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Disciplina: ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Professor (a): CARLOS SANT’ANNA

LIBERALISMO/NEOLIBERALISMO

Rivana Bezerra Modesto

Guaíba, Junho de 2020.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................3
2. PRINCIPAIS NOMES DO LIBERALISMO.................................................................................4
2.1 JOHN LOCKE (1632-1704) LIBERALISMO CLÁSSICO POLITICO....................................4
2.2 BARON DE MONTESQUIEU (1689-1755) LIBERALISMO CLÁSSICO POLITICO...........5
2.3 FRANÇOIS-MARIE AROUET (1694-1778) LIBERALISMO CLÁSSICO POLÍTICO.........6
2.4 ADAM SMITH (1723-1790) LIBERALISMO ECONÔMICO...................................................7
2.5 THOMAS MALTHUS (1776-1834) LIBERALISMO ECONÔMICO.......................................8
2.6 DAVID RICARDO (1772-1823) LIBERALISMO ECONÔMICO.............................................9
3. CARACTERÍSTICAS DO LIBERALISMO..................................................................................9
4. LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO....................................................................................11
5. RELAÇÃO COM O TRABALHO HUMANO..............................................................................14
1. INTRODUÇÃO

1.1 DEFINIÇÃO

O liberalismo surgiu no século XVII como um conjunto de teorias políticas que


sustentaram uma luta estrutural e  política, contra a monarquia absolutista. Como teoria econômica,
o liberalismo surgiu no século XVIII para conferir uma estrutura conceitual ao novo movimento
econômico que surgiu com a alta industrialização iniciada nesse século, e consolidada no século
seguinte. O liberalismo se tornou uma doutrina político-econômica com um sistema doutrinário cuja
característica maior se refere à sua atitude de abertura e tolerância a vários níveis. De acordo com
essa doutrina, o interesse geral requer o respeito pela liberdade cívica, econômica e da consciência
dos cidadãos. Em outras palavras foi uma doutrina de pensamento econômico, político e social, que
surgiu na Europa, no século XVIII, contra o mercantilismo e a intervenção do Estado na economia.

O liberalismo, nascido das proposições filosóficas iluministas, repercutiu, no âmbito


político, no questionamento do Estado Moderno absolutista e na criação de um Estado em que o
indivíduo era protegido ao se afirmarem direitos naturais e de cidadania que qualquer forma de
governo organizada deveria defender. O Estado Liberal só seria possível graças ao pacto social que
reconhecia direitos comuns a todos os homens. Os liberais são defensores da noção de indivíduo e
da liberdade que cada pessoa tem de expressar seu pensamento.
O pensamento político liberal tem como importante representante John Locke e se
inscreve dentro de uma perspectiva histórica de questionamento do poder absoluto do governante.
Para Locke e outros pensadores liberais, não era possível acreditar em uma justificativa que situava
o poder político terreno no além, no sobrenatural. As considerações a respeito do exercício do poder
deveriam estar vinculadas às necessidades sociais, às situações concretas da vida. 
Para os liberais, a existência do Estado era necessária, mas não nos moldes apresentados
pelos teóricos absolutistas. Sua importância estaria na administração dos conflitos, das tensões
sociais, fruto de interesses que se chocavam. O intuito dos liberais era estabelecer pesos e
contrapesos nas decisões políticas, de tal forma que houvesse uma situação de equilíbrio em meio
aos conflitos inerentes à vida coletiva. O pensamento liberal afirma a existência do indivíduo antes
da existência da sociedade, ou seja, o indivíduo assim torna-se um valor, um termo primeiro e
fundamental do conjunto social e que deve ser reconhecido e apoiado na realização de suas
potencialidades.
2. PRINCIPAIS NOMES DO LIBERALISMO

Os pensadores liberais possuem ideias contrastantes, até opostas, ainda que se assemelhem
em alguns aspectos. A principal delas é o compromisso com a defesa dos direitos individuais.
Em alguma medida, todos os pensadores da lista abaixo acreditam que a liberdade é um valor
fundamental que o Estado deve preservar. Porém, as semelhanças param por aí. Por um lado, há
pensadores liberais totalmente comprometidos com o capitalismo, o livre mercado e o direito à
propriedade, como Nozick e Hayek. Por outro, há pensadores que valorizam a intervenção do
Estado em certos setores e veem com suspeita alguns aspectos do capitalismo, como Paine e
Rawls, além de valorizarem uma relativa igualdade.

2. 1 JOHN LOCKE (1632-1704) LIBERALISMO CLÁSSICO POLITICO


Principais obras: Uma carta sobre tolerância, 1689, e O Segundo Tratado do
Governo, 1689. Conhecido por: um dos pensadores liberais mais influentes, as ideias de Locke
influenciaram grandes eventos históricos, como a Revolução Francesa e a Revolução
Americana. No livro O segundo Tratado sobre o Governo, apresentou uma defesa dos elementos
centrais do liberalismo: os direitos individuais e do governo limitado através de uma
constituição e da divisão de poderes.
Foi um filósofo inglês conhecido como o "pai do liberalismo”, sendo considerado o principal
representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social. Um dos
objetivos de Locke são a reafirmação da necessidade do Estado e do contrato social e outras bases.
Opondo-se a Hobbes, Locke acreditava que se tratando de Estado-natureza, os homens não vivem
de forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida pacífica explicada pelo reconhecimento dos
homens por serem livres e iguais.

2.2 BARON DE MONTESQUIEU (1689-1755) LIBERALISMO CLÁSSICO


POLITICO
Obra principal: “O Espírito das Leis”, 1748.
Conhecido por: Montesquieu criou, influenciado pelas ideias de Locke, a teoria da divisão de
poderes em legislativo, executivo e judiciário. Sua influência se reflete em uma série de Estados
que hoje adotam esse sistema de governo. Seu trabalho monumental fornece orientação sobre
como os governos devem ser estruturados para evitar que o governo abuse de seu poder e viole
as liberdades individuais. Para Montesquieu, a liberdade só é possível sob as leis: “liberdade é
um direito de fazer o que as leis permitirem e, se um cidadão pudesse fazer o que eles proíbem,
ele não teria mais liberdade”.

Foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação


dos poderes,[1] atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais,
inclusive a Constituição Brasileira.

2.3 FRANÇOIS-MARIE AROUET (1694-1778) LIBERALISMO CLÁSSICO


POLÍTICO
Mais conhecido como Voltaire foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.
Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis,
inclusive liberdade religiosa e livre comércio, é uma dentre muitas figuras do Iluminismo cujas
obras e ideias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto
da Americana. Foi um defensor aberto da reforma social apesar das rígidas leis de censura e
severas punições para quem as quebrasse. Um polemista satírico, ele frequentemente usou suas
obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo. Voltaire é o patriarca
de Ferney. Ficou conhecido por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios
do clero e da nobreza. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar a uma nova
prisão, refugiou-se na Inglaterra. Durante os três anos em que permaneceu naquele país, onde
conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke.

FRANÇOIS-MARIE AROUET (1694-1778) - VOLTAIRE

2.4 ADAM SMITH (1723-1790) LIBERALISMO ECONÔMICO


Trabalho principal: “A riqueza das nações”, 1776.
Conhecido por: um dos pensadores liberais mais lembrados, Smith estabeleceu a base
intelectual da economia moderna, a ideia de livre mercado. Sua afirmação de que uma “mão
invisível” está no coração do mercado está entre as frases mais citadas na economia. Mas ele
também explorou a divisão do trabalho, os benefícios do comércio, a mobilidade do capital, o
aparelhamento dos mercados pelas empresas e pelo governo e os bens públicos (principalmente
a educação universal).

Foi um filósofo e economista britânico nascido na Escócia. Teve como cenário para a sua vida


o atribulado Século das Luzes, o século XVIII. É o pai da economia moderna, e é considerado o
mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor de Uma investigação sobre a natureza e
a causa da riqueza das nações, a sua obra mais conhecida, e que continua sendo usada como
referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das nações
resultava da atuação de indivíduos que, movidos inclusive (e não apenas exclusivamente) [5] pelo seu
próprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.

2. 5 THOMAS MALTHUS (1776-1834) LIBERALISMO ECONÔMICO

Thomas Robert Malthus estudou o crescimento das populações e a capacidade dos recursos
naturais para mantê-las. Desta maneira, acredita que os recursos crescem em proporções aritméticas
e a população cresce em proporções geométricas. Assim, guerras, desastres naturais e epidemias
funcionariam como um regulador das necessidades de consumo em consonância com o tamanho da
população. O pensamento de Malthus foi publicado em 1798, na obra "Ensaio Sobre o Princípio da
População".
Foi um economista britânico. É considerado o pai da demografia por sua teoria para o
controle do aumento populacional, conhecida como malthusianismo.

2. 6 DAVID RICARDO (1772-1823) LIBERALISMO ECONÔMICO

O filósofo inglês David Ricardo expôs a teoria da vantagem comparativa onde


defendia que o comércio internacional deveria ser dividido conforme a possibilidade de cada país.
Desta maneira, as transações seriam justas e não haveria necessidades de barreiras alfandegárias.
Transpondo essa teoria para as empresas, Ricardo afirma que as empresas também
encontram vantagens competitivas quando diferenciam produtos e serviços, possuem o monopólio
do mercado ou encontram políticas favoráveis aos negócios.
DAVID RICARDO (1772-1823)

3. CARACTERÍSTICAS DO LIBERALISMO
Ao longo da história ocidental, o liberalismo tomou várias formas, encontrando soluções para
alinhar a liberdade e a igualdade dentro da sociedade. Dessa forma, surgiram diferentes modelos
liberais — como o clássico, o econômico e o político —, cada um priorizando uma esfera
ideológica.
Por exemplo, no liberalismo clássico, o sistema dá preferência aos direitos civis,
sustentando-o como foco de intervenção. Já o econômico tende a focar no mercado e na baixa
atuação estatal.
No entanto, todas as vertentes iniciaram em um ponto em comum, sendo sustentadas
por bases específicas que determinam o que é o liberalismo. Confira as principais características
desse movimento ideológico: “Ampla e livre concorrência de mercado; Individualismo e
valorização do trabalho; Diminuição das barreiras econômicas e medidas restritivas; Valorização
das leis; Liberdade ideológica e de expressão, priorizando a tolerância quanto aos pensamentos
contrários e opositores; Instituição da lei da oferta e procura, isto é, quanto mais produtos
disponíveis no mercado, menor deverão ser os preços”.
Apoiam ideias como um governo limitado, direitos individuais (incluindo direitos
civis e direitos humanos), livre mercado, democracia, secularismo, igualdade de gênero, igualdade
racial, internacionalismo, liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade religiosa.
Amarelo é a cor política mais comumente associada com o liberalismo. O liberalismo buscou
contestar diversas normas sociais vigentes na época, como o privilégio hereditário, Estado
confessional, monarquia absolutista e o direito divino dos reis. 

3.1 LIBERALISMO POLÍTICO


Para compreender o que foi o liberalismo e os seus significados, é preciso conhecer a
sua vertente política, amplamente aplicada após os regimes monárquicos e absolutistas.
Desenvolvido por John Locke, o sistema político liberal é opositor ao modelo monárquico, visto
que as ideias do rei e seus aliados não englobam o desejo da população como um todo e, muito
menos, os individuais. Dessa forma, um regime pautado nas vontades de uma única pessoa não
permite o crescimento econômico e social, ferindo os princípios de liberdade e
igualdade preconizados pelo liberalismo. Então, dentro desse modelo, o Estado tem atuação
reduzida e é substituído pela razão individual, liberdade civil e transparência política, com a criação
de leis claras formuladas pelo poder estatal por meio de um processo eleitoral e democrático.
Constituiu-se contra o solutismo real e buscou nas teorias contratualistas a legitimação
do poder, não mais fundado no direito divino dos reis nem na tradição e na herança, mas no
consentimento dos cidadãos. Decorreu dessa maneira de pensar o aperfeiçoamento das instituições
do voto e da representação, a autonomia dos Poderes e a limitação do poder central.

3.2 LIBERALISMO ECONOMICO


Nessa vertente o sistema liberal defende a livre atuação do mercado, isto é, sem
interferência de taxas, barreiras e regimes fechados do Estado. Nos países em que o liberalismo
econômico atua, o crescimento exponencial da produção é facilitado e, por consequência, o lucro.
As leis da livre concorrência e de oferta e procura são bem-vindas, assim como o direito à
propriedade privada e a forte valorização do trabalho humano, que providencia sustentos para a
sobrevivência individual. O liberalismo econômico surgiu mediante a crise da política econômica
mercantilista, que não atendia mais às necessidades do modo de produção capitalista que se
consolidou com a Revolução Industrial.
Ao contrário do mercantilismo, que defendia a intervenção estatal na economia como
forma de favorecer o comércio e garantir o enriquecimento da nação, o liberalismo pregava a total
independência econômica dos indivíduos perante o Estado; A mesma deveria funcionar segundo os
princípios da livre concorrência, e da lei de oferta e procura (ou demanda).
O liberalismo econômico manifestou-se pela primeira vez por meio da fisiocracia
francesa, contudo, foi com as ideias do escocês Adam Smith que o liberalismo econômico alcançou
notoriedade quando este escreveu A riqueza das nações, em que analisa a economia britânica do
século XVIII, chegando à conclusão de que o trabalho humano era responsável pela produção de
riqueza dentro de uma nação. Segundo Smith, o incentivo ao trabalho, e ao enriquecimento resultam
das condições desiguais em que a sociedade se encontra, levando as pessoas à competição
econômica para subir na vida.
É a ideia de que os vícios privados (busca por um produto) geram benefícios públicos
(empresa produtora que gera empregos), de modo que a harmonia e o progresso, baseados na
ambição individual, seriam garantidos por um mecanismo autorregulador, o mercado, que
funcionaria como uma “mão invisível“, permitindo o crescimento da riqueza e melhor distribuição
da renda.

3.3 LIBERALISMO ÉTICO


Supõe o prevalecimento do estado de direito, que rejeita o arbítrio, as prisões sem culpa
formada, a tortura, as penas cruéis e estimula a tolerância para com as crenças religiosas; para tanto,
defende os direitos individuais, como liberdade de pensamento, expressão e religião.

4. LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO
O liberalismo entrou em fracasso após a Primeira Guerra Mundial em função
da desigualdade social que ele criou. Depois das mudanças sociais, políticas e econômicas que
aconteceram durante a Guerra Fria e após a Segunda Guerra Mundial, surgiu o conceito de
neoliberalismo. O mesmo perdeu força após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) quando as
economias nacionais tiveram que ser reorganizadas a partir do Estado.
Na economia, temos a divisão entre o liberalismo clássico e a versão revista dessa
doutrina no século XX, o neoliberalismo. A crise de 1929 foi um fator decisivo para a cisão de
governos com as doutrinas liberais, pois os governos das maiores potências mundiais precisaram
injetar dinheiro na economia e retomar as rédeas para que o mundo não falisse. Esse período foi
necessário para a retomada econômica e para que se implementasse medidas de proteção aos
trabalhadores no mundo todo, como a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) no
Brasil.
Ao avaliar certas incoerências no discurso do modelo clássico, e a sua ineficiência em se
adaptar ao contexto atual — capitalista globalizado e diversificado —, alguns teóricos
desenvolveram um novo sistema com base nos ideais tradicionais. Em outras palavras, a
grande diferença entre liberalismo e neoliberalismo é o contexto social em que ele é aplicado.
Enquanto o primeiro foi criado como uma forma de luta contra a monarquia, o segundo surgiu para
apoiar os ideais capitalistas, favorecendo a economia privada. O neoliberalismo é a utilização dos
princípios clássicos neoliberais na atualidade, ou seja, é a aplicação dos princípios liberais em uma
sociedade regida pelas regras de um estado globalizado e orientado pelo capitalismo. O novo
conceito surgiu por volta da década de 1970, a partir da aplicação dos ideais liberais aos ideais
capitalistas. Assim como o liberalismo, o neoliberalismo também tem como base a defesa de uma
maior liberdade dos cidadãos nas decisões políticas e econômicas, com reduzida intervenção do
estado.
Os defensores do neoliberalismo acreditam que a liberdade de mercado é o caminho que
leva ao crescimento e ao desenvolvimento econômico. Dentre algumas medidas defendidas pelo
neoliberalismo estão: facilitação econômica para entrada de multinacionais nem um país;
Privatização de estatais; Diminuição de protecionismo econômico para facilitar operações
estrangeiras; redução de carga tributária.

No entanto, o neoliberalismo só ganhou força no século XX, no final dos anos 80 com uma
grande concorrência comercial, e o fim iminente da União Soviética. Tanto o Reino Unido quanto o
Estados Unidos, adotaram uma atuação menor do Estado na economia, como por exemplo, a
privatização de estatais. Esse sistema não funcionou para países pobres, que tiveram de pedir
empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o que criou privilégios aos países
desenvolvidos.

No Brasil, essa doutrina apareceu com o governo de Fernando Collor de Mello, com o
problema da inflação pós-ditadura, foi lançado, em 1990, um plano chamado O Plano Brasil Novo,
ou, Plano Collor. Através de uma medida provisória e sem menção do plano na campanha eleitoral
de Collor, o que fez os brasileiros serem pegos de surpresa.

O plano também contava com privatizações de estatais. Para definir melhor, as medidas base
do programa são: “Poupança retida para quem tivesse depósitos acima de 50.000 cruzeiros novos
(atualmente, 5000 a 8000 reais); os preços deveriam voltar aos valores de 12 de março; mudança da
moeda: de cruzados novos para cruzeiros, sem alterações de zeros; Início do processo de
privatização de estatais; reforma administrativa com o fechamento de ministérios, autarquias e
empresas públicas; demissão de funcionários públicos; abertura do mercado brasileiro ao exterior
com a extinção de subsídios do governo; flutuação cambial sob controle do governo.” (TODA
MATERIA, 2019)

No entanto, intelectuais da chamada Escola Austríaca de Economia, liderados no


início pelo economista Ludwig von Mises, começaram a propor novas formas de uma doutrina
liberal que conciliassem as necessidades de um mercado livre com alguma, bem tímida,
participação do Estado na economia (para salvá-la quando necessário). Politicamente, o Estado e
os governos eram necessários para estabelecer algumas relações, mas à iniciativa privada deveria
ser dada novamente a liberdade.
5. RELAÇÃO COM O TRABALHO HUMANO

COMO O LIBERALISMO SE AJUSTOU ESTRUTURALMENTE AO


ESCRAVISMO?
Jacob Gorender - Em tese, o liberalismo europeu defendeu o trabalho livre, o mercado de trabalho
de assalariados juridicamente livres. Defendeu a eliminação das injunções feudais, do pagamento da
corvéia; enfim, de todos os tributos característicos do sistema feudal. Mas é preciso lembrar que o
próprio Adam Smith não era contra a escravidão nas colônias. Ou seja, o próprio liberalismo
europeu já nasceu sob esta contradição; mesmo a Revolução Francesa decretou a libertação dos
escravos nas colônias francesas em 1794, mas Napoleão restabeleceu a escravidão oito anos depois.
Ou seja, o próprio liberalismo, inglês ou francês, padeceu dessa contradição, que talvez não seja
uma contradição entre o liberalismo e o escravismo, mas somente uma incorporação do escravismo
como integrante de um sistema colonial. Trabalho livre na Europa, escravidão nas colônias
americanas - tal a ordenação segmentada, estabelecida pela teoria liberal.

DIREITO DO TRABALHO

 O direito do trabalho se encontra em um momento de crise em virtude das


transformações no mundo, isto é, da chamada “globalização” da economia, que estabelece uma
tirana concorrência no mercado internacional. Verifica-se, assim, que se privilegia o capital sobre
o trabalho, provocando um descaso em relação a todas as conquistas do homem pelos seus
direitos, destacando a debilidade, bem como o risco do total desaparecimento da proteção por
parte do Estado de uma vida digna ao homem trabalhador.

A sociedade neoliberal apresenta um pequeno grupo de pessoas com grande poder de


aquisição, em contrapartida a uma maioria de pessoas miseráveis que tentam, inutilmente,
competir com maquinários. O que se percebe, segundo o autot Amauri Nascimento, é que, com os
novos meios de produção, tais como a informática e a robótica, há mais produção com menor mão
de obra. Isso provoca uma crescente desigualdade social, visto que há a diminuição de
contratações, com consequente desemprego, bem como a exclusão dos direitos protetores do
trabalhador, tendo em vista a livre negociação entre as partes, na qual, de regra, prevalece a
vontade do empregador diante da necessidade econômica do empregado.

O direito contemporâneo conserva o seu caráter de tutela do trabalhador, no entanto,


para não impedir avanços tecnológicos, torna-se menos rigoroso quanto a alguns aspectos, como
em relação à redução de salários, bem como às novas formas de remuneração, à redução das
jornadas de trabalho, com vistas a proporcionar, ainda, ao homem a oportunidade de conseguir
algum emprego. Trata-se, portanto, de um liberalismo que atribui ao mercado a função de
formador e organizador das forças econômicas, deixando ao Estado uma função secundária, qual
seja, a de garantir o livre funcionamento do mercado, conforme Kátia Magalhães Arruda Aduz
ainda esta autora que o neoliberalismo, ou liberalismo, traz novamente as idéias liberais, que
separam o econômico do social e o Estado do mercado. Contudo, esquece-se que, para o mercado
funcionar, exigem-se condições favoráveis, que são fornecidas pelo Estado, responsável pela
ordem jurídica, política e institucional.

Foi com a intervenção do Estado que se estimulou a atuação do mercado, quando


começou a se constituir a burguesia industrial, bem como passaram a se desenvolver as relações
capitalistas, o efeito chamado globalização. As transformações ocasionadas pela globalização
tecnológica têm se mostrado muito eficazes, considerando o seu progresso extraordinário
referentemente aos meios de comunicação, permitindo, por exemplo, que uma pessoa possa sentir-
se presente em qualquer evento que ocorra, em qualquer hora e em qualquer lugar do mundo. No
entanto, mesmo proporcionando e envolvendo em suas progressões todos os meios de
comunicação, transportes e cultura, ou seja, promovendo o avanço da humanidade, por priorizar o
capital em relação ao trabalho, a globalização tem provocado o desemprego, e as más condições
de trabalho.

Kátia Magalhães Arruda enfatiza a respeito: A globalização intensifica a abertura de


mercados e a migração de empresas para países e localidades que sejam mais lucrativas, ou seja,
onde existe a mão de obra mais barata e a menor fiscalização e respeito aos direitos
internacionalmente conhecidos como fundamentais para a classe trabalhadora. Além disso, o
neoliberalismo privilegia a lógica exclusiva do mercado em detrimento do homem, desviando o
avanço tecnológico para o fator lucro, em vez de ter como destinatário a valorização da vida
humana.
No mesmo sentido, explica Amauri Mascaro Nascimento que a substituição dos
empregados pelo software, diante da alta produtividade das empresas com o emprego de eficientes
meios tecnológicos, fez com que se tornasse desnecessário um grande número de empregados e
isso caracteriza o desemprego estrutural, comprometendo, assim, os princípios que se encontram
consagrados na Constituição, como o valor social do trabalho e a dignidade da pessoa humana.

Desse modo, esclarece Kátia Magalhães que, além de serem os trabalhadores substituídos por
máquinas, também perdem o emprego por não possuírem condições de acompanhar essas
mudanças, devido à crescente sofisticação de seus equipamentos. Isso, de certo modo, aumenta a
oferta e leva-os a se submeterem à condições humilhantes, considerando seus salários e as más
condições de trabalhos, para garantir a própria subsistência. A classe trabalhadora começou a
lutar por bandeiras diferentes das tradicionais, dentre as quais a redução das horas de trabalho
como meio de combater ao desemprego, na medida em que o tempo preenchido em horas extras
com um empregado poderia servir à ocupação de outro. O direito do trabalho ainda não encontrou
meios eficazes de enfrentar o problema que caracteriza o período contemporâneo com a nova
questão social, resultante do crescimento do exército de excedentes atingidos pela redução da
necessidade de trabalho humano, substituído pela maior e mais barata produtividade da tecnologia.

Salienta-se ainda a preocupação referente à precária situação de emprego, o que irá se


agravar mediante maior implementação do progresso técnico, ocasionando, assim, uma
diminuição de empregados, bem como supressão de postos de trabalhos e redução dos salários de
trabalhadores não qualificados. Pode-se, assim, afirmar, de um modo geral, que os reflexos da
globalização não caracterizam o desenvolvimento do país, visto que, para isso, seria necessária a
melhoria de qualidade de vida dos homens, ou seja, deveriam ser assegurados os direitos à
educação, à saúde, ao trabalho, dentre outros. Contudo, o trabalho, apesar de ser um direito que
dignifica um homem, está sendo-lhe tirado. Diante do exposto, Otávio Augusto Reis de Souza traz
o entendimento de que “o trabalho não é inato à condição humana, mas é sim a forma pela qual até
hoje obtivemos os meios para o atendimento de nossas necessidades, absolutas e relativas”
Por outro lado, afetam-se as condições mínimas de vida, salário, jornada, conquistas essas que
o homem sofreu para adquirir e que, atualmente, está perdendo em virtude da inexistência de
planificação de alguns países, os quais se tornaram hipossustentáveis economicamente,
prejudicando assim, toda a sociedade. Pode-se, portanto, permitir certa liberdade na relação de
trabalho, tanto que seja para dignificar mais o indivíduo, tornando-o um fim da sociedade e do
direito, com base na norma mais favorável, como também, que seja respeitado o valor social do
trabalho, que promove o desenvolvimento de riquezas, mas, acima de tudo, e principalmente, da
personalidade do homem. Então, sempre que se for aferir a legitimidade da flexibilização, deve
estar preservada a dignidade da pessoa humana, porque, ao se procurar desenvolver
economicamente o país, devem-se observar as leis que oferecem garantias para os trabalhadores.
Não se podendo, assim, ignorar os princípios constitucionais de valorização do trabalho e do
trabalhador como fator inerente à dignidade humana para que se possa obter a eficaz concretização
do direito do trabalho.
Sabe-se, todavia, que o fato de flexibilizar o direito do trabalho constitui-se algo perigoso,
uma vez que abre precedentes no sentido de permitir o suposto pacto entre as partes, que nunca
estarão em condições de igualdade negocial, considerando o poder econômico do empregador em
relação ao empregado. Por isso, mesmo com o notório ressurgimento das ideias liberais, não se
devem perder de vista os princípios da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho
no momento de flexibilizar o direito do trabalho, pois são fundamentos constitucionais que
asseguram condições dignas de trabalho, de modo que este não sirva apenas como um meio de
sobrevivência, mas, sim,torne-se o homem merecedor desses direitos mínimos.

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