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Unidade 4 – A Implementação do Liberalismo em Portugal

4.1 Antecedentes e conjuntura da Revolução Liberal Portuguesa (1807 – 1820)

Ao abrir do século XIX Portugal apresenta características do Antigo Regime que sopravam
fortemente na França revolucionária. Príncipe D. João (regente de D. Maria I com estado de
saúde alterado) governava um país:

1. País profundamente arraigado ao Antigo Regime.


2. Atividades primárias predominavam.
3. Apesar das obrigações senhoriais, condenavam o campesinato à miséria.
4. A ação repressiva da Inquisição, da Real Mesa Censória e da Intendência-Geral da
Polícia.

Nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial (ligada aos tráficos com o Brasil) e
uma franja de intelectuais frequentadores de cafés e botequins ansiavam pela mudança.

Alguns constituíam terreno fértil para a propagação dos ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade provenientes da França. Muito também se filiavam em lojas Maçónicas e
pugnavam pelo exercício da liberdade política económica pelo fim dos privilégios sociais, dos
constrangimentos religiosos, do fanatismo e, em suma, da tirania.

Maçonaria: sociedade secreta, cujos membros cultivam os princípios da liberdade, igualdade,


fraternidade e aperfeiçoamento intelectual, é uma associação iniciática e filosófica.

Uma conjuntura favorável lançou o país no caminho das transformações liberais, permitindo
materializar as aspirações de mudança.

Contexto:

Napoleão governa na França, com política imperialista (de conquista e expansão) e quer
acabar com o domínio económico da Inglaterra. Monarquia controlada por Napoleão.

A França domina a Espanha em termos políticos.

Portugal é aliado de Inglaterra.

4.1.1 As invasões francesas e a dominação inglesa em Portugal

Efeito das invasões francesas

Nos finais de 1806, com o objetivo de abater o poder da Inglaterra Bonaparte (imperador
dos Franceses), decretou Bloqueio Continental - impedir que os países europeus façam
comércio com a Inglaterra.

O príncipe regente D.João, adotou uma política ambígua, e não aplicou o bloqueio sendo
fiel à sua aliada Inglaterra porém, também não queria hostilizar os franceses. Esta atitude
custou o país, de 1807 em 1811, as três invasões napoleónicas, assim a família Real
embarcou para o Brasil que de colónia passou a sede de governo, que permitiu a Portugal
manter a independência do Estado.
As Invasões Napoleónicas:

A primeira invasão liderada pelo General Junot 1807- 1808, chega até Lisboa, no entanto,
não conseguiu fazer frente às tropas anglo-portuguesas comandadas pelo General
Wellesley e derrotou os Franceses nas batalhas da roliça e Vimeiro em 1808.

A segunda invasão é liderada pelo Marechal Soult em 1809 e chega até ao Porto por
Espanha, Galiza.

A terceira invasão liderada pelo Marechal Massena, de 1810, em 1811, chega até às linhas
de Torres Vedras. Sofre uma derrota por Wellesley que desenvolveu uma estratégia com
base nas linhas de Torres Vedras.

Estes 4 anos de guerra com França deixaram o país na miséria.

Consequências:

 A fuga da família real para o Brasil implicou o domínio político e económico da


Inglaterra.
 Destruição e de organização da produção económica (agricultura, o comércio e a
indústria foram afetados e o património nacional sofreu importantes perdas em
consequência do saco de mosteiros, igrejas e palácios).
 A abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional (1808), seguida do
tratado comercial com a Inglaterra --» Ingleses passaram a importar e exportar de
e para o Brasil, acumulando grandes lucros… a burguesia comercial portuguesa vê-
se afastada dos negócios.

Corte ausente, ingleses presentes

D. João VI prolongou até 1821 a sua permanência no Brasil (proclamado reino em 1815,
para grandes descontentamento dos portugueses que sofreu a humilhação da presença
inglesa).

O Marechal Beresford encarregue de reorganizar o exército e organizar a defesa do reino


contra os Franceses tornou-se comandante-chefe das tropas portuguesas, os seus poderes
chegaram a sobrepor-se aos da Regência. Beresford exerceu um rigoroso controlo sobre e
o Estado e a economia, reativou a Inquisição e encheu as prisões de suspeitos de
jacobinismo (liberais). A repressão de Beresford (tinha o poder do rei e aplicava de forma
violenta), atingiu particular crueldade em 1817. Quando o General Gomes Freire de
Andrade e mais uns oficiais do exército foram executados por suspeita de envolvimento
numa conspiração maçónica (que se manifestava contrária à presença inglesa).

Beresford viaja para o Brasil, onde consegue poderes mais alargados, mas com a revolução
de 1820 é demitido das suas funções não lhe sendo permitido desembarcar em Portugal
Continental.

O agravamento da crise
Segundo a Junta Governativa em 1820, as despesas ultrapassavam as receitas, a
agricultura e economia definhava enquanto o comércio decrescia. Para esta situação
contribuíram a abertura dos portos do Brasil (1808), ao comércio internacional (isto
impunha o fim do monopólio colonial), assim como, o tratado de comércio de 1810 com a
grande Grã Bretanha (espécie reedição do Tratado Methuen).

A perda do exclusivo colonial com a abertura dos portos do Brasil, revelou-se


desestruturante para a economia portuguesa. Ao abrigo do pacto colonial, a grande
colónia brasileira abastecia, a bom preço, a metrópole portuguesa de alimentos (arroz,
café, açúcar) e matérias-primas (algodão, tabaco, madeira), muitos deles, depois,
reexportados; constituía ao mesmo tempo um mercado garantido de escoamento para a
produção manufatureira nacional.

Privada de importantes tráficos, em consequência da conjuntura, a burguesia portuguesa,


sofreu sérios prejuízos.

A rebelião em marcha

A agitação revolucionária da burguesia devido às perdas económicas muito avultada, levou


a uma rebelião.

No Porto, centro da atividade mercantil, Manuel Fernandes Tomás, fundou em 1817 uma
associação secreta - Sinédrio. Com princípios do liberalismos, cujos membros pertenciam
na quase totalidade à Maçonaria. Atento à marcha dos sucessos políticos, na Espanha, o
Sinédrio propunha-se intervir logo que a situação se revelasse propícia, o que veio,
efetivamente, a acontecer em 1820 com a Revolução Liberal na Espanha.

Em janeiro deste ano (1820), na Espanha, uma revolução liberal contra a monarquia
absolutista restaurou a Constituição de 1812 que deixara de vigorar após a reação
absolutista de 1814. A Espanha tornou-se centro de uma vasta rede de agitação política e
Portugal passou a receber muita propaganda política liberal (panfletos, edições traduzidas
da Constituição espanhola).

Em Março de 1820 Beresford embarcou para o Rio de Janeiro a fim de solicitar ao Rei
dinheiro para pagamento das despesas militares e mais amplos poderes para reprimir a
crescente onda de agitação. A ausência do Marechal favoreceu a ação de Sinédrio – 24 de
agosto de 1820.

4.2 A Revolução de 1820 e as dificuldades de implantação da ordem liberal (1820-1834)

4.2.1 O vintismo (1820-26)

O triunfo da Revolução vintista

O movimento sucedido no Porto, a 24 de agosto de 1820, foi essencialmente um levantamento


militar com larga participação da burguesia comercial (negociantes), de magistrados e de
proprietários fundiários de ascendência aristocrática. Esta união de interesses permitiu o
sucesso do acontecimento e explica o facto de o ressentimento contra a presença britânica
tanto afetar os militares portugueses, superados nas promoções, como a burguesia comercial
e os proprietários dependentes do tráfico e do escoamento do vinho.

Os revolucionários (António da Silveira Sepúlveda, coronéis Sepúlveda e Cabreira, burgueses


Manuel Fernandes, Tomás José Ferreira Borges e José da Silva Carvalho) vieram fazer parte da
Junta Provisional do Governo do Supremo Governo do Reino em de setembro de 1820.

Manuel Fernandes Tomás redigiu o “Manifesto aos Portugueses” no qual se davam conhecer
os objetivos do movimento:

 Respeito pela monarquia (mas não absoluta) e catolicismo: não eram contra a religião,
mas sim os poderes que o Clero detinha.
 Apelar à aliança com o Rei, com as forças sociais representadas nas cortes. (algo que
assembleia do absolutismo deixara de reunir)
 Pretendiam convocar novas Cortes para redigir uma Constituição para Portugal,
defensora da autoridade régia e dos direitos dos portugueses
 Implementação de um Governo justo e eficaz

A revolução de 24 de Agosto encontrou adesão imediata por todo o país.

Em Lisboa, a 15 de Setembro, um segundo levantamento militar, apoiado por burgueses e


populares, expulsou os regentes e constitui um governo interino.

A 28 de Setembro, os governos do Porto e de Lisboa, fundiram-se na nova Junta Provisional do


Supremo Governo do Reino.

O novo governo exerceu funções durante 4 meses, conquistando a unanimidade do país até ao
Brasil – orientou politica externa. Teve como principal tarefa a organização de eleições para as
Cortes Constituintes (dezembro de 1820), que iniciaram os trabalhos a 24 de janeiro de 1821.

Como a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino reconheceu, a revolução dentista


triunfou sem derramamento de sangue (pacífica).

O vintismo saiu vencedor e fora aceite sem grande resistência, incluindo na Madeira, nos
Açores, nas colónias em África e também no Oriente e no Brasil.

A Constituição de 1822 --» mãe de todas as outras Constituições

A Constituição de 1822, elaborada pelos Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da


Nação Portuguesa. É um longo documento de 240 artigos baseado na Constituição espanhola
de 1812 (Constituição de Cádis) E pelas constituições francesas de 1720, 1793 e 1795.

 Reconhece os direitos e deveres dos indivíduos.


 Garante a liberdade, a segurança, a propriedade e a igualdade perante a lei.
 Afirma a soberania da nação: Eleição direta de deputados.
 Aceita a Independência dos poderes legislativos, executivo e judicial. Concessão ao
poder real como sendo apenas o poder executivo limitado por instituições do tipo
República.
 Não reconhece qualquer prerrogativa a nobreza e continuam ricas, mas vão perdendo
o seu dinheiro. Têm que respeitar os mesmos deveres que o resto da população.
Submete poder real a supremacia das cores legislativas.
 Garantia a separação de poderes, a liberdade de expressão, o acesso aos cargos
públicos com base na competência e soberania nacional.

Características gerais:

Muito avançada para a sua época. Monárquicos e religiosos criam uma Constituição mais
moderada e menos radical. Esta ação radical é conhecida por vintismo.

Câmara única, ao contrário do sistema bicameral inglês.

Existência de uma tendência moderada respeitadora da monarquia e do catolicismo que se


inclinava para a adoção de uma Constituição conservadora. Polémicas desencadearam-se em
torno da questão religiosa, da estrutura das câmaras e do veto régio.

Religião: Os deputados conservadores entendiam que o catolicismo deveria ser a única religião
permitida no Reino, ao mesmo tempo que advogavam uma censura prévia aos escritos sobre a
igreja e a religião. Esta opinião viu-se ultrapassada pelos radicais que fizeram vigorar o
princípio de que a religião católica era a religião oficial dos portugueses e não consentiu à
censura dos escritos eclesiásticos. - Apesar de não estar consagrada na lei a liberdade religiosa
para os portugueses, os estrangeiros podiam realizar livremente os respetivos cultos.

Estrutura das Camâras: Conservadores defenderam o sistema bicameral inglês, uma Câmara
de Deputados do Povo e uma Câmara alta que representaria as classes superiores.

Porem vigorou a solução oposta, uma Câmara única, imposta pelos radicais.

Veto: solucionado a contento dos radicais: quem não concordasse com uma lei o monarca
poderia remetê-lo ao Congresso para efeito de segunda votação, mas esta seria definitiva e de
aceitação obrigatória para o rei.

Precariedade da legislação vintista de carácter socioeconómico


Embora a elaboração da Constituição e a instauração do primeiro sistema de governo
parlamentar tenha sido o fundamental encargo, as Cortes legislaram em muitos outros
domínios, propondo grandes reformas para eliminar as estruturas do Antigo Regime.

Medidas tomadas pelas Cortes:

 Extinção da inquisição e da censura prévia.


 Liberdade de imprensa e de ensino.
 Fundação do primeiro banco português, Banco de Lisboa.
 Transformação dos bens da coroa em bens nacionais.
 Fim do pagamento da dizima a Igreja.
 Encerramento, numerosos mosteiros e conventos.
 Eliminação da justiças privadas, bem como dos privilégios judiciais
 Reforma dos forais e das prestações fundiárias.

Reforma dos forais: pretendeu libertar os camponeses dos vínculos de cariz senhorial
procurando solucionar o atraso da agricultura.

Foram tomadas medidas liberais, mas nem sempre de forma uniforme (plena de contradições).
Quanto à atuação socioeconómica, a legislação vintista manifestou-se precária.

Na composição socioprofissional, as Cortes Constituintes representavam quase


exclusivamente os interesses da burguesia rural, pois na generalidade, os membros das
profissões liberais eram proprietários de terras.

4.2.2 A desagregação do Império Atlântico: a Independência do Brasil

A caminho da separação

De 1808 a 1821 D. João VI e a corte residiram no Brasil, transformada em sede da monarquia


portuguesa e elevada a reino em 1815. A antiga colónia acusou um progresso económico,
político e cultural. Com os seus portos abertos à navegação estrangeira e dotado de
indústrias, banco de uma nova divisão administrativa, tribunais, etc.

A atuação das Cortes Constituintes

A Revolução liberal de 24 de agosto de 1820 forçou o regresso D. João VI a Portugal onde


chegou a 3 de julho do ano seguinte. Questionado pela opinião pública brasileira a manter-se
na América, o monarca sentiu inevitabilidade de uma Independência próxima.

A Independência veio a verificar-se em 7 de setembro de 1822 e teve com motivos próximos a


política antibrasileira das Cortes Constituintes de Portugal, com objetivo de restituir o Brasil à
condição de colónia.

D. Pedro, que permaneceu no Brasil num ambiente de elevada tensão, declarou a


independência nas margens do Ipiranga, em São Paulo, a 7 de setembro de 1822. Mas só viria
a ser reconhecida por Portugal em 1825.
A separação do Brasil representou especialmente um golpe para os revolucionários vintistas.
Não só pôs em causa os seus interesses comerciais e industriais, como comprometeu a
recuperação financeira do país, fazendo crescer o descontentamento e a oposição.

4.2.3 A resistência ao liberalismo

A conjuntura externa desfavorável e a oposição absolutista

A revolução de 1820 deparou-se com várias dificuldades. Grandes potências procuravam


eliminar os vestígios da revolução francesa e efetivamente, em 1815, constituíram-se a Santa
Aliança entre a Rússia, Áustria e a Prússia (apoiantes de D. Miguel). Destinava-se a manter a
ordem política e evitar a disseminação dos ideais de liberdade, igualdade, individuais e dos
povos.

Logo a seguir, Quádrupla Aliança contou com a participação da Inglaterra e França (apoiantes
de D. Pedro) servia para reprimir vários movimentos nacionalistas.

Apesar dos vintistas terem declarado que não pretendiam subverter as instituições-base do
país (monarquia e religião católica), a nobreza e o clero mais conservadores encetaram a
contrarrevolução absolutista. Descontentes com o radicalismo da Constituição e prejudicados
pela abolição de antigos privilégios senhoriais, encontraram um apoio por parte da Rainha D.
Carlota Joaquina e do seu filho mais novo, o Infante D. Miguel.

A contrarrevolução eclodiu em 1823, quando dois regimentos saem de Lisboa rumo a Vila
Franca, mandados para defender a fronteira de um eventual ataque. Revoltaram-se em Vila
Franca com apoio de D. Miguel, com a intenção de libertar o rei e Nação dos radicais e dotar o
país de uma nova Constituição.

A revolta - Vila Francada - terminou quando o Rei D. João VI intimou o filho para se apresentar
e retomou o comando da situação. Ao mesmo tempo remodelou o Governo, entregando-o a
liberais moderados e propor se alterar a Constituição.

Em Abril de 1824, os partidários de D. Miguel prenderam os ministros do Governo e semearam


a confusão em Lisboa: proclamava haver conspirações para matar. Fez isto, no sentido de levar
o rei a abdicar e a confiar a regência, à sua esposa. Auxiliado pelo corpo diplomático de
Liberais, D. João VI conseguiu mais uma vez, dominar o golpe conhecido por Abrilada e
disciplinar o filho rebelde, que exilou em Áustria.

Abrilada: D. Carlota Joaquina e D. Miguel tinha um propósito que o Regime Absoluto fosse
novamente reposto.

No final de 1823 , polícia descobriu uma conspiração planeada pela rainha e filho para forçar
D. João VI a abdicar. A conspiração ficou malograda.
A Carta Constitucional e a tentativa de apaziguamento político-social

O falecimento de D. João VI, em 10 de março de 1826, agravou as tensões que


desestabilizavam a cena política dos últimos anos. O problema da sucessão não fora resolvido
pelo monarca falecido que o remeteu para um Conselho de Regência provisório presidido pela
sua filha, a Infanta D. Isabel Maria. (O filho sucessor deveria ser Pedro, mas era imperador do
Brasil e tinha colaborado na separação do Brasil e Portugal).

Mesmo assim, D. Pedro considerou-se o legítimo herdeiro da coroa portuguesa. No dia 29 de


abril de 1826, para tentar solucionar o conflito entre liberais e absolutistas, motivado pela
Constituição de 1822, D. Pedro vai outorgar e fazer jurar D. Miguel a nova lei fundamental do
Reino, a Carta Constitucional (mais moderada e conservadora que a Constituição).

A 2 de maio de 1826 abdicou dos seus direitos à coroa portuguesa à sua filha mais velha, D.
Maria da glória. Esta deveria casar (pelo papel) com o seu tio D. Miguel, que ao regressar a
Portugal, juraria o cumprimento da Carta Constitucional e assumiria a Regência do Reino de
Portugal.

A Carta Constitucional era um diploma outorgado pelos governantes, ao contrário das


constituições, que são aprovadas pelos representantes do povo. Obviamente houve uma
recuperação do poder real e dos privilégios da nobreza. A Carta de 1826 introduziu um número
de grandes interpelações antidemocráticas.

Inovações antidemocráticas:

 2 câmaras: Câmara dos Deputados eleita por sufrágio indireto, só tinham direito a voto
aqueles que tivessem rendimentos relativamente elevados (100000 réis). Câmara de
Paços, membros incluíam a alta nobreza, o alto clero, o príncipe real, eram nomeados
a título vitalício e hereditário.
 O rei tinha o poder moderador. Podia nomear os Pares, convocar as Cortes e dissolver
a Câmara dos Deputados nomear e demitir o Governo, suspender os magistrados,
conceder amnistias e perdões e vetar, a título definitivo, as resoluções das Cortes. Ao
contrário das constituições mais radicais, os direitos do indivíduo eram banidos para o
fim do diploma.

Ao ampliar os poderes do rei e da alta nobreza, com assento vitalício e hereditário nas cortes,
a Carta Constitucional, representa um manifesto retrocesso relativamente à Constituição de
1822.

A eliminação do vintismo não foi suficiente para derrotar a contrarrevolução absolutista,


novamente liderada por D. Miguel.
A Guerra Civil

Assim, D. Miguel é tornado regente, chega a Lisboa 1828 após ter jurado fidelidade à Carta
Constitucional. A sua chegada é acompanhada de manifestações antiliberais organizadas pelos
seus apoiantes. A Igreja continua defensora do absolutismo.

A sua adesão ao liberalismo revelou-se falsa e bateu uma repressão sobre os simpatizantes do
liberalismo.

Milhares de liberais fugiram para França e Inglaterra. Organizaram uma resistência e, a partir
de 1831, contaram com o apoio de D. Pedro, que abandonou o trono brasileiro e veio lutar
para a restituição da filha ao trono português.

Dirigiu-se aos arquipélagos, à Ilha Terceira, que recusava o absolutismo e assumiu a sua chefia
da Regência liberal, disposto a aniquilar a ilegalidade que o seu irmão impusera no país.

Mobilizando influências diplomáticas nas cortes europeias (países liberais como a França e
Inglaterra). D. Pedro conseguiu dinheiro, navios e técnicos com que levantou um pequeno
exército constituído por 7500 homens.

O desembarque das forças liberais deu-se em 1832, no Mindelo, cercada a cidade do Porto
viveu-se o episódio mais dramático da guerra civil entre liberais e absolutistas - o cerco do
Porto. A cidade é cercada por, provocando fome e uma epidemia.

Para aliviar o cerco, D. Pedro organizou uma expedição ao Algarve, destroçaram a esquadra
miguelista e tomaram em 1833 Lisboa, desmoralizados pelas deserções nas suas fileiras, pela
perda do apoio dos populares e pelo conjuntura externa disposta a favorecer a causa liberal na
Península Ibérica. Os absolutistas não encontraram mais força para continuar os combates.

As batalhas de Almoster e Asseiceira confirmaram a derrota de D. Miguel que assinou a


Convenção de Évora- Monte, documento de Rendição. E partiu definitivamente para o exílio.

O liberalismo constitucional instalou-se em Portugal com D. Maria II - D. Maria Glória.

4.3 O novo ordenamento político e socioeconómico (1832/34 – 1851)

Instala-se o cartismo durante quase 2 anos (1834-1836) até se dar revolução de Setembro, que
restaurou a Constituição de 1822 e cria a nova Constituição de 1838.

4.3.1 A ação reformadora da Regência de D. Pedro

Desde que assumiu a regência liberal nos Açores, a 3 de março de 1832, D. Pedro não poupou
esforços para que o cartismo reinasse.

Enquanto os liberais se batiam contra os absolutistas das frentes militares, o primeiro


Ministério Liberal promulgava as adequadas reformas económicas e sociais, administrativas,
judiciais e fiscais. A José Xavier Mouzinho da Silveira coube a autoria das grandes reformas
legislativas que consolidaram o liberalismo.
Importância da legislação de Mouzinho da Silveira: reformas

 Aboliram-se de vez os pequenos morgadios, os forais e os dízimos e extinguiram se os


bens da coroa e respetivas doações: pretendia disponibilizar mais terra e trabalho para
as massas rurais.

 A libertação da terra, fez-se acompanhar da libertação do comércio e, de um modo


geral, da eliminação de situações de privilégio na organização das atividades
económicas. Extinguiram-se as portagens e demais encargos sobre a circulação interna
de mercadorias. No que respeita ao comércio externo, diminuíram se os direitos de
exportação. Em 1883, publicou-se o comércio, o Código Comercial refletiu os princípios
de livre produção e circulação dos produtos: liberalismo económico.

 Organização administrativa: país ficou dividido em províncias, comarcas e concelhos


chefiados por perfeitos e perfeitos e provedores, todos eles funcionários de nomeação
régia.

 As reformas judiciais prolongaram se até 1835, dividiu-se o país em círculos judiciais,


depois chamados distritos de relação, estes em comarcas, por sua vez, divididos em
julgados e estes últimos em prévias.

Estas medidas resultam. Ao mesmo tempo que se eliminavam de vez as velhas justiças do foro
privado conseguia se a lei aplicada de forma igual para todos e reconhecia se o direito de
petição.

 As finanças mereceram uma especial atenção. Implicaram a eliminação do secular


sistema de tributação local. Através do qual parte dos impostos revertia a favor
nobreza e do clero e em seu lugar fazia um sistema de tributação nacional
devidamente centralizado. Criou-se o Tribunal do Tesouro Público para gerir impostos
e redistribuição do dinheiro.

Mouzinho da Silveira destruiu absolutismo, com a razão das leis, demoliria os particularismos
e privilégios do antigo regime, ajudando a construção do Estado e da sociedade
verdadeiramente modernos.

Outras reformas

 Religião: o vintismo legislou contra o clero e, em particular, contra as ordens religiosas.


O facto de muitos mosteiros terem apoiado ativamente o absolutismo miguelista
permitiu ao Ministério D. Pedro efetivar uma série de medidas tendentes à eliminação
do clero regular.
4.3.2 Os projetos setembrista e cabralista

A Revolução de Setembro de 1836

A vitória dos Liberais em 1834 não significou a pacificação do país. Após a guerra civil, e vitória
do liberalismo, verificou-se uma rivalidade entre vintistas e cartistas.

Protagonizada pela pequena e médias burguesia, (caráter civil, populares e militares


constituíram a base de apoio social que contou também com apoio da burguesia industrial
urbana e dos pequenos e médios comerciantes insatisfeitos por favorecimento que os
governos cartistas tinham dado alta burguesia) verificando, depois a adesão militar.

A revolução de Setembro reagiu tanto aos excessos de miséria em que a guerra civil.
Mergulhara o país como a atuação do Governo cartista. Este era acusado de corrupção e de
apenas defender os interesses de alta burguesia.

Em lugar da Carta Constitucional, apoiada pelos cartistas, os vintistas propunham o regresso da


Constituição de 1822, aprovada pelas cortes constituintes.

A 9 e 10 de setembro de 1836, com chegada a Lisboa dos deputados eleitos no Norte para as
Cortes. Deu-se uma revolta de apoio ao vintismo.

Sentindo-se faltar-lhe o apoio do povo e o comprometimento da guarda nacional. A Rainha D.


Maria II, acabou por entregar o poder aos radicais.

Atuação do Governo Setembrista

O novo Governo declarou-se mais democrática, empenhando-se em valorizar a soberania da


nação e reduzir a intervenção régia. Para o efeito, preparou-se um novo diploma
constitucional - a Constituição de 1838 - funcionou como compromisso entre o espírito
monárquico da Carta de 1826 e o radicalismo democrático da Constituição de 1822.

A orientação económica do Setembrismo procurou corresponder aos propósitos de


desenvolvimento nacional da pequena e média burguesia, decididas a libertar o país da tutela
estrangeira da Inglaterra. A pauta protecionista de 10 de janeiro de 1837, marcou o arranque
da industrialização portuguesa, obrigava ao pagamento de direitos todos os produtos que
entrassem nas alfândegas da metrópole e ilhas adjacentes.

A perda do mercado brasileiro, levou à exploração colonial em África. Continente, até então
utilizado como reservatório de mão-de-obra escrava.

Durante a vigência dos sete governos setembristas, a sua governativa e a sua obra legislativa
ficaram marcadas por importantes reformas.

 No Ensino: Criação de Escolas Médico-Cirúrgicas, Escolas Politécnicas no Porto e em


Lisboa, e os conservatórios de artes e ofícios. Inaugurou-se o ensino liceal, no entanto,
não tiveram imediato sucesso dada a falta de professores preparados.
 Economia: Adoção de medidas protecionistas com intuito de proteger os interesses da
pequena e média burguesia. Diminuir dependência da Inglaterra. Criação de
associações empresariais do comércio indústria.

Um certo fracasso caracteriza a política económica setembrista.

Nos domínios fiscal e agrários, não se atreveu a abolir taxas gravosas para os pequenos
agricultores, nem penalizou com impostos os grandes proprietários.

No plano industrial, apesar do protecionismo adotado, os resultados mostraram-se bem


aquém do pretendido.

Para o fracasso económico do setembrismo apontava se a falta de capitais e vias de


comunicação, bem como a permanente instabilidade política.

O cabralismo e o regresso à Carta Constitucional

Com efeito, o Governo setembrista enfrentou constantes tentativas de restauração da Carta


Constitucional em fevereiro de 1842. Num golpe de Estado pacífico, o Ministro da Justiça,
Costa Cabral, pôs termo à Constituição de 1838.

A nova governação - cabralismo – alicerçou-se se nos princípios da Carta e fez regressar ao


poder a grande burguesia.

Na ordem política e desenvolvimento económico, Costa Cabral apostou no fomento industrial


nas obras públicas, estradas, pontes e vias de comunicação.

Difundiu-se a energia a vapor, surgiu a Companhia das Obras Públicas de Portugal, tendo como
objetivo a construção e reparação de estradas, levantaram-se algumas pontes, sobretudo no
Norte.

Publicou-se o Código administrativo de cariz centralizador. Tornou-se mais eficaz a cobrança


de receitas e contribuições pois se criou Tribunal de Contas para fiscalizar todas as receitas e
despesas.

Reformou-se a Saúde sendo proibidos enterramentos nas ilhas: leis da saúde (cemitérios eram
instalados ao lado ou atrás das igrejas, o sepultamento no interior era sinal de prestígio para
os católicos.)

A inovação e exigência das medidas de Costa Cabral, aliadas ao autoritarismo (considerado um


tirano), estiveram na origem de uma série de motivos populares.

Em 1846-1847 vive-se um clima de verdadeira guerra civil entre os adeptos de cabralismo e


setembristas.
As primeiras movimentações sucederam no Minho e fundiram se para trás os Montes, Vale do
Douro e Centro. Em Abril e Maio de 1846 : revolta da Maria da Fonte (revolta de cariz rural e
popular)

Motivos:

 Reação contra as leis da saúde.


 Às leis da estrada: trabalhar quatro dias gratuitamente
 Assim como os procedimentos burocráticos que passaram a envolver a cobrança de
impostos que alimentavam a alta finança.

A demissão do Governo e a saída de Costa Cabral (20 de maio), não foram, suficientes para
trazer a acalmia social e política.

A guerra civil reacendeu se com a chamada Patuleia: outubro de 1846 a junho 1847.

Iniciada no Porto, com o pretexto a substituição abrupta de ministros anti-cabralista recém


nomeados - 21 de maio 1847 os revoltosos renderam se.

21 de Maio: o novo Governo liderado pelo Duque de Palmela.

meses seguintes:a política de conciliação desmobilização das juntas provisórias.

A gravidade da situação e iminência levou o Governo de Lisboa a solicitar a intervenção da


Espanha e da Inglaterra ao abrigo da Quádrupla Aliança de 1834.

Goradas as tentativas de acordo político. A intervenção estrangeira ditou os termos da


Convenção de Gramido (1847) garantia de uma amnistia geral e prevendo a nomeação de um
governo que não figurassem representantes dos partidos em lutas. Determinava rendição
honrosa para as tropas patuleias.

A força política do setembrismo estava definitivamente liquidada. Em 1849, Costa Cabral


regressou à gerência política e, apesar deste seu governo se revestir de um cariz mais
moderado, não logrou conciliar as forças políticas opostas nem estabelecer o vida nacional.

Tal apenas seria conseguido na década de 50 com a regeneração.

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