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Contextualização

histórico-literária
Cesário Verde
Cânticos do Realismo – O
Livro de Cesário Verde
Contextualização histórico-literária

Cesário Verde e a sua época

 Cesário escreveu numa época em que a burguesia


liberal se estabelecera definitivamente no poder.

 A decadência de Portugal tinha-se tornado, política


e economicamente, numa situação de facto.

 Esses factos garantiam a perpetuação dos


privilégios da classe dominante.
Contextualização histórico-literária

Cesário Verde e a sua época

 Quando Cesário Verde nasceu (em 1855), D. Pedro V era aclamado rei e a
sociedade era altamente estratificada.

 Portugal levava a cabo um programa de emburguesamento e de


desenvolvimento de teor capitalista.

 Condições precárias de trabalho e grande migração para as cidades que


não estavam preparadas para tão grande crescimento urbano.

 Falta de saneamento urbano básico provoca graves epidemias:


tuberculose, febres, cólera.
Contextualização histórico-literária

A Literatura

Sobretudo em Lisboa, a partir da década de 1870, o novo olhar dos


escritores “revolucionários” [o projeto da Geração de 70] embebe-se
nas experiências decorrentes do desenvolvimento das virtualidades
da sociedade burguesa, na trama de uma cidade, a capital, a qual
cresce, se transforma e, além do mais, propicia ensejos a “quadros
revoltados”, tais os viria a desenhar, entre outros, Cesário Verde.
Joel Serrão, O essencial sobre Cesário Verde, Lisboa, INCM, 1986
Contextualização histórico-literária

Cesário Verde,
selo de 1957
.
Cesário Verde – vida e obra

1855 — José Joaquim Cesário Verde nasce


a 25 de fevereiro, em Lisboa. O pai, José
Verde, dedica-se ao comércio de ferragens
e à agricultura, numa quinta em
Linda-a-Pastora.

1856 — Nasce Adelaide Eugénia, irmã


de Cesário.

1857 — Cesário parte, com a sua família,


para Linda-a-Pastora, para fugir às epidemias
que assolam Lisboa.

1858 — Já em Lisboa, com a família instalada


Ernest Walbourn, Relaxando na lagoa
na Rua dos Fanqueiros, nasce Joaquim dos patos (c. 1900).
Tomás, irmão de Cesário.

1859 — Morre Adelaide Eugénia.


Cesário Verde – vida e obra
1860 — A sua família muda-se para a Rua do Salitre, para,
novamente, fugir
à ameaça das epidemias.

1861 — Nasce Jorge, irmão de Cesário.

1865 — Cesário conclui a instrução primária e começa a


aprender francês e inglês.

1872 — Cesário trabalha na loja de seu pai, onde é


correspondente comercial.
A sua irmã Júlia, de 19 anos, morre com tuberculose.

«Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre


E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.»
(Versos do poema «Nós»)
Cesário Verde – vida e obra

1873 — Escreve «A forca», «Num «Ei-la! Como vai bela! Os esplendores


tripúdio de corte rigoroso» e «Ó áridas
Messalinas» e matricula-se no Curso Do lúbrico Versailles do Rei-Sol!
Superior de Letras, que abandona Aumenta-os com retoques sedutores.
no fim do ano letivo. Silva Pinto,
o grande amigo de Cesário, apresenta-o É como o refulgir dum arrebol
como «Um poeta novo» no Diário Em sedas multicores.
da tarde, periódico do Porto.
Deita-se com langor no azul celeste
1874 — Publica vários poemas no Do seu landau forrado de cetim;
Diário da tarde. Sobre poemas como E os seus negros corcéis que
«Caprichos», «Esplêndida» e «Arrojos», a espuma veste,
Ramalho Ortigão censura Cesário,
pedindo-lhe, n’As Farpas, que «seja Sobem a trote a rua do Alecrim,
menos verde e mais cesário». Velozes como a peste.»
(Versos do poema «Esplêndida»)
Cesário Verde – vida e obra

1876 — A loja do pai de Cesário expande-se


e estabelece relações comerciais com outros
países, continuando a caber ao poeta «Eu cada vez receio mais
a responsabilidade pela correspondência. qualquer alteração de saúde,
porque sinto decompor-me
1877 — Em carta a António Papança, Cesário
com uma facilidade enorme
revela estar atormentado por problemas
e em vida. Agora trago
de saúde.
sempre no pescoço umas
1878 — É publicado o poema «Num bairro escrófulas que se alastram,
moderno». Cesário passa grandes temporadas que se multiplicam
em Linda-a-Pastora. depressa.»
1879 — São publicados poemas como (Carta a António
de Macedo Papança)
«Cristalizações» e «Em petiz». Cesário,
desiludido com a literatura, pois a crítica não
compreende os seus versos, dedica-se à firma
da família.
Cesário Verde – vida e obra
1880 — A dez de junho, é publicado
«O sentimento dum ocidental»,
no Jornal de viagens, do Porto. A crítica
não reage a esta poesia «comemorativa
de Camões». Cesário substitui o pai
na loja e na exploração da quinta familiar,
em Linda-a-Pastora.

1881 — Convive com o Grupo do Leão,


uma tertúlia de artistas que se reunia
na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa,
na década de 80 do século XIX.

1882 — Conclui a redação do poema «Nós».


Morre o seu irmão Joaquim Tomás.

1883 — Cesário vai a França (terá viajado


de comboio entre Bordéus e Paris), com
Camões na prisão de Goa, anónimo
fins comerciais. (1556).
Columbano Bordalo Pinheiro, O Grupo do Leão (1885).
Cesário Verde – vida e obra

1884 — Cesário fixa residência permanente em Linda-a-Pastora. É publicado


o poema «Nós» (Ilustração, Paris).

1885 — Adoece em Linda-a-Pastora.

1886 — Morre no dia 19 de julho, no Largo


de São Sebastião, no Lumiar, em Lisboa, vítima
de tuberculose.
Casa em que faleceu Cesário Verde,
em Lisboa, em 1886.

«Sinto só desdém pela literatura, …»


(Verso do poema «Nós»)
Frontispício d’O Livro de Cesário Verde,
publicado em 1887, depois da morte do poeta,
pelo amigo Silva Pinto. A obra reúne os poemas
que antes tinham sido publicados em periódicos
(BNP, cota RES-538-P).
A época – Lisboa do final de séc. XIX
. As pessoas do campo rumavam para as grandes cidades,
nomeadamente Lisboa, na tentativa de melhorar as condições de vida. O
que provocou o crescimento da cidade. Estes homens ocupavam-se de
trabalhos pesados, eram estivadores, pedreiros…
. Os laços com o campo e os hábitos rurais permaneciam fortes e a cidade
parecia asfixiante aos novos habitantes.
. Lisboa tinha os primeiros candeeiros a gás (1848) e chegavam também
ao Chiado os primeiros candeeiros eléctricos (1878)
. Grande parte das ruas eram de terra, malcheirosas e escuras. A muitas
das vielas e escadinhas a civilização não chegara.
. Nos bairros antigos a higiene era deplorável, havia animais domésticos e
as casas estavam cheias de parasitas.
. A rede de água não chegava a todas as casas.
. Os contrastes entre ricos e pobres eram enormes.
. No centro da cidade entre portais e vãos de escada, amontoavam-se
cegos estropiados, crianças abandonadas e velhos paralíticos
.
. Os albergues nocturnos abarrotavam de gente suja e esfarrapada.
. Os trabalhadores ganhavam salários irrisórios e estavam sempre à
beira do desemprego.
. A sua ementa era insuficiente o que sustenta as altas taxas de
mortalidade de Lisboa e Porto. A tuberculose e as pneumonias eram
as doenças mais frequentes.
. As condições de vida eram atrozes: sem condições de trabalho, sem
dignidade, sem segurança…
. Foi-se generalizando a ideia de que o Estado tinha de intervir na
defesa dos mais desfavorecidos.
Com o desenvolvimento e crescimento de
Lisboa, as desigualdades sociais são evidentes,
o que sensibiliza Cesário Verde.

Verifica-se um notável progresso industrial.


As epidemias (tuberculose, febres e cóleras),
provocadas pela falta de higiene nos espaços
urbanos, causam muitas mortes.

Rua de Lisboa,
início séc. XX, s/ autor.
Surgem novas e variadas profissões na
cidade, espaço primordial da
deambulação de Cesário Verde.

Cesário Verde observa os trabalhadores


que desempenham duras tarefas ao
longo das ruas.

O crescimento urbano e populacional


da cidade assusta Cesário Verde, que
lamenta a falta de espaços verdes. Calceteiros na antiga Lisboa, c. 1907, Joshua Benoliel.
Na Literatura, o Realismo, como
nova forma de arte, marca, de
alguma forma, a poesia de Cesário,
na medida em que a cidade surge
como palco de um retrato da
sociedade.

Seguindo a influência do
Realismo/Naturalismo, Cesário
procede a uma análise crítica, com
base na análise social.

Avenida de Neuilly, s/d, Paul Sérusier,


coleção privada.
Traços de Cesário Verde

Marca uma posição antirromântica.

A sua poesia assume um tom antideclamatório.

Denota-se objetividade na observação da realidade.

O real e o quotidiano surgem como assuntos centrais da poesia.


Traços de Cesário Verde

A sua originalidade viria a ser reconhecida, mais tarde, pelo


Modernismo, nomeadamente por Fernando Pessoa.

O poeta Cesário Verde, quase desconhecido, terá uma grande


influência nos poetas que lhe seguirão.

Os traços que já antecipavam o Modernismo residem na


valorização do tédio, no desejo de evasão, no sensacionismo e na
referência à cidade como símbolo da vida moderna.
A poesia de Cesário
«Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.»

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