

ü Enfraquecimento potências coloniais (desgastadas pela guerra);

ü Integração de soldados de origem colonial nos exércitos europeus durante a guerra;

ü Emerge a ideia de que nos seus próprios países lutarem pela sua liberdade (direito à
autodeterminação dos povos);

ü Apoio das superpotências (EUA/URSS) aos movimentos de libertação, para controlarem


matérias primas e aéreas de influência da potência inimiga;

ü Ascensão de partidos de esquerda na Europa defensores da libertação colonial e opositores


às guerras coloniais;

ü A ONU estar cada vez mais defensora dos direitos dos povos à sua autodeterminação em
coerência com a carta da Declaração dos Direitos Humanos;

ü Governos europeus optam por negociar os processos de independência colonial garantindo


a ligação com as suas ex-colónias (ex: Inglaterra = Commonwealth).

A descolonização asiática

O processo de descolonização pós-Segunda Guerra Mundial inicia-se no continente asiático. No


Médio Oriente, concluindo um processo já em curso.

Tornam-se independentes:

ü a Síria e o Líbano independentes da ocupação francesa em 1945;


ü a Jordânia, independente da ocupação francesa em 1946;
ü a Palestina, em 1948, nasce num clima de guerra, o Estado de Israel.

Na Índia a vontade de independência era já antiga e várias tinham sido as revoltas contra o domínio
estrangeiro. Porém, o impulso final será dado por Mohandas Gandhi (1869-1948) que, à frente do
Partido do Congresso, conduz a luta nacionalista.
Incapazes de suster a onda de contestação desencadeada pelas campanhas não-violentas organi-
zadas por Gandhi, os Britânicos reconhecem a independência do território (1947), que se divide em
dois Estados:

ü a União Indiana, maioritariamente hindu,


ü o Paquistão, de maioria muçulmana.

Outros territórios do Império Inglês do Oriente, como o Ceilão, a Birmânia e a Malásia, reclamam
igualmente a sua independência. Com exceção da Malásia, cuja excelente posição estratégica
dificulta a cedência britânica, os Ingleses aceitam que é chegado o momento da descolonização.

Dando mostras de grande pragmatismo, uma vez concluída a transferência de poderes, abrem as
antigas colónias a entrada na Commonwealth, preservando, assim, os seus interesses económicos
na região.

Também Holandeses e Franceses são forçados a abrir mão das suas colónias. Em 1945, o dirigente
nacionalista Sukarno proclama a República da Indonésia. Pouco dispostos a abdicar do território, os
Holandeses recorrem à força das armas, mas, pressionados pela ONU, acabam por reconhecer, em
1949, a independência do novo país.

Mais longo e sangrento se revela o processo de descolonização da Indochina, onde a ocupação


japonesa fomentara fortes sentimentos antifranceses. Quando, em 1945, a França retoma a
soberania sobre o território, defronta-se com uma poderosa oposição, encabeçada pelo líder
comunista Ho Chi Minh. Após nove anos de sangrentos combates, os Franceses retiraram-se do
território, reconhecendo o nascimento de três novas nações: o Vietname (provisoriamente dividido
entre o Norte e o Sul), o Laos e o Camboja.

*Décadas de 40-50: Descolonização asiática


*Década de 60: Descolonização africana

A descolonização africana

A descolonização africana inicia-se nas regiões arabizadas do Norte, que, a partir de 1945,
contestam vivamente o domínio europeu.

A Líbía, colocada sob a tutela da ONU, obtém a independência logo em 1951 e, cinco anos mais
tarde, a França vê-se forçada a retirar de Marrocos e da Tunísia. Só a Argélia, onde habita 1 milhão
de colonos franceses, mergulha numa longa guerra e tem de esperar até 1962 para ver reconhecido
o seu direito à independência.

Partindo do Norte, as reivindicações independentistas estendem-se rapidamente à África Negra,


onde se organizam também movimentos nacionalistas que encabeçam a luta contra o Estado
colonizador. Frequentemente, estes movimentos têm dificuldade em promover a coesão e a
participação das populações, divididas por uma multiplicidade de etnias, que os interesses do
colonialismo não respeitaram. Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional, os
líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura
comum, mostrando que ela é tão válida como a civilização dos europeus colonizadores.
Muitos destes líderes foram educados nas metrópoles, onde assimilaram valores de liberdade e de
justiça social. A luta pela independência assumiu, assim, a dupla vertente de uma luta política e de
uma luta contra a pobreza e o atraso económico, vistos como consequência direta da exploração
colonial. Foi, em parte, por esta razão que muitos movimentos de libertação se deixaram seduzir
pela mensagem igualitária do socialismo.

O processo independentista contou com o apoio da ONU, que se colocou inequivocamente ao lado
dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia-Geral aprovou a Resolução 1514, que consagra o
direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e condena qualquer ação
armada das metrópoles, no sentido de a impedir. Nesse mesmo ano, que ficou para a História como
"o ano da descolonização", o mundo viu nascer 18 novos países. Apenas um (Chipre) não era
africano.

*Movimentos nacionalistas: Movimentos que visam a recuperação da identidade cultural e


nacional dos povos colonizados. Estes movimentos adquiriram rapidamente uma dimensão política,
exigindo a autodeterminação dos territórios coloniais e constituindo-se nos partidos que lideraram,
quer pela via negocial, quer pela força das armas, o processo de autodeterminação dos novos países.

A emergência do Terceiro Mundo e a denúncia do neocolonialismo

O desmoronar dos impérios europeus alterou profundamente o mapa das nações. Entre 1945 e
1975, constituíram-se 70 novos países na Ásia e em Africa, que não tardam a fazer ouvir a sua voz
na cena internacional. Assumindo o seu atraso económico, herdado do colonialismo, e os seus
interesses comuns, apresentam-se como uma terceira força, independente do bloco americano e
do bloco soviético: um Terceiro Mundo.

A emergência política do Terceiro Mundo manifestou-se pela primeira vez em 1955, na Conferência
de Bandung (Indonésia), convocada por um punhado de países asiáticos para definir as linhas gerais
de atuação dos países recém-formados. A conferência, que reuniu 29 delegações afro-asiáticas, foi
a primeira a realizar-se sem a participação de qualquer potência ocidental. A participação da União
Soviética foi também rejeitada.

A mensagem de Bandung foi tomando corpo em sucessivos encontros internacionais, que


desembocaram no Movimento dos Não Alinhados, criado oficialmente na Conferência de Belgrado,
em 1961. O não alinhamento atraiu um número crescente de países da Ásia, da África e da América
Latina, tornando-se o símbolo do sonho de igualdade e de paz mundial.

Em termos políticos, as nações do Terceiro Mundo não realizaram o seu objetivo de falar a uma só
voz. Face à pressão das grandes potências, os desentendimentos surgiram, enfraquecendo o
movimento. Porém, no que respeita aos esforços conjuntos para lutar contra o colonialismo e
denunciar a exploração económica dos países pobres pelos países desenvolvidos, uniram-se.

Fornecedores de recursos primários, os países do Terceiro Mundo viram-se na dependência


económica dos países ricos que, através de grandes companhias, exploravam terras e minas e
vendiam, como no passado, produtos manufaturados. Privados da gestão dos seus recursos
naturais, necessitados de empréstimos, a braços com a degradação progressiva dos termos de troca,
as nações mais pobres procuravam, em vão, a via do desenvolvimento. Denunciada veementemente
como um verdadeiro neocolonialismo, esta situação foi tratada em conferências, fóruns e debates,
tendo-se nos anos 70, apelado à criação de uma "nova ordem económica internacional".

*Terceiro Mundo: Designação criada, nos anos 50, para designar os países excluídos do
desenvolvimento económico, embora possuam riquezas naturais e condições para garantir as
necessidades básicas das suas populações. O termo, rapidamente apropriado pelos países recém-
descolonizados, assumiu também a conotação política de uma terceira via na política mundial,
independente das duas superpotências. Muito popular na década de 60, a expressão Terceiro
Mundo caiu progressivamente em desuso, sendo substituída pela designação "países do Sul".

*Neocolonialismo: Forma de dominação que sucede ao colonialismo e se exerce de forma indireta,


através da supremacia técnica, financeira e económica das nações mais desenvolvidas. Embora de
carácter essencialmente económico, o neocolonialismo pode também manifestar-se no campo
político e cultural.

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