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História A - A implementação do Liberalismo em Portugal

História A (Best notes for high school - PT)

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Descarregado por Maria Fortunato (marialuisaserranofortunato@gmail.com)
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11º Ano

Módulo 5

Unidade 4

A implementação do Liberalismo em Portugal

Antecedentes e conjuntura (1807-1820)

A conjuntura ideológico-cultural
Portugal apesar de reprimir as doutrinas liberais, não conseguiu conter a penetração do ideário da
revolução francesa.

✓ Uma forte escola de intelectuais “afrancesados” – através dos livros de filósofos


iluministas;
✓ Desde o início do seculo que a maçonaria vinha a estabelecer as suas lojas no reino – uma
feroz oposição ao absolutismo régio;
✓ Os opositores dos regimes absolutistas fugidos da regressão, promoviam uma campanha
através da publicação de livros clandestinos no reino;
✓ A experiência parlamentar em Inglaterra e o seu desenvolvimento económico inspirado por
doutrinas liberais tinha muitos adeptos em Portugal;
✓ A partir de 1807, as chegadas das tropas napoleónicas trouxeram consigo um número
grande de exilados políticos liberais.

As invasões francesas e a nova conjuntura política


Napoleão incapaz de vencer militarmente a Inglaterra, em 1806 impos o Bloqueio Continental, na
qual nenhum estado europeu podia negociar com a Inglaterra.

A velha aliança diplomática entre Portugal e Inglaterra e os graves problemas económicos do


bloqueio, levou o futuro rei, D. João VI, a contestar às exigências de Napoleão.
Devido à contestação, Portugal foi alvo de três invasões napoleónicas entre 1807 e 1811.

O governo Inglês preparou um plano para a retirada da família real e da corte para o Brasil, para
salvar a soberania nacional.

A capital do reino foi mudada para o Rio de Janeiro.


Apesar de Portugal não ter perdido a independência para a França, ficou sobre o protetorado
inglês e como colonia brasileira (pela mudança da capital).

Os Ingleses acorreram para ajudar Portugal durante as invasões, contudo o reino permaneceu
sobre o controlo militar inglês. Os Ingleses assumiram o poder de forma despótica na pessoa do
Marechal Beresford, que foi instituído como presidente da junta governativa e generalismo das
tropas portuguesas.

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O agravamento da conjuntura económica e financeira

A situação financeira do reino nas vésperas de 1820 era de uma crise generalizada:
✓ As invasões napoleónicas deixaram um grande rasto de destruição;
✓ Importantes homens de negócios saíram do pais, levando a sua mentalidade
empreendedora para o Brasil ou Inglaterra;
✓ A abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional, causa a falência do comercio
luso-brasileiro devido ao fim do exclusivo colonial.

A conjuntura social

✓ A população contestava a orfandade do reino – terem sido abandonados pelo rei e


deixados às mãos dos ingleses;
✓ A situação de colonia que Portugal foi sujeitado levou a burguesia liberal a cair devido ao
desenvolvimento que o Brasil trazia;
✓ Os nacionalistas não se conformavam com a humilhante repressão praticada pelos
ingleses e pela preponderância política do marechal Beresford;
✓ Toda a população estava descontente com a grave crise económica que o reino
atravessava.

A agitação revolucionária
Em 1817, houve uma tentativa revolucionária levada a cabo pela maçonaria portuguesa contra
Beresford.
A descoberta deste movimento e a sua ligação à maçonaria levou à condenação à morte por
enforcamento do seu líder e dos seus cúmplices.
A repressão, violência, e a condenação do Oficial-general Gomes Freire de Andrade a
enforcamento, contribuiu para o agravamento do descontentamento das forças opositoras à
regência inglesa.

A Revolução de 1820 e as dificuldades de implementação da ordem liberal (1820-1834)

I. A revolução de 1820
A eclosão da revolução

O arranque da revolução teve início do Porto, onde uma associação secreta liberal – Sinédrio – ia
acompanhando os acontecimentos à espera do momento certo para agir.
Este acontecimento precipitou-se em março de 1820, devido a dois fatores favoráveis:
✓ O ânimo que veio de Espanha – onde o movimento liberal tinha triunfado;

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✓ A partida de Beresford para o Brasil – para informar o rei do aumento das despesas
militares e o crescimento da agitação social.

Com o tempo de alguma descompressão política, o sinédrio garante o apoio militar das forças
liberais espanholas e o apoio político dos liberais brasileiros e consegue o apoio das forças
militares nacionalistas.
A 24 de agosto de 1820, o regimento militar do Porto toma a camara municipal e junto das
autoridades civis elege a junta provisional do Governo Supremo do Reino, destinada a governar
em nome do rei.
O governo institucional em Lisboa veio a ceder às pressões do movimento e a 15 de setembro a
autoridade pró-inglesa foi destituída.

Os dois governos revolucionários (porto e lisboa) fundiram-se numa única junta governativa
passando a administrar o pais a partir de Lisboa.
Criou-se a Junta Provisional Preparatória das Cortes com o objetivo de se redigir uma
constituição.

As primeiras medidas governativas


O governo empenhou-se de resolver os problemas imediatos do reino:
✓ Pôr fim imediato à dominação inglesa, expulsando-as do território nacional;
✓ Declarar fidelidade à família real e reclamar o seu regresso, impondo-lhe o reconhecimento
e aceitação da futura constituição;
✓ Discutir projetos da futura constituição do Reino e iniciar a preparação de eleições para as
Cortes Constituintes;
✓ Por fim a alguns privilégios do clero e fidalgos;
✓ Junto da diplomacia internacional pedir o reconhecimento da legitimidade do governo
revolucionário e apoio à causa liberal portuguesa;
✓ Justificar o movimento e mobilizar a população para apoiar a revolução.

II. A constituição de 1822 e o vintismo


A 10 de março de 1822, eram aprovadas as bases da Constituição Monárquica Portuguesa, para
dotar reino de uma nova lei fundamental e para que não se continuasse a reger pelas “velhas
leis”.
A 23 de setembro de 1822, o texto constitucional português, conhecido como constituição de
1822, foi concluído e dado a jurar por D. João VI a 1 de outubro.

Os trabalhos na redação da constituição foram marcados pela divisão entre:


✓ Tendência moderada – conversadora relativamente à tradição monárquica e católica do
reino e no caracter moderado das propostas;
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✓ Tendência mais radical – popular e democrática adepta de profundas reformas no sistema.

A constituição de 1822 instituiu em Portugal um período revolucionário que ficou conhecido por
vintismo.
Vintista foi a tendência mais radical do liberalismo português.

A nível da organização política – a monarquia constitucional


A constituição de 1822 firmou a soberania da Nação e instituiu a monarquia constitucional, em
que o poder absoluto foi substituído por poder tripartido.
✓ Poder legislativo – Cortes, reunidas numa só câmara e eram escolhidos por sufrágio
universal e direto, varões maiores de 25 anos que soubessem ler e escrever;
✓ Poder executivo – foi confiado ao monarca e ao governo por si constituído;
✓ Poder judicial – exercício por magistrados independentes do poder político.
O poder real foi claramente submetido à supremacia das cortes, pois o monarca:
✓ Não tinha qualquer puder sobre as cortes;
✓ Apenas tinha direito ao veto suspensivo sobre as decisões das Cortes, na qual o rei era
obrigado a aceitar, caso a Assembleia não concordasse com as razões do veto;
✓ Certas leis, como o orçamento de estado não precisavam de passar pelo rei;
✓ As cortes ficam com poderes para formar governo.

A nível social – o combate aos privilégios


A constituição de 1822, instituiu:

✓ Igualdade de todos perante a lei no ato do nascimento;


✓ Extinção da inquisição, que tinha sido reativada pelo general Beresford;
✓ Abolição de muitos dos privilégios senhoriais, que da nobreza como do clero;
✓ Reconheceu os direitos naturais dos cidadãos – liberdade individual, propriedade e
segurança;
✓ A religião católica foi instituída como religião dos portugueses, somente os estrangeiros
podiam exercer outros cultos de forma privada.

A nível económico – a reforma dos forais

Os constituintes vintistas propunham o liberalismo económico.


A principal novidade teve a ver com a abolição dos privilégios corporativos, onde se inseria a
reforma dos forais.

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Estes direitos senhoriais (foros), impediam o livre usufruto e alienação da propriedade rural, o que
não favorecia o desenvolvimento da agricultura, pois impedia a burguesia rural de aceder a
grandes propriedades fundiárias.

Com esta situação, os constituintes de 1821, propuseram a supressão ou redução do complexo


corpo de direito medievais (forais).

A precariedade da legislação vintista de carácter socioeconómico

• A nível político

Embora os votos fossem universais, o eleitor elegível tinha de ser alfabetizado, na pratica excluía
a participação democrática da maioria dos cidadãos. Ou seja, criava uma assembleia legislativa
composta pela elite social do reino.

A igualdade perante a lei não foi cumprida pois acaba por afirmar os interesses da burguesia
rural, pois ocupavam a maioria dos assentos da assembleia.
Em 1822, a lei dos Forais dececionou os pequenos camponeses pois as propriedades passaram
da mão do clero e da aristocracia para uma elite de burgueses.

• A nível económico

Ainda para satisfazer os interesses da burguesia rural, criou-se um protecionismo aduaneiro para
se limitar a entrada de produtos agrícolas no reino.

Relativamente ao Brasil, os constituintes vintistas restituíram a condição de antiga colonia a que o


Brasil estava sujeito, e acabando com todas a liberdades instituídas nos tempos em que o Rio de
Janeiro foi a Capital do Reino.

III. A desagregação do império atlântico


A elevação do Brasil à categoria de reino

Na presença da corte e da família real, o Brasil sofreu um grande desenvolvimento a todos os


níveis. Na realidade o Brasil chegou a tornar-se a sede do governo e centro do poder.
O brasil foi dotado com instituições características de um pais livre a nível económico, cultura e
político-administrativo.

Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de reino, passando a chamar-se Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.

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A atitude das Cortes vintistas para com o Brasil

O mal-estar sendo em Portugal, levou as cortes constituintes a exigirem o regresso de D. João VI


a Portugal, o que aconteceu em julho de 1821 e readotou-se uma política de recolonização do
Brasil.
Para efeitos da medida de recolonização:

✓ Foram anuladas as medidas liberalizadoras tomadas por D. João VI;


✓ A atividade dos tribunais e instituições foi suspensa;
✓ Foi exigido o regresso do príncipe D. Pedro para completar os estudos na europa. D.
Pedro tinha ficado no brasil como regente;
✓ As autoridades locais foram submetidas a chefes militares nomeados por Lisboa.

Esta atuação antibrasileira das cortes vintistas contrariou a aceitação do movimento liberal
português.

O grito do Ipiranga
A resposta nacionalista foi imediata, que se traduziu no aumento da conspiração contra as lojas
maçónicas, apelando a presença de D. Pedro no Brasil.

A partir desse momento, a luta pela independência do Brasil foi irreversível:


✓ D. Pedro foi aclamado como defensor do Brasil e as leis das cortes metropolitanas não
entravam em vigor sem a sua retificação;
✓ Foi convocada a Assembleia Constituinte Brasileira para a elaboração de uma constituição;
✓ As tropas portuguesas que desembarcassem no brasil eram consideradas inimigas;
✓ Foi organizada a diplomacia brasileira para explicar as nações amigas as razoes da luta
pela independência.
A 7 de setembro de 1822, nas margens do rio Ipiranga, em São Paula, D. Pedro proclamou a
independência.

IV. As dificuldades de implementação do Liberalismo em Portugal

A conjuntura interna

• As divisões no seio da burguesia portuguesa

Em 1820, a burguesia nacional era um grupo minoritário e muito heterogénea quando a sua
formação ideológica e interesses.
Por outro lado, o radicalismo vintista, ainda que fosse idealista e verbalista, não deixa de provocar
a reação da burguesia mais conversadora e defensora de reformas mais moderadas.

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Os interesses da Burguesia rural e a independência do brasil provocou nas cortes uma sensação
de desleixo para a causa revolucionária.

• A fraca adesão popular

O radicalismo vintista provocou reações nas camadas populares que levou a engrossar as fileiras
da contrarrevolução.
✓ A prosperidade era adiada pela demora e ineficácia das medidas aprovadas pelas cortes;
✓ As poucas transformações beneficiavam sobretudo os interesses da burguesia;
✓ As autoridades eclesiásticas demonstravam-se favoráveis à revolução pois a população
era profundamente católica;
✓ Os militares e funcionários públicos demonstravam o descontentamento pela não melhoria
da sua condição socioeconómica.

A conjuntura externa
A conjuntura internacional não ajudou a consolidar a revolução portuguesa.

• A ação da Santa Aliança em Portugal

Portugal confrontou-se com a oposição europeia conservadora que realizou bloqueios comerciais,
de forma a provocar um isolamento político do país e assim conseguir apoiar as forças
contrarrevolucionarias que se preparavam para entrar em ação.

• A ambiguidade da posição inglesa

As hostilidades às forças militares britânicas não pôs em causa a aliança entre Portugal e
Inglaterra.

Todavia, as autoridades inglesas não gostaram da forte presença vintista na economia


portuguesa e brasileira, conseguidas no tratado de 1810 que o novo governo pretendia rever.
Por seu lado, os revolucionários vintistas ficaram desagradados com o apoio que a Inglaterra deu
à independência do Brasil.

A reação conservadora

A conjuntura vivida favorecia o crescimento absolutista dentro das fronteiras.


Os defensores da nova ordem criaram o partido constitucional ou liberal e os que pretendiam as
instituições do Antigo regime criaram o partido realista ou absolutista.

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O partido realista ou absolutista foi criado em torno da rainha Carlota Joaquina e do príncipe D.
Miguel que se recusaram a jurar a constituição.

• A Vila-Francada

Em 1823, a rebelião levada a cago por D. Miguel, levou dois regimentos dirigirem-se para a
fronteira para defender o reino de uma possível invasão espanhola, devido aos triunfos
absolutistas em Espanha.

A revolta fracassou com a intervenção de D. João VI, que aceitou algumas cedências como:
✓ A suspensão da constituição de 1822, e a redação de uma nova lei fundamental;
✓ Remodelação do governo que passou a integrar liberais moderados;
✓ Nomeou D. Miguel generalíssimo e comandante-chefe do exército português.

• A Abrilada

As medidas tomadas não satisfizeram complemente o caracter extremista dos absolutistas.


A 30 de abril de 1824, ocorreu em lisboa uma conspiração, com o objetivo de obrigar o rei a
abdicar em favor da rainha D. Carlota Joaquina.
Contudo a rebelião de D. Miguel terminou com a intervenção do corpo diplomático em lisboa que
exonerou o príncipe da sua função de generalíssimo e foi condenado ao exilio.

A crise política e económica do reino e as divisões no seio do movimento vintista, levou o rei a
tomar algumas medidas de feição absolutista. A redação da nova constituição foi suspensa.

V. A Carta Constitucional de 1826 e o cartismo


• O problema da sucessão
À morte de D. João VI, em 1826, levou com problemas de sucessão, pois o sucesso D. Pedro foi
aclamado imperador do Brasil e por ter declarado a independência do Brasil é acusado do crime
de lesa-pátria e de se tornar estrangeiro.
A alternativa dizia respeito a D. Miguel, que contava com muitos apoios absolutistas.

Mas D. Miguel tinha contra si os liberais do reino de Portugal.


D. Pedro solucionou o problema, declarando-se rei de Portugal e abdicando em favor da sua filha
D. Maria da Glória, com a condição de Portugal aceitar uma carta constitucional e assim negociar-
se o casamento da princesa e do seu tio D. Miguel, na qual seria instituído como regente do reino,
até D. Maria da Glória atingir a maioridade.

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• A Carta Constitucional

Assinada em 29 de abril de 1826, no brasil, a carta constitucional tinha o compromisso de


preservar a soberania nacional e recuperar a antiga dignidade do rei, bem como os seus poderes.
A carta constitucional era igual a uma constituição, com a exceção de que não era aprovada por
uma Assembleia constituinte democraticamente eleita, mas sim pelo rei. Ser elaborado e proposta
à Nação pelo Monarca.
A solução proposta por D. Pedro IV, trouxe alterações no poder político:

✓ Reitera a separação de poderes tripartida mais o poder moderador que era exercido por o
rei;
✓ O poder legislativo continuava a pertencer às cortes e com necessidade de aprovação pelo
rei e passa a ter duas câmaras. Camara baixa – eleita temporariamente (camara dos
deputados), constituída por cidadãos com rendimentos anuais mínimos de 100 mil reis;
Câmara alta – (camara dos pares), membros da alta nobreza e do alto clero, nomeados
pelo rei a título permanente e hereditário;
✓ O poder executivo era exercido pelos ministros do rei;
✓ O poder judicial é independente do poder político e assenta em juízes e jurados;
✓ Os direitos dos cidadãos continuam presentes, no entanto remetidos para o fim do
documento;
A carta constitucional pôs fim à revolução vintista e deu origem a uma nova corrente liberal – o
cartismo

A Guerra Civil
D. Miguel jurou a carta constitucional e a 22 de fevereiro de 1828 é aclamado rei, junto ao rei Tejo
pelos partidários do absolutismo.
Conflitos entre liberais e absolutistas levou ao lançamento de uma violenta guerra civil.

• A deflagração do conflito

Apesar de D. Miguel aceitar a condição de regente e ser fiel a D. Pedro, D. Maria II e à carta
constitucional, demonstrou sinais evidentes que querer exercer segundo princípios do
absolutismo.

Assim, em junho de 1828, proclamou-se rei absoluto:


✓ Dissolveu as cortes e convocou nos moldes tradicionais – clero, nobreza e povo;
✓ Decretou a nulidade dos direitos de D. Pedro e da carta constitucional;
✓ Iniciou uma feroz perseguição aos liberais que foram obrigados a fugir para o estrangeiro.
Muitos foram presos, torturados e executados.

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Perante o restauro do absolutismo, o país entrou num clima de guerra civil.

• A reação de D. Pedro IV

Em 1831, D. Pedro abdicou do trono do brasil para o seu filho, e veio para a europa para
organizar um exército para intervir em defesa dos direitos da rainha D. Maria II.
Conseguiu apoio de movimentos liberais – francês e inglês e um grupo de fiéis constitucionalistas.

Em julho de 1832, desembarcou no Porto, sem resistência, pois a maioria das forças absolutistas
encontrava-se em Lisboa.
Para angariar adeptos da sua causa, D. Pedro prometeu à população:

✓ Assumir o poder até a sua filha, D. Maria II, atingir a maioridade;


✓ Repor em vigor a carta constitucional e convocar eleições para as cortes;
✓ Respeitar a vida e bens da população civil;
✓ Empreender uma política de pacificação no rei, ser tolerante com os absolutistas;
✓ Recompensar todos os que aderissem à sua causa.

• O triunfo dos liberais

D. Pedro consegue importantes apoios junto da população civil.


Promove diligencias diplomáticas internacionais para reconhecer a sua causa pela França e
Inglaterra.
D. Miguel retirou-se para Évora, devido ao fim do conflito com a sua derrota, onde D. Pedro lhe
impõe um acordo para o fim da guerra civil – a Convenção de Évora Monte – 26 de maio de 1834.

D. Miguel foi abrigado a sair do país e nunca mais voltar ao reino.


O liberalismo triunfou, mas dentro da causa liberal havia lutas políticas entre defensores da
constituição (vintistas) e os defensores da carta constitucional (cartistas) até 1851.

O novo ordenamento político e socioeconómico (1834-1851)

Com a vitória dos liberais em Portugal, entre 1834 e 1836, a carta constitucional vingou e os
liberais cartistas consolidaram as suas propostas políticas.

I. A importância da legislação de Mouzinho da Silveira


Mouzinho da Silveira, como grande defensor da Carta Constitucional, tinha como objetivo abolir
de vez as estruturas do antigo regime.

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A nível socio económico, criou legislação para o combate aos privilégios e obrigações de índole
feudal, que continuavam a existir e atrasavam o desenvolvimento do reino:

✓ Libertação da terra – extinção dos pequenos morgados e capelas;


✓ Extinção do dízimo eclesiástico e outras obrigações à igreja;
✓ Direito do trabalho – condenação de todos os obstáculos ao trabalho;
✓ Liberdade individual – liberdade de pensamento, ensino, defesa do direito à propriedade e
garantia da respetiva.

Com o objetivo de liberalizar o mercado externo e interno:


✓ Acabou com as portagens na circulação de mercadorias;
✓ Reorganizou a alfândega e aboliu os encargos ficais sobre as exportações;
✓ Revogou os privilégios das companhias dos vinhos do alto douro.

Com o objetivo de modernizar as estruturas administrativas:


✓ O país foi divido em províncias, comarcas e conselhos;
✓ Eliminou a justiça privada (foros) e todos os cidadãos passaram a ser iguais perante a lei.

Enquanto ministro da fazenda:


✓ Aboliu o sistema de tributação local – exercido pela nobreza e o clero;
✓ Instituiu um sistema de tributação nacional – uma rede de funcionários do estado para
cobrança.

II. O projeto setembrista

Houve um descontentamento nas camadas populares com os governos cartistas, acusando os


governos de corrupção e favorecerem somente a alta burguesia, assim reclamavam o regresso
aos princípios revolucionários do vintismo.
O governo cartista acabou por se demitir, e D. Maria II acabou por nomear novo governo de
princípios vintistas.

• A Constituição de 1838
O governo setembrista suspendeu a carta constitucional e repôs em vigor a constituição de 1822.

Contudo, com os protestos dos cartistas foi redigida uma nova constituição, que ficou conhecida
por Constituição de 1838 e foi jurada pela rainha no mesmo ano.
A constituição embora apresentasse o radicalismo democrática da constituição de 1822,
dispunham o caracter conservador da carta constitucional.
Continuou a haver um sistema Bicamarário, ambas são eleitas por tempo limitado e pelo povo.
Acabou-se com o poder moderador (que pertencia ao rei).
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• As principais medidas do Governo setembrista

O governo setembrista tentou medidas inspiradas nas doutrinas protecionistas, com um


considerável desenvolvimento industrial, para satisfazer a burguesia urbana.
Passos Manuel, ministro do reino, foi o principal mentor da tentativa industrializadora.

✓ Publicou a pauta Aduaneira de 10 de janeiro de 1837 – travar a entrada de produtos


estrangeiros;
✓ Fomentou a produção nacional – Instalação de novas unidades industriais, com benefícios
ficais;
✓ Promoveu a exploração das colonias africanas e fomentou o comercio colonial – para
suprimir a perda do mercado brasileiro;
✓ Realizou uma profunda reforma da educação – criação de liceus nas capitais de distrito e
instituições com o objetivo de formar técnicos fabris e especializados;
✓ Fomentou o associativismo entre os industriais – para em conjunto discutirem e resolverem
os problemas do setor;
✓ Facilitou a importação de técnicos e tecnologia estrangeira – em simultâneo incentivou o
espírito do invento nacional;
✓ Em 1838, realizou a primeira exposição industrial portuguesa, para divulgar
internacionalmente a produção nacional.

• O fracasso do Setembrismo

Estas medidas tiveram efeitos positivos no desenvolvimento e modernização do setor produtivo


nacional:

✓ Aumentou o número de mecanização;


✓ Iniciou-se o processo de produção em serie;
✓ Surgiram aglomerados indústrias nos distritos mais ativos;
✓ Surgiram novos setores produtivos.

Contudo, o setembrismo fracassou porque faltavam em Portugal as infraestruturas que facilitavam


o processo de modernização económica:
✓ Faltava um forte núcleo empresarial – grandes capitalistas na grande indústria;
✓ Não se investiu nas comunicações – para dinamizar o comércio;
✓ Inexistência de poderosas instituições de crédito – para financiar a modernização;
✓ Fraca qualidade dos produtos – era difícil impor no mercado internacional e devido ao
contrabando, entravam no reino produtos a preços mais baixos;
✓ Alguns grandes investidores preferiam a abertura comercial – as medidas protecionistas
impediram a importação de matérias primas;
Uma crise política conduz ao fim do movimento setembrista e abre caminho ao triunfo cartista em
1842, levado acabo por um o ministro da justiça – Costa Cabral, que restabeleceu a Carta
Constitucional.
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III. O projeto Cabralista

Cabralista foi o nome dado ao Governo encabeçado por Costa Cabral.


Cabralismo foi o nome do período entre 1842 e 1851.
Costa Cabral respondeu aos anseios da alta burguesia de regressar ao poder, juntando alguns
setores da baixa e média burguesia que estavam descontentes com o setembrismo.
O governo cartista continuou o processo de modernização industrial setembrista, principalmente
na modernização das vias de comunicação e fomente de obras públicas.

O governo cartista suspende o protecionismo setembrista e adota o modelo livre-cambista.


Portugal abre-se aos capitais estrangeiros.
O capitalismo internacional provocou uma crise no reino que se fez sentir de 1846-47, que levou o
reino a quase uma guerra civil entre os apoiantes do cabralismo e outras coligações políticas.

A revolta da Maria da Fonte de 1846 e a Patuleia nos finais de 1846, foram manifestações do
ambiente de guerra civil.
Em maio de 1851, o segundo governo de Costa Cabral cai, e iniciou-se um período de acalmia
política e de prosperidade económica, sob vigência da carta constitucional.

Prolongaram-se até ao derrube da monarquia, a 5 de outubro de 1910.

Unidade 5
O legado do Liberalismo na primeira metade do século XIX
O Estado como garante da ordem liberal
I. A ordem liberal:

Devido às revoluções liberais, no fim do século XVIII (18), o século XIX (19) confirma o fim do
Antigo Regime e a transição para a idade Contemporânea.

i. Uma nova ordem social


A nova ordem social valoriza os direitos e os interesses do indivíduo. Passa pelo reconhecimento
de determinados direitos do Homem, considerados como naturais à nascença.

São eles o direito à liberdade, à igualdade e à segurança:


✓ Livre exercício de pensamento e da sua expressão – sem opressão. Exercício do livre-
arbítrio;
✓ As diferenças sociais são definidas pelo mérito individual, pois todos são iguais perante a
lei no ato do nascimento e a liberdade de oportunidades;

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✓ Defesa da ordem e da disciplina – para garantir a segurança dos indivíduos e a


propriedade privada.

Assim, resulta o fim da sociedade de ordens, e institui-se uma sociedade de classes definida pela
condição económica.

ii. A nova ordem política


A nova ordem política resulta do fim das monarquias absolutas e o início de formas de poder
constitucionais e parlamentares.

• O princípio representativo do poder

O exercício dos monarcas hereditários ou presidentes temporariamente leitos, são feitos no


respeito pela vontade da nação, a quem têm de prestar contas.

A soberania nacional, segundo o contrato social (Rousseau), é celebrada entre os governantes e


a nação. O povo é o primeiro detentor do poder.

• O exercício representativo do poder


Num estado moderno a soberania não pode ser feita de forma direta, logo existe a forma
representativa na qual os cidadãos elegem um corpo de representantes que se organizam numa
assembleia, de acordo com os princípios constitucionais.
Essa assembleia em funções, discute, propõe e aprova medidas, que tem de ser autorizadas pelo
chefe de estado e a nação tem de as cumprir.

O parlamento é a instituição onde se exerce o poder legislativo acima mencionado.

• A doutrina da separação de poderes


A repartição do poder de forma equilibrada por os diferentes órgãos de soberania permite evitar
os modelos absolutistas.

Os três poderes clássicas são o legislativo, o executivo e o judicial e devem ser executados por
diferentes órgãos independentes uns dos outros.

A separação de poderes nem sempre foi bem realizada, as repúblicas parlamentares, o poder
legislativo domina o poder executivo, nas repúblicas presidencialistas, o poder executivo domina
o poder legislativo.
Atualmente o equilíbrio é conseguido através das repúblicas semipresidencialistas.

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Módulo 5

• A secularização das instituições

Os liberais impuseram a separação da igreja e do Estado e pela secularização das respetivas


funções, como a educação e a assistência, que anteriormente eram realizadas pela igreja.
A defesa do estado laico este na origem de algumas manifestações anticlericais que defendiam
uma mentalidade laica e dominada pelos valores materiais.

• O cidadão, ator político

A laicização da vida e a desvalorização das virtudes religiosas, abriu caminho para as virtudes
cívicas de um homem livre.

O dever de os cidadãos intervirem ativamente na vida pública do seu estado.


✓ Serem candidatos a cargos governativos;
✓ Participarem nos processos eleitorais para elegerem os seus representantes;
✓ Vigiarem o poder político, para criticar e denunciar tudo o que considerem ilegítimo.

iii. A nova ordem económica

O princípio da liberdade e das leis naturais de regulação de mercado são um privilégio da nova
ordem económica – liberalismo económico.

• O direito à livre iniciativa e à livre concorrência.

Os direitos e as liberdades individuais refletem-se na livre iniciativa e na livre concorrência.


Foi na Inglaterra que Adam Smith teorizou o Liberalismo económico.

O progresso económico segundo os liberais depende da liberdade detida pelos indivíduos para
produzir riqueza através do trabalho e consequentemente a multiplicarem através da livre
concorrência e acumulares riqueza sem limitações políticas. Assim a prosperidade do estado será
maior de acordo com o enriquecimento pessoal dos cidadãos.

• A ordem natural

Os pensadores liberais defendem que a economia é dirigida por uma “mão invisível” que
autorregula o sistema económico.
Constitui as ferramentas do mecanismo:

✓ O interesse individual – a produção de bens corresponde à necessidade dos cidadãos;


✓ A Lei do mercado – (lei da oferta e da procura), o preço de um bem sobe quando há pouca
oferta e desce quando há muita oferta.
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Módulo 5

II. Os limites da universalidade dos direitos humanos:


i. As contradições do Liberalismo

A liberdade, igualdade e fraternidade foram os princípios que guiaram a burguesia a litar contra o
Antigo regime, contudo:
✓ A igualdade – qualquer um pode ascender pela riqueza, contudo o critério deixa de ser à
nascença, mas fim pela fortuna pessoal como novo critério de diferenciação social;
✓ A liberdade – pensamento e expressão só pode ser usada por quem dispõe de estudos. A
liberdade associativa diz respeito a associações políticas dominadas pela burguesia na
qual dirige o estado em função dos seus interesses;
✓ A convivência fraterna – para estabelecer a ordem e segurança das pessoas, bem como
os seus bens. A ausência de ordem e disciplina provoca agitação social e põe em causa a
ordem burguesa.
Assim verifica-se que a ordem liberal, foi uma ordem liberal burguesa e que o estado foi
condicionado a garantir a democracia burguesa.

• Do liberalismo burguês às democracias burguesas


O exercício do poder deixa de ser à nascença e passa a ser ligado à posse de propriedades.

O sufrágio não era universal, mas sim censitário, o exercício dos direitos cívicos eram reservados
a quem passassem um imposto ao estado de acordo com a sua fortuna.
A soberania nacional, contudo, não era mais do que a soberania burguesa.

Assim, o estado liberal é dominado pela burguesia proprietária, que garante a ordem social
burguesa, e que institui um círculo vicioso de riqueza e prestígio social.

ii. A problemática da abolição da escravatura


A luta a favor da abolição da escravatura teve lugar na Inglaterra devido à ação de organizações
religiosas, que por questões morais denunciavam o caracter desumano do trabalho escravo.

As posições abolicionistas ganharam força com as doutrinas iluministas. Pois o princípio “os
homens nascem livres e iguais” apresentava-se uma contradição relativa à escravatura.
Às pressões filosóficas juntaram-se os economistas liberais, que negaram o trabalho escravo,
pois a capacidade produtiva era conseguida com homens livres.

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Módulo 5

• O triunfo do abolicionismo

Em 1834, em Inglaterra, a escravatura foi abolida.


Em França, em 1794, a escravatura foi abolida, contudo foi restabelecida em 1802 e abolida de
vez em 1848.

Nos Estados Unidos, devido a um antagonismo entre os estados do Sul e os estados do Norte,
deflagrou uma guerra civil, a guerra da sucessão, na qual os estados do Sul defendiam a divisão
do estado americano. A guerra acabou com a confirmação da abolição em 1865.

Em Portugal, foi um dos primeiros promotores do tráfico negreiro, contudo em 1869, durante o
reinado de D. Luís, a escravatura e o tráfico negreiro foram abolidos.

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