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RESUMO E COMENTÁRIOS AO LIVRO ‘O ESTADO SERVIL’

Davi Michels Ilha

Aula de terça, filosofia.

Como me foi permitido pelo professor, apresento aqui um resumo, não do


livro-padrão estabelecido para a leitura da turma, mas sim de um livro diferente.
Por se tratar de uma obra desconhecida e muito nova no Brasil, me sinto na
obrigação de não apenas resumi-la aqui e ali, mas de apresenta-la ao professor.
Trataremos aqui do livro O ESTADO SERVIL, do historiador, escritor, poeta e
ativista político francês naturalizado inglês Hilaire Belloc.

Escrito em 1912, a primeira tradução para o Brasil só foi acontecer agora,


tardia, em 2017. O livro que inspirou profundamente Friedrich Hayek, autor do
livro “O caminho da servidão” e um dos membros mais ilustres e conhecidos da
Escola Austríaca de economia, talvez tenha parecido aos militares brasileiros do
século passado “coisa de comunista”, do mesmo modo que deve ter parecido
aos esquerdistas da época “coisa de fascista”. Enfim, não podemos julgar o
porquê de tal ilustre obra não ter sido traduzida mais cedo para o português; o
que podemos, e devemos, é celebrar a alegria de termos em mãos e em língua
vernácula um livro que, além de apresentar teses brilhantes, ainda por cima
clareia muito a situação atual do Brasil, onde, ao que vemos todos os dias, não
foi descoberto que o Muro de Berlim caiu.

Apresento aqui a tese central da obra de Belloc: O capitalismo, onde


apenas alguns poucos capitalistas detém as propriedades, caminha para uma
nova escravidão. O socialismo, no entanto, ao contrário de oferecer uma solução
para o problema, apenas agrava-o, tornando o que era propriedade exclusiva de
alguns propriedade apenas de um. Ou seja, ao invés de acabar com o monopólio
e com a servidão, o socialismo deixa o que já estava ruim, pior, levando também
à escravidão – na época a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)
ainda nem existia, e nisso já podemos ver a genialidade de um homem que
previu os horrores que Lênin e seus camaradas fariam em seu país experimental.
Belloc fala que a Civilização Ocidental quase sempre usou da escravidão,
havendo uma pequena parcela de tempo onde camponeses tornaram-se donos
de suas terras e viviam em cooperativas, que os homens realmente foram livres
– se faz mister lembrar que muitas vezes Belloc restringe os fatos históricos ao
seu país, apresentando situações que aconteceram na Inglaterra apenas -. Diz
também que tal situação ruiu após o rei Henrique VIII romper com a Igreja
Católica e, por isso, tomar as terras que a mesma tinha em todo o território Inglês.
Com isso, relata que a terra não durou muito nas mãos da coroa e logo foi
vendida e dada para uma casta privilegiada de nobres, que a partir desse
momento novamente dispuseram do poder de detentores dos meios de
produção e do capital. Sendo assim, a maioria dos homens ficaram sem
propriedades, tendo que servir aos interesses de alguns poucos abastados.

A partir disso, o que o autor nos diz não é que a escravidão já está
plenamente estabelecida, mas que está retornando aos poucos, com pequenos
traços que, se não forem parados, significarão a volta da instituição da
escravidão. Citando exemplos até da própria legislação da época, Belloc
demonstra como estamos aos poucos tratando alguns como superiores aos
outros, chegando a citar leis trabalhistas exageradas, que tratavam o trabalhador
não como um homem livre que troca seu trabalho por capital, mas como alguém
que precisa ser protegido por seu patrão, que lhe é superior, mais inteligente e
quiçá mais humano.

Além disso, o capitalismo deixa os homens instáveis, não garante que


todos terão o que comer, o que aos poucos aterroriza os cidadãos. Com isso,
surgem propostas de acabar com essa instabilidade, não por meios corretos,
mas com a supressão da liberdade de todos, onde trabalharão por um preço
certo sempre, onde receberão todos os meses os seus salários, em troca de
serviços até o fim da vida, nas condições que o patrão ou o Estado escolherem.
Ora, acabo de expor grossamente o que é a escravidão. Belloc muito bem
resume que o capitalismo tornar-se-á insustentável e para mantê-lo será
necessária a volta da escravidão. O sistema capitalista deixa o homem à mercê
dos deleites dos grandes industriais e latifundiários, o que com o tempo tal
situação se torna insuportável. Com isso, torna-se fácil a adesão a ideias fúteis
de estabilidade que tirarão a liberdade do homem comum em troca do fim da
insegurança gerada pelo capitalismo.

Como já dissemos, o socialismo não seria a solução para o problema,


pois, ao invés de distribuir as propriedades, apenas acentua a situação e traz
ainda mais rapidamente a escravidão para os lares proletários.

Resta a pergunta, o que fazer para impedir que a escravidão pare de nos
seguir a todo o vapor? Belloc é taxativo: Distributismo! Devemos, pois, distribuir
as propriedades entre as pessoas. A propriedade é algo bom e necessário, e é
por isso mesmo que deve estar na mão do maior número de pessoas possíveis.
Os homens devem adentrar em cooperativas, devem se ajudar mutuamente,
encarando todos como iguais, como irmãos, numa visão realmente fraterna,
solidária. Não é anarquismo, afinal haverá a necessidade de um Estado que
garanta aos homens o mínimo para viver e que gerencie os órgãos públicos,
como o judiciário, por exemplo. Não é ditatorial, afinal os homens se uniriam
livremente as cooperativas que quisessem, sendo cada um deles senhores de
suas propriedades e de seu trabalho, com um Estado que cobre impostos para
ajudar os outros cidadãos que se encontram em situações mais que
necessitadas.

O livro é muito mais que isso! Por isso, convido o professor à leitura do
mesmo, onde, creio, encontrará uma visão sóbria dessa dicotomia forçada entre
liberais e socialistas, onde encontrará uma visão que não busca defender
fanatismos políticos, mas pura e simplesmente a verdade, o melhor sistema
possível para os homens. De outros ilustres homens que tenham defendido o
distributismo, deixo o nome do grandioso G. K. Chesterton, amigo íntimo de
Belloc, além do socialismo George Orwell, que demonstrou profunda simpatia
pelo movimento. Caso tenha encontrado alguma lacuna nas ideias, afirmo com
veemência que não considere isso um pecado de Belloc, mas meu, que, por
mais que tenha me esforçado para ser digno de resumir tal obra, não cheguei
nem perto de fazer uma exposição completa e digna da obra.

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