Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Na verdade, mais do que as ambições geoestratégicas dos dois países, confrontam-se duas ideologias e duas
formas de vida opostas: de um lado, o modelo capitalista, defensor do multipartidarismo e da economia de
mercado; do outro, o modelo socialista, escudado na democracia popular e na economia planificada.
Neste mundo bipolar, os velhos impérios chegam ao fim. Na Ásia, no Médio Oriente e na África, os povos
colonizados rebelam-se contra o domínio estrangeiro, que há séculos os oprime. Ganham independência
política, fazem-se ouvir nas instâncias internacionais, mas dificilmente encontram meios para vencer a
pobreza e o subdesenvolvimento.
Entretanto, afirmam-se novas potências: o Japão, a China maoista e uma Europa finalmente unida adquirem
um protagonismo crescente na cena internacional.
A 2ª Guerra Mundial alterou de forma profunda o equilíbrio de forças nas relações internacionais.
As conferências interaliadas
Quando o ano de 1942 se iniciou, o Reino Unido, a França e os restantes países que lutavam contra os
exércitos do Eixo tinham razão para estar confiantes. Contavam, agora, com dois importantes aliados: a
URSS, que a invasão nazi trouxera para a cena de guerra; e os Estados Unidos, envolvidos no conflito pelo
recente ataque japonês a Pearl Harbor.
Esta nova relação de forças desencadeou uma série de conferências interaliadas, com o fim de delinear
estratégias de guerra e de estabelecer os princípios que deveriam nortear a paz. Com a França ocupada,
estas conferências foram, a partir de 1943, protagonizadas pelos "Três Grandes": os Estados Unidos, a União
Soviética e o Reino Unido.
A conferência de Ialta
A conferência de Potsdam
A Conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de lalta. Vencida a Alemanha,
renasciam as desconfianças face ao regime comunista, que Estaline representava, e às suas pretensões
expansionistas na Europa.
Os anos que se seguiram, o clima de tensão que marcou a reunião de Potsdam não se desvaneceu, a despeito
dos ideais de concórdia e fraternidade que inspiraram o nascimento da Organização das Nações Unidas.
A ideia de uma organização internacional que velasse pela paz e pela segurança resistiu ao fracasso da
Sociedade das Nações. Durante as cimeiras da "Grande Aliança", a criação desta organização ficou decidida
na Conferência de Teerão (1943), ratificada na Conferência de Ialta (1945) e concretizada na Conferência de
São Francisco (1945). Assinaram a Carta das Nações Unidas 51 países!
Sob o impacto do Holocausto e disposta a impedir, no futuro, as atrocidades cometidas durante a Segunda
Guerra Mundial, a ONU tomou uma feição profundamente humanista que foi reforçada pela aprovação, em
1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que passou a integrar os documentos fundamentais
das Nações Unidas.
Órgãos de funcionamento
A Carta das Nações Unidas definiu também os órgãos básicos de funcionamento da instituição:
ü A Assembleia Geral, no qual têm assento todos os Estados-membros, com direito a 1 voto por
Estado-membro. Funciona como um verdadeiro parlamento mundial e pode colocar na sua agenda
todo o tipo de questões.
ü O Conselho de Segurança, diretamente responsável pela manutenção da paz. É composto por 15
membros: 10 que são eleitos por 2 anos e 5 permanentes: EUA, a Rússia, o Reino Unido, a China e a
França. Estes "cinco grandes" têm direito de veto, pelo que qualquer um deles pode inviabilizar uma
tomada de decisão.
ü O Secretariado-Geral, à frente do qual se encontra o secretário-geral, eleito pela Assembleia, por
proposta do Conselho de Segurança, durante 5 anos. Coordena toda a instituição e presta os seus
"bons serviços" diplomáticos nas questões mais delicadas. O secretário-geral representa a ONU e,
com ela, todos os povos do mundo. Atualmente é português: António Guterres.
ü O Conselho Económico e Social, encarregado de promover a cooperação a nível económico, social e
cultural. Pelos muitos organismos que dele dependem é um dos órgãos mais importantes e ativos da
ONU. São eleitos 54 membros por 2 anos.
ü O Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia. Resolve, à luz do direito internacional, os
litígios entre os Estados por 15 juízes.
ü O Conselho de Tutela, ao qual foi atribuída a administração dos territórios que se encontravam à
guarda da extinta SDN (aos mesmos membros permanentes do Conselho de Segurança). Em 1994,
com a independência do Palau, consideraram-se cumpridos os objetivos deste órgão, pelo que
cessou o seu funcionamento permanente.
Desde a sua fundação, há cerca de oito décadas, que a ONU tem desempenhado um papel relevante na
história do mundo. Se é verdade que não foi capaz de manter a paz e a concórdia entre as nações, a sua
atuação militar (capacetes azuis) tem protegido os mais fracos, esforçando-se por evitar violências e
massacres. No entanto, os maiores êxitos das Nações Unidas têm sido levados a cabo pelos muitos
organismos especializados que criou e que atuam a nível global. Quem nunca ouviu falar da OMS, da UNICEF
ou da UNESCO?
A URSS com a guerra tem consideráveis ganhos territoriais e um enorme protagonismo internacional!
O isolamento a que os ocidentais tinham votado o grande país comunista quebrara-se definitivamente.
Dentro da Europa, o papel da União Soviética adivinhava-se determinante. No último ano do conflito, na sua
marcha vitoriosa até Berlim, coubera ao Exército Vermelho a libertação dos países da Europa Oriental. Na
Polónia, na Checoslováquia, na Hungria, na Roménia e na Bulgária, os soldados russos tinham substituído os
ocupantes nazis. A URSS detinha, assim, uma clara vantagem estratégica no Leste Europeu.
Embora os acordos de lalta previssem o respeito pela vontade dos povos, expressa em eleições livres
supervisionadas pelas três potências, na prática tornava-se impossível contrariar a hegemonia soviética, que
não tardou a impor-se: entre 1946 e 1948, todos os países libertados pelo Exército Vermelho se tornaram
estados socialistas.
A extensão do comunismo no Leste europeu foi, de imediato, contestada pelos ocidentais. Logo em março
de 1946, Churchill denuncia publicamente, num discurso proferido na Universidade de Fulton (Missouri), a
criação, por parte da URSS, de uma área de influência impenetrável, isolada do Ocidente por uma "cortina
de ferro". O discurso alertou a comunidade internacional para as desavenças entre os antigos Aliados.
Menos de um ano passado sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, o alargamento da influência soviética
desencadeava um novo medir de forças, desta vez entre o mundo comunista e o mundo capitalista.
Se irreversível, a extensão da influência soviética na Europa parecia, aos ocidentais, inaceitável. O seu
dinamismo constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal, ameaça essa que era preciso conter. Um
ano passado sobre o alerta de Churchill, os Estados Unidos assumem, frontalmente, a liderança da oposição
aos avanços do socialismo.
Doutrina de Truman
Num discurso histórico, o presidente Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas
antagónicos: um baseado na liberdade; o outro na opressão. Aos americanos competiria, perante o
enfraquecimento da Europa, liderar o mundo livre e auxiliá-lo na contenção do comunismo.
Além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava também clara a
necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.
As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas devido à guerra. As ajudas de emergência,
prestadas pelos Estados Unidos nos primeiros dois anos do pós-guerra, só tinham acudido às necessidades
mais prementes. O rigoroso inverno de 1946-47 agravara ainda mais as situações de miséria da Europa,
criando um clima político instável, em tudo propício à difusão das ideias de igualdade e justiça social do
marxismo.
É neste contexto que o secretário de Estado americano George Marshall anuncia, em junho de 1947, um
gigantesco plano de ajuda económica à Europa, o European Recovery Plan (ERP). Conhecido como Plano
Marshall, este auxílio foi acolhido com entusiasmo pela generalidade dos países europeus, que, assim, viram
reforçados os laços que os uniam aos EUA.
O Plano Marshall foi formalmente oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se encontravam já sob
influência soviética, mas depois de breves negociações, Moscovo classifica a ajuda americana de "manobra
imperialista" e impede os países sob sua influência de a aceitarem.
Os países que aderiram ao Plano Marshall vão formar a Organização Europeia da Cooperação Económica
(OECE) que em 1960 se vai transformar na OCDE. Foi também através do Plano Marshall que se aprofundou
a divisão da Europa, entre os países que beneficiaram da ajuda norte-americana e aqueles que a recusaram.
Alguns meses passados sobre a Doutrina Truman e o anúncio do Plano Marshall, os soviéticos formalizam,
por sua vez, a rutura entre as duas potências.
Teoria de Jdanov
Perante as delegações dos partidos comunistas europeus, Jdanov fala de um mundo dividido em dois
sistemas contrários: um, imperialista e antidemocrático, é liderado pelos Estados Unidos; o outro, em que
reina a democracia e a fraternidade entre os povos, corresponde ao mundo socialista. Lidera-o a União
Soviética.
É a teoria de Jdanov, e não só, que vai marcar o início da Guerra Fria!
Em janeiro de 1949, Moscovo "responde" também ao Plano Marshall, lançando o Plano Molotov, que
estabelece as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental.
Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), instituição
destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da União Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall (OECE) e os países do COMECON funcionaram como áreas
transnacionais, coesas e distintas uma da outra.
Deste modo, a divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal como se consolidou a
liderança das duas superpotências.
A questão alemã
Problema: Gestão conjunta das 4 potências em Berlim, pois encontrava-se repartida por 4 setores, sendo
um deles pertencente à URSS. E, além disso, situava-se no coração da área soviética mas estava ocupada por
forças francesas, inglesas e americanas.
Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os acessos
terrestres à cidade. Depois de alguns dias de intenso dramatismo, o presidente Truman decide abastecer a
cidade através de uma gigantesca ponte aérea.
A situação de bloqueio durou praticamente um ano, findo o qual os Soviéticos aceitaram restabelecer as
ligações terrestres aos setores ocidentais da cidade. Foi um primeiro medir de forças entre as duas
superpotências, durante o qual se desmoronaram por inteiro os acordos de uma gestão conjunta de Berlim
e da Alemanha, assumidos em Potsdam.
Em 1949, quando se respirava de alívio pelo fim do bloqueio, o mundo via nascer dois Estados alemães
separados e rivais:
ü Os setores anteriormente ocupados pelas 3 potências ocidentais (França, EUA e Reino Unido)
formam a RFA (República Federal Alemã) – capital Bona.
ü Deste modo, a URSS protesta e considera uma clara violação dos tratados, criando na sua zona de
ocupação: a RDA (República Democrática Alemã) – capital Berlim.
Encravada na RDA, Berlim permaneceu sempre no centro da discórdia. Por isso em 1961 os soviéticos
erguem um muro que irá separar os 2 setores da cidade – o Muro de Berlim. O intuito era impedir a fuga
das populações e marcar a separação blocos. Ficou conhecido por ser o “muro da vergonha” e foi o símbolo
da divisão do mundo em dois blocos antagónico e da Guerra Fria. A divisão estava consumada e as
rivalidades assumidas.
O bloco americano
Uma vez enunciada a doutrina Truman, os Estados Unidos empenharam-se por todos os meios na contenção
do comunismo. O Plano Marshall foi o primeiro grande passo nesse sentido:
Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou também a oficializar-se. A tensão
provocada pelo Bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do
Atlântico Norte, firmado entre os Estados Unidos, o Canadá e dez nações europeias.
A operacionalização deste tratado deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN (ou
NATO, sigla inglesa), talvez a mais importante organização militar do pós-guerra, que se tornou um símbolo
do bloco ocidental.
O pacto da OTAN é bem demonstrativo da desconfiança que então impregnava as relações internacionais.
Os seus membros fundadores consideram-se ligados por uma "herança civilizacional comum", cuja
preservação exige o desenvolvimento da "capacidade individual ou coletiva de resistir a um ataque armado".
A aliança apresenta-se, assim, como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um
inimigo que, embora não se nomeie, está omnipresente: a União Soviética e tudo o que, para o mundo
ocidental, ela representa. Esta sensação de ameaça e a ânsia em consolidar a sua área de influência
lançaram os EUA numa autêntica "pactomania" que os levou a constituir um vasto leque de alianças um
pouco por todo o mundo.
Além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais na América, na Oceânia, no Sudeste Asiático, no Médio
Oriente. Estas alianças foram complementadas com diversos acordos de carácter político e económico, de
tal modo que, em 1959, três quartos do mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.
O bloco soviético
Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no mundo apenas dois países comunistas:
a URSS e a Mongólia. Entre 1945 e 1949, o comunismo implanta-se na Europa Oriental, na Coreia do Norte
e na imensa extensão da China. Nos anos 50 e 60, continua o seu progresso na Ásia (Vietname do Norte,
Camboja, Birmânia) e encontra em Cuba, mesmo à porta dos Estados Unidos, um novo posto avançado.
Finalmente, na década de 70, ganha novos países asiáticos e estende-se à África.
Tanto pelo seu poderio como pelo papel pioneiro na implantação do comunismo, a URSS assumiu a liderança
deste novo mundo. Na Europa, a rejeição do Plano Marshall coincidiu com o reforço da coesão militar entre
os países comunistas.
Após uma série de acordos bilaterais, a URSS e os seus países-satélite do Leste Europeu assinaram, em 1955,
o Pacto de Varsóvia, aliança que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto de
Varsóvia constituiu uma organização militar diametralmente oposta à OTAN, simbolizando as duas
coligações o antagonismo militar entre as duas superpotências.
Na Ásia, a ocupação da Coreia pelos exércitos soviético e americano, no fim da Segunda Guerra Mundial,
conduziu à divisão do país em dois Estados:
Nas restantes regiões do Sudeste Asiático, a URSS apoiou os movimentos revolucionários nacionais, com os
quais celebrou tratados de amizade e cooperação. Tal foi o caso da China, onde, em 1949, Mao Tsé-Tung
proclamou a instauração de uma república popular.
Nas décadas de 60 e 70, a influência soviética penetrou, como dissemos, na América Latina, onde Cuba se
tornou um baluarte comunista, e consolidou-se em África, através de países como Angola e Moçambique,
que, na sequência da descolonização portuguesa, implantaram regimes socialistas.
A Guerra Fria
O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até à extinção da URSS (1991).
Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade
e insegurança que deixou o mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que
designamos por Guerra Fria.
A Guerra Fria configurou um tipo de conflito completamente novo e lutou-se de múltiplas formas. Destaca-
se algumas características desta guerra como:
ü A constituição de blocos e áreas de influência. Cada uma das superpotências procurava ampliar o
número dos seus aliados, impedindo que outras nações alinhassem com o lado contrário. Com este
objetivo, tanto os EUA como a URSS alimentaram numerosos conflitos, apoiando o lado que lhes era
afeto. As guerras da Coreia e do Vietname, as guerrilhas da Nicarágua e El Salvador, a consolidação
do regime de Fidel Castro em Cuba ou o derrube do governo de Salvador Allende no Chile, são apenas
alguns exemplos;
ü O reforço da atuação dos serviços secretos e a constituição de redes de espionagem mútua. A CIA,
do lado americano, e o KGB, do lado soviético, ganharam um enorme protagonismo e, neste clima,
novelas e filmes de espiões alcançaram grande sucesso e reforçaram a máquina de propaganda;
ü Uma corrida ao armamento de proporções gigantescas, que incutiu nas populações o terror de uma
guerra nuclear e colocou o mundo à beira da destruição global;
A escalada armamentista
Além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os dois blocos procuraram apetrechar-
se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico de armamento cada vez mais
sofisticado.
*setembro de 1949: dá-se o inicio da escalada armamentista, devido à explosão da bomba atómica russa
De imediato, os cientistas americanos incrementaram as pesquisas de uma arma ainda mais destrutiva: em
1952, testava-se, no Pacífico, a primeira bomba de hidrogénio - a bomba H - com uma potência mil vezes
superior à bomba de Hiroxima. A corrida ao armamento tinha começado. No ano seguinte, os Russos
possuíam também a bomba de hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as duas superpotências à produção
maciça de armamento nuclear.
Embora o carácter revolucionário deste novo rearmamento se encontre na produção de bombas atómicas
e no desenvolvimento de mísseis de longo alcance para as lançar, o mundo viu também multiplicarem-se
as armas ditas "convencionais".
Nos três anos em que se travou a Guerra da Coreia, o orçamento dos Estados Unidos para a defesa mais do
que triplicou, tal como triplicaram, também, as suas forças terrestres. O investimento ocidental nas armas
convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual estratégia por parte da URSS.
Política de dissuasão
O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma característica nova: a dissuasão.
Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em
caso de violação das respetivas áreas de influência. Advertências, ameaças, movimentações de tropas e
material de guerra faziam parte desta estratégia dissuasora, que a natureza apocalíptica de um confronto
nuclear tornou eficaz.
Um dos momentos mais tensos desta escalada viveu-se em 1962, quando aviões americanos obtiveram
provas fotográficas da instalação, em Cuba, de mísseis russos de médio alcance, capazes de atingir o
território americano. A exigência firme de retirada dos mísseis feita pelo presidente Kennedy coloca o
mundo perante a iminência de uma guerra nuclear entre as duas super-potências. Felizmente, a crise acaba
por se resolver com cedências mútuas:
No início dos anos 70, esforços tímidos de contenção da corrida ao armamento levam a conversações entre
as duas superpotências. Mas ainda a década não tinha acabado e um novo endurecimento militar colocava
na Europa os novos mísseis soviéticos SS 20 e, pouco depois, os mísseis americanos Pershing II, ambos
apontados à área de influência do inimigo.
*outubro de 1957: a URSS conseguiu colocar em órbita o primeiro satélite artificial da História, o Sputnik 1.
*novembro de 1957: a URSS lançou o Sputnik 2, levando a bordo a cadela Laika, que se tornou o primeiro
viajante espacial.
Face a estes sucessos, a consternação dos Americanos, que até aí tinham considerado a URSS
tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa, anteciparam o lançamento do
seu próprio satélite, mas a experiência foi um fiasco. Só no início de 1958, com o lançamento do Explorer 1,
a América efetivaria a sua entrada na corrida espacial.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações. Nos primeiros
tempos, os Soviéticos mantiveram a liderança. E
*1961: o russo Yuri Gagarin o primeiro ser humano a viajar na órbita terrestre
*1969: os americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin foram os primeiros homens a pisar a Lua – Apolo 11
Quando a humanidade realizou, finalmente, o sonho improvável de chegar à Lua, tornou-se evidente que o
desenvolvimento tecnológico tinha alcançado uma etapa superior. Mas também se tornou evidente que
essa mesma tecnologia estava a ser utilizada para a construção de armas capazes de aniquilar toda a
humanidade.
Mais do que as ambições das duas superpotências, nos anos da Guerra Fria confrontaram-se duas conceções
opostas de organização política, vida económica e estruturação social: de um lado, o modelo capitalista e
liberal, assente sobre os princípios da liberdade individual e da livre empresa; do outro, o modelo comunista,
que põe em primeiro lugar o interesse da coletividade e defende o controlo estatal dos meios de produção.
O mundo capitalista
A derrota dos regimes totalitários na Segunda Guerra Mundial reforçou os ideais democráticos, que se
tornaram a bandeira dos Estados Unidos e dos seus aliados.
As democracias liberais fundam-se na separação dos poderes, de forma a evitar governos ditatoriais e
totalitários, no pluralismo político - existência de vários partidos - e na livre escolha dos governantes pelo
povo, através de atos eleitorais periódicos.
Em termos económicos, defendem a propriedade privada e a livre iniciativa como meios de progresso e
riqueza.
No fim da guerra, o conceito de democracia evoluiu adquiriu uma maior abrangência: considerou-se que,
além de garantir as liberdades individuais, o regime democrático deveria assegurar o bem-estar dos
cidadãos e a justiça social.
Social democracia
Democracia cristã
ü Surge a partir da doutrina social da Igreja defendendo políticas regidas pelos princípios humanistas
da dignidade do Homem;
ü A democracia cristã pretende aplicar à vida política os princípios de justiça, entreajuda e valorização
da pessoa humana que estiveram na base do Cristianismo;
ü Propõe a intervenção do Estado na regulamentação da economia e na distribuição mais justa da
riqueza nacional de forma a atingir a justiça social e o bem-estar dos cidadãos;
ü Orientação humanista assente na liberdade, na justiça, na dignidade da pessoa humana e na
solidariedade;
ü Embora de índole conservadora, esta ideologia defende que a democracia não se limita à aplicação
das regras do sufrágio universal e da alternância política, mas tem por função assegurar o bem-estar
dos cidadãos.
Ambas tinham lutado contra o nazismo e ambas representavam uma alternativa credível aos velhos partidos
liberais. Embora de quadrantes muito diferentes, partilhavam as mesmas preocupações sociais e
advogavam um Estado interventivo, capaz de liderar a necessária reconstrução económica. Estavam, assim,
criadas as condições para reformas económicas e sociais profundas.
Ainda que sem abdicar dos princípios da propriedade privada e da livre iniciativa empresarial, os Governos
lançam-se num vasto programa de nacionalizações, que atinge os bancos, as companhias de seguros, a
produção de energia, os transportes, a mineração, entre outros setores. O Estado torna-se, por esta via, o
principal agente económico do país, o que lhe permite exercer a sua função reguladora da economia,
garantir o emprego e definir a política salarial.
Paralelamente, revê-se o sistema de impostos e reforça-se o carácter progressivo das taxas, de modo a
assegurar uma redistribuição da riqueza nacional, sob a forma de auxílios sociais.
Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a conceção liberal de Estado, dando origem ao
Estado-providência, que, desde então até aos nossos dias, marcou fortemente a vida das democracias
ocidentais.
A afirmação do Estado-providência
Pode considerar-se o Reino Unido como o país pioneiro do Welfare State, isto é, o Estado do bem-estar,
onde cada cidadão tem asseguradas as suas necessidades básicas "do berço ao túmulo".
Lema do Estado-providência
O Estado é o principal promotor da justiça social, é por isso que deve redistribuir a riqueza nacional em
favor da promoção da qualidade de vida dos cidadãos. Isto é, taxar os mais ricos para garantir as
necessidades básicas dos cidadãos, ou seja, de quem não tem tantas possibilidades financeiras.
Assim, o Estado-providência foi também um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu
nas três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.
A prosperidade económica
O Plano Marshall, a aplicação dos acordos de Bretton Woods e a criação de espaços económicos alargados
(como a CEE) impulsionaram uma rápida recuperação económica!
O capitalismo, que na década de 30 parecera condenado pela Grande Depressão, emergiu dos escombros
da guerra e atingiu o seu auge. De 1945 a 1973, a produção mundial mais do que triplicou e, em certos
setores, como a produção energética e do automóvel, multiplicou-se por dez. As taxas de crescimento
especialmente altas de certos países, como a RFA, a França ou o Japão, surpreenderam os analistas, que
começaram a referir-se-lhes como "milagre económico".
Estes cerca de trinta anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os Trinta
Gloriosos. Entre as suas características, podemos destacar:
ü A aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores, desde as fibras sintéticas aos
plásticos, à medicina, à aeronáutica, à eletrónica, entre muitos outros. Rapidamente produzidas em
série, as inovações tecnológicas revolucionaram a vida quotidiana e os processos de produção.
ü O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão, que,
desde a Revolução Industrial, se mantinha num destacado primeiro lugar. A abundância e o baixo
preço do petróleo alimentaram a prosperidade económica, permitindo uma autêntica revolução nos
transportes, além de uma enorme gama de novos produtos industriais – 3ª Revolução Industrial.
ü O aumento significativo da população ativa proporcionado: pelo reforço da mão de obra feminina
no mercado de trabalho, pelo baby-boom dos anos 40-60 e pela imigração de trabalhadores oriundos
dos países menos desenvolvidos (Gregos, Portugueses, Argelinos, Turcos...). Além de mais
numerosa, a mão de obra tornou-se também mais qualificada, em virtude do prolongamento da
escolaridade.
ü O crescimento do setor terciário, que tende a absorver a maior percentagem de trabalhadores. O
surto espetacular das trocas comerciais, a aposta no ensino, os serviços sociais prestados pelo Estado
e a complexidade crescente da administração das empresas multiplicaram o número de postos de
trabalho neste setor. Assim, as classes médias alargam-se, o que contribuiu para a subida do nível de
vida e para o equilíbrio social.
Em 1973, uma súbita elevação no preço do petróleo marcou, nas economias ocidentais, o início de um outro
ciclo económico, menos próspero e bastante mais instável. Mas, nessa altura, o nível de bem-estar das
famílias tinha já atingido um patamar inédito, fazendo nascer a sociedade de consumo.
A sociedade de consumo
O efeito mais evidente dos Trinta Gloriosos foi a generalização do conforto material.
Sociedade de consumo
Esta veio transformar os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas. Quando os
gastos na alimentação e em outros bens essenciais deixaram de absorver a quase totalidade dos
orçamentos familiares, as casas tornaram-se cómodas e bem equipadas. Os aparelhos de aquecimento, o
telefone, a televisão e toda uma vasta gama de eletrodomésticos multiplicaram-se rapidamente e o
automóvel tomou o seu lugar nas garagens e nas ruas, proporcionando longos passeios de lazer.
As férias pagas, privilégio que se alargou nos anos 60, vieram acentuar a ideia de que a vida merece ser
desfrutada e o dinheiro existe para se gastar. Aliás, nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é
permanentemente estimulado a despender mais do que o necessário.
Uma publicidade bem orquestrada lembra, continuamente, as pequenas e grandes maravilhas a que todos
"têm direito" e que as vendas a crédito permitem adquirir. A oferta e a pressão publicitária são de tal ordem
que os bens rapidamente perdem valor, "passam de moda" e são substituídos por outros mais atualizados.
O consumismo, que entre as duas guerras fora um fenómeno unicamente americano, instala-se
duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda metade do século XX.
O mundo comunista
Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares. Por oposição às democracias
liberais, julgadas incapazes de garantir a verdadeira igualdade devido à persistência dos privilégios de classe,
as democracias populares defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes
trabalhadoras.
Estas, que constituem a esmagadora maioria da população, exercem o poder através do Partido Comunista,
que, supostamente, representa os seus interesses. As eleições existem e realizam-se mediante sufrágio
universal, mas o sistema funciona com a apresentação de candidaturas e listas únicas, de carácter oficial.
Os dirigentes do Partido ocupam, também, os altos cargos do Estado, que desempenha um papel primordial
em todas as esferas da vida da nação: define a vida política, as opções económicas, o enquadramento
ideológico e cultural dos cidadãos. Em suma, a Europa de Leste reconstrói-se de acordo com a ideologia
marxista e a interpretação que dela faz o regime soviético.
*Democracia popular: Designação atribuída aos regimes em que o Partido Comunista, afirmando
representar os interesses dos trabalhadores, se impõe como partido único, controlando as instituições do
Estado, a economia, a sociedade e a cultura.
A coesão entre a URSS e os países da Europa de Leste foi ainda reforçada pela criação de estruturas várias,
como:
A morte de Estaline, em 1953, faz nascer a esperança de mudanças no rígido modelo soviético, que se
reforçam em 1956, quando o novo líder da URSS, Kruschev, denuncia publicamente a ditadura e os crimes
do seu antecessor, admitindo a possibilidade de vários caminhos para atingir o socialismo.
Primeiro na RDA, depois na Polónia e na Hungria, a linha dura dos partidos comunistas depara-se com a
contestação e a revolta.
Na Hungria, em outubro de 1956, uma revolução impetuosa derruba o Governo, substituindo-o por
comunistas reformadores. Dias depois, e perante a intenção do novo Governo de retirar o país do Pacto de
Varsóvia, a revolução é esmagada pelos tanques soviéticos, que entram em Budapeste e repõem a
"normalidade".
Algo semelhante acontecerá, em 1968, na Checoslováquia, onde o líder comunista Alexandre Dubcek se
propõe criar um "socialismo de rosto humano". Conhecida por Primavera de Praga, esta experiência
liberalizadora não vai avante. Tal como já acontecera na Hungria, os tanques do Pacto de Varsóvia invadem
o país e derrubam o governo de Dubcek.
O esmagamento militar da "Primavera de Praga" levou o líder soviético Brejnev a assumir, perante o mundo,
que a soberania dos países do Leste europeu se encontrava limitada pelos superiores interesses do
socialismo - Doutrina Brejnev.
Até à desintegração do bloco soviético, no fim da década de 80, a URSS e as democracias populares europeias
funcionarão como um conjunto sólido, unido pela ideologia, a organização política, o modelo de sociedade
e uma economia de direção central.
Apesar da devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial, a reconstrução dos países socialistas
efetuou-se rapidamente. Nas duas décadas que se seguiram à guerra, as taxas de crescimento económico
ultrapassaram, globalmente, as dos países capitalistas.
Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de planificação económica (Planos Quinquenais)
que tinha implementado nos anos 20. Tal como já acontecera, a indústria pesada e as infraestruturas
recebem prioridade absoluta.
Nos países de Leste, a proclamação das repúblicas populares implanta também o modelo económico
soviético:
Assim, os novos países socialistas europeus, que, com exceção da Checoslováquia e da RDA, eram
essencialmente agrícolas, industrializaram-se rapidamente. Esta industrialização foi um dos maiores êxitos
das economias planificadas.
Os bloqueios económicos
À medida que a economia se tornava mais complexa, a previsão de todas as tarefas e necessidades tornava-
se também mais difícil e menos eficaz. Sem gozarem de autonomia na seleção das produções, do
equipamento ou dos trabalhadores, as empresas entorpeceram.
Privados de verdadeira iniciativa, os gestores limitavam-se a cumprir os objetivos prescritos no plano, sem
atender à qualidade dos produtos ou ao potencial dos equipamentos e da mão de obra. Nas unidades
agrícolas, a falta de investimento e o desalento dos camponeses refletiam-se de forma severa na
produtividade.
Face a este estado de coisas, implementou-se, nos anos 60, um vasto conjunto de reformas, praticamente
em todos os países da Europa socialista. O impulso veio, mais uma vez, da URSS, pela mão de Nikita
Kruschev:
No entanto, os efeitos destas medidas ficaram muito aquém do esperado e não foram capazes de relançar
as economias do bloco socialista.
Na década de 1970, sob a orientação de Leónidas Brejnev, a burocracia reforça-se e alastra uma corrupção
sem precedentes. As dificuldades da economia soviética afetaram também os países-satélite. Embora não
podendo dissociar-se da crise económica que, na década de 70, afetou também o mundo capitalista, elas
refletem, sobretudo, as falhas do sistema que conduzirão à falência dos regimes comunistas europeus, no
fim dos anos 80.
O tempo da descolonização
A guerra, que exigiu também pesados sacrifícios às colónias, "acordou" os povos para a injustiça da
dominação estrangeira. A luta contra as forças do Eixo foi sentida por todos como uma luta pela
liberdade que, doravante, deveria estender-se a todo o globo.
Ao mesmo tempo que fomentava sentimentos de rebeldia, a guerra pôs também em evidência as
fragilidades da Europa. Até aí vistos como potencialmente invencíveis, os Estados europeus
mostraram-se incapazes de defender os seus territórios da invasão estrangeira. Tal foi o caso, na
Ásia, da ocupação da Indochina, Malásia, Birmânia e Índias Orientais Holandesas pelo Japão.
Desprestigiados e com a economia arruinada, os países coloniais viram-se impotentes para suster a
vaga independentista que, terminado o conflito, assolou a Ásia e a África. Aos efeitos demolidores
da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas superpotências, que apoiam os esforços de
libertação dos povos colonizados.
Os Estados Unidos, em lembrança do seu próprio passado e em defesa dos seus interesses
económicos, sempre se mostraram adversos à manutenção do sistema colonial. A URSS atua em
nome da ideologia marxista - que prevê a revolta dos oprimidos pelos interesses económicos
capitalistas - e não desperdiça a possibilidade de estender, nos países recém-formados, o modelo
soviético. Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se
constituirá como um baluarte internacional da descolonização, compelindo os Estados-membros ao
cumprimento do estipulado na Carta e nas Resoluções da Assembleia-Geral que, invariavelmente,
condenaram a manutenção do domínio colonial.
ü Formação de elites nacionalistas, com educação ocidental e soviética que organizaram nos
seus territórios movimentos de luta pela independência (nacionalismos);
ü Emerge a ideia de que nos seus próprios países lutarem pela sua liberdade (direito à
autodeterminação dos povos);
ü A ONU estar cada vez mais defensora dos direitos dos povos à sua autodeterminação em
coerência com a carta da Declaração dos Direitos Humanos;
A descolonização asiática
Tornam-se independentes:
Na Índia a vontade de independência era já antiga e várias tinham sido as revoltas contra o domínio
estrangeiro. Porém, o impulso final será dado por Mohandas Gandhi (1869-1948) que, à frente do
Partido do Congresso, conduz a luta nacionalista.
Incapazes de suster a onda de contestação desencadeada pelas campanhas não-violentas organi-
zadas por Gandhi, os Britânicos reconhecem a independência do território (1947), que se divide em
dois Estados:
Outros territórios do Império Inglês do Oriente, como o Ceilão, a Birmânia e a Malásia, reclamam
igualmente a sua independência. Com exceção da Malásia, cuja excelente posição estratégica
dificulta a cedência britânica, os Ingleses aceitam que é chegado o momento da descolonização.
Dando mostras de grande pragmatismo, uma vez concluída a transferência de poderes, abrem as
antigas colónias a entrada na Commonwealth, preservando, assim, os seus interesses económicos
na região.
Também Holandeses e Franceses são forçados a abrir mão das suas colónias. Em 1945, o dirigente
nacionalista Sukarno proclama a República da Indonésia. Pouco dispostos a abdicar do território, os
Holandeses recorrem à força das armas, mas, pressionados pela ONU, acabam por reconhecer, em
1949, a independência do novo país.
A descolonização africana
A descolonização africana inicia-se nas regiões arabizadas do Norte, que, a partir de 1945,
contestam vivamente o domínio europeu.
A Líbía, colocada sob a tutela da ONU, obtém a independência logo em 1951 e, cinco anos mais
tarde, a França vê-se forçada a retirar de Marrocos e da Tunísia. Só a Argélia, onde habita 1 milhão
de colonos franceses, mergulha numa longa guerra e tem de esperar até 1962 para ver reconhecido
o seu direito à independência.
O processo independentista contou com o apoio da ONU, que se colocou inequivocamente ao lado
dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia-Geral aprovou a Resolução 1514, que consagra o
direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e condena qualquer ação
armada das metrópoles, no sentido de a impedir. Nesse mesmo ano, que ficou para a História como
"o ano da descolonização", o mundo viu nascer 18 novos países. Apenas um (Chipre) não era
africano.
O desmoronar dos impérios europeus alterou profundamente o mapa das nações. Entre 1945 e
1975, constituíram-se 70 novos países na Ásia e em Africa, que não tardam a fazer ouvir a sua voz
na cena internacional. Assumindo o seu atraso económico, herdado do colonialismo, e os seus
interesses comuns, apresentam-se como uma terceira força, independente do bloco americano e
do bloco soviético: um Terceiro Mundo.
A emergência política do Terceiro Mundo manifestou-se pela primeira vez em 1955, na Conferência
de Bandung (Indonésia), convocada por um punhado de países asiáticos para definir as linhas gerais
de atuação dos países recém-formados. A conferência, que reuniu 29 delegações afro-asiáticas, foi
a primeira a realizar-se sem a participação de qualquer potência ocidental. A participação da União
Soviética foi também rejeitada.
Em termos políticos, as nações do Terceiro Mundo não realizaram o seu objetivo de falar a uma só
voz. Face à pressão das grandes potências, os desentendimentos surgiram, enfraquecendo o
movimento. Porém, no que respeita aos esforços conjuntos para lutar contra o colonialismo e
denunciar a exploração económica dos países pobres pelos países desenvolvidos, uniram-se.
*Terceiro Mundo: Designação criada, nos anos 50, para designar os países excluídos do
desenvolvimento económico, embora possuam riquezas naturais e condições para garantir as
necessidades básicas das suas populações. O termo, rapidamente apropriado pelos países recém-
descolonizados, assumiu também a conotação política de uma terceira via na política mundial,
independente das duas superpotências. Muito popular na década de 60, a expressão Terceiro
Mundo caiu progressivamente em desuso, sendo substituída pela designação "países do Sul".