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CORRENTES DO PENSAMENTO

LIBERALISMO

01) Considerações Gerais: O Liberalismo tem origem no Iluminismo. Está intimamente


conectado às ideias dos pensadores iluministas do século XVIII. O pensamento liberal,
visava acabar com a opressão estatal sobre a vida das pessoas em seus aspectos
políticos e econômicos. Para tanto, era necessário abandonar a visão medieval de
governo, baseada no poder absoluto e irrestrito de um governante e no severo controle
da economia por parte do Estado como ocorreu no mercantilismo, em que os governos
promoviam as ações da economia, baseadas no comércio e na exploração de colônias,
controlando absolutamente tudo (antigo regime). Os ditos filósofos das luzes
acreditavam no progresso da humanidade a partir da livre concorrência das forças
sociais. Eram contrários às forças que conduziam as decisões dos indivíduos, sejam
elas religiosas ou estatais. Trata-se de doutrina político-econômica que surge, em
essência, da vontade de limitação do Estado para a consequente ascensão da
liberdade individual, dos direitos individuais, da igualdade perante a Lei, da proteção à
propriedade privada e do livre comércio. Essa vontade estava intimamente ligada às
lutas da burguesia na Inglaterra nos séculos XVII e XVIII, por isso, por muitas vezes
foi e ainda é associada a essa classe social. A premissa do Estado Mínimo
(minarquismo) é uma das máximas do Liberalismo, necessário para que se possa
garantir as variadas bandeiras defendidas pelo pensamento liberal. Outra questão
importante é a ideia de mérito (cada indivíduo pode possuir mais ou menos bens e
realizações, com base em seu esforço pessoal para alcançar seus objetivos). O
mercado é considerado o grande provedor e regulador da sociedade na percepção dos
liberais. No campo moral, há a valorização da liberdade individual, em oposição à moral
preconizada pelos conservadores da época (clero e nobreza).
Obs: Conservadorismo pode ser entendido como filosofia de vida, que orienta a ação
política, econômica e social de determinados indivíduos ou grupos. Está intimamente
ligado aos valores tradicionais. Opõe-se às mudanças radicais ou violentas
(revolucionárias), defende a permanência de instituições que geraram bons frutos ao
longo do tempo, prega a evolução orgânica (reformistas). Os valores conservadores
estão ligados às tradições locais, não sendo, um conjunto fechado de ideias, variam de
acordo com o lugar e tempo.

02) Ideário Liberal: Conjunto das principais teses defendidas pelo Liberalismo, nos
setores: Político, Social e Econômico.
A) Setor Político: Defesa das Liberdades e Direitos Individuais; Liberdade de Imprensa,
Associação, Reunião e Religião; Estado Mínimo; Igualdade Perante a Lei; e
Governos Representativos e Constitucionais.
I) Defesa das Liberdades e Direitos Individuais: O liberalismo não reconhece direitos
coletivos. O indivíduo é o agente das relações jurídico-sociais e detém direitos
individuais e não coletivos. Segundo o Individualismo Metodológico, apenas o indivíduo
possui uma mente, pode sentir, ver, realizar e entender, adotar valores e fazer escolhas
e somente o indivíduo pode agir. Devendo esse princípio fundamentar todas as ciências
da ação humana. Assim sendo, conceitos coletivos como: grupos, nações e estados
não agem ou não existem realmente. São apenas construções metafóricas utilizadas
para descrever ações conjuntas de indivíduos. Assim sendo, não existe governo por si
só, existem indivíduos, agindo harmoniosamente de uma maneira governamental. Nas
palavras do sociólogo, jurista e economista liberal alemão Karl Emil Maximilian Weber,
Max Weber (1864-1920), considerado um dos pais da Sociologia e fundador do
Individualismo Metodológico: “Estes coletivos devem ser tratados unicamente como
sendo os resultados e os modos de organização das ações particulares de agentes
individuais, uma vez que apenas estes podem ser tratados como agentes no curso de
uma ação subjetivamente compreensível. Para propósitos sociológicos, não existe algo
como uma personalidade coletiva que age”.
II) Liberdade de Imprensa, Associação, Reunião e Religião : Todo indivíduo deve ser
livre para agir de forma autônoma. Isso incluía escolher sua crença, expor e divulgar
seu pensamento, e tomar decisões. Se o indivíduo não tem a liberdade assegurada, a
razão acaba sendo tolhida.
III) Estado Mínimo: Atrelado à concepção política do liberalismo, o conceito descreve
que o Estado (governo) não pode atuar ou intervir em todas as esferas. O
liberalismo político afirma, que há um aglomerado de direitos inerentes ao ser humano
e que, o Estado não pode intervir. Esses direitos seriam liberdade individual, direitos
individuais, igualdade perante a Lei, segurança, felicidade, liberdade religiosa, liberdade
de imprensa, dentre outros. O Estado seria limitado no plano legal, através das Leis e
no plano individual/privado por esse conjunto de direitos.
Obs: Atuação do Estado: Vale a máxima atribuída a Thomas Hobbes (1588-1679) “O
Estado é um mal, porém um mal necessário”. O Estado atuaria, então, para fornecer
as condições mínimas necessárias para o livre desenvolvimento de cada indivíduo.
Significando, livre desenvolvimento, a ausência de assistencialismo. O liberalismo
afasta o Estado paternalista, que não poderá atuar, interferindo, limitando ou suprindo,
necessidades de qualquer pessoa e, sobretudo, intervir na economia ou no mercado.
IV) Igualdade Perante a Lei: Através da instituição do Estado de Direito. Todos seriam
iguais perante a Lei, e tratados com igualdade pelo Estado, não existindo privilégios.
V) Governos Representativos e Constitucionais: O governo deve estar submetido à
vontade da maioria e atender ao bem comum, sendo garantido a todos o direito ao voto.
Questionavam todas as estruturas do antigo regime, criticavam o absolutismo
monárquico, defendendo, que o governo fosse baseado em uma Constituição. O poder
não seria mais concentrado em uma única pessoa, mas tripartido (divisão dos poderes).
B) Setor Social: Reconhecimento do Mérito.
I) Reconhecimento do Mérito: O lugar de cada um na sociedade dependeria
diretamente do mérito pessoal. Há a pressuposição de igualdade de oportunidades, e
se alguns indivíduos possuem mais do que os outros, que seja em razão da diferença
no grau de esforço e dedicação, aplicados para alcançar seus objetivos.
C) Setor Econômico: Reconhecimento da Propriedade Privada; Livre Mercado; e
Tributação Mínima.
I) Reconhecimento da Propriedade Privada: O bem pode ser utilizado exclusivamente
por quem o adquiriu. Não há espaço para o instituto da função social da propriedade,
não existindo, utilização ou obrigação de objetivos sociais para a propriedade privada.
II) Livre Mercado: A economia se fundamenta na lei da oferta e da demanda. O Estado
não pode intervir em nenhuma esfera da economia, não pode intervir nos preços,
nos salários ou nas trocas comerciais, tampouco corrigindo as falhas ou disparidades
sociais causadas pela economia. O liberalismo coloca o livre mercado como o grande
regulador da sociedade e que as falhas se corrigiriam naturalmente, através da mão
invisível referida por Adam Smith (1723-1790) na obra A Riqueza das Nações.
III) Tributação Mínima: O sistema tributário deve ser o mais neutro possível sobre a
atividade econômica e deve onerar ao mínimo possível os cidadãos. Deve evitar uma
profusão de tributos e de alíquotas. Principalmente no que concerne à carga tributária
das empresas.

03) Correntes do Liberalismo: Pode ser visto por três enfoques diferentes: Filosófico,
Político e Econômico.
A) Liberalismo Filosófico: Se contrapõe ao conservadorismo como corrente de
pensamento. Os liberais possuem ideias flexíveis e abertas, tendentes a serem mais
tolerantes com a diversidade e o novo. Defendem que os indivíduos sejam tratados com
igualdade e que suas escolhas, não causando danos a terceiros, sejam respeitadas.
São contra o uso do Estado para a imposição de padrões morais e de hierarquia social.
Embora muitos adotem valores morais conservadores, entendem que esta deve ser
uma decisão individual e não imposição da sociedade.
B) Liberalismo Político: Pensamento liberal fundamentado nas teorias de filósofos
liberais clássicos, como John Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778), Montesquieu
(1689-1755), Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873). A principal
ideia desses pensadores era apresentar uma ruptura com o autoritarismo das
monarquias absolutistas, acabando com a opressão estatal sobre a vida das pessoas
em todos os seus aspectos. Adotaram visão política baseada na democracia
representativa, republicanismo ou no parlamentarismo, por esses sistemas políticos
permitirem a divisão de poderes, retirando das mãos dos soberanos o poder absoluto.
C) Liberalismo Econômico: Surgiu no século XVIII em oposição ao mercantilismo como
nova teoria que explicaria a relação entre a propriedade individual e a liberdade. Os
filósofos franceses François Quesnay (1694-1774) e Vincent Gournay (1712-1759),
estão entre os principais teóricos, que defendiam a liberdade no campo econômico e
político, tendo muito contribuído para estruturar a teoria do liberalismo econômico. Com
tudo, foi o filósofo e economista inglês Adam Smith (1723-1790), o maior divulgador da
teoria, sendo considerado o pai do liberalismo econômico. Tendo formulado um modo
de liberalismo intimamente ligado à economia, criando verdadeira doutrina econômica,
que se instalaria na Europa e no resto do mundo nas décadas e séculos seguintes.
Consiste no entendimento que o Estado não deve interferir na economia, pois essa
deve ser feita a partir da livre iniciativa dos cidadãos, que devem ser livres para produzir
e fazer comércio, sendo responsáveis por si mesmos. A meritocracia e a valorização do
esforço individual são marcantes no pensamento liberal, que coloca como responsável
pela riqueza e pelo sucesso, unicamente, o indivíduo. Para Adam Smith, haveria uma
espécie de mão invisível, que faria com que a economia se desenvolvesse
autonomamente (capacidade de se organizar e regular) no poder da iniciativa privada,
sem necessitar da interferência do Estado, pois esse colocava um entrave no
crescimento econômico ao querer reivindicar a sua parte nos lucros sem nada oferecer
em troca.
Obs: O elevado desenvolvimento econômico e social ocorrido na Europa e Estados
Unidos no século XX, proporcionado pela Revolução Industrial, ocasionou a valorização
da doutrina liberal.

04) Características do Liberalismo: Liberdade Individual, Propriedade Privada,


Liberdade Econômica e Estado Mínimo.
A) Liberdade Individual: O indivíduo tem prioridade sobre o coletivo. O ser humano era
dotado de direitos naturais, que assegurariam o direito de todos os cidadãos de
participar da política, da economia, de trabalhar, acumular riquezas e adquirir uma
propriedade privada. Do mesmo modo, eram direitos naturais a vida e a liberdade,
sendo vedado ao Estado impor de forma autoritária e injustificada qualquer restrição à
liberdade. O governo tem o dever de respeitar tais direitos e deve atuar principalmente
para resolver disputas quando os interesses dos indivíduos se chocam. De acordo com
a filosofia liberal, a sociedade e o governo devem proteger e promover a liberdade
individual, ao invés de impor constrangimentos. A pluralidade e a diversidade devem
ser encorajadas e a sociedade deve ser igual e justa na distribuição de oportunidades e
recursos.
B) Propriedade Privada: Propriedade é acumulação de trabalho. O filósofo inglês John
Locke (1632-1704), considerado o pai do liberalismo, concebia a propriedade privada
como um conceito central. Para Locke, o fundamento da propriedade estava no próprio
ser humano, em sua capacidade de transformar a natureza pelo trabalho. A liberdade
está indissociavelmente ligada ao direito de propriedade privada. O indivíduo só é livre
se é dono de seu próprio corpo e se é capaz de se apropriar do que produz. O Direito
de propriedade é a proteção que o indivíduo tem para prevenir que outra pessoa, contra
sua vontade, escolha um possível uso para recursos reconhecidos como seus.
C) Liberdade Econômica: Livre mercado. O liberalismo econômico surgiu como
oposição ao mercantilismo, prática político-econômica, que defendia o total controle
estatal da economia, a execução da balança comercial favorável e o protecionismo.
Para os liberais, não deve haver interferência nas atividades econômicas dos indivíduos
e nem no mercado econômico e financeiro em geral (laissez faire, laissez passer,
expressão francesa que significa: deixe fazer, deixe passar). Caso ocorra algum
problema, a própria economia, naturalmente, irá se ajustar, de forma satisfatória para
todas as partes, sem precisar que o Estado crie regras (mão invisível do mercado). As
empresas devem ter liberdade para produzir, precificar e qualificar seu produto, sem
nenhuma regulação. Por consequência, as relações de mercado entre o consumidor e o
produto, ajustaria a demanda e o valor desse produto (livre concorrência).
D) Estado Mínimo: Governo limitado. O papel do Estado na sociedade deve ser o
mínimo possível para que consiga entregar serviços públicos de qualidade para a
sociedade, com maior eficiência, deixando a cargo da iniciativa privada funções
consideradas não essenciais. Seu papel deveria ser reduzido a garantia do direito à
vida, à liberdade individual, e à felicidade, dando ênfase à autonomia da vontade
(liberdade de escolha). Os argumentos que justificam o Estado Mínimo (minarquismo)
são: menor erro de cálculo econômico (reduz o desperdício de recursos financeiros);
maior crescimento econômico (libera recursos travados pela burocracia estatal,
incentivando a geração de novos postos de trabalho) e menor carga tributária (tendo o
Estado tamanho reduzido, abre espaço para a iniciativa privada ter mais liberdade de
atuação e assim ofertar produtos com preços adequados).

05) Períodos do Liberalismo: O pensamento liberal pode ser dividido em quatro ciclos:
Liberalismo Clássico; Liberalismo Conservador; Liberalismo Social; e Renascimento do
Liberalismo.
A) Liberalismo Clássico: Período entre a segunda metade do século XVII e meados do
século XIX. Os direitos naturais, entendidos, a partir dos juristas Hugo Grotius (1583-
1645) e Samuel Pufendorf (1632-1694), como individuais, o individualismo, contra as
noções políticas organicistas nas quais a sociedade precede o indivíduo, separação
entre Estado e sociedade, contrato social, Estado constitucional (poderes limitados), as
etapas históricas (teoria, segundo a qual, a história humana passava por quatro etapas:
nomadismo, pastoreio, agricultura e comercial), defesa da liberdade de expressão, da
propriedade privada, do livre mercado e a noção do comércio como promotor da
concórdia entre os povos e da civilização. Esta linguagem, que ainda não se reconhece
como liberal, é sensível ao discurso do humanismo cívico e não rejeita a importância
dos afetos e do bom senso, como se observa nos filósofos britânicos escoceses, Adam
Smith (1723-1790) e Adam Ferguson (1723-1816).
B) Liberalismo Conservador: Na segunda metade do século XIX, ganhou espaço um
liberalismo distintamente conservador, o qual, fiel ao individualismo e à liberdade de
consciência, era avesso ao pensamento revolucionário. O filósofo britânico irlandês,
Edmund Burke (1729-1797), um dos expoentes do conservadorismo moderno,
constituiu-se na maior expressão dessa geração. Burke, postulava o crescimento
orgânico das sociedades, ao invés das reformas violentas como ocorreu na França
(revolução francesa). São expoentes do liberalismo conservador na Inglaterra: Hebert
Spencer (1820-1903), Thomas Macaulay (1800-1859), John Dalberg-Acton, Barão de
Acton (1834-1902) e Walter Bagehot (1826-1877). Na França, René-Chateaubriand
(1768-1848), Charles François Marie, Conde de Rémusat (1797-1875) e Ernest Renan
(1823-1892). O liberalismo conservador compreendeu a maior parte dos liberais
alemães da época e impactou latinos como o italiano Benedetto Croce (1866-1952) e o
espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955).
C) Liberalismo Social: Os últimos anos do século XIX, testemunharam mais um desvio
do paradigma liberal, inaugurado por Thomas Hill Green (1836-1882), John Hobson
(1854-1940) e Leonard Hobhouse (1864-1929), que agrega à defesa dos direitos
individuais a ideia da igualdade de oportunidades. Nesse sentido, a ação pública se
daria no sentido de mitigar os excessos de pobreza e de desigualdade. Tendo no
economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) seu principal teórico, cuja
doutrina econômica ficou posteriormente conhecida como keynesianismo e o
Presidente Norte-americano Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) como principal
estadista. O liberal-socialismo, associado a expressões como Estado de Bem-estar
Social ou democracia social, ganharia força após a crise econômica global de 1929 e a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
D) Renascimento do Liberalismo: No fim do século XX, outra forma do liberalismo
conheceu vigor, alimentado pela estagnação da União Soviética e as crises do Estado
Keynesiano. Nesse sentido, tornaram-se mais conhecidas as ideias da Escola
Austríaca de Economia fundada por Carl Menger (1840-1921) e Ludwig von Mises
(1881-1973), as quais, na primeira metade do século XX, buscaram uma alternativa aos
paradigmas da economia clássica dos economistas David Ricardo (1772-1823) e Jean-
Baptiste Say (1767-1832). Ludwig von Mises, formulou uma doutrina político-
econômica, que resgatava os elementos do liberalismo clássico e adaptava-os à
realidade do capitalismo globalizado e altamente desenvolvido do século XX. A nova
realidade não cabia mais uma completa e total separação entre economia e Estado,
mas permitia ajustes que seriam necessários. Esses ajustes visavam, em geral, à
ampliação da iniciativa privada na oferta de serviços básicos e a supressão de
empresas e órgãos públicos, a fim de desinflar a máquina estatal. Na segunda metade
do século XX, a grande estrela do liberalismo econômico foi Milton Friedman (1912-
1996) e seus congêneres da Escola de Chicago, cujas ideias foram determinantes na
política econômica do Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan (1911-2004) e
da Primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher (1925-2013).
Obs: Neoliberalismo: Termo que, especialmente a partir do final dos anos 1980, tem
sido empregado, sobretudo numa perspectiva crítica, para descrever o ressurgimento
de ideias derivadas do liberalismo clássico, implementadas a partir do início dos anos
1970 e 1980. A expressão é comumente utilizada por contrários às políticas de
liberalização econômica como: privatizações, austeridade fiscal, desregulamentação,
livre comércio, corte de despesas governamentais, no intuito de reforçar o papel do
setor privado na economia.

06) Liberalismo no Brasil: As ideias liberais foram introduzidas no Brasil a partir da


ação de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, (1699-1782),
representante do despotismo esclarecido, foi Secretário de Estado do Reino, durante o
reinado de Dom José I (1750-1777). Brasil e Portugal, já representavam uma unidade,
uma única nacionalidade, um único Estado. Foi na Universidade de Coimbra onde o
pensamento liberal inglês será absorvido pelo Marquês e por membros da elite
brasileira que lá estudavam. Essa elite intelectual, que se formou em Coimbra foi crucial
para o processo de emancipação e independência do Brasil. As principais ideias estão
associadas ao desenvolvimento da ciência econômica e sua aplicação no território
nacional. Esse processo de estudo e absorção da ciência econômica liberal introduz o
liberalismo no Brasil. Outro caminho que fizeram as ideias chegarem na colônia foram
os viajantes estrangeiros que traziam panfletos, livros e outras publicações de cunho
liberal.

A) Período Colonial: A popularização das ideias liberais na Inglaterra e França no


século XIX, contribuíram enormemente para sua difusão no Brasil. O ideário liberal foi
responsável por difundir sentimento de revolta na elite colonial de Pernambuco. Em
1796, Manuel Arruda Câmara (1752-1810), fundou a Sociedade Secreta Areópago de
Itambé, primeira loja maçônica do Brasil, que difundiu ideias libertárias contra a
repressão colonial. Ainda durante o período colonial, o Brasil conheceu revoltas
inspiradas no modelo norte-americano e francês. Dentre essas revoltas, destacam-se a
Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798).
A transferência da corte portuguesa para o Brasil, iniciada em 29 de novembro
de 1807, tendo, o desembarque ocorrido em 22 de janeiro de 1808, em Salvador. Após
permanecer alguns dias em Salvador, a família real portuguesa partiu para o Rio de
Janeiro, lá chegando em 8 de março de 1808. Foi o episódio da história de Portugal e
do Brasil, em que a família real portuguesa, radicou-se no Brasil, tendo permanecido
em terras brasileiras até 26 de abril de 1821. O Brasil de Dom João VI, regente
português, foi um governo que sofisticou a política e o Estado brasileiro, tendo sido
inclusive, em 16 de dezembro de 1815, o Brasil elevado à condição de Reino Unido a
Portugal e Algarves, unindo em um só escudo as três armas de Portugal, Brasil e
Algarves, sendo mantida a mesma bandeira. Brasil permaneceu nessa condição até a
independência em 07 de setembro 1822. Em torno da sua corte as ideias liberais
ganharam mais importância. Figura de destaque nesse período foi o jornalista Hipólito
José da Costa (1774-1823), responsável por publicar o jornal Correio Braziliense. Suas
principais ideias eram: fomento à indústria; melhoria da agricultura; representação
brasileira nas Cortes Portuguesas (uma espécie de parlamento português); e a criação
de uma Constituição para o Brasil.
Fundamental para a consolidação das ideias liberais na economia brasileira foi o
economista, historiador, jurista e político, José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu
(1756-1835). Ele trouxe as ideias de Adam Smith (1723-1790) para a economia
brasileira, defendeu uma visão técnica e científica da economia, atuou na Abertura dos
Portos às Nações Amigas, na chegada da Corte Portuguesa e traduziu para o
português as obras do filosofo e jurista inglês Edmund Burke (1729-1797), reconhecido
no século XX como o fundador do conservadorismo moderno.
Outro importante pensador dessa época foi o filósofo e político português,
Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846). Em seu Manual do Cidadão no Governo
Representativo, defendeu um sistema representativo estabelecido em torno de
interesses. Em sua perspectiva, é preciso que haja interesses distintos representados
no poder. Além disso, inspirado no escritor e político franco-suíço, Henri-Benjamin
Constant de Rebecque, mais conhecido como Benjamin Constant (1767-1830), defende
que haja, na sociedade, o que denomina de poder conservador. O poder conservador
era um poder diluído nas instituições e nos outros poderes, que realizaria e promoveria
a fiscalização entre tais poderes, promovendo um controle da ordem social. No Brasil,
foi transformado em poder exercido pelo monarca, poder moderador, introduzido pela
constituição do império (1824).
B) Independência do Brasil: Destacam-se dois grandes nomes do liberalismo brasileiro
no período, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), naturalista, estadista e
poeta, declarado oficialmente Patrono da Independência do Brasil, em 11 de janeiro de
2018 (pelo papel decisivo no movimento de independência) e o jornalista, empresário e
político, Joaquim Gonçalves Ledo (1781-1847). José Bonifácio era notável abolicionista,
apresentava preocupações sociais e desejava conservar a unidade nacional. Gonçalves
Ledo era defensor do livre comércio, da liberdade alfandegária, apoiado nos
ensinamentos de Adam Smith.
Obs: O governo de Dom Pedro I, apesar de adotar o regime monárquico e instaurar o
poder moderador acima dos demais poderes, foi um dos mais liberais da época. Em
direitos individuais e avanço constitucional era um dos mais modernos, o que fez Dom
Pedro I ser reconhecido como uma referência do liberalismo. Não havia Constituição na
Europa que fosse mais liberal que a brasileira, outorgada em 24 de março de 1824.
C) Abolicionismo: No final do Segundo Reinado (Dom Pedro II), formou-se o movimento
abolicionista, um movimento liberal por excelência. O abolicionismo não era
exclusividade de liberais ou conservadores. Joaquim Nabuco (1849-1910), emérito
liberal abolicionista, afirmava isso com muita clareza. O presidente do Conselho de
Ministros que levou adiante a Lei Áurea (13/05/1888), que pôs fim a escravidão no
Brasil era João Alfredo Corrêa (1835-1919), conservador, rival político de Joaquim
Nabuco em Pernambuco. O que demonstra uma capacidade daquela elite política de
superar as diferenças locais para construir uma unidade em torno de um propósito tão
nobre quanto o que restaurou a dignidade das pessoas escravizadas.
D) Proclamação da República: Foi o resultado de um longo processo de crise da
monarquia no Brasil. O regime monárquico começou a entrar em decadência logo após
o fim da Guerra do Paraguai (1870), o que resultou da incapacidade da monarquia de
atender aos interesses e as demandas da sociedade brasileira. Uma série de novos
atores e novas ideias políticas surgiram e ganharam força por meio do movimento
republicano, estruturado oficialmente a partir de 1870, quando foi lançado o Manifesto
Republicano, documento que criticava a centralização do poder na monarquia e exigia
um modelo federalista no Brasil de inspiração norte-americana. O manifesto também
atribuía à monarquia a responsabilidade dos problemas do país e indicava a república
como a solução. Outra causa que reforçou muito o movimento republicano foi a defesa
da abolição. O abolicionismo mobilizou a sociedade brasileira na década de 1880 e
grande parte dos abolicionistas (liberais) também defendiam a república. Ao redor das
ideias republicanas, formou-se um grupo consistente, que liderado pelo Marechal
Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892), pôs fim a monarquia no Brasil em 15 de
novembro de 1889. O movimento contou com liberais convictos como Aristides Lobo
(1838-1896), Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891), Quintino Bocaiuva
(1836-1912), Ruy Barbosa (1849-1923), José do Patrocínio (1853-1905), dentre outros.
Obs: A Proclamação da República mudou radicalmente a história brasileira. Trocaram-
se os símbolos nacionais e novos heróis, como Joaquim José da Silva Xavier (1746-
1792), o Tiradentes, foram estabelecidos. Além da mudança da forma de governo, o
Brasil passou a ser um país com poder descentralizado, com a implantado do
federalismo, tornou-se um Estado laico, e o presidencialismo o sistema de governo. O
primeiro presidente do Brasil foi o Marechal Deodoro da Fonseca e a organização da
república tomou forma em 24 de fevereiro de 1891, quando foi promulgada uma nova
Constituição.

07) Libertarianismo: Filosofia política que tem a liberdade como principal valor e
objetivo político. Para os libertários, o objetivo da política deve ser maximizar a
autonomia e a liberdade de escolha, não sendo função do Estado promover a ordem ou
a igualdade. Os libertários tentam minimizar a legitimidade de qualquer instituição que
tenha algum poder coercitivo sobre as pessoas e limitem o julgamento individual. O
libertarianismo é como um liberalismo ultrarradical, mas que, diferentemente da
anarquia, ainda reconhece a necessidade da existência de um Estado para exercer um
mínimo de funções, como estabelecer e executar um conjunto mínimo de Leis, proteger
a vida e a propriedade. Exemplificando, os libertários aceitam a ideia de o Estado impor
regras de trânsito, mas não aceitam Leis impondo o uso de cintos de segurança ou de
capacetes. O libertarianismo acolhe bem a ideia da minarquia, ou seja, do Estado
mínimo.
Obs: O libertarianismo, assim como a anarquia, é uma ideologia que existe tanto na
direita quanto na esquerda. Por isso, o termo acaba sendo usado como uma expressão
guarda-chuva para inúmeras filosofias políticas. Os libertários da esquerda tentam
associar de diversas formas o socialismo com os ideais de liberdade e de abolição de
instituições autoritárias, enquanto os libertários de direita advogam o livre mercado e a
associação voluntária de indivíduos. O libertarianismo de direita, é o mais presente no
discurso político e aquele que tem mais seguidores, especialmente nos Estados
Unidos, onde se desenvolveu com bastante força no século XX.
A) Diferenças entre Liberalismo e Libertarianismo: A maioria dos liberais não tem
problemas com alguma intervenção do Estado na economia e nem defendem um livre
mercado em sua versão mais pura, além de não se opor ao Estado estabelecer um
nível considerado adequado de ordem. Para os liberais, a liberdade é um valor
necessário para atingir outros objetivos, enquanto que para os libertários a liberdade é
o objetivo em si.

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