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A era das revoluções | Porcos a voar!!? (Opláaaaahhh!!

) 03/12/21, 17:59

Porcos a voar!!? (Opláaaaahhh!!)

"Se fosse fácil faziam os outros…"

A era das revoluções


MAIO 27
Posted by Joker
Eric Hobsbawm afirma, na sua obra “A era das revoluções”, que a dupla revolução (1789-1848), a
francesa, mais política, e a inglesa, industrial, protagonizam “o triunfo não da “indústria” como
tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, mas da classe média ou
da sociedade “burguesa” liberal; não da “economia moderna” ou do “Estado moderno”, mas das
economias e Estados numa determinada região geográfica do mundo (parte da Europa e alguns
trechos da América do Norte) (…)” e que esta “constitui a maior transformação da história
humana desde os tempos remotos quando o homem inventou a agricultura e a metalurgia, a
escrita, a cidade e o Estado (…), sendo que a mesma “transformou, e continua a transformar o
mundo inteiro”. Independentemente da formulação ideológica do autor em referência, cumpre
assinalar a importância das chamadas “revoluções burguesas” como fenómeno típico da luta
política internacional até ao advento da Era das Revoluções Proletárias (ARRUDA, 2014, p.130),
das quais a Revolução Inglesa (1648, Revolução Puritana; 1688 a Revolução Gloriosa), por
percursora, concretiza a destruição do “poder do Estado protetor da velha ordem essencialmente
feudal (…)” passando aquele para “as mãos de uma nova classe, e assim o livre desenvolvimento
do capitalismo tornou-se possível”.

A eclosão da Revolução Inglesa do Século XVII, acção de compromisso social entre a nobreza e a
burguesia, veio eliminar drasticamente o antigo modo de produção artesanal, suprimindo as
barreiras para o avanço dos cerceamentos das terras e completou a Revolução Agrária, com o
apoio do tripé composto pelo Banco da Inglaterra – Governador do Tesouro – Primeiro Ministro,
no sentido do avanço sobre os mercados mundiais e a efectiva implementação do capitalismo
(ARRUDA, 2014, p. 131). Para o mesmo autor é “impossível entender a eclosão da Revolução
Industrial sem entender as transformações decorrentes da sociedade, da economia e do Estado
inglês, resultantes das revoluções sociais”.
No século XVIII a Inglaterra realiza uma revolução agrícola, indissociável da Revolução Industrial,
e projecta-se como o motor da Europa das Luzes, através do seu modelo Norfolk, cidade que,

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sozinha, exportava mais trigo que todo o resto da Inglaterra (CHAUNU, 1995, Pp.13 e segs.).
Resolvido o problema das enclosures, o direito de fazer cercas, em simultâneo com a partilha de
terrenos comunais, que tradicionalmente tem o seu ponto de partida no século XVI, mas cujo
desenlace se situa no século XVIII, tudo se conjuga para uma transformação que há-de comandar o
progresso técnico, o favorecimento do individualismo agrário e a criação de uma mentalidade
capitalista, no ensejo de se obter produções negociáveis, os money crops. A plasticidade social da
Inglaterra é única (ao contrário da França, caracterizada pelo imobilismo social) sendo que o
sistema senhorial está esgotado desde o século XVI, e que, por força da revolução política do
século XVII a elite do país se confunde com a classe governante. Nesse sentido, no século XVIII a
Inglaterra está em condições de protagonizar um take off, duplicando a sua produção agrícola e
afectando apenas um terço da sua população activa ao sector. Assim, o nível de vida em Inglaterra
difere do do continente. Esta come carne, aquece-se com carvão de pedra, vive em casas de tijolo e
com um telhado que não é de colmo, criando, com isso, uma “nova paisagem que apaga a antiga”.
As necessidades do seu mercado interno contribuem tanto ou mais que o mercado externo, para o
crescimento da sua economia, sendo que este arranque britânico afecta, por arrastamento, toda a a
Europa continental e as ex-colónias da América do Norte.

Tudo se conjuga para que seja em Inglaterra que se opere a Revolução Industrial: factores sociais
(sociedade empreendedora e inventiva, mentalidade calvinista), razões políticas (prevalência do
parlamentarismo), conjugações de natureza económico-financeira (abundância de capitais, amplo
mercado, vasta rede de comunicações e uma poderosa marinha mercante). A partir de 1780 os
desfasamentos definitivos entre a Inglaterra e a França são por demais evidentes: a uma Inglaterra
industrializada e rica opõe-se uma França com crise de preços e de rendimentos. Nos factores de
produção também existem diferenças assinaláveis: à mão-de-obra abundante francesa contrapõe-
se a inovação técnica, pela máquina-ferramenta e por uma energia cuja motor produzia a sua
própria força motriz, transformando-a em força mecânica – a energia a vapor. Entre os dois
modelos políticos em jogo, a Monarquia moderada inglesa e a Monarquia absolutista francesa,
prevalece a primeira como factor de maior dinamismo e actualidade . A França sofre da debilidade
e da incoerência do seu sistema fiscal baseado numa “hierarquia de honras”. Esta ordem de
factores conduz a França à sua revolução “burguesa”, em 1789, como forma de destruição da sua
“feudalidade”, um “sistema económico tradicional de um mundo dominado, ainda, pela economia
rural” e que à época significava ainda 85% da população francesa, com uma conjuntura económica
opressivamente condicionada “pelos ritmo dos períodos de carestia e de crise meios de
subsistência” (VOVELLE, 1994, PP. 11-18). A somar a isto “todo o sistema social reflecte ainda a
opressão do imposto “senhorial”, com a aristocracia nobiliária e o clero a possuírem mais de um
terço solo produtivo francês.

A queda do Ancien Régime, centrado na estrutura de ordens, no Estado absolutista e no regime


económico feudal, em França, é precedida, em 1776, pela Revolução Americana e pela afirmação
do optimismo das Luzes e do seu humanismo, no sustentáculo do princípio dos homens nascidos
iguais e onde, pela primeira vez, as ideias dos filósofos iluministas se tornam uma realidade. O
modelo americano projecta-se no pensamento político e constitucional francês, e daí perpassa a
todo o continente europeu, provocando inúmeras rebeliões ou revoluções colaterais. A
propriedade, a busca da felicidade, como modelos político-económicos, vertem-se como direitos
fundamentais do homem. A crença na evolução tecnológica, no conhecimento científico e na
“ideologia” do progresso individualista, secularista e racionalista, veio contribuir para o

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estabelecimento de um domínio mundial por uns poucos regimes ocidentais (com preponderância
britânica), que não teve paralelo na história14. Para Hobsbawm a história da dupla revolução não
é, tão só, o triunfo da nova sociedade burguesa, é também o aparecimento das forças de que, após
1848, viriam criar os mecanismos dialéticos para a sua antítese histórica…*

BIBLIOGRAFIA:

ARRUDA, José Robson de Andrade. Perspectivas da Revolução Inglesa. Revista Brasileira de


História, 1994. Disponível em https://historiamodernai.wordpress.com/ 2014/10/01/as-
perspectivas-da-revolucao-inglesa-artigo-produzido-por-jose-jobsonarruda-usp-ler-noseguinte-
link/ (https://historiamodernai.wordpress.com/ 2014/10/01/as-perspectivas-da-revolucao-
inglesa-artigo-produzido-por-jose-jobsonarruda-usp-ler-noseguinte-link/).

CHAUNU, Pierre. A Civilização da Europa das Luzes I. Lisboa, Editorial Estampa, 1995.

CHAUNU, Pierre. A Civilização da Europa das Luzes II. Lisboa, Editorial Estampa, 1995.

HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções 1789-1848. Edição digital “Le Livros”. Disponível em
http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-era-das-revolucoes-eric-jhobsbawm-em-pdf-epub-e-
mobi-ou-ler-online/ (http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-era-das-revolucoes-eric-
jhobsbawm-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/).

MAURO, Fréderic. A expansão Europeia. Lisboa, Editorial Estampa, 1995.

PIRES, Maria Laura Bettencourt Pires. Sociedade e Cultura Norte-Americanas.


Lisboa, Universidade Aberta, 1996.

VOVELLE, Michelle. Breve história da Revolução Francesa. Lisboa, Editorial Presença, 1994.

* Este texto não obedece às regras do novo acordo ortográfico.

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Posted on 27 de Maio de 2019, in Europa, Governo, História, Sociedade. Bookmark the permalink.
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