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Cesário Verde: bibliografia

Cesário Verde destacou-se como uma das personalidades mais originais e renovadoras da
poesia portuguesa do século XIX.

Referências biográficas:
• José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa a 25 de fevereiro de 1855.
• Seu pai, um burguês abastado, era proprietário de uma loja de ferragens em Lisboa e, ao mesmo
tempo, dedicava-se à exploração agrícola da sua quinta em Linda-a-Pastora.
• Cesário Verde passou a sua breve vida entre a cidade de Lisboa e a sua quinta em Linda-a-
Pastora.
• Com apenas 24 anos, substituiu o pai na direção dos negócios. A par desta atividade de gestão
agrícola e comercial, Cesário mostrou a sua vocação literária e gosto pela criação poética.
• Em 1872, Maria Júlia, sua irmã, morre tuberculosa com apenas 19 anos.
• Em 1873, matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Lisboa, que não chega a concluir.
Neste decurso, travou conhecimento com figuras da vida literária, como Silva Pinto, que se tornou
seu grande amigo.
• Durante a sua juventude, publicou vários poemas em jornais como o Diário de Notícias, Diário
da Tarde, A Tribuna e A Ilustração, acolhidos com críticas quase sempre desfavoráveis.
• Em 1882, Joaquim Tomás, irmão de Cesário, morre também tuberculoso.
• Cesário Verde morreu a 19 de julho de 1886.

Dados bibliográficos:
1873: publica 'A Forca', 'Num Tripúdio de Corte Rigoroso' e 'Ó Áridas Messalinas', no Diário de
Notícias, e 'Eu e Ela' e 'Lúbrica', no portuense Diário da Tarde.
1874: Rebenta o escândalo literário suscitado pelo poema 'Esplêndida', acerca do qual Ramalho de
Ortigão, em 'As Farpas', pede ao jovem
poeta Cesário Verde que 'seja menos verde e mais cesário'.
1875: Publicação dos poemas 'Deslumbramentos', 'Ironias do Desgosto' e 'Humorismo do Amor'
em A Tribuna e Mosaico, revista de pequena circulação.
1876: Publicação de 'A Débil' na revista coimbrã Evolução e 'Nevroses' em O Porto.
1879: Publicação de 'Cristalizações' no primeiro número da Revista de Coimbra.
1880: Publicação de 'O Sentimento dum Ocidental' no número do Jornal de Viagens (Porto)
dedicado ao tricentenário de Camões.
1884: Publicação da poesia 'Nós', o seu último poema.
1887: Silva Pinto publica, postumamente, a primeira edição de O Livro de Cesário Verde, obra em
que se encontram reunidos os seus poemas.

Linguagem e estilo da poesia de Cesário Verde

A poesia de Cesário Verde só foi inteiramente reconhecida após a sua morte, apesar de ter sido
um poeta determinante no contexto da modernidade na poesia portuguesa. No entanto, a sua
obra dificilmente cabe nas classificações da história literária.

Parnasianismo
Estética segundo a qual a perfeição artística era um fim a atingir, através do rigor formal e da
musicalidade da linguagem. A poesia de Cesário revela, pois, a valorização do princípio da 'arte
pela arte'.
Realismo/ Naturalismo
A obra de Cesário é marcada pela estética realista, pois procurou, também, transmitir o ritmo das
descrições do Realismo, valorizando o mundo externo e a materialidade dos objetos; descrevendo
com pormenor e detalhe e selecionando algumas das temáticas de gosto realista, como, por
exemplo: a dureza do trabalho em 'Cristalizações' e 'Num Bairro Moderno'; a doença e a injustiça
social, em 'Contrariedades', e outros temas que patenteiam a sua visão crítica da sociedade.

Por outro lado, aproxima-se do Naturalismo pela utilização de termos concretos e alguns técnicos
e científicos, influências da objetividade positivista e outros da linguagem familiar.

Modernismo
• vontade de retratar fielmente a realidade com a sua visão impressionista da realidade,
descortinando o que está por detrás do real, valorizando a sensação em detrimento do objeto
real.
• a sinestesia é um dos recursos expressivos que reflete esta interpretação subjetiva da realidade,
uma das características impressionistas de Cesário.
• a imaginação condu-lo, muitas vezes, não só a uma recriação impressionista (mistura de
diferentes sensações e planos), mas também fantasista da realidade, aproximando-o daquilo que
veio a ser o movimento surrealista.
• observa e descreve com atenção a realidade, por vezes comove-se e em momentos de 'fuga'
imaginativa entre a realidade e o sonho transfigura-a, metamorfoseia-a e reinventa-a, à maneira
surrealista, para que a imagem não seja tão crua.

Linguagem e Estilo
• Perfeição formal parnasiana que se traduz na regularidade métrica, estrófica e rimática:
— Métrica: preferência pelo verso decassilábico e pelo alexandrino.
— Organização estrófica: preferência pela quadra que lhe permite passar com facilidade para
outros assuntos.
• Composições poéticas longas de estrutura narrativa.
• Captação das impressões da realidade com grande objetividade mas transmitindo as perceções
sensoriais.
• Expressão clara, objetiva e concreta.
• Tendência para as frases curtas e acumulativas.
• Expressividade verbal.
• Riqueza e precisão vocabular.
• Abundante adjetivação.
• Adjetivação binária ('Nesta Babel tão velha e corruptora') e múltipla ('A ti, que és bela, frágil,
assustada') ao serviço de um impressionismo pictórico.
• Advérbios originais e expressivos.
• Recursos expressivos: aliterações (que contribuem para a musicalidade e para a perfeição
formal), imagens, metáforas, enumeração, assíndeto ('lavo, refresco, limpo os meus sentido')
e sinestesia ('E fere a vista com brancuras quentes,/a larga rua macadamizada).

Principais temáticas da poesia de Cesário Verde

Filho de um comerciante com uma loja de ferragens em Lisboa e uma exploração agrícola em
Linda-a-Pastora, Cesário Verde passou a sua infância entre os ambientes citadino (cidade de
Lisboa) e rural (Linda-a-Pastora), binómio que marcou a sua obra.
A questão social

Denúncia da atmosfera conflituosa dos grandes centros urbanos:

• problemas subjacentes ao urbanismo (a precária saúde pública, a miséria, os vícios, o


sofrimento, a poluição)
• problemas sociais (opressão social, ausência ou perversão do amor) ≠ • sinais de prosperidade
(os candeeiros a gás e a eletricidade, a água canalizada).

Admiração pela força física e pela energia do povo trabalhador e afetividade pelo que é rústico e
natural. Exemplos: 'Num Bairro Moderno', 'Cristalizações', e 'O Sentimento de um Ocidental'.
Imagética feminina

A poesia de Cesário apresenta dois tipos opostos de mulher:


O livro de Cesário Verde

O Livro de Cesário Verde é uma compilação póstuma de poesias de Cesário Verde escritas entre
1873 e 1886, organizada e posfaciada por Silva Pinto, da qual se fez uma primeira edição, em
1887, para oferta a amigos do escritor, e uma segunda edição, em 1901, destinada ao público.

A edição princeps de O Livro de Cesário Verde é constituída por 22 composições, repartidas


por duas secções, 'Crise romanesca' e 'Naturais', sem que se saiba se essa divisão obedeceu a
indicações do próprio autor ou ao critério do compilador.

Influências do Realismos e do Parnasianismo:

• representação pictórica e descrição plástica da realidade, apoiada no predomínio das sensações


('Lavo, refresco, limpo os meus sentidos./ E tangem-me, excitados, sacudidos,/ O tato, a vista, o
ouvido, o gosto, o olfato!') 'Num bairro moderno'

Influências do Modernismo:

• captação fotográfica do real superada, através de um processo de recriação poética que opera
uma transfiguração do imediato: “Subitamente — que visão de artista ! —/ Se eu transformasse os
simples vegetais,/ À luz do sol, o intenso colorista,/ Num ser humano que se mova e exista/ Cheio
de belas proporções carnais?!”) “Num bairro moderno”

Influências antirromântica e naturalista:

• presença da mulher soberba e impassível ('Deslumbramentos', 'Frígida'), da cidade mórbida e


industrial ('O sentimento dum ocidental', 'Num bairro moderno'), ambos de influência
baudelairiana, na correção da subjetividade pelo distanciamento e a ironia ('Cristalizações'), na
visão não convencional do campo, marcada pela experiência pessoal ('Em petiz', 'De verão', 'Nós',
'De tarde'). Esta transmudação impressionista ou fantasista da realidade apoia-se num estilo
inovador, precursor do Simbolismo, no qual, de entre muitos aspetos, salientaremos o uso
da sinestesia ('Cheira-me a fogo, a sílex, a ferrugem;/ Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura'), do
advérbio ('Amareladamente, os cães parecem lobos'; 'Um forjador maneja um malho,
rubramente'), da hipálage ('Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia'; 'Um cheiro salutar e
honesto a pão no forno') e do assíndeto ('Vê-se a cidade, mercantil, contente:/ Madeiras, águas,
multidões, telhados!').

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