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Introdução: A segunda metade do século XIX é atingida por inúmeras transformações a nível

social, no que diz respeito à mentalidade da burguesia, classe que tem neste período "o seu
tempo". Assim, adquirem-se novos hábitos que mostram bem esse desenvolvimento das
classes médias, hábitos esses que Eça de Queirós ilustra profusamente nas suas obras.

N`Os Maias encontramos uma visão da vida e mentalidade das elites políticas, culturais e
económicas da sociedade portuguesa feita por um dos seus membros.

Serões: Não é uma novidade introduzida na segunda metade do século em questão, mas
reveste-se, na época, de uma importância considerável. É quase um rito do quotidiano, e como
tal não foi esquecido pelo romancista, que coloca inúmeras vezes os personagens neste
cenário.

Estes serões são reuniões periódicas, normalmente semanais, em casa de pessoas ilustres. São
ocasião de travar conhecimentos desejados e de exibir dotes musicais ou literários. – casa em
Coimbra de Carlos

Os serões podem, então, passar-se à volta do piano, onde alguém mostra o seu talento, como
acontece n'Os Maias (com Steinbroken), mas também em outra obras de Eça de Queiroz.

O jogo também é uma atividade presente nos serões como o whist e o dominó.

Encontramos ainda referência à declamação de poesia (Eusebiozinho n'Os Maias)

Normalmente, os serões são pretexto para «reunião, cavaqueira», onde «tomava-se chá e
palrava-se».

Clubes: O aparecimento de clubes é um fenómeno muito característico do séc. XIX, como


locais onde se começam a reunir as elites, comerciais, financeiras ou académicas, que aí
encontram o local próprio, o "seu" espaço que os distingue de outros grupos. São locais cuja
frequência é tomada como sinal de prestígio social.

Eça de Queirós refere-se a alguns clubes, quer para situar personagens e a sua mentalidade,
quer para dar o toque de realismo que a menção a sítios reais sempre produz. Dá-nos a
conhecer, entre outros, o Grémio ("O Ega era odiado. E a pequena Lisboa que vive entre o
Grémio e a Casa Havanesa folgava em "enterrar" o Ega". Os Maias, cap.IX.) e o Turf Club ("- São
rapazes do Turf. É um clube novo, o antigo Jockey da Travessa da Palha. Faz-se lá uma
batotinha barata, tudo gente simpática... E como vês estão sempre assim preparados, com
sanefas e tudo, para se acaso passar por aí o Senhor dos Passos.", Os Mais, cap.XVIII)

Passeio Publico:

A ida ao "Passeio Público", troço que atualmente corresponde a um bocado da Avenida dos
Restauradores, constitui outro rito social muito em voga no século passado. É lá que se
operam uma série de importantes distinções sociais, sendo, no entanto, local privilegiado de
encontro da burguesia. Esta (a burguesia) passeia-se na alameda central, enquanto os outros
vão circulando pelos lados.

O Domingo é o dia de todos terem acesso ao Passeio, local de ostentação.

O "Passeio Público" parece ser o local onde se vai, na Lisboa do século XIX, para se ser visto:
«(…)para tapar as bocas do mundo, foram os três para o Passeio Público» . Além do simples
passeio e convívio, o "Passeio" contava ainda com animação, de que constavam iluminações e
fogo preso. Eça de Queirós parece não ser grande adepto desta atividade lúdica, e qualifica a
ida ao "Passeio Público" como «um prazer lúgubre»

O final d'Os Maias situa-se, estrategicamente, no que deixou de ser o "Passeio Público" para
ser a Avenida dos Restauradores, com a inauguração do obelisco.

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