LIBERALISMO POLÍTICO PÓS- REVOLUÇÃO FRANCESA • Com a queda de Napoleão, em 1815, houve a tentativa de restaurar o Antigo Regime, no entanto, as ideias liberais estavam fortemente alicerçadas. • Para os pensadores iluministas e pré-iluministas, como Locke, a função do Estado, estabelecido por um contrato social, seria proporcionar a felicidade dos cidadãos garantindo-lhes, mediante a proteção das leis, os direitos naturais (vida, liberdade e propriedade privada), chamados agora de individuais. • Dentro do Antigo Regime, o rei era rei por direito divino e a economia deveria funcionar para o enriquecimento e fortalecimento do Estado, isto é, do seu monarca. A CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO NO SÉCULO XIX • Os avanços econômicos pelos quais passava a Europa, e em particular a Inglaterra, desde o século XVII, produziram grandes mudanças na sociedade: 1. A transformação do trabalho em mercadoria → o que regulava o pagamento não eram mais os costumes, mas as relações capitalistas com o objetivo de gerar lucro para o patrão. 2. A criação do proletariado. 3. Acirramento das relações entre o Capital (burguesia) e o Trabalho (proletários). PROLETÁRIO: QUAL A ORIGEM DA PALAVRA? • Os proletários (proletarii) eram uma classe de cidadãos na Roma Antiga, que possuíam pouca ou nenhuma propriedade, isto é, que de seu só teriam a sua prole, pois os filhos, no Direito Romano, eram propriedade do pai. • No século XIX, os pensadores liberais e, mais tarde, Karl Marx, passaram a utilizar o termo para os trabalhadores que de seu só tinham a sua força de trabalho. • O romance social nasce na Inglaterra ligado ao posicionamento crítico sobre a sociedade industrial. Neste campo destaca-se Charles Dickens (1812- 1870), em seu livro Oliver Twist (1838), ele satiriza as hipocrisias de seu tempo, incluindo o trabalho infantil, a violência doméstica, o recrutamento de crianças como criminosos e a presença de crianças de rua. • O romance pode ter sido inspirado na história de Robert Blincoe, um órfão cujo relato sobre o trabalho infantil em uma fábrica de tecidos foi amplamente lido na década de 1830. • Os livros de Dickens tem grande apelo emocional e foram adaptados para o cinema, a TV e musicais, várias vezes. UMA CIÊNCIA PARA EXPLICAR A NOVA SOCIEDADE • No século XIX, as mudanças sociais promovidas pela industrialização tornaram-se evidentes em várias regiões: crescimento das cidades, acirramento das desigualdades sociais, crise dos valores tradicionais, avanço das doenças impulsionadas pela miséria, aumento das taxas de violência, suicídio, alcoolismo, prostituição etc. • Dentro das universidades e fora delas, intelectuais perplexos buscaram explicar essas mudanças e oferecer respostas aos problemas que estavam evidentes → nasce a Sociologia. • Os dois pais da Sociologia como ciência foram os franceses Auguste Comte (1798-1857) e Emile Durkheim (1858-1917), com um estudo sobre o Suicídio. AUGUSTE COMTE E O POSITIVISMO
• A palavra Sociologia foi usada pela
primeira vez em 1830 pelo filósofo Auguste Comte. Quando jovem, foi secretário de Conde de Saint Simon, um dos mais importantes intelectuais de sua época e um dos expoentes do chamado socialismo utópico. • Auguste Comte acreditava que o progresso moral e científico da sociedade seria garantido pelo reforço da ordem social. “Filho do iluminismo” defendia o uso do método científico e da Auguste Comte razão. (1798-1857) AUGUSTE COMTE E O POSITIVISMO • Antes de usar o termo “Sociologia”, Comte se referia à nova ciência pelo nome de “Física Social”, pois defendia que os estudos sociais deveriam ser feitos seguindo o padrão das ciências exatas. Tal como as demais ciências, a Sociologia se dedicaria à busca dos acontecimentos constantes e repetitivos, só que nas organizações sociais, usando os mesmos procedimentos das ciências naturais deveriam ser empregados, tais como a observação, a experimentação, a comparação, etc. • Os positivismo na política defende o Estado Laico, a industrialização e o governo dos mais aptos, a repúbica, mas não necessariamente a democracia. O positivismo influenciou a ciência histórica com a noção de progresso contínuo, característico do século XIX, e criou uma religião própria baseada na ciência. O Positivismo teve forte influência entre os intelectuais e militares brasileiros a partir da década de 1870.
O lema do positivismo, exposto por Comte em seu
"Catecismo Positivista" (1852), é o seguinte: "O Amor por princípio, a Ordem por base, e o Progresso por fim". Resumidamente: Amor, Ordem e Progresso. O CARTISMO • Em 1832, houve uma reforma eleitoral na Inglaterra que ampliou o número de cadeiras no Parlamento, deu direito de voto aos pequenos proprietários, arrendatários rurais e lojistas e determinou que o voto era masculino. • Como a reforma desconsiderou os operários, que, a rigor, só tinham de seu sua força de trabalho, surgiu o movimento cartista, em torno de um conjunto de propostas que foram apresentadas ao Parlamento em 1837. As seis propostas cartistas eram: Sufrágio universal masculino; que o parlamento fosse eleito anualmente; voto secreto; pagamento de salários aos deputados e que esses não precisassem ser proprietários; igualdade entre os distritos eleitorais. Comício Cartista em Kennington Common, 10 de abril de 1848. Ao lado, um panfleto do movimento convocando para uma manifestação sob o lema da paz e da ordem. O CARTISMO
• Os cartistas também pediam a regulamentação da
jornada de trabalho e dos salários e ainda a restrição do trabalho feminino e infantil. • O cartismo promoveu grandes manifestações públicas (demonstrations) que eram duramente reprimidas e vários lideranças terminaram presas. • O cartismo durou dez anos, de 1838 até 1848, tendo repercussões até 1857 → Os cartistas não conseguiram o sufrágio universal masculino, que só foi alcançado na Inglaterra depois da 1ª Guerra Mundial, mas houve a aprovação de algumas leis trabalhistas pelo Parlamento e o cartismo influenciou o movimento operário em toda a Europa. PRIMEIRAS LEIS TRABALHISTAS Em 1840, uma comissão do Parlamento começou a investigar as condições de trabalho nas minas. As ilustrações ao lado vieram do relatório final. Crianças de até 4 anos trabalhavam no subsolo. A lei de 1842 proibiu o trabalho das mulheres e meninos menores de 10 anos no subsolo, em 1860, o limite passou a ser 12 anos. Em 1850 foi estabelecida rígida fiscalização das minas. 09/08/2023 Prof.ª Valéria Fernandes 13 SOCIALISMO UTÓPICO E CIENTÍFICO • Nas primeiras décadas do século XIX, com os avanços da sociedade industrial e seus problemas, a ideia de que a igualdade jurídica não era suficiente para garantir melhores condições de vida para todos tornou-se objeto de discussão e o termo socialista passou a ser utilizado, ainda não com um sentido muito claro tanto na Inglaterra, quanto na França e Alemanha, assim como a palavra comunista. • Quando estudamos as vertentes socialistas do século XIX, as reduzimos a apenas duas por questões didáticas. Então, temos de um lado, o Socialismo Utópico, do outro, o Científico. O Anarquismo é tratado à parte, mas é, também, uma corrente socialista. SOCIALISMO UTÓPICO
• Utopia tem dos significados principais: “lugar ou
estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos. 2. qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade.” • O Socialismo Utópico está ligado à iniciativas de empresários que percebendo as condições precárias dos trabalhadores decidiam criar a fábrica-modelo, a fazenda-modelo, a oficina-modelo, com escolas e creches, jornada de trabalho limitada, e, em alguns casos, garantindo o direito de autogestão aos operários. SOCIALISMO UTÓPICO • Robert Owen, promoveu, na década de 1820, reformas em sua fábrica na Escócia e criou uma fazenda-modelo nos Estados Unidos. Sua fábrica em New Lanark, Escócia, era visitada por reformadores de vários países. • Owen, que havia sido operário, observou conhecia as péssimas condições de vida dos operários e melhorou suas casas, criou um armazém em que se podiam comprar mercadorias a preço módico, promoveu o estrito controle das bebidas alcoólicas reduzindo o vício e o crime, e fundou a primeira escola maternal Robert Owen britânica (1816). (1771-1858) Fábrica de tecidos de Robert Owen na Escócia. SOCIALISMO UTÓPICO • Lutou na Revolução Americana e na Revolução Francesa. Já com 40 anos retomou seus estudos e passou a refletir sobre a sociedade, defendia que a ciência era a chave para o desenvolvimento humano e que a religião teria que ser científica, com os padres sendo substituídos por cientistas. Propôs uma organização do trabalho humano em uma imensa fábrica, onde “a cada um segundo sua capacidade, a cada capacidade segundo seu trabalho”. A exploração seria substituída pela organização coletiva do trabalho, onde cientistas e industriais exerceriam os postos de comando. Seus Conde de Saint- seguidores passaram a defender o fim da Simon propriedade privada. (1760-1825) SOCIALISMO UTÓPICO • Foi um filósofo e escritor que propunha como forma de organização da nova sociedade o funcionamento em cooperativas de produção e consumo (falanstérios). Algumas comunidades na França, no Brasil (Santa Catarina) e nos EUA chegaram a ser formadas de acordo com os planos de Fourier. • Defendia a igualdade entre homens e mulheres opondo-se ao pensamento de Rousseau. E interessou pela educação das crianças e os via como criativos e capazes de aprender pelo exemplo. • Associava os judeus ao capitalismo e ao comércio, algo condenável. Curiosamente, defendia que os judeus fossem protegidos da perseguição e pudessem ter sua nação para si Charles Fourier na Palestina. (1772-1837) Contração de “falange” e “mosteiro”, o falanstério designa uma pequena cidade cujos edifícios se destinam a promover a vida comunitária de associados que colocam as suas competência s ao serviço Idealizadas pelo filósofo francês Charles Fourier, eram de todos e grandes construções comunais que refletiriam uma partilham os organização harmônica e descentralizada onde cada seus um trabalharia nos conformes de suas paixões e recursos. vocações. SOCIALISMO UTÓPICO
• Político e historiador francês, desejava que
o governo encorajasse as cooperativas em substituição às empresas capitalistas. As cooperativas deveriam ser associações de pessoas que que produziam juntas e dividiam o lucro de acordo. • Após a Revolução de 1848, Blanc tornou-se membro do governo provisório e colocar em ação o seu projeto de cooperativas. A instabilidade política levou o projeto ao fracasso e Blanc foi para o exílio. • Retornou depois da Guerra Franco- Prussiana, tornou-se membro da Assembleia Nacional e defendeu os presos Louis Blanc na Comuna de Paris. (1811-1882) BLANQUI UM UTÓPICO DIFERENTE • Blanqui foi o mais influente socialista antes de Marx, apesar de ser contado entre os utópicos, era um revolucionário. Defendia a redistribuição justa da riqueza, a sua revolução não seria proletária, mas deveria ser feita por um pequeno grupo, que estabeleceria uma ditadura temporária. Este período de tirania transitória permitiria a implementação das bases de uma nova ordem, após a qual o poder seria entregue ao povo. Diferente dos outros utópicos, escreveu pouco sobre a sociedade futura, estava mais preocupado em pensar a revolução. • Editou o jornal Ni Dieu Ni Maitre (Nem Deus Louis Auguste nem Mestre). Foi preso várias vezes, seus Blanqui (1805-1881) seguidores foram chamados de blanquistas. “A MULHER É A PROLETÁRIA DO PROLETARIADO” • Flora Tristan, filha de mãe francesa e pai peruano, nasceu na Espanha e foi educada na França. Uma das pioneiras do socialismo e do feminismo, defendia que a emancipação das mulheres estava ligada à luta do operariado pelo fim da exploração de classes. Defendia a igualdade entre homens e mulheres e seu direito ao divórcio, à educação, mesmo salário, e participação ativa nas organizações operárias. • Em 1843, escreveu o ensaio União Operária, sua obra mais importante. Deixou vários escritos sobre a luta operária, a condição das mulheres e suas muitas viagens. Morreu precocemente aos 41 anos de febre Flora Tristan tifoide. Suas ideias influenciaram a obra de (1803-1844) Marx e Engels. O QUE OS SOCIALISTAS UTÓPICOS DESEJAVAM? • Eliminação das desigualdades; • Equilíbrio entre trabalho, educação e vida privada; As experiências • Harmonia dentro da utópicas tenderam sociedade/eliminação da luta de ao fracasso, pois classes; tentavam implantar • Um governo justo; no interior do • Primazia dos direitos coletivos sobre Capitalismo os direitos individuais; organizações de • Oportunidades iguais para todos os trabalho contrárias homens; ao próprio sistema. • Que todos pudessem usufruir da riqueza e redistribuição de riqueza e recursos. Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) em um quadro mostrando a impressão do Manifesto Comunista e a foto da sua 1ª edição. SOCIALISMO CIENTÍFICO • O marco inicial do Socialismo Científico foi o Manifesto Comunista, em 1848, dos alemães Karl Marx e Friedrich Engels. • Após as revoluções de 1848, os autores passaram a defender que não havia conciliação possível entre a burguesia, dona dos meios de produção (fábricas, terra, bancos, ferrovias, minas, ferramentas etc.) e os trabalhadores, que vendem sua força de trabalho → Reformar o Capitalismo seria, então, impossível. • Marx dedicou-se então a estudar o capitalismo por um lado, no que resultou a sua obra O Capital, publicada entre 1867 e 1883, e, com o seu trabalho, promover o movimento operário. O filme O Jovem Karl Marx (Le jeune Karl Marx/2017) conta o início da carreira de Marx, sua amizade com Engels e os primórdios do movimento operário. ALGUMAS IDEIAS MARXISTAS IMPORTANTES • Um modo de produção é a maneira como uma sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e os distribui. • O Materialismo Histórico Dialético explica a História por meio dos fatores materiais. • Para Marx é a base econômica que determina a organização de uma sociedade, não as ideias, a cultura, ou a religião. • Marx e Engels defendiam a via revolucionária, isto é, não haveria possibilidade de reforma do Capitalismo, como defendiam os utópicos, e que o sistema chegaria ao fim pelas suas próprias contradições. Os Protetores da nossa Indústria, Nova York, 1883. (Fonte) “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. (...) A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. (...) A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário.” (Trecho do Manifesto Comunista) ALGUMAS IDEIAS MARXISTAS IMPORTANTES • A luta de classes é o motor da História, pois classes sociais com interesses antagônicos, no caso do Capitalismo, a burguesia e o proletariado, jamais iriam cooperar. • Para Marx e Engels, os trabalhadores deveriam se organizar e caminhar para uma revolução que possibilitasse a coletivização dos meios de produção, a eliminação das classes sociais e o “Operários do início da transição para o comunismo. mundo, univ-vos!”, cartaz soviético de 1920. O QUE SERIA O COMUNISMO? “O comunismo é uma ideologia política e socioeconômica que pretende estabelecer uma sociedade igualitária, por meio da abolição da propriedade privada, das classes sociais e do próprio Estado. Embora a ideia de igualdade baseada no fim das classes tenha sido defendida por filósofos desde a antiguidade, o comunismo está associado sobretudo à teoria dos pensadores Friedrich Engels e Karl Marx.” (*Fonte*) • O Socialismo seria uma etapa de transição para o Comunismo. • Até a a década de 1840, na Inglaterra, a palavra comunismo estava associada às ações de reformistas religiosos, a palavra passou por uma resignificação. Para impulsionar o movimento operário e a consciência de classe, Marx e Engels organizaram a Primeira Internacional Socialista em Londres, em 1864. Reunia socialistas, comunistas, anarquistas, sindicatos e outros grupos. Foi dissolvida em 1876.
A Segunda Internacional começou suas atividades em Paris,
em 1889, quando foi estabelecido que o dia 1º de maio seria o Dia Internacional do Trabalho, estabeleceu a greve geral como instrumento de luta e a jornada de trabalho de 8 horas como objetivo. Foi dissolvida durante a 1ª Guerra Mundial, em 1916. A Terceira Internacional se reuniu em Moscou, em 1919, depois da Revolução Russa, e foi dissolvida em 1943. Manifestação de Primeiro de Maio em Putilov de Boris Kustodiev (1906). ANARQUISMO • A palavra “anarquismo” vem do grego “anarkhia”, “ausência de governo”. O anarquismo é uma teoria e ideologia política que não acredita em nenhuma forma de dominação. Para os anarquistas, o poder do Estado é sempre um corruptor, mesmo quando gerido pelos trabalhadores. • O surgimento do anarquismo, que é uma das correntes do socialismo, ocorreu por meio da Associação Internacional dos Trabalhadores, localizada em Londres, na Inglaterra, na década de 1860. Sua ideologia foi inspirada principalmente nas ideias de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), especialmente, seu livro “O que é a propriedade?”, que não separava o poder do Capital do poder do Estado. ANARQUISMO • O Anarquismo ganhou mais relevância entre os trabalhadores sob a liderança intelectual do russo Mikhail Bakunin (1814-1876), na década de 1860. • Bakunin defendia a ação revolucionária para a tomada dos meios de produção como forma de se chegar ao coletivismo → popularizou-se a ideia de que eram necessárias ações diretas e alguns anarquistas se envolveram ativamente em atentados contra monarcas no século XIX e início do século XX. • O anarquismo ganhou grande importância no meio operário, competindo com o socialismo (marxista). Marx e Engels criticaram as ideias anarquistas rotuladas de infantis e aventureiras → O Anarquismo começou a perder importância após a Revolução Russa de 1917. Retrato de Mikhail Bakunin e, ao lado, o assassinato da imperatriz da Áustria, Elizabeth (Sissi), em Genebra, em 10 de setembro 1898, cometido pelo jovem anarquista italiano Luigi Lucheni. Em três décadas, a partir de 1880, anarquistas mataram um czar, um presidente norte-americano, dois primeiros-ministros espanhóis, um rei italiano e um presidente francês. • Nascida na Lituânia (na época, parte do Império Russo), Emma Goldman (1869-1940) foi uma das grandes lideranças anarquistas e defendeu a igualdade entre homens e mulheres. • “Busco a independência da mulher, seu direito de se apoiar; de viver por sua conta; de amar quem quer que deseje, ou quantas pessoas deseje. Eu busco a liberdade de ambos os sexos, liberdade de ação, liberdade de amor e liberdade na maternidade.” Era algo muito revolucionário para a época. CARACTERÍSTICAS DO ANARQUISMO • O estabelecimento de uma sociedade sem classes, formada por pessoas livres e iguais. • A propriedade poderia ser coletiva, individual ou familiar, num sistema de posse, sem a exploração do trabalho. • Fim das forças armadas e da polícia. • Eliminação das leis gerais e dos tribunais de justiça. • Supressão de todos os partidos políticos. • Solidariedade como base de toda organização social. • Autogestão → eliminação das hierarquias, as relações deveriam ser horizontais. DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA CATÓLICA ROMANA • Desde a Revolução Francesa, a Igreja Católica não tinha se recuperado como instituição e tentará durante algumas décadas resistir aos males do mundo moderno: o liberalismo, o socialismo, a maçonaria etc. • Preocupada com a miséria dos trabalhadores dentro dos Estados liberais europeus e com o avanço das ideias socialistas e anarquistas, o Papa Leão XIII (ao lado) publicou a encíclica (carta para toda a Igreja) chamada Rerum Novarum em 1891. “Entre estes deveres, eis os que dizem respeito ao pobre e ao operário: deve fornecer integral e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu por contrato livre e conforme à equidade; não deve lesar o seu patrão, nem nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações devem ser isentas de violências e nunca revestirem a forma de sedições; deve fugir dos homens perversos que, nos seus discursos artificiosos, lhe sugerem esperanças exageradas e lhe fazem grandes promessas, as quais só conduzem a estéreis pesares e à ruína das fortunas. (...) entre os deveres principais do patrão, é necessário colocar, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário que convém. Certamente, para fixar a justa medida do salário, há numerosos pontos de vista a considerar. Duma maneira geral, recordem-se o rico e o patrão de que explorar a pobreza e a miséria e especular com a indigência, são coisas igualmente reprovadas pelas leis divinas e humanas; (...) os ricos devem precaver-se religiosamente de todo o acto violento, toda a fraude, toda a manobra usurária que seja de natureza a atentar contra a economia do pobre, e isto mais ainda, porque este é menos apto para defender-se, e porque os seus haveres, por serem de mínima importância, revestem um carácter mais sagrado.” (Trecho da Rerum Novarum) DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA CATÓLICA ROMANA • O precursor do pensamento social católico foi o padre francês Robert de Lamennais (1782-1854), que defendia a organização sindical, a justiça social e a aplicação dos ensinamentos cristãos para corrigir os males criados pela industrialização. Por algumas de suas ideias, Lamennais rompeu com a Igreja Católica, mas sua influência sobre o desenvolvimento do Catolicismo Social é reconhecida. • A Rerum Novarum conclama a cooperação entre patrões e empregados, segundo os princípios cristãos e rejeitando a luta de classes. • Este movimento da Igreja possibilitou a criação do Socialismo Cristão, da participação efetiva dos católicos no movimento sindical e da relação entre a instituição e os governos em matéria de direitos sociais. OS OPERÁRIOS SE UNEM Na segunda metade do século XIX, sob a influência do cartismo e das ideias socialistas, organizaram-se os modernos sindicatos. As lutas dos operários permitiram a diminuição progressiva das jornadas de trabalho, a introdução de direitos como a folga semanal remunerada (semana inglesa), a regulamentação do trabalho feminino e infantil, com a posterior proibição do trabalho das crianças em alguns espaços (*minas, por exemplo*), criações de pensões, creches etc. NUNCA TRABALHE SOZINHO 43 Greve das operárias das fábricas de fósforo em 1888 serviu de modelo para a organização sindical posterior. Elas queriam melhores condições de trabalho, denunciavam a contaminação pelo fósforo e chegaram a ser recebidas no Parlamento. 44 • Um dos romances mais famosos sobre a questão operária no século XIX é Germinal de Émile Zola. A história acontece no norte da França durante uma greve provocada pela redução dos salários. Além das condições de trabalho, Zola também descreveu o princípio da organização política e sindical da classe operária, tais como as divisões já existentes entre marxistas e anarquistas. • Para escrever Germinal, o autor passou dois meses trabalhando como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas, viu e sentiu as condições nas quais viviam e acompanhou de perto a greve dos mineiros. Germinal também foi adaptado várias vezes para o cinema. EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX Ao longo do século XIX, na Europa Ocidental e Estados Unidos ganhou força a ideia, que estava presente na Revolução Francesa, de que era dever do Estado fornecer educação pública, ainda que nem sempre gratuita, ao seu povo. O que antes era encargo das igrejas e comunidades passou a ser fornecido, com velocidade diferente a depender do Estado, à todas as crianças com a idade de educação obrigatória sendo elevada ao longo do tempo até a primeira metade do século XX. Mesmo os filhos e filhas de operários e camponeses foram beneficiados, ainda que não se esperasse que eles fossem além do ensino básico e de uma formação técnica complementar. 46 Escola suíça em 1848. Albert Samuel Anker (1831- 1910), A Escola de Vila em 1848. 47 EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX Para o Estado, o objetivo da educação era criar cidadãos fornecendo aos meninos e meninas um conjunto de valores comuns, dentre eles, o amor à pátria. Em alguns países, como a França e a Itália, a educação objetivava, também, reforçar o ensino de uma língua nacional oficial, enfraquecendo os regionalismos e reforçando a ideia de nacionalidade. Este processo foi auxiliado pelo desenvolvimento da indústria que, entre outras coisas, barateou o papel, a tinta, enfim, os materiais escolares. Alguns desses filhos e filhas de operários e camponeses terminaram por conseguir alguma ascensão social, trabalhando em setores que exigiam alguma educação e conhecimentos técnicos. 48 Alunas posam para uma foto em uma escola pública de Boston, Estados Unidos, no final do século XIX. Há outras fotos aqui.