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A Ideologia Secular

A Era das Revoluções, Cap. 13,


31/08/2021
• Pensadores de 1789 a 1848 - Detinham ideologia leiga, secular,
independentemente da sua religião particular.
• Revolução Dupla => transformavam a natureza da sociedade e a
direção para qual ela estava se encaminhando ou deveria se
encaminhar
• Divisão de opinião => a dos que aceitavam a maneira pela qual o
mundo estava se conduzindo a dos que não aceitavam. Havia aqueles
que acreditavam no PROGRESSO e os outros.
• A Sociedade Humana e o Homem individualmente poderiam ser
aperfeiçoados pelo uso da RAZÃO. Nisso concordavam os liberais
burgueses e os Revolucionários Socialistas.
• => Liberalismo Clássico Burguês => filosofia estreita, lúcida e cortante.
Maiores expoentes estavam na Grã-Bretanha e na França;
• Racionalista e Secular => convencida de que os homens podiam
compreender tudo e solucionar os problemas pelo uso da Razão. Era
convencida do obscurantismo das instituições
(tradicionalismo/religião) e do comportamento irracional.
Filosoficamente, inclinava-se ao materialismo ou empiricismo, que
condiziam com uma ideologia que devia suas forças ao método e a
Ciência, neste caso principalmente à matemática e à física da
Revolução Científica do século XVII.
• Liberalismo clássico => o mundo humano estava constituído de
átomos individuais com certas paixões e necessidades, cada um
procurando acima de tudo aumentar o máximo suas satisfações e
diminuir os seus desprazeres, não reconhecendo limites ou direitos
de interferência em suas pretensões. Cada homem era
"naturalmente" possuído de vida, liberdade e busca da felicidade
como afirma a Declaração de Independência dos Estados Unidos. =>
Igualdade entre os homens.
• Acordos úteis entre os indivíduos via contrato. Apenas tais acordos
poderiam justificar a redução da liberdade.
• Robinson Crusoe => símbolo literário do "homem" do liberalismo
clássico. Ele era um animal social apenas na medida em que coexistia
em grande número. Os objetivos sociais eram a soma aritmética dos
objetivos individuais. O objetivo da sociedade era a maior felicidade
do maior número de indivíduos.
• Pensadores utilitaristas => Thomas Hobbes; Jeremy Bentham
(1748-1832); James Mill (1773-1836).
• Problemas da Escola Utilitarista: Uma ideologia que reduz tudo ao
"interesse próprio" entra em conflito com o interesse social.
• De modo que o interesse social poderia justificar uma interferência
maior na "liberdade natural" do indivíduo.
• Consequentemente, os que procuravam salvaguardar a propriedade
privada, a liberdade individual e a de empresa preferiam
constantemente dar-lhes uma sanção metafísica de um "direito
natural" em vez do vulnerável direito de "utilidade".
• A filosofia liberal eliminava a moralidade e o dever completamente
através da redução ao cálculo racional, o que enfraquecia o sentido
das relações sociais entre as massas que asseguravam a estabilidade
social.
• Por essas razões o utilitarismo nunca monopolizou o pensamento da
classe média liberal. Contudo foi fundamental em derrubar
instituições tradicionais que não conseguiam responder às questões
como: é útil? É racional? Deixa as pessoas felizes?
• John Locke foi o pensador favorito do "liberalismo vulgar" pois
colocava a propriedade privada fora do alcance das interferências,
sendo o "direito natural" fundamental e como a liberdade de
iniciativa privada. Isso aparece no direito do homem e do cidadão da
Revolução Francesa.
• A Economia Política Clássica inicia com as Riquezas das Nações de
Smith, tem seu apogeu com Ricardo e em 1830 inicia seu declínio.
• O Argumento social da Economia Política Clássica de Adam Smith era
elegante e confortador: indivíduos competidores que buscavam o
próprio interesse, se não houvesse intervenção do Estado,
produziriam uma "ordem social natural" e aumentariam a "riqueza
das nações". Aumentariam o conforto, o bem-estar e a felicidade
de todos os homens.
• Ademais, a sociedade economicamente desigual que resultava das
operações de natureza humana não era incompatível com a
igualdade natural dos homens e nem com a justiça, pois além de
assegurar inclusive aos mais pobres condições melhores de vida, ela
se baseava na mais equitativa de todas as relações: o intercâmbio
de valores equitativos no mercado.
• Vejam o que Albert Einstein escreveu sobre economia“
• Vamos primeiro considerar a questão sob o ponto de vista do conhecimento
científico. Pode parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre
astronomia e economia: cientistas em ambos os campos tentam descobrir leis
gerais para aplicar a certo grupo de fenômenos e possibilitar que a inter-relação
desses fenômenos seja tão compreensível quanto possível. Mas na realidade
essas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis gerais no campo da
economia se torna difícil pelo fato que os fenômenos econômicos analisados
são frequentemente afetados por diversos fatores muito difíceis de avaliar
separadamente. Além disso, a experiência acumulada desde o começo do
chamado período civilizado da história humana tem, como bem sabemos, sido
largamente influenciada e limitada por causas que não são exclusivamente
econômicas por natureza. Por exemplo, a maioria dos países mais importantes
deve sua existência à conquista."

• https://jacobin.com.br/2021/03/por-que-
socialismo/?fbclid=IwAR3gJTecKASaCQSmNZwDJUQ-
CgsV0WKBrj1XYAhb5o8OADxI9PD770H-nV0
• "nada dependia da benevolência dos outros, pois para tudo que se
obtinha era devolvido, em troca, um equivalente. Além disso, o livre
jogo das forças naturais destruiria todas as posições que não fossem
construídas com base em um bem comum" (E. Roll - A History of
Economic thougt).
• O progresso era tão natural quanto o capitalismo: o progresso da
produção viria junto com o progresso das artes, das ciências e da
civilização em geral. => o caminho para o avanço da humanidade
estava no capitalismo.
• No entanto, a pobreza que marcaria o período de 1810 a 1840
refrearam o otimismo e estimularam uma investigação crítica,
especialmente sobre a distribuição e menos sobre a produção -
principal estudo de Smith. Malthus argumentava que a miséria dos
pobres estava condenada a se prolongar.
• David Ricardo enfatiza questões como: como a tendência da queda
da taxa de lucro e também criou a teoria geral do valor como
trabalho que com um leve toque se transformou em um forte
argumento contra o capitalismo.
• Advogando contra os proprietários de terra e pelo livre comércio
ajudou a Economia Política Clássica afirmar-se na ideologia liberal.
• Na política, a ideologia liberal não era tão consistente e nem tão
coerente. Teoricamente, estava dividida entre o utilitarismo e as
adaptações das antiquadas doutrinas do direito natural e da lei
natural. Na prática, dividia-se entre a crença em um governo popular,
adequando com a herança da revolução francesa e a crença, mais
generalizada, no governo de uma elite de proprietários.
• Se o governo fosse realmente popular, e se a maioria realmente
governasse, seria possível acreditar que a verdadeira maioria - "as
classes numerosas e pobres" - iria salvaguardar a liberdade e
cumprir os ditames da razão que coincidiam, como é óbvio, com o
programa da classe média liberal? (p. 333).
• Enquanto a ideologia liberal afastava-se de suas origens (mesmo a
inevitabilidade/desejabilidade do progresso passava a ser questionada
por liberais) uma nova ideologia, o socialismo, voltava a formular os
velhos axiomas do século XVIII. A razão, a ciência e o progresso eram
as suas bases firmes. Aceitavam a Revolução Industrial.
• Conde Saint Simon (1760-1825) => reconhecido como o "primeiro
socialista utópico". Foi apóstolo do "industrialismo" e dos
"industrialistas" - palavras criadas por ele.
• Robert Owen (1771-1858) => acreditava em uma sociedade de
abundância e no aperfeiçoamento do ser humano através da
sociedade. Era um bem sucedido da indústria algodoeira.
• Engels também se envolveu com negócios algodoeiros.
• Os próprios argumentos de liberalismo clássico poderiam ser
transformados contra o capitalismo: Saint-Just sobre a felicidade:
"uma ideia nova na Europa"! Havia felicidade para os trabalhadores
pobres?
• Owen => é possível felicidade individual? Isolada?
• Ricardo => mesmo que ele próprio se sentisse constrangido em
relação as conclusões que advieram de sua teoria, o fato é que ela
abriu possibilidades para que se pensasse que o trabalhador era
explorado pelo capitalista, já que do trabalho advinha o valor.
• O fato é que se a sociedade do início do século XIX não estivesse
passando por dificuldades - depressão, salários decrescentes,
desemprego causado pela tecnologia e as dúvidas sobre a economia
- as críticas ao capitalismo não teriam vingado. A própria palavra
socialismo surge em 1820. O fato é que autores como Sismondi,
Engels, Wade percebiam que o próprio funcionamento do
capitalismo levava a maior desigualdade, ciclos de crescimento e
decrescimento, diferentemente do propagado pelos seus ideólogos.
Havia uma negação da "lei" associada ao Say.
• O socialismo nasce da falha do liberalismo em cumprir as suas
promessas: "Um mundo no qual todos fossem felizes e no qual todo
indivíduo realizasse livre e plenamente suas potencialidades, no qual
reinasse a liberdade e do qual desaparecesse o governo coercitivo
era o objetivo máximo de liberais e socialistas".

• A família de descendentes do humanismo e do iluminismo: liberais,


socialistas, comunistas ou anarquistas - não era a anarquia mais ou
menos utópica de todos eles, mas sim o método para alcançá-la. Neste
ponto, o socialismo se separava da tradição clássica liberal.
• 1) Rompiam com a suposição liberal de que a sociedade era uma
soma de seus átomos individuais e de que a força motriz estava no
interesse próprio e na competição. Voltam a crença de que o homem
é um ser comunitário. A ideia smithiana de que o intercâmbio de
mercadorias equivalentes no mercado garantia de alguma forma a
justiça social lhes chocava como algo incompreensível ou imoral.
Reagiam contra a desumanização da sociedade burguesa (alienação).
Os novos socialistas procuravam não culpar o curso da civilização, do
racionalismo, da ciência e da tecnologia. O comunismo do futuro
precisava se adaptar às novas condições.
• 2) O socialismo adota a argumentação histórica e evolutiva. Para os
liberais clássicos e para os primeiros socialistas tal argumentação era
natural e racional, pois distinguia da sociedade irracional e artificial
que a ignorância e a tirania tinham, até então, imposto ao mundo. O
progresso e o iluminismo haviam mostrado ao mundo o que era
racional, tudo o que restava a ser feito era retirar os obstáculos que
evitavam que o senso comum seguisse o seu caminho. Os socialistas
"utópicos" estavam firmemente convencidos de que a verdade
bastava, bastava ser descoberta que seria adotada instantaneamente
para que os homens sensatos e de instrução a adotassem.
Inicialmente, as massas foram deixadas de lado e a propaganda
socialista era destinada às classes influentes.
• Socialismo utópico => havia a ideia de evolução histórica, já que a
ideologia do progresso implica uma ideologia evolutiva, possivelmente
de inevitável evolução através dos estágios do desenvolvimento
histórico.
• Karl Marx (1818-83) transfere a argumentação socialista de sua
racionalidade ou desejabilidade para a sua inevitabilidade histórica.
Sua argumentação origina-se da tradição ideológica alemã e franco-
britânica. As contradições internas do capitalismo permitiriam que
fossem criados obstáculos ao progresso o que levaria a sua própria
superação. A multidão de insatisfeitos levaria a revolução do
proletariado. O socialismo era filho do capitalismo, não poderia ser
pensado antes do advento deste. Mas uma vez que essas condições
existiam, a vitória era certa, pois "a humanidade sempre se propõe
apenas as tarefas que pode solucionar".
• Ideologias antiprogressistas
• Segundo grupo: Filosofia Alemã
• Concentravam-se em elaborados sistemas gerais de pensamento.
• Sua expressão mais monumental foi a filosofia clássica alemã, um
corpo de pensamento criado entre 1760 e 1830 juntamente com a
literatura clássica alemã e em íntima ligação com ela. Seus principais
representantes foram Kant e Hegel. Ela foi um fenômeno burgueses.
Seus pensadores saudavam a revolução francesa. A filosofia era
impregnada pelos ideais da revolução francesa, o iluminismo
estruturou ou pensamento de Kant e influenciou Hegel. A ideia de
progresso também era evidente em ambos.
• Contudo, desde o princípio, a filosofia alemã diferia do liberalismo
clássico em importantes aspectos, mais notadamente em Hegel do que
em Kant. Em primeiro lugar, era deliberadamente idealista e rejeitava
o materialismo ou o empirismo da tradição clássica. Em segundo
lugar, enquanto a unidade básica da filosofia de Kant é o indivíduo -
embora sob a forma de consciência individual -, o ponto de partida de
Hegel é o coletivo (isto é, a comunidade), que ele vê se desintegrando
em indivíduos sob o impacto do desenvolvimento histórico. E, de fato,
a famosa dialética hegeliana, a teoria do progresso pode ter sido
estimulada pela contradição entre o individual e o coletivo. Em
terceiro lugar, desde o início, sua posição à margem da área do
impetuoso avanço liberal burguês, e talvez sua completa inabilidade de
participar dele, fez com que os pensadores alemães se sentissem mais
conscientes de seus limites e contradições.
• A filosofia clássica, especialmente a hegeliana, corre paralelamente à
visão de mundo, impregnada de dilemas, de Rousseau, embora
contrariamente a ele os filósofos fizessem esforços titânicos para
incluir suas contradições em sistemas únicos, abrangentes e
intelectualmente coerentes. Marx será o grande herdeiro dos
economistas e filósofos clássicos.

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