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DISCIPLINA Geografia PROFESSOR: Pablo

NOME Material:
DATA:   TURMA 9° ano

O CAPITALISMO DEU CERTO E O SOCIALISMO


FRACASSOU? O QUE A HISTÓRIA DIZ
Desde a queda da URSS o Capitalismo segue triunfante e impondo sua hegemonia, mas
será que isso o torna algo bom e o socialismo algo que deve ser esquecido? Para ter
uma resposta é necessário entender a origem do Socialismo, bem como as mudanças
que provocou no mundo, inclusive no próprio Capitalismo.

HISTÓRIA HYPERLINK "HTTPS://VOYAGER1.NET/CATEGORIA/HISTORIA/GERAL/"GERAL


Por Eduardo HYPERLINK "https://voyager1.net/author/eduardo/"Migowski. 

Disponível em: https://voyager1.net/historia/o-papel-do-socialismo-na-historia/

1990 – Presidente Ronald Reagan

“A causa a que devotei boa parte da minha vida não prosperou. Eu espero que
isto me tenha transformado em um historiador melhor, já que a melhor
história é escrita por aqueles que perderam algo. Os vencedores pensam que
a história terminou bem porque eles estavam certos, ao passo que os
perdedores perguntam por que tudo foi diferente, e esta é uma pergunta
muito mais relevante.” (Eric Hobsbawm)
Imagine uma comunidade ideal, numa ilha distante. Isolada do restante
do mundo. Tal sociedade seria formada por 54 distritos e não
haveria propriedade privada. A terra, principal fonte de riquezas, seria de
uso comum. A jornada de trabalho duraria no máximo seis horas. Haveria
também total liberdade de crença, de religião e todos os homens seriam
iguais ao nascer. Seria um mundo ideal, sem hierarquias. Enfim,
uma utopia. E foi exatamente esse o nome escolhido pelo escritor do
texto no qual aparecem essas confabulações, “Utopia”, escrita em 1516.
Seu autor não foi Marx, Engels ou Lênin. Mas do filósofo inglês Thomas
More. More morreu em 1535 decapitado por se recusar a abandonar a fé
católica. Por tal motivo, tornou-se Santo da Igreja.
Apesar das semelhanças, More não pode ser considerado um socialista. A
palavra socialismo, tal qual conhecemos hoje, aparece somente em 1820.
Tal doutrina é produto dos desdobramentos daquilo que o historiador
inglês Eric Hobsbawm chamou de Dupla Revolução, ou seja, a Revolução
Industrial (1750) e a Revolução Francesa (1789). Porém, há uma
semelhança fundamental entre ambas. Tanto as ideias de More, quanto
as socialistas, nascem do espanto ante as imperfeições da realidade. No
primeiro caso, era a Inglaterra de Henrique XVIII. No segundo, os
desdobramentos da Revolução Industrial.
A palavra utopia quer dizer “lugar nenhum”. Utopias são, portanto,
modelos ideais. Aparentemente perfeitos e, por isso, inalcançáveis para
sociedades formadas por homens imperfeitos. Mas nem por isso elas
podem ser descartadas. A ideia de perfeição nos permite perceber as
contradições e as injustiças do mundo em que vivemos. Pensar outras
realidades, outros mundos possíveis, nos obriga a caminhar, a agir,
mesma sabendo que não há uma linha de chagada.

O Mundo antes do Socialismo


A Fome, de Henri Jules Jean Geoffroy – 1886

Até 1789, o liberalismo era a ideologia dominante. Os liberais pregavam


a liberdade irrestrita do indivíduo. Seus teóricos argumentavam que a
busca do prazer individual seria o caminho para o bem estar geral. O
problema é que, a despeito da coerência teórica, a realidade cotidiana
teimava em demonstrar o contrário.
A Revolução Industrial mudou em definitivo o modo de vida das
populações europeias. A máquina substituiu o trabalho manual. Quem
ditava o ritmo do trabalho, doravante, seriam as indústrias. Eram elas que
davam emprego à população que saia dos campos e migrava para as
cidades. E esse número aumentava de forma jamais vista. Entre 1801 e
1851, a população de Birminghan cresceu de 73 mil para 250 mil.
Em Liverpool, de 77 mil para 400 mil habitantes. Os efeitos desse
crescimento descontrolado dos centros urbanos são bem conhecidos por
nós brasileiros: miséria, violência epidemias, poluição entre outros.
O trabalho nas fábricas requeria pouca especialização. Poderia ser
realizado por qualquer pessoa. O amplo mercado mundial, criado pelas
navegações que vinham ocorrendo desde o século XVI, proporcionava
uma demanda quase que infinita para os produtos manufaturados. O
fluxo de ouro e prata, do novo para o velho mundo, garantia excedente
de capital. Foram tais condições: 1- demanda elástica, 2- mão de obra
barata, 3- grande quantidade de capital, que permitiram o surto industrial
europeu.
Sem maiores preocupações com a demanda, a lógica nas primeiras
décadas da modernidade era aumentar incessantemente a produção. O
trabalhador era levado ao limite da exaustão física e mental. Se o trabalho
era repetitivo e simples, por que não poderia ser realizado por mulheres e
crianças? A mão de obra infantil e feminina foi amplamente utilizada, em
jornadas diárias que chegavam a 18 horas. Três vezes mais da imaginada
por More três séculos atrás.
Aos poucos, as cidades inglesas foram sendo divididas em grupos com
interesses antagônicos. Não havia direitos sociais. O Estado pouco
intervia, e quando o fazia era em favor dos empresários. Um exemplo é
a Lei dos Pobres que entregava às fabricas os filhos dos indigentes que
passavam a trabalhar por contrato, muitas vezes sem nenhuma
remuneração. O livro Oliver Twist, de Charles Dickens, retrata esse
drama de forma magistral.
A negociação salarial era feita entre o funcionário e o patrão. Ora, num
ambiente de miséria, de fome e de superlotação das cidades, seria fácil
supor que qualquer valor seria aceito como salário. Não era uma
negociação trabalhista, mas uma luta pela sobrevivência. As cidades
estavam amontoadas de gente, os trabalhadores competiam entre si e
poderiam ser trocados sem grandes dificuldades. Segundo Hobsbawm,
haviam três alternativas para o trabalhador pobre: 1) lutar para se
tornarem parte do patronato, o que era quase impossível para quem não
possuía o mínimo de recursos; 2) poderiam se resignar com a realidade
de exploração; 3) poderiam se rebelar. Mas se rebelar em nome do quê?
Um dos primeiros métodos foi a quebra das máquinas. O maior símbolo
do progresso era visto também, pelo homem pobre, como a causa da sua
exploração. Mas tal gesto não transformaria a sociedade. Seria preciso
pensar em novas formas de organizar a produção.

O Socialismo como uma reação a uma ordem


injusta
Levantando a Bandeira, de Geli Korzhev.

A Europa estava cada vez mais distante do modelo de More. Porém, é


justamente quando os sonhos se afastam das expectativas palpáveis que
eles se tornam utopia. O estilo vida tradicional se esvairia, as certezas
sumiam. O futuro era incerto. A realidade esmagava os homens. Só
restava o desejo de um futuro diferente. Mas quando? Sem perspectivas
concretas, o horizonte seria preenchido por novas utopias. “Tudo o que é
sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profano e os
homens são finalmente obrigados a encarar sem ilusões a sua posição
social e as suas relações com os outros homens”. Escrevia um
inspirado Karl Marx no Manifesto Comunista.
A atomização do indivíduo liberal os deixava vulneráveis. O trabalhador
precisava se alimentar e o empresário detinha os meios de produção.
Numa “negociação livre”, o segundo ditaria as regras. A organização dos
operários era uma necessidade básica. Uma estratégia de sobrevivência.
Porém, não seria simples. O Estado não era um árbitro imparcial, como
muitos pensavam. Em 1791 a Lei Chapelier, escrita ainda no início da
Revolução Francesa, proibia as associações operárias. Argumentava-se
que os sindicatos prejudicavam a livre concorrência e o funcionamento
natural da economia. Sem amparo legal, as manifestações contra a
precarização da vida urbana logo tomariam a forma de motins e
rebeliões.
Na França a “Conspiração dos Iguais”, liderada por Graco Babeuf, fazia
a incomoda pergunta se o homem pobre era realmente um cidadão. Na
Inglaterra, segundo levantamento do historiador Eric Hobsbawm, houve
sublevações nos anos de 1811-1813, 1815-1817, 1819, 1826, 1829-1835,
1836-1842, 1843-1844 e 1846-1848. Muitos desses levantes eram reativos
e tinham caráter espontâneo. As insatisfações eram generalizadas, porém
havia poucas propostas verdadeiramente revolucionárias. O socialismo
emergiu desses descontentamentos difusos. Seu objetivo era canalizar
essas forças e transformá-las num projeto político genuinamente
operário.
O socialismo, portanto, pode ser definido como uma resposta alternativa
a um contexto social de intensa exploração e desigualdade. Mas como se
organizaria a sociedade socialista? E como seria possível alcançar tal
transformação? A base comum do movimento era a crítica à propriedade
privada. Porém, a partir desse momento, as divergências parecem não ter
fim. Como transformar a sociedade: reforma ou revolução? Tais noções
não são antagônicas. As reformas, caso sejam feitas num ritmo acelerado,
podem também ser revolucionárias. A modernidade havia dado dois
exemplos. A Revolução Industrial fora social e econômica. Novos métodos
de trabalho, de disciplina, de organização e novas tecnologias haviam
suprido de forma mais eficiente as demandas existentes. Num curto
espaço de tempo, a paisagem urbana dos grandes centros urbanos seria
transformada de forma definitiva. O outro modelo seria o da Revolução
Francesa. Protótipo de uma revolução armada, em que a população sai às
ruas para derrubar um governo pela força. Qual desses métodos era mais
eficaz para superar o capitalismo? Sobravam respostas, mas faltavam
consensos.

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