Você está na página 1de 4

ESTADO LIBERAL

O estado liberal ou burguês foi inspirado pelos ideais da Revolução Francesa: liberdade,
igualdade e fraternidade. Esses princípios moveram as lutas políticas da burguesia contra o
absolutismo na Europa entre o século XVII e XVIII. Os fundamentos do Estado Liberal são a
soberania popular e a representação política, ou seja, o poder é do povo, que o exerce por
meio da eleição de representantes (partidos políticos e pessoas).

O também inglês John Locke, ao posicionar-se em relação á natureza humana e ao


absolutismo, atribui o controle das liberdades individuais e a defesa da propriedade privada ao
Estado. Por associar autoridade e liberdade, Locke é considerado um dos principais teóricos do
liberalismo político.

Por sua vez o político e filosofo francês Charles-Louis de Secondat, conhecido como
Montesquieu, elaborou a “teoria dos três poderes”, com a ideia de divisão dos poderes ou
funções do Estado (Executivo, legislativo e judiciário). O objetivo era contestar as ideias
absolutistas, que justificavam a concentração dos poderes nas mãos do soberano, pois a
vontade do líder se confundia com as necessidades do Estado. A separação desses poderes
definiu as diferentes limitações e dimensões do podes político do estado.

Na esfera econômica, a principal crítica da burguesia ao absolutismo estava na interferência do


Estado. Essa classe defendia que o Estado deveria agir apenas como “guardião da ordem”,
zelando pela segurança e pela manutenção da propriedade privada. Ou seja, o Estado deveria
manter a ordem para todos poderem desenvolver livremente as próprias atividades. Dessa
forma, estabelecia-se a separação entre as esferas publica (aquilo que era de interesse comum
e suscetível a interferência do Estado) e privado (o que dizia respeito exclusivamente aos
indivíduos, não suscetível a intervenção do Estado).

O economista e filosofo escocês Adam Smith, ideólogo do liberalismo econômico, postulava


haver uma “mão invisível” que re3gularia a quantidade e o preço das mercadorias, sem a
intervenção do Estado. O lema laissez-faire, laissez-passer (deixa fazer, deixa passas)
expressava a concepção de que as atividades econômicas se autorregulariam exclusivamente
por meio da oferta e da demanda e livre concorrência.

Moldado para atender aos interesses da burguesia, o Estado liberal permitiu a superação do
regime absolutista. Entretanto, por também promover crises econômicas e desigualdades
sociais, tal modelo de estado começou a ser questionado, repensado e reestruturado.

Características do Liberalismo

O liberalismo, como um todo, visava a acabar com a opressão do chamado Antigo Regime (as
monarquias absolutistas que dominaram, durante muito tempo, as potências europeias). Para
os liberais, o ser humano era dotado de direitos naturais (pensamento herdado do filósofo
inglês John Locke) que assegurariam o direito de todos os cidadãos de participar da política e
da economia, de trabalhar, acumular riquezas e adquirir uma propriedade privada. Do mesmo
modo, eram direitos naturais à vida e à liberdade, sendo vedado ao Estado qualquer forma
autoritária e injustificada de restrição da liberdade ou assassinato dos cidadãos.

Para os teóricos liberais modernos, não havia qualquer justificativa para o controle da vida, do
governo e da economia por parte dos monarcas. Isso porque a monarquia absolutista estava
assentada no ideal do direito divino, ou seja, os governantes eram pessoas eleitas por Deus
para guiar o povo. O pensamento moderno, já altamente racional, rejeitava essa noção.
Para os modernos, era a razão, distribuída entre as pessoas, a responsável por criar um projeto
de mundo capaz de impulsionar a sociedade e os indivíduos ao crescimento. Esses ideais, que
constituíam o Iluminismo, geraram o centro do pensamento liberal: a capacidade individual de
trabalhar, criar e evoluir.

Tipos de liberalismo

O liberalismo clássico pode ser dividido em liberalismo político e liberalismo econômico.


Chamamos de liberalismo clássico aquele que surgiu dos ideais de filósofos liberais do século
XVII e XVII contra o Antigo Regime e a favor da livre iniciativa individual na economia.

Liberalismo político

O pensamento liberal, em geral, visava a acabar com a opressão estatal sobre a vida das
pessoas em seus aspectos políticos e econômicos. Para tanto, era necessário abandonar a
visão medieval de governo, baseada no poder absoluto e irrestrito de um governante e no
severo controle da economia por parte do Estado (como ocorreu no mercantilismo, em que os
governos promoviam as ações da economia, baseadas no comércio e na exploração de
colônias, controlando absolutamente tudo).

Ao abandonar a visão antiga de governo e economia, os liberais modernos adotaram uma


visão política baseada no republicanismo ou no parlamentarismo. Esses sistemas políticos
permitiam a divisão dos poderes, retirando das mãos de um monarca o poder absoluto.

O filósofo francês Charles de Montesquieu, um dos pensadores que influenciaram o


liberalismo e a Revolução Industrial, defendeu a divisão dos poderes estatais em três partes: o
Poder Legislativo (formado por um corpo de legisladores, que criarão as leis); o Poder
Executivo (formado por um corpo de governo responsável por executar as leis e governar a
cidade ou o país); e o Poder Judiciário, que atua quando algum cidadão infringe as leis
estabelecidas ou entra em conflito de interesses com outros cidadãos ou com o Estado.

Liberalismo econômico

No campo econômico, foram as ideias do filósofo e economista inglês Adam Smith que
predominaram para estabelecer as diretrizes desse novo pensamento econômico. O
liberalismo econômico consiste no entendimento de que o Estado não deve interferir na
economia, pois essa deve ser feita a partir da livre iniciativa dos cidadãos, que devem ser livres
para produzir e fazer comércio, sendo responsáveis por si mesmos.

A meritocracia e a valorização do esforço individual são marcantes no pensamento liberal, que


coloca como responsável pela riqueza e pelo sucesso, unicamente, o indivíduo. Para Smith,
haveria uma espécie de “mão invisível” que faria com que a economia se desenvolvesse
autonomamente no poder da iniciativa privada, sem necessitar do Estado, pois esse colocava
um entrave no crescimento econômico ao querer reivindicar a sua parte nos lucros sem nada
oferecer em troca.

Consequências do Liberalismo

O liberalismo que se apresenta perfeito em suas ideias e em sua teoria se tornou irrealizável.
Tendo em vista a solução dos problemas reais e sociais da sociedade, é inadequado. O Estado
liberal perdeu de vista a realidade da sociedade.
A estratégia excessivamente liberal, delegava ao mercado a capacidade de se ‘auto gerir’ sem
qualquer intromissão por partes dos governantes, de acordo com as teses defendidas por
Adam Smith e David Ricardo, criadores dessa doutrina econômica. Um Estado limitado pela lei,
no qual o governo não poderia intervir nas negociações.

Dentro dos instrumentos desse Estado de Direito está a constituição e a divisão dos poderes. O
homem é livre, porém este é submetido à lei. A lei seria a expressão da vontade de cada
cidadão. Mas não é o que ocorria na prática, na sociedade liberal daquela época.

Os governantes ignoraram a revolução industrial, sendo esta considerada uma das mais
importantes revoluções da história política. Foi na Revolução industrial que surgiram os
operários de fábricas, em sua maioria pessoas que vinham do campo para trabalhar na cidade.
Com o surgimento das fabricas, surgia então uma nova classe social: o proletariado.

Sem qualquer forma de proteção, essa classe viva à mercê dos grandes capitalistas. E muitas
vezes viam seus sonhos desabarem por falta de empregabilidade, principalmente com o
surgimento das máquinas. A cada máquina nova que uma fábrica adquiria, milhares de
pessoas eram postas na rua, em nome da produtividade e do lucro.

O trabalho humano passou então a ser menosprezado e negociado, submetido assim à lei da
oferta e da procura. Trabalhadores operários possuíam salários mínimos e altíssimas jornadas,
mulheres eram obrigadas a deixar seus lares para tentar suprir o que o salário do marido não
cobria, crianças não frequentavam escolas e também eram atiradas ao trabalho indevido,
muitas vezes prejudicial ao seu corpo ainda não formado.

Com isso, o liberalismo trouxe consigo a desintegração familiar e também o descontentamento


da população prejudicada. Por outro lado, a riqueza se concentrava nas mãos dos poucos
dirigentes do poder econômico. A vontade que ganhar cada vez mais criou o conflito entre as
distintas classes sociais dos patrões e dos assalariados, vindo a causar um total desequilíbrio
social.

Neoliberalismo e liberalismo

O liberalismo clássico mostrou-se ineficaz no início do século XX, após o advento de crises,
como a Grande Depressão de 1929, em que a Bolsa de Valores de Nova Iorque quebrou. O
cenário era de desemprego geral e péssimas condições de vida e trabalho para a classe
operária europeia e estadunidense (principalmente), mas também para as classes operárias de
outros países fora dos grandes eixos industriais.

O socialismo havia inspirado a formação de organizações sindicais, que organizavam grandes


greves contra a exploração dos trabalhadores por parte da burguesia, algo comum e
necessário dentro da doutrina liberal. O cenário do século XX fez com que governantes e
economistas revissem o liberalismo clássico.

Um dos economistas que apresentaram uma proposta diferente foi o inglês John Maynard
Keynes, formulando uma doutrina conhecida posteriormente como keynesianismo. Essa teoria
trouxe uma forma de pensar a economia capitalista como um misto de lucro para a iniciativa
privada, mas com uma regulação estatal que assegurasse boas condições de vida para toda a
população, e não somente para uma classe privilegiada.

As formas de governar que surgiram a partir dessas ideias ficaram conhecidas como social-
democracia, sendo aplicadas nos Estados Unidos por Franklin Delano Roosevelt e por países
nórdicos europeus, como a Finlândia. A educação, a saúde, a segurança, o pleno emprego e a
dignidade da vida deveriam ser promovidos pelo Estado quando a iniciativa privada não
conseguisse atingir a todos com os seus benefícios, o que fez surgir um Estado de bem-estar
social, que tornaria mais digna a vida humana e permitiria o acesso ao consumo por parte das
classes trabalhadoras.

Como resposta a esse tipo de política econômica, o economista da Escola Austríaca de


Economia, Ludwig von Mises formulou uma doutrina político-econômica que resgatava os
elementos do liberalismo clássico e adaptava-os à realidade do capitalismo globalizado e
altamente desenvolvido do século XX.

A nova realidade não permitiria uma completa e total separação entre a economia e o Estado,
mas permitiria ajustes que os neoliberais consideravam necessários. Esses ajustes visavam, em
geral, à ampliação da iniciativa privada na oferta de serviços básicos e a supressão quase total
das empresas, órgãos e funcionários públicos, a fim de, como dizem os neoliberais, desinflar a
máquina estatal. Por essa lógica, o papel do Estado na economia seria quase nulo, a cobrança
de impostos abaixaria muito e os serviços básicos seriam, em sua maioria, cobrados.

Você também pode gostar