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O PENSAMENTO SOCIAL E

POLÍTICO DO SÉCULO XIX


LIBERALISMO POLÍTICO PÓS-
REVOLUÇÃO FRANCESA
• Com a queda de Napoleão, em 1815, houve a
tentativa de restaurar o Antigo Regime, no entanto,
as ideias liberais estavam fortemente alicerçadas.
• Para os pensadores iluministas e pré-iluministas,
como Locke, a função do Estado, estabelecido por
um contrato social, seria proporcionar a felicidade
dos cidadãos garantindo-lhes, mediante a proteção
das leis, os direitos naturais (vida, liberdade e
propriedade privada), chamados agora de individuais.
• Dentro do Antigo Regime, o rei era rei por direito
divino e a economia deveria funcionar para o
enriquecimento e fortalecimento do Estado, isto é, do
seu monarca.
A CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO
NO SÉCULO XIX
• Os avanços econômicos pelos quais passava a
Europa, e em particular a Inglaterra, desde o
século XVII, produziram grandes mudanças na
sociedade:
1. A transformação do trabalho em mercadoria → o
que regulava o pagamento não eram mais os
costumes, mas as relações capitalistas com o
objetivo de gerar lucro para o patrão.
2. A criação do proletariado.
3. Acirramento das relações entre o Capital
(burguesia) e o Trabalho (proletários).
PROLETÁRIO: QUAL A ORIGEM DA
PALAVRA?
• Os proletários (proletarii) eram uma
classe de cidadãos na Roma Antiga,
que possuíam pouca ou nenhuma
propriedade, isto é, que de seu só
teriam a sua prole, pois os filhos, no
Direito Romano, eram propriedade do
pai.
• No século XIX, os pensadores
liberais e, mais tarde, Karl Marx,
passaram a utilizar o termo para os
trabalhadores que de seu só tinham a
sua força de trabalho.
• O romance social nasce na Inglaterra
ligado ao posicionamento crítico sobre
a sociedade industrial. Neste campo
destaca-se Charles Dickens (1812-
1870), em seu livro Oliver Twist (1838),
ele satiriza as hipocrisias de seu
tempo, incluindo o trabalho infantil, a
violência doméstica, o recrutamento
de crianças como criminosos e a
presença de crianças de rua.
• O romance pode ter sido inspirado na
história de Robert Blincoe, um órfão
cujo relato sobre o trabalho infantil em
uma fábrica de tecidos foi amplamente
lido na década de 1830.
• Os livros de Dickens tem grande apelo
emocional e foram adaptados para o
cinema, a TV e musicais, várias vezes.
UMA CIÊNCIA PARA EXPLICAR A
NOVA SOCIEDADE
• No século XIX, as mudanças sociais promovidas pela
industrialização tornaram-se evidentes em várias
regiões: crescimento das cidades, acirramento das
desigualdades sociais, crise dos valores tradicionais,
avanço das doenças impulsionadas pela miséria,
aumento das taxas de violência, suicídio, alcoolismo,
prostituição etc.
• Dentro das universidades e fora delas, intelectuais
perplexos buscaram explicar essas mudanças e
oferecer respostas aos problemas que estavam
evidentes → nasce a Sociologia.
• Os dois pais da Sociologia como ciência foram os
franceses Auguste Comte (1798-1857) e Emile Durkheim
(1858-1917), com um estudo sobre o Suicídio.
AUGUSTE COMTE E O POSITIVISMO

• A palavra Sociologia foi usada pela


primeira vez em 1830 pelo filósofo
Auguste Comte. Quando jovem, foi
secretário de Conde de Saint Simon, um
dos mais importantes intelectuais de sua
época e um dos expoentes do chamado
socialismo utópico.
• Auguste Comte acreditava que o
progresso moral e científico da
sociedade seria garantido pelo reforço
da ordem social. “Filho do iluminismo”
defendia o uso do método científico e da Auguste Comte
razão. (1798-1857)
AUGUSTE COMTE E O POSITIVISMO
• Antes de usar o termo “Sociologia”, Comte se
referia à nova ciência pelo nome de “Física Social”,
pois defendia que os estudos sociais deveriam ser
feitos seguindo o padrão das ciências exatas. Tal
como as demais ciências, a Sociologia se
dedicaria à busca dos acontecimentos constantes
e repetitivos, só que nas organizações sociais,
usando os mesmos procedimentos das ciências
naturais deveriam ser empregados, tais como a
observação, a experimentação, a comparação, etc.
• Os positivismo na política defende o Estado Laico,
a industrialização e o governo dos mais aptos, a
repúbica, mas não necessariamente a democracia.
O positivismo
influenciou a ciência
histórica com a noção
de progresso contínuo,
característico do século
XIX, e criou uma religião
própria baseada na
ciência.
O Positivismo teve forte
influência entre os
intelectuais e militares
brasileiros a partir da
década de 1870.

O lema do positivismo, exposto por Comte em seu


"Catecismo Positivista" (1852), é o seguinte: "O Amor por
princípio, a Ordem por base, e o Progresso por fim".
Resumidamente: Amor, Ordem e Progresso.
O CARTISMO
• Em 1832, houve uma reforma eleitoral na Inglaterra
que ampliou o número de cadeiras no Parlamento,
deu direito de voto aos pequenos proprietários,
arrendatários rurais e lojistas e determinou que o
voto era masculino.
• Como a reforma desconsiderou os operários, que, a
rigor, só tinham de seu sua força de trabalho, surgiu
o movimento cartista, em torno de um conjunto de
propostas que foram apresentadas ao Parlamento em
1837. As seis propostas cartistas eram: Sufrágio
universal masculino; que o parlamento fosse eleito
anualmente; voto secreto; pagamento de salários aos
deputados e que esses não precisassem ser
proprietários; igualdade entre os distritos eleitorais.
Comício Cartista em Kennington Common, 10 de abril de
1848. Ao lado, um panfleto do movimento convocando
para uma manifestação sob o lema da paz e da ordem.
O CARTISMO

• Os cartistas também pediam a regulamentação da


jornada de trabalho e dos salários e ainda a restrição
do trabalho feminino e infantil.
• O cartismo promoveu grandes manifestações públicas
(demonstrations) que eram duramente reprimidas e
vários lideranças terminaram presas.
• O cartismo durou dez anos, de 1838 até 1848, tendo
repercussões até 1857 → Os cartistas não
conseguiram o sufrágio universal masculino, que só
foi alcançado na Inglaterra depois da 1ª Guerra
Mundial, mas houve a aprovação de algumas leis
trabalhistas pelo Parlamento e o cartismo influenciou
o movimento operário em toda a Europa.
PRIMEIRAS LEIS TRABALHISTAS
Em 1840, uma comissão do
Parlamento começou a investigar as
condições de trabalho nas minas. As
ilustrações ao lado vieram do
relatório final.
Crianças de até 4 anos trabalhavam no
subsolo.
A lei de 1842 proibiu o trabalho das
mulheres e meninos menores de 10
anos no subsolo, em 1860, o limite
passou a ser 12 anos.
Em 1850 foi estabelecida rígida
fiscalização das minas.
09/08/2023 Prof.ª Valéria Fernandes 13
SOCIALISMO UTÓPICO E CIENTÍFICO
• Nas primeiras décadas do século XIX, com os avanços
da sociedade industrial e seus problemas, a ideia de que
a igualdade jurídica não era suficiente para garantir
melhores condições de vida para todos tornou-se objeto
de discussão e o termo socialista passou a ser utilizado,
ainda não com um sentido muito claro tanto na
Inglaterra, quanto na França e Alemanha, assim como a
palavra comunista.
• Quando estudamos as vertentes socialistas do século
XIX, as reduzimos a apenas duas por questões didáticas.
Então, temos de um lado, o Socialismo Utópico, do
outro, o Científico. O Anarquismo é tratado à parte, mas
é, também, uma corrente socialista.
SOCIALISMO UTÓPICO

• Utopia tem dos significados principais: “lugar ou


estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre
os indivíduos. 2. qualquer descrição imaginativa de
uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e
em instituições político-econômicas verdadeiramente
comprometidas com o bem-estar da coletividade.”
• O Socialismo Utópico está ligado à iniciativas de
empresários que percebendo as condições precárias
dos trabalhadores decidiam criar a fábrica-modelo, a
fazenda-modelo, a oficina-modelo, com escolas e
creches, jornada de trabalho limitada, e, em alguns
casos, garantindo o direito de autogestão aos
operários.
SOCIALISMO UTÓPICO
• Robert Owen, promoveu, na década de
1820, reformas em sua fábrica na
Escócia e criou uma fazenda-modelo nos
Estados Unidos. Sua fábrica em New
Lanark, Escócia, era visitada por
reformadores de vários países.
• Owen, que havia sido operário, observou
conhecia as péssimas condições de vida
dos operários e melhorou suas casas,
criou um armazém em que se podiam
comprar mercadorias a preço módico,
promoveu o estrito controle das bebidas
alcoólicas reduzindo o vício e o crime, e
fundou a primeira escola maternal Robert Owen
britânica (1816). (1771-1858)
Fábrica de tecidos de Robert Owen na Escócia.
SOCIALISMO UTÓPICO
• Lutou na Revolução Americana e na
Revolução Francesa. Já com 40 anos
retomou seus estudos e passou a refletir
sobre a sociedade, defendia que a ciência
era a chave para o desenvolvimento
humano e que a religião teria que ser
científica, com os padres sendo
substituídos por cientistas. Propôs uma
organização do trabalho humano em uma
imensa fábrica, onde “a cada um segundo
sua capacidade, a cada capacidade
segundo seu trabalho”. A exploração seria
substituída pela organização coletiva do
trabalho, onde cientistas e industriais
exerceriam os postos de comando. Seus Conde de Saint-
seguidores passaram a defender o fim da Simon
propriedade privada. (1760-1825)
SOCIALISMO UTÓPICO
• Foi um filósofo e escritor que propunha como
forma de organização da nova sociedade o
funcionamento em cooperativas de produção e
consumo (falanstérios). Algumas comunidades
na França, no Brasil (Santa Catarina) e nos
EUA chegaram a ser formadas de acordo com
os planos de Fourier.
• Defendia a igualdade entre homens e mulheres
opondo-se ao pensamento de Rousseau. E
interessou pela educação das crianças e os
via como criativos e capazes de aprender pelo
exemplo.
• Associava os judeus ao capitalismo e ao
comércio, algo condenável. Curiosamente,
defendia que os judeus fossem protegidos da
perseguição e pudessem ter sua nação para si Charles Fourier
na Palestina. (1772-1837)
Contração de
“falange” e
“mosteiro”, o
falanstério
designa uma
pequena
cidade cujos
edifícios se
destinam a
promover a
vida
comunitária
de
associados
que colocam
as suas
competência
s ao serviço Idealizadas pelo filósofo francês Charles Fourier, eram
de todos e grandes construções comunais que refletiriam uma
partilham os organização harmônica e descentralizada onde cada
seus um trabalharia nos conformes de suas paixões e
recursos. vocações.
SOCIALISMO UTÓPICO

• Político e historiador francês, desejava que


o governo encorajasse as cooperativas em
substituição às empresas capitalistas. As
cooperativas deveriam ser associações de
pessoas que que produziam juntas e
dividiam o lucro de acordo.
• Após a Revolução de 1848, Blanc tornou-se
membro do governo provisório e colocar
em ação o seu projeto de cooperativas. A
instabilidade política levou o projeto ao
fracasso e Blanc foi para o exílio.
• Retornou depois da Guerra Franco-
Prussiana, tornou-se membro da
Assembleia Nacional e defendeu os presos Louis Blanc
na Comuna de Paris. (1811-1882)
BLANQUI UM UTÓPICO DIFERENTE
• Blanqui foi o mais influente socialista antes
de Marx, apesar de ser contado entre os
utópicos, era um revolucionário. Defendia a
redistribuição justa da riqueza, a sua
revolução não seria proletária, mas deveria
ser feita por um pequeno grupo, que
estabeleceria uma ditadura temporária.
Este período de tirania transitória permitiria
a implementação das bases de uma nova
ordem, após a qual o poder seria entregue
ao povo. Diferente dos outros utópicos,
escreveu pouco sobre a sociedade futura,
estava mais preocupado em pensar a
revolução.
• Editou o jornal Ni Dieu Ni Maitre (Nem Deus Louis Auguste
nem Mestre). Foi preso várias vezes, seus Blanqui (1805-1881)
seguidores foram chamados de blanquistas.
“A MULHER É A PROLETÁRIA DO
PROLETARIADO”
• Flora Tristan, filha de mãe francesa e pai
peruano, nasceu na Espanha e foi educada
na França. Uma das pioneiras do socialismo
e do feminismo, defendia que a
emancipação das mulheres estava ligada à
luta do operariado pelo fim da exploração de
classes. Defendia a igualdade entre homens
e mulheres e seu direito ao divórcio, à
educação, mesmo salário, e participação
ativa nas organizações operárias.
• Em 1843, escreveu o ensaio União Operária,
sua obra mais importante. Deixou vários
escritos sobre a luta operária, a condição
das mulheres e suas muitas viagens.
Morreu precocemente aos 41 anos de febre Flora Tristan
tifoide. Suas ideias influenciaram a obra de (1803-1844)
Marx e Engels.
O QUE OS SOCIALISTAS UTÓPICOS
DESEJAVAM?
• Eliminação das desigualdades;
• Equilíbrio entre trabalho, educação e
vida privada; As experiências
• Harmonia dentro da utópicas tenderam
sociedade/eliminação da luta de ao fracasso, pois
classes; tentavam implantar
• Um governo justo; no interior do
• Primazia dos direitos coletivos sobre Capitalismo
os direitos individuais; organizações de
• Oportunidades iguais para todos os trabalho contrárias
homens; ao próprio sistema.
• Que todos pudessem usufruir da
riqueza e redistribuição de riqueza e
recursos.
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) em
um quadro mostrando a impressão do Manifesto
Comunista e a foto da sua 1ª edição.
SOCIALISMO CIENTÍFICO
• O marco inicial do Socialismo Científico foi o
Manifesto Comunista, em 1848, dos alemães Karl
Marx e Friedrich Engels.
• Após as revoluções de 1848, os autores passaram a
defender que não havia conciliação possível entre a
burguesia, dona dos meios de produção (fábricas,
terra, bancos, ferrovias, minas, ferramentas etc.) e os
trabalhadores, que vendem sua força de trabalho →
Reformar o Capitalismo seria, então, impossível.
• Marx dedicou-se então a estudar o capitalismo por um
lado, no que resultou a sua obra O Capital, publicada
entre 1867 e 1883, e, com o seu trabalho, promover o
movimento operário.
O filme O Jovem Karl Marx (Le jeune Karl Marx/2017)
conta o início da carreira de Marx, sua amizade com
Engels e os primórdios do movimento operário.
ALGUMAS IDEIAS MARXISTAS
IMPORTANTES
• Um modo de produção é a maneira como uma
sociedade produz seus bens e serviços, como os
utiliza e os distribui.
• O Materialismo Histórico Dialético explica a História
por meio dos fatores materiais.
• Para Marx é a base econômica que determina a
organização de uma sociedade, não as ideias, a
cultura, ou a religião.
• Marx e Engels defendiam a via revolucionária, isto é,
não haveria possibilidade de reforma do Capitalismo,
como defendiam os utópicos, e que o sistema
chegaria ao fim pelas suas próprias contradições.
Os Protetores da nossa Indústria, Nova York, 1883. (Fonte)
“A história de todas as sociedades que existiram até
nossos dias tem sido a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo,
mestre de corporação e companheiro, numa palavra,
opressores e oprimidos, em constante oposição, têm
vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora
disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma
transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou
pela destruição das duas classes em luta. (...) A
sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da
sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe.
Não fez senão substituir novas classes, novas condições
de opressão, novas formas de luta às que existiram no
passado. (...) A burguesia desempenhou na História um
papel eminentemente revolucionário.” (Trecho do Manifesto
Comunista)
ALGUMAS IDEIAS MARXISTAS
IMPORTANTES
• A luta de classes é o motor da História,
pois classes sociais com interesses
antagônicos, no caso do Capitalismo, a
burguesia e o proletariado, jamais iriam
cooperar.
• Para Marx e Engels, os trabalhadores
deveriam se organizar e caminhar para
uma revolução que possibilitasse a
coletivização dos meios de produção, a
eliminação das classes sociais e o “Operários do
início da transição para o comunismo. mundo, univ-vos!”,
cartaz soviético de
1920.
O QUE SERIA O COMUNISMO?
“O comunismo é uma ideologia política e socioeconômica
que pretende estabelecer uma sociedade igualitária, por
meio da abolição da propriedade privada, das classes
sociais e do próprio Estado. Embora a ideia de igualdade
baseada no fim das classes tenha sido defendida por
filósofos desde a antiguidade, o comunismo está associado
sobretudo à teoria dos pensadores Friedrich Engels e Karl
Marx.” (*Fonte*)
• O Socialismo seria uma etapa de transição para o
Comunismo.
• Até a a década de 1840, na Inglaterra, a palavra
comunismo estava associada às ações de reformistas
religiosos, a palavra passou por uma resignificação.
Para impulsionar o
movimento operário e a
consciência de classe,
Marx e Engels organizaram
a Primeira Internacional
Socialista em Londres, em
1864. Reunia socialistas,
comunistas, anarquistas,
sindicatos e outros grupos.
Foi dissolvida em 1876.

A Segunda Internacional começou suas atividades em Paris,


em 1889, quando foi estabelecido que o dia 1º de maio seria o
Dia Internacional do Trabalho, estabeleceu a greve geral
como instrumento de luta e a jornada de trabalho de 8 horas
como objetivo. Foi dissolvida durante a 1ª Guerra Mundial, em
1916. A Terceira Internacional se reuniu em Moscou, em 1919,
depois da Revolução Russa, e foi dissolvida em 1943.
Manifestação de Primeiro de Maio em Putilov de Boris
Kustodiev (1906).
ANARQUISMO
• A palavra “anarquismo” vem do grego “anarkhia”,
“ausência de governo”. O anarquismo é uma teoria e
ideologia política que não acredita em nenhuma
forma de dominação. Para os anarquistas, o poder do
Estado é sempre um corruptor, mesmo quando gerido
pelos trabalhadores.
• O surgimento do anarquismo, que é uma das
correntes do socialismo, ocorreu por meio da
Associação Internacional dos Trabalhadores,
localizada em Londres, na Inglaterra, na década de
1860. Sua ideologia foi inspirada principalmente nas
ideias de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865),
especialmente, seu livro “O que é a propriedade?”,
que não separava o poder do Capital do poder do
Estado.
ANARQUISMO
• O Anarquismo ganhou mais relevância entre os
trabalhadores sob a liderança intelectual do russo
Mikhail Bakunin (1814-1876), na década de 1860.
• Bakunin defendia a ação revolucionária para a
tomada dos meios de produção como forma de se
chegar ao coletivismo → popularizou-se a ideia de que
eram necessárias ações diretas e alguns anarquistas
se envolveram ativamente em atentados contra
monarcas no século XIX e início do século XX.
• O anarquismo ganhou grande importância no meio
operário, competindo com o socialismo (marxista).
Marx e Engels criticaram as ideias anarquistas
rotuladas de infantis e aventureiras → O Anarquismo
começou a perder importância após a Revolução
Russa de 1917.
Retrato de Mikhail Bakunin e, ao lado, o assassinato da imperatriz da
Áustria, Elizabeth (Sissi), em Genebra, em 10 de setembro 1898,
cometido pelo jovem anarquista italiano Luigi Lucheni. Em três
décadas, a partir de 1880, anarquistas mataram um czar, um
presidente norte-americano, dois primeiros-ministros espanhóis, um
rei italiano e um presidente francês.
• Nascida na Lituânia (na época,
parte do Império Russo), Emma
Goldman (1869-1940) foi uma das
grandes lideranças anarquistas e
defendeu a igualdade entre
homens e mulheres.
• “Busco a independência da
mulher, seu direito de se apoiar;
de viver por sua conta; de amar
quem quer que deseje, ou quantas
pessoas deseje. Eu busco a
liberdade de ambos os sexos,
liberdade de ação, liberdade de
amor e liberdade na maternidade.”
Era algo muito revolucionário
para a época.
CARACTERÍSTICAS DO
ANARQUISMO
• O estabelecimento de uma sociedade sem classes,
formada por pessoas livres e iguais.
• A propriedade poderia ser coletiva, individual ou
familiar, num sistema de posse, sem a exploração do
trabalho.
• Fim das forças armadas e da polícia.
• Eliminação das leis gerais e dos tribunais de justiça.
• Supressão de todos os partidos políticos.
• Solidariedade como base de toda organização social.
• Autogestão → eliminação das hierarquias, as relações
deveriam ser horizontais.
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
CATÓLICA ROMANA
• Desde a Revolução Francesa, a Igreja
Católica não tinha se recuperado como
instituição e tentará durante algumas
décadas resistir aos males do mundo
moderno: o liberalismo, o socialismo, a
maçonaria etc.
• Preocupada com a miséria dos
trabalhadores dentro dos Estados
liberais europeus e com o avanço das
ideias socialistas e anarquistas, o Papa
Leão XIII (ao lado) publicou a encíclica
(carta para toda a Igreja) chamada
Rerum Novarum em 1891.
“Entre estes deveres, eis os que dizem respeito ao pobre e
ao operário: deve fornecer integral e fielmente todo o
trabalho a que se comprometeu por contrato livre e
conforme à equidade; não deve lesar o seu patrão, nem
nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações
devem ser isentas de violências e nunca revestirem a
forma de sedições; deve fugir dos homens perversos que,
nos seus discursos artificiosos, lhe sugerem esperanças
exageradas e lhe fazem grandes promessas, as quais só
conduzem a estéreis pesares e à ruína das fortunas. (...)
entre os deveres principais do patrão, é necessário
colocar, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário
que convém. Certamente, para fixar a justa medida do
salário, há numerosos pontos de vista a considerar. Duma
maneira geral, recordem-se o rico e o patrão de que
explorar a pobreza e a miséria e especular com a
indigência, são coisas igualmente reprovadas pelas leis
divinas e humanas; (...) os ricos devem precaver-se
religiosamente de todo o acto violento, toda a fraude, toda
a manobra usurária que seja de natureza a atentar contra a
economia do pobre, e isto mais ainda, porque este é
menos apto para defender-se, e porque os seus haveres,
por serem de mínima importância, revestem um carácter
mais sagrado.” (Trecho da Rerum Novarum)
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
CATÓLICA ROMANA
• O precursor do pensamento social católico foi o padre
francês Robert de Lamennais (1782-1854), que defendia
a organização sindical, a justiça social e a aplicação
dos ensinamentos cristãos para corrigir os males
criados pela industrialização. Por algumas de suas
ideias, Lamennais rompeu com a Igreja Católica, mas
sua influência sobre o desenvolvimento do Catolicismo
Social é reconhecida.
• A Rerum Novarum conclama a cooperação entre patrões
e empregados, segundo os princípios cristãos e
rejeitando a luta de classes.
• Este movimento da Igreja possibilitou a criação do
Socialismo Cristão, da participação efetiva dos
católicos no movimento sindical e da relação entre a
instituição e os governos em matéria de direitos sociais.
OS OPERÁRIOS SE UNEM
Na segunda metade do século XIX,
sob a influência do cartismo e das
ideias socialistas, organizaram-se os
modernos sindicatos.
As lutas dos operários permitiram a
diminuição progressiva das jornadas
de trabalho, a introdução de direitos
como a folga semanal remunerada
(semana inglesa), a regulamentação
do trabalho feminino e infantil, com a
posterior proibição do trabalho das
crianças em alguns espaços (*minas,
por exemplo*), criações de pensões,
creches etc. NUNCA TRABALHE
SOZINHO 43
 Greve das
operárias das
fábricas de fósforo
em 1888 serviu de
modelo para a
organização
sindical posterior.
Elas queriam
melhores
condições de
trabalho,
denunciavam a
contaminação pelo
fósforo e chegaram
a ser recebidas no
Parlamento.
44
• Um dos romances mais famosos sobre a
questão operária no século XIX é
Germinal de Émile Zola. A história
acontece no norte da França durante
uma greve provocada pela redução dos
salários. Além das condições de
trabalho, Zola também descreveu o
princípio da organização política e
sindical da classe operária, tais como
as divisões já existentes entre
marxistas e anarquistas.
• Para escrever Germinal, o autor passou
dois meses trabalhando como mineiro
na extração de carvão. Viveu com os
mineiros, comeu e bebeu nas mesmas
tavernas, viu e sentiu as condições nas
quais viviam e acompanhou de perto a
greve dos mineiros. Germinal também
foi adaptado várias vezes para o
cinema.
EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX
Ao longo do século XIX, na Europa Ocidental e
Estados Unidos ganhou força a ideia, que estava
presente na Revolução Francesa, de que era dever do
Estado fornecer educação pública, ainda que nem
sempre gratuita, ao seu povo.
O que antes era encargo das igrejas e comunidades
passou a ser fornecido, com velocidade diferente a
depender do Estado, à todas as crianças com a idade
de educação obrigatória sendo elevada ao longo do
tempo até a primeira metade do século XX.
Mesmo os filhos e filhas de operários e camponeses
foram beneficiados, ainda que não se esperasse que
eles fossem além do ensino básico e de uma formação
técnica complementar. 46
Escola suíça em 1848. Albert Samuel Anker (1831-
1910), A Escola de Vila em 1848. 47
EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX
Para o Estado, o objetivo da educação era criar
cidadãos fornecendo aos meninos e meninas um
conjunto de valores comuns, dentre eles, o amor à
pátria. Em alguns países, como a França e a Itália, a
educação objetivava, também, reforçar o ensino de
uma língua nacional oficial, enfraquecendo os
regionalismos e reforçando a ideia de nacionalidade.
Este processo foi auxiliado pelo desenvolvimento da
indústria que, entre outras coisas, barateou o papel, a
tinta, enfim, os materiais escolares.
Alguns desses filhos e filhas de operários e
camponeses terminaram por conseguir alguma
ascensão social, trabalhando em setores que exigiam
alguma educação e conhecimentos técnicos. 48
 Alunas posam
para uma foto
em uma escola
pública de
Boston,
Estados
Unidos, no
final do século
XIX.
 Há outras
fotos aqui.

49

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