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DPP II: [P1+P2]

Texto I: O Nascimento do Liberalismo Político – Olivier Nay.

I. Introdução
a. Conceitos Fundamentais (Hobbes)
 Libertas: Economia – Esfera Privada – Relações Naturais
 Potestas: Política – Esfera Pública – Domínio do Leviatã
 Religio: Religião – Esfera Espiritual – Igreja como símbolo.

Quanto maior o respeito à autonomia dessas três esferas, mais liberal é o Estado e mais próximo do “Estado de Direito” ele se
encontra. O ideal, então, é o diálogo entre as esferas, e não uma sobreposição de uma a outra, como ocorre nos totalitarismos:

- Totalitarismo Religioso (Teocracia): Princípios religiosos regem o Estado e dominam as outras esferas.
- Totalitarismo Político: A política rege o Estado e domina as outras esferas.
- Totalitarismo Econômico (Globalitarismo): A economia rege o Estado e domina as outras esferas.

b. Inovações Contratualistas*
 Economia: palavra do grego Oikos (casa) + nomos (regras) = regras da casa. Isso fundamenta a idéia liberalista
de que as relações econômicas são relações privadas, onde não se admite intervenção do Estado, a não ser
para proteger o contrato e a propriedade.
 Estado Laico Secular: No liberalismo, política e religião não se misturam.
 Direito à Propriedade: No liberalismo, o direito à propriedade é tão importante que ganha ares de Direito
Natural, essencial e inalienável. A Propriedade passa a ser o espaço onde se exerce a liberdade.
 Leviatã: a ele cabe apenas o direito público e a política.

*Contratualistas são os autores que defendem teorias sobre Contratos Sociais do povo para com o Estado.

II. O Liberalismo
a. História: Em oposição ao despotismo, o Liberalismo se fortalece entre os séculos VIII e XIX, influenciando áreas
diversas: Direito, Economia, Política, Moral, Sociedade. Assim, o liberalismo se ramificou, e hoje pode apresentar-se,
entre outras formas:
- Como Partido Político
- Como Ideologia: representando os ideais e interesses burgueses, a partir do século XVIII.
- Como Doutrina Política: o liberalismo político é muito próximo do constitucionalismo, que se inaugura no
século XVII, com a Revolução Gloriosa e a conseqüente Carta Magna Inglesa (Bill of Rights). Desta carta
ascendem os direitos fundamentais (o direito à propriedade, segurança, liberdade), além do dogma da
supremacia do parlamento nas decisões políticas.

b. Características Gerais
 Liberdade (=autonomia da vontade)*  Reformismo e Progressismo (idéia de
 Individuo (=sujeito oponível ao Estado)* aperfeiçoamento das instituições)
 Defesa da propriedade (=segurança)*  Questionamento dos fins do poder e suas
 Igualdade (formal) origens (contrato social)
 Racionalismo
*juntas, essas três características formam o tripé liberalista.

- Defende a primazia do indivíduo, por isso recusa todas as formas de controle exercidas pela coletividade sobre o ser humano
(nos campos político, econômico, religioso, etc.)
- O Governo liberalista ideal é aquele de soberania “limitada” ou “partilhada”, no qual existem mecanismos capazes de frear o
abuso de poder, de maneira a proteger o direito dos indivíduos.
- Para o liberal, a vida privada tem um valor superior às metas perseguidas pelo conjunto da sociedade, pois é em sua
propriedade que o ser humano constrói sua vida e realiza sua felicidade. Por isso, o Estado deve ter como fim a proteção da
vida privada, garantindo assim que o homem realize plenamente sua existência.
III. Liberalismo Político: 5 grandes princípios
1) Recusa ao Absolutismo: a concentração de poder nas mãos do Estado é território para despotismos que atingem a
liberdade do indivíduo.
2) Defesa da Liberdade: De início, esta “liberdade” está ligada à segurança do indivíduo, à propriedade do indivíduo, à
liberdade de consciência e de religião do indivíduo. Porém no século XVIII essa “liberdade” se refere aos “Direitos
Naturais” e na Revolução Francesa, aos “Direitos Civis”.
3) Pluralismo: O Estado deve ter uma estrutura institucional que dê espaço para diferentes ideologias se manifestarem
e terem voz política.
4) Soberania do povo: Essa idéia tem por objetivo contestar a tese do direito divino, uma das bases do Antigo Regime.
Para os liberais, a origem do poder do Estado não provém de Deus, mas do povo – é ele que legitima o Estado, e
por isso tem o direito de se revoltar contra o regime quando quiser. Porém, isso não significa que o povo, ignorante e
sem estudos, deva governar. A idéia de democracia só entra nos ideais liberais em meados do século XIX.
5) Governo Representativo: O povo possui soberania política, porém não é o povo em sua totalidade que a exerce. O
voto era no início censitário e excluía mulheres. O “povo” deve ser representado pelos delegados e pelo parlamento.

Obs.: Neste momento histórico, Direitos Naturais = Direitos Individuais = Direitos Fundamentais de 1ª Geração

IV. Liberalismo Ideológico (Wolkmer)


a. História: Paradoxo: de início era revolucionário, mas depois se mostrou conservador.
 Traços Revolucionários: Como ideologia, o liberalismo surge no século XVIII, como um conjunto de ideais e
interesses burgueses, traduzidos no lema iluminista “liberdade, igualdade e fraternidade”. Com esse trinômio, a
burguesia disseminou a idéia revolucionária de um Estado mais igualitário e menos opressor para todos –
contrapondo o Absolutismo. Esperançosa, a população menos favorecida então apoiou essa ideologia, e assim
burguesia pôde assumir o poder político.
 Traços Conservadores: Não demorou muito para a burguesia apresentar seu lado conservador no poder, pregando
seletividade aos aspectos do seu trinômio ideológico. Ficava cada vez mais claro, por exemplo, que para o Estado
Burguês Liberal Capitalista:
- A igualdade não significava uma igualdade plena, ou uma igualdade social/ material, mas sim igualdade perante
a lei/ igualdade formal. Apenas os iguais serão tratados igualmente.
- A liberdade em sua forma plena, somente o burguês podia desfrutar, pois segundo a lógica liberal, só ele é
independente, capaz de produzir seus próprios bens e se auto-sustentar. O operário não possui liberdade plena
e não pode exercer sua vontade própria de forma autônoma, porque depende economicamente de seu patrão,
situação que o submete a influencias políticas do mesmo. O indivíduo que vende sua força de trabalho acaba
por ser submisso, e por isso não tem o status de cidadão, não possui direitos políticos (como votar e ser votado).
 Sendo assim, as idéias liberais, na prática, não se mostraram tão revolucionárias. Não tinham como objetivo
favorecer os menos favorecidos, mas sim a própria classe burguesa. O Estado Liberal acabou conservando a
anterior estrutura de subjugação do povo a uma classe poderosa: antes a nobreza/ clero, agora a burguesia.
 O paradoxo ideológico é tanto, que estes Estados Liberais passaram inclusive, no século XX, a combater governos
socialistas (sejam democráticos ou autoritários), pois estes pregavam a ideologia de igualdade material, o que
afetaria o sistema capitalista burguês.

b. Núcleos do Liberalismo Ideológico – influenciaram muitas constituições ocidentais


 Núcleo Moral-Filosófico: Defende que não deve existir controle moral/ filosófico sobre o homem – partindo do
princípio que todos são naturalmente racionais, o suficiente para determinar e realizar o que é bom para eles
mesmos. Direito a ser feliz de acordo com suas próprias escolhas. Idéia de que a soma de todos os indivíduos
racionais daria uma sociedade racional.
 Filósofos contra este Racionalismo
- Nietzsche: o homem moderno se diz racional, mas é alienado, porque depende inteiramente da ciência.
Para o homem moderno, as coisas só são verdadeiras ou falsas quando comprovadas cientificamente. Ele
é fanático pela ciência tanto quanto o homem medieval era pela religião.
- Marx: o indivíduo em geral não raciocina por si só; ele é alienado, pensa de acordo com a ideologia
vigente. A ideologia vigente é burguesa e capitalista; e é tão forte, que age como uma lente, atingindo a
consciência das pessoas com idéias aparentemente inofensivas, mas que na verdade criam uma falsa
percepção da realidade (que ele chama de “infraestrutura” ou “base”). Assim, faz a população acreditar que
não é possível mudar o sistema, gerando apatia, conformismo e alienação.
- Freud: o homem é resultado da tensão entre seu instinto animal (viver, se reproduzir, sentir prazer, etc.) e
o seu superego (regras e limites que a sociedade impõe). Nesse sentido, o homem não é 100% racional,
pois não consegue controlar todos os seus sentimentos.

 Núcleo Econômico: Defende as liberdades econômicas gerais,como a propriedade privada, a livre iniciativa, a livre
concorrência, a liberdade de produzir, comprar e vender. 3 princípios de intervenção do Estado na Economia:
1) Estado Neutro: defende que a economia é auto-regulável e que não há necessidade de um Estado interventor
economicamente, nem mesmo quando há desigualdades sociais.
2) Estado de direito Limitado: não interfere na economia, apenas garante os direitos fundamentais do cidadão,
ou seja, o tripé liberalista de defesa da propriedade, da liberdade e do indivíduo oponível ao Estado.
3) Estado de Garantia ou de Subsidiariedade: o governo não regulamenta a economia, só intervém em casos de
crise, para garantir a estabilidade.

 Núcleo Político: Defende os direitos políticos – ex.: votar e ser votado. Nem sempre o liberalismo foi sinônimo de
democracia. No início, a maioria dos liberais defendia o voto censitário, o governo aristocrático, etc. Mas após o
século XX, o conceito de democracia passou a se confundir com o liberalismo em seu núcleo político. Seus
princípios básicos são o constitucionalismo político (império da lei; Estado de Direito; garantias fundamentais); a
soberania popular; e a teoria de separação dos poderes. Esta última, atrelada ao Federalismo, pôde garantir Estados
mais participativos e democráticos, formando a seguinte divisão:

Executivo Legislativo Judiciário


União Presidência Congresso Nacional Justiça Federal
Estados Governo Estadual Assembléia Legislativa Justiça Estadual
Municípios Prefeitura Câmara dos Vereadores

 Definição de “Direitos Fundamentais” de acordo com cada ideologia


 Para a ideologia Liberal, Direitos Fundamentais são apenas os Direitos Individuais. O indivíduo sujeito de
direitos é somente o burguês, proprietário, branco, capitalista, machista.
 Para a ideologia Social-Totalitária, Dir. Fundamentais são apenas os Direitos Sociais/ Coletivos.
 Para a ideologia Social-Democrata, Dir. Fund. São a combinação dos Dir. individuais com os coletivos.

V. Autores
a. John Locke (1632-1704)
 Considerado o pai do Individualismo Liberal, pois para ele, o Estado/ governo Civil deve ter como cerne os
direitos naturais inalienáveis do indivíduo (vida, liberdade, propriedade).
 Contribuição determinante para o pensamento Constitucionalista: suas teorias ajudaram na justificação moral,
política e ideológica para a Revolução Gloriosa. Influenciou ainda as teses de Voltaire e Montesquieu, que foram
pensadores-chave para as revoluções constitucionalistas Estadunidense e Francesa.
 Empirismo: Locke é considerado o fundador do empirismo no campo da teoria do conhecimento. Isso porque ele
entendia que o conhecimento sobre o mundo é adquirido através das experiências. Com isso, ele pôs em cheque a
doutrina Platônica do inatismo, defendida por Descartes, na qual diz que a verdade de todas as coisas está dentro
do ser humano; ou seja, que a verdade é universal, imutável e inata ao homem. Nessa lógica, uma criança, por
exemplo, sem ser ensinada, conseguiria distinguir o que é diferente ou semelhante a ela.

 “Tratado do Governo Civil” (1689) obra da teoria política de Locke, dividida em dois livros:
1º livro: Locke contesta o direito divino dos reis, defendido pela obra O Patriarca, de Robert Filmer.
2º livro: Locke contesta a idéia de contrato social formulada por Hobbes e funda na crítica sua própria teoria.
- Contrato Social de Hobbes: defendia que os direitos naturais do homem devem ficar em poder do Leviatã,
porque só o Leviatã, utilizando a força, frearia o estado de Natureza do homem – que para Hobbes é o
conflito/ egoísmo. Além disso, Hobbes não acredita que exista propriedade no estado de natureza.
- Contrato Social de Locke: O poder político não deve se consolidar somente na força, mas no consentimento
do cidadão. Ao concordar com o Contrato Social, o povo não deve abandonar seus Direitos Naturais ao
Estado (ex: direito de propriedade e direito à liberdade). Pelo contrário: o Estado existe para garantir esses
direitos. Isso porque os Direitos Naturais são anteriores ao Estado; eles provém do estado de Natureza do
indivíduo. Para Locke, o estado de Natureza do homem é um estado de harmonia: “todos nós somos
indivíduos racionais, por isso vivemos num mundo racional e bom”, num mundo em que os seres humanos
vivem em igualdade e solidariedade.

 Racionalismo: Locke utiliza-se do mesmo para deduzir, a partir da Lei Natural, uma série de conteúdos, como a
Teoria da Propriedade. Essa teoria parte do princípio de que a propriedade é um bem Natural, dado por Deus ao
homem. Seu método dedutivo:
- O corpo faz parte do Direito Natural, pois é a primeira propriedade que Deus oferece ao ser humano – então
o Estado não pode intervir em sua liberdade corporal, no seu direito de ir e vir.
- Se o indivíduo trabalha com o corpo, então o trabalho também é um Direito Natural.
- Por fim, se como fruto do trabalho o indivíduo adquire uma propriedade (como um terreno), essa
propriedade é também um Direito Natural.
- Locke é contra o surgimento da moeda, pois para ele, o ser humano não pode ter nenhuma propriedade ou
acumular nenhuma riqueza que não seja fruto do trabalho de seu próprio corpo.
“O grande fim que se propõem aqueles que entram numa sociedade é gozar de suas propriedades em
segurança e em repouso.” A propriedade, para Locke, envolve a garantia dos bens de forma geral, e toda a
complexidade do Direito Natural.

 Passagem do estado de Natureza para o Estado (instituição política): Locke diz que isso ocorre em 2 etapas.
1º Pacto (Formação da Sociedade Civil): indivíduos saem de seu estado de natureza, renunciam parte de sua
liberdade de forma unânime e associam-se.
2º Pacto (Formação do Governo): a Sociedade Civil delega sua soberania para um Governo que seja capaz de
sancionar as violações às leis naturais e mediar conflitos sociais. Neste segundo pacto não é necessária a
unanimidade, como acontece no primeiro pacto. Isto porque, para a escolha de um tipo específico de Estado, basta
que a maioria se posicione a favor. Mas, ainda que o princípio da maioria seja priorizado, os direitos das minorias
ainda serão respeitados, para que não ocorra a chamada “ditadura da maioria”.

 Locke é pioneiro nessa distinção entre Estado/ Governo (lugar da vida política/ aparelho burocrático) e Sociedade
Civil (lugar da vida social e privada).

 3 Princípios Liberalistas originados em Locke


1) Existência de Direitos Naturais inalienáveis (ex.: liberdade e propriedade), os quais o Estado não pode
confiscar do homem e também o homem não pode ceder a ninguém, pois são direitos natos/ intransferíveis.
2) O governo tem poderes limitados pelos fins que lhe são atribuídos; o Estado possui limites de poder.
3) A delegação da soberania do povo ao governo civil é provisória (e não definitiva, como afirma Hobbes). Isto
quer dizer que o povo tem direito de resistência: a sociedade pode se voltar contra o Estado que ela mesma
ergueu, caso ele descumpra com sua finalidade de garantia dos Direitos Naturais.

 Doutrina de respeito à lei: Locke diz que somente quando há respeito à lei (pelo povo e pelos legisladores) é
possível que o Estado cumpra com seus objetivos de proteção aos Direitos Naturais. O Estado está subordinado
à Lei Fundamental. Nessa teoria se inspirou o constitucionalismo para formar suas bases.

 Separação dos poderes: É um dos artifícios de Locke para frear o despotismo. Ele divide o poder em três
entidades: legislativo (criar leis), executivo (garantir a execução das leis) e federativo (efetuar a diplomacia
internacional). Porém esses poderes não são horizontais: o poder legislativo em Locke é o poder superior, que
subordina os outros dois. O princípio da maioria é utilizado para a escolha dos legisladores.

 Pode-se dizer que Locke tinha preferência por um regime parlamentar representativo. O parlamento seria um
corpo intermediário ente o Estado e a Sociedade Civil.

 Origem do Estado Liberal de Locke

- Indivíduo
Direitos - Lei Fundamental (Constituição) Estado
- Propriedade
Naturais* - Separação dos Poderes Liberal
- Liberdade

b. Fénelon (1651-1715)
 “As aventuras de Telêmaco” (1699): obra de ficção do autor, na qual ele critica o despotismo/ absolutismo.
Diz que “a onipotência de um Rei leva a impotência”: um rei concentrador de poderes pode tomar muitas
decisões impopulares, e isso pode incitar uma grande revolta popular e levar a uma anarquia.
 Monarquia limitada: o autor é oposto a idéias extremistas de governo, como a tirania ou a anarquia popular.
Seu governo ideal é uma monarquia “prudente”, com mecanismos que limitem o poder do príncipe, como leis
fundamentais e a separação de poderes (“sabedoria aristocrática”).
 Papel estabilizador da Tradição: o autor acreditava que, para controlar que príncipe não cometa excessos, é
necessário submeter a política aos princípios da moral e tradição. E para ele não há nenhuma classe melhor que
a sábia aristocracia para fazer este controle.
 Não reconhece a soberania do povo: Fénelon fazia parte da nobreza, e acreditava que os populares não
tinham conhecimento suficiente para ajudar a reger o governo – se o fizessem, semeariam a desordem.
 Humanismo: tal qual Locke, o autor acredita que o governo deve ter como finalidade o bem comum e ser útil a
todos. Além disso, deve sempre proteger os direitos da aristocracia, tendo em vista a importância dessa classe
para o governo idealizado.
 Não é um liberal clássico/ típico, mas defende o liberalismo aristocrático, assim como o Montesquieu.
c. Montesquieu (1689-1755)
 “O Espírito das Leis” (1748): sua obra analisa as motivações das Leis, seus fundamentos e estruturas. As
variações das leis em cada lugar segundo clima, tradições, comércio, classes, etc. Estuda ainda o
funcionamento dos regimes políticos sob a ótica liberal e jusnaturalista, buscando defender um tipo de governo
moderado e estável (monarquia limitada).
 Concepção de Liberdade:
- Montesquieu defende a liberdade de forma diversa dos liberalistas ingleses. A liberdade defendida pelo
autor não tem moldes individualistas como em Locke. Locke defende que a liberdade consiste nos direitos
individuais como a propriedade, onde Estado não deve intervir.
- Montesquieu considera o contrário: que é justamente o Estado o instituidor das liberdades – “somos livres,
porque vivemos sobre as leis civis”. A obediência a lei não é uma renuncia a liberdade, pelo contrário: é
porque a lei protege o cidadão que ele pode ser livre.
- Mais que isso, para o autor, a liberdade não se traduz no direito de participar da vida cívica. A liberdade de
Montesquieu é uma liberdade “negativa”: visa apenas proteger o cidadão contra os abusos de poder; não
visa envolvê-lo na cidade. A liberdade não consiste em fazer o que se quer, mas fazer o que as leis
permitem e ter a segurança de não sofrer abusos de poder.
 Concepção de Lei: Para Hobbes, a lei existe em essência formal e arbitrária. Já Montesquieu adota uma
postura jusnaturalista racionalista: para ele, as leis existem devido a uma causa que pode ser extraída
racionalmente da natureza e da observação da realidade social. Ele analisa os pontos comuns das diferentes
formas de leis e organização social, e estabelece-os como traços de uma lei natural fundamental.
 Conceito de Lei: Leis “são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas”
 Manutenção de Poder: assim como Maquiavel, Montesquieu defende que o homem não é virtuoso em seu
estado de natureza, por isso a estabilidade do governo e o respeito à Lei só é possível se houver uma divisão de
poderes e equilíbrio de forças na sociedade. Nesse sentido, ele se aproxima da monarquia constitucional, pois
considera o poder legislativo essencial para evitar o despotismo.
 O autor não se preocupa em analisar a origem do poder do Estado (Contrato social, Direito Divino...)

 Classificação dos Regimes

Tipo de
República Monarquia Despotismo
Governo
Chefia do Governo do povo ou
Governo de um só
Governo governo de uma minoria
A lei é desprezada
A lei é respeitada, mas A Lei é respeitada pela chefia
Natureza pela chefia; o governo
está sujeita a e existem instituições para
do Governo se pauta na vontade
transgressões. regular e dividir o poder
de um só.
Medo – é o que o
Princípio Virtude – princípio fraco, Honra – é o que guia a
chefe se utiliza para
do Governo* que pode não se manter. sociedade.
governar.
Corpos intermediários Esmagamento dos
Conseqüência Há grandes riscos de
possuem papel moderador e poderes
do Governo revoltas populares.
de equilíbrio social. intermediários.
* sentimento político que move o governante.

 Duplo objetivo da Constituição – a constituição, segundo Montesquieu, deve:


1) Garantir a estabilidade e a aplicação efetiva das leis.
2) Proibir toda a concentração da potência de comando, com a teoria da separação dos poderes:
- Legislativo: poder dividido em duas câmaras, uma representada pela nobreza e outra pelo povo
(equilíbrio para impedir leis tirânicas). O parlamento é quem transforma a lei natural em lei positivada, e
ele é independente e quase totalmente onipotente em relação aos outros poderes. Quase, porque, para
evitar abusos do parlamento, o autor concorda em manter os corpos intermediários de conselheiros do
rei. Obs.: A idéia dele é fazer um governo que limite o poder do Rei, mas não um governo popular ou
uma democracia plena. O poder representativo se isola da massa do povo, pois o parlamento segue
modelos excludentes, censitários, capacitares e sexistas.
- Executivo: poder que cuida da execução das leis.
- Judiciário: poder considerado “a boca que pronuncia a lei”, pois só tem o direito de aplicar a lei, sem
alterar sua força ou sentido. (império da lei)

 Sua filosofia busca servir os interesses da nobreza, defender a aristocracia, comprimida entre a monarquia
autoritária e as camadas burguesas.
 Inspira-se na monarquia parlamentar inglesa: expressa um projeto fundado na prudência política e elitismo
social, com certa hostilidade em relação à democracia. Isso porque entendia a democracia como a tirania do
povo, uma forma ilimitada de poder que poderia levar à anarquia.
 A partir da obra de Montesquieu, considera-se que surge o Estado Democrático de Direito.
 Alguns o consideram também inventor do princípio da separação de poderes, mas alguns afirmam que foi o
Aristóteles. De qualquer forma, Montesquieu foi pioneiro no quesito de separar os poderes pelas funções
exercidas, e não pelas classes sociais vigentes, como os autores anteriores. Ele contribuiu para difusão dessa
idéia, o que foi importante para a construção do constitucionalismo. Isso porque, dentro do Constitucionalismo, a
organização do Estado é um elemento essencial para realização dois direitos fundamentais

 3 Aspectos da nova Representação Política da Modernidade:


1) Poder unificado, com governo centralizado e unitário. “Estado-nação”, em que o povo é corpo político.
2) Enfraquecimento das referências religiosas e busca de uma reflexão mais pragmática sobre a organização do poder
3) Indivíduo se firma como sujeito filosófico e sujeito de direito (cidadão).

 Breve História pós-liberalismo: após uma crise liberalista-capitalista culminada em 1929, gerando muita miséria, surge
uma seqüência de totalitarismos. Depois Segunda Guerra Mundial, essas ditaduras caem e reascendem os Estados
Democráticos, com a idéia de direitos fundamentais. Neste momento, há também um resgate do liberalismo: não o
clássico, mas o liberalismo com uma frente Keynesiana, em que há busca de intervenção do Estado para garantia de
direitos sociais. Após isso, se consolida o Estado Social Democrático; inspiração para nossa constituição de 1988.

Texto II: Contributo para uma Teoria de Estado de Direito – Jorge Reis Novais.

Capítulo 1: Introdução

I. O Conceito de “Estado de Direito”


a. Uso mítico da expressão
 A idéia de Estado de Direito tem sido usada ao longo da história como instrumento retórico de legitimação de
diferentes ideologias políticas. Em nome desta expressão, se constituem desde Estados extremamente liberais a
ditaduras severas. É um coringa retórico, pronto para defender qualquer regime.

 Sofrem manipulações de significados também palavras como liberdade, democracia e legalidade. Em nome da
liberdade de uns pode-se construir um governo autoritário para outros. Em nome da democracia podem se
construir Ditaduras da Maioria (um paradoxo, pois um princípio democrático fundamental é justamente a defesa
do direito das minorias). Com base na legalidade podem se construir totalitarismos (basta que um presidente
eleito passe a governar só por decretos-lei).

b. Sentido real do termo


 Para o autor, o Estado de Direito tem como elementos centrais os direitos fundamentais. Independentemente da
política ou forma de governo, o Estado de Direito exige a proteção desses direitos como ponto de partida e de
chegada. E para que esses direitos sejam respeitados e promovidos pelo Estado, os titulares de poder devem
ter limitações jurídicas de atuação.

“O Estado de Direito será, então, o Estado vinculado e limitado juridicamente para que haja proteção, garantia e
realização efetiva dos direitos fundamentais. Esses direitos surgem como indisponíveis perante os detentores de
1 2
poder e perante o próprio Estado .”

1
Quer dizer que os direitos fundamentais não estão disponíveis para discussão na pauta política ordinária. Não
podem ser modificados. São cláusulas pétreas de uma democracia constitucionalmente adequada.
2
Quer dizer que os direitos fundamentais também não pode ser violados em nome de uma política estatal
específica. Não se podem violar os direitos subjetivos em nome do Estado ou de deliberações coletivas.

 Logo, o Estado de Direito só se forma na conjunção do elemento formal (limitação da atuação do Estado pela
lei) com o elemento material (defesa de direitos fundamentais, inerentes ao indivíduo em si).

Capítulo 2: As Origens do Estado de Direito

I. Formas de Estado na História – e análise de suas compatibilidades com a ideia de “Estado de Direito” do autor.
a. Estado Grego
 Elementos formais: compatíveis. O „„império da lei” (reino do razão) era a característica fundamental da Pólis
Grega, contrapondo-se ao "domínio dos homens" (reino do arbítrio). O Estado apenas poderia agir em
conformidade a uma regra geral, racional, formulada por todos os cidadãos. Platão e Aristóteles: consideravam
que as leis, por serem construídas pela razão, deveriam estar acima dos governantes – porque os governantes,
assim como qualquer ser humano, têm ações dominadas pela paixão/ impulso animal, e tendem a tomar
decisões políticas segundo seus caprichos. A sujeição deles a Lei, então, evitaria um governo tirânico.
 Elementos materiais: incompatíveis. Embora preenchesse os requisitos formais, a Pólis grega não tinha
requisitos materiais compatíveis com a idéia de “Estado de Direito” do autor. Motivos:
1) Havia escravos nessa sociedade. Nem todo ser humano era livre e nem todos eram considerados
cidadãos. Não existia a ideia de direitos indisponíveis.
2) Faltava a ideia do indivíduo como uma esfera juridicamente autônoma, independente do Estado. Isso
porque era vigente a “liberdade dos antigos”: o cidadão era soberano habitualmente nas decisões
púbicas, porém escravo de suas deliberações na vida privada. Quer dizer que todos os considerados
cidadãos tinham liberdade de votar nas assembléias; porém, se algo fosse deliberado, o cidadão não
poderia se opor a essas decisões, deveria agir de acordo com elas, sob qualquer circunstância.
Juridicamente falando, o cidadão não era livre e independente do Estado como hoje somos: se nós nos
sentimos afetados de alguma forma pelo Estado, podemos entrar com uma ação contra ele. Aqui, não.

b. Idade Média
 Elementos formais: incompatíveis
- Não havia limitação da atuação do Estado pela Lei. O Estado, como instituição pública, não existia – a
instituição privada era soberana, representada pelos feudos, formando uma rede de vínculos suserano-
vassálicos e profunda descentralização política de poder. A Idéia de “Império” da Antiguidade é substituída
pela idéia de “Domínio”. O Domínio então adquire caráter patrimonial, na medida em que cada senhor
feudal era soberano em seu próprio território. E, como soberano, não era limitado por nenhuma lei.
- Uma limitação que poderia afetar o Príncipe não seria de natureza jurídica, mas sim ética/ religiosa/ social.
 Elementos materiais: incompatíveis
- Não havia a ideia de uma esfera independente de direitos fundamentais inerentes ao indivíduo.
- Havia uma rede difusa de relações jurídicas, baseadas em privilégios de classes. O conceito de liberdade,
por exemplo, era aplicável apenas a determinadas posições ocupadas na hierarquia feudal.
- Cartas de Franquia/ Forais Ibéricos: Pactos entre suseranos e aristocratas feudais, que limitavam a atuação
do príncipe e promoviam a aquisição de direitos pelas partes. Eram espécies de direitos fundamentais
individualizados, contratualizados e hereditários. Estes documentos podem ser considerados embriões das
declarações de direitos; raízes da concepção moderna de direitos fundamentais. Ainda assim, são
insuficientes para se sustentar a ideia de um Estado de Direito na Idade Média.

c. Absolutismo
 Segundo o autor, existem duas fases do Estado Absolutista:
1) Fase Patrimonial: a simples soberania pelo domínio territorial já justificava o absolutismo em uma região.
Apenas viver sobre a terra de um príncipe já significava submeter-se a ele.
2) Fase de Polícia: Com o Renascimento e Mercantilismo, aumentou-se a necessidade de concentração de
poder nas mãos de um único Rei, governante da nação. Ainda, por influências iluministas, o absolutismo
passou a se basear no conceito de Estado de Polícia, no qual o Príncipe teria o dever de promover o bem-
estar geral/ interesse coletivo. E para isso, utilizaria seu direito supremo (jus eminens), ou seja, o poder de
intervir sem limites em todas as esferas/ domínios; inclusive nos direitos individuais adquiridos, que antes
eram uma defesa dos particulares em detrimento do poder soberano. Agora, a vontade arbitrária do Príncipe
(“primeiro servidor do Estado”) se sobrepõe a qualquer norma.
- Teoria do Fisco*: no Estado de polícia, também o soberano dita a própria constituição; e caso alguma
de suas ações violem as leis, o soberano não será responsabilizado diretamente pelo erro. O Direito
Comum não se aplica ao Rei. O Rei não comete erros – se houve erro, foi por parte de quem executou
ou aconselhou suas políticas. Por isso, quem será punido? Seu corpo burocrático de funcionários
(ministros, assessores) chamado “Fisco”. O Fisco era também um desdobramento do Estado, um ente
com personalidade jurídica, capaz de relações com particulares, buscando proteção dos bens privados.

* na França, chamava-se “Teoria do Fisco”, mas na Inglaterra, se chamava “Princípio de Black Stone”.

Obs.: em nenhuma das 2 fases acima o absolutismo constituiu um Estado de Direito.

d. Estado Liberal
 O desenvolvimento das grandes navegações cria uma nova classe, que cada vez mais cresce e enriquece. Essa
classe, a burguesia, se sente cada vez mais acuada e insegura diante de um Estado imprevisível, que
frequentemente quebra contratos, em nome da vontade do Rei. Essa quebra afetava o custo jurídico dos
produtos comercializados, e gerava prejuízos imprevisíveis aos burgueses.
 No século XVIII, com as Revoluções Liberais, a burguesia começa a lutar pela previsibilidade e controle das
ações do Estado, racionalizando-o, tendo o liberalismo como base. Daí surge efetivamente, na História, o que
chamamos de Estado de Direito e seus elementos formais e informais:
 Elementos Formais
- Teoria da Personalização Jurídica do Estado: revelou-se como o ataque mais relevante contra a o
absolutismo. O Monarca, que antes se identificava como sendo o próprio Estado, passa apenas a ser
um componente da pessoa jurídica-Estado.
- Constitucionalismo: a separação de poderes para limitação da soberania do governante; o dogma
de supremacia da lei, o princípio da legalidade, entre outros não só constituíam elementos formais do
Estado do Direito, como beneficiavam o comércio, pois a economia não mais estaria à mercê das
vontades de um único homem – racionalização da administração do governo, com base nos
interesses sociais.
 Elementos Materiais: Ainda com o objetivo de defesa de seus bens e autonomia / auto-regulação da
própria vida econômica, a burguesia inaugura também o conceito de garantias individuais de direitos – a
1ª geração de direitos, baseada em Locke (“indivíduo, propriedade, liberdade e autonomia da vontade”).
Direitos que de nenhuma forma poderiam ser invadidos pelo governo; direitos subjetivos, que precedem o
Estado, a organização política e até mesmo o direito objetivo.

“Estado de Direito” é a racionalização do Estado, operada mediante uma limitação jurídica dirigida à eliminação
do arbítrio e à proteção de uma esfera indisponível à autonomia individual.

II. Primeiros Estados de Direito Liberais – no século XIX, o conceito ganha força em diferentes países.
a. Alemanha: “Rechtsstaat”
 Nesta época, havia grande profusão teórica sobre o Estado de Direito, muitos doutrinadores alemães defendiam
sua instauração, numa Alemanha que se encontrava com traços ainda feudais. A estrutura agrária e atraso
econômico formavam uma burguesia heterogênea e sem força suficiente para impor seu projeto liberal sozinha.
 Sendo assim, o Estado o fez por si só. A esta atitude se nomeia “ideologia de outorga” – quando a conquista
dos direitos individuais ocorre através próprio Estado – que “solidariamente” outorga esses direitos à sociedade.
Quando na verdade, o caminho comum à conquista desses direitos é feito através das lutas e reivindicações
populares. Obs.: um exemplo de ideologia de outorga no Brasil foi quando Getúlio instaurou a consolidação das
leis trabalhistas, sem qualquer pressão popular para tal.
 Sem interferência popular, a Alemanha constrói então seu próprio Estado de Direito, a partir de suas próprias
estruturas e a moldes antiliberais, reduzindo o Estado de Direito apenas ao princípio da legalidade. Dessa forma,
o Estado não está subordinado aos direitos fundamentais, somente cumpre os mesmos porque escolheu
cumprir. Virou um Estado de legalidade simples: leis têm de ser cumpridas, mas podem ter qualquer conteúdo.
 Embora tenha traços de Estado de Direito formais, ou seja, aceite concretizar os direitos fundamentais através
de mecanismos internos de separação de poderes, esse governo alemão promove uma harmonização entre
Estado de Direito e Estado de Polícia, instaurando um Estado autolimitado, em que não existem mecanismos
eficientes para frear os excessos de poder. Isso porque não há compromisso com nenhum conteúdo formal. As
leis não são criadas com base em princípios constitucionais, são simplesmente leis que sevem ser cumpridas.

b. França: “État Constitutionnel”


 Na França, os burgueses conseguem vitória plena para instaurar seu regime liberal. Fizeram uma “fratura
epocal”: romperam com toda a antiga construção histórica antiga de direitos franceses, instaurando seu próprio
modelo de Estado de Direito liberal e impondo seus próprios direitos fundamentais – inspirando-se em autores
Contratualistas e Iluministas como Voltaire, Rousseau, Montesquieu.
 A Declaração dos Direitos do Homem teve grande importância histórica para supremacia constitucional.
 Da mesma forma que o alemão, o Estado Francês acaba rumando para um estado de pura legalidade. 10 anos
após a Revolução, a França retorna ao Absolutismo. Isso porque não havia mecanismos fortes de controle de
constitucionalidade – o parlamento aprovava as leis que quisesse. Havia ainda aumento dos poderes políticos
em detrimento dos jurídicos, porque os franceses não gostavam do poder judiciário, tomado pela nobreza. Isso
acaba prejudicando todo o processo democrático.

c. Inglaterra “Rule of Law”


 Também na Inglaterra os burgueses saem vitoriosos, porém seguiram um modelo costumeiro construtivista,
diferente do modelo francês que foi de ruptura e instabilidade. Sem negar as tradições do passado, os ingleses
foram fazendo com que os Direitos Fundamentais de seu país evoluíssem e se consolidassem ao passar dos
anos. Fatos marcantes:
- Magna Carta: embora consagrasse direitos estamentais, fornecia já aberturas para a transformação dos
direitos corporativos em direitos do homem, o que foi sendo consolidado posteriormente através da
generalização e individualização desses direitos.
- Revolução Gloriosa: ocorrida no século XVII, traz consigo a Bill of Rights (carta de direitos). É o marco
para reconhecimento dos direitos dos homens - não direitos como “privilégios pactuados”, mas como
liberdades naturais oponíveis ao Estado - inclusive ao Parlamento (muito forte na Inglaterra).
Capítulo 3: A Adjetivação Liberal do Estado de Direito

I. Autores & Premissas Fundamentais do Estado de Direito Liberal:


a. Adam Smith – Separação Estado-Economia: defesa da livre iniciativa e livre concorrência – governo deve deixar a
vida econômica nas mãos de um mercado “naturalmente autorregulável”.
 Estado neutro: não intervém em relações sociais.
 Estado de Direito ligado aos princípios liberais.
 Deveres principais do Estado: proteção de território; administração da justiça.
 Ambigüidade: o liberalismo prega um estado não interventor, mas admite intervenções de dois tipos:
1) Estado subsidiário/ de garantia/ de segurança: intervém na economia quando há quebra competitiva.
2) Intervenção consentida: Estado pode criar e manter obras, desde que estas não sejam rentáveis nem
atraiam o interesse financeiro privado.
 Mais que uma ambigüidade, essa postura burguesa pode ser considerada hipócrita, pois somente quando há
qualquer perigo dos interesses burgueses, eles permitem a utilização do aparelho repressivo do Estado.

b. Kant – Separação Estado-Moral: defesa da liberdade de consciência – Direito não se envolve em questões morais.

- Imperativo Categórico: lei moral, cuja - Imperativo Hipotético: lei externa, cuja
obediência não está condicionada à obediência está condicionada à finalidade.
finalidade. (você não mente porque sabe (você não mente porque pode sofrer
que pode sofrer sanções sociais)
sanções jurídicas)

- Campo da Moral (lugar da intenção, X - Campo do Direito (ação material,


componente interno da ação humana) componente externo da vontade humana).

- Razão Sensível (compreensão individual - Razão Transcendental (conjunto de


e sensível do mundo)
princípios lógicos)

 O Estado não deve dizer o que é eticamente correto, deve deixar para que o sujeito racional e individualmente
resolva esse problema. A sociedade civil é pensada como uma sociedade individualizada, atomizada: se todos
os homens agissem com a razão, o resultado seria uma sociedade racional.
 Kant defende que o Estado exista em sua forma mínima, e utilize da coação para limitação do arbítrio (=
imperativo categórico) – pois por mais que os homens sejam racionais, alguns deixam-se levar pelo instinto.
 Kant defende o Estado Jurídico, na medida em que esse Estado encontra no Direito a base para se alcançar seu
principal objetivo: manter a coexistência dos arbítrios em paz. O Estado de Kant é extremamente racional, ao
passo que o indivíduo é o limitador do Estado, e a produção jurídica não deve invadir sua esfera privada ou seus
direitos jusnaturais.
 A liberdade só se aplica ao cidadão burguês. O trabalhador, por depender do arbítrio de seu patrão, não pode
reivindicar esse direito. A esfera material do Estado de Direito de Kant, então, é falha.

c. Humboldt – Separação Estado-Sociedade: não intervenção do Estado na vida privada. O Estado deve apenas
garantir a segurança dos indivíduos e suas propriedades.
 Autor é a junção do elemento econômico de Adam Smith e do elemento individual de Kant.
 O Estado não deve buscar o bem comum, mas se limitar a garantir a expansão das liberdades individuais.
 Crítica ao Estado de Bem Estar Social: quanto mais o Estado buscar corrigir as imperfeições na sociedade, mais
se multiplicam essas imperfeições, porque elas são incorporadas pelo corpo administrativo. Além disso, o ser
humano nunca está satisfeito, e ao conquistar um direito, quererá outro. E isso:
- Exige um agigantamento das funções estatais, o que, a um longo prazo, gera um declínio da capacidade
do Estado de resolver problemas. Demandas crescentes geram gastos crescentes, o que faz aumentar
impostos, e consequentemente, diminui a produção, diminuindo dinheiro para impostos. Assim, o Estado
deve produzir o mínimo de leis possíveis, apenas para garantir a segurança interna e externa.
- Déficit moral: Por exemplo, as pessoas quando recebem muito benefícios deixam de trabalhar. Ex.:
Dinamarca tem um seguro desemprego muito bom, as pessoas lá tem um déficit moral porque se
acomodam a isso e não querem mais trabalhar.
 Sendo assim, o autor é contra a intervenção positiva do Estado (em que o Estado oferece os benefícios), e
defende o direito de não intervenção, chamado de intervenção negativa. Para ele, apenas intervenções
mínimas Estatais devem existir, pois próprio mercado cumpre o papel de promover esses bens à população.
 Pode-se considerar este modelo um Estado de Direito na medida em que tem como tarefa do Direito delimitar e
assegurar a esfera da liberdade (autonomia da vontade) e propriedade individual; e a grande função do Estado é
promover e proteger o ordenamento jurídico, sem desrespeitar a legalidade.
II. Grandes Elementos do Estado de Direito Liberal: Separação dos poderes; teoria dos direitos subjetivos públicos;
segurança da propriedade ; império da Lei; princípio da legalidade; proteção da iniciativa privada ; intervenção
negativa do Estado; direitos fundamentais acima do governo. Todos esses elementos foram sendo consolidados em
meio às necessidades burguesas, para se opor frente à monarquia/ nobreza - e mais do que isso, permitir atender
seus anseios por previsibilidade e calculabilidade das ações estatais.

a. Direitos Fundamentais
 As Declarações de Direitos não concediam*** os Direitos Fundamentais ao cidadão; mas sim reconheciam
esses direitos, pois agora são encarados como direitos naturais e inatos ao homem.
 Os Direitos Fundamentais com o papel de limitar a atuação do Estado só surgem com o princípio de supremacia
constitucional, em 1776 (Constituição Americana). A partir daí, todos os direitos fundamentais passaram a ser
anteriores e superiores ao Estado. O Estado só poderia interferir nesses direitos de acordo com procedimentos
pré-estabelecidos (devido processo legal). É a vitória da sociedade sobre o Estado e do Direito sobre o arbítrio.
 Diferenciação
- Magna Carta/ Bill Of Rights: reconhecia os direitos fundamentais e buscava proteger o indivíduo; porém
quem limitava os poderes do Estado não eram os direitos fundamentais, mas o Parlamento (soberano).
- Constituição Americana (1776) e Declaração Francesa dos Direitos do Homem (1789): Somente aqui
esses direitos naturais e inatos limitam a atuação do Estado como um todo.
 Os Direitos Fundamentais são interpretados e manipulados à luz dos interesses burgueses; por isso esses
direitos só eram soberanos enquanto permanecessem na órbita individual. O uso político e coletivo desses
direitos levava à repressão estatal. Isso quer dizer que, quando esses direitos são realizados por vários
indivíduos ao mesmo tempo, reivindicando uma causa social que vai contra os interesses de um Estado
burguês, esses direitos individuais passam a ser encarados como violações. É a lógica burguesa da prioridade
do indivíduo perante o coletivo

b. Separação dos Poderes


 Mecanismo institucional de organização interna. Atua como um sistema de distribuição e limitação do poder
estatal. Permite racionalizar as ações do Estado, dando controle e previsibilidade às mesmas. Além de garantir a
observância das liberdades individuais. Ex.: sistema de freios e contrapesos.
 No Estado Liberal, a Separação dos poderes não reflete um equilíbrio de poder como hoje acontece. Aqui, o
poder pende mais para o corpo legislativo, que é soberano; e esse parlamento não reflete a neutralidade de
propostas, pois tendem a defender interesses estritamente burgueses.
 Existem dois princípios fundamentais que cerceiam a Separação dos Poderes:
1) Império da Lei: A soberania de um povo de traduz em duas faces: a lei (face jurídica) e a vontade geral
(face política). No império da lei, ocorre a supremacia da lei sobre a política ordinária. Existe uma Lei
fundamental que coordena e limita o Estado. Juiz é a boca da lei.
2) Legalidade: obrigatoriedade das instituições agirem somente aonde a lei prevê; devem agir de acordo com
uma regulamentação. É a submissão da administração ao legislativo.

 Fases que permearam a relação Legislativo x Executivo ao longo dos tempos:


1) Princípio da Reserva de Lei
- 1º momento: o Estado pode interferir em tudo, desde que não exista uma lei proibindo. (Princípio do
Poder Discricionário: o agente do Estado é livre para agir, desde que não ultrapasse a zona de proibição.)
- 2º momento: o Estado está proibido de atuar em alguns pontos, e em alguns direitos ele só pode interferir
com base na regulamentação.
2) Princípio da Reserva Total de Lei: corresponde ao princípio da legalidade, no qual o Estado só pode atuar
com fundamentos legais previstos.

Capítulo 4: Do Estado de Direito ao Estado de Legalidade

I. Estado de Direito Essencialmente Material:


 Aqui, sob qualquer circunstancias, os Direitos Fundamentais estão acima do Estado, e o principal objetivo do
aparelho institucional do governo deve ser a garantia desses direitos.
 Os Dir. Fundamentais são encarados na perspectiva jusnaturalista, como se fossem inatos ao ser humano, e
como se existissem anteriormente e independentemente do Estado.
 Heterolimitação: a atuação do Estado aqui é limitada pela Constituição – uma lei externa, que não se confunde
com o próprio Estado, e que tem como principal objetivo impedir que o Estado fira os Dir. Fundamentais.

II. Estado de Direito Puramente Formal:


 Aqui também existe a crença da importância dos Direitos Fundamentais; porém o Estado se coloca de forma
superior a esses direitos (pensamento antiliberal). O Estado, enquanto coletividade está acima do indivíduo.
 Aqui é o próprio Estado que concede esses Direitos Fundamentais ao cidadão – e não simplesmente o cidadão
nasce com esses direitos (como acontece na perspectiva material).
 O Estado aqui não é limitado por uma Constituição, ou por qualquer norma externa a ele – pois ele mesmo se
autolimita; ele mesmo cria as próprias leis: o Direito se confunde com o Estado.
 O Estado pode tudo, desde que pela via legítima, desde que esteja cumprindo as leis (leis que ele mesmo faz).
É o Estado de Legalidade em sua forma pura: um Estado baseado na lei - porém as leis podem ter qualquer
fundamento – não há qualquer garantia que o conteúdo dessas leis esteja de acordo com os Direitos
Fundamentais. É também o Positivismo em sua forma extrema: se a Lei existe, mesmo que injusta ou
imperfeita, ela deve ser cumprida, porque é lei.
 Essa perspectiva formal de limitação do Estado vira um forte álibi para o autoritarismo. Assim, a formalização do
Estado acaba permitindo que este rume para um Estado de Legalidade Positivista.

III. Estado de Legalidade Positivista


a. História
 A ideia de limitação material do Estado – ou seja, a ideia de que os direitos fundamentais são anteriores ao
Estado, começa a ser largamente utilizada contra a burguesia, pelas camadas populares, no século XX.
 A necessidade de manutenção do poder levou a burguesia a abandonar o liberalismo e suas fundamentações
jusnaturalistas de liberdade; e em substituição, ascende a concepção de Estado de Direito formalmente limitado
 O Positivismo, de início, foi progressista – atacando os alicerces ideológicos do Antigo Regime. Agora, se mostra
conservador, na defesa da ordem burguesa. Concomitantemente ao abandono da caracterização de Estado de
Direito como Estado limitado pela razão e pelos direitos naturais, foi ascendendo a autolimitação do Estado pelo
seu próprio direito positivo, formalmente aberto aos conteúdos determinados por qualquer poder constituído,
desde que vertidos em lei. O direito natural passou a ser visto como um foco de instabilidade, e a burguesia
trouxe então para o direito positivo as suas aspirações de segurança e estabilidade.

Obs.: Século XIX: “século do parlamento”; Século XX: “século do Executivo”, pois ascendem os regimes totalitaristas,
em que o grande líder executivo dá as cartas; Século XXI: “século do Judiciário” (no Brasil)

b. Teorias – a ascensão de “estados de não direito / “estados antiliberais” tem alguns autores como base teórica:
 Friedrich Julius Stahl (expoente do Rechtsstaat)
- Em uma perspectiva antiliberal, considera o Estado como um sujeito anterior e superior aos indivíduos;
rejeita qualquer jurisdição sobre os atos do governo.
- Estado que tem como fins o domínio do poder, a proteção dos homens, progresso da nação e cumprimento
do preceito divino.
- Primeira vez, em termos da doutrina geral do Estado, que a redução formalista do Estado de Direito abria o
conceito a qualquer conteúdo e compatibilizava-o com qualquer tipo de Estado.
 Hans Kelsen (expoente do Positivismo)
- “O Estado é um fim em si mesmo”, por isso não deve ser limitado pelos direitos naturais.
- Estado e Direito não são autônomos. Estado = Direito. Todo direito é um direito emanado do Estado e todo
Estado se traduz no direito, pois possui um complexo de normas jurídicas. O Estado é um Estado de Direito
simplesmente por fazer o Direito, com seus instrumentos jurídico-formais.
- Toda pessoa natural é uma pessoa jurídica, ao passo que o Estado é uma PJ superior a todas as outras.
- Positivismo jurídico de Kelsen é uma teoria que se amolda a qualquer política de governo, pois
simplesmente diz: “cumpra a lei”. Não importa se a lei é nazista, socialista, liberal. Ela deve ser cumprida
independente de valoração; sem questionamentos políticos ou julgamento de valores da mesma (o
questionamento é importante, mas não é o papel da Ciência Jurídica Pura).
- Teoria de Legalidade do Estado de Kelsen: abre portas ao autoritarismo. Porque a legalidade afirma que
não importa a natureza ideológica daquele poder, basta que ele seja juridicamente válido. Direito e justiça
formais, com ausência de valores (= formalismo) e de segurança jurídica.

c. Conclusão
 O Estado de Legalidade abre-se a quaisquer conteúdos, a quaisquer fins, desde que atuados na via da
legalidade. Não sustenta nenhuma particular ideia de Direito. Seu positivismo age apenas para estabilização e
conservação de todo Poder constituído.
 Diferentemente do Estado de Direito, o Estado de legalidade não se preocupa com a luta política por direitos ou
com as técnicas jurídicas de sua garantia, mas se limita a realizar-se pela via do Direito.
 O modelo de Estado Liberal possuía uma limitação axiológica, já o Estado de legalidade é compatível com
ampla gama de projetos políticos – inclusive os totalitaristas.
 O estado de legalidade necessariamente vai contrário ao Estado de Direito? Não. Ele é uma capa de
normatividade que se molda a qualquer modelo. Se ele vier acoplado a um Estado de direito material, ele estará
compatível com o Estado de Direito. Porém um Estado de Legalidade Estrito não tem essa esfera material.
 Estados Totalitários não são Estados de Direito, uma vez que se colocam em oposição ao ideal que fez nascer o
Estado de Direito. Ainda, o Estado Totalitário se diferencia do Estado de Direito pela natureza das relações
jurídicas entre o indivíduo e o Estado; além da relação entre o Estado e a limitação jurídica de poder.

Capítulo 5: Estado de Direito e Experiências Anti-Liberais

I. Europa Ocidental: Estados Totalitários


 A crise econômica que assolou a Europa após a Primeira Guerra mundial provocou grandes questionamentos
quanto o Estado Liberal, principalmente a sua postura de neutralidade perante os problemas sociais.
 A superação dessa crise levou a um abandono do Estado Liberal para ascensão de correntes políticas anti-
liberais; que permaneceram até o fim da Segunda Guerra Mundial.
 Mesmo com diferenças histórico-institucionais, estes regimes autoritários tinham como características comuns:
- A centralização do exercício do poder em uma única pessoa (raramente eleita e eventualmente nomeada)
- Autoridade plena e ilimitada do Estado
- Direitos e liberdades absolutos/ originários não reconhecidos aos indivíduos
- Identificação da Sociedade Nacional com o Estado
- Caráter dogmático do Estado: doutrina do partido único e proibição de oposições político-doutrinárias
- Relações econômicas e laborais devem intermediadas pelo Estado

Autoritarismo Totalitarismo
- Controle estritamente comportamental:
restrições de liberdades, repressão - Controle de comportamento e de
pensamento: possui uma ideologia tão
- Sujeito externo: faz imposição de normas
por meio da força forte que pretende dominar não só as
- Não há tanta preocupação em abolir a X ações, mas o pensamento da coletividade.
resistência subjetiva e ideológica: a - Sujeito interno: impõe uma norma e faz a
preocupação maior é a resistência física população crer que essa norma é “legítima,
e institucional. pois foi feita a pela própria vontade popular
– representada na figura do líder”.

a. Estado Fascista Italiano


 Movimento de reação irracional, contra um status liberal de desigualdade. De início, havia um vazio ideológico
nesse movimento, que não era pautado em nenhuma Teoria do Estado específica. Sucessivas reformas
constitucionais foram impressas até que o movimento fascista tomasse a Itália por completo, na Figura do
Mussolini. Assim, finalmente começa a elaboração de uma Teoria do Estado Fascista:
- Estado absoluto, com fim em si mesmo – seu engrandecimento é sua principal busca, e seus objetivos são
superiores aos dos indivíduos. Ausência de Direitos Subjetivos Públicos.
- Eliminação da autonomia do cidadão: o Estado soberano interfere em todas as esferas, inclusive
particulares – seja no foro espiritual, temporal, individual ou coletivo.
- Ênfase do sentimento nacional, onde os indivíduos compartilham a mesma cultura, território, costumes,
língua, moral, religião e raça.
- O Estado Fascista não se julga arbitrário ou tirano. Suas atitudes são interpretadas com conteúdo ético e
espiritual, em nome do bem de toda a Nação.
- A Nação só se realiza em sua plenitude por conta do Estado, porque somente ele é capaz de garantir
coesão estrutural e unificação da vontade coletiva.
- O Estado representa a ética do povo. Ele é a síntese dos valores nacionais predominantes, que se
manifestarão em todas as suas instituições – políticas, jurídicas, econômicas.
- É um Estado ético-orgânico (diferente do liberal jurídico-contratualista), fundamentado sentimento de Estado
– sentimento de unidade moral e social do povo, expressa e personificada no Estado.
- Corporativismo: o indivíduo é apenas um instrumento dos fins sociais. Seu papel principal é cumprir seu
dever para com o Estado.
- Ideologia de Outorga: o indivíduo não é o centro de direitos. Os diretos individuas existem, mas não são
naturais, são apenas dádivas que o Estado concede para melhor garantir a realização de seus fins éticos.
- Se limitava a realizar apenas a concepção objetiva/ formal do Estado de Direito, ignorando a subjetiva/
material. Ainda assim, se declarava Estado de Direito, reduzindo o termo a um mero Estado de Legalidade.
 Teoria do “Estado Ético” fascista & Autores
- Ravà: Afirma que “o Estado é essencialmente a instituição onde a ética se realiza por excelência”. Defende
que o caráter ético sobreponha o jurídico; e que o Direito seja apenas um meio técnico-instrumental que
permita que o Estado prossiga seu fim moral.
- Gentile: “O Estado é a fonte exclusiva da eticidade e moralidade”. O indivíduo só é livre se exercer sua
liberdade obedecendo a moralidade do Estado, pois a ética individual não importa: apenas a coletiva.
 Pode-se concluir que as teorias éticas sobre os fins do Estado resultam inevitavelmente na arbitrariedade do
Governo e no aniquilamento da liberdade do indivíduo. Isso porque o Estado ético acaba legitimando condutas
totalitárias, que se autoproclamam morais, quando notadamente violam os direitos fundamentais.

b. Estado Nacional-Socialista Alemão


 A Nação-Estado alemã tem fundamentos étnico-biológicos: é baseada em uma “Comunidade do Povo Alemão”,
constituída por base racial, com indivíduos obrigatoriamente arianos, que compartilham de noções biológico-
político-culturais padronizadas.
 O Estado é uma realidade fundada no “Espírito do Povo”. Esse espírito representa uma moral coletiva que está
acima de qualquer sujeito individual ou instituição. É o clamor popular, a vontade do povo perante um tema.
 Crítica: essa é fundamentação de Estado baseada na opinião do povo é perigosa. Motivos: o povo nem sempre
é justo (tende a acreditar na lei de talião); a opinião da maioria é manipulável; a população em geral é leiga no
que se refere a assuntos jurídicos. Daí a importância da democracia e Estado de Direito nesses casos, pois
oferece garantias mínimas processuais a se cumprir antes de um julgamento definitivo.
 O Fuhrer não representa o povo alemão, porque representação pressupõe dois sujeitos autônomos, onde um
representa a vontade do outro em alguma esfera. O Fuhrer vai além da representação: ele é próprio Espírito do
Povo encarnado em uma única pessoa, uma simbiose povo-líder. Quando o líder fala, é o povo que está falando.
 Por isso a doutrina nazista se recusa a caracterizar-se como ditadura pessoal ou como regime arbitrário. Entre
governante e governado não existe uma relação de sujeição, mas uma ligação de confiança mútua, onde a
responsabilidade do Fuhrer tem como contrapartida a fidelidade e obediência voluntária do povo.

Nazismo: “Espírito do Povo” Fascismo: “Estado Ético”


- O Estado é mero instrumento que age a favor - O Estado não é mero instrumento, ele
do Espírito do povo, pois o povo é o reitor da é o próprio reitor da ação ética; a
ação ética; a verdade emana do povo verdade emana do líder, que é
- Quem comanda o instrumento estatal é o
X superior ao povo.
líder, que não é superior ao povo; é a - Direito = Estado
encarnação da vontade do Povo.
- Direito = Espírito do Povo

No fundo, as diferenças entre ambos os regimes são eminentemente teóricas. Na prática, ambos os líderes
governam de maneira autoritária; ambos adotam práticas que dizem estar de acordo com uma “moral coletiva” –
quando na verdade estão manipulando esse conceito em favor de seus interesses.

 O Estado alemão não possui a posição privilegiada de valor ético supremo como o Italiano. Ele é um simples
meio, um simples aparelho que o seu líder utiliza para alcançar os interesses da comunidade alemã.
 O Nacional-Socialismo era antipositivista e não concordava com o caráter absoluto do princípio da legalidade.
Ali, mais importante que um ato em conformidade com a lei é a identificação desse ato com o sentimento jurídico
do Espírito do Povo. Nesse contexto, seria legitimo um ato administrativo que, embora não sustentado por uma
lei prévia, respondesse às aspirações do povo/ vontade do Hitler (povo personalizado).
 Afastamento da ideia de que “Estado” e “Indivíduo” são pessoas jurídicas titulares de recíprocos direitos e
deveres. O homem não tem valor se considerado de forma individual/ isolada da comunidade; ele só ganha
sentido como ser social, como célula de um organismo que é o Estado Nazista. Aqui, o Estado não é PJ, mas
mero instrumento a favor do povo. E o indivíduo faz parte desse instrumento. Era então uma situação jurídica
essencialmente funcionalista e técnica, que exprime apenas uma posição de dever das partes para o todo.
 O regime se autoproclamava o “verdadeiro Estado de Direito”.

 Obs.: O Corporativismo é mais presente no estado Fascista que no Nazista.

II. Europa Oriental: Revolução Anti-Capitalista Russa


 Revolução de 1917 – protagonizada pelo Partido Bolchevique, liderado por Lênin.
 Oposição ao absolutismo czarista russo, ao Estado Constitucional e às teorias liberalistas.
 Rejeição ao conceito de “Estado de Direito” e revisão de todas as instituições burguesas: Burocracia (servidores
públicos) burguesa; Polícia burguesa; Exército burguês, Direitos individuais absolutos, Estado mínimo.
 Adota a planificação da economia e abolição da propriedade privada.
 O primeiro objetivo de Marx (principal teórico) era a liberdade absoluta popular, não a igualdade. Mas pare ele, o
alcance da verdadeira liberdade só se dava pelas vias de igualdade coletiva – material e formal. E o capitalismo
não proporcionava isso.
 Programa Marxista-Leninista de Transformação Social em 2 passos: primeiro deve-se instaurar um Estado
Classista de ditadura proletária; depois, progressivamente, vai se dissolvendo a instituição Estatal até que se
formará uma sociedade comunista. O segundo passo nunca ocorreu em nenhum país socialista da História. A
Rússia chegou a anunciá-lo, mas não levou adiante o projeto revolucionário; vários movimentos de resistência
surgiram, o que gerou mais repressão por parte do Estado Socialista, reforçando seu Estado de exceção.
 A teoria Marxista versava sobre uma revolução que devia desencadear-se em países prioritariamente
industrializados, onde o proletariado era maioria popular. A Rússia, no entanto, era predominantemente rural,
economicamente atrasada e quase feudal. A maioria populacional era camponesa e o proletariado era uma
pequena minoria. Ainda assim, conseguem relevância política para instaurar o socialismo.
 Stálin (sucessor radical do Lênin) desenvolverá até ao limite as potencialidades contidas na tese do reforço do
Estado, utilizando-a em favor do seu poder pessoal. Utilizará uma violência sem precedentes em nome da
defesa da ordem legal socialista e da prevenção e luta contra a criminalidade.
 Onipresença do Estado em todos os níveis da sociedade soviética
 Política do Partido único: Partido Comunista
 O Estado Soviético surge como uma instância direta de organização e unificação da sociedade, que pouco
reconhece direitos individuais, tampouco aqueles oponíveis ao Estado. Na verdade, ele exclui totalmente a
titularidade desses direitos aos burgueses, mas busca oferecer alguns aos camponeses, desde que estes
cumpram suas obrigações de cidadão (Ideologia de Outorga/ Teoria dos Direitos Subjetivos Públicos)
 O único direito fundamental é o de contribuir para o fortalecimento do Estado. Direitos fundamentais apenas a
serviço do estado = instrumentalização dos direitos fundamentais. Não permitia nenhuma idéia de limitação
jurídica do Estado em favor da proteção de esferas individuais.
 É essa instrumentalidade do Estado Soviético e seu Direito voltado exclusivamente a realização de si mesmo
que o Exclui da denominação de “Estado de Direito” e o coloca com Estado de Legalidade Socialista.
 “Declaração dos Direitos do povo trabalhador e explorado”: não era um catálogo de direitos individuais, mas uma
enumeração das tarefas do Estado. Uma delas era, na medida do que permitia a economia, corrigir as
desigualdades sociais.
 É instaurado um Estado Social não-democrático: realização de direitos sociais + negação de direitos individuais
 Estado de Legalidade Socialista Soviético
- Nos primeiros anos de revolução, o princípio da legalidade não se traduzia na submissão total do Estado ao
sistema legislativo, pois esse ainda não estava totalmente em conformidade com o socialismo. Sendo
assim, a validação das ações do Estado não provinha da conformidade com a Lei, mas com os fins do
socialismo.
- Porém, na Terceira Fase política Soviética, houve denúncia de arbitrariedades cometidas durante o
consulado de Stalin. Assim, no XX Congresso Socialista, se formou um ambiente de reivindicação de
cumprimento do princípio da legalidade, buscando endurecer as instituições intermediárias que cometiam
abusos de poder. Assim, o princípio acaba por ser afirmado na Constituição de 1977, comportando um
componente de garantia de direitos individuais.
- No entanto, esse caráter de garantia não limitava o poder soberano do Estado. Pelo contrário, a adoção
completa do princípio da legalidade fortaleceu ainda mais o Estado totalitário Soviético, assegurando o
primado político sobre o jurídico. Como a criação de leis ainda era monopólio do partido comunista e o
controle de legalidade era ainda fraco, então esses direitos individuais eram cedidos de forma que não se
transformassem numa defesa contra o próprio Estado – deveriam estar em comunhão com seus interesses.
- Duas dimensões da legalidade socialista:
1) Exige o respeito por parte de todos: Estado e Cidadãos. Porém as leis emanadas pelo Soviete
Supremo ainda eram de relevância superior a qualquer outras. Além disso, por mais que haja mais
rigidez na aplicação da lei, essa lei não tinha nenhum vinculante sobre seu conteúdo. A lei cumprida vai
ser qualquer lei que o Partido Comunista determinar, o que fere a esfera material do principio de Estado
de Direito.
2) Exige o controle da execução rigorosa da lei: a violação do direito, qualquer que fosse, era um
atentado contra a política do Governo. Mas o controle disso era fraco. Como o poder judiciário era
totalmente dependente do executivo (havia grande pressão e ameaças políticas) era fácil que o Estado
continuasse com suas arbitrariedades.
 Por tudo isso, não de pode afirmar que a Rússia nesta época protagonizava um Estado de Direito – embora
realizasse progressos quanto ao quadro socioeconômico, muito faltava para que se concretizasse na prática.
 Depois, o Estado Socialista Ditatorial vai se enfraquecendo; a política do partido único cai; entra a Glasnost e
Perestróica e por fim, a abertura democrática e capitalista gradual.

Capítulo 6: Estado de Direito e Estado Social Democrático de Direito

I. Estado Social de Direito


 Já no século XVII (Inglaterra: poor laws); no século XVIII (Alemanha: política social de Bismark); no século XVIII com
a Revolução Francesa; entre outros momentos históricos foi possível perceber políticas sociais criadas para refrear
os excessos mais graves provocados pelo capitalismo. Mas somente após 1ª Guerra Mundial que uma grande crise
econômica provocou uma alteração radical na forma de se conceber as relações Estado-Sociedade.
 Historicamente, o Estado Social em si já havia se concretizado em sua forma totalitária. A URSS era um exemplo.
Porém a sua denominação de Estado Social faltava o componente “de Direito”, porque embora buscasse garantir
direitos sociais, nela não imperava o verdadeiro Estado de Direito – Não havia instrumentos democráticos como o
reconhecimento da participação política de cada cidadão.
 Nesse sentido, com um panorama devastador pós 1ª Guerra, marcado pela concentração de renda, mercados
monopolizados, revoltas populares, e ainda o medo das ideologias socialistas penetrarem na Europa Ocidental e
enfraquecer a burguesia; tudo isso gerou uma necessidade de reformulação do Estado de Direito Liberal para
sobrevivência do capitalismo. Onde antes havia total autonomia entre Estado e Sociedade, agora começa a se
buscar maior aproximação e interdependência entre ambos, finalmente inaugurando o Estado Social de Direito.
 Inauguração: Constituição Mexicana (1917) e de Weimar (1919)
 Antes, havia no liberalismo um pequeno sistema de intervenção Estatal quando o mercado dito autorregulável
falhava, somente para singelas correções em suas deficiências. Mas era algo de segundo plano. Agora, a prestação
de condições existenciais básicas para os indivíduos ganha relevância e passa a ser prioridade do Estado. Isso
porque, sem essa garantia de bens/ serviços/ infra-estrutura materiais essenciais, o exercício dos direitos
fundamentais não passa da uma ficção – como exatamente acontecia no antigo Estado Liberal.
 Agora, então, há uma busca para que a igualdade social deixe de ser meramente formal para se tornar material, sem
que com isso se aniquile a individualidade do cidadão – como ocorria no Estado Social de Não-Direito (Totalitário).
 O Estado Social é a dialética entre as qualidades totalitaristas e as qualidades liberais. Busca o melhor dos dois
mundos (liberal e antiliberal). Nele ocorre a manutenção (com algumas ressalvas) dos Direitos Fundamentais
Individuais (clássicos liberais) e ocorre a inserção de direitos sociais coletivos inspirados em ideologias antiliberais
(sofrendo, porém, adequação ao modelo democrático)
 Novo “ethos político”, vinculado a realização da justiça social. A esfera econômica é encarada como suscetível de ser
moldada em função das exigências sociais e dos objetivos políticos.
 “Socialização do Estado”: Participação democrática do cidadão, nas eleições, na administração, no controle e
fiscalização das ações do Estado.
 “Estadualização da sociedade”: políticas públicas que insere o Estado na vida social, políticas assistencialistas,
bolsa família, etc.

II. Estado Social-Democrático de Direito


 Era preciso não apenas a garantia constitucional que os fins do Estado deveriam ser os dos direitos
fundamentais, mas ainda racionalizar toda a sua atividade em função daquele objetivo. Nesse sentido, há uma
revisão das instituições Liberais para buscar maior alcance democrático. Assim:
- O Judiciário ganha maior valorização. Antes, ele era limitado a reproduzir a lei, sem interpretá-la. Agora,
mais do que nunca, ele está independente do legislativo e tem o papel de defender a justiça constitucional
em todas as esferas. Surge como solução para frear injustiças administrativas executivas; para coibir
violações de direitos fundamentais por parte do legislativo; entre outros excessos e arbítrios que possam
ferir a sociedade. Não à toa, o Estado Social-Democrático de Direito é nomeado “Estado de Jurisdição” ou
“Estado legislativo jurisdicional”.
- O princípio de legalidade assume um caráter mais forte de submissão da Administração Executiva ao
Direito positivado, para evitar maiores arbítrios. Necessidade de concordância material e formal de qualquer
lei aos princípios constitucionais.
- Diluição de fronteiras entre os poderes, de modo que não mais ocorre total isolamento de poderes; todos
estão submetidos a controles de freios e contrapesos, e existem formas de um intervir no outro em casos de
necessidade democrática. Tudo isso para evitar o exercício arbitrário do poder de um ou de outro.
 Os direitos fundamentais só obtêm total realização e proteção em regimes democráticos.
 Expansão dos direitos políticos.
 A intenção material ocupa o cerne da dimensão social do Estado de Direito.
 Limitação do Estado com vista à garantia dos direitos fundamentais do cidadão; tais como a autonomia individual
e dignidade da pessoa humana.
 3 Grandes Características: Segurança Jurídica; Obrigação social; Autodeterminação democrática.
 Estado Social-Democrático de Direito: conceito que exprime a limitação e vinculação jurídica do Estado com
vista à garantia dos direitos fundamentais do cidadão e à promoção das condições do livre desenvolvimento da
personalidade individual.
 Este estado é um quadro tão impregnado de uma intenção material aberta a uma pluralidade de concretizações,
que pode ocorrer tensão conflitual inerente aos diferentes programas políticos e interesses sociais que nele
coexistem.
Questionário

1. Tomando como base as ideias do liberalismo político, compare o conceito de liberdade na fundamentação de Locke com
este mesmo conceito na visão de Montesquieu.

2. Explique a ideologia das três separações, bem como o pensamento de seus principais autores na visão de Jorge Reis de
Novais. Além disso, destaque por que essa doutrina se relaciona especificamente com a adjetivação liberal do Estado de
Direito.

3. Contraste as características principais do Estado de Direito Alemão (Rechtsstaat) com o as do Estado de Direito Francês
(État Constitutionnel).

4. Discorra sobre a obra de Montesquieu, explicando: i) sua preocupação central; ii) seu conceito de lei; e iii) a classificação dos
regimes por ele proposta.

5. Com base na obra Contributo para uma teoria do Estado de Direito, diferencie o Estado de Polícia do Estado de Direito,
descrevendo o processo político que levou à transição de um ao outro

6. Marque verdadeiro (V) ou falso (F).

( ) O modelo de separação dos poderes em Locke pregava uma ruptura brusca na organização social afastando
definitivamente os atores do antigo regime da participação do poder.
( ) Locke baseava sua teoria de construção do Estado a partir de dois pactos, o primeiro fundaria a sociedade civil e o
segundo criaria o Estado.
( ) Montesquieu dividiu as naturezas de governo em república, monarquia e tirania, sendo que esta última seria uma
deturpação da segunda. Dentro de sua construção teórica, a melhor natureza de governo seria a república, já que esta seria
baseada no princípio da virtude e, além disso, todas as monarquias tenderiam necessariamente a tirania, que seria o pior
regime.
( ) Para Montesquieu o poder judiciário se restringiria a aplicação da lei sem qualquer função política. O juiz ideal seria o juiz
“boca da lei”.
( ) Fenélon defendia a limitação dos poderes absolutos do rei a partir de uma lógica democrática de participação popular.

7. Tomando como base a formação do pensamento liberal e seus filósofos, assinale a alternativa correta:
(a) Montesquieu e Locke entendiam a liberdade como direito natural do homem.
(b) A separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário é tema central da obra de Montesquieu.
(d) Para Montesquieu o exercício da liberdade se dava dentro das balizas imposta pela lei.

8. Analisando a construção do liberalismo político, marque a opção incorreta:


(a) Montesquieu classificou os regimes de governo a partir de suas naturezas e seus princípios reitores. Nessa classificação,
a melhor forma de governo seria a monarquia porque seria a única que conseguiria manter o equilíbrio social.
(b) Locke desenvolveu uma concepção individualista de liberdade na qual os direitos seriam propriedades dos indivíduos.
Nessa lógica, o homem deveria delegar irreversivelmente parte de seus direitos para que o Estado pudesse protegê-lo.
(c) Fénelon defendia limitação do poder real a partir da interferência da tradição aristocrática como força intermediária de
conciliação entre a “tirania principesca” e a “anarquia popular”.
(d) Montesquieu buscou estabelecer qual seria o critério de criação das leis e, para tanto, ele estudou a geografia, a cultura,
a religião, o clima, em suma, todos os fatores que ele acreditava que poderiam influenciar a criação das leis de uma
determinada região.

9. Sobre as observações de Jorge Reis Novais acerca do conceito de Estado de Direito, escolha a assertiva correta:
(a) Existe um caráter mitológico no conceito de Estado de Direito que o permite funcionar como fundamentação retórica para
qualquer modelo de Estado.
(b) A grande polissemia do conceito esvazia o seu sentido e não permite estabelecer um conteúdo preciso para o que seria o
Estado de Direito.
(c) O Estado de Direito material pressupõe uma autolimitação exercida por valores externos ao ordenamento jurídico.
(d) Na pólis grega as leis podiam ser utilizadas contra a arbitrariedade dos governos e, por isso, é possível falar em Estado
de Direito Grego.

10. No que diz respeito à adjetivação liberal do Estado de Direito, assinale verdadeiro (V) ou falso (F) para as afirmativas a
seguir.
( ) Kant constrói sua doutrina moral a partir da autonomia racional do indivíduo que não deveria sofrer interferência externa
do Estado.
( ) Para Adam Smith a intervenção do Estado na economia seria sempre danosa porque impediria a atuação do livre
mercado.
( ) Humboldt acredita que a intervenção positiva do Estado acarreta, necessariamente, a criação de mais problemas.
( ) A adjetivação liberal de Estado se dá pela ideia de limitação jurídica do Estado para garantia de liberdades individuais e
concretização de direitos sociais.
11. Analise as assertivas abaixo, assinalando (V) para as afirmações corretas e (F) para as afirmações incorretas.

( ) Para Locke, o homem, em seu estado de natureza, é mau e vive em guerra permanente. Possui, porém, um desejo
inerente de paz, que o leva a constituir o estado civil.
( ) Segundo Locke, a propriedade é criada pelo Estado e tem seu fundamento originário no trabalho.
( ) Para Adam Smith o Estado não deve interferir em hipótese alguma na vida econômica, que fica entregue totalmente à
dinâmica da autorregulação pelo mercado e sua “mão invisível”.
( ) Na prática, a separação Estado-economia proposta por Smith foi concretizada, uma vez que, em nome de uma sociedade
autônoma, a burguesia se absteve de recorrer ao Estado para coibir as reivindicações do chamado “quarto estado”.
( ) Pode-se afirmar que Kant julgava todo homem capaz de exercer sua cidadania plena e direito de voto, já que todos, sem
distinção, possuem a moral dentro de si e podem definir o certo e o errado em suas vidas.
( ) Humboldt não concordava com um Estado assistencialista, pois para ele a intervenção positiva do Estado produz
malefícios que seriam típicos do Estado de polícia.

12. Baseando-se nos princípios do Liberalismo político, apresentados na obra de Olivier Nay, analise as assertivas abaixo e
assinale a alternativa correta.
I. As minorias religiosas devem ser ignoradas pelo Estado e pela maioria, já que poderiam tomar o poder e impor o
despotismo.
II. O liberalismo entende que o povo é soberano, enquanto origem e dono do poder, e, por essa razão, os liberais
defendem que a democracia é sempre necessária.
III. O pluralismo é princípio de organização social, que expressa a recusa da hegemonia de um grupo sobre o outro e a
necessidade de confronto entre opiniões.
IV. A defesa de um governo representativo é condição para a instauração de um poder moderado e se justifica em razão
da desconfiança contra o poder centralizado.
(a) I e IV estão corretas.
(b) II e III estão corretas.
(c) II e IV estão corretas.
(d) III e IV estão corretas.

13. Em que medida o Estado Social Democrático de Direito é um modelo que supera o Estado totalitário e o Estado
liberal?

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